Imigração: desenvenenar o debate e fazer bem feito, Carta semanal de Rui Tavares, 17 de janeiro de 2024

Se a imigração é um facto relevante na nossa vida atual, a verdadeira questão não é se ela existe ou não: é se as políticas públicas ligadas à imigração estão bem feitas ou mal feitas.

Na verdade, nenhum partido, nem sequer a extrema-direita, nega que Portugal precise de imigrantes. E o facto essencial é este mesmo: sendo pessoas, os imigrantes não são anjos nem demónios, não são autómatos que vêm trabalhar e se desligam depois, não praticam só o bem, não praticam só o mal. É envenenar o debate pretender reduzi-los, ou então associá-los obsessivamente, a uma pretensa ligação com a criminalidade, que nenhum dado comprova, e que vários aliás refutam.

Segundo um estudo da socióloga Catarina Reis Oliveira, os dados compilados permitem dizer que “o rácio de crimes por total de residentes é mais baixo em municípios onde a população estrangeira tem mais impacto”, como noticiado pelo Público, a quem a socióloga declarou que “o verdadeiro desafio está em garantir que os imigrantes, que já contribuem significativamente para o país, sejam integrados de maneira justa e equitativa, com direitos e deveres bem estabelecidos”.

Ora aqui é que bate o ponto de que ninguém quer falar. Se a imigração é um facto relevante na nossa vida atual, representando cerca de um décimo da nossa população atual (ainda assim abaixo da média europeia), a verdadeira questão não é se ela existe ou não: é se as políticas públicas ligadas à imigração estão bem feitas ou mal feitas.

Para fazer políticas de imigração bem feitas, não se pode pensar só no imigrante no contacto com a fronteira ou com a polícia, mas em todo o longo percurso de anos de integração numa comunidade que é a nossa.

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