Gente Muito Cá de Casa – por José Teófilo Duarte

Gente_muito_casa_JT“Somos as pessoas que conhecemos, os lugares que visitamos, os livros que lemos”
[Jorge Luís Borges]

MEMÓRIA DESCRITIVA | As fotografias que representam os convidados Muito cá de casa estão penduradas na Galeria da Casa Da Cultura | Setúbal. Resultam de um projecto proposto por mim a António Correia que, por gentileza e amizade, concordou em desenvolver. A ideia é retratar todos os participantes nas sessões, em visual depurado, de maneira a possibilitar a captação do instante decisivo. Não na concepção que referia Henry Cartier Bresson. Os convidados pousam para o fotógrafo. Foram encontrados os meios mínimos possíveis para o desenvolvimento do trabalho. O instante decisivo é procurado pela objectiva que se revela na captação do à-vontade e no olhar que a visão do fotógrafo — obtida pelo seu próprio silêncio interior — regista e revela.

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Gente muito cá de casa – Setúbal

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GENTE MUITO CÁ DE CASA | São escritores, artistas visuais, músicos, editores, autores das mais variadas disciplinas que se encontraram connosco na Casa Da Cultura | Setúbal. Baptizámos estes encontros com um nome que alude à própria convivência neste espaço de encontro da cidade: Muito cá de casa. Pretendemos conviver com quem insiste em conceber projectos pessoais de qualidade. Apresentámos livros, mostrámos ilustrações, montámos exposições, falámos de apoios à cultura e da falta deles. Estivemos sempre com os protagonistas por perto. Gente muito cá de casa que dá cartas e ganha apostas nesta nossa casa colectiva. Também as fotografias são um trabalho de autor. Um olhar pessoal sobre este pessoal. Antonio Correia pôs mãos à obra. Ou seja, pôs as mãos na máquina e captou estes olhares mostrando-os com um à-vontade que os torna muito cá de casa mesmo. Muitos destes autores vão estar na abertura da exposição. Abre sábado e fica por cá até ao fim do mês. Convidados. Apareçam.
José Teófilo Duarte www.blogoperatorio.blogspot.com

António Gedeão no AJA

Gedeao_AJA_JTAja Lisboa vai evocar António Gedeão. Uma exposição elaborada para a Galeria da Casa Da Cultura | Setúbal, e mostrada por lá no segundo mês de vida da Casa, vai agora estar nas bonitas instalações da Associação José Afonso em Lisboa. Vão lá estar também a escritora Cristina Carvalho, a declamadora Eugénia Alves e o cantor Samuel Quedas. É no próximo domingo, dia 11. Apareçam.
José Teófilo Duarte www.blogoperatorio.blogspot.com

Cuidar do Cão da Estrela – de Manuela Paraíso

Cao_Serra_Estrela_JTO livro é assinado por Manuela Paraíso. Estamos mais habituados a associar o seu nome à divulgação musical na rádio e na imprensa escrita. Agora resolveu escrever um livro sobre o cão da Serra da Estrela. São dicas para cuidar do bicho. Como criadora sabe bem o que lhe faz falta. Para a ajudar na apresentação vão estar Fátima Rolo Duarte, artista visual, e Sérgio Cardeira, director clínico do Hospital Veterinário de Setúbal. É na próxima sexta-feira, dia 9, às 22 horas, na Casa Da Cultura | Setúbal. Convidados. Apareçam.
José Téofilo Duarte – www.blogoperatorio.blogspot.com

JOSÉ RUY — 70 ANOS A DESENHAR – Setúbal

José Ruy_CasDaCult_SetJOSÉ RUY — 70 ANOS A DESENHAR | José Ruy começou a publicar desenhos regularmente na imprensa há setenta anos. Assinalam-se hoje19 dia 19. Publicou o seu primeiro desenho no semanário O Mosquito. Publicação muito popular na altura, que mostrava histórias em capítulos, assinadas por vários autores. José Ruy nunca mais parou. Passeou o seu talento pelas mais prestigiadas páginas da imprensa ilustrada. Mas não ficou por aí. Desenvolveu intenso trabalho pessoal. Desenhou inúmeros álbuns, contando as histórias da História de Portugal.
Em Fevereiro e Março deste ano andou por Setúbal. Fez uma exposição de um seu trabalho a reeditar — Fernão Mendes Pinto e a sua Peregrinação —, na galeria da Casa Da Cultura | Setúbal, e foram promovidos vários encontros com todos os que o quiseram ouvir. Convívios memoráveis.

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Os Livros da Revolução – Casa da Cultura de Setúbal

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As mudanças políticas e sociais iniciadas em 25 de Abril de 1974 estão bem documentadas em registos históricos e em literatura que relata, ficciona e festeja a acção militar que pôs fim a uma ditadura que durou quase meio século.  A repressão foi castradora. A censura foi inimiga da inteligência. O analfabetismo foi aliado do regime que tolheu futuros e  provocou anátemas.

Recordamos o dia de Abril em que tudo aconteceu, em Outubro, mês em que outra ruptura histórica pôs fim, há um século atrás,  ao despotismo patético de condes e barões de um sistema caduco e retrógado. 

Abril em Outubro foi a marca que desenhámos para fechar a porta das comemorações dos quarenta anos do 25 de Abril. Contamos com a presença de protagonistas, de jornalistas que deram as notícias em primeiro mão e de historiadores que trabalharam os relatos dos protagonistas. Vamos conversar com eles na Casa da Cultura. Casa que nasceu no local onde o Círculo Cultural de Setúbal transformou cultura em coisa viva. Como deve ser a cultura. Círculo que resistiu aos atropelos perpetrados pelo serôdio regime. Vamos recordar festejando. Festejaremos o fim do  obscurantismo. Sempre. (José Teófilo Duarte)

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, Jornal SemMais e BlogOperatório.

A Alegria da Criação

Alegria da Criacao

Plantei a semente da palavra
Antes da cheia matar o meu gado
Ensinei ao meu filho a lavra e a colheita
num terreno ao lado
[José Afonso]

NO ESTRADO DA ALEGRIA | A criação não depende apenas de conceitos, imagens ou da procura de novos caminhos. Pode resultar de uma compreensão da realidade com todas as práticas: erros, desvios, acidentes e entendimentos de experiências vividas. A criação não é um programa de variedades, é um diálogo sério sobre a realidade. Criar é fazer uma nova ilustração do mundo. O mundo precisa permanentemente de coisas novas. Mas o mundo pode ser a mesa onde estão sentados os nossos cúmplices. Digo eu, e, muito sinceramente, é por aí que respiro.

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Como vivem os donos disto tudo? – Debate

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O MUNDO É DOS RICOS? | Francisco Louçã e Jorge Costa andam nisto há muito tempo. João Teixeira Lopes também. Os três resolveram dizer-nos como vivem os donos disto tudo e porquê.Escreveram este livro para contar a história. Como acaba assim um Banco como o BES? O mundo tem mesmo que pertencer a meia dúzia de famílias? Sempre foi assim? E não pode ser diferente? Vamos conversar com dois dos autores desta obra: Francisco Louçã e Jorge Costa. Considerem-se convidados. Apareçam. (José Teófilo Duarte)

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, Jornal SemMais e BlogOperatório.

 

40xAbril

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ABRIL ILUSTRADO | A exposição abre na próxima sexta-feira, dia 5 de setembro, a partir das 22 horas. Contará com a presença de alguns ilustradores e poetas participantes no projecto.
“Falaremos desta ideia e falaremos de poesia. A poesia que ilustra esta significativa exposição. Apareçam.”, José Teófilo Duarte.

A exposição estará patente na Casa da Cultura de Setúbal.

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O Homem que fez tudo

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Com a Ditadura Militar, instaurada na sequência do golpe de 28 de Maio de 1926, Carlos Botelho Moniz assume a liderança da Câmara de Setúbal, cargo que desempenhará até 1930.

Alinhado politicamente com o novo regime e contando com o apoio dos comandos militares locais, Botelho Moniz, que conhece a realidade sociológica da cidade – com uma matriz fortemente operária de cariz ideológico libertário -, decide seguir uma estratégia de não afrontamento com as associações de classe. Para o efeito não hesita em tomar medidas populistas, em contraciclo com os afetos ideológicos da Ditadura Militar.

Junto do novo poder, ainda não totalmente consolidado, insinua-se como instrumento de pacificação da antiga “Barcelona portuguesa”, conseguindo apoios e ajuda financeira para os seus projetos. Apresenta-se como líder de um grupo de cidadãos que à margem da política conseguiu aquilo que aos políticos nunca foi possível. O discurso protofascista contra a incompetência dos “políticos” face à capacidade realizadora dos técnicos era bem evidente.

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The Beat Hotel

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A poesia da Beat Generation foi o motivo para a festa. Festa que aterrou em grande delírio naquele palco do Teatro do Bairro. André Gago convoca os protagonistas: Allen Ginsberg, Gregory Corso, Lawrence Ferlinghetti, William S. Burroughs, Jack Kerouac. Mas o fantasma de Jim Morrison passou por lá sem ser anunciado. Aliás, os fantasmas daquela gente toda andaram por ali num reboliço. As diferenças misturaram-se em saudável convívio. André Gago deu voz e corpo a um projecto que evoca os recitais que abriam os concertos dos grupos urbanos de referência na vida cultural de Nova Iorque e São Francisco nos anos cinquenta do século passado. Foi há bocadinho. Há coisas que não morrem. Ficam. Pairam. Charles Bukowski conta histórias destes extraordinários eventos no livro Mulheres, por exemplo. É por lá que afiança que a literatura aperfeiçoa a realidade.

André Gago e seus companheiros de performance — André Sousa Machado, Edgar Caramelo, Fausto Ferreira, Tiago Inuit e Vj Pedro Blanc — fizeram isso neste magnífico espectáculo: aperfeiçoaram uma realidade que conhecemos dos relatos escritos e de um ou outro registo gravado. Mas fizeram esta abordagem com apetites de contemporaneidade. A interpretação de André Gago é soberba. André é um actor soberbo.

Foi no Teatro do Bairro, no Bairro Alto, que testemunhei este recital único. Mas eles vão andar por aí. Não os percam de vista.

José Teófilo Duarte – blogOpertório

Setúbal sob a Ditadura Militar

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Uma das medidas seguidas pela Ditadura para combater o défice é a diminuição dos salários. Dia a dia os trabalhadores vão perdendo direitos conquistados. Há uma ambiência de pobreza extrema sendo que as autoridades locais chegaram a “deportar” para as terras de origem dezenas de famílias que viviam em Setúbal e que não tinham emprego pagando-lhes o bilhete de comboio.

Setúbal sob a Ditadura Militar (1926-1933) é o mais recente livro do historiador Albérico Afonso Costa. O retrato de uma cidade no período que mediou o fim da primeira República e o início do Estado Novo.

O autor aceitou responder a algumas questões colocadas pelo Das Culturas.

Setúbal sob a ditadura militar é um livro de resistência?

A investigação histórica deve tentar sempre libertar-se das duas visões dicotómicas que normalmente se colocam ao historiador: a condenação de determinado período histórico, ou a sua defesa. Essas opções são quase sempre limitadas e pobres. Nesse sentido este não é um livro de resistência. Contudo, ao pretender devolver a memória aos setubalenses, ao pretender que a cidade de Setúbal se reencontre com o seu passado, podemos, nessa vertente, encarar este livro como um livro de resistência. Resistência contra o silêncio e contra o esquecimento.

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Militares e Política – Muito Cá de Casa

OS MILITARES E A REVOLTA | Este livro conta como foi o envolvimento dos militares no movimento que resultou no derrube da ditadura. Está lá contado o motivo que levou à escolha de Grândola, Vila Morena como a senha de confirmação para o avanço das tropas. Luísa Tiago de Oliveira conta e organiza as histórias de quem esteve por perto. Dentro, mesmo. João Madeira vai apresentar a obra. Opinião de um historiador que sabe muito bem o que se passou. É já na próxima sexta-feira, dia em que se comemora o fim do regime simplesmente “autoritário”, como pretendem alguns. Ao contrário do que sugerem os arautos das inevitabilidades, é preciso não esquecer que houve tortura e morte violenta.
Apareçam.

José Teófilo Duarte, blogOperatório

Paredes que falam

PAREDES QUE FALAM | A democracia permitiu-nos comunicar. Há quem fale em exageros. Como se a gente falar uns com os outros, sem tolhimentos, seja atropelo. O regime cinzento e triste que durante quarenta e oito anos reprimiu e agrediu gente com vontade de ter voz, já fedia.
A paisagem política estava podre. Era bisonho, o panorama cultural. Em democracia as paredes foram voz dos que guardavam surtidas paletas de cores para aplicar. Haviam pensamentos e sinais de revolta para ilustrar. As paredes foram as telas de gente que queria dizer por cores e palavras o que andou escondido durante muito tempo. Muito tempo mesmo. Estes murais estão longe das expressões tecnicamente mais competentes que hoje cobrem as paredes das cidades. Muitas de gosto bastante duvidoso. Eram expressões expontâneas que exprimiam vontades colectivas. Sem necessidade de exibições pessoais. Hoje, sábado, Manuel Augusto Araujo vai mostrar imagens que coloriram as paredes portuguesas. E eu vou conversar com ele. Coisas Muito cá de casa na Casa Da Cultura. Vamos estar por lá a partir das dez da noite. É sempre bom trocarmos ideias. Sobre este e muitos outros assuntos. É bom vivermos em liberdade.

José Teófilo Duarte
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ANDRÉ CARRILHO na Casa da Cultura de Setúbal

ANDRÉ CARRILHO TAMBÉM JÁ É CÁ DA CASA | Trabalha, desde 1992, como ilustrador, designer, animador e caricaturista, colaborando com prestigiadas publicações portuguesas e estrangeiras.

Trabalhos seus já foram expostos nas mais exigentes salas do planeta. Portugal, Espanha, Brasil, França, República Checa e EUA receberam a visita dos seus desenhos.
Recebeu vários prémios nacionais e internacionais.

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O RISO AMARELO de José de Lemos


O RISO AMARELO DE JOSÉ DE LEMOS | Há por aí quem ainda se lembre destes “bonecos” publicados no já extinto Diário Popular? Com certeza que sim. Pois tomem nota: muitos destes extraordinários cartoons estarão a partir de hoje expostos na Galeria da Casa da Cultura. A abertura é às 21:30 horas. José Ruy foi colega e amigo de Lemos e estará presente para falar dessa amizade.

José de Lemos fez muitas outras coisas sempre ligadas à comunicação ou aos jornais. Foi um generoso contador de histórias para a infância. Escreveu-as e ilustrou-as. Publicou-as em livro e viu-se distinguido com a inclusão destas suas histórias em antologias internacionais.

Este Riso Amarelo que agora se expõe na casarão da cultura, foram crónicas desenhadas e publicadas diariamente no jornal onde trabalhou longos anos. Estas crónicas foram a interpretação crítica dos dias de então. Os ambientes variavam entre casas de família, consultórios médicos, lojas, bares, restaurantes, tascas, esquadras de polícia e as ruas da cidade. Convocou personagens de toda a espécie para verbalizar a crítica: donas de casa, empregados de escritório, médicos, taberneiros, criados de mesa, putas e gabirus.

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DDLX – Olhar e perceber tudo

DDLX

Este ano é o 10º aniversário da DDLX.

Na DDLX o design é encarado como forma eficaz de comunicação, e a maneira mais útil de transformar ideias em objetos de divulgação e promoção.

Trabalhando em equipa, a DDLX tem experiência em convocar pessoas de outras áreas para projetos em conjunto.

Na DDLX acredita-se que o Design de Comunicação encurta a distância que existe entre quem quer divulgar e os possíveis utilizadores da comunicação divulgada. Essa é a sua missão.

www.ddlx.pt

 

Muito cá de casa – Poesia de Miguel de Castro

De silencios

A poesia de Miguel de Castro (1925-2009) tem uma sonoridade e uma métrica como se tivesse sido escrita para ser escutada enquanto se lê. Frequentemente, os poemas deslizam a partir de uma imagem inicial, num processo quase narrativo, evoluindo ao longo da sua escrita, para nos brindar com um desfecho surpreendente.

Miguel de Castro assumia-se como o poeta do corpo, num magoado elegíaco erotismo ferido de “lembranças” (como referiu Fernando J.B. Martinho na Colóquio Letras). É sempre com elegância e paixão que trata o corpo da mulher.

No Muito cá de casa estivemos em convívio poético. Dois atores emprestaram um registo diferente à leitura destes poemas. António Galrinho privilegiou a métrica, mantendo intacta a estrutura do poema, enquanto o António Nobre seguiu a linha dos afetos, interpretando o poema e deixando o timbre da sua voz entregue às emoções. Grandes momentos.

Ontem, na Casa da Cultura de Setúbal, sentiu-se, profundamente, a poesia.

Ler a recensão a este livro no Acrítico – leituras dispersas.

Poesia de Miguel de Castro em Setúbal

De silencios

Quatro anos e meio após a sua morte, regressamos ao convívio poético com Miguel de Castro. Estes inéditos foram gentilmente cedidos pela mulher que o acompanhou toda uma vida até ao fim dos seus dias. Alice permite assim que a poesia de Jasmim Rodrigues da Silva (seu verdadeiro nome. Miguel de Castro foi pseudónimo poético sugerido por Sebastião da Gama), não se fique pelos cinco livros editados em vida do autor. O poeta deixou extensa produção digna de atenção. Esta pequena amostra, que hoje vai ser apresentada na Casa da Cultura, em Setúbal, antecipa e anuncia a publicação de toda a sua obra, com a inclusão de surpreendentes inéditos.
Um grande poeta que não decepciona os muitos e atentos seguidores do seu trabalho.
Este De silêncios e de sombras encontra-se à disposição dos possíveis aquisidores na loja da Casa e na livraria Culsete. O pedido também poderá ser feito por correio electrónico, para o endereço que se revela por baixo da minha assinatura, aqui no lado direito desta conversa. E termino a prosa com um dos poemas seleccionados para o livrinho. Até logo.

José Teófilo Duarte (BlogOperatório)

mais sobre este evento

 

100 anos de Cunhal

CunhalÁlvaro Cunhal foi uma figura misteriosa. Parece criação literária. Aliás, as histórias que contou em livro relevam sempre personagens que se confundem com ele próprio. A opção pela defesa de um ideal levou-o a viver, no tempo da ditadura, permanentemente em risco. Já tinha vivido mais de metade da sua vida quando conheceu a liberdade na terra onde nasceu. O mistério deve-se a essa constante resistência. Quem discordava de Salazar tinha que viver escondido. Ou estar calado. Cunhal não estava para aí virado. Fez da luta política maneira de existir. Vida difícil e complicada mas em permanente busca de conhecimento. Conheceu mundo e revelou o que conheceu. Ilustrou, pintou, escreveu, discutiu arte. Discordo de algumas opiniões sobre assuntos que também me são gratos. Mas realço, acima de tudo, nesta altura em que se comemora o centenário do seu nascimento, a capacidade de resistir à mediocridade fascista com cultura e com a coragem de acreditar em outros caminhos. Há quem, mesmo neste momento de comemoração, insista na ideia de que, como dirigente comunista, defendia outra ditadura. Acontece que Álvaro Cunhal esteve preso anos a fio, incomunicável, por combater o regime criminoso de Salazar. Os seus adversários políticos nunca viveram semelhante experiência. Dificilmente saberão do que falam. Há alturas em que deveriam ficar calados.

José Teófilo Duarte
(Imagem: Retrato por Eduardo Gageiro)
www.blogoperatorio.blogspot.com

 

Encontro de Blogues – Setúbal

encontro_blogsA Casa da Cultura de Setúbal vai receber os eminentes opinadores na próxima sexta-feira, dia 27. Um debate espreitando o desfecho da campanha eleitoral para as autárquicas.

“Os blogues são assim como jornais com grande possibilidade de expansão. Toda a gente pode ter o seu próprio meio de comunicação sem grandes investimentos financeiros. A importância destes meios de comunicação existe conforme a influência dos seus autores.
Mais recentemente, as opiniões postadas nos blogues, passaram a ter eco no facebook e twiter. Muitos políticos, actores ou gente do desporto, comunicam por estes canais a sua existência e enleios existenciais.
Esta edição muito cá de casa traz a Setúbal três autores de blogues que marcam o panorama deste meio de expressão. Tomás Vasques, do Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, é também comentador em canais televisivos e cronista no i. António Cabrita, do Raposas a sul, foi crítico de cinema no Expresso, é escritor e argumentista. José Simões é autor do muito concorrido Der Terrorist, sendo um atento analista da realidade que nos cerca.
Convidados. Apareçam.”

José Teófilo Duarte – BlogOperatório

 

A Alegria da Criação – José Afonso

Alegria

Na Associação José Afonso, na Casa da Cultura de Setúbal, houve a “Alegria da Criação”. Uma iniciativa do José Teófilo Duarte em forma de dinamização cultural de um espaço, em jeito de uma instalação de pintura, uma palestra, um debate, um convívio… uma intervenção visual e o inesperado do “working in progress”. A verdadeira alegria da criação. Uma iniciativa que visa comemorar o 84º aniversário do nascimento de José Afonso.

Foi bom escutar o José Teófilo falar com paixão sobre José Afonso, de forma definitiva e sem apelo ao contraditório. Vamos ter a evolução deste trabalho e o Livro do Artista, com Luísa Tiago de Oliveira, Alice Brito e outros autores serão acrescentados ao rol. Até ao final do mês a edição estará concluída. Depois serão impressos 84 exemplares – referência aos 84 anos de José Afonso -, assinados por todos os autores, e colocados à vossa disposição por dez euros. A receita vai para a casa, ou seja, para a AJA.

Em breve, será criado um mural no Face para nos manter a par de tudo. E da próxima, traz outro amigo também.

José Teófilo Duarte | Blogoperatório | CARREIRAS E ELITES

Estamos tramados. Há um raminho de políticos, fazedores de opinião, jornalistas, entrevistados de luxo e outros lustrosos manhosos, que não hesitam em espremer os seus briosos miolos, extraindo daí todo o surtido de esterco contaminante. Não se calam. Divulgam barbaridades como verdades absolutas. Um qualquer negociante, sem qualquer curiosidade intelectual ou formação humanística, chega a super-ministro e exibe incompetência e demência. Miguel Relvas é apenas um símbolo coadjuvado por uma trupe incontável. Até foi convidado para botar sabedoria num inclassificável Clube de Pensadores que se expõe em blogue redigido com os pés. Mas há muitos mais crentes na capela do neoliberalismo insensível. O beato César das Neves, que acredita nas virtudes da crise para corrigir os nossos excessos, surge de vez em quando do nada para o púlpito. Mário Crespo, na SIC-N, convoca volta e meia o inenarrável avô Cantigas Esteves para as contas de subtrair. Ele próprio opina e desatina com outros convidados, menos alinhados com o seu tosco pensamento, envolto em sebosa sabedoria de obter e deitar fora. É também nesta estação que o justiceiro Gomes Ferreira ataca quem pode e bajula quem manda com descontração de figurante de anúncio publicitário. Há uma senhora na TVI que convida cromos de luxo: o professor Medina, a um dia certo da semana, subtraindo e corrigindo como se não houvesse amanhã, e o alucinado professor Marcelo, aos domingos, como cartomante encartado.
Mas há muitos mais em outras montras da comunicação: um cretino chamado Camilo Lourenço, depois dos fretes a Passos e ao seu governo, vem agora propor o fim do ensino da história, concretizando-o com a proposta de extinção dos professores da disciplina, já que nada fazem pela economia. E depois há as esclarecidas mentes empresariais e banqueiras. Recuso-me a conspurcar estas singelas linhas com as mediáticas atitudes do merceeiro do pingo doce e do banqueiro do BPI, mas não podemos ignorar a muito recente sugestão do “ex-fascista” e posterior “social-democrata” João Salgueiro no sentido da instauração do trabalho forçado – mandar indiscriminadamente pessoas desempregadas para a limpeza de florestas e velhinhos é uma ideia que não lembraria ao mais empedernido dos seus ex-companheiros ideológicos. Também o movimento Reformados Indignados, dirigido por um ex-banqueiro e formado por pensionistas milionários, vem colocar a saborosa cereja no topo do bolo. Que elite é esta? Porque será que em Portugal até a elite é manhosa? Já não nos espantaria ver a dupla Santana Lopes – Pedro Granger associada na constituição de um clube de reflexão e análise. Nem me admirava nada que o saltitante João Baião, ou os inacreditáveis Homens da Luta, motivados pelas votações italianas, formassem um grupo contra-sistema para se candidatarem a eleições legislativas. Tudo é possível, em terra onde quem deveria transmitir conhecimento influente, influencia o poder contra quem de facto produz e luta pela sua existência com inteligência e exigência: a classe média. Alguém sabe de uma carreira que nos transporte daqui para fora?