Savez-vous à quoi ressemble la mort ?

« Savez-vous à quoi ressemble la mort ? La personne jette le dernier souffle, c’est l’esprit qui quitte le corps. Le corps meurt complètement, c’est un déchet, mais l’esprit sort de la bouche et se mélange à l’esprit universel. C’est comme les fleuves, qui perdent leur caractère lorsqu’ils atteignent la mer. Mais ils en font partie, et la mer est la même partout. »

Explication de Manoel de Oliveira, quelques jours avant sa mort, à Luís Miguel Cintra.

Photographie | Embouchure de la Rivière Tejo à Lisbonne, Portugal.

Entrevista a Luís Miguel Cintra

Acredita na permanência das nossas ações?

Quem encontrou a forma de me explicar isso foi o Manoel de Oliveira, dias antes de morrer. Disse-me: “Sabe como é a morte? A pessoa deita fora o último suspiro, é o espírito que abandona o corpo. O corpo morre completamente, é lixo, mas o espírito sai da boca e mistura-se com o espírito universal. É como os rios, que perdem o seu carácter quando chegam ao mar. Mas fazem parte dele, e ele é igual em toda a parte.” Esta explicação é aquela que, usando conceitos nossos, humanos, me pareceu a melhor.

De que tem medo?

Tenho medo do que possa acontecer às pessoas de quem gosto, não queria que sofressem. Assisti a isso muitas vezes e é terrível. Quanto a mim, não tenho medo da morte. Não gostava nada era de morrer tão cedo. Portanto, não é medo de morrer: é vontade de continuar.

“Os olhos rasos de água” | Eugénio de Andrade

Cansado de ser homem durante o dia inteiro

chego à noite com os olhos rasos de água.

Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,

entrar dentro de ti como num bosque.

É a hora de fazer milagres:

posso ressuscitar os mortos e trazê-los  

a este quarto branco e despovoado,

onde entro sempre pela primeira vez,

para falarmos das grandes searas de trigo

afogadas a luz do amanhecer.

Posso prometer uma viagem ao paraíso

a quem se estender ao pé de mim,

ou deixar uma lágrima nos meus olhos

ser toda a nostalgia das areias.

Eugénio de Andrade, in “As palavras interditas”

29 de Agosto de 1915 | Nasce a actriz sueca Ingrid Bergman

Actriz sueca, nasceu em 29 de agosto de 1915, em Estocolmo, e faleceu em Londres a 29 de agosto de 1982, vitimada por um linfoma.

Foi uma das actrizes mais conceituadas do Mundo, especialmente durante os anos 40, quando estava no auge da sua beleza natural. Órfã de mãe com apenas dois anos, foi graças à herança deixada pela sua progenitora que se inscreveu no curso de Interpretação da Academia Real Dramática de Estocolmo. Depois dum início de carreira no teatro, interpretou o seu primeiro papel cinematográfico com uma figuração em Landskamp (1932).

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Afeganistão | Carlos Matos Gomes

Os Javalis do Afeganistão

Sobre o que acontece no Afeganistão se poderá dizer que se cumpriu a lei de Murphy: “tudo o que puder correr mal, vai correr mal”, que poderia ter sido inspirada na Batalha de Alcácer Quibir. O que hoje correu ainda pior do que o mal começou aí por volta de 1983, com a presciência de dois vultos que o conservadorismo elevou às glórias dos seus panteões, o antigo ator americano Ronald Reagan e uma senhora inglesa de classe média baixa ressabiada com as upper class e os intelectuais, chamada Margaret Tatcher

A propósito do Afeganistão foi agora recuperada uma fotografia de 1983 em que Reagan recebe na Casa Branca uma delegação de mujahedeens, que lutavam contra a presença da URSS e o governo que esta apoiava no Afeganistão.

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F. Scott Fitzgerald | Cocktail Hour 1938 | John La Gatta (1894-1977) Italian American

‘Let me tell you about the very rich. They are different from you and me. They possess and enjoy early, and it does something to them, makes them soft where we are hard, and cynical where we are trustful, in a way which, unless you were born rich, makes it very difficult to understand.’

F. Scott Fitzgerald

Cocktail Hour 1938

John La Gatta (1894-1977) Italian American

AO ENCONTRO DE JESUS HISTÓRICO Maria Helena Ventura

Tinha em mãos o projecto do livro UM HOMEM SÓ, título que poderia ser interpretado como “um homem sozinho”, ou “apenas um homem”.

Chegava a contemplar a segunda dimensão, depois de um longo cepticismo em relação ao que aprendera em criança, mas a figura de Jesus Cristo, como a de qualquer outro profeta, era e é demasiado importante para aqueles que acreditam na sua palavra. Não podia desrespeitá-los.

E depois, à medida que ia lendo e pesquisando documentos, ia recordando que o evangelho de Jesus Cristo não é uma religião, contém em si a significação universal mais completa, que abrange o princípio de todas as religiões.

Lembra que os homens têm a mesma origem e um destino comum, partilham um só planeta, a mesma casa. As suas vidas pessoais e colectivas só têm significado com o compartilhamento dos recursos e adopção do respeito mútuo, porque é inevitável que se cruzem em trocas de experiências e miscigenações.

Antes de todos os princípios, o da fraternidade é essencial. Era esse, essa filosofia de vida, que Jesus pregava. O outro, subentendido, é o do acesso à educação, ou abertura da mente, na altura pela escuta da palavra, para que o esclarecimento afaste os densos véus do obscurantismo.

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China | Jimmy Carter para Donald Trump

“… Você tem medo que a China nos supere, e eu concordo com você. Mas você sabe por que a China nos superará? Eu normalizei relações diplomáticas com Pequim em 1979, desde essa data… você sabe quantas vezes a China entrou em guerra com alguém? Nem uma vez, enquanto nós estamos constantemente em guerra.

Os Estados Unidos é a nação mais guerreira da história do mundo, pois quer impor aos Estados que respondam ao nosso governo e aos valores americanos em todo o Ocidente, e controlar as empresas que dispõem de recursos energéticos em outros países.

A China, por seu lado, está investindo seus recursos em projetos de infraestrutura, ferrovias de alta velocidade intercontinentais e transoceânicos, tecnologia 6G, inteligência robótica, universidades, hospitais, portos e edifícios em vez de usá-los em despesas militares. Quantos quilômetros de ferrovias de alta velocidade temos em nosso país? Nós desperdiçamos U$ 300 bilhões em despesas militares para submeter países que procuravam sair da nossa hegemonia. A China não desperdiçou nem um centavo em guerra, e é por isso que nos ultrapassa em quase todas as áreas.

E se tivéssemos tomado U$ 300 bilhões para instalar infraestruturas, robôs e saúde pública nos EUA teríamos trens bala transoceânicos de alta velocidade.

Teríamos caminhos que se mantenham adequadamente. Nosso sistema educativo seria tão bom quanto o da Coreia do Sul ou Xangai”.

(Jimmy Carter, na Newsweek Magazine, em 04/2019)

Tutti-frutti | novo livro de microcontos de Silas Corrêa Leite, com suas jocosas e insurgentes inutilezas surtadas.

PRÉ-LANÇAMENTO

“O autor mergulha na alma contundente de prismas rápidos. Anacronismos e anomalias em nanonarrativas cênicas e rasteiras. Com sintaxe peculiar, quando não língua bárbara, toda própria, cria desconstruindo situações e momentos, expressando seu desencantamento em fios desencapados. Um esgotamento em nódoas corrosivas, misturando ora Tutti, ora Frutti…

Escritor, professor e blogueiro premiado, com sua carga de ceticismo conta o embuste social paranoico numa literatura contemporânea. O sabor da opereta bufa, tipo deja-vu, guloseima em prosa irônica. Tudo junto e misturado. Esquentando cérebros, instantes-trevas. Periga ler o anacrônico, purgativo e inaceitável. Situações corrosivas e surtos circuitos de criações hilárias, horrendas ou obscuras; luz criativa sobre particularidades assustadoras. Tirem o sorriso do caminho, que Tutti-frutti vai passar com seu escárnio.” (Divulgação, Cult News – Maria das Graças Aranha)

Sobre o autor :

Professor, escritor e blogueiro premiado, 68 anos, nascido em Monte Alegre, criado em Itararé-SP. Autor de outros livros, como Goto, a lenda do Reino do barqueiro noturno do rio Itararé. Consta em várias antologias literárias em verso e prosa, inclusive no exterior. Criador do Estatuto de poeta, traduzido para o inglês, francês, espanhol e russo. Elogiado por Moacyr Scliar, Ignácio de Loyola Brandão e Ledo Ivo, da ABL (Academia Brasileira de Letras), e Adelto Gonçalves e Oscar D´Ambrósio (USP). Acredita na arte como libertação, e seu mote predileto é “Feridos Venceremos”.

Esta obra faz parte do projeto 2 em 1, em que publicamos dois autores em um mesmo volume.

Para adquirir este livro em pré-lançamento a R$ 36,90, acesse:

https://caravanagrupoeditorial.com.br/…/tutti-frutti…/

São Paulo | Frederico Lourenço

Pelo que se tem visto, lido e ouvido ultimamente, parece que Portugal descobriu a existência, na Bíblia, de um autor polarizador e polémico: São Paulo.

Quem foi este homem? O que pensar dos textos que escreveu?

Paulo é, na verdade, o único autor do Novo Testamento a cuja identidade podemos associar uma biografia real, mas a reconstituição da sua biografia esbarra de imediato contra um célebre problema: a discrepância entre aquilo que é dito sobre Paulo nos Actos dos Apóstolos e aquilo que Paulo diz sobre si próprio nas suas cartas autênticas. Este problema influi no grau de credibilidade que podemos adscrever aos dados que nos chegaram sobre a biografia de Paulo exclusivamente via Actos dos Apóstolos. Isto porque a lógica mais básica nos exige que pelo menos equacionemos a hipótese de estarem errados os elementos biográficos sobre Paulo em Actos quando estes colidem com o que é escrito pelo próprio Paulo nas suas cartas.

 Assim, para muitos estudiosos atuais, a metodologia crítica mais defensável na abordagem à biografia de Paulo implica dar primazia à credibilidade de Paulo nos pontos em que há contradição entre as cartas autênticas de Paulo e outras fontes.

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Pedido de Verão: Vota, comenta, contribui e candidata-te!

Pouco a pouco o verão está a chegar ao fim e voltamos novamente a ganhar ritmo!

Cá estamos com alguns pedidos para ti!

Segunda-feira, o TLDR News publicou um vídeo sobre o DiEM25. Já foi visto por mais de 50.000 pessoas e tem mais de 1.000 comentários! Convidamos-te para ver o vídeo e ajudar a responder aos comentários, onde aparecem diversas dúvidas, direcionando as pessoas para se juntarem a nós. O vídeo também tem algumas falhas que precisam do teu feedback, ajuda e partilha se fores ativo nas Redes Sociais.

Até 28 de Agosto: Vota aqui no próximo Coletivo Coordenador! 6 das 12 posições serão renovadas.

Até 29 de agosto: Responde ao Questionário da equipa do DiEM25 para o Programa sobre o Processo Constitucional Europeu aqui (em inglês) e dá o teu feedback sobre o esboço do programa para o DiEM25 na Alemanha aqui (em alemão).

Até 31 de agosto: O DiEM25 está a contratar novamente! Desta vez, procuramos um profissional de comunicação experiente. Lê a descrição do cargo aqui (em inglês) e, se tiveres as capacidades necessárias, inscreve-te ou encaminha!

Também até 31 de agosto: Após várias discussões no nosso fórum e de um debate transmitido ao vivo, estamos a dar os passos seguintes na direção de um Manifesto DiEM25 para a próxima década. Deixa a tua contribuição aqui (em qualquer idioma).  Juntos vamos escrever um Manifesto DiEM25 para a década de 2020!

Esperamos ter um Outono cheio de actividade com todos vocês!

Carpe DiEM

Johannes
Coordenador dos voluntários

O belo livro “Protesto contra a realidade” de Lucas de Lazari Dranski | Breve Resenha Crítica

Toda arte é uma forma de literatura, porque toda arte é dizer qualquer coisa, disse Fernando Pessoa. A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida por si só não basta, disse Heróstrato. Já Afrânio Coutinho preconizou que a Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Já para o filósofo grego Aristóteles, um dos primeiros a focar nos estudos sobre essa arte, a arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra” – Silas Corrêa Leite in Micro ensaio sobre a literatura itarareense.

Nesses tempos tenebrosos, de hordas fascistas no poder, em meio a uma crise pandêmica, resistir é preciso, insurgir-se é preciso, e mais, criar – a arte literária como libertação, levitação e assento desses tempos – é preciso.

Ezra Pound dizia que o artista deve ser antena de sua época, e a isso muito bem o autor se propõe, e assim se apresenta literariamente. A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida, disse o poeta italiano Cesare Pavese.

Pelas obras literárias fazemos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares. Por essas e outras, receber um livro de versos e prosas registrando resistências, sequelas e experiências, a crise pandêmica como um todo, é sempre um prazer imenso, mormente se o autor contemporâneo for um conterrâneo amigo, jovem pupilo, pensador, criador, estudioso com verve.

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OTELO E A MEMÓRIA DO PREC Público, 16.08.2021 | Elísio Estanque

Vivi esse período de forma intensa como grande parte dos portugueses da minha geração. Assim, e porque a historia dos acontecimentos é conhecida, talvez se possa agora acrescentar conhecimento sobre o PREC e Otelo Saraiva de Carvalho recorrendo a uma perspetiva subjetiva, vinda do seio da multidão, mas enquadrada pelo exercício de reflexão e autocritica à distância de quatro décadas.

Foi Otelo e o MFA que abriram as portas da liberdade. Mas foi ao longo daqueles meses de brasa que se seguiram ao 25 de Abril, que a revolução se desencadeou. Os sonhos libertários irromperam das esquinas mais recônditas dos bairros operários, das fábricas industriais, dos amontoados de barracas onde os esgotos eram ainda a céu aberto, etc. Foi para aí que convergiram os mais diversos grupos de ativistas espontâneos, os setores sociais mais inquietos, em especial os jovens, alguns ainda sob a influência do Maio de 68 e dos movimentos estudantis da década anterior. Por detrás da linguagem polarizada da “classe contra classe” (democracia contra fascismo, ricos contra pobres ou operários contra a burguesia) ocorreu uma autêntica “fusão de classes”, quando o radicalismo de classe média rompeu com os valores pequeno-burgueses para abraçar a causa operária e popular. Uma força imparável de invenção criativa brotou dessa comunhão interclassista capaz de vislumbrar o paraíso debaixo das ruas insalubres dos bairros da periferia. Uma torrente de gente feliz, igualitária, unida em torno de projetos verdadeiramente emancipatórios como o dos “índios da Meia-Praia” (em Lagos) celebrizado pela conhecida canção do Zeca Afonso. Apesar da incipiente cultura democrática, a democracia nunca foi tão efetiva, não apenas pela mobilização coletiva mas até pelo envolvimento direto das Forças Armadas (MFA) numa dinâmica de «bottom-up», de que é exemplo o projeto SAAL.

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Cabul e a vitória da guerrilha | Luís Alves de Fraga

O Afeganistão foi um território onde ingleses, russos e americanos nunca conseguiram impor-se à cultura local.

Só há uma explicação para isso: ao contrário de compreenderem o povo afegão, os seus costumes, as suas necessidades e os seus anseios, tentaram ocidentalizá-los, abrindo estradas, fazendo escolas e hospitais. Tudo isso constituiu um tremendo erro.

O islamismo tem de ser compreendido, estudado e interpretado segundo os princípios que o regem. A primeira grande diferença entre as culturas ocidentais, influenciadas pelas culturas greco-romana e judaica é que a religião, tal como Jesus afirmou, “é de Deus” e a política “é de César”. No islamismo, política, justiça e religião confundem-se sem dar lugar à tripartição do poder ‒ legislativo, executivo e judicial ‒ porque, soberano é Deus, que se revelou e ditou a justiça, as leis e a governação, através do seu profeta, Maomé.

As fontes da Lei são o Alcorão seguido da Suna (relato da vida e dos caminhos do profeta) e, depois, os hádices (narrativas do profeta). Tudo está contemplado nestes escritos tidos como sagrados e, mais do que isso, soberanos no sentido atribuído pelo Ocidente à palavra (depois da Revolução Francesa), ou seja, detentores de todos os poderes.

É assim, deste modo que, para um muçulmano, o Estado, a chefia do Estado e a chefia religiosa se confundem. Um condutor religioso é, também, um condutor político e jurídico.

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Afeganistão – um mono | Carlos Matos Gomes

Tht’s all folks — é tudo, malta. Não há mais pipocas

Uma das definições de mono é a de “mercadoria sem venda no comércio”, de “qualquer coisa que deixou de interessar”. Desde o 11 de Setembro de 2001, o Afeganistão foi um falso alvo, uma fancaria. Um tigre de papel, na linguagem maoista dos anos 60 e 70. Transformou-se definitivamente num nono para os Estados Unidos com o anúncio da captura e morte no Paquistão, de Bin Laden, o saudita chefe da Alqaeda, em 2011, com direito a filme de rambos.

A Alqaeda e Bin Laden foram o produto desenvolvido a partir de um dos muitos bandos da região e de fanáticos locais, inchado, armado e subcontratado pela administração Reagan para fazer a guerrilha contra a URSS, que ocupara o Afeganistão para evitar a islamização das repúblicas soviéticas do sul. A teoria de que a URSS pretendia avançar para as “águas quentes” do Índico foi uma narrativa para vender armas e justificar ações, que muitos “estrategistas”, incluindo militares, pregaram sem correspondência com qualquer racionalidade. Na realidade, a administração Reagan pretendeu apenas negar a um inimigo (a URSS) a posse de um território que lhe era relativamente importante. Um objetivo clássico nas manobras militares. A administração dos EUA conseguiu a vitória de Pirro: a URSS abandonou o Afeganistão e os EUA “ganharam” a Alqaeda bem treinada e equipada, com um louco como chefe carismático e um imbróglio com os aliados sauditas, os maiores compradores da quinquilharia produzida pelo complexo militar americano e comparsas de Israel na desestabilização do Médio Oriente.

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Algumas notas a propósito da derrota do Ocidente no Afeganistão | Nuno Pereira da Silva Coronel (R)

Participámos como nação aliada da NATO, muito ativamente na guerra do Afeganistão, e na sua Reconstrução, muito em especial na Capacitação das suas Forças Armadas, onde inclusive tivemos dois mortos, um graduado do RI1, e uma praça paraquedista.

Não estive no Afeganistão, mas participei na Reconstrução do Iraque, na Reforma do seu Setor de Segurança, ou seja na Capacitação duma Forças Armadas modernas. Pelo que sei no Afeganistão foi seguido o mesmo modelo Americano, Chapa4, ou seja uma imposição dum modelo ocidental expúreo à sociedade, à cultura, e às Forças Armadas  e de Segurança  Afegãs, que  não são nacionais mas tribais, pertencem aos Senhores da Guerra.

Os militares americanos e da NATO trabalhando dia e noite, esforçando-se, por vezes zangando-se com a contra-parte Iraquiana que não queria, ou não tem capacidade para compreender o que se lhes pede, era o denominador comum.

Formar Comandantes de Divisões, a partir de guerrilheiros sem formação, é um esforço inútil.

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Da política internacional | José Maltez

O problema das análises de política internacional do nosso tempo é perdermos a noção de tempo, ao dizermos que os talibãs são medievais. Não são. São dos finais do século XX. As palas da visão ocidental da história como uma linha de caminho de ferro, como passagem do medieval para o moderno e deste para o contemporâneo é pura treta. Felizmente, a humanidade viveu fora das balizas de 476, queda de Roma, e de 1453, queda de Bizâncio. Maomé é mais moderno do que Cristo e o meu povo ibérico foi o primeiro a provar que a terra era redonda. Armilámos.

Retirado do Facebook | Mural de José Maltez

Sartre : “L’enfer, c’est les autres”

Ce n’est pas une guerre de tous contre tous que dépeint Sartre, mais un drame intérieur à la conscience, qui se découvre exposée au regard d’autrui. Explications. Par Sébastien Blanc

« L’enfer, c’est les autres. » Cette phrase de Huis clos de Sartre prête à contresens. On la comprend souvent comme simple modulation de la phrase tout aussi célèbre de Hobbes : «  L’homme est un loup pour l’homme.  » Pourtant, ce n’est pas une guerre de tous contre tous que dépeint Sartre, c’est un drame intérieur à la conscience, par quoi elle se découvre exposée au regard d’autrui. Pour le saisir, il faut revenir à ce que dit Garcin, l’un des trois personnages de la pièce, à la fin de Huis clos : «  Tous ces regards qui me mangent. […] Pas besoin de gril, l’enfer c’est les autres.  » L’enfer ne relève pas de la torture physique, mais du fait de ne jamais pouvoir s’extraire du jugement d’autrui.

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Integrado Marginal | Biografia de José Cardoso Pires | de Bruno Vieira Amaral 

SINOPSE

Notívago, boémio, brigão. Receoso de que a imagem pública lhe ensombrasse os méritos literários. Crítico do marialvismo. Acusado de ser marialva. Bem relacionado. Obcecado com a própria independência. O maior escritor da segunda metade do século XX. Um escritor datado e sem a mesma projeção internacional de um Lobo Antunes ou de um Saramago. Um espírito insubmisso. Um casamento duradouro. A convicção e a crença no próprio trabalho. Momentos de dúvida e angústia. Neste livro, vive um homem cuja personaldade foi formada no antagonismo. E um espírito que, apesar de amarrado a diversos ódios (ao campo, ao regime, à pequena burguesia da qual era originário, à literatura sentimental e demagógica, à polícia, à Igreja), nunca desistiu de Portugal e de ser escritor.

Da influência inicial da literatura anglo-saxónica, passando pela necessidade de encontrar uma “sintaxe citadina”, ou pela importância de incorporar a experiência na criação literária sem cair no sentimentalismo ou no confessionalismo, até ao salazarismo enquanto quadro de mentalidades contra o qual toda a obra de Cardoso Pires se desenvolve, esta biografia dá a conhecer o processo de construção de um escritor.

Pela mão do destacado escritor Bruno Vieira Amaral, o leitor conhece a exigência obsessiva e quase doentia, a lentidão no processo de escrita e publicação e como isso entrava em contradição com a aspiração ao profissionalismo e com a insistência na dignificação do ofício de escritor que toda a vida José Cardoso Pires, o integrado marginal, defendeu.

https://www.wook.pt/livro/integrado-marginal-bruno-vieira-amaral/21521820

Ainda houve Jogos! | Carlos Matos Gomes

Os Jogos Olímpicos de 2020 terminaram no Verão de 2021. Os seus patrocinadores esticaram o calendário gregoriano para escapar aos efeitos catastróficos causados por um reles vírus e passaram as atuações dos estádios para os estúdios de televisão. O vírus reduziu a um videojogo o grande espetáculo dos Jogos Olímpicos. Mas houve Jogos em casa dos consumidores planetários! Era o que interessava. Quanto aos próximos não sabemos. Valha-nos a inteligência artificial!

Os Jogos 20–21 foram a vitória de Pirro dos que iludem os seus semelhantes sobre a vitória da humanidade contra a natureza. Desta vez a chama olímpica ainda conseguiu tornar invisíveis as fontes das calamidades que inundam a Europa e a Ásia, do degelo nas zonas polares, dos incêndios na Austrália, na Califórnia, na Grécia, das secas, das migrações de milhões de seres sem condições de sobrevivência. Desta vez os senhores dos Jogos ainda conseguiram calar qualquer manifestação que acusasse as políticas que conduziram ao desastre resultante da sobrexploração de recursos naturais e da iníqua distribuição deles. Nem sequer foi permitido um minuto de silêncio a recordar as duas bombas atómicas lançadas sobre o Japão, a prova de que é possível aos dirigentes da humanidade conduzirem-na a um harakiri apocalítico e evitar reclamações.

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Reflexão do Presidente da Associação 25 Abril | VASCO LOURENÇO

O falecimento do Otelo, as diversas reacções ao mesmo, um debate que tive com o Mário Tomé, levam-me a algumas reflexões, sobre o posicionamento do MFA, nomeadamente no que diz respeito à sua intervenção na vida política no pós 25 de Abril. 

Muitos me aconselham a que “não vale a pena”, “não ganhamos nada com isso”, as ideias estão formatadas e formadas”, “a História nos dará razão e fará justiça”. 

Tudo bem, mas sou dos que consideram que, se nos calarmos, outros farão a História. Por isso, insisto em recordar alguns factos, mesmo que acompanhados de desabafos pessoais. Confio que me compreendam.

REFLEXÃO

Antes de mais, realço o posicionamento global que, constituindo o objectivo que nos uniu, seria também o que faria com que os que a ele se mantiveram fiéis fossem os que conseguiram sair vencedores das divisões em que nos envolvemos: falo da firme determinação em criar condições para que fossem os portugueses a decidir sobre o seu futuro. 

Posicionamento que, como sabemos mas vale a pena relembrar, estava plasmado –  de forma clara, precisa e concisa, como é timbre dos militares – no Programa do MFA (mesmo depois de alterado pela pressão de António de Spínola).

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COLISEU TROPICAL | Viegas Fernandes da Costa | por Silas Corrêa Leite

Breve resenha crítica:

COLISEU TROPICAL, o livro de Viegas Fernandes da Costa como um soco duro, fértil e impactante, nesses tenebrosos tempos pandêmicos do fascista necrobrasilis S/A.

 “Houve um tempo em que as vidas não estavam escritas” – A Cidade Transparente – Ana Alonso Javier Pelegrin Pere Ginard.

Se “A literatura é uma oferta de espaço”, como bem disse Georges-Arthur Goldschmidt, o livraço COLISEU TROPICAL de Viegas Fernandes da Costa, impactante, feroz e voraz a palo seco, nos assaca de cara, como um soco, a nos remeter, por exemplo, a Kafka:  “De modo geral, acho que devemos ler apenas os livros que nos cortam e nos ferroam. Se o livro que estivermos lendo não nos desperta como um golpe na cabeça, para que perder tempo lendo-o, afinal de contas? Para que nos faça feliz, como você escreveu? Meu Deus, poderíamos ser tão felizes assim se nem tivéssemos livros; livros que nos alegram, nós mesmos também poderíamos escrever num estalar de dedos. Precisamos, na verdade, de livros que no toquem como um doloroso infortúnio, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido expulsos do convívio para as florestas, distantes de qualquer presença humana, como um suicídio. Um livro tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós.” (Citação de Kafka, no livro História da leitura, Steven Roger Fischer, p. 285).

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Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima, Mon Amour, 1959) | Alain Resnais

“Hiroshima, Meu Amor”, filme seminal da Nouvelle Vague, muito embora seu diretor, Alain Resnais, não fizesse exatamente parte do movimento. O filme narra a história de dois amantes, ela uma atriz, ele um arquiteto, que se encontram na cidade de Hiroshima.

A atriz rememora seu ´passado na cidade francesa de Nevers, onde viveu um romance proibido com um militar alemão.Uma obra seminal, com uma linguagem soa moderna até hoje.

Direção: Alain Resnais Roteiro: Marguerite Duras Elenco: Emmanuelle Riva, Eiji Okada, Stela Dassas, Pierre Barbaud e Bernard Fresson.

O Tempo, Esse Grande Escultor Marguerite Yourcenar

«No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida. Fechou-se a primeira fase, em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar-se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus sucessivos de erosão e desgaste, até chegar, pouco a pouco, ao estado de mineral informe a que o seu escultor a tinha arrancado.
Já não temos hoje, todos o sabemos, uma única estátua grega tal como a conheceram os seus contemporâneos.»

SOBRE A AUTORA:

Marguerite Yourcenar (quase um anagrama do seu apelido verdadeiro, Crayencour) nasceu a 8 de Junho de 1903 em Bruxelas. Escreveu romances como Memórias de Adriano e A Obra ao Negro, e várias novelas. Publicou poesia e traduziu Virginia Woolf, Kavafis, Henry James e espirituais negros. Foi ainda ensaísta e crítica.Primeira mulher eleita para a Academia Francesa, em 1980, afirmou não conceder importância a tal distinção. A sua infância foi invulgar. A mãe morreu quando ela tinha dez dias, sendo educada pela rígida avó paterna e pelo pai, ligado à aristocracia, um viajante inconformista que desempenhou um papel de relevo na sua formação pessoal e literária. Marguerite Yourcenar passava os Invernos em Lille e os Verões, até aos 11 anos, na propriedade familiar em Mont Noir. Estudou em casa e o seu pouco memorável livro de poemas, Le Jardin des chimères, saiu em edição de autor quando tinha 18 anos. Acompanhou o pai em viagens a Londres, durante a Primeira Guerra Mundial, à Suíça e a Itália, onde descobriram a Villa Adriana.

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O polivalente escritor e promotor cultural Luiz Eudes e a Cangalha de Contações Maviosas | Breve resenha Crítica | por Silas Corrêa Leite

“Se cada dia cai, dentro de cada noite/Há um poço/Onde a claridade está presa./Há que sentar-se na beira/Do poço da sombra/E pescar luz caída/Com paciência.” (Pablo Neruda)

-A internet tem disso, aproxima pessoas dos lugares mais distantes possíveis, principalmente nas continentais lonjuras desses brasis gerais, sertões e veredas, trilhas e turnos. Como se diz que todo artista toca seu Deus quando cria, os arteiros; e a arte como levitação e libertação, também aproximam os iguais na seara de escrevivências, que labutam com a palavra, a literatura, os assentos narrativos. Num vareio de ventos insurgentes desses, por assim dizer, conheci o Luiz Eudes e nos fizemos amigos virtuais e dele recebi o precioso livro CANGALHA DO VENTO, contos que se entrelaçam, segunda edição, Editora Zarte, Feira de Santana, Bahia.

-Escrito e feito, e dito e feito, tomei do livro e pus-me a saborear o cardume dos causos entrelaçados, contos, acontecências num projeto que se pode a bem dizer colocar e nominando como se um romanceiro de contações do arco da velha, mais registros de saudades, revisitanças, inocências perdidas, lares e bares, luares e contares, aprumada conversa fiada para nos deliciar. E o autor já tem outros livros e nesse, CANGALHA DO VENTO, com ilustrações de Samuel Costa, e sua bucólica prosa ligeirinha vai nos levando, tomando-nos pela mão, e vamos entrando preciosos no Junco pela porta aberta dos olhos sadios de um contador portentoso.

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O FUTURO É O PASSADO A LIMPO Júlio Isidro

José Afonso, 2/8/1929

Faria 92 anos e  a sua obra, o seu legado é cada vez mais actual e urgente.

José Afonso que tive o privilégio de ter como convidado no “Passeio dos Alegres” já doente, cantou e mostrou quanto vale a força das canções.

Não mais voltou à televisão, mas a RTP guarda o concerto de despedida no Coliseu de 1983 onde estive a aplaudi-lo. Nesse mesmo ano, recebíamos o Sete de Ouro, galardão de que me orgulho por figurar ao seu lado em capa de jornal.

José Afonso é hoje considerado um dos mais inspirados cantautores do mundo, com uma obra que é sempre uma descoberta.

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Em defesa do ano 1975 e desmontando o ataque miserável e cobarde a Otelo | Liquidar Abril e a esquerda militar revolucionária | Manuel Duran Clemente

«Apenas – Otelo,e não só – evitou uma possível guerra civil. O falecido camarada Diniz Almeida, nunca compreendeu o papel de Otelo, nesse dia, e ficou desde sempre agastado com ele e com Vasco Lourenço. Nunca mais pôs os pés na Associação 25 de Abril, ficou muito chocado com o acontecimento e proferiu palavras amargas debaixo duma pressão inicial e mágoa por ter sido preso injustamente. Este estado de espirito ao longo dos anos e para sempre. Não perdoou aos que fabricaram o inventado golpe de 25 de Nov.  Nunca quis discutir o caso.Retirou-se do meio militar de forma radical. Respeita-se. Paz aos dois falecidos. Honra ao que fizeram e participaram na conquista da Liberdade. Os acontecimentos são bastante mais complexos e este aproveitamento é pouco sério. Ainda hoje e aqui tentarei explicar o que se passou,evitando uma provável guerra civil, e como foi decisiva a intervenção de Rosa Coutinho,Martins Guerreiro,Carlos Contreiras,José Emilio,Costa Martins, Comandante dos Fuzileiros …e outros . Otelo recusou um banho de sangue que seria provável se os Fuzileiros (como se propuseram) atacassem os Comandos. Como sabemos não houve nenhum golpe de esquerda nem de direita. Sim um aproveitamento da saída dos paraquedistas em litígio com o seu CEMFA.

 Leiam o livro “A Resistência” de Gomes Mota/1976. Ele explica as acções do grupo dos nove. Otelo não era desse grupo.» 

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Mas … dos que atiram a pedra e escondem a mão | Carlos Matos Gomes

Além dos putativos herdeiros dos movimentos mais violentos e totalitários da história moderna e contemporânea de Portugal, desde a Vilafrancada miguelista de 1823, até aos bombistas e saqueadores reunidos na sé de Braga e nas escritórios do franquismo em Madrid, do cónego Melo ao comandante Alpoim Calvão que colocaram “Portugal a arder” com o ELP e o movimento Maria da Fonte, dos que ainda choram o fim da ditadura e da guerra colonial, a morte de Otelo Saraiva de Carvalho proporcionou o ressurgimento de um outro grupo, o do “mas”. O grupo dos falsos “cândidos”, dos que argumentam candidamente que a operação militar foi boa, “mas” a revolução não foi democrática e o seu desenrolar até foi atribulado.

Os do “mas” não perdoam a Otelo a responsabilidade de ter transformado um putsh militar numa revolução, incentivado os portugueses a agir e a organizar-se espontaneamente para decidir o que fazer após o derrube da ditadura, o fim da polícia política, dos tribunais plenários, da censura, do poder patronal absoluto! Ora, esta liberdade tomada por necessidade e impulsionada por Otelo, constituiu e constitui uma ofensa imperdoável aos “mas” sobre o que “devia ser uma democracia”, trazida já talhada, pronta-a-vestir do Posto de Comando da Pontinha, ou, ainda melhor, de casa do general Spínola.

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Portugal Ressabiado | Carlos Matos Gomes

Em 1972, Mário Soares publicou em França um livro sobre Portugal a que deu o título de «Portugal Amordaçado». Havia, então, um Portugal amordaçado pelo Estado Novo e a sua polícia política, um Portugal amordaçado pela falta de direitos elementares de cidadania, direito à palavra, à representação, direito de reunião, de organização, havia um Portugal amordaçado que não podia falar do colonialismo, nem da guerra colonial, nem na busca de soluções que não fossem a continuação da guerra, havia um Portugal amordaçado pelos grandes patrões da indústria e da banca, um Portugal amordaçado pela Igreja Católica e pelo partido único, a União Nacional.

Havia, de facto, um Portugal amordaçado, mas havia e há um Portugal que gostava e gosta da segurança da mordaça, da tortura, da violência dos Pides, dos assassínios dos opositores, da censura, da União Nacional, dos regedores e autarcas nomeados, dos deputados escolhidos entre os fiéis e os compadres, um Portugal que gostava e gosta das cargas da Polícia de Choque e da GNR, das arruaças dos legionários, havia e há um Portugal herdeiro do ultramontanismo absolutista do século xix, um Portugal miguelista, satisfeito com as ordenações do trono de Salazar e as bênçãos do altar do Cardeal Cerejeira, confortado com as denúncias dos informadores. Havia e há um Portugal agradecido por pertencer a um rebanho, por ter pastor e cão de guarda.

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