O QUE VAI ACONTECER | José Manuel Correia Pinto |

Estive a ver na SIC N o que fez Ricardo Costa, director-geral da Informação da estação, a um convidado, o Major General Raul Cunha, que apenas teve oportunidade de afirmar que é preciso olhar para os dois lados do conflito. Não conseguiu dizer mais nada tendo sido positivamente massacrado com uma intervenção irada, em alta voz, cortando ao interlocutor qualquer hipótese de sequer entrar na discussão. Uma intervenção pretensamente baseada na moralidade.

Estive a ver uma intervenção do Cor. Carlos Matos Gomes na mesma estação e a tentativa de crítica esboçada por Milhazes que, independentemente da sua boçalidade e  da resposta que levou de Matos Gomes, vai exactamente no mesmo sentido da anterior.

Estive a ver, na RTP 3, a reacção que a brevíssima análise do Major General Carlos Branco mereceu ao “ciático” Carlos Gaspar, sempre tão cínico e assertivo na defesa de quanta porcaria os Estados Unidos fizeram desde o fim da II Guerra Mundial até hoje , descontrolando-o completamente até nos esgares faciais com que  acompanhou sua balbuciada fúria, pretensamente fundada nos mesmos argumentos das duas anteriores.

Estive a ver na CNN a reacção quase animalesca de Sérgio Sousa Pinto a uma proposta de análise da situação ucraniana apresentada por António Filipe, igualmente fundada na mesma pretensa moralidade das anteriores.

Estive a ler o twitt do Ministro da defesa sobre o envio de material militar para a Ucrânia.

Estive finalmente a ver naquela mesma estação (CNN) a intervenção do General Mendes Dias sobre a situação militar na Ucrânia, nomeadamente sobre o envio de armamento militar pelos membros da NATO e a conclusão a tirar de tudo o que vi e ouvi poderia ser esta:

Não adianta fazer um chamamento à realidade e tentar analisar racionalmente a situação tal qual ela existe: é uma conversa para a qual a esmagadora maioria das pessoas não está preparada.

Umas pessoas não a percebem pela mesma razão que na escola não percebiam o que o professor lhes tentava ensinar (como é o caso do Milhazes); outras não percebem porque foram tão mal educadas na escola que quando se sai fora do modo como as formataram nem sequer enxergam do que se está falar (como acontece com as miúdas da SIC), outras pessoas não percebem porque estão interessadas numa compreensão do assunto que lhes permita tirar dividendos políticos contra os seus adversários como se estivessem a viver uma disputa no tempo da Guerra Fria em que mais importante do que o resultado dessa disputa era a disputa por apoiantes futuros (quantos mais tiver pelo meu lado , melhor) sem terem tido tempo de interiorizar  ou terem percebido que já estão a viver uma disputa de “Guerra Quente”.

E depois de tudo isto concluir, olimpicamente que a maioria esmagadora das pessoas não está preparada para discursos puramente racionais. Que isso as impede de compreender o mundo tal como ele é. E a seguir acrescentar que estes últimos 70 anos de paz na Europa e o hedonismo reinante na sociedade dos nossos dias não permitem às pessoas ver as coisas de outra maneira.

Até poderia tirar estas conclusões, e certamente não estaria errado em tudo, mas a minha conclusão vai ser muito diferente.

Hoje, começa-se a compreender que a Ucrânia está sozinha neste conflito, tal como ele é visto diariamente do lado de cá. Já não interessa nada demonstrar que a Ucrânia foi empurrada e incitada a tomar posições que não tinha condições para defender. O que interessa é que essas posições continuam diariamente a ser vistas pelo lado de cá como perfeitamente justas e legítimas. Posições que o discurso altamente emotivo, ameaçador, agressivo do Presidente dos Estados Unidos, de Boris Johnson, de Ursula von der Leyen, do Secretário geral da Nato e de muitos outros nas televisões das suas terras diariamente confirma e amplifica. E baseado nas “justas razões” desse discurso cada vez se vai se vai admitindo menos que o povo ucraniano se esteja sacrificando sozinho para as defender. E então a opinião pública ocidental, quase unanimemente, exigirá, como já está a exigir, que a Ucrânia seja ajudada. E os governantes ocidentais ,pertençam ou não às Nato, não conseguirão fugir a esta pressão que eles têm ajudado a consolidar e a ampliar. E os Estados que eles dirigem vão ter de lhe prestar auxílio  que, para já, consistirá no envio de remessas de material militar 

E o que vão fazer os Russos? Como diz o Gen Mendes Dias, vão cortar as cadeias de abastecimento. E a partir daí a espiral emocional será imparável, o auxílio vai ter de ser de outra natureza, e a consequência inevitável será a guerra generalizada.

Lutar contra isto nas actuais condições, que tendem a agravar-se a cada dia que passa, é tarefa mais do que ciclópica.

Quem puder que vá para África, lá bem para o sul, de preferência onde se fale português. Pode ser que os ventos sejam favoráveis e as piores poeiras não cheguem lá.

Retirado do Facebook |  Mural de  José Manuel Correia Pinto

One thought on “O QUE VAI ACONTECER | José Manuel Correia Pinto |

  1. O fornecimento de material de guerra neste momento ,pela Alemanha soa a mensagem a Putin do estilo “vejam lá se se despacham que eu não tenho o dia todo ” . E o fornecimento de ferro velho ,vulgo G3, por parte de Portugal está na linha da generosidade Alemã, uma vergonha.

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