Afonso, O Conquistador | de Maria Helena Ventura 

SINOPSE

Esta é a história de um homem, do seu sonho e do nascimento de uma nação.

Tem nas suas mãos um romance épico: a vida de D. Afonso Henriques. Recorrendo a uma meticulosa pesquisa histórica, Maria Helena Ventura transporta-nos para o século XII e envolve-nos com as paisagens, culturas e figuras dessa época distante. No centro da acção está Afonso Henriques, o primeiro homem a sonhar Portugal, e que tornou esse sonho realidade com golpes de espada, traições familiares, intrigas religiosas e muita determinação.

Afonso chegou até nós como um homem sem medo, vencedor de batalhas impossíveis, líder na frente de combate e na frente diplomática. Mas Maria Helena Ventura vai mais longe e apresenta-nos um homem que faria as delícias de Maquiavel: astuto como poucos e sem escrúpulos sempre que necessário. E também um homem apaixonado pela vida, pelos filhos – fossem eles legítimos ou bastardos – e até pela mulher, que finalmente aprendeu a amar.

Amadurecendo de príncipe impulsivo para soberano ponderado, no fim da vida Afonso deixa-nos um território um pouco diferente daquele que temos hoje em dia. Sem ele não haveria Portugal nem língua portuguesa, e nunca as caravelas com a cruz de Cristo teriam partido em busca de novas paragens nem Camões cantado Os Lusíadas.

Biografia

Maria Helena Ventura nasceu em Coimbra, terra de toda a família materna. Mantém ainda uma profunda ligação afetiva ao Porto, de onde o pai era natural, e a Lisboa, para onde veio no final da adolescência, onde se licenciou e fez o Mestrado em Sociologia da Cultura. Vive no concelho de Cascais. É membro da IWA – International Writers and Artists Association, Sociedade de Geografia de Lisboa e Associação Portuguesa de Escritores. Tem dezanove títulos publicados, até ao momento: sete de poesia, onze de ficção (romance) e um título de literatura infantil, além de trabalhos académicos nas áreas da Sociologia da Educação e da Cultura.

VIDA | Maria Helena Ventura

Quando os teus olhos

molhados de infinito

pedirem o esboço de uma

nova rota

aprenderás a navegar

pelas ranhuras da ruína.

E entre céu limpo

e a densidade de abismos

sentirás a doce aragem

da manhã seguinte

aconchegada no regaço

de um canal de luz.

Estás viva.

Maria Helena Ventura – QUANDO O SILÊNCIO FALAR

Pintura: PAPOILAS de MIKKI SENKARIK

AO ENCONTRO DE JESUS HISTÓRICO Maria Helena Ventura

Tinha em mãos o projecto do livro UM HOMEM SÓ, título que poderia ser interpretado como “um homem sozinho”, ou “apenas um homem”.

Chegava a contemplar a segunda dimensão, depois de um longo cepticismo em relação ao que aprendera em criança, mas a figura de Jesus Cristo, como a de qualquer outro profeta, era e é demasiado importante para aqueles que acreditam na sua palavra. Não podia desrespeitá-los.

E depois, à medida que ia lendo e pesquisando documentos, ia recordando que o evangelho de Jesus Cristo não é uma religião, contém em si a significação universal mais completa, que abrange o princípio de todas as religiões.

Lembra que os homens têm a mesma origem e um destino comum, partilham um só planeta, a mesma casa. As suas vidas pessoais e colectivas só têm significado com o compartilhamento dos recursos e adopção do respeito mútuo, porque é inevitável que se cruzem em trocas de experiências e miscigenações.

Antes de todos os princípios, o da fraternidade é essencial. Era esse, essa filosofia de vida, que Jesus pregava. O outro, subentendido, é o do acesso à educação, ou abertura da mente, na altura pela escuta da palavra, para que o esclarecimento afaste os densos véus do obscurantismo.

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Esta noite ficam só umas palavras de despedida | Maria Helena Ventura

Olá Amigos

Esta noite ficam só umas palavras de despedida.

Há pouco diziam-me ao telefone que complicamos muito o que pode ser simples.

Se costumava ter insónia? Bastaria encher os olhos, durante o dia, de uma seara a encorpar, de uma mão cheia de papoilas rubras e alimentar, dentro de mim, um bando de aves a construir um jardim que mais ninguém poderia conhecer.

Os campos por aqui têm vinhedos…o bairro o azul-roxo dos jacarandás. Os olhos terão seguido diferente itinerário, mas tanto faz. Igual é o aconchegar dos pássaros da reconciliação comigo, porque não me quero fazer mal.

E agora vou construir o tal jardim.

Maria Helena Ventura 02/07/2021

Aguarela do Malaio TILEN TI

GRÃOS DE AMOR | Maria Helena Ventura

Escorrem pelo corpo

recessivos

estes grãos de amor sobejo.

Que devo fazer com eles

se tão alheios são

ao sossego?

Ao contrário:

que devo fazer sem eles

se tanto agasalho dão

ao silêncio?

Escorrem em centelhas

deserdadas

pelos sulcos da pele salgada

na pungência acesa

de marulhos indóceis

Maria Helena Ventura | PEDRA DE SOL

Tela de FRANCISCO Ángel GUTIÉRREZ (1906-1945 | A DESPEDIDA

RISCOS | Maria Helena Ventura

Em óleo ou aguarela
tinta da china ou carvão
matizo os vivos tons
deste sentimento
num tropel de mãos
e riscos de asas
sonhos
gaivotas.
Decoro chorões de incunábulos
com lianas de novos signos
sem lágrimas nem sangue
nas coordenadas do afecto
suor, talvez
de pronto limpo à prosa suja.
E redimida de ventos
em ásperas transições
baloiço nas nuvens migrantes
do afecto vocabular.

Maria Helena Ventura – PEDRA DE SOL 

Diego Rivera – Retrato de Elena Flores de Carrillo – 1953

MENSAGEM POR DIZER | Maria Helena Ventura

Preferia a labareda
entre as dunas inventadas
quando a noite sobrava na ressaca
e preenchia a sede da raiz.

Vinha inteiro
aberto tanto à chuva temporária
como ao abrigo do desejo.
E pulsavam sinais indestrutíveis
de fecundo enleio
mesmo que a ternura
fosse chegando desfolhada
pétala a pétala.

Lembro a sedução latejante
no espaço bordado pela respiração
à espera do ritmo coreográfico
das palavras cálidas
um esperar de corpo nu
pela acendalha colorida.

Num coro delicado de alaúdes
as marés vivas decantavam a luz
reflectida no olhar
e uma estrela preparava cada noite
o céu do dia seguinte.

Assim era tão fácil
bordar frases na reinvenção do amor
que apetecia nascer repetidamente
em cubos de néctar
e silêncio.

Maria Helena Ventura – INTERTEXTO SUBMERSO

Tela ousada, como todas as do neocubista GEORGY KURASOV

LENÇOS BRANCOS | Maria Helena Ventura

LENÇOS BRANCOS

Tudo ficará como dantes
no tumulto da existência
menos o essencial…
O corpo que domava o meu
em ímpetos de fogo
e plantava bem dentro da terra
o gotejar do afecto
fica-me nos olhos
em narrativa sem continuidade…
E as mãos frementes
em coreografias de abraços
mais não podem fazer
do que alongar-se
até ao infinito do adeus.

Maria Helena Ventura – PEDRA DE SOL

Olha amor | Maria Helena Ventura

Olha amor
faz diferença pôr a música de Bach no poema
enfeitar o teu nome com pedras de coral?
Ainda há pouco os pássaros cantavam entre os dedos
e em círculos pequenos embalavam as bússolas
na pulsação dos vocábulos.
Por aí sei que a noite vive à pressa o prazer efémero
na urgência dos minutos ruidosos
esquecida do silêncio vagaroso
e do fluido que me basta para esculpir um rosto
no contorno do teu.
Talvez o mais parecido com um texto
ou figura verbal desta imperícia
atravesse a distância e vá desaguar nas penas
de um rouxinol concebível.
De um portal entreaberto na frágil textura do meu peito
fugiu-me num estremecimento
antes de o decifrar completamente.
Se os teus dedos apontarem o local de partida
dita-me tu o que resta dele
com os sinais da luminosidade
recolhida numa tela de palavras
tuas, minhas, de nós todos.
Travo uma batalha cada vez mais dura
com o sono autoritário.
Esta ordem às pestanas: investir, retroceder
remete para a urgência de repetir a pergunta
rasando horizontalmente o campo
onde hei-de tombar de vez:
posso deixar escorrer a música de Bach
no rio da tua ausência?

Maria Helena Ventura – Intertexto Submerso

Retirado do Facebook | Mural de Helena Ventura Pereira

Tela de Kandinsky, sem título, de 1925.

FORA DO MEU LUGAR | Maria Helena Ventura

É mais do que um movimento
de arrotear velas nas palavras
este enrolar-desenrolar de sons
nas páginas do silêncio.
Um barco anima o mar
espraiado por monossílabos
num movimento obsessivo
por dentro da insónia
sem que o fascínio de punhal tangente
se aventure ao rés das sombras.

Como limitar esta agonia
ao espaço limitado do meu peito?
Fora ela um animal sadio
em tropel livre
em vez de um vírus cego
por montes de papel
e eu venceria as cicatrizes todas
que riscam céu e mar nas minhas veias.
Como limitar esta agonia
pergunto de novo à voz esparsa
que me sopra a força adormecida.
Chegaria cortar as raízes flutuantes
das palavras magoadas
curá-las com o penso da canção
perdida no eco das lembranças?

Alguém me reinvente a melodia biográfica
e me ensine uma expressão dizível.
Em breve o fluir do pensamento
num grito em aluvião
desfará em estilhaços a luminosidade.

Por que me embala a voz
que já não me pertence
e não a mando calar?

Maria Helena Ventura – INTERTEXTO SUBMERSO

PINTURA | D. QUIXOTE – AMADEO DE SOUZA-CARDOSO

Um Homem Só | Maria Helena Ventura

SINOPSE DE “UM HOMEM SÓ”

Cumpriu a itinerância de gerações do seu povo, aprendizes dos caminhos da Luz pelas províncias imperiais. Tornou-se adulto entre mercadores, ascetas, homens da lei.

Um dia chegou ao politeúma de Alexandria. Hábil no domínio da palavra, disciplinado por conhecimentos acumulados nas andanças de anos, ganhou o estatuto de rabbi.

Mas o Homem solitário, habituado a cruzar fronteiras físicas e culturais, aprendeu ainda a sabedoria dos terapeutas, praticando o silêncio introspectivo na busca do entendimento da natureza humana em todas as suas dimensões. Percebendo a origem do sofrimento, estava apto a praticar a cura.

A resistência na Diáspora reparou nele. Poderia ser o líder nominal que esperavam? Para pegar em armas o movimento zelote tinha operacionais bem treinados. E aproveitando o chamamento do pai, também ele um destacado membro dos Filhos da Luz, os líderes das comunidades judaicas no Egipto arquitectaram um plano articulado com a resistência dentro da Judeia.

O rabbi estava disposto a regressar à pátria para rever o pai moribundo, para levar palavras de incentivo aos que lutavam pela libertação dos povos. Mas os da Diáspora sabiam que à chegada Yosêph bar Ya´aqôb teria para ele uma missão mais difícil de aceitar.

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CORPO APENAS | Maria Helena Ventura | Pintura de Tarsila do Amaral, Antropofagia

De repente eras o fogo
cascos de cavalo
na clareira acesa.
E sob as mãos
o grito respirado devagar
na curva dos abrigos musicais.

Vestias-te de corpo
nada mais
península ligada por um braço
ao mar inominável de outro corpo.

De repente eras a terra
aluviais as margens perfumadas.
E nos lábios
oceânicas nascentes flutuando
no barco do silêncio magoado.

Eras um corpo apenas
transpirado
enigma de pássaro perdido
reflectido na tela de outro corpo.

Maria Helena Ventura | Inominável Corpo Desnudado

COMO O RISCAR DO RELÂMPAGO | MARIA HELENA VENTURA

É bom saber de ti
saber apenas
assim como um clarão ilumina
a sofreguidão na linha da distância
ou como ou pássaro segue o outro
na cumplicidade do voo

Por um momento
fecho todos os ruídos no armário
e deixo que um piano toque
repetido na vigília dos acordes
até ao infinito
Aqui moram apêndices de rima
e uma sombra impossível de romper
num deserto temporário
de palavras

Pelo vagar das noites ponteadas
de janelas sem sono
ninguém te anuncia a não ser os beirais
gota a gota
quando um líquido fantasma
que não sei se bate à porta
ou se fecha devagar os meus olhos
abre um mar de profundos logros
na perplexidade

É um mensageiro teu
e tanto basta conhecer
um atalho molhado
pela chuva de fora
pela chuva de dentro
a inspirar uma luz intensa
de todas as cores
numa imóvel linguagem
de lembranças
bebidas até à última gota

MARIA HELENA VENTURA – INTERTEXTO SUBMERSO