Pacheco Pereira: “Não temos um verdadeiro Governo”. E repete: “Nós não temos um verdadeiro Governo” | in CNN Portugal

“Não basta dizer que nós tínhamos esta proposta no nosso programa, quer para o Governo, quer para os partidos da oposição. Porque isso significa deixar margem zero para uma palavra que, para mim, é a chave nesta legislatura, que é compromisso.” 

Pacheco Pereira, comentador da CNN Portugal, considera que “era bom que houvesse mais responsabilidade na campanha [para as europeias], quer por parte da AD, quer por parte do PS”, uma vez que o novo Executivo “teve uma entrada complicada e difícil, não tem estado de graça” e não “vai conseguir cumprir as suas promessas”.

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A BATALHA PELA VERDADE FACTUAL, Soromenho Marques – DN

Quando em 1968 as forças do Vietname do Norte e da guerrilha Vietcongue iniciaram a sua poderosa Ofensiva do Tet, contra as tropas de Saigão e dos EUA, tinha eu acabado de completar 10 anos.

Lembro-me, vivamente, de como, apesar da censura, o trabalho dos repórteres ocidentais revelava cruamente, em imagens ainda hoje icónicas (como a da execução, à queima-roupa, de um prisioneiro comunista), a brutalidade da guerra. Nos lares de meio mundo, era possível ver as baixas e o sofrimento dos militares vindos das grandes cidades e do recôndito rural dos EUA. Nessa altura, a expressão “quarto poder” não era um exagero retórico, como o Caso Watergate o voltaria a provar em 1972. Contudo, os poderes que contam – o dinheiro e o seu braço político – aprenderam a prevenir, com mais ou menos sofisticação, essa liberdade capaz de manifestar a exuberância nua dos factos.

Sem o poder da imprensa livre, a Guerra do Vietname teria continuado e Nixon completaria tranquilamente o seu mandato.

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Livros dos 500 Anos Camões-Sena | Manuel S. Fonseca, Abril 23, 2024

Os governos de Portugal lá saberão de si. E saberão, porventura, porque esqueceram ou temem vir recitar em público o «Alma minha gentil» ou esse outro verso «Que eu canto o peito ilustre Lusitano / A quem Neptuno e Marte obedeceram»!  

E, no entanto, diz-nos Jorge de Sena, explicando-nos tudo com uma arrebatadora erudição e com uma devastadora sedução, Camões é um poeta do futuro. Não o poeta do passado, anacrónico, imperial, colonial (e despejem-se aqui os ismos que se queiram), mas um poeta que transcende hagiografias nacionais e que, n’Os Lusíadas e sobretudo n’Os Lusíadas, apela a toda a humanidade. Camões é um expoente de universalidade, diz, quase nos fazendo o desenho, Jorge de Sena. 

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Na cidade e nas serras, por Viriato Soromenho Marques, in Diário de Notícias

Marcelo Rebelo de Sousa encontra-se, mais uma vez, onde sempre gostou de estar: no centro das atenções. Não pelo seu pensamento próprio sobre um assunto relevante, apesar de estes não escassearem, mas, simplesmente por ter transformado a sua própria pessoa no assunto mais incontornável que concita as palavras ditas e escritas por esse país fora.

É impossível, quando se entra nesta arriscada aventura de tentar perceber o que motiva as ações do Presidente Marcelo, não cair num arriscado exercício de psicologia artesanal. Ficamos todos na posição de parceiros involuntários da terapia de grupo de Marcelo como pessoa singular.

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Deixem a direita ensinar-nos o que foi o 25 de Abril | in “República dos Pijamas”, 2-5-2024

Com os 50 anos da Revolução dos Cravos, é crucial disputar verdadeiro significado desta. Enquanto entre a esquerda existem dúvidas sobre a componente social de Abril, a direita radical não as tem.

O ano de 2016 mostrou que os oito anos de governos de António Costa ficaram aquém do que poderiam ter sido.

Embora as desilusões com Costa possam parecer um mero palpite lançado nesta newsletter, não estamos sozinhos, e é à direita que encontramos suporte. Esta ajuda-nos a interpretar não só as reformas perdidas de Costa, como também o grande período de reformas estruturais à esquerda – a Revolução de Abril.

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A sociopatia e a compreensão das reparações coloniais | por Carlos Matos Gomes

Nem quero imaginar quanto vai pagar a Espanha ao Iraque, ou à Siria,de reparações pela Mesquita de Córdova e pelo Alhambra de Granada, obras dos árabes que vieram de Damasco e da Mesopotâmia com Abderramão, o príncipe fugitivo, e chegaram à Península Ibérica através do Norte de África!

A proposta de reparações coloniais feita pelo presidente da República causou perplexidade a quem ainda é dado a surpresas e interrogações a quem procura estabelecer relações de causa e efeito nas suas atitudes. De um modo geral serviu para alimentar os comentadores e entreter os programas das televisões após as eleições. O elenco do “circo comentarial” dividiu-se entre malabaristas do Bugalho e ilusionistas do Marcelo. O que terá levado o senhor prior Montenegro a elevar o menino de coro a cónego da sua confraria em Bruxelas e o mestre de fogos-de-artifício de Belém a sacudir a esfarrapada passadeira que se desenrolou de Lisboa ao Índico durante cinco séculos?

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OTELO | o fantasma da Revolução, por Carlos Matos Gomes, 25 Abril 2024

A ação que celebramos, o 25 de Abril de 1974, foi planeada e comandada por um fantasma. Um fantasma com o nome dissolvido num ácido de conveniências.

Os fantasmas são por definição aparições de inconvenientes. Terei lido num texto de Miguel de Unamuno, o filósofo espanhol, que Dom Quixote, a personagem de Cervantes prenunciou o destino final, solitário e triste, de todos os cavaleiros andantes, fantasmas, digo eu, que citaria também uma declaração de Simón Bolívar, em que o revolucionário das Américas, admitia que Jesus Cristo, Dom Quixote e ele próprio eram (tinham sido) os maiores ingénuos da História.

Otelo pode com propriedade ser incluído nesta lista.

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A herança traída de Immanuel Kant, in DN

A 22 de abril passam 300 anos sobre o nascimento de Immanuel Kant (1724-1804). Prussiano, viveu como professor na Universidade de Königsberg, hoje a cidade russa de Kaliningrado. A sua obra pertence a uma galáxia superior do espírito. Na história da Filosofia ocidental, ele figura ao lado de uma reduzida minoria: Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Espinosa…

Desde a sua morte, milhares de estudiosos têm-se dedicado à interpretação do seu pensamento, mas é uma tarefa inacabável (e para os apressados, uma proeza impossível…). Portugal não está ausente da sua obra. Dedicou três pequenos ensaios ao terramoto de Lisboa de 1755 (publicados em 1955 pela CM de Lisboa). Nos seus estudos de Geografia menciona a orografia portuguesa, e outros territórios, na altura colonizados por Lisboa. Muitos anos antes das Invasões Francesas, Kant previu que tal iria suceder, numa impecável análise geoestratégica.

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A Ordem do Capital: A Tecnocracia é um projecto de classe | REPÚBLICA DOS PIJAMAS, ABR 15, 2024

O NOSSO CICLO DE ABRIL
Hoje, a República dos Pijamas inicia uma série de textos focados nos 50 anos da Revolução de Abril. Por isso, nas próximas semanas irás receber textos com mais frequência do que é o habitual. O objetivo desta série não é relembrar as conquistas de abril, mas usar o passado como um veículo de reflexão sobre o presente e futuro. As “reformas estruturais”, quer aquelas que a direita quer fazer para apagar o legado da revolução, quer aquelas que a esquerda deve fazer para o revitalizar são o centro desta série.

Iniciamos com um ensaio em torno do livro A Ordem do Capital, de Clara Mattei. Na primeira parte do ensaio, faremos a síntese da obra; na segunda parte refletimos o papel do a compreender a revolução e acontecimentos mais recentes na economia e política.

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Os dias da nossa glória . Abril 13, 2024 . Manuel S. Fonseca . Publicado no Jornal de Negócios

Há de vir o Verão e o meu neto fará então 3 anos. Agora, fala muito, repete, recria, e inventa com uma liberdade que faz sorrir a gramática. Corrijo: a gramática fica vaidosíssima com as surpresas e prendas que a linda boca dele lhe dá. O meu neto faz-me pensar nos poetas da minha juventude, ou não fossem os dias da nossa juventude também os dias da nossa glória, como num verso nos ensinou Byron.

Não me falem, por isso, dos grandes nomes da História. E é o que eu prometo ao meu neto: falar-lhe só dos poetas da minha juventude. Dir-lhe-ei que veio uma revolução e o avô deixou-se ficar, sozinho, sem pai nem mãe, ao Sul e ao Sol, em África, na cidade do Lobito, cuja bela perna esquerda era uma sedutora e erotíssima restinga, em sussurro sobre o mar para que o oceano deixasse em sossego a feminina baía onde vinham, de terras longínquas, descarregar os grandes navios.

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Quadriláteros e círculos: a geometria no comportamento humano | Maria Teresa Carrapato

Que coisa curiosa, a forma da praça propicia o comportamento! Se for quadrada ou rectangular, convida a ficar. Sentar conversar conviver desfrutar. Fazer sala! Assim acontece no Príncipe Real, Rossio, Terreiro do Paço. Place des Voges em Paris, Piazza Della Signoria em Florença, Praça da Cidade Velha em Praga, Praça Vermelha em Moscovo… Apetecíveis praças quadrangulares.

Por outro lado, se a praça for redonda, circular é a sua predestinação! Pouco mais será que uma rotunda para escoar o trânsito. Não convida a ficar, é passagem. Por mais interessante que possa ser a estátua que a embeleza. Não atrai. Veja-se o caso da Praça Marquês de Pombal, Entrecampos, Saldanha, Álvares Cabral. Belíssimas estátuas que não fazem parar ninguém. Afugentam.

Assim acontece com as pessoas. Há-as interessantes, com diferentes cambiantes, ângulos e recantos, conforme as encararmos. Fazem convites implícitos e são apetecíveis. Companhia que apetece ter; há-as também circulares, redondas rotundas, sempre iguais. Sem nuances de tons nem panoramas. Sempre a mesma coisa, falam sempre do mesmo. Cansativas, repetitivas, obsessivas.

Excepção: Piazza del Populo, Florença ( circular mas sem carros, onde apetece estar).

Como a geometria influencia!

Retirado do Facebook | Mural de Maria Teresa Carrapato | 09-04-2024, TC

A burguesia portuguesa está a promover a sua eutanásia, in “República dos Pijamas”

As últimas décadas mostram a burguesia portuguesa a diluir-se entre a burguesia internacional. Fica a questão se isso poderá tornar-se numa clivagem política.

Na ressaca imediata das privatizações da governação de Pedro Passos Coelho, um autor lamentava como a abertura de parte do capital das empresas públicas portuguesas ao setor privado, iniciada nos 80, se tinha prolongado. A dinâmica iniciada então culminava na completa privatização de vários grupos de referência.

Para explicar esta “tragédia nacional”, este falava de um “fascínio pelo modelo inglês” e salientava “o processo de alienação da empresa a grupos empresariais internacionais.”

Para concluir, afirmava que “os nossos filhos mais promissores terão de emigrar, não por falta de emprego, mas por ausência de empresas onde aprendam e cresçam profissionalmente, como nós tivemos.”

O autor não era um quadro do Partido Comunista Português, nem do Bloco de Esquerda. Nem sequer vinha do espaço da esquerda. As linhas foram escritas por Luís Todo Bom, que conta no seu CV com registos como membro do Conselho Consultivo do PSD, antigo secretário de Estado da Indústria e Energia (de um governo liderado por Aníbal Cavaco Silva) e o primeiro presidente da Portugal Telecom (PT).

Todo Bom, que é sem dúvida parte da burguesia nacional, toca num ponto fulcral: o destino dos seus filhos, ou mais especificamente, o destino dos filhos na burguesia portuguesa.

ABR 09, 2024 | CLIQUE NESTE URL para ler todos o artigo

https://republicadospijamas.substack.com/p/a-burguesia-portuguesa-esta-a-promover

“Ancoradouro” | Carlos Barroso Esperança

O «Ancoradouro», que começou a chegar esta semana às livrarias, já está na FNAC e Bertrand das grandes cidades e em várias cidades de média dimensão.

Está também disponível na âncora Editora e nas livrarias online. Em Coimbra já está em livrarias da Baixa e em Lápis de Memória, no Bairro Norton de Matos.

ALTA CULTURA: LUXO OU NECESSIDADE?

O que é Alta Cultura? Qual a missão desta página (no Facebook)? Pareceria, dado a adjetivação, que pretendemos hierarquizar diferentes culturas arbitrariamente, um apelo etnocentrista ou “elitista”, com algum viés ideológico ou religioso. Mas não se trata disso. A página não tem qualquer finalidade ou compromisso político e ideológico.

Matthew Arnold, poeta e crítico britânico, em seu célebre ensaio “Cultura e Anarquia”, publicado em 1865, definiu ‘alta cultura’ como “o melhor do que uma sociedade pensou e falou”. 

No uso popular, o termo “alta cultura” identifica a cultura da classe alta (a antiga aristocracia), ou de uma classe de status (como a intelligentsia – elite intelectual); ou, ainda, e o principal, segundo o filósofo britânico e especialista em estética, Sir Roger Scruton, “o conjunto de produções culturais, principalmente artísticas, realizadas por meio de grande apuro técnico, levando em conta a tradição e a beleza”.

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OS GREGOS TÊM QUE VER COM TUDO | Manuel S. Fonseca

E depois de se entreterem com esta prosa, vá lá, meio-cinéfila, comecem a dirigir-se para o El Corte Inglès. Lá vos espero, esta 2.ª feira, às 18:30, no 6.º andar para  vos apresentar o livro mais vivo e irreverente sobre o 25 de Abril. Façam o favor de não me deixar a falar sozinho.

OS GREGOS TÊM QUE VER COM TUDO

O cinema é uma invenção grega. Digo isto, com o meu melhor ar de Mickey Rourke, e já sei que tenho o Matt Dillon aos gritos comigo. Lembram-se da explosão dele no Rumble Fish do Coppola? “Man, what the fuck did the Greeks have to do with anything?”

Desculpa Matt Dillon, mas têm! Homero inventou o cinema há 30 séculos, inventando as duas grandes formas narrativas que, mais às escondidas ou mais à descarada, estão presentes em centenas de filmes. 

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Camões e Jau | Frederico Lourenço

Uma das razões pelas quais a vida de Camões continua a ser um objecto de permanente fascínio é o facto de sobre ela sabermos quase nada.

Além da realidade material do livro «Os Lusíadas» publicado em 1572, são poucas as provas documentais que atestam acontecimentos na vida de Camões (note-se que, na sequência do Concílio de Trento, a obrigatoriedade dos registos de baptismo só entrou em vigor no reinado do cardeal D. Henrique). O que temos então de concreto? Há o documento do perdão concedido por D. João III (7 de Março de 1553), depois de Camões ter sido preso por causa da briga em que se envolveu perto do Rossio (em Lisboa), documento esse que também refere a partida iminente de Luís para a Índia. E há vários documentos relacionados com a pensão («tença») que lhe foi concedida por D. Sebastião. 

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A criação de uma clivagem geracional é um retrocesso no debate político, in “República dos Pijamas”

A constante chamada de “jovens brilhantes” para o espaço público e a criação de um ministério da Juventude apenas aprofundam a tecnocratização do debate político e a vilificação dos mais vulneráveis.

Celebrava-se o 45º aniversário do 25 de Abril, em 2019, quando João Marecos, co-fundador d’Os Truques da Imprensa Portuguesa, foi desafiado num programa do Prós e Contras a criar uma lista de autodesignados especialistas com menos de 30 anos. Chamou-lhe “100 Oportunidades” e a iniciativa consistiu num website com jovens dispostos a serem ouvidos pelos meios de comunicação social. Quatro anos depois de criar uma página nas redes sociais que contestava coberturas mediáticas, Marecos deixara de escrutinar os meios de comunicação para lhes pedir mais espaço mediático.

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O REGRESSO AO SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO | por PEDRO DE PEZARAT CORREIA, in “A Viagem dos Argonautas”

1 de Abril de 2024 | Assistimos a um debate, conjuntural e habilmente manipulado, sobre a eventual reposição de um Serviço Militar Obrigatório (SMO). Digo conjuntural e manipulado porque tem a ver, exclusivamente, com a atual situação na Ucrânia e com a paranoica fantasia da ameaça da prontidão russa para invadir a Europa ocidental, com que os “falcões belicistas” vão entretendo a desatenta opinião pública para que aceite, acriticamente, os reforços armamentistas que engrossem os cofres do complexo industrial militar dos EUA.

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PREVENÇÃO SÍSMICA: ESPERAR O INESPERADO António Carias de Sousa, Ordem dos Engºs, in “Anteprojectos”

O terramoto de 1755 é mais do que uma simples nota de rodapé nos livros de história portugueses; é um marco inesquecível na consciência coletiva do nosso país. Desde cedo, somos ensinados sobre a devastação do terramoto naquele fatídico dia. É um evento que transcende as páginas dos livros e se entranha no tecido da nossa cultura, manifestando-se até em expressões quotidianas como ‘ficou resvés Campo de Ourique’.

Não é segredo nenhum que Portugal está situado numa região sísmica ativa, exposta a terremotos, especialmente ao longo da falha tectónica entre a placa euro-asiática e a placa africana. O terremoto de Lisboa, no dia de Todos os Santos do ano de 1755, teve um impacto devastador na cidade. Desde então, só tem havido ligeiros abalos, tendo sido o mais significativo aquele que se registou em Fevereiro de 1969.

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No cinquentenário do 25 de Abril: Uma Revolução a sério | por Vital Moreira, 25 de março de 2024, in causa-nossa.blogspot.com

1. Sendo uma das mais profundas revoluções da história política nacional, quanto à rutura com o regime precedente – só equiparável à Revolução liberal de 1820, que, porém, foi vencida pela contrarrevolução antivintista logo em 1823 -, a Revolução de 25 de Abril de 1974, iniciada por uma sublevação militar, logo transformada em intensa revolução popular, foi também a mais bem-sucedida na transformação do País, indo além do seu programa originário.

No campo político: fim do regime autoritário e do seu aparelho repressivo e termo da guerra colonial, recuperação das liberdades pessoais, civis e políticas, instauração de um regime democrático baseado na democracia representativa e na democracia participativa, sólidas instituições do Estado de direito, descentralização territorial nos municípios e nas regiões autónomas;

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A CAMA DA FELICIDADE | Manuel S. Fonseca

É Páscoa, tempo de ressurreição, retoma da vida depois da morte. Fica aqui esta minha declaração. Se for um pingo de felicidade para quem a leia, já eu merecerei uma doce amêndoa.

A CAMA DA FELICIDADE

Lembro-me de um tipo, não sei se era Locke ou Hobbes, de quem o Eduardo Prado Coelho dizia que a sua maior obsessão era o medo. A minha é a felicidade. Sobretudo agora, que já estou velho de mais para ser outra coisa senão feliz.

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50 anos do 25 de Abril – CNC, uma casa da Liberdade | com vídeo

O Centro Nacional de Cultura, fundado em 1945, com propósitos que ainda hoje segue, teve um papel importante como participante ativo nos fluxos que conduziram à revolução de 25 de Abril de 1974.

Em 1965, Sophia de Mello Breyner Andresen – nomeada nesse ano presidente do CNC – trouxe para esta casa os elementos da Sociedade Portuguesa de Escritores, extinta pelo Estado Novo. Esse acolhimento enriqueceu a experiência anterior do Centro que, desde então, e até 1974, passou a ser um palco essencial da inteligência democrática.

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O que é uma mulher? | Manuel S. Fonseca

March 30, 2024 | Publicado no Jornal de Negócios

Em vez de perguntar o que é uma mulher, prefiro perguntar que aventura há em cada mulher? Lembro-me das ruas nocturnas do cinema dos anos 50 e 60, em que a minha mente se liquefazia, e de como esse cinema, e com ele o romance, louvava a mulher boémia, transgressora e aventureira. E logo me lembro que, na aurora desse cinema, surgia um filme de Rossellini, “Viagem a Itália”.

Que mulher era a mulher desse filme? Uma inglesa que vinha de viagem, ao lado do marido, inglesa de olhar perplexo a ver as grávidas barrigas italianas de Nápoles ou uma prostitua de rua, eis o que e quem era essa mulher. Que aventura havia nessa mulher casada, em angústias de conjugalidade, a pensar já num divórcio, mas que, perdida de repente numa pagã procissão católica, de andores e nossas senhoras romanas, se reconcilia com o amor, o marido, o casal?

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Camões: 500 anos | Frederico Lourenço

A Grécia teve Homero e Roma teve Vergílio. Itália teve Dante. Na literatura portuguesa, há um autor que não fica um milímetro abaixo destes três génios supremos da arte poética: Luís de Camões. Na verdade, os três génios supremos da poesia são quatro: Homero, Vergílio, Dante e Camões.

Sabemos que Dante nasceu em Florença e que Vergílio veio ao mundo perto de Mântua. Até sabemos a data exacta em que Vergílio nasceu: 15 de Outubro de 70 a.C. Mas, na incerteza sobre o lugar do seu nascimento, Camões é um pouco como Homero. Havia tradicionalmente sete cidades gregas que reivindicavam a honra de terem sido o berço de Homero; mas, na realidade, ninguém sabia onde e quando o grande poeta grego nascera. No caso de Camões, não serão sete as cidades que reclamam (de forma realista…) a sua naturalidade: na contenda estão apenas Coimbra (referida como local do seu nascimento por Domingos Fernandes em 1607); e Lisboa (referida nas biografias que vieram depois). 

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Tragédia na Praça da República | Carlos Esperança 

Em 1938 Salazar e o Estado Novo garantiam à Pátria ordem e segurança. A Legião e a Mocidade Portuguesa eram, desde 1936, instrumentos de enquadramento ideológico e de defesa dos valores nacionalistas.

O País vivia satisfeito com o homem que, segundo confidência posterior da freira Lúcia, vidente em Fátima, ao Cardeal Cerejeira, fora enviado pela Providência, desígnio que os hereges contestavam e os crentes repudiariam muitos anos depois.

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Dopping — o programa de armamento de Bruxelas | por Carlos Matos Gomes | 3-3-2024

O que faz um atleta que entrou em decadência para tentar manter-se em competição? Droga-se! Injeta ou toma produtos que lhe dão a sensação de força e euforia, mas que a prazo mais ou menos curto lhe arruínam os órgão vitais e as suas capacidades de sobrevivência. Entra em ressaca.

O programa armamentista proposto pela comissão europeia presidida por Úrsula Von Der Leyen é uma proposta de dopping para a Europa acreditar que ainda tem um papel de relevo na competição pelo poder mundial. É um estímulo de efeito imediato, que se extinguirá e com ele o “atleta”. Restará um farrapo!

A referência para esta visão desencantada é o artigo: “A Europa entra em estado de pé de guerra” , do El País de 3 de Março de 2024, de que deixarei o link no final.

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Le Siège de Paris par les Vikings au IXe siècle : Analyse des Causes, Déroulement et Conséquences

Le IXe siècle fut marqué par une série de raids vikings en Francie, suscités en partie par la mort de l’Empereur Romain Germanique Charlemagne en 814. Ces raids, initialement entravés par la puissance de Charlemagne, gagnèrent en intensité après sa disparition. Parmi les attaques les plus notables figurent les sièges de Paris en 845 et 885-886. Ce texte se penchera sur le premier de ces sièges, dirigé par le chef viking Reginherus, analysant les facteurs déclenchants, le déroulement des événements, et les conséquences historiques.

Contexte Historique :

Les Guerres Saxonnes menées par Charlemagne dans la première moitié du IXe siècle ont ébranlé la région, conduisant à une alliance entre les Saxons et les Danois. La mort de Charlemagne en 814 a ouvert la voie à des incursions vikings, les premières frappant la Francie en 820. Les conflits internes entre les fils de Charlemagne ont affaibli la défense contre ces raids.

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Partido SA | autor: Carlos Matos Gomes

Após as Eleições o que nos resta de Poder? O que torna democrática a representação política? O voto é a arma do Povo ou uma arma para legitimar o poder dos poderosos? Quem elegemos e como elegemos?

O direito ao voto pode originar uma democracia representativa, mas esta não é necessariamente uma democracia eleitoral. As campanhas eleitorais pretendem fazer crer que sim. O caso do derrube o anterior governo demonstra a diferença: os cidadãos que votaram nas anteriores eleições e elegeram os seus representantes — os deputados da Assembleia — para um mandato de quatro anos viram o seu voto ser “anulado” pela utilização de meios formalmente legítimos por parte de instituições de outra entidade, o Estado. O resultado das eleições, em particular o volume de votos atribuídos a um Partido “SAD”, para utilizar uma imagem vinda do futebol, tal como o líder do Chega, expõe a fragilidade da representação como trave mestra de um regime democrático.

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NA HORA MAIS PERIGOSA | Viriato Soromenho-Marques/DN

O mundo está cada vez mais sombrio. Uma guerra na Europa há mais de dois anos. Em Gaza, a banalização do genocídio. Netanyahu é hoje o mais poderoso e inimputável carniceiro do planeta. Ele exibe, com visível prazer, o total domínio sobre Biden, e o conformismo colaborante da UE, através da desastrada Ursula von der Leyen. 

Podem as coisas bater ainda mais no fundo? Sim. Numa dezena de dias, dois acontecimentos envolvendo Berlim e Paris – o duplo “motor da construção europeia”, como se dizia nos tempos de ilusão – concorreram para uma eventual escalada bélica.

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Leonard Cohen & Marianne Ihlen | Década de 1950 (abrir a página para ver vídeo)

Leonard Norman Cohen (21 de setembro de 1934 – 7 de novembro de 2016) foi um cantor, compositor, poeta e romancista canadense. Temas comumente explorados ao longo de sua obra incluem fé e mortalidade, isolamento e depressão, traição e redenção, conflito social e político, amor sexual e romântico, bem como desejo, arrependimento. Ele foi introduzido no Canadian Music Hall of Fame, no Canadian Songwriters Hall of Fame e no Rock and Roll Hall of Fame. Foi nomeado Companheiro da Ordem do Canadá, a mais alta honraria civil do país. Em 2011 foi galardoado com um dos Prémios Príncipe das Astúrias de Literatura e com o nono Prémio Glenn Gould.

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ELEIÇÕES | Joseph Praetorius, 08-03-2024 

É imperioso que as próximas eleições sejam olhadas no significado de legítima defesa, que o voto comporta aqui.  

Os imbecis das diversas direitas, em competição, não escondem as suas nostalgias pelos tempos das crianças descalças na cidade, sob ameaça de multa por andarem descalças. Lembro-me de ainda as ver na minha adolescência e não sou tão velho como isso. 

Não me sinto de esquerda, nem aliás se sabe o que isso seja nos tempos que correm. Mas nestas estruturas de direita não caibo, nem posso caber. 

Os insultos soezes ao 25 de Abril, que vamos ouvindo, não expressam apenas  o ressentimento, nunca resolvido, dos que foram forçados a partir de África para Lisboa, em risco de vida e com a espoliação de todos os seus bens. Esses vieram assim, porque os USA assim quiseram, para reforçarem o eleitorado de direita em Portugal, como reforçaram e continuam a reforçar. Graças ao ressentimento. 

Mas este não pode ser perspectiva aceitável para a determinação dos legítimos interesses do maior número, embora, na medida do possível, deva ser eficazmente eliminado e não faltam modos de o fazer.

Estes insultos vêm de quem quer cortar reformas definitivamente, como já tentaram. Cortar salários, como já fizeram. Vender o que resta das empresas públicas a pesadíssimos parasitas, como já fizeram também, reduzir o país à pobreza, como já disseram em voz alta, discutir (e restringir) o que os pobres comem, com discussão (sempre em voz alta) dos bifes que se não poderiam comer todos os dias, como o fez a desgraçada Jonet que é desta mentalidade bom exemplo e faz fichas de quem se socorra da organização sob sua direcção. Lembro-me de intervenção da criatura, em tom acusatório – “querem dar tudo aos filhos”, veja-se lá bem o disparate do filho do trabalhador indiferenciado ir a um concerto…

Mas, coisa mais aterradora de todas, querem privar de medicação subvencionada os maiores de 65 anos, como o disse a execranda Ferreira Leite (sem o mandar dizer por ninguém). E não convém, ainda, esquecer a exemplaridade da execranda lei Cristas – à qual ninguém reagiu em tempo útil – cujas virtualidades de devastação social são um bom exemplo do que voltou a estar em causa (e nem Salazar teria concedido). 

A população comum, com mais ou menos de 65 anos, está em situação de ataque iminente e estas eleições são o ludíbrio que permitiria aos atacantes arguir o consentimento da vítima.

Sei que um socialismo do nepotismo não é um bom antecedente. 

Mas há uma diferença entre querer empregar e privilegiar os filhos deslealmente e à nossa custa e querer negar o nosso direito à vida, à assistência clínica, à retribuição digna, à reforma aceitável, à habitação compatível com a dignidade mínima e até à alimentação. 

Nem é de esquecer que a ICAR local se lhes junta, como Manuel Clemente o fez. Esta  padralhada juntar-se-lhes-há sempre. 

É precisa outra igreja. Como é precisa outra Escola. E outra imprensa. E é precisa a transfiguração do Estado, claro que sim. Sendo seguro que só de nós todos poderá vir tal coisa, que foi inútil confiar (ao longo de 50 anos) ao execrando leque partidário que outra vez se nos apresenta. 

Mas é preciso discernir entre males. E decidir pelo menor deles, enquanto não estivermos em condições de reagir. 

E ainda não chegou o momento de o podermos fazer.  Infelizmente.

NOTA : Mural de Joseph Praetorius, 08-03-2024, in Facebook

A Fascinante História da Civilização de Kush

Explore conosco o rico legado da antiga civilização de Kush (também conhecida como Cuche), que floresceu na região sul do Egito, na Núbia, hoje parte do Sudão.

Explore conosco o rico legado da antiga civilização de Kush (também conhecida como Cuche), que floresceu na região sul do Egito, na Núbia, hoje parte do Sudão.

Iniciando como uma colônia egípcia, Kush logo conquistou sua independência, expandindo seu domínio sobre o Egito e grande parte do vale do rio Nilo

Esta civilização mesclou a cultura egípcia com influências de outros povos africanos.

Os cuchitas, povo de Kush, predominantemente agricultores, também incluíam artesãos e mercadores em sua sociedade.

Embora se destacassem em comércio, às vezes recorriam à prática da escravidão capturando pessoas de outros povos.

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ORIGEM DOS PERSAS | DuBabulu News

Os persas foram um dos povos mais importantes da Antiguidade, que formaram um grande império a partir do século VI a.C. Eles habitavam o planalto iraniano, onde hoje fica a República Islâmica do Irã, e tinham uma origem comum com outros povos de língua indo-europeia, chamados de arianos.

Os persas eram formados por várias tribos, mas uma delas se destacou pela sua liderança e dinastia: os aquemênidas. O fundador desse clã foi Aquemênus, que viveu por volta do século VIII a.C. e deu origem a uma linhagem de reis que governaram a Pérsia até o século IV a.C.

O primeiro grande rei aquemênida foi Ciro II, conhecido como Ciro, o Grande. Ele foi o responsável por iniciar a expansão do império persa, ao se rebelar contra o domínio dos medos, que eram seus vizinhos e parentes. Ciro conquistou a Média, a Lídia, a Babilônia, a Síria, a Palestina e parte da Ásia Menor, respeitando as culturas e religiões dos povos submetidos.

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QUE OS DEUSES SE AMERCEIEM! | por José Gabriel, in facebook.

Os líderes políticos europeus são, por estes tempos, de uma mediocridade confrangedora e de uma inconsciência perigosa. Gente sinuosa, inculta, sem autonomia nem integridade. Não exceptuo ninguém, embora, pelo peso das suas funções e a dimensão dos seus países, alguns se tornem particularmente desprezíveis na sua perigosidade. Eles e elas, que talvez os únicos tiros que tenham ouvido tenham sido numa coutada de um padrinho ou patrocinador, falam em guerras e guerrinhas como se estivessem a brincar aos soldadinhos de chumbo nos seus quartos de brinquedos. Alguns deles, poderiam ter um diagnóstico da beira da psicopatia. Outros são tíbios, alguns simplesmente malucos. Dizia-me, há muitos anos, um ilustre amigo e psiquiatra, que as patologias mentais, na realidade, só tinham três tipos: o tontos, os malucos e os maluquinhos – em grau ascendente de gravidade. Só aos primeiros dois grupos se pode fazer alguma coisa. Mas é preciso que se tratem. Porém, o meu amigo não previa que os “normais” os elegessem – e prometem não ficar por aqui. Estranhareis que aborde o tema deste ponto de vista, ainda por cima de um modo tão básico. Olho os livros que se amontoam ali nas estantes, os mestres que nos podem ajudar a pensar e a agir. 

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Liberdade de escolha, razão e demagogia Carlos Matos Gomes

A liberdade de escolha constituiu o elemento a partir do qual os debates tradicionais sobre a liberdade e a necessidade começaram na Grécia há mais de dois mil e quinhentos anos. O problema da liberdade de escolha reside na contradição resultante do facto de podermos decidir contra o bem essencial, transformando a liberdade em servidão. Isso acontece porque a liberdade pode resumir-se à escolha do conteúdo, das normas e dos valores a partir dos quais a nossa natureza essencial, incluindo a nossa liberdade, se expressa. A liberdade pode agir contra a liberdade, entregando-nos à servidão. E esse é o projeto das “democracias iliberais”, ou formais que nos está a ser proposto como paradigma da democracia. Votais! — o resto está por conta de outrem, de nós, os vossos representantes. Este tipo de “democracia” é o meio ideal de criação e desenvolvimento dos demagogos e da demagogia. Dos abutres da liberdade, dos que comem o interior dos corpos, os órgãos vitais que garantem a liberdade e deixam o esqueleto, que continuam a designar por democracia. Não é, como o cavername de um barco não é um barco e não navega.

O que está a ser imposto como “democracia” é a apropriação do direito de voto por uma elite.

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Portugal é uma Ilha? | Carlos Matos Gomes

Não abordar a questão da dependência de Portugal do estado do Mundo é fazer dos portugueses prisioneiros cegos. A melhor apreciação dos que criam este silêncio é o de ignorantes. A outra é a de manipuladores que utilizam a ignorância do seu público para lhes venderem ilusões.

Portugal é uma Ilha? Quem ouvir os jornalistas que interrogam os políticos em campanha e o enxame de comentadores que esvoaçam sobre eles como moscas varejeiras só pode concluir que sim. E mais, uma ilha fora do tempo e do espaço, por onde não passam correntes marítimas nem anticiclones. Um território no meio do nada.

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Das brumas da memória | José Augusto Nozes Pires | Bartolomé Esteban Murillo- Duas crianças comendo um melão e uvas, 1645-46

Em tudo que fazemos a desigualdade persiste

Talvez nalguns lugares seja menor

Mas já era assim, talvez maior,

Na minha, na tua, na nossa infância.

Deixa-me lembrar-te e não me contradigas:

Uns adormeciam em camas limpas e macias

E outros, sabe-se lá, onde calhava.

Sempre assim foi:

Para estes uma ama serviçal acolhia-os ao colo,

Nem um ralhete se ouvia ;

um quarto aquecido, palhaços e soldadinhos de chumbo.

Para aqueles (foram e são tantos!)

 uma cama de palha, uma vela de sebo acesa.

Não viste tu, mas vi eu.

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Os meus amigos da Igreja do Liberalismo, por Paulo Querido

Os meus amigos da Igreja Do Liberalismo têm um viés muito engraçado. Para eles, TODOS os avanços humanos, da economia à saúde, se devem ao virtuoso liberalismo. E citam os dados da evolução: temos menos pobres (no sentido em que há menos pessoas no mundo abaixo dos limiares de pobreza), temos melhor qualidade de vida que as gerações precedentes, há francamente uma grande evolução ao longo das décadas e séculos.

Os dados são esses. Progredimos. Muito. Em Portugal, por exemplo, os salários melhoraram bastante nos últimos 8 anos e dezenas de milhar de pessoas regressaram de debaixo do limiar de pobreza para onde tinham sido atiradas nos 6 anos anteriores por um governo, esse sim, amigo da Igreja do Liberalismo.

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A extrema-direita faz parte do sistema — não se assustem! | por Carlos Matos Gomes

As campanhas eleitorais que se estão a desenvolver em vários países europeus têm um tema central que as máquinas de propaganda se encarregam de dramatizar até ao limite, a bem das audiências e do entorpecimento dos cidadãos em geral: a extrema-direita entra nas contas para os governos ditos democráticos e é um perigo para a democracia ou não?

A questão lembra-me as sessões de luta-livre americana, em que há sempre um vilão e os resultados estão decididos à partida. Todos, os lutadores, o árbitro e os empresários, os locutores e comentadores, os treinadores fazem parte do espetáculo. Os jogos que as televisões portuguesas têm apresentado em direto são programas de entretenimento e adormecimento: fazem de conta que existe um mau da fita e que este coloca em perigo a liberdade de decisão dos cidadãos e a sua intervenção nas decisões tomadas em seu nome. O mau da fita representa o seu papel de arruaceiro e o público assobia, ou aplaude.

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Como eu vejo as coisas | Francisco Seixas da Costa

Os debates, numa eleição com algumas caras novas na linha da frente, podem vir a ter alguma importância. Mas só alguma. Pressente-se que a esmagadora maioria dos eleitores já sabe bem em que “lado” vai votar.

Alguns, da brigada azeda e biliosa tentada pelo “é preciso dar cabo disto tudo!”, ainda estarão algo hesitantes entre o Chega ou o reforço do seu PSD de sempre, o único que sabem que pode oferecer-lhes o governo. Do outro lado do espetro, há quem hesite em renovar o voto no PS. Uns porque se sentem tentados a dar uma oportunidade ao Livre ou à nova liderança do Bloco. Outros, de um setor mais dado à prudência, é gente que ainda não percebeu bem se o novo líder pretende deslocar o partido do lugar onde tem estado e que, no fundo, lhes dava algum conforto.

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O Futuro Existe, mas é necessário moldá-lo, por Carlos Matos Gomes

Esta seria uma boa altura para separar as águas entre os que propõem um futuro e os que propõem um passado. Para distinguirmos o que, embrulhado em assuntos de mercearia e mexericos, faz parecer que todos são iguais. Os democratas deviam falar do futuro e deixar os neonazis – que é do que se trata quando os enxaguamos como populistas – a falar do regresso ao passado. 

A propósito do que dizem os profetas no advento da época de peditório para recolha das boas vontades do povo. Comecemos por separar os profetas em duas classes, a dos que acreditam que o presente é um futuro que existe, porque vai existir e é racional preparamo-nos para ele, pensando e agindo; e a dos que amaldiçoam e denigrem o presente, propagandeando que o futuro é uma corrupção do passado e propondo que não raciocinemos, que acreditemos.

É vital para o futuro que os distingamos no que é essencial.

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António Galopim de Carvalho, 5 Fevereiro 2024

Estimados amigos

Vou ter de ser submetido a uma cirurgia cardíaca, de algum risco, tendo em conta a minha idade, a caminho dos 93. Tenho estado a perder qualidade de vida a um ritmo acelerado e tenho mesmo de a fazer. Será já amanhã, dia 5. Se tudo correr bem, como espero, voltaremos a encontrar-nos no próximo dia 9.

Preciso de ultrapassar esta barreira, pois tenho projectos em curso, muito trabalho pela frente e sei que ainda sou útil a muita gente. Estou perfeitamente consciente da situação, mas feliz, de bem comigo, com os outros e com o mundo. 

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A religião confrontada com a razão crítica | por Anselmo Borges | in DN

Com a Bula Inter Caetera, o Papa Alexandre VI (1493) concedendo aos reis de Castela os mesmos direitos atribuídos aos reis portugueses de invadir, conquistar, combater, vencer e submeter quaisquer territórios e povos inimigos de Cristo, mas com uma diferença: não autoriza explicitamente a escravizar os pagãos (índios). Imagem: D.R. / AB

Afinal, o que justamente nos indigna noutros também já esteve presente, de uma forma ou outra, entre nós. E será que a tentação não continua lá?

Vamos dar exemplos.

Não foi há 1000 anos – muitos de nós ainda se lembram perfeitamente disso – que as mulheres só podiam entrar nas igrejas com o véu e que a missa era em latim, e as pessoas ali estavam durante uma hora ou mais a ouvir e a dizer o que exprimimos no dito: “Para mim, é chinês.”

Tudo indica que, enquanto pôde, o clero controlou a vida sexual dos fiéis, a ponto de o historiador Guy Bechtel afirmar que a fractura entre a Igreja Católica e o mundo moderno se deu essencialmente na teoria do sexo e do amor: “Onde Estaline se detinha à porta da alcova, a Igreja pretendia deslizar para o meio dos lençóis”, pois o diabo estava também, e sobretudo, dentro da cama. A confissão inquisitorial centrada na actividade sexual terá sido causa determinante na descristianização da Europa. Neste sentido, o historiador católico Jean Delumeau afirmou: “As minhas investigações históricas convenceram-me de que a imagem do Deus castigador e vingativo foi um factor decisivo de uma descristianização cujas raízes são antigas e poderosas.” Os homens e as mulheres começaram a abandonar a Igreja, quando recusaram a confissão do seu território sexual, isto é, quando contestaram a invasão do segredo da intimidade, considerado um direito inalienável. Ah! E o carácter hediondo da pedofilia!…

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Ana Cristina Silva | Crónica do mês de Janeiro no Diário de Notícias

Eles não leem. Esta entidade na terceira pessoa do plural são os alunos, sobretudo adolescentes, e a afirmação constitui uma lamentação que ecoa pela sala de professores de dezenas de escolas do país. Se a educação implica, e muito, o exemplo, no contexto deste persistente desabafo que se repete em tantas escolas, talvez não seja descabido perguntar se o verbo ler se aplica com a devida frequência ao desejo leitor dos próprios professores. Eu sei: existe a falta de tempo, as pilhas de testes a corrigir, a burocracia que tantas vezes substitui a possibilidade de conhecer os alunos reais, as viagens entre a casa a escola com quilómetros a mais. Mas ainda assim, permitam-me a provocação: E os professores leem?

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O IMPÉRIO JÁ NÃO SE ESTÁ A EXPANDIR! | por Hugo Dionísio

Com a entrada em 2024 e no âmbito da guerra tecnológica que os EUA moveram à China, para que esta não se desenvolva, pelo menos tão depressa, os Países Baixos revogaram algumas licenças de exportação de impressoras litográficas da ASML.

A ASML, que tem vindo a perder terreno no mercado chinês – o maior do mundo – e a sofrer, financeiramente, com a decisão de aplicar, num primeiro momento, as sanções de Washington, decidiu, já no final do ano de 2023, retomar todas as exportações.

Perante o facto e cedendo às pressões de Washington – depois dizem que o 1.º ministro neerlandês é de extrema-direita e o Biden não é -, o governo do país europeu, decidiu, ele próprio, impedir a ASML de vender as suas impressoras para a China.

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O Aviso | Luís Paixão Martins

O homem que vivia junto ao rio ouviu na rádio que o rio ia inundar a cidade e que os habitantes deviam fugir. Mas o homem disse: Sou religioso, rezo, Deus ama-me e salvar-me-á.

As águas subiram. Veio um tipo num barco e gritou que a cidade estava a ficar abandonada e que devia de fugir com ele pela sua segurança. Mas o homem disse: Sou religioso, rezo, Deus ama-me e salvar-me-á.

Um helicóptero sobrevoou o local e um tipo com megafone gritou que a cidade estava a ficar inundada e que ele devia aproveitar o socorro. Mas o homem disse: Sou religioso, rezo, Deus ama-me e salvar-me-á.

O homem afogou-se. Chegou ao céu e foi interpelar Deus: Porque é que isto aconteceu? Julguei que me amavas.

Deus respondeu-lhe: mandei-te um aviso pela rádio, um helicóptero e um barco”.

The West Wing

Retirado do Facebook | Mural de Luís Paixão Martins | Foto de Ps.pt

Aqui ao lado de onde moro há um lugar, uma praça, onde as pessoas se sentam à conversa | por João Costa, in Facebook

Aqui ao lado de onde moro há um lugar, uma praça, onde as pessoas se sentam à conversa.

Falam das suas vidas. Gostam de ouvir música, as suas preferidas, as que as transportam para as memórias da sua infância. Quem não gosta dos sons com que cresceu?

Nessa praça, encontram-se afinidades e discute-se a vida na terra. Sempre foi assim Lisboa, uma terra onde se chega, com saudades da terra de onde se veio. Uma cidade que acolhe e de onde “se vai à terra” e para onde se importam memórias e hábitos. O que seria Lisboa sem os restaurantes dos courenses, a Casa do Alentejo ou os seus mercados cheios dos produtos regionais? O que seria Lisboa sem os sotaques preservados dos que há décadas chegaram do interior, do sul ou do norte?

Aqui na praça os sotaques e as línguas encontram-se e fazem-se ouvir e percebemos todos que somos mais felizes quando a língua que falamos é aquela com que as nossas mães nos tranquilizaram e adormeceram ao colo.

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A NATO E A REVOLUÇÃO DE ABRIL | Francisco Seixas da Costa | in Facebook

(Dedico este texto ao Nuno Santos Silva, valente capitão de Abril, que sei que me lê por aqui, a quem eu desafio a imaginar quem é a figura que retrato nesta história)

Com o seu papel catalizador da reação ocidental à ação russa na Ucrânia, a NATO tem andado muito na baila. A possibilidade do regresso de Trump à presidência americana está a provocar algumas interrogações sobre o futuro da aliança de que Portugal faz parte desde 1949, em especial se se olhar para aquilo que foi o seu comportamento perante a segurança europeia, durante o seu primeiro, e até agora único, mandato. Logo veremos, até porque não há nada que, pela nossa parte, possa ser ser feito no sentido de alterar o rumo que as coisas vierem a ter.

Nestes 50 anos do 25 de Abril, deixo memória de um episódio que julgo curioso, ligado à NATO, passado entre agosto e setembro de 1974. Repito: há cerca de meio século.

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Geração Ronaldo | por Carlos Matos Gomes

Uma das possíveis formas de emprateleirar gerações — de “fazer” História — é recorrendo à taxionomia, a ciência que se ocupa da organização de grupos de seres vivos com base nas suas semelhanças e diferenças.

A taxionomia histórica tem recorrido a uma classificação dos seres humanos por gerações: geração dos babyboomers, os do pós Segunda Guerra, e depois há para todos os gostos: geração X, Y, Z, alfa, millennialwoke, de 70, aqui em Portugal até a ‘geração rasca’. Eu tenho a minha tabela privativa, que inclui a geração da ‘cena’ — termo que integra a novilíngua, revelador da diminuição drástica do vocabulário destas novas espécies geracionais, que acabarão a falar com os polegares nos ecrãs tácteis, prevejo, sem qualquer drama — dos alunos, ou de um aluno ou de frequentador ou frequentadores da Universidade Católica que agarrou ou agarraram num jornalista do jornal Expresso e o retiraram preso por braços e pernas da sala onde o doutor André Ventura, chefe do partido Chega, ia proferir uma conferência sobre a sua visão do mundo.

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INFLUENCERS | Tiago Salazar

Ando fascinado com esta actividade, sobretudo depois de ter sido apontado (por um influencer renomado) como um notável influencer de costumes. Fui debruçar-me sobre os meus escritos e tive que concordar: sou um influencer. E qual é a minha influência? Em primeiro lugar, exorto ao tratamento cuidado da língua, um órgão sublime de possibilidades. Uma língua afinada e afiada (e fluente) faz magia e milagres. Depois, incito os meus influenciados à prática da arte do Amor que inclui uma sexualidade sã e aprazível para ambas as partes. Fomento ainda a baterem-se pelos direitos básicos e a votarem, nem que seja em branco, pese embora não veja a política dissociada da mentira. Há quem exiba decotes e seios e pernas e saltos altos e as bordas de reentrâncias. Eu exibo manuais hindus ou nórdicos como o Kamasutra ou o Kalevala. Tudo acaba por levar a uma certa influência.

O Elogio da Cobardia | Carlos Matos Gomes

Elogiar uma qualidade ou uma caraterística da sociedade através do comportamento dos seus elementos é, tem sido, uma forma de os publicistas, sob várias designações, filósofos, pensadores, conselheiros, sociólogos, historiadores, escritores de obras de vários tipos, e agora os ‘cientistas políticos’, transmitirem a sua visão do mundo que os rodeia, dos seres que dominam e que são dominados, da atitude que determina o modo como os seus correligionários e os seus adversários se comportam para atingirem os seus objetivos. Em resumo, os valores de uma dada sociedade.

Numa rápida pesquisa encontramos além do clássico «Elogio da Loucura», de Erasmo, títulos como «Elogio da Divergência», «Elogio da Superficialidade», «Elogio da Felicidade», «Elogios Fúnebres», «Elogio do Silêncio», «Elogio da Morte» e até dois títulos de autores portugueses tão distintos quanto José Vilhena com o sarcástico «Elogio da Nobreza» e o sério «Elogio da Sede» de Tolentino Mendonça. Não faltam, pois, temas, para Elogio. Deve haver nalguma biblioteca um elogio da coragem, mas julgo que não haverá, estou quase certo de que não, um «Elogio à Cobardia». Por mim não o penso fazer, embora o tenha estado a ouvir sob diversas formas nas ações de propaganda que o núcleo duro da força de vendas das empresas de propaganda e manipulação de massas tem vindo a apresentar a propósito da ação de limpeza de Israel contra os palestinianos acantonados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia!

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Da estatuária grega aos sininhos natalícios Manuel S. Fonseca

Eu e os pavões do “meu” quintal queremos que tenhas um belo e limpo 2024. Para dar sorte deixo aqui com uma crónica com uns enfeites que – dizem – são garantia de prosperidade e felicidade. Bom Ano.

Da estatuária grega aos sininhos natalícios

O estudo é alemão. Debruça-se, com olhar entomológico, sobre o órgão sexual masculino, comumente chamado pénis. Bem sei que parece um tema bizarro, assim posto no microscópio, a meio das celebrações natalícias, mas já lá vamos. As festas natalícias apelam à felicidade e, mesmo se o pénis não é exactamente um pinheirinho de Natal, o certo é que os mais remotos antepassados desta nossa ocidentalíssima cultura o prezavam como símbolo ao qual a felicidade não era alheia.

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Ansiedade Americana | Joseph E. Stiglitz | DN

As eleições presidenciais dos Estados Unidos serão, quase de certeza, o acontecimento dominante do próximo ano. Salvo algo inesperado, é provável que vejamos uma reedição da competição entre Joe Biden e Donald Trump, com o resultado perigosamente incerto. Um ano depois, as sondagens nos principais estados indecisos dão vantagem a Trump.

As eleições serão importantes não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo. O resultado poderá depender das perspetivas económicas para 2024, que por sua vez dependerão em parte da evolução da última conflagração no Médio Oriente. O meu melhor palpite (e o pior pesadelo) é que Israel continuará a ignorar os apelos internacionais para um cessar-fogo em Gaza, onde 2,3 milhões de palestinos estão desamparados há décadas. O que vi durante uma visita no final da década de 1990, como economista-chefe do Banco Mundial, foi suficientemente doloroso, e a situação só piorou desde que Israel e o Egito impuseram um bloqueio total, há 16 anos, em resposta à tomada do enclave pelo Hamas.

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ANNUS | Tiago Salazar

Sou de fazer balanços (incluindo das ancas), mas não só ao findar de um ano. Faço-o todos os finais de dia na companhia de um short robusto ou um pyramid, uma caneta, papel e o ecrã de fundo da CMTV.

Ontem, por exemplo, foi um dia fixe. Fiz um tour com um casal de franceses interessados, que me elogiaram o acento da Bretanha, riram e escutaram as histórias deste e daquele ilustre, a leitura do arranque magistral do poema de Voltaire sobre o desastre de Lisboa (terramoto de 1755), as diabruras de Pangloss no bas fond de Alfama e ainda deram pourboir.

Depois, fui dormir a sesta e deixei-me estar horas perdidas (ou ganhas) na cama. Li as notícias da Bola, assisti aos jogos dos rivais azuis e brancos e vermelhos (e pensei no porquê de todos aspirarem à Liga Inglesa ou Árabe) e encerrei o dia com uma garrafa de Magos e um Clint Eastwood dos primórdios do Oeste. Folheei a História de Portugal do John dos Passos e trouxe-a para agora me entreter antes de ir mostrar as formosuras e tragédias de Belém, o Restelo e a Ajuda.

Levo uma vida pacata. Sosseguei a passarinha com a consciência de que a limpeza do Caminho é a única ocupação digna de registo. Não significa que esteja aposentado do ramo da curiosidade. Com conta, peso e medida, como se querem os dias, os meses e os anos.

Retirado do Facebook | Mural de Tiago Salazar

ANÁLISE | Aliança Democrática: o rebranding do centro-direita é o mais significativo evento político depois da “geringonça” em 2015 | Paulo Querido in “VamoLáVer”

PSD e CDS anunciaram em conjunto na passada quinta-feira (21/12) uma coligação de longo fôlego e ambição. Chama-se (até ver) Aliança Democrática e vincula estes dois partidos do centro-direita e direita para o “horizonte do actual ciclo político, conforme consta do comunicado. Ou seja, abrange as legislativas antecipadas para 10 de março, as europeias previstas para junho e as autárquicas do ano seguinte, 2025.

Provavelmente, não se ficará por aí. Este anúncio é, salvo melhor opinião, o mais significativo evento político-partidário em Portugal desde o acordo que em 2015 permitiu que pela primeira vez na história da democracia portuguesa partidos à esquerda tivessem uma influência direta na governação. E é uma resposta ao atual ambiente político de extremismo e perda de poder dos centros, tal como esse já fora.

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A derrota do Deus do Ocidente | Carlos Matos Gomes

A ação do Estado Judaico na Palestina, o genocídio em Gaza e a destruição da Cisjordânia constitui um ato que os seus autores pretendem que seja o ato final do direito de origem divina de Povo Eleito à Terra Prometida, a provocar um Armagedeão em termos do Antigo Testamento bíblico. Os dirigentes judaicos justificaram e justificam com o Antigo Testamento da Bíblia e com o seu deus Javé a ocupação manu militari de mais este território da Terra Prometida a Abraão há quatro mil anos. Sem a dimensão religiosa não é possível entender a política do Estado de Israel, o discurso e o comportamento dos seus dirigentes e a atitude de arrogância que revelam perante aa comunidade internacional (gentios) e até contra os seus protetores americanos.

No entanto, no Ocidente cristão esta guerra santa, equivalente a uma cruzada ou uma jhiad, está a ser quase exclusivamente analisada sob o ponto de vista técnico, como um historicamente vulgar conflito tendo por base os interesses de grupos políticos, económicos e sociais, interesses estratégicos de poder global envolvendo superpotências e potências regionais. Como mais uma “guerra” das muitas em que o Ocidente se tem envolvido desde que se reconstituiu após a queda do império romano, tendo o cristianismo como base ideológica e civilizacional.

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SNS – Serviço Nacional de Saúde | António Galopim de Carvalho

Num tempo que estamos a viver e a assistir à degradação (senão, mesmo, à tentativa de destruição) do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS), em vésperas de comemorarmos os 50 anos de liberdade, em que populismos sem projectos consequentes se digladiam pela conquista do poder, pouco se fala de António Arnaut (1936-2018), Homem bom, que ficou na História como o “pai” desta que é, unanimemente, considerada a maior realização do 25 e Abril.

Advogado de profissão, Arnaut iniciou-se na vida política, em 1965, como militante da Acção Socialista Portuguesa, tendo sido um dos fundadores do Partido Socialista, em Bad Münstereifel, na Alemanha, em 1973, e um seu dirigente até 1983.

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GENES EGOÍSTAS | Tiago Salazar

As turbas indignam-se por tudo e por nada. Por exemplo, o tratamento VIP de titulares de cargos públicos aos seus familiares e amizades. Onde há dinheiro há poder. São o roque e a amiga. Richard Dawkins escreve com propriedade sobre este aspecto da condição humana, como o fizeram Konrad Lorenz ou Darwin. No máximo do altruísmo, os clãs protegem-se. A política é a arte da mentira e da demagogia. A troca de favores nunca é inocente. Enoja, repugna? Não faríamos ou não fazemos todos coisas semelhantes se estivermos perante um pedido de auxílio?

Quem ajuda e mexe cordelinhos está a demonstrar poder sobre o outro. Mesmo o presente é uma forma de demonstrar esse poder. A arte do equilíbrio entre o dar e receber é de uma minoria de artistas e quem sabe se também esses não o fazem por egoísmo? Para serem reconhecidos como filantropos. Por ambição à posteridade. O princípio de fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós aproxima-nos do civismo. Eu, por exemplo, agradeço ao Dawkins e muitos outros autores a generosidade de se darem ao trabalho de pensar e partilharem.

O Casal que dirige Isto! | Carlos Matos Gomes

O “Isto” é a política da superpotência que domina o mundo. Existe um casal que dirige essa política. Esse casal representa o “modelo de democracia” que apregoamos como a superioridade moral do Ocidente e representa e os princípios éticos que regem quem decide por nós, quem deve ser morto ou condenado à fome, quem deve ser eleito, vencido, banido ou premiado em cada momento. Ninguém votou neles. Mas são o poder!

Quando ouvirmos referir o Bem, a Liberdade, da Democracia, o Ocidente, a Ucrânia somos nós, Israel somos nós, convém saber quem são os atuais profetas de que Kissinger foi o sumo-sacerdote. Atualmente no posto de comando encontra-se um casal. Esse casal tem nome e currículo. É conveniente conhecê-lo, não para os erradicar — porque eles são o sistema — mas para sabermos que são venenosos e têm ramificações com nomes mais conhecidos, como Ursula Von Der Leyen, ou Borrel, ou Boris Johnson, ou o tipo que é secretário geral da NATO, e têm marionetas, como Zelenski e Netanyahou. Raramente aparecem nas TVs. Comecemos pela mulher:

Victoria Nuland, atualmente no governo do democrata Biden como subsecretária de Estado para assuntos políticos. De 1993 a 1996, durante a presidência de Bill Clinton, foi vice-diretora de assuntos da ex-União Soviética.

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Lições de 2015 | História de António Filipe | in Jornal Expresso, 04-12-2023

O que se passou entre 2015 e 2019 na vida política nacional encerra lições valiosas que não podem deixar de ser tidas em conta no momento em que o país enfrenta um novo ato eleitoral em 10 de março de 2024

Ao admitir na noite das eleições de outubro de 2015 que o PS só não formaria Governo se não quisesse, Jerónimo de Sousa abriu uma fase na vida política nacional que muitos consideravam impossível.

Relembremos a fita do tempo: a coligação PSD/CDS tinha sido a força política mais votada e Pedro Passos Coelho já tinha assumido a vitória apesar da coligação ter perdido a maioria absoluta de que dispôs entre 2011 e 2015. A formação de um novo Governo PSD/CDS teria de contar pelo menos com a abstenção do PS.

O PS, pela voz de António Costa, já tinha assumido a derrota e felicitado o vencedor. Preparava-se para ficar na oposição, sem esclarecer qual seria a sua atitude relativamente ao Governo que se viesse a formar, e o que estava no horizonte do PS era um ajuste de contas interno que levaria certamente à substituição do Secretário-geral. A ideia posteriormente construída de que António Costa já tinha congeminado antecipadamente a possibilidade de formar Governo com o apoio dos Partidos de esquerda não passa de uma fantasia que o discurso da noite de 10 de outubro de 2015 claramente desmente.

O BE tinha obtido um bom resultado, mesmo acima do que era previsível umas semanas antes, mas também já tinha assumido que o seu papel naquela legislatura seria o de oposição ao Governo que se viesse a formar.

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A tese dos dois Estados  |  Um com chuva e outro sem chuva | por Carlos Matos Gomes

A proposta da ONU, aceite pela comunidade internacional, da coexistência de dois estados na Palestina, após a saída da Inglaterra do vespeiro ali criado após a II Guerra, com a conjugação de interesses do movimento sionista mundial, dos Estados Unidos e da União Soviética, um estado judeu e um estado com o remanescente de palestinianos, foi, desde o início, um logro do género de introduzir uma espécie infestante num dado território — eucaliptos, por exemplo — atribuir uma leira de terra como reserva indígena (carvalhos, ou sobreiros) — e esperar que ambas as culturas convivam em boa paz, que os infestantes respeitem os limites dos autóctones e estes se sintam muito agradados com a invasão. A comparação serve também para os peixes achigãs, vindos do Canadá e lançados nas barragens, que devoraram as espécies indígenas.

É com este conto para pobres de espirito que desde há sete décadas tem sido justificada violência de Israel, eles estão a defender o seu estado: invadindo. O tal estado democrático, o que em termos de interesses estratégicos, de violência e desrespeito pelos direitos dos outros nada vale. Curiosamente, têm sido os ditos estados democráticos — um regime particular desenvolvido na Europa e nas circunstâncias específicas que são conhecidas — que mais invasões têm efetuado nos dois últimos séculos.

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Viemos de outro planeta? Estudo reforça tese da vida na Terra ter tido origem extraterrestre | in SIC Notícias

Segundo um estudo recente, é levantada a hipótese de moléculas poderem ter sido incorporadas às matérias-primas dos sistemas solares, incluindo o nosso, e depois transportadas para a Terra primitiva por cometas ou meteoritos. Em suma, viemos de outro mundo

A principal hipótese para a origem da vida continua a ser a chamada “sopa primordial”, que deu origem ao planeta Terra. Neste “caldo” misturaram-se elementos químicos como carbono, nitrogénio, hidrogénio, metano e amoníaco – os existentes na altura de formação do planeta, há cerca de 4,6 bilhões de anos. Uma pesquisa publicada recentemente no jornal científico ACS Central Science mostra que o aminoácido mais simples, o nitrometano, pode ter sido obtido a partir do gelo interestelar.

Ralf Kaiser, da Universidade do Havaí; Agnes Chang, da Universidade Nacional Dong Hwa Hualien, em Taiwan, e colegas da Divisão de Astronomia da Fundação Nacional de Ciência dos EUA e da Fundação WM Keck começaram a investigar as reações químicas que poderiam ter ocorrido nos gelos interestelares que existiram perto de estrelas recém- formadas e planetas.

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ANÁLISE | A difícil escolha entre regulamentar o lobbying ou deixar a democracia a turvar | Paulo Querido in “VamoLáVer”

  1. Na sequência da “operação influencer” os partidos regressam à regulamentação do lobbying
  2. Os lóbis são essenciais no Parlamento Europeu, a atividade “vale” 1.800 milhões de euros por ano
  3. Espanha (2022) e França (2016) já regulamentaram, Itália (50 propostas em 37 anos) está como Portugal, sem lei
  4. Prós
    • o registo de interesses pode ser um meio para aumentar a transparência
    • fortalece a informação dos cidadãos sobre os interesses
    • permite “navegar” num mar de leis e instituições cujo poder é difuso
  5. Contras
    • os verdadeiros interesses são supra registo, por definição
    • a eficácia de parecer haver mais transparência desvia o escrutínio da manipulação real

Nova corrida, nova viagem

O assunto não é novo. Sempre que o Ministério Público manda divulgar as suas suspeitas de atividades ilícitas na relação do poder político (central, regional e autárquico) com os interesses privados, o que é frequente, ressurge a possibilidade (ou necessidade?) de regulamentar a prática do lobbying.

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Se pensava que o horror tem limite, por Francisco Louçã | in Expresso

A imagem mais célebre sobre o massacre de Guernica é a gigantesca tela, aqui reproduzida, que Picasso pintou nos dois meses seguintes ao bombardeamento que provocou 1660 mortos naquela cidade basca, em 1937. As imagens mais conhecidas da devastação de Mariupol ou de Alepo, no nosso tempo, são fotografias panorâmicas tiradas à distância, algumas aéreas, e testemunham o deserto humano nos prédios destroçados. São duas formas de retrato da barbárie e, delas, o grito de Picasso é a expressão mais intensa do desespero. Cada guerra tem a sua história, mas guerra é isto: choque e pavor, para lembrar o termo com que os generais norte-americanos designaram a sua estratégia para o Afeganistão e Iraque, dois conflitos que aliás perderam. É o que se está a viver em Gaza, com a particularidade sinistra de ser um enclave onde a população bombardeada está encurralada pelos muros de uma prisão.

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ANÁLISE | Vamos com calma, Europa: o avanço da extrema-direita não é inevitável e tem mais fumo que fogo | Paulo Querido in “VamoLáVer”

Há quatro países governados pela extrema-direita que em breve serão três. 84% dos cidadãos comunitários não conhecem governos desses. Balanço da presença dos extremistas em governos e parlamentos.

Começo por uma primeira nota: o objetivo deste levantamento é proporcionar uma visão objetiva da realidade, o que numa época de temperaturas políticas elevadas será facilmente criticado como um “branqueamento” ou uma “desvalorização” do perigo que o crescimento da extrema-direita constitui tanto para os cidadãos dos países europeus como para a União Europeia e para a democracia. Mas não pretendo nada disso, pelo contrário. Trata-se de situar esse crescimento de forma a melhor lidar com ele.

Segunda nota. Deu muito mais trabalho do que supunha à partida a elaboração desta lista. Não tanto pela dificuldade de catalogação: é muito difícil concordarmos sobre que partidos ou governos são de extrema-direita, tendo eu optado pela filiação dos partidos na família europeia ID (Identity and Democracy) onde se juntam CH, Lega Nord, AfD e CH, entre outros e, na sua ausência ou na dúvida, pela informação disponível. Mas porque apesar das pesquisas exaustivas, não consegui encontrar nenhuma lista que servisse de ponto de partida.

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As estrelas do devorismo | Carlos Matos Gomes

As principais estrelas dos devoristas de Novembro de 75 estão reunidas num ato celebratório em Almada, no Congresso do PSD. A data escolhida é muito apropriada. Estão no tempo certo para celebrar o saque que a contrarrevolução lhes proporcionou, mas argumentam com a liberdade ameaçada e o perigo da guerra civil. Seja. Para mim é matéria dada e para eles é matéria recebida. Voltemos aos nossos bolsos, o lugar onde tradicionalmente trazemos a carteira com todos os nossos cartões, os do dinheiro e os que dizem quem somos, o do cidadãos e o do contribuinte. Para o cerimonial dos devoristas ser perfeito, em vez de um pavilhão em Almada deveriam reunir-se na antiga sede do BPN, na rua Marquês de Fronteira, a grande obra dos devoristas, que hoje são oligarcas impolutos. Mas atrás de uma grande fortuna há sempre um crime. A frase é atribuída de Balzac, e convém recordá-la, porque estes crimes não passam no Correio da Manhã.

O suplemento «Dinheiro Vivo», do Diário de Notícias de 6 de Maio de 2019 apresentava um resumo da situação que está a ser comemorada, como um passo para impor uma ideologia que promova a sua ascensão política ao centro das decisões do Estado e de, a partir dele, ao poder de saque sobre as riquezas nacionais. Os devoristas do 25 de Novembro pretendem celebrar a reconquista da banca e do poder de obrigar o Estado a pagar os riscos dos negócios especulativos, de tornar o negócio da banca sem riscos e com alta rentabilidade. A Banca, é a Banca, estúpidos que se celebra. estamos exatamente no mesmo ponto que levou o fundador da família a confessar o segredo do poder: ‘’Deixem-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importa quem faz as suas leis’’.

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Recordar a doutrina esquecida de J.F. Kennedy | Viriato Soromenho-Marques | in DN

É conhecida a frase de Saint-Just (1767-1794), a propósito de Luís XVI, sobre a impossibilidade de reinar mantendo a inocência. Nenhuma biografia de estadista pode ser abordada como se de uma hagiografia se tratasse. Isso é claramente válido também para o 35.º presidente dos EUA, John F. Kennedy (doravante JFK), assassinado há 60 anos em Dallas. Raros políticos, contudo, podem ser recordados pela grandeza, não pela santidade. É aí que reside o sentimento de perda ainda hoje provocado pela morte brutal de JFK. Essa perda acentua-se pelo estado desastroso em que se encontra hoje a democracia americana, simbolizado na grotesca alternativa presidencial entre Biden e Trump. Ainda mais inquietante, quando é revelado num relatório de uma comissão especializada do Congresso sobre A Postura Estratégica dos EUA, existir um consenso sobre a necessidade de responder aos desafios da perda do poder americano com uma corrida aos armamentos de todos os tipos. Esse documento prova o total esquecimento da doutrina de JFK para uma política internacional de grande potência numa época de armas nucleares. Esse esquecimento atinge o auge quando se afirma ser realista o objetivo de “assegurar a vitória [dos EUA] se a dissuasão falhar”.

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Os Devoristas de Novembro | Carlos Matos Gomes

O que comemora quem comemora o 25 de Novembro de 1975 em 2023 e quem o comemora e com que finalidade?

O 25 de Novembro tem o «Documento dos Nove» como carta constitucional. Constituiu o máximo denominador comum das forças que se opunham a uma revolução, no sentido de rutura com a hierarquia de valores num dado modo de produção,, de distribuição de riqueza e de representação política . O seu objetivo declarado foi o estabelecimento da Ordem e Liberdade. Ordem é uma palavra agregadora de militantes conservadores, avessos a mudanças, a não ser as do tempo. Tal como Liberdade, quando, como era o caso, surge associada ao perigo da ditadura comunista. Os conceitos de Ordem e a Liberdade na Quinta da Marinha, nos arredores de Lisboa e na Foz do Douro, são muito diferentes dos conceitos de Ordem e Liberdade no bairro de Chelas e da Quinta do Conde, na região de Lisboa, ou nos bairros das Fontaínhas, ou do Aleixo, no Porto.

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Galamba e os princípios de Goebbels | por Carlos Matos Gomes

Luís Paixão Martins, um dos grandes especialistas portugueses em Comunicação política e empresarial, certamente um dos de maior sucesso, que recentemente publicou um livro sobre o que são as sondagens, desmontou uma frase feita, um soundbyte destinado a criar efeito planeado, que serve de muleta em todos os meios de comunicação: “João Galamba é um ativo tóxico do PS”. Pode ser lido no seu FB e compara o que a comunicação — televisões e centros de propaganda dos partidos — fizeram com a figura de Sócrates. Segue-se a minha prosa:

O facto da frase que considera João Galamba um ativo tóxico do PS ser repetida até à exaustão em todos os grandes meios de manipulação e pelos funcionários que neles propagam as mensagens dos seus patrões prova que estamos perante uma campanha orquestrada. As televisões são hoje igrejas universais do reino dos deuses e os seus funcionários — apresentadores e comentadores — são os pregadores, os missionários. Se entendermos a missão, o objeto do negócio dos meios de comunicação (o core business — para utilizar a linguagem da moda) como o de empresas de propaganda é muito fácil decifrar as suas mensagens e campanhas.

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RAIVA E FALTA DE SENSO | Fernando Couto e Santos

Num dos livros mais interessantes da rentrée literária francesa intitulado Croix de cendre (Cruz de cinza) publicado pelas edições Grasset, o escritor Antoine Sénanque relembra através da voz de uma das suas personagens – uma das muitas que povoam o livro, entre as quais o conhecido Mestre Eckhart- um episódio elucidativo ocorrido em 1347 durante a batalha e o cerco de Kaffa (actual Teodósia na Crimeia) – batalha que, de acordo com alguns historiadores, pode ter estado indirectamente na origem da propagação da Peste Negra na Europa – que diz muito ainda hoje da perspectiva que alguns têm do sentido de justiça (ou falta dele) que deve presidir à vida humana. 

Ao cair da noite, um grupo de mulheres iludiu a vigilância e terá bloqueado uma das carroças repletas de corpos de soldados tártaros, falecidos, que foram deitados na rua. As mulheres terão mutilado o sexo dos soldados, colocando em seguida esses pedaços de carne amontoados na rua para assim serem queimados. Por que razão terão tido estas mulheres tão selvática atitude? Eram cristãs e acreditavam na eternidade, mas não estavam certas de que a eternidade respeitasse a sua vingança. Para exercerem qualquer castigo, não tinham confiança em ninguém, nem sequer em Deus. Quando os inquisidores desenterravam os ossos dos hereges para os queimarem em fogueiras públicas, faziam-no para prolongar a punição porque receavam, como as mulheres de Kaffa, que, podendo Deus ser bondoso, a simples morte entravasse o que consideravam erradamente ser a justiça. A personagem do romance acrescenta: «o mundo é povoado por implacáveis. São eles os hereges». 

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Perante o horror, o silêncio de Deus | por Anselmo Borges, in DN 04-11-2023

Actualmente, porque, com a televisão, temos acesso às imagens, talvez seja sobretudo perante os horrores das guerras que se pode ficar estarrecido perante o silêncio de Deus. São bombardeamentos que não deixam pedra sobre pedra, que matam indiscriminadamente homens, mulheres, crianças, e ficamos esmagados sobretudo pela dor, o clamor, as lágrimas, a desorientação das crianças inocentes. Onde está Deus?

Joseph Ratzinger, chamado aos 17 anos para o serviço militar do Reich, foi desertor e prisioneiro dos americanos. Já Papa Bento XVI, como já aqui escrevi, esteve em Auschwitz e fez um discurso dramático e deveras emocionante: “Tomar a palavra neste lugar de horror, de crimes contra Deus e contra o ser-humano sem precedentes na História, é quase impossível, e é particularmente difícil e deprimente para um cristão, para um Papa que procede da Alemanha. Num lugar como este faltam as palavras; no fundo, só há espaço para um atónito silêncio, um silêncio que é um grito interior para Deus: Por que te calaste? Por que quiseste tolerar tudo isto? Onde estava Deus nesses dias? Por que se calou?”

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CHINA | Henry Miller

Mesmo quando menino, o nome China evocava em mim estranhas sensações. Significava tudo quanto era vasto, maravilhoso, mágico e incompreensível. Dizer China era virar as coisas de cabeça para baixo.

Como é maravilhoso que esse mesmo nome China desperte no velho que está escrevendo estas palavras os mesmos estranhos e incríveis pensamentos e sentimentos.

Uma das lembranças especiais que eu tenho da China é que ela esteve à frente do mundo em tudo. Seja em cozinha, cerâmica, pintura, teatro, arquitetura ou literatura, a China sempre foi a primeira.

Impressionante e absurda ilustração disso é o fato de no Japão de hoje, segundo me contaram, os melhores restaurantes serem chineses.

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OS TINTUREIROS/AS | por José Gabriel

É assim: se se promove uma manifestação de milhares de pessoas por uma boa causa, tudo o que dela veremos, se tivermos sorte, serão uns segundos num recanto de um telejornal.

Se, pela mesma causa, um atrevido – ou uma atrevida – numa sessão mais ou menos solene, atirar uns borrifos de tinta a um ministro, deixando-lhe na caxemira do fatinho umas manchas, terá direito a abertura de telejornais, comentários de treta ou até com incursões psicossociológicas às profundezas da mente do/a autores, quiçá com uns pozinhos de psicanálise para totós. Mas a causa é falada, o efeito é conseguido.

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Beijo, de todos o mais casto | por Manuel S. Fonseca

Bem sei que já estamos em Outubro, a derrapar para Novembro, mas foi Setembro e são estes versos do brasileiríssimo Carlos Drummond de Andrade que acicatam a minha lamentável cabecinha: “Era manhã de Setem­bro e ela me bei­java o membro. Aviões e nuvens pas­savam, coros negros rebramiam, ela me bei­java o membro.”

Eis o beijo que faz explodir em fogo de artificio o imaginário masculino – mesmo o mais empedernido e tóxico representante da masculinidade. Sim, mesmo um ultra cis, hiper hétero tem vontade de fechar os olhos e entoar com voz lírica e num requebro de mariquíssima doçura o verso de Drummond: “e ela me beijava o membro.”  É como ter asas e voar.

Num filme, “Betty Blue, 37,2º le matin”, Béatrice Dalle, talvez a boca mais sensual do mundo nos anos 80, agracia o amado com essa dádiva divina. Béatrice tinha 21 anos e era na vida o contrário do vulcão de sexualidade e aquecimento global que exibe no ecrã: ingénua e pura. E é assim, pura e rebelde, que beija o que beija.

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Versão portuguesa de A Nova Arte da Guerra  |  tocar corneta e não desafinar | por Carlos Matos Gomes

Tenho ouvido com surpresa alguns militares de altas patentes comentarem os atuais conflitos, o da Ucrânia e agora o de Israel. Os e as tudólogos e tudólogas apresentam horóscopos. São artistas convidados por razões conhecidas das direções editorais dos meios de comunicação para convencer os clientes mais vulneráveis intelectualmente e não merecem um olhar. Pelo seu lado, os militares são (eram?) tomados como analistas racionais e metódicos. É nesta perceção que assenta a sua credibilidade e que me custa vê-los desbaratar.

A maioria dos militares convidados pronunciam-se sobre a manobra das forças, os armamentos e tomam notória posição a favor dos regimes da Ucrânia e de Israel, replicando as posições da NATO e dos Estados Unidos. O chocante dessas apresentações não é a tomada de partido, é ela não ser assumida e comunicada, como FB faz, indicando que a mensagem tem origem num meio sob controlo da Rússia. Mas, mais surpreendente, são os maus tratos que eles dão aos princípios da guerra, à relação entre a manobra tática e a organização das forças que as realizam e ainda da história das batalhas.

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Fotografias raras mostram como era a Palestina antes do nascimento de Israel | in Público

Ana Marques Maia 17 de Outubro de 2023

As fotografias históricas que compõem esta fotogaleria levantam o véu sobre a história do território antes da ratificação da “solução de dois estados” da ONU.

“Uma terra sem povo para um povo sem uma terra.” O slogan foi repetido à exaustão, ao longo do século XX, pelo movimento sionista e pelos apoiantes do sionismo para mobilizar a imigração judaica para a Palestina. As fotografias do arquivo do Library of Congress Eric and Edith Matson, tiradas entre 1898 e 1946 e fornecidas ao P3 pelo Palestine Photo Project, contam, no entanto, uma história diferente. A Palestina era, no século XIX e XX, antes do nascimento do Estado de Israel, em 1948, um território habitado por centenas de milhares de pessoas e vivia, segundo a Enciclopédia Britannica, “um renascimento árabe”. 

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Ai, a dívida | A ilusão da “folga orçamental” | por Vital Moreira, 11-09-2023

1. Pode parecer estranho regressar aqui aos alertas para o problema da dívida pública, quando o seu peso no PIB está a diminuir substancialmente e tudo indica que este ano haverá um excedente orçamental, e quando toda a gente, Governo e oposição, incluindo o PR, entende que há margem para reduzir os impostos. Penso, porém, que a “folga orçamental” é, em grande parte, ilusória e não tem fundamentos duradouros.

Por um lado, ela é produto de um excecional acréscimo das receitas públicas, mercê do processo inflacionista e da maciça transferência de fundos da UE no âmbito do PRR, que cobrem grande parte da despesa de investimento público e que estimulam o crescimento da economia. Por outro lado, o bom comportamento da economia e do emprego reduz a despesa social e aumenta a receita fiscal.

O que surpreende, nestas condições especialmente favoráveis, não é que haja “contas certas”, mas sim que elas não sejam robustamente excedentárias, levando à redução do próprio stock da dívida pública.

2. Ora, estes ventos favoráveis não vão durar sempre. 

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A QUEDA DAS MÁSCARAS | por HUGO DIONÍSIO

27 de Setembro de 2023

Ele entrou, em passo inseguro de quem está marcado pelo peso da História…. Poderia ser confundido com Biden, na forma como se arrastou pela sala e pela forma como dormiu na sessão. Mas estava no Canadá! Contudo, tal como fariam com Biden, a sala de pé, em uníssono, aplaudiu o subitamente célebre “convidado”. 

Cada um dos 338 presentes, na Câmara baixa (Casa dos Comuns) do Parlamento, vigorosamente aplaudiu, assumindo a responsabilidade pelo peso histórico que a situação, em si, exigia. O momento era irrepetível, especial, único na sua essência. Afinal, desde há mais de 78 anos, que uma figura com a identidade política em questão, era recebida em apoteose, num qualquer Parlamento. O aplauso eufórico a um combatente da 2ª grande guerra, com 98 anos, era em si uma oportunidade única. Já não restam muitos, e da qualidade do homenageado, ainda menos. Nunca se sabe se mais alguma vez, aqueles 338 “diligentes” parlamentares, voltarão a ter tal oportunidade.

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O pai político do 25 de Novembro foi Mário Soares | por António Campos, in Facebook

A ignorância política da Ana Gomes.

O pai político do 25 de Novembro foi Mário Soares.

Em Março de 1975 Mário Soares demite-se de Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo presidido por Vasco Gonçalves. Em junho numa das maiores manifestações após o 25 de Abril, na Fonte Luminosa, Mário Soares denunciou o ataque político á Liberdade conquistada no 25 de Abril pelo PCP.

No verão 24 jornalistas são demitidos do Diário de Notícias pelo Saramago com quem tive uma violenta discussão.

No Verão surge o grupo dos nove no exército comandados pelo Melo Antunes, em dissidência com os ataques às liberdades conquistadas no 25 de Abril.

Em meados de Novembro há o cerco à Assembleia da República.

Passados poucos dias é nomeado Vasco Lourenço para o comando da região militar de Lisboa.

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A realidade dos interesses e a hipocrisia do moralismo de conveniência — Palestina | por Carlos Matos Gomes

O que está a acontecer na Palestina é apenas mais um episódio sangrento do processo que teve início com a criação do Estado de Israel e que prosseguirá até este ser um Estado sentinela, habitado por eleitos que se reclamam da superioridade de raça e religião, com uma só história, um só deus. O primeiro massacre desta longa história de violência é, se me recordo, o que ficou conhecido por Deir Yassin, de 1948, ainda antes do fim do mandato britânico, quando milícias sionistas massacraram cerca de 150 refugiados palestinianos desarmados. O mais conhecido dos massacres talvez seja o de Sabra e Chatila, em 1982, no Líbano. Este recente “episódio” terá, de particular, a conjuntura internacional com a emergência de novos poderes mundiais, de redistribuição de fontes de energia, de moedas de troca, da multiplicação de focos de instabilidade em várias partes do globo que obrigam as grandes potências a dividir forças e a abrir “janelas de oportunidade” a potências regionais.

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Ars Moriendi | Carlos Matos Gomes

A justa luta dos funcionários da saúde de todas as graduações e especialidades vista à luz da história e do desejo de salvação dos homens, mulheres e crianças.

Antecipando as preocupações dos atuais profissionais da doença, e da natural preocupação dos vivos em adiar a morte e em alcançar uma boa pós-morte, a Igreja Católica publicou cerca de 1450 um tratado sobre o assunto a que deu o título de Ars Moriendi, A Arte de Morrer, ou Arte da Boa Morte, segundo as traduções, com autoria atribuía a um tal Dominicus Capranica (1400–1458), que terá reunido documentos com origem no Concílio de Constança (1414–1418) e devido à influência de Jean Gerson (1363–1429), erudito e Chanceler da Universidade de Paris.

Domenicus Capranica e Jean Gerson podem ser considerados os antecessores dos atuais promotores da Arte da Boa Morte reunidos nas declarações e proclamações das santíssimas ordens e sindicatos, que, em meu entender, muito têm contribuído para orientar as pessoas a alcançar uma “boa morte”, longe dos hospitais públicos.

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NOTAS SOLTAS DE UM DOMINGO DE OUTUBRO Fernando Couto e Santos | Facebook 01/10/2023

1-A Livraria Leya na Buchholz – que reabriu após obras de remodelação – promoveu esta semana uma série de conferências e outras iniciativas para assinalar os oitenta anos da famosa Livraria lisboeta. Sejamos claros: apesar dos esforços louváveis do grupo Leya que reergueu em 2010 a Livraria das cinzas da antiga Buchholz que havia encerrado em 2009, a vida nem sempre é um eterno recomeço e com o encerramento da velha Buchholz perdeu-se toda uma filosofia de livraria que durante décadas foi um símbolo de um certo cosmopolitismo literário que Lisboa em boa verdade não tinha ou tinha tão – só à guisa de ilhas muito dispersas – quiçá pequenas aldeias gaulesas -aqui ou acolá.

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A QUEDA DAS MÁSCARAS | Hugo Dionísio 

Ele entrou, em passo inseguro de quem está marcado pelo peso da História…. Poderia ser confundido com Biden, na forma como se arrastou pela sala e pela forma como dormiu na sessão. Mas estava no Canadá! Contudo, tal como fariam com Biden, a sala de pé, em uníssono, aplaudiu o subitamente célebre “convidado”. 

Cada um dos 338 presentes, na Câmara baixa (Casa dos Comuns) do Parlamento, vigorosamente aplaudiu, assumindo a responsabilidade pelo peso histórico que a situação, em si, exigia. O momento era irrepetível, especial, único na sua essência. Afinal, desde há mais de 78 anos, que uma figura com a identidade política em questão, era recebida em apoteose, num qualquer Parlamento. O aplauso eufórico a um combatente da 2ª grande guerra, com 98 anos, era em si uma oportunidade única. Já não restam muitos, e da qualidade do homenageado, ainda menos. Nunca se sabe se mais alguma vez, aqueles 338 “diligentes” parlamentares, voltarão a ter tal oportunidade.

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Pensar na importância da independência da Guiné-Bissau para Portugal talvez mereça cinco minutos de leitura. | Carlos Matos Gomes

24 de Setembro de 1973 — O PAIGC, Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, declarava a independência unilateral da colónia portuguesa da Guiné, numa cerimónia realizada na região do Boé, no Leste. A independência seria reconhecida por cerca de oitenta estados e a Guiné seria admitida com o estatuto de observador na ONU.

Amílcar Cabral havia anunciado em 1972 esta declaração de independência. Seria assassinado por elementos do PAIGC, em Conakry, em Janeiro de 1973. A direção do PAIGC que substituiu Amílcar Cabral, chefiada por Luís Cabral, com Aristides Pereira e Nino Vieira, procurou legitimar-se como seus sucessores numa união conjuntural de interesses, realizando ações militares de grande envergadura, a designada Operação Amílcar Cabral, com ataques a guarnições portuguesas na fronteira norte — Guidaje — e na fronteira sul — Guileje. O mês de Maio de 1973 ficaria conhecido como o do “Inferno dos 3 G’s”. As forças portuguesas sofreram baixas significativas e perderam a guarnição de Guileje, que foi ocupada pelo PAIGC.

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A solidão em passo de corrida | Manuel S. Fonseca | in paginanegra.pt e j. de negócios

Quem, mesmo se fosse na Quinta Avenida, não desataria a correr atrás de Greta Garbo? Liv Ullmann correu. E recordo, como se fosse preciso, que Liv é a actriz norueguesa que se fundiu, na arte e na vida, com o sueco Ingmar Bergman.

Aliás, a rua, e não só a Quinta Avenida, tem um sortilégio indelével na vida dessa norueguesa de beleza metafísica. Liv vinha na rua, na gélida Estocolmo, com uma amiga de recente data, outra actriz, a sueca Bibi Andersson, que trabalhara, amara e vivera com Bergman, quando tropeçaram em quem? Fatal como o destino, no próprio Ingmar pois claro! Já a história de amor com Bibi tinha acabado – ou andaria adormecida – mas mal as viu, Bergman sentiu a bela amizade delas e, ali mesmo, decidiu que queria imiscuir-se, deitar-se, aninhar-se na amizade daquelas duas mulheres. Olhou para Ullmann e disse-lhe: “Quero que faça um filme comigo. Aceita?”

Nasceu, assim, “Persona”, o mais escandalosamente erótico dos filmes, de uma sexualidade seminal e amoral. Uma intensíssima Liv Ullmann, uma actriz sufocada por um trauma, atravessa em silêncio, esfíngica, todo o filme: Bergman ofereceu a Ullmann, logo para a destrunfa, o silêncio de Deus. Ao seu lado, Bibi, a sua enfermeira no filme, fala sem parar, deslargando-se em monólogos perturbadores sobre o aborto, o horror, o sexo, a orgia, o mais escuso e escuro da identidade humana ou, se se quiser, da identidade feminina.

E, uma vez que não sou um daqueles rapazes que escreve no “Público” sobre cinema, não digo mais sobre “Persona”, a não ser que o vejam para perceberem como se pode fazer do “enigma” (seja lá o que o “enigma” for) o mais belo dos filmes.

Fazendo curta uma história tão bonita como longa, confirmo que, tal como acontecera com as suas anteriores protagonistas, Harriet Andersson e Bibi Andersson, Ullmann e Bergman acabaram amantes: nunca se casaram, mas viveram juntos cinco anos, desse amor tendo nascido Anna, a filha de ambos. A perfeita simbiose, e era tanta, que se em “Persona” Bergman pôs no silêncio de Ullmann as suas mais inquietantes angústias, mais tarde pedir-lhe-ia que realizasse um seu pessoalíssimo guião, “Confissões Privadas”. Liv sentiu que o texto lhe queimava as mãos. Porquê ela? Por que razão, de tão íntimo, de tão envolvido com Deus, Bergman não o realizava? E ele explicou: “Porque tu acreditas em Deus e eu não!”

Sim, esqueci-me de Greta Garbo, que deixei lá em cima, sozinha com Deus. Vejam, os americanos, loucos com Liv Ullmann, convidaram-na para Hollywood, primeiro, depois para a Broadway. Estava então Liv a interpretar, no teatro a “Anna Christie”, depois de ter já feito, de Ibsen, com delírio nova-iorquino, “A Casa de Bonecas”. Chamam-lhe “a nova Garbo”. A caminhar pela Quinta Avenida, Liv vê e reconhece uma transeunte discreta. Era a própria Garbo. Pensa: “Aqui estamos nós, duas escandinavas, actrizes, e ambas fomos, ela no cinema, eu no teatro, a Anna Christie! Vou contar-lhe!”

Vejam, Liv já acelerou o passo, a Garbo sente que alguém se aproxima, olha e vê Liv, vira-se e acelera ainda mais. Liv pensa “ela não me viu, tenho de dar ainda mais à perna”. Dá. A Garbo, ameaçada, começa a correr, Liv corre também. Em plena Quinta Avenida, na prodigiosa Nova Iorque, há uma lenda sueca a correr, e uma bergmaniana mulher norueguesa esfalfa-se no seu encalço. A Garbo entra pelo Central Park dentro e Liv pára. Uma chispa bergmaniana atravessou a cabeça de Liv. Vai ali, em corrida pelo Central Park, a inenarrável e pasmosa solidão da Garbo: não tem o direito de a invadir.

Publicado no Jornal de Negócios

O Problema da Habitação | uma questão bíblica e um revelador da ideologia dominante | por Carlos Matos Gomes

Lusa 29 Jan 2020: O número de pessoas em situação sem-abrigo aumentou nos últimos anos em mais de um terço dos 35 países da Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), incluindo Portugal. De acordo com o relatório, a taxa de sem-abrigo (medida como uma parcela da população total) aumentou na Austrália, no Chile, em Inglaterra, França, Islândia, Irlanda, Letónia, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Portugal, Escócia, Estados Unidos e País de Gales.

O problema da Habitação em Portugal é exatamente igual ao problema da Habitação dos outros países europeus. E tem a mesma raiz que o problema da Saúde, o problema da Educação, o problema da Segurança Social, o problema da precariedade do trabalho e da desigualdade salarial. E vai resolver-se com a mesma solução dos Estados Unidos, a potência líder da nossa civilização e modelo político: milhões de sem abrigo, sem domicílio fixo, a viver na rua ou em autocaravanas!

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Quanto vale a União Europeia? Vale mais ou menos que Israel? Ou que o Japão? Ou que a Coreia do Sul? Ou que Taiwan? | por Carlos Matos Gomes

Estas são as minhas interrogações depois de ler o que saiu na comunicação social a propósito do discurso do estado da União Europeia apresentado pela presidente da respetiva comissão!

A resposta da presidente da Comissão Europeia fintou-me. Respondeu com promessas de salvação baseada em desejos, em crenças, em fé à minha boa vontade de entender o que ia nas cabeças das altas instâncias da União. o Discurso, o que li e ouvi dele, recordou-me o texto do capataz da propriedade de aristocratas franceses, à patroa: a propriedade está a arder, mas tudo vai bem, europeus. Tout va bien, madame la marquise.

Mas, ao contrário da carta do administrador da propriedade à marquesa a comunicar o desastre, é, neste caso, a Madame da União Europeia que afirma aos súbditos que tudo vai bem, embora a propriedade esteja a arder.

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FESTA DO AVANTE! | Miguel Esteves Cardoso

“Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.

Já é a Segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante faz um bocadinho de medo.

O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela – um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.

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UMA LONGA CONVERSA | António Galopim de Carvalho

CONVERSA AVULSA COM UM INTERLOCUTOR IMAGINÁRIOSOBRE A IGREJA, O ENSINO, AS UNIVERSIDADES, O FEUDALISMO, AS CIDADES E OS ARTESÃOS, AO TEMPO DO REI D. AFONSO HENRIQUES.

– O Cristianismo deve ter sido a ponte entre os invasores germânicos e do Norte da Europa e o Império Romano em desvanecimento?!

– Sim. Por outras palavras, foi o elo de ligação entre o paganismo e o mundo romano, que se expandiu pela Europa ocidental, acabando por dar grande poder à Igreja Católica e à figura do Papa.

– Igreja Católica é uma expressão que toda a gente sabe dizer, mas que nem todos sabem o verdadeiro sentido.

– A palavra igreja vem do grego ekklesia, através do latim ecclesia, que significa assembleia. Designa, pois, um edifício destinado a reunir pessoas, mas o seu âmbito alargou-se ao de uma instituição. A palavra católica chegou-nos do grego katholikós, através do latim catholicus, que quer dizer universal. Com o significado das palavras bem explicado, o discurso fica sempre mais claro.

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O trauma da morada | Miguel Esteves Cardoso | in O Ponney

Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por exemplo, há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.

Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha

um problema. Era em Carnaxide. Nunca mais ninguém o viu.

Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!

Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.

Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alfornelos, Murtosa, Angeja… ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (…)

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A importância dos BRICS | António Filipe | in Jornal Expresso

O acrónimo BRICS, composto a partir das iniciais do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passará a partir do início de 2024, com a fórmula BRICS +, a integrar a Argentina, o Irão, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia e o Egipto como novos membros.

Para além disso, como é sabido, algumas dezenas de outros países pretendem vir a integrar esta plataforma informal de cooperação à escala mundial.

A importância dos BRICS não tem a ver com a natureza dos regimes políticos ou dos sistemas económicos dos países que integram o grupo e que são muito diversos. E não é a pertença aos BRICS ou a ausência dela que vai alterar esse estado de coisas. Há todo um mundo que separa o Brasil da Arábia Saudita em matéria de respeito pelos direitos das mulheres, assim como não há comparação entre a orientação política e ideológica do Partido Comunista que dirige o Estado Chinês e do partido de direita que governa a Índia. A questão não é essa e não é essa a lógica dos BRICS.

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Homenageadas famílias de Minde que receberam crianças austríacas durante 2ª Guerra Mundial | in Jornal “O Mirante”

Maria Olívia Raposo e Dulce Martins Alves residem em Minde, concelho de Alcanena, e pertencem a duas das famílias homenageadas por terem acolhido crianças austríacas durante o período da 2ª Guerra Mundial. Maria Olívia Raposo ainda mantém contacto com Teresa, uma das poucas crianças refugiadas que esteve na freguesia e que ainda está viva.

O dia 14 de Agosto de 2023 marca a inauguração do Jardim Alto do Pina, em Minde, mas vai ficar na memória de todos pela emoção vivida durante a cerimónia de homenagem às famílias residentes naquela freguesia do concelho de Alcanena que acolheram crianças refugiadas austríacas da 2ª Guerra Mundial, entre 1939 e 1945. O MIRANTE marcou presença na cerimónia e conversou com Maria Olívia Raposo e Dulce Alves, de 95 e 84 anos, respectivamente, filhas de dois casais que acolheram, durante mais de meio ano, duas meninas de nove anos. À época Dulce tinha 12 anos e Maria Raposo estava perto de completar 20 anos.

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A MÃO DE MARILYN | Manuel S. Fonseca | in Jornal de Negócios

Duas mulheres, de uma a mão, de outra a voz. Será que juntando-as dá uma crónica?

Nenhum corpo suporta tanta despesa. É o que qualquer um dirá de Marilyn Monroe por pouco que saiba da atribulada vida dela. Mas não, a frase disse-a eu, em 1980, se bem sei, a propósito da actriz Manuela de Freitas. Ora não é de frases que quero falar, mas sim da mão que nos ajuda quando nada nos promete pão, vinho e rosas.

Ouçam a voz de Ella Fitzgerald. Vinha lá do peito, cristalina como se no peito tivesse uma fonte, embrulhava redonda as palavras numa dicção angelina, tinha ritmo e melodia, ousando improvisos a que nem a agilidade de um Ulisses serve de analogia. E agora vejam, Ella, a cantora negra nascida na Virgínia era amiga da alabastrina Marilyn Monroe. Exagero: mesmo a amizade tem uma génese e faz a sua peregrinação. Marilyn, no filme “Os Homens Preferem as Loiras” ia ser ainda mais loira e ia cantar. O seu agente pô-la a ouvir as canções de Ella Fitzgerald e os ouvidos da actriz apaixonaram-se pela voz dessa vasta e abundante sereia negra. Um dia, em Dezembro de 1954, Ella actuou numa daquelas espeluncas onde costumava cantar, em Los Angeles, e Marilyn veio vê-la. Foi amor à primeira vista e Ella contou a Marilyn que um dos seus sonhos era cantar no Mocambo, esse clube onde vinha jantar e dançar a fina flor de Hollywood, e onde um dia uma esposa indignada espetou um garfo de sobremesa no lóbulo da orelha de Errol Flynn, como já aqui contei.

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A conspiração dos imbecis: é preciso ser um idiota perfeito para ter sucesso na vida? | por Carlo Matos Gomes

A pergunta não é nada retórica. Há muitos especialistas em liderança, psicologia ou mesmo ciência política que o abordaram nestes termos ou em termos semelhantes. É claro que a resposta dependerá, em grande medida, do que entendemos por “idiota perfeito” e até que ponto consideramos que os narcisistas, incluindo os narcisistas matizados ou “humildes”, se enquadram na definição.

A pergunta do título do jornal El País caiu-me na sopa das reportagens e das capas de jornais em que a trepidante visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Ucrânia surge como um fait diivers entre a saga de Trump com os tribunais e prisões dos EUA, as opiniões no vácuo de várias eminências de sucesso nos meios de manipulação sobre a morte do chefe do grupo militar Wagner, a disputa entre Elon Musk e Zuckberg, agora X e Meta, o embuste da substituição dos carros de motor a combustão por baterias elétricos para melhorar o ambiente, o despacho feito pelos governos europeus de aviões F-16, os mais modernos dos aviões obsoletos, para dar lugar à compra dos F-35, o mais caro dos obsoletos (nasceu assim) modernos, a título de apoio a Zelenski, a decisão da senhora Lagarde do BCE de subir as taxas de juro para resolver a crise da habitação, ou do chanceler alemão trocar o barato gás russo pelo caro americano e estranhar a estagnação da indústria alemã, até às pequenas coisas, as novelas do treinador do Benfica com um guarda-redes e de um administrador do Atlético de Madrid, uma empresa do ramo futebolístico, com o mais caro dos seus produtos, para não referir o beijo do chefe da Federação Espanhola de futebol a uma futebolista.

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Portugal aos olhos de uma brasileira | Ruth Manus

Ruth Manus é advogada e professora universitária e escreve num blogue num Jornal de S. Paulo. 

E escreveu isto sobre Portugal, num texto que deve ser (é !) um orgulho lermos:

«Dentre as coisas que mais detesto, duas podem ser destacadas:

Ingratidão e pessimismo.

Sou incuravelmente grata e otimista e, comemorando quase 2 anos em Lisboa, sinto que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis que existem aqui, embora me pareça que muitos nem percebam.

Não estou dizendo que Portugal seja perfeito.

Nenhum lugar é.

Nem os portugueses são, nem os brasileiros, nem os alemães, nem ninguém.

Mas para olharmos defeitos e pontos negativos basta abrir qualquer jornal, como fazemos diariamente.

Mas acredito que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria inspirar-se.

Para começo de conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses.

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O problema do Papa é a sua Igreja | Francisco Louçã | in Jornal Expresso

Cumprindo um festival concebido, como é tão notório, por João Paulo II, de cuja herança se quer afastar, o Papa Francisco veio aqui deixar mais uma mensagem do fim do seu pontificado. Entretanto, agitou-se o país e os sinais locais deste empreendimento têm sido comentados: o custo extravagante e especulativa, o financiamento público (que Espanha evitou), alegando-se que esta é a missão do Estado (queria ver o mesmo num festival muçulmano), a sátira de Bordalo II e a fatwa que sofreu, o frenesim político-eleitoral. Tivemos de tudo. Falta ouvir o Papa e saber o que nos diz sobre a sua Igreja. 

O  Papa mais popular

O Papa não é o mais popular pelo contraste com o seu antecessor, nem sequer só pela afabilidade que demonstra. Ele é querido por ter aberto as portas aos pobres, por ter condenado a finança “que mata”, por ter dado um passo de aproximação aos homossexuais e, sobretudo, por ter condenado a pedofilia praticada, ocultada e porventura cultivada em setores tão amplos da sua Igreja. Com argúcia política, tem vindo a nomear cardeais reformadores e alguns são personalidades culturais vibrantes. Meticulosamente, tem procurado mudar a doutrina e virá-la para o povo. Tem contra ele uma construção imponente que é o seu palácio, a Igreja Católica.

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A religião do Ocidente não é a deste Papa | Carlos Matos Gomes

08-08-2023

E se algum ou alguma dos e das coristas que matraquearam vulgaridades e sopraram bolas de sabão sobre a Jornada Mundial da Juventude tivesse perguntado qual a causa pela qual os jovens participantes estariam dispostos a lutar?

Os grandes eventos devem suscitar interrogações. Conta-se que quando Moisés desceu do Sinai com a tábua dos 10 Mandamentos, anunciando que estes lhe haviam sido entregues por Deus, um dos assistentes lhe terá perguntado porque não viera Deus em pessoa transmiti-los. A história não relata o que aconteceu ao interpelante.

As religiões são sempre a transmissão de uma mensagem através de um mensageiro. Os céticos consideram que os mensageiros são os autores das mensagens. e procuram decifrar as mensagens. Os crente acreditam no que os reconforta, o mensageiro é apenas um cantor de canções de embalar. As suas palavras são meros sons que lhes ameniza as angústias. Nas religiões das sociedades mais complexas os crentes que constituem a massa não têm direito de fazer perguntas incómodas aos grandes mensageiros. Resta-lhes ouvir e acreditar no que já acreditavam. Mas há, ou haveria a possibilidade de perguntar o que pensa quem está a meu lado. Não ouvi nem vi alguém a perguntar.

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Até sempre, Portugal | Vítor Burity da Silva

Portugal é um país que me marcou profundamente. Desde a primeira vez que o visitei, fiquei encantado com a sua beleza, diversidade, cultura e história. Portugal é um país que tem de tudo: praias, montanhas, rios, cidades, aldeias, castelos, monumentos, gastronomia, vinhos, música, arte e literatura. Portugal é um país que sabe acolher os visitantes com simpatia, hospitalidade e generosidade. Portugal é um país que me fez sentir em casa.

Mas agora chegou a hora de me despedir. Depois de vários anos a viver e a trabalhar neste país maravilhoso, tenho de regressar ao meu país de origem. Não foi uma decisão fácil, mas foi necessária por motivos pessoais e profissionais. Sinto uma mistura de emoções: tristeza por deixar um lugar que me deu tantas alegrias e aprendizagens, gratidão por todas as pessoas que conheci e que me ajudaram, saudade por tudo o que vivi e que vou recordar para sempre, esperança por um futuro melhor para mim e para Portugal.

Não sei se algum dia voltarei a Portugal. Talvez como turista, talvez como residente, talvez como amigo. Mas sei que Portugal ficará para sempre no meu coração. Portugal é mais do que um país, é uma parte de mim. Por isso, não digo adeus, mas até sempre. Até sempre, Portugal.

Retirado do Facebook | Mural de Vítor Burity da Silva

UCRÂNIA | Emb. Seixas da Costa, in Observador, 15 de Junho de 2022

«A Ucrânia está ainda muito longe de poder vir a ser um membro da UE e, mais do que isso, não é ainda claro que tenha condições para o poder vir a ser um dia. É impopular dizer isto? Talvez, mas eu digo.» – Emb. Seixas da Costa, in Observador, 15 de Junho de 2022.

Há uns tempos, no início deste conflito, chamámos a atenção para a pobreza e atraso extremos da Ucrânia – o país mais pobre da Europa – e para o facto de os indicadores económicos e de desenvolvimento social do país só encontrarem termo de comparação em países africanos. O estranho, ou nem tanto, é que na Ucrânia – outrora o centro da indústria aeroespacial, das tecnologias de computação, da investigação médica de ponta, da indústria de construção naval e metalurgia da era soviética – o tempo tenha parado em 1991 e que aquele país imenso que foi até 1980 a 5ª economia europeia em termos brutos, estar hoje 40 anos atrasado em relação à Europa ocidental. Desde a independência, o país perdeu 6 milhões de habitantes para a emigração, metade dos quais procuraram refúgio na Rússia.

Para lá das três dezenas de capítulos e das 88.000 páginas de cerradas exigências para o cumprimento das condições, o país é o inferno do trabalho infantil, da indústria da pedofilia, das barrigas de aluguer, do tráfico de carne branca, da desistência escolar e das 200.000 crianças deficientes reduzidas a esconsos pútridos ali chamados orfanatos; o Estado mais negligente da Europa, o mais pobre e violento apontado até 2020 por todos os relatórios da UNICEF, da Human Rights Watch, da Organização Internacional do Trabalho e outros centos de agências internacionais e ONG’s.

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França | 234.º aniversário anos da Tomada da Bastilha | 14 de julho de 1789 | por Carlos Esperança

Contra Luís XVI, contra a nobreza e contra o clero, o rei já tinha sido obrigado a admitir a autoridade da assembleia que viria a chamar-se Assembleia Nacional Constituinte! A invasão da Bastilha e a consequente Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foram o alicerce da fase inicial da Revolução Francesa.

A Tomada da Bastilha, no dia de hoje, em 1789, foi o ato simbólico de uma nova era, o princípio do fim de uma sociedade anacrónica e o rastilho que incendiou a Europa e deu origem às democracias modernas.

Ninguém ousaria prever que a invasão da grande prisão do Estado, pelo jornalista, Camille Desmoulins, se transformaria na referência histórica e emblemática da vitória da burguesia sobre a nobreza, da legitimidade popular sobre o direito divino, e da República sobre a monarquia.

Hoje, dia nacional da França, 234 anos depois, evoco o dia e saúdo a Revolução Francesa.

Viva a República!

Retirado do Facbook | Mural de Carlos Esperança

HERMÍNIO DA SILVA CAPAZ MANHA, 1923-2023 | por João Querido Manha

Faz hoje 100 anos que nasceu, em Minde, o meu pai, Hermínio da Silva Capaz Manha, o Hermínio da Troça na piação dos charais do Ninhou, o Hermínio das Malhas Bebé na história da indústria têxtil, o senhor Hermínio, simplesmente.
O meu “paizinho” – tratamento de íntimo e exclusivo carinho que as novas gerações urbanas substituíram pelo “papá” universal — foi o melhor filho, melhor irmão, melhor marido e melhor pai que conheci. Infelizmente, só me dei conta disso quando senti, como sinto, a falta dele, porque naquele tempo tudo me parecia normal, partia do princípio de que todos os homens “velhos” morriam na sua hora.
Mas, no dia em que faleceu, fui surpreendido por uma frase, dezenas de vezes ouvida naquelas horas de desnorte e sufoco:
“Era tão novo!”

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O MOTIM DE PRIGOZHIN | José Manuel Correia Pinto

Há quem defenda a tese de que o motim do Grupo Wagner, chefiado por Prigozhin, não passou de uma encenação destinada a criar o ambiente que permita ao Kremlin escalar o conflito, seja com nova mobilização de forças, seja mediante a utilização de outros meios e identificação de outros alvos.

Não me parece que esta seja a origem do motim.

Parece-me muito mais aceitável uma explicação mais próxima da realidade conhecida 

O Grupo Wagner, depois da vitória de Bakmut, não mais voltou a ter a autonomia com que até então actuou. Uma autonomia que desagradava às forças armadas convencionais e às chefias militares, estando por isso prevista a sua integração nas forças armadas como forças especiais, desde que os seus combatentes aceitassem ou para os combatentes que aceitassem o regime previsto.

Isto desagradava a Prigozhin  por várias razões. Antes de mais por razões financeiras, mas também pela perda de autonomia e de comando que tal integração acarretaria.

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Estou farto e cansado | Eduardo Marçal Grilo

Estou também indignado com os processos lançados contra pessoas que, quando julgadas, se provou nada terem feito de mal.

Estou farto de ver incompetentes a exercer cargos para os quais não têm qualquer qualificação.

Estou cansado e farto de ver nas televisões o rigor substituído pelo espetáculo. Estou farto de ver muita gente mais interessada em estar do lado do problema do que do lado das soluções. E também estou cansado de ver que em certos casos são eles mesmos o problema. Como também estou cansado dos que gostam mais de destruir do que construir. Estou cansado de ver tanta inveja e tanta vontade de deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja.

Confesso igualmente que estou cansado das notícias sensacionais que duram menos de 24 horas, porque foram forjadas com objetivos inconfessáveis.

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BE apresenta pacote de 14 propostas para combater crise na habitação | Ana Petronilho, 19 Junho 2023 | in ECO

Criar o programa “Habitar para Arrendar”, que permite “às famílias que não conseguem pagar a sua prestação vender a sua hipoteca para um fundo público”, é uma das propostas apresentadas.

Para combater e travar os atuais preços “exorbitantes” na habitação, que cada vez mais são “inacessíveis para a maioria” dos portugueses que vivem nas cidades, o Bloco de Esquerda apresentou um pacote de 14 medidas que, acredita, iriam permitir “reduzir” os valores das casas.

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A Ucrânia pode estar a ficar sem munições. E os seus aliados também | João Guerreiro Rodrigues | 18-06-2023 | in TVI

“O Ocidente não estava preparado em termos de produção militar para este conflito. A Rússia vai à frente e é preciso uma mudança radical política. A base industrial do ocidente é incomparavelmente superior à Rússia, mas é preciso uma decisão. As empresas têm de receber contratos a longo prazo para estimular a produção”, destaca o major-general Agostinho Costa.

Depois da Coreia do Sul ou Israel, os Estados Unidos estão a virar-se para o Japão para tentar garantir o fornecimento de centenas de milhares das tão necessárias munições de 155 milímetros, utilizadas para apoiar a ofensiva ucraniana. Para os especialistas, este gesto, que passou quase despercebido, pode ser indicador de que a indústria militar ocidental pode não ter capacidade de produção necessária e os aliados precisam de procurar cada vez mais fundo em depósitos de terceiros para colmatar essa urgência.

“Corremos o risco de ficar sem munições a curto prazo. O ocidente está a ser lento a reagir e o tempo está a favorecer os russos. A base industrial do ocidente é incomparavelmente superior à Rússia, mas esta preparou-se durante anos. As reservas aliadas não estão bem”, afirma o major-general Agostinho Costa, especialista em assuntos de Segurança.

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Sófia Puschinka | A Leviandade dos experts da nossa Comunicação Social

Muito bem, ontem ouvi uma série de barbaridades e teorias em relação à destruição da barragem de Kakhovka. Várias pessoas já me pediram a opinião, inclusive depois de ouvirem a opinião do Major-General Agostinho Costa embora pela primeira vez não concorde com a opinião do Sr Major-General. Reconheço que a explicação que deu é meramente estratégica e militar, o que podia ganhar a Rússia? Atraso na ofensiva. Mas interessa à Rússia atrasar a ofensiva? Não

A ofensiva já iniciou ao contrário do que diz a Ucrânia, nos dois dias anteriores e durante a ofensiva sofreram baixas pesadas de 2000 homens e a destruição de vário equipamento inclusive 8 Leopards, a Rússia podia querer atrasar se estivesse com dificuldades mas não é o caso, a contra ofensiva Ucrâniana começou e falhou, algo que aos olhos do Ocidente faz cair por terra a teoria que nos impigem há um ano de um lunático cocainado que pede armas para ganhar uma Guerra que, todos sabemos nunca será ganha e entretanto os Europeus andam a ser penhorados.

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ISIDRO, O TAVEIRA DO SÉC.  XXI | Autor Desconhecido | Retirado do Facebook, mural de Sófia Puschinka

Não sou grande coisa para dormir.  Tenho ido aos treinos e tal, mas sou fraquinho.  Isso me traz dois tipos de dissabores na vida.  Desde logo, olheiras imensas que me valem, a cada passagem por Lisboa, uns 3 ou 4 agradáveis ​​”estás com péssimo aspecto”.  É o tipo de gratificação que me aquece a espinha.  O outro dissabor é o de apanhar com 30 minutos da homilia do Isidro logo pela fresca.

 Não sou diretor de informação da CNN mas se tivesse que apostar, diria que o Isidro vai a esta hora porque tem o cachet mais barato e 1h de conversa faz-se por um bolycao e um bongo.  Era o nosso prémio de jogo no Paio Pires FC … bons tempos.

 Por outro lado, em princípio a esta hora ninguém ouve o homem e por isso a propaganda da Nato dissolve-se nos ressonos lusos.

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Bruxelas diz que Portugal mantém desequilíbrios macroeconómicos, mas pode sair dessa situação já no próximo ano | Sónia M. Lourenço in Expresso

Pacote de Primavera da Comissão Europeia mantém Portugal no grupo de países com desequilíbrios macroeconómicos, mas destaca que vulnerabilidades estão a retroceder. Do lado dos avisos, é pedida prudência orçamental e que o Governo acelere a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência e dos fundos de coesão

Portugal pode sair da situação de desequilíbrios macroeconómicos já no próximo ano. Quem o diz é a Comissão Europeia no Pacote de Primavera, publicado esta quarta-feira. Para já, o país mantém-se no grupo dos que registam desequilíbrios macroeconómicos. Mas, a situação portuguesa pode alterar-se – para melhor – já no próximo ano. O documento destaca que entre os países com desequilíbrios macroeconómicos, “as vulnerabilidades estão a retroceder na Alemanha, em Espanha, em França, e em Portugal, de forma que a continuação destas tendências no próximo ano forneceria as bases para uma decisão de não existência de desequilíbrios”.

A confirmar-se a passagem para o grupo de países “sem desequilíbrios macroeconómicos” seria algo inédito. Desde que este instrumento de monitorização preventivo foi criado – após a crise da dívida soberana – que Portugal tem sempre estado no grupo de Estados Membros com desequilíbrios. Durante anos, esteve mesmo no grupo dos países com desequilíbrios macroeconómicos excessivos.

A situação tem-se invertido e o país está entre os que nos últimos anos diminuiu o ratio da dívida, com um alto responsável europeu a elogiar “o longo caminho percorrido por Portugal” para sair da zona vermelha.

Para ler este artigo na íntegra clique aqui

A QUESTÃO DOS REFUGIADOS DA UCRÂNIA | Vizinhos da Ucrânia pressionam Zelensky para buscar a paz enquanto milhões de deslocados fluem para a Europa | by Seymour Hersh

No sábado passado, o Washington Post publicou uma exposição de documentos secretos da inteligência americana mostrando que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, trabalhando nas costas da Casa Branca de Biden, pressionou fortemente no início deste ano por uma série ampliada de ataques com mísseis dentro da Rússia. Os documentos faziam parte de um grande esconderijo de materiais classificados publicados online por um homem alistado da Força Aérea agora sob custódia. Um alto funcionário do governo Biden, solicitado pelo Post para comentar a inteligência recém-revelada, disse que Zelensky nunca violou sua promessa de nunca usar armas americanas para atacar dentro da Rússia. Na visão da Casa Branca, Zelensky não pode errar.

O desejo de Zelensky de levar a guerra para a Rússia pode não ser claro para o presidente e assessores de política externa na Casa Branca, mas é para aqueles na comunidade de inteligência americana que acharam difícil fazer com que sua inteligência e suas avaliações fossem ouvidas em o Salão Oval. Enquanto isso, a matança na cidade de Bakhmut continua. É semelhante em idiotice, se não em número, ao massacre em Verdun e no Somme durante a Primeira Guerra Mundial. poderia servir como um prelúdio para algo permanente. A conversa agora é apenas sobre as possibilidades de uma ofensiva no final da primavera ou no verão por qualquer uma das partes.

Mas algo mais está cozinhando, como alguns na comunidade de inteligência americana sabem e relataram em segredo, por instigação de funcionários do governo em vários níveis na Polônia, Hungria, Lituânia, Estônia, Tchecoslováquia e Letônia. Esses países são todos aliados da Ucrânia e inimigos declarados de Vladimir Putin.

Este grupo é liderado pela Polônia, cuja liderança não teme mais o exército russo porque seu desempenho na Ucrânia deixou em frangalhos o brilho de seu sucesso em Stalingrado durante a Segunda Guerra Mundial. Tem instado discretamente Zelensky a encontrar uma maneira de acabar com a guerra – até mesmo renunciando, se necessário – e permitir que o processo de reconstrução de sua nação comece. Zelensky não se mexe, de acordo com interceptações e outros dados conhecidos dentro da Agência Central de Inteligência, mas começa a perder o apoio privado de seus vizinhos…

CLUBE DE BILDERBERG: O PODER INVISÍVEL QUE GOVERNA | por Paulo Marques

Podia ser uma brincadeira de crianças, do género: vamos brincar aos clubes secretos? Mas não é, porque, embora se trate de um clube semissecreto, é dirigido e frequentado por (uma elite de) adultos, e não se trata propriamente de uma brincadeira uma vez que dele saem importantes decisões a nível mundial, com influência nas opções políticas, sociais e culturais em Portugal, logo, com interferência nas nossas vidas.

História de Bilderberg

A ideia de Bilderberg partiu do diplomata polaco Józef Retinger. Basicamente, Retinger pretendia juntar num encontro anual (durante três dias) alguns dos mais poderosos políticos, monarcas, banqueiros, empresários, militares e académicos da Europa Ocidental e dos EUA com o propósito de combater o comunismo, reforçar as relações atlânticas (entre a Europa e a América do Norte) e unir a Europa Ocidental.

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OS TIRANOS DA PAZ E OS DEMOCRATAS DA GUERRA | Hugo Dionísio

As eleições na Turquia ensinam muito – ou deviam – sobre a percepção popular relativamente às coisas da guerra. Em geral, os povos, as massas trabalhadoras e as suas famílias, não querem guerra ou perigosas confrontações. Exceptuando as lutas pela libertação, os povos apenas querem continuar com as suas vidas em paz, procurando a previsibilidade, a estabilidade e a melhoria gradual das suas condições de vida.

Ora, hoje, aderir à estratégia dos EUA significa precisamente o contrário disto tudo. Como podemos constatar nós próprios, a submissão da EU e dos países que a integram, à estratégica hegemónica dos EUA, apenas nos tem trazido a imprevisibilidade, resultante das constantes sanções que têm efeito boomerang; instabilidade, quer em relação ao estado actual e às previsões futuras para a economia, quer em relação à própria ameaça de guerra, sempre no horizonte; degradação rápida das condições de vida, traduzida numa percepção geral de que tudo está a piorar, sem que se vejam luzes ao fundo do túnel. Algum povo vota para isto?

O que é que justificou tanta propaganda contra Erdogan? O que é que justificou a sua responsabilização directa pelo sismo ocorrido no sul do país? O que é que justificou uma cobertura mediática ocidental, sem precedentes, relativamente às eleições turcas? O que justifica tais ingerências nas eleições turcas, no fundo, é a mesma causa que justifica a ingerência nas demais eleições e os inúmeros golpes de estado – militares ou civis – “democraticamente” instaurados pelos EUA. Trata-se da integração do país – neste caso da Turquia – no quadro da relação de forças que se estabelece entre os EUA e o sul global, em especial, a Rússia, mas não só.

A preocupação dos EUA é tão grande que leva uma comentadora da CNN Portugal a dizer “era importante a Turquia ficar com uma democracia verdadeira”. Leia-se: democracia pró-ocidental, o que neste momento é muito perigoso e danoso para quem o faz.

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O dia da Europa | A Europa somos nós | Carlos Esperança

9 de Maio de 2023

Quando a Europa parece condenada a mergulhar no entardecer, esquecida do Renascimento, do Iluminismo, da Revolução Francesa e das raízes greco-romanas que lhe moldaram o carácter e a trouxeram à vanguarda da civilização, é altura de celebrarmos os princípios humanistas, democráticos e fraternos que, embora debilitados, ainda subsistem.

Instituído em 1985, o Dia da Europa celebra a proposta do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês Robert Schuman, que, a 9 de maio de 1950, cinco anos depois do fim da II Guerra Mundial propôs a criação de uma Comunidade do Carvão e do Aço Europeia, precursora da atual União Europeia.

Discordo dos que são contra a União Europeia, reconhecendo-lhes o direito, e também dos que dizem, Europa sim, mas não esta, como se não pudesse haver outra dentro desta, com o urgente aprofundamento da integração económica, social, política e militar, que permitisse reduzir as diferenças entre os países e dentro de cada um deles.

Se a Europa é hoje um espaço conservador e neoliberal, com sinais ainda piores no horizonte, não é culpa da UE, mas dos eleitores dos países que a integram e cujo voto merece respeito pelo melhor que nos resta, a liberdade de expressão, num mundo que parece abdicar dela e da civilização.

Depois da saída do Reino Unido, a maior potência militar e a segunda economia da UE, na angústia que os movimentos neofascistas lançam, é dever dos europeístas defender as suas convicções, certos de que a desintegração da UE é o caminho mais rápido de novas ditaduras e da irrelevância da Europa, esmagada na luta geoestratégica sino-americana, sem qualquer poder político, económico, militar ou diplomático.

Quero a Europa mais unida e integrada e, como moeda, o euro. Pode ter sido um erro aderir à moeda única, mas seria bem pior sair, era saltar de um comboio em alta velocidade.

Não deixemos que sejam os EUA a impor opções comerciais e políticas à UE, com a China, Médio Oriente ou qualquer outro espaço geopolítico ou país. Sejamos nós, europeus, a negociar o nosso destino comum e a defender a Europa de se tornar um satélite dos blocos que se digladiam.

Na mitologia, Zeus, pai dos deuses, raptou-a para a amar e fecundar. Hoje há quem pretenda fecundá-la, sem a amar, com o poder das armas e do dólar, desejoso de a violar.

O Rapto da Europa (Óleo sobre tela) – Rubens – Museu do Prado