Carta de Julian Assange ao rei Carlos III

À Sua Majestade Rei Carlos III,

No momento da coroação do meu soberano, achei por bem fazer-vos um convite sincero para comemorar este importante evento visitando o vosso próprio reino dentro de um reino:  a prisão de Belmarsh de Vossa Majestade.

Sem dúvida recordareis as sábias palavras de um famoso dramaturgo:   “A qualidade da misericórdia não é imposta. Ela cai como a suave chuva do céu sobre os lugares abaixo”.

Ah, mas o que saberia aquele bardo de misericórdia diante do acerto de contas no alvorecer do vosso histórico reinado? Afinal, pode-se verdadeiramente conhecer a medida de uma sociedade pelo modo como trata os seus prisioneiros, e o vosso reino certamente esmerou-se a este respeito.

A Prisão de Belmarsh de Vossa Majestade situa-se na prestigiada morada de One Western Way, em Londres, apenas a uma curta distância do Old Royal Naval College, em Greenwich. Quão deleitoso deve ser ter um estabelecimento tão estimado a portar o vosso nome.

“Pode-se verdadeiramente conhecer uma sociedade pelo modo como trata os seus prisioneiros”.

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DiEM25 tem um plano para restabelecer a paz na Ucrânia

Enquanto a guerra na Ucrânia continua, não temos estado apenas nas ruas a exigir o fim deste derrame de sangue. No espírito da democracia, e das políticas realistas – mas também radicais – que guiam o DiEM25, perguntámos aos nossos membros: qual deve ser a nossa proposta para a paz na Ucrânia?

Agora, depois de muita discussão interna e de uma votação de todos os membros, temos uma resposta. O nosso plano de paz com cinco pontos exige:

  • Um cessar-fogo imediato, seguido de uma retirada das tropas russas de acordo com as linhas fronteiriças anteriores à guerra;
  • A criação de uma zona totalmente desmilitarizada, que se estenda por 200 km de cada lado dessas linhas fronteiriças;
  • Um protocolo de não-agressão, baseado no reconhecimento de que a Ucrânia é um país soberano e neutro, que não permite armas nucleares no seu território;
  • Uma estrutura de governação para as áreas do leste e sul da Ucrânia com base no Acordo de Belfast na Irlanda do Norte; *ver URL da wikipedia
  • Todas as partes concordam em remeter as disputas pendentes a negociações mediadas pela ONU.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Belfast

Agora vem a parte difícil: a construção de um movimento e a organização da sociedade civil por toda a Europa, para tornar esta paz numa realidade.

O DiEM25 e os nossos partidos políticos estão prontos para fazer justamente isso. Este sábado vai nascer mais um partido nacional cujos estatutos e programa político foram também aprovados transnacionalmente pelos nossos membros em toda a Europa: O MERA25 Itália.

Se estiveres em Roma no dia 12 de Novembro, junta-te a nós no Acquario Romano às 11h00 para um evento de lançamento especial com Yanis Varoufakis, organizações da sociedade civil italiana, e DiEMers de toda a Itália e Europa.

Se não estiveres em Roma, podes sempre contribuir para este novo passo do movimento, fazendo uma doação.

Carpe DiEM!

Lucas | Diretor de Comunicação do DiEM25

Certamente! | Domingo, 31 de janeiro de 2021 | Paulo Querido

Domingo, 31 de janeiro de 2021

Hoje abordo o caso das vacinas sobrantes na perspetiva não política e a terceira onda de choque das presidenciais, que está a molhar PS e BE. Também retomo as sugestões, que vão ter um novo figurino: nuns dias, como é o caso de hoje, é uma série em streaming, noutros dias será um livro, noutros ainda uma newsletter, ocasionalmente um podcast.

É também dia de dar as boas vindas a um grande número de novos subscritores, o maior desde que o diário começou em meados de outubro último: bem vind@s!

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Lavinia Fontana[ Capa 6 de 7 da série Pintura no feminino, escolhida por Ana Roque. ]Próxima série: A fabulosa mão de Vasco Gargalo

LER AQUI

https://paulo.querido.net/#diario

Certamente! | Paulo Querido

Sábado, 30 de janeiro de 2021
Hoje no diário: a direita mostra-se entre um disco riscado e uma pescadinha de rabo na boca, com as mesmas pessoas e os mesmos tiques e as mesmas respostas quando o mundo é outro. Tem tudo para correr mal. O Bloco digeriu bem as presidenciais e Catarina, a Realista, dá uma lição de damage control. Passo os dedos pelo anúncio da central nuclear chinesa. E antes das opiniões e do linklog ainda falo das mudanças no diário, que ficou mais legível (espero).
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Mary Cassatt[ Capa 5 de 7 da série Pintura no feminino, escolhida por Ana Roque. ]

Pedro Santana Lopes meteu-se hoje na fila dos que pedem um “governo de emergência nacional”. Rui Rio lidera a fila pelos políticos. Miguel Sousa Tavares lidera a fila pelos comentadores. Tanto vai ser dito sobre isto. Eu só leio e oiço: “vem aí uma pipa de massa, a maior pipa de massa de que há memória, e não há ninguém do centro-direita e da direita lá nos sítios onde a massa se distribui, pá, não há direito, e pelos votos não vamos lá nem daqui a três anos 😦 😦 😦 ”. Consegues ler mais do que isto? Diz-me o quê.
Francamente? Seriamente? Também se arranja. O partido no Governo tem 40% de intenções de voto, mais que toda a oposição de direita somada. Saímos de umas eleições em que o bloco Governo + Presidente registou uma votação superior a 85% dos votos expressos. Emergência? A única coisa da política em estado de emergência é o PSD. Não é um governo de emergência nacional que o laranjal pede: é um governo de salvação dos dirigentes do PSD. Digo dos dirigentes porque as clientelas do PSD, essas, estão cobertas.
Mais de Santana: quer o adiamento das eleições autárquicas! E quer ser candidato a presidente de câmara pelo seu antigo partido, não pelo novo que fundou. Não é claro que câmara — mas isso é o que menos importa.
Bem, ao menos os regressos de Santana Lopes e Adolfo Mesquita Nunes são uma benção pelo que vieram dar aos media. Jornalistas e pivôs podem descansar um dia ou dois dos seus flirts com a extrema-direita. E nós temos menos vezes a cara de Ventura nas televisões e primeiras páginas da imprensa.

¶E por falar em Adolfo Mesquita Nunes: “
se não conseguir ser eleito, não me voltarei a candidatar”, ameaçou. E o seu maior não-adversário, Nuno Melo, disse algo como se não houver mais ninguém, eu sou candidato. Mas isso é o menos, o pior é assumir que tem a capacidade de unir o partido.(pausa para rirmos todos à gargalhada.)(outra pausa para continuarmos a rir mais uns minutos.)Entretanto um antigo presidente do CDS, José Ribeiro e Castro, veio a terreiro acusar os críticos de abrirem uma “crise artificial” e considera que “há premeditação” no “ataque” à liderança de Francisco Rodrigues dos Santos. É o que se chama descobrir a pólvora. Claro que há premeditação: AMN escreveu com clareza, respondeu com clareza e não podia ter sido mais explícito acerca da premeditação!
Abençoado CDS! O momento era tão menos divertido sem os seus fantasmas às voltas nos media!

¶Do outro lado do arco, a coordenadora do Bloco de Esquerda admitiu este sábado que a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de domingo pode ser explicada com a transferência de votos do eleitorado da esquerda para o atual Presidente. Os eleitores socialistas e dos “partidos à esquerda do PS” foram “a força que quis esta estabilidade de uma vitória folgada à primeira volta de Marcelo Rebelo de Sousa”, disse Catarina Martins no final de uma reunião da Mesa Nacional para analisar os resultados das presidenciais.
Chama-se a isto estratégia de contenção de danos. Da boa. Daquela que o PS não tem.
Por acaso é verdade. Todas as análises sérias dos votos dizem o mesmo. Marcelo foi reeleito pelo eleitorado de esquerda, enquanto o eleitorado de direita expressou com clareza algo que Marcelo já sabia há algum tempo: o seu partido tem vindo a distanciar-se do centro onde ele, Marcelo, nunca deixou de estar, como aliás outros dos poucos sociais-democratas do PSD, e hoje são quase estranhos. As contas eleitorais da direita estão muito complicadas. E por ali a insistência é clara: de governos de salvação nacional a alianças com a extrema-direita anti-democrática vale tudo, menos ser sensato e olhar para o centro.
Mas a verdade pouco importa em política. Bom, mesmo, é ver o Bloco no caminho da reconciliação. O erro do voto no OE foi pago com juros pesados, mas está pagoNext.

¶Do outro lado do planeta e a 180º da política indígena: a agência noticiosa Xinhua noticiou o início hoje da operação comercial do primeiro reator nuclear desenvolvido pela China, o Hualong One.
A central de Fuqing, no sudeste da China, vai gerar dez mil milhões de quilowatts/hora (kWh) de eletricidade por ano, o que permite à China reduzindo as emissões anuais de dióxido de carbono em 8,2 milhões de toneladas.
Porque é importante?Há 45 anos tinha o meu crachá “nuclear não, obrigado!” Em quatro décadas a indústria nuclear evoluiu imenso. Gradualmente fui trocando a oposição convicta por uma atitude crítica. E com atenção especial à tecnologia. Este evento é importante por dois motivos:
o primeiro diz respeito à China, que conquista uma emancipação especial pois este, que equipa a 48ª central nuclear do país, é o primeiro reator não importado, com tecnologia made in China;
o segundo, porque se trata de uma nova geração de reatores que tem maior segurança e eficácia. Espera-se desta geração um contributo importante para reduzir as emissões de carbono.
A China não muda para já a sua terceira posição na lista dos países com maior número de centrais nucleares, mas as posições poderão inverter-se nos próximos anos. As centrais nucleares chinesas forneciam apenas 5% das necessidades de energia elétrica do país em 2019, mas a cota aumentará com o objetivo da China de alcançar a neutralidade nas emissões de carbono até 2060.¶No diário de ontem introduzi algumas alterações.

O método de produção foi bastante melhorado, produzo agora a newsletter em menos 25% do tempo. E aumentei as capacidades do ente digital Cecil, encarregue dos automatismos e outras tarefas. Mas foi ao nível gráfico que tu deste pela coisa. Nas opiniões, em vez dos títulos — a maioria das vezes maus ou inexpressivos — passei a incluir uma citação d@s autor@s. Mais sumo para melhor decisão sobre o que ler.

Hoje mudei a separação dos blocos de texto, ou assuntos. A numeração não me satisfazia, era um pouco agressiva ao olhar. O separador novo tem mais espaço branco envolvente, é menos agressivo, mais conservador — ganho em estética o que perco em dinâmica.Simplificar e aumentar a legibilidade é o objetivo.

Em breve regressará a sugestão de livros — de permeio com sugestões de newsletters, filmes e séries disponíveis em streaming, dando resposta aos assinantes que responderam ao meu pedido de sugestões nesse âmbito. Será na semana que entra, se tudo correr bem.
OPINIÕES
José Pacheco Pereira: “Todas as vantagens do analógico sobre o digital podem ser exploradas, e mesmo que alguém diga que tudo isto pode ser feito online, o online não chega às portas de um supermercado, ou às mãos dos polícias, não se dobra e mete no bolso, ou se leva num comboio de regresso do matinal trabalho das limpezas, e acima de tudo não se leva para casa, nem se lê devagar, nem se colecciona, não é da nossa dimensão física.”   // Público ($)
Bernardo Pires de Lima: “Talvez por ser um tema fundamental, passou ao lado da nossa imprensa. E é pena, porque o assunto interessa-lhe diretamente. Nos últimos dias, deram-se significativos avanços internacionais no cerco às grandes empresas tecnológicas, sobretudo no domínio fiscal, no qual operam continuamente à margem, numa zona de privilégios acumulados sem ponta de vergonha, privando os Estados e as sociedades onde deveriam ser tributadas de recursos financeiros e de um exercício de justiça fiscal indispensável à saúde do capitalismo e das democracias.”   // DiárioDeNotícias
Manuel Carvalho da Silva: “Os poderes dominantes querem fazer da gestão da pandemia uma oportunidade para executar os seus programas e tolher o futuro. Acelera-se a concentração da riqueza, o domínio de grandes plataformas e grupos empresariais sobre a estrutura da economia. O setor financeiro impõe-se e o chairman e diretor não-executivo da Goldman Sachs, indivíduo comprometido com a geopolítica da “economia que mata”, é o presidente da Aliança Global para as Vacinas. Os jovens estão a ser muito sacrificados, mas não há sinais de políticas novas que os venham a beneficiar.”   // JornalDeNotícias
Sandra Cunha: “Perante a dureza destes números e a crueza das mortes, não se percebe a resistência do governo em ativar o instrumento, previsto no Estado de Emergência, que permitiria aliviar a pressão sobre o SNS e que é a requisição civil dos privados da saúde. Permitiria, certamente tratar melhor e quem sabe salvar mais algumas vidas.”   // Esquerda
Eduardo Pitta: “Miguel Sousa Tavares glosa o tema em tom heróico. Chegou a hora, diz ele, do Presidente da República substituir o Governo de António Costa por um de iniciativa presidencial, «sem dissolver o Parlamento, sem necessariamente despedir todo o elenco do actual Governo…», apenas metade dos ministros, aqueles que «não fazem nada ou só atrapalham…» Um tal governo seria para governar «enquanto durar esta situação de catástrofe pública.» Vindo da boca de quem quem — além de jornalista, MST é advogado —, o dislate tem de ser associado a liberdade poética.”   // DaLiteratura
Viriato Soromenho Marques: “A tragédia portuguesa é de tal magnitude que as responsabilidades serão mais tarde ou mais cedo apuradas. Haverá teses académicas, estudos, obras de ficção. A maioria delas será produzida por autores estrangeiros. O colapso luso entrará, pela negativa, nos livros de estudo e nos manuais de Saúde Pública de todo o mundo. Da nossa amarga experiência será extraída uma sabedoria negativa, de alcance universal, sobre esta queda numa hemorragia demográfica sem paralelo desde a gripe espanhola de 1918-1919. Mas as contas e os estudos ficarão para depois.”   // Diário de Notícias 
LINKLOGNo, WallStreetBets isn’t robbing Wall Street to help the little guy. Analysis: A seductive “short squeeze” narrative obscures what’s really happening.  // Ars Technica 🇬🇧
Ce que cachent les passages noircis du contrat passé entre l’UE et AstraZeneca. La Commission européenne pensait avoir masqué les passages confidentiels du contrat passé avec le laboratoire anglo-suédois pour son vaccin anti-Covid. Mais une astuce permet de découvrir le montant du contrat.  // Libération ($) 🇫🇷
A new report by Corporate Europe Observatory clearly shows neoliberal reforms weakened public healthcare systems all over Europe, with dramatic consequences in terms of Covid-19 death, disability rates, and many other social impacts.  // EUObserver 🇬🇧
Prevent the Next Food Crisis Now. The number of chronically hungry people increased by an estimated 130 million last year, to more than 800 million – about eight times the total number of COVID-19 cases to date.  // ProjectSyndicate 🇬🇧
Caos, más trámites e incertidumbre, los efectos del brexit en el comercio de Reino Unido  // Público 🇪🇸
La transformación que ha sufrido la Tierra desde mediados del siglo XX está siendo brutal  // ctxt 🇪🇸
Acid rain is yesterday’s news? Acid rain seems to be a thing of the past, yet sulphate continues to rise in many inland waters worldwide. Researchers led by IGB and the Danish University of Aarhus provide an overview of the sources of sulphate and its effects on freshwater ecosystems. They point out that the negative consequences for ecosystems and drinking water production have so far only been perceived regionally and recommend that sulfate be given greater consideration in legal environmental standards.  // IGB 🇬🇧 
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DA MEDIOCRIDADE NECESSÁRIA | António Lobo Antunes

“A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores. Desconhecemos até os nossos grandes homens: quem leu Camões por exemplo? Quase ninguém. Quem sabe alguma coisa sobre Afonso de Albuquerque? Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza.

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MA JOLIE MÔME , DEIXOU-ME | Júlio Isidro

Desculpem-me mas vou falar na primeira pessoa .
Juliette Greco era e continuará a ser uma paixão minha, sempre presente nos sonhos irrealizáveis de Paris nos anos 40, 50 por onde não andei porque as crianças não se podem perder nas ruas misteriosas e encantatórias da cidade -luz.

Aos 18 anos, sozinho em Paris, procurei os lugares da Diva de Negro na margem esquerda, à procura do Tabou ou do L’oeil de Boeuf espaços de cultura, amor e pecado onde a voz dos poetas cantava “Je suis comme je suis” e convivia com Camus, Boris Vian, Jean Cocteau ou Sartre que dela disse: – A voz da Greco tem milhões de poemas que ainda não foram escritos.

O menino tímido, ficou à porta do calor húmido de Chez Barbara, porque aqueles abraços e beijos de paixões aquecidas a Calvados ou Créme de Cassis, me inibiram.
Maldita educação/ domesticação trazida do país dos “bons costumes”.

Tantas vezes adormeci a ouvir Juliette a cantar Désabillez-moi e sonhei que cruzava os dedos naquela mão branca de mármore desta mulher de tantas canções e quase tantos amores.

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VERDES ANOS | MEMÓRIA DE PORTUGAL EM DIA CINZENTO NOS TRÓPICOS | Carlos Fino

O tempo por aqui, hoje, está encoberto; faz até um friozinho pouco habitual nestas paragens tropicais, quase sempre bem mais cálidas. Talvez por isso – vá lá saber os mecanismos por que se rege a memória – vi-me de repente transportado para o cinzento Portugal de antes do 25 de Abril.

Estávamos em 1971 e a agitação estudantil, cada vez mais intensa, abalava as universidades. Compreendia-se porquê: a guerra nas colónias era uma realidade omnipresente que nos afetava a todos. Quem passasse de ano podia concluir os cursos antes de ir para a tropa, mas no final, o destino estava marcado: missão no ultramar depois de uns sumários meses de instrução militar, adiando – com perigo de morte – o ingresso na vida profissional.

Eu tinha 23 anos e fazia parte dos quadros associativos, tendo até integrado uma direção da Associação Académica de Direito, juntamente com o João Soares, o Luís Pinheiro de Almeida, o João Arsénio Nunes e o Duarte Teives. Na sequência de um movimento de greve às aulas que percorreu a cidade universitária, a repressão intensificou-se, com a PIDE à caça dos dirigentes associativos. A brigada dirigida pelo inspector Passos entrou na minha casa, em Castanheira do Ribatejo, às seis da manhã – fez buscas, levou livros, mas não me apanhou. Por precaução, ficava já então em Lisboa, só indo a casa de vez em quando ver a família e mudar de roupa.

A partir daí, porém, até esse simulacro de normalidade mudou. Com a PIDE no encalço, na perspectiva de ser preso, torturado e condenado, tendo depois de fazer a guerra, não tinha outro remédio que não fosse sair do país.
Mas a onda repressivoa era tão intensa (muitos dos meus companheiros da altura foram presos e condenados), que qualquer movimento nesse período seria facilmente detetado. Por isso, durante três meses consecutivos, fiquei retido, sem sair, num andar no Areeiro, à espera que as coisas acalmassem.
Foram dias inquietantes. Quando via da janela alguém parado no passeio em frente, logo suspeitava que era PIDE, perdendo a calma e temendo o pior.

Os momentos mais sossegados eram as refeições: pai e filho que generosa e corajosamente me albergavam mandavam vir as refeições, em marmita, de um pequeno restaurante das imediações, que partilhávamos depois ao som de música revolucionária tocada num velho gira-discos (não riam – esse era o espírito do tempo…) que ouvíamos, baixinho, não fosse alguém desconfiar e denunciar-nos. Havia um pouco de tudo – desde canções da resistência francesa ao coro do Exército Vermelho, passando pelas mais melodiosas canções cubanas, de que uma ficou para sempre na minha memória, tantas vezes a escutávamos: Hasta Siempre Comandante Che Guevara. Uma cena digna de filme, entre o surreal e o dramático, em fundo de opressão política, tortura e guerra.

Carlos Fino

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Fino 

CRÓNICAS DA MEMÓRIA 2 – Primeira Comunhão | Carlos Esperança

Meio século depois, vêm-me à memória as doces catequistas da minha infância. A menina Aurora e a sua Tia Ricardina ambas solteiras de muitos anos e beatas de quase tantos outros. Lembro-me do fervor com que me ensinaram a odiar os judeus porque mataram Cristo, os maçons porque perseguiam a igreja e os comunistas porque eram ateus. Recordo o entusiasmo que punham nas orações para que Deus iluminasse os nossos governantes e lhes desse longa vida, apelos ouvidos apenas no que diz respeito à segunda parte.

Nas aulas de doutrina explicavam-me a cor do firmamento, ao pôr do sol, como sendo o sinal de que os comunistas iam matar os cristãos, conforme a Irmã Lúcia tinha revelado, e eu, tão estúpido, que não deixava de ser cristão, com maior medo do Inferno e das suas labaredas, onde apenas se ouviam gritos e ranger de dentes, do que da morte que os ditos comunistas me preparavam.

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AO ENGANO | Miguel Vale de Almeida

Os partidos da extrema-direita populista mobilizam o ressentimento contra as elites políticas e culturais, mas deixam incólumes as elites económicas e financeiras.

Na realidade, agem a favor delas (veja-se a proposta fiscal do Chega) e são muitas vezes apoiados e financiados secretamente por elas.

O sentimento anti-corrupção é encaminhado para os escândalos revelados pelo escrutínio jornalístico e judicial, mas este raramente chega ao verdadeiro poder, o económico e financeiro, dado o seu poder e complexidade. E quando chega, as lideranças desses partidos evitam falar desses casos (é o BES uma causa central do Chega? Não).

Muitas vezes até trabalham para eles, como acontece com o caso português recente. A estratégia é deslegitimar a democracia e abrir mais caminho para a impunidade dos verdadeiros poderes. Em suma: a grande habilidade de Ventura é enganar os seus apoiantes, desviar o alvo da sua revolta.

Miguel Vale de Almeida

Retirado do Facebook | Mural de Miguel Vale de Almeida

Uma estratégia para vencer a crise | Henrique Neto

É de prever, sem margem para grandes dúvidas, uma grave crise económica, financeira e social no nosso próximo futuro. Razão porque as decisões a assumir pelo Governo e pelas oposições e a correcção dos investimentos a realizar, assumem uma importância determinante, sem margem para mais erros. O texto encomendado pelo Governo ao Dr. António Costa Silva resultou num catálogo de ideias, que não apresentam uma estratégia coerente, nem faz as escolhas necessárias.
Uma estratégia nacional
Foi no ano de 2003 que trabalhei com o Professor Veiga Simão e o Dr. Jaime Lacerda numa síntese estratégica que foi publicada pela AIP como parte do documento que ficou conhecido como a Carta Magna da Competitividade. Síntese que se baseou na experiência japonesa de 1946 de concisão e que resultou no seguinte:

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CRÓNICAS DA MEMÓRIA 1 – A prisão do Patacho | Carlos Esperança

Corria o Ano da Graça de 1961. A Covilhã vivia mais uma crise dos lanifícios, daquelas que ciclicamente lhe batiam à porta, que atirava inúmeros operários para o desemprego e os fazia regressar às aldeias de origem a que tinham ficado vinculados pela courela que sempre teimaram em amanhar nos dias de folga.
Os carros de luxo eram o mais evidente sinal exterior de riqueza que camuflava a falência que se avizinhava na fábrica do proprietário. O jogo era a perdição de muitos e o sonho de riqueza nunca realizado de quase todos. Pululavam os casinos clandestinos onde se perdiam fortunas e aconteciam desgraças cujo eco chegava às conversas sussurradas em surdina no Largo do Pelourinho e no Café Montalto.

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A eutanásia e o referendo – Sou contra o referendo | Carlos Esperança

Para não complicar a discussão cuja decisão envolve a vivência, sensibilidade e crenças de cada um, evito a distinção entre eutanásia, suicídio assistido e distanásia para fazer a pergunta que importa: decidir a morte sem sofrimento é um direito individual ou crime?
A resposta é perturbada pelo ruído mediático recuperado da discussão do direito à IVG, capaz de impedir a reflexão serena e de intimidar a tomada de posição a favor ou contra. E dela depende a descriminalização de quem prestar auxílio a quem decida morrer.
A vida é um direito que a direita religiosa impõe como obrigação. Ninguém é obrigado a pedir, para si, uma ‘morte doce’, mas o que está na lei atual, na tentativa de contrariar o direito individual, é a proibição a todos daquilo a que ninguém será obrigado.

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O intrigante caso Navalny | Carlos Branco, Major-general e Investigador do IPRI-NOVA | in Jornal Económico

Segundo o governo alemão, o político russo pró-ocidental Alexei Navalny foi envenenado com “Novichok”, uma substância neurotóxica. Políticos e comunicação social (OCS) ocidentais, sobretudo na Alemanha, apontaram unanimemente e sem reservas Putin como o mandante do envenenamento. Altos dirigentes alemães subiram a parada e acusaram o “sistema de Putin” de ser um “regime agressivo, sem escrúpulos que recorre à força para impor os seus interesses por meios violentos desrespeitando as boas normas de comportamento internacional.

Embora não disponha de informação privilegiada sobre o assunto, não posso deixar de considerar intrigante o acontecimento e os desenvolvimentos que se seguiram. É preocupante a ausência de interrogações sobre algo tão perturbador cujo momento em que ocorre sugere, independentemente de quem estiver por detrás, uma operação política de alto calibre.

Quando nos interrogarmos sobre quem poderia ter sido o mentor do envenenamento surgem três suspeitos, mas apenas dois têm a ganhar: o grupo de oligarcas apoiados pelos EUA, que se opõe a Putin e defende o desmembramento e a regionalização da Rússia, agências de espionagem estrangeiras e o próprio Putin. Não podem ser deixados de fora os inimigos internos do Kremlin, nomeadamente o grupo de oligarcas que compete com Putin, empenhado em o desacreditar. Navalny tem relações com esses grupos e ligações a grupos organizados de extrema-direita.

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Amar e ser amado | Carlos Esperança

Amar e ser amado

Sabem lá os trogloditas o que é amar, o que é a sedução mútua entre iguais, o que é um barco que navega o mar, sem a quilha magoar as águas que se abrem para o acariciar!

Eles sabem lá o que é o amor entre pessoas livres! Ignoram a beleza da rosa, o perfume que exala, o deleite de descobrir, pétala a pétala, o androceu e o gineceu dos corpos que se fundem na dádiva recíproca do amor que só a liberdade consente!

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Manifesto | Por uma recuperação económica transparente e participada | in Revista Sábado

08-09-2020 | Signatários pedem criação de mecanismos que permitam a participação dos cidadãos na recuperação de Portugal face aos impactos da pandemia de Covid-19.

A crise pandémica que o mundo está a viver criou ou agravou profundos problemas económicos e sociais, impondo aos Estados e às sociedades a urgência de mobilizar investimento público e privado para a recuperação económica.

Em Portugal, este esforço de recuperação mobilizará muitos recursos nacionais assegurados pelos cidadãos, através do pagamento dos seus impostos, complementados com fundos significativos do plano de recuperação da União Europeia e do orçamento europeu para o período 2021-2027.

A gestão destes recursos impõe ao Estado e à sociedade portuguesa uma enorme responsabilidade na condução de um programa eficaz de auxílio às famílias, aos trabalhadores e aos setores de atividade mais afetados pela pandemia, bem como à reestruturação e relançamento da economia portuguesa. O sucesso deste programa só se alcançará com o compromisso e o contributo de todos, desde os órgãos de soberania aos partidos políticos, à Administração Pública e à sociedade civil.

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A falta que Ana Gomes nos faz | Henrique Monteiro in Jornal Expresso de 09/09/2020

“A falta que Ana Gomes nos faz.
A ex-deputada europeia do PS decidiu que se candidata à presidência da República e anuncia-o formalmente já esta quinta-feira, depois de ter informado, terça-feira, através do ‘Público’, a sua disponibilidade. É um bom sinal para a democracia portuguesa, independentemente da dimensão do apoio que venha a ter
Penso que não terei de gastar muitas linhas a explicar muito do que me separa, politicamente, de Ana Gomes. Ao contrário, permitam-me que gaste algumas a dizer o que me une.
Em primeiro lugar, o espírito de liberdade, de não termos de ser politicamente corretos nem fiéis a um dogma emanado por quem quer que seja, incluindo secretários-gerais de partidos. Depois, a enorme vontade de combater a corrupção e os males que afetam as democracias, para melhor as defender. E o espírito de ser do contra que, concedo, nem sempre é justo e operativo, mas que tem como recompensa estimular o debate público.

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AVANTE | Tiago Salazar

AVANTE I Se nos víssemos como os outros nos vêem ficaríamos arrepiados, ou talvez irados, furiosos, prontos para a guerra. E vice-versa. Mas é neste vice-versa que há todo o Trabalho a fazer. Por estes dias sombrios, o PCP é “julgado” pelos seus actos públicos. É gozado pela sua festa ao arrepio da sanha do distanciamento social.

Tenho memória de um político à Lincoln, digamos assim, ou como imaginamos o pai fundador da América moderna. Chamava-se Manuel Gírio, era comunista afectivo de matriz cristã e seguidor do deus do esparguete, e nunca ocupou um cargo público notável. Foi dramaturgo e poeta mais do que tudo, como o defunto Vaclav Havel. Agora, nesta hora de suspense pandémico, esperamos um Messias goês, um dirigente com nome e feições e bravura de índio, um padre lírico ou um corajoso activista? Eu espero duas ou três coisas de um governo, governante ou líder, para me sentir pacificado com a ideia de nação valente, e voltar a ter esperança na ressurreição da ideia de pátria, além de me contentar com os gozos da língua e da escrita. Uma delas é simples: derrubar a ditadura mental.

Retirado do Facebook | Mural de Tiago Salazar

II – CARTAZES | Jovem Conservador de Direita

Estou profundamente desiludido com esta cedência da JSD ao bullying betofóbico que denunciei na minha última publicação. Isto é e renúncia a um dos elementos fundamentais da identidade da JSD: o caqui. Substituir calças caqui por calças de ganga é um golpe na dignidade indumentária da direita. As calças de ganga são populares entre a esquerda porque não se nota quando não são lavadas. Uma pessoa que veste caqui está a exibir a sua higiene e limpeza moral. Usar calças beige é uma metáfora para a nossa forma de estar na política. Não são completamente brancas, porque não somos fundamentalistas nem queremos parecer que andamos em boys band. São beige, porque deixam algum espaço cromático para cinzentos morais, inevitáveis neste Mundo complexo, mas ainda assim com pureza moral quanto baste para salvar a sociedade da perversão da esquerda.

Esta atitude lamentável da JSD demonstra que, basta a esquerda querer, que conseguirá fazer qualquer dirigente da JSD usar rastas e crocs via bullying. Estou a imaginar no futuro um destes jovens a trocar o fato e gravata por roupa de palhaço só para a Dra. Catarina Martins não se rir deles. São estas jovens que queremos a impor austeridade no futuro? Não esperava isto da JSD, uma instituição que já teve líderes tão carismáticos como alguns dos quais agora não me lembro.

O outdoor continua excelente. A troca de calças é que é uma das maiores desilusões da minha vida. Não se negoceia com terroristas betofóbicos que oprimem pessoas só porque transmitem uma imagem de sucesso.

Estejam atentos que, ainda hoje, sairão novidades sobre o tão esperado número 2 da Le Docteur sobre educação, onde, entre outras coisas, falo sobre os perigos da betofobia.

Jovem Conservador de Direita

Retirado do Facebook | Mural do Jovem Conservador de Direita

I – CARTAZES | Jovem Conservador de Direita

Excelente iniciativa destes jovens da JSD. Finalmente uma fotografia de jovens da JSD em que os seus dirigentes parecem mesmo jovens, porque estão de máscara e não se vêem as rugas. Estes guerreiros vestiram as suas armaduras de combatentes contra o comunismo, calças beige e camisa para os generais e pólo para os estagiários, e içaram um cartaz em frente à festa do Avante.

Tenho visto muitos ataques betofóbicos a propósito desta imagem e é muito triste que haja pessoas a serem discriminadas por terem aspecto de quem tem sucesso. A betofobia poderá ter efeitos gravíssimos: se continuarem a hostilizar assim pessoas que se vestem bem, poderá chegar um dia em que não conseguiremos distinguir um homem de sucesso de um sem-abrigo. E poderá levar a situações absurdas que nos levem a fazer networking com alguém que não vale a pena, porque toda a gente se veste de forma proteger-se de ataques betofóbicos. Por acaso, o tema da betofobia será abordado com mais profundidade no número 2 da Le Docteur que será anunciado este fim de semana.

Muitas pessoas acusam-nos de sermos incoerentes por termos defendido o fim do confinamento pelo bem da economia e agora sermos contra um evento. Isso é ridículo. Temos de saber analisar as diferenças. Uma pessoa que apanhe covid na feira do livro, em Fátima ou no grande prémio de F1 é um dano colateral infeliz da necessidade imperiosa de abrir a economia. Uma pessoa que apanhe no Avante é mais uma entre milhões de vítimas do comunismo. Apanhar covid pela economia é um acto heróico, mas, como liberais, temos o dever de evitar ao máximo as vítimas do comunismo.

É claro que, apesar de tudo, o comunismo continua a ser a pior doença que se pode apanhar na Festa do Avante. E a festa do Avante até pode ter pontos positivos, já que, se correr mal, pode ser uma excelente oportunidade para derrotar o comunismo de vez. Em vez de pendurarem cartazes, os jovens da JSD podiam apanhar covid e iam para a festa do Avante começar um surto. Temos de combater o comunismo a todo o custo, nem que tenhamos de usar jovens da JSD como armas biológicas.

Jovem Conservador de Direita

Retirado do Facebook | Mural do Jovem Conservador de Direita

Intolerância | Carlos Matos Gomes

Uma das definições de tolerância é a qualidade de aceitar opiniões opostas às suas. A intolerância será, então, o oposto disso.

Aceitar aquilo que não se quer, ou ouvir com paciência opiniões diferentes das suas, são consideradas habitualmente virtudes necessárias para a convivência numa sociedade democrática. Mas são mais do que isso, são condições necessárias para viver em sociedade.

A intolerância radica no conceito da superioridade, e é habitualmente embrulhada em argumentos de ordem moral. Os intolerantes consideram-se superiores por serem portadores ou fomentadores do Bem. A falácia dos intolerantes é a de eles não tolerarem o Mal que são os outros.

A colonização e o colonialismo, com as suas componentes clássicas de “civilizacionar “ e cristianizar , são exemplos clássicos da intolerância. Os colonizadores não toleravam as ideias dos outros, nem os comportamentos dos outros, nem a cor da pele dos outros, a tal ponto não os toleravam que nem os consideravam seus semelhantes, seres humanos. Os colonialistas — que são uma espécie distinta dos colonizadores — entendiam os habitantes das colónias como um produto a ser explorado como qualquer outra, uma matéria-prima. Nada mais. Por isso os colonialistas belgas cortavam os braços aos negros do Congo que não produziam o que fora determinado, por isso os colonialistas da Diamang, em Angola, substituíam anualmente os “contratados” que sofriam acidentes com as vagonetas do cascalho por outros arrebanhados pelos agentes das administrações coloniais.

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Manifesto com 500 subscritores contra ataque à disciplina de Cidadania | in Jornal de Notícias

Manifesto posto a circular na quinta-feira alega que a ética não pode ser sujeita a objeção de consciência e critica os que defendem que disciplina seja opcional.

Cerca de 500 pessoas já assinaram o documento “Cidadania e desenvolvimento: a cidadania não é uma opção” que rejeita a possibilidade de evocar a objeção de consciência (dos pais) para que os alunos do 2.º e 3. º ciclos não frequentem a disciplina.

“É uma tomada de posição pública ao ataque a uma disciplina que é fundamental para a educação dos jovens e para a criação de uma sociedade melhor”, afirmou Helena Ferro de Gouveia, uma das autoras do manifesto que conta com o apoio de Ana Gomes, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Teresa Pizarro Beleza, Daniel Oliveira, Alexandre Quintanilha, Catarina Marcelino, Miguem Somsen, entre professores, políticos, jornalistas, médicos, investigadores, deputados e organizações nacionais e locais.

“A ciência e ética estão na base da educação”, afirma o documento que defende que disciplinas como Cidadania ajudam os alunos “a distinguir entre o que é ideologia e o que é conhecimento”.

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CONDIÇÃO FEMININA (In “Évora, anos 30 e 40”, no prelo) | António Galopim de Carvalho

Depois do jantar, os homens saíam a caminho dos seus interesses. Fossem ricos, remediados ou pobres, a regra era essa. As mulheres ficavam em casa. De muitas delas, a única distração era ficarem à janela a ver quem passasse ou a falar com a vizinha da frente. Prisioneiras das responsabilidades que, tradicionalmente, lhes eram atribuídas pela tradição e pelo regime, continuavam no exercício das tarefas domésticas, costurar e, ao mesmo tempo, a cuidar dos filhos. Destes, os mais pequenos faziam os trabalhos da escola ou brincavam, muitas vezes na rua, à porta da casa, sempre aberta. Nas famílias sem posses para terem criadas, competia também às filhas com idade para ajudar, levantar a mesa, lavar a loiça, arrumar a cozinha e o mais que fosse preciso.
Eram as mães que, contra elas próprias, educavam as filhas e os filhos a perpetuarem os hábitos da sociedade machista em que cresci e me fiz homem, numa vivência estimulada pela Igreja e pelo poder político da época. Jovem casadoira, qualquer que fosse a sua condição, já sabia que o seu lugar ia ser no lar ou no “ninho”, como algumas e alguns gostavam de dizer. Ao contrário das mulheres do campo, eram poucas as da cidade com trabalho fora de casa.
No mundo rural não era assim. Pobres por condição e tradição, mães com ou sem filhos e raparigas adolescentes tinham mesmo de trabalhar sempre que as oportunidades surgissem e essas oportunidades eram, sobretudo, a monda, a ceifa e a apanha da azeitona.

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OS ROBERTOS. (in “Évora, anos 30 e 40”, no prelo) | António Galopim de Carvalho

Vêm aí os Robertos! Gritava o meu irmão Mário, ofegante de dois andares a subir de um pulo, vindo da rua. Era assim que nós nos referíamos a esta herança cultural portuguesa que é o teatro de fantoches ou de marionetas, dito “de luva”. Descemos de um salto e, já na rua, a correr, ouvíamos a voz de “palheta” do bonecreiro. Lá estavam eles, gesticulando, no topo de uma guarita instalada naquele passeio mais alargado da Rua João de Deus, em frente da mercearia do Anselmo, rodeada por uma muito razoável assistência de miúdos e graúdos. Já montada, a guarita era uma armação de madeira forrada com chita barata, a fazer as vezes de palco virado a todos os quadrantes.

De pé, escondido lá dentro, o bonecreiro, falando sem parar, manipulava os figurantes, simples bonecos ou fantoches reduzidos a uma tosca cabeça de pau, vistosamente pintada, agarrada a um meio corpo que não era mais do que a respectiva roupa. Diz-se fantoches “de luva” porque o operador mete o dedo indicador na cabeça do boneco e usa o polegar e o dedo médio para fazer os braços, enfiando-os nas mangas terminadas por mãos igualmente vistosas. Testemunho de uma das tradições mais antigas das artes cénicas europeia e portuguesa julga-se ter ido buscar heróis populares ao oriente.

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Reflexões | Carlos Esperança

1 – Disse-me um médico amigo que o seu bastonário recebe o vencimento do Estado, a pingue remuneração da função, além de chorudas regalias, e está autorizado, pela OM, a exercer medicina privada. Apenas não usufrui o direito de substituir os sindicatos e de se dedicar à carreira político-partidária, em competição com a sua homóloga enfermeira. O que faz.

Surpreende-me, quem teve a confiança dos pares, que seja tão lento a pensar. Depois de ter declarado que a reunião com o PM decorreu em ambiente de cordialidade mútua e que aceitou as explicações e o elogio a toda a classe médica, soube que nas redes sociais se afirmava que teve entradas de leão e saída de sendeiro. Então, rugiu como entrou e portou-se como foi acusado de ter saído.

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Adeus (A propósito de ter entregado o seu cartão da Ordem dos Médicos) | António Lobo Antunes

Adeus

“Demiti-me hoje da Ordem dos Médicos e devolvi a medalha de mérito que há anos me pediram que aceitasse e me agradeceram com elegância ter aceite. O meu pai costumava citar uma frase de Herculano a propósito de Garrett, dois escritores que muito admiro: “por meia dúzia de moedas o Garrett é capaz de todas as porcarias menos de uma frase mal escrita.” E recebi uma carta mal escrita, que talvez pretendesse ser irónica e era apenas pateta e com dois erros de português, que me obrigou, naturalmente, a esta tomada de posição que, embora não faça Medicina há muitos anos, me entristeceu.

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A civilização que não trata do lixo | Carlos Matos Gomes

A nossa civilização — e a nossa civilização é o capitalismo — assenta na produção e no consumo, tendo por pressuposto a irracionalidade dos recursos ilimitados. O capitalismo tem na base duas ideias força: laissez faire, laissez passer, liberdade absoluta para extrair recursos, para os transformar e para os vender. E: tudo o que pode ser produzido pode ser consumido, crença cega da capacidade de extração de produtos, sem olhar a meios nem a consequências, e crença cega na capacidade de absorção do que é produzido, seja pela natureza, seja pela sociedade.

Destes dois princípios surge como natural o irracional, mas sagrado vocábulo do “crescimento”. Todos os anos, os iluminados das altas instâncias internacionais e nacionais que nos governam, referem que “crescemos” mais uns tantos por cento. Jamais alguém refere a irracionalidade do crescimento contínuo. A história da Ilha da Páscoa, em que os habitantes todos os anos cortavam mais árvores (cresciam)para fazerem mais estátuas de deuses porque necessitavam de mais deuses para terem mais árvores para cortar e assim sucessivamente até a Ilha ficar inabitável.

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Esquerda ou Direita unidas | José Gabriel Pereira Bastos | Senhora cá de Casa Okupada

PREFÁCIO (José Gabriel Pereira Bastos)

para que a esquerda (ou a direita) se unissem era preciso maturidade e atenção ao mundo histórico e não apenas os activistas servirem-se dos ‘debates’ para se auto-promoverem ou se engatarem, como o texto mostra. O que não é provável quando N > M e E > I (narcisismo maior do que maturidade e exibicionismo maior do que inteligência).

OPINIÃO (Senhora cá de Casa Okupada)

O ano é 2035, ou melhor, 15 d.R.: depois da Revelação. Toda a superfície do antigo território português foi reconquistada aos fluxos necrófagos do capital numa insurreição fulminante e invencível. Com a implosão do Estado, vive-se a anarquia e a greve perpétua: a população divide-se entre comunas mais ou menos estáveis e grupos flutuantes de afinidades, quase todos dedicados à organização de orgias cada vez mais imaginativas. A ciência, livre dos ditames do complexo industrial-farmacêutico-militar, desenvolve-se de um modo avassalador e em benefício da humanidade: prevê-se que no ano seguinte um grupo de investigadores consiga finalmente ressuscitar a consciência de Arnaldo Matos, que será implantada em milhões de máquinas de combate feitas de cortiça e incumbidas da missão de libertar o planeta da Forma-Putedo. A FUA ainda existe: ocupa-se a fazer manifestações com uma dimensão puramente ritual, o referente esquecido no passado de opressão e miséria. O maior desafio de toda a comunidade do antigo território português já não é político, é logístico: ninguém sabe como tratar e escoar adequadamente as quantidades industriais de canábis que as hortas comunitárias produzem. Continua a escrever-se péssima poesia por todo o lado.

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O ateísmo, as religiões e a democracia | Carlos Esperança

A minha conhecida condição de ateu não me conduziu ao combate primário às crenças e, jamais, aos crentes que se limitam a viver a fé sem buscarem impô-la pela violência.

Isso não significa que não combata as instituições com poder, que, na minha perspetiva, sejam danosas para a democracia e os direitos humanos. É frequente visar, como tal, as religiões. Combatê-las é um efeito colateral da minha luta pela liberdade.

Em Portugal, apenas as religiões do livro têm representação que mereça atenção. Vale a pena lembrar a origem hebraica do Antigo Testamento (AT), fonte dos 3 monoteísmos e só assim designado pelos dois credos posteriores, cristianismo e islamismo que, tendo aí a origem, consideram respetivamente Cristo e Maomé, também como fontes da vontade divina.

O cristianismo, primeira cisão com êxito do judaísmo, surgiu da utilidade para a coesão do Império Romano pelo imperador Constantino. Paulo de Tarso teve a ideia genial de transformar o Deus de Israel em Deus global e fazer dele o salvador universal, apesar de o Homo Sapiens existir há 350 mil anos, sem salvação até há cerca de 6 mil.

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Renovação do Coletivo Coordenador do DiEM25’s – é tempo de votar!

O mês passado iniciamos o processo de renovação do nosso Coletivo Coordenador (CC). Candidatos da Europa e fora dela colocaram as suas declarações pessoais e vídeos aqui.

Estes candidatos são todos “DiEMers” empenhados que querem avançar e trabalhar intensivamente para que o nosso movimento progrida e se expanda para atingir os objetivos propostos.

Agora é a tua vez de participares neste processo democrático importante para o DiEM25: vota nos candidatos que sentes que irão guiar da melhor forma os próximos meses.

Podes votar a partir de agora até ao dia 28 de Agosto às 23:59pm aqui.

Faz com que a tua voz seja ouvida! Carpe DiEM25!

Luis Martín
Coordenador de Comunicações do >>DiEM25

PORQUE É QUE O HOMEM TEM TENDÊNCIA PARA O ÓDIO | Umberto Eco

[artigo de Umberto Eco na “Bustina di Minerva”, do L’ Espresso, em 28.Outubro.2011]

<*Silvio detesta todos os comunistas, Bossi todos os sulistas, da mesma maneira que Appelius tinha aversão a todos os ingleses. Porque o ódio é um sentimento que, de uma só vez, abraça multidões imensas. E por isso, é fácil e satisfatório. Ao passo que o amor é selectivo e, portanto, mais difícil*>.

Nos últimos tempos escrevi sobre o racismo, sobre a construção do inimigo e sobre a função política do ódio pelo Outro ou o Diferente. Julgava ter dito tudo, mas numa recente discussão com o meu amigo Thomas Stauder emergiram (e são daqueles casos em que nenhum de nós se lembra quem dos dois disse o quê, mas as conclusões coincidiam) alguns elementos novos (ou, pelo menos, novos para mim).

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La irresistible ascensión del ‘Homo mediocris’ | Carmen Posadas

PEQUEÑAS INFAMIAS

Hace unas semanas tuve la sorpresa de ver como un artículo mío escrito hace muchos años se convertía en viral. De pronto, empezaron a llegarme notificaciones de sitios tan dispares como Cuba, Alemania o Nueva Zelanda. Por supuesto, fue una gran alegría y agradezco desde aquí a todos los que lo retuitearon y glosaron. Los comentarios que suscitó eran todos positivos, lo que no deja de ser increíble en tiempos en los que hasta las reflexiones del más elemental sentido común desatan las iras de haters u odiadores. El artículo del que hablo se llama El mundo es de los mediocres y en él me maravillaba de que personas que no son inteligentes ni preparadas, tampoco talentosas y ni siquiera trabajadoras o perseverantes alcanzan metas más elevadas que otras que sí lo son. Por supuesto, la hegemonía de los mediocres no es un fenómeno nuevo. El artículo anterior hablaba de Stalin, al que su correligionario Trotski desdeñosamente tachó de «mediocre y oscuro» solo para comprobar con estupor cómo Stalin no sólo lograría acabar con él, sino que incluso hizo palidecer al mismísimo astro rey de la revolución, el camarada Lenin.  ¿Cómo? Simplemente, con una eficaz combinación de atributos y tácticas que los mediocres manejan como nadie. Un mediocre, antes de llegar arriba, vuela bajo el radar para no despertar suspicacias, es maestro en el arte de hacer la pelota y, sobre todo, en practicar el ‘divide y vencerás’. Cuando por fin lo logra, lo lógico sería pensar que modificaría su conducta volviéndose menos mediocre. Pero no. Puesto que sabe que no puede hacerse amar, decide hacerse temer y, para preservar su posición, se rodea de una nueva cohorte de otros mediocres que le sirven de guardia pretoriana e impiden el paso a personas de talento. Así suele producirse la irresistible ascensión del Homo mediocris. Como, según Mark Twain, la historia no se repite pero rima (e incluso se autoparodia, añadiría yo), ahora tenemos la versión 2.0 de Iósif Stalin en Nicolás Maduro, por ejemplo. Si Stalin logró sojuzgar a fuerza de sangre y hambre a millones y millones de rusos, Maduro, más burdo y aún más mediocre que él, logra otro tanto con idéntico sistema e igual éxito.

Os intocáveis dos regimes liberais – os pica-miolos | Carlos Matos Gomes

A introdução do voto como elemento legitimador do poder, que ocorreu com as revoluções liberais na Europa no século dezanove, constituiu um ganho civilizacional inegável, mas não colocou o poder nas mãos do povo. A intenção não era essa, mas sim alterar os grupos detentores do poder. O voto seria como foi e é o sistema de controlo desse novo poder. Um sistema virtuoso, diga-se, se comparado com o poder senhorial de casta, do Antigo Regime, mas devidamente armadilhado para não ameaçar os seus criadores e usufrutuários.

A sociedade liberal era e é um mercado e o voto passou a ser uma mercadoria. A questão central da política era e é a de convencer clientes a comprar um produto. Um produto especial, mas um produto. Uma atividade mercantil, mas digna e respeitável se praticada respeitando o princípio da igualdade e da livre concorrência. A questão é a da natureza corrupta do poder e este, que é um exercício de domínio, não pôde, nem pode, ficar à mercê de vontades livres.

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VISÃO ESTRATÉGICA PARA O PLANO DE RECUPERAÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL DE PORTUGAL 2020-2030 | PROPOSTA | António Costa Silva

VISÃO ESTRATÉGICA PARA O PLANO DE RECUPERAÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL DE PORTUGAL
2020-2030

Esta Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social 2030 visa essencialmente responder à questão: o que fazer no day after?
Não vamos ter ilusões: a crise sanitária causada pela doença COVID-19 traz consigo uma profunda recessão económica que tem características globais e que vai ferir profundamente a nossa economia. E é importante por um lado elencar as características e consequências da crise e o que Portugal pode fazer para responder, e por outro, definir alguns princípios orientadores das políticas públicas, antes de abordar na parte final os diferentes setores da economia e elencar algumas ideias e projetos que podem ser estruturantes para a reconstrução do país.

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Espanha | Carlos Matos Gomes

As circunstâncias. A transição da Espanha para um regime de democracia liberal na Europa é fruto de circunstâncias e não do ato mais ou menos voluntarista de um homem, ou mesmo de um conjunto de homens. Com Juan Carlos de Bourbon, ou com outro qualquer na chefia do Estado, a Espanha entraria no clube das democracias europeias ocidentais quando teve de entrar.

Em 1975 a Espanha apresentava-se como a última ditadura europeia, herdeira dos fascismos da antes da Segunda Guerra Mundial. As ditaduras portuguesa e a grega caíram em 1974, uma em Abril e a outra em Junho. Das três ditaduras da Europa Ocidental, a da Espanha era a que dominava um estado com a maior população e o de maior importância política e económica. Após a descolonização das colónias de África por Portugal, a Espanha não podia continuar a ser uma ditadura quer por questões económicas europeias, quer para favorecer os interesses europeus e especialmente norte-americanos na América Latina, onde tradicionalmente tinha uma influência significativa, assim como com o mundo árabe. A Espanha tinha de abandonar o grupo dos estados “párias” europeus e integrar o clube dos que se consideravam os de bons princípios. Juan Carlos foi declarado rei de Espanha em 22 de Novembro de 1975, apenas após a morte de Franco, que morreu ditador e generalíssimo.

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51) – C19 Upshot | Ulrich Beck é o intelectual pandémico mais importante do mundo | Como o Covid-19 representa uma ameaça para as democracias em todo o mundo | Paulo Querido

3 ago 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.

🧭 Ulrich Beck é o intelectual pandémico mais importante do mundo

Se só puderes ler um artigo hoje, lê este: é muito, muito bom.

Quanto mais sabemos, mais nos damos conta de que não somos os únicos a julgar. Cada parte interessada está a escolher e a escolher as suas fontes. É uma exposição esclarecedora, mas também chocante, de como a salsicha do conhecimento moderno é verdadeiramente feita. E, como Beck nos lembra, “não seria tão dramático e poderia ser facilmente ignorado se não se tratasse apenas de perigos muito reais e pessoais

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Cultura Chunga — A Nova Cultura de Massas | Carlos Matos Gomes

Em Minima Moralia, o filósofo alemão Theodor Adorno, da Escola de Frankfurt, interrogava-se, após o final da II Guerra Mundial e de ter sofrido o desterro provocado pelo nazismo, por que razão “a humanidade, em vez de subir a um estado verdadeiramente humano, se afundara numa nova espécie de barbárie.”

Adorno considerava como determinantes do embrutecimento da vida e da perda do convívio social, caraterísticos do nazismo, o esquecimento histórico dos homens.

O que nos leva a repetir os erros?

Hoje, como antes da ascensão do nazismo, vivemos tempos de perigosos esquecimentos. A vida social, escreveu premonitoriamente o filósofo alemão, após se ter deslocado para o âmbito do mundo privado, encontra-se reduzida à esfera do mero consumo. A sociabilidade pouco mais é que um apêndice do processo de produção material, uma indústria.

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50) – C19 Upshot | Três portuguesas contam a corrida à vacina pelas suas empresas | Rastreamento de contactos durante surto de doença por coronavírus, Coreia do Sul, 2020 | Paulo Querido

23 jul 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Luis Grave, Nuno Andrade Ferreira.

💉 Três portuguesas contam a corrida à vacina pelas suas empresas

Há agora 163 vacinas em desenvolvimento para o novo coronavírus. O número não pára de crescer de dia para dia. À etapa dos ensaios em pessoas já chegaram 23 dessas vacinas experimentais. Mas quando chegará ao fim a corrida e teremos mesmo uma vacina? Os primeiros resultados dos ensaios começam a sair: a empresa Moderna fê-lo na última semana e a equipa de Oxford fá-lo-á esta segunda-feira.

[Teresa Firmino – Público]

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49) – C19 Upshot | Preparar as novas gerações para os desafios de um mundo em mudança | Como a pandemia está a mudar os meios de comunicação social | Paulo Querido

20 jul 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.

🔮 Preparar as novas gerações para os desafios de um mundo em mudança

Como combater as alterações climáticas? Como assegurar que tecnologias como a Inteligência Artificial e a robótica servem os cidadãos em vez de se servirem deles? Como garantir a segurança e a privacidade nas redes? Como impedir pandemias e crises humanitárias de diversas ordens? Como continuar a crescer sem comprometer as futuras gerações?

[Graça Carvalho – Dinheiro Vivo]

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AMOR | Tiago Salazar

É estranho termos tão poucos laços com a natureza, com os insectos, com a rã saltitante e com o mocho que pia por entre os outeiros, chamando a sua companheira. Nunca demonstramos ter uma certa simpatia por todos os seres vivos da Terra. Se pudéssemos estabelecer uma relação intensa com a Natureza, nunca mataríamos um animal para saciar o nosso apetite, nunca feriríamos nem dissecaríamos um macaco, um cão, uma cobaia para nosso proveito. Encontraríamos outras formas de cicatrizar as nossas feridas, curar os nossos corações.

O ser humano matou e continua a matar milhões de baleias e tudo o que obtemos desse massacre pode ser conseguido por outros meios. Mas, ao que parece, o Homem gosta de matar, gosta de matar o veado em fuga, a gazela maravilhosa e o elefante pujante. Adoramos matar-nos uns aos outros. Esta chacina humana nunca se deteve em toda a história da vida do Homem na Terra. Se conseguíssemos – e é imperativo fazê-lo – estabelecer uma relação profunda e duradoura com a Natureza, com as árvores, os arbustos, as flores, a erva e as nuvens velozes, nunca mais massacraríamos outro ser humano, por motivo algum.

Assassínio organizado é sinónimo de guerra.

Tiago Salazar

Retirado do Facebook | Mural de Tiago Salazar

48) – C19 Upshot | Vacina para o coronavírus: Estamos perto de encontrar uma? O que está a acontecer | Mulheres líderes e coronavírus: olhar para além dos estereótipos para encontrar o segredo do seu sucesso | Paulo Querido

8 jul 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, JL Andrade.

💉 Vacina para o coronavírus: Estamos perto de encontrar uma? O que está a acontecer

Vacinas para prevenir o COVID-19 estão a ser desenvolvidas a um ritmo recorde. Neste artigo pode encontrar tudo o que precisa de saber acerca do progresso que foi feito até agora contra esta doença potencialmente fatal.

O artigo inclui notícias recentes sobre os candidatos a vacinas a ser desenvolvidos em vários países, as investigações mais promissoras, mas também reflecte sobre as dificuldades e as várias fases antes de uma aprovação generalizada, ou a probabilidade de não se conseguir uma vacina.

[Dale Smith – CNET]

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47) – C19 Upshot | A política pandémica da Europa: como é que o vírus mudou a visão do mundo | Os casos de COVID estão a aumentar. As mortes por COVID estão a decrescer. Porquê? | Paulo Querido

1 jul 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, JL Andrade.

🖐️ A política pandémica da Europa: como é que o vírus mudou a visão do mundo

A crise da covid-19 é provavelmente a maior experiência social das nossas vidas. Não sabemos quando ou como irá terminar. É ainda demasiado cedo para prever como irá mudar radicalmente a forma como os europeus vêem as suas próprias sociedades. Mas já podemos ver que a pandemia transformou a forma como os europeus vêem o mundo para além da Europa, e – como consequência – o papel da União Europeia nas suas vidas.

  • Nas fases iniciais da crise, a política foi suspensa, e a opinião pública ficou atrás das acções dos governos nacionais. Os cidadãos foram enviados para o exílio interno nas suas próprias casas, muitos paralisados pelo medo e pela incerteza. Os governos avançaram rapidamente para introduzir medidas de emergência para impedir a propagação da doença, apoiar os sistemas de saúde, e salvar postos de trabalho e empresas do colapso.
  • Na próxima fase da crise, à medida que os governos angariarem vastas somas de dinheiro para financiar uma recuperação, terão de ter em conta a política. Não será suficiente desenvolver as políticas certas; os governos e os líderes da UE também terão de encontrar a linguagem e os quadros adequados para ganhar o apoio do público para as suas políticas. Para o fazerem, terão de compreender como a covid-19 mudou – ou não – os receios e expectativas do público.

[Ivan Krastev e Mark Leonard – ECFR.EU]

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46) – C19 Upshot | O Manifesto da ‘Main Street’: precários de todos os países, uni-vos! | Manuel Castells: “o mundo do consumismo desenfreado acabou” | Paulo Querido

30 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.

👷🏾 O Manifesto da ‘Main Street’: precários de todos os países, uni-vos!

Os protestos históricos que varreram a América estavam atrasados, não apenas como uma resposta ao racismo e à violência policial, mas como uma revolta contra a plutocracia entrincheirada.

O novo proletariado – o precariado – é agora revoltante. Parafraseando Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista: “Deixem as classes plutocratas tremer perante uma revolução do Precariado. Os precários não têm nada a perder a não ser as suas correntes. E têm um mundo a ganhar. Trabalhadores precários de todos os países, uni-vos!

[Nouriel Roubini – Social Europe]

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45) – C19 Upshot | Como o vírus ganhou | Coronavírus: cientistas descobrem porque é que algumas pessoas perdem o seu olfacto | Paulo Querido

29 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Luis Grave, JL Andrade.

🦠 Como o vírus ganhou

Começou pequena. Um homem perto de Seattle teve uma tosse persistente. Uma mulher em Chicago teve febre e falta de ar.

Surgem surtos invisíveis em todo o lado. Os Estados Unidos ignoraram os sinais de aviso. Analisámos padrões de viagem, infecções ocultas e dados genéticos para mostrar como a epidemia se tornou descontrolada.

  • Um relato interativo  de impressionante qualidade, com eficazes visualizações de dados, mostra-nos como os EUA perderam contra a pandemia.

[Derek Watkins et al – The New York Times]

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44) – C19 Upshot | As pandemias resultam da destruição da natureza, dizem a ONU e a OMS | Coronavírus pode impulsionar a pobreza global pela primeira vez desde os anos 90 | Paulo Querido

24 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Luis Grave.

🦒 As pandemias resultam da destruição da natureza, dizem a ONU e a OMS

O comércio ilegal e insustentável da vida selvagem, bem como a devastação das florestas e outros locais selvagens, continuavam a ser as forças motrizes por detrás do número crescente de doenças que saltavam da vida selvagem para os seres humanos, disseram os líderes ao Guardian.

Apelam a uma recuperação verde e saudável da pandemia, em especial através da reforma da agricultura destrutiva e das dietas insustentáveis.

[Damian Carrington – The Guardian]

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43) – C19 Upshot | Danos colaterais: as mortes por malária e tuberculose podem aumentar porque o mundo está fixado na Covid-19 | O número K é o novo número R? O que você precisa saber | Paulo Querido

22 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade.

⚱️ Danos colaterais: as mortes por malária e tuberculose podem aumentar porque o mundo está fixado na Covid-19

As vacinas e os rastreios do sarampo, da tuberculose e de outras doenças infecciosas estão em baixa na pandemia.

Qualquer país é vulnerável quando confrontado com múltiplas ameaças“, disse à Vox Claire Standley, membro do corpo docente do Centro de Ciência e Segurança Global da Saúde da Universidade de Georgetown. “Os que correm maior risco são os que têm recursos humanos, materiais e financeiros limitados para apoiar a resposta aos surtos

[Katherine Harmon Courage – Vox]

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42) – C19 Upshot | Devemos visar a imunidade do rebanho, como a Suécia? | Estarão as nações mais seguras do coronavírus quando as mulheres lideram? | Paulo Querido

17 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Luis Grave.

🦠 Devemos visar a imunidade do rebanho, como a Suécia?

A Suécia tem seguido uma estratégia de coronavírus diferente da maioria do resto do mundo desenvolvido: deixa o vírus correr solto, refreia-o o suficiente para garantir que não sobrecarregue o sistema de saúde como em Hubei, Itália ou Espanha, mas não tenta eliminá-lo. Pensam que pará-lo completamente é impossível. A consequência natural é que a maioria dos cidadãos é infectada, e isso acaba por abrandar a epidemia. É por isso que, em suma, as pessoas chamam a essa estratégia “Imunidade do Rebanho“.

A outra estratégia é o Martelo e a Dança. O Martelo ataca  agressivamente o coronavírus, fechando a economia. Uma vez travado, salta para a Dança substituindo o bloqueio agressivo por medidas baratas e inteligentes para controlar o vírus.

Alguns países e Estados, como a Holanda e o Reino Unido, ou Estados norte-americanos como o Texas e a Geórgia, implementaram medidas entre as duas estratégias. Então qual é a melhor estratégia?

  • Nota: artigo longo e com boa controvérsia nos comentários.

[Tomas Pueyo – Medium]

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41) – C19 Upshot | Coronavírus: o fim do europeísmo ingénuo? | “Respect them”: mesmo em zonas ricas, a procura de bancos alimentares está em alta | Paulo Querido

16 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.

🇪🇺 Coronavírus: o fim do europeísmo ingénuo?

No meio da discussão sobre possíveis instrumentos financeiros para fazer face aos custos da pandemia, já está à vista o problema básico que poderá surgir quando a emergência sanitária tiver terminado. Itália e Espanha foram duramente atingidas pelo vírus, mas Portugal – com menos casos – também se sentiu atacado por declarações políticas vindas do Norte da Europa.

A retórica do confronto Norte-Sul voltou à política da UE, com o risco de minar a confiança dos poucos italianos eurófilos que ainda restam e de marcar uma mudança de tendência em Espanha e Portugal. Se o europeísmo ingénuo sofrer uma mutação, como o vírus, aprofundará a divisão Norte-Sul.

[Héctor Sánchez Margalef – ctxt.es]

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40) – C19 Upshot | Das ruínas não vem necessariamente a nova ordem e a mudança pode ser pior | O efeito das políticas anti-contágio em grande escala na travagem da pandemia da COVID-19 | Paulo Querido

12 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, JL Andrade, Ana Roque.

🖍️ Das ruínas não vem necessariamente a nova ordem e a mudança pode ser pior

As democracias têm um grave problema com a produção intencional de transformações sociais, sejam elas chamadas reformas ou transições. Deve ser o facto de vivermos em democracias onde pouco se transforma que explica por que razão, quando uma catástrofe atinge aqueles que mais desesperaram, se torna possível mudar a sociedade através da vontade política ordinária, a mais esperançosa de que a natureza corrija as coisas.

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39) – C19 Upshot | O Sars original desapareceu. Porque é que o coronavirus não faz o mesmo? | Rastreador de infecções | Paulo Querido

9 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade.

🦠 O Sars original desapareceu. Porque é que o coronavirus não faz o mesmo?

O vírus que causou o Sars original já não nos assombra, mas as características do coronavirus de hoje indicam que é pouco provável que desapareça da mesma forma.

Num prazo semelhante ao do Sars original, o SARS-CoV-2 revelou-se mais contagioso, mas aparentemente menos mortífero do que o seu primo era há quase 20 anos. Uma preocupação adicional – e crítica – é que o SARS-CoV-2 se propaga eficientemente antes de as pessoas adoecerem. Isto torna as tradicionais restrições de saúde pública de base sintomática, que funcionaram bem para a Sars, em grande parte incapazes de conter o COVID-19.

No fundo, esta facilidade de transmissão significa que o SARS-CoV-2 é infinitamente mais desafiante de controlar. Temos também uma má compreensão se a captura e a recuperação do COVID-19 o impede completamente de voltar a capturar o vírus e de o transmitir a outros. Em conjunto, estes factores significam que a SRA-CoV-2 irá muito provavelmente instalar-se na população humana, tornando-se um vírus endémico como os seus primos coronavirus, que são as principais causas de constipações todos os Invernos.

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38) – C19 Upshot | Cinco maneiras de o coronavirus transformar a União Europeia | O racismo, não a genética, explica porque os americanos negros estão a morrer da COVID-19 | Paulo Querido

8 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, JL Andrade.

🇪🇺 Cinco maneiras de o coronavirus transformar a União Europeia

A resposta da Comissão Europeia ao coronavírus enfrenta pelo menos cinco desafios fundamentais – todos eles criando oportunidades significativas para a Europa.

Quando se serve nas instituições da União Europeia, é imperativo acreditar que o que mais importa é o interesse da União como um todo – e agir em conformidade. A acção política assenta na firme convicção de que os interesses nacionais devem ser incorporados no bem comum europeu. Isto aplica-se em todas as circunstâncias, incluindo a segunda fase da crise que a Europa enfrenta devido à pandemia. A Europa do Norte não pode sair da crise como vencedora se o Sul for ferido.

Este é, portanto, o dilema fundamental que a Presidente Ursula von der Leyen e os membros da sua Comissão precisam de resolver. Irão eles agir como políticos de países separados ou como estadistas europeus que reafirmam a unidade, a solidariedade e a coordenação entre os Estados-Membros? Há pelo menos cinco desafios fundamentais com os quais têm de lidar.

[Anna Diamantopoulou – ECFR]

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37) – C19 Upshot | A distância social como guerra civil | Desinformação no púlpito | Paulo Querido

4 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque

🧍↔️🧍 A distância social como guerra civi

A separação entre cidadãos imposta pelo coronavírus, e que em princípio apenas diz respeito à separação física, tem sido chamada de “distância social”, alargando à sociedade o que se refere aos corpos. Talvez tenha sido um acto de poder falhado, talvez seja devido a uma intenção obscura, mas o certo é que nos faz pensar no início do fragmento 25 da Sociedade do Espetáculo: “A separação é o alfa e o ómega do espectáculo”.

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36) – C19 Upshot | As consequências das diferentes pandemias são profundamente diferentes, tanto em termos de percepção como de efeitos reais | Visualizando a propagação da Covid-19 | Paulo Querido

3 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade

🦠 As consequências das diferentes pandemias são profundamente diferentes, tanto em termos de percepção como de efeitos reais

Existiram três grandes pandemias no século XX, todas elas causadas por variantes do vírus da gripe. Em termos de risco de morte, a atual pandemia não é qualitativamente muito diferente das gripes que assolaram o mundo em 1957 e em 1968, e que agora são comuns e endémicas, recorda-nos Arlindo Oliveira.

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35) – C19 Upshot | Não é *SE* foi exposto ao Coronavírus. É *QUANTO*. | A economia está de pernas para o ar. E agora? | Paulo Querido

1 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, JL Andrade, Ana Roque.

🤒 Não é *SE* foi exposto ao Coronavírus. É *QUANTO*.

Quando os especialistas recomendam o uso de máscaras, ficar pelo menos a dois metros de distância dos outros, lavar as mãos com frequência e evitar espaços apinhados, o que eles estão realmente a dizer é o seguinte: tente minimizar a quantidade de vírus que encontra.

Umas poucas partículas virais não podem levar-nos a adoecer – o sistema imunitário destruiria os intrusos antes que eles pudessem. Mas quanto vírus é necessário para que uma infecção crie raízes? Qual é a dose mínima eficaz?

[Apoorva Mandavilli – The New York Times]

💶 A economia está de pernas para o ar. E agora?

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34) – C19 Upshot | Ideologia e coronavírus | Como é que um vírus se espalha nas cidades? É um problema de escala | Paulo Querido

29 mai 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Nuno Andrade Ferreira, Ana Roque.

🐃 Ideologia e coronavírus

Há duas abordagens para enfrentar o desafio do coronavírus: as propostas libertárias dão prioridade à economia acima da saúde pública, enquanto as propostas socialistas dão prioridade à saúde pública acima da economia.

Os países libertários dependem do desenvolvimento da “imunidade do rebanho” à doença, em vez de impor distancias sociais e “lockdowns“, que visam, em vez disso, reduzir a propagação da infeção. Ao contrário das medidas socialistas, a abordagem da “imunidade do rebanho” não necessita de qualquer regulamentação, porque permite que a doença se propague de modo a que as pessoas que sobrevivem se tornem predominantes; permite que a sobrevivência do rebanho siga o seu curso, de modo a desenvolver um “rebanho forte”.

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33) – C19 Upshot | A anarquia pós-COVID que se avizinha | Dominic Cummings: as pessoas poderosas têm maior probabilidade de violar as regras – mesmo as feitas por elas | Paulo Querido

28 mai 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Nuno Andrade Ferreira, JL Andrade.

🦄 A anarquia pós-COVID que se avizinha

Apesar dos melhores esforços dos guerreiros ideológicos em Pequim e Washington, a verdade incómoda é que a China e os Estados Unidos são ambos susceptíveis de sair desta crise significativamente diminuídas. Nem uma nova Pax Sinica nem uma Pax Americana renovada se erguerão das ruínas.

Pelo contrário, ambas as potências ficarão enfraquecidas, tanto a nível interno como externo. E o resultado será uma lenta mas constante deriva em direção à anarquia internacional através de tudo, desde a segurança internacional ao comércio até à gestão de pandemias. Sem ninguém a dirigir o tráfego, várias formas de nacionalismo desenfreado estão a tomar o lugar da ordem e da cooperação. A natureza caótica das respostas nacionais e globais à pandemia constitui, assim, um aviso para o que poderá vir numa escala ainda mais vasta.

[Kevin Rudd – Foreign Affairs]

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28 de maio de 1926 | Carlos Esperança

Há 94 anos teve lugar o golpe de Estado de que viriam a apropriar-se as pessoas erradas para a mais longa ditadura europeia.

O integralismo lusitano, o nacional-sindicalismo e a Cruzada Nun’Álvares tinham feito o caminho para que o nacional-catolicismo se transformasse no fascismo paroquial de Salazar, um professor da Universidade de Coimbra, sem mundo e sem visão de futuro.

Salazar foi o protagonista da longa ditadura que adiou Portugal. Ficou “orgulhosamente só” a liderar o país onde o analfabetismo, a mortalidade infantil, a tuberculose e a fome foram a imagem do regime, para acabar na tragédia da guerra colonial.

Salazar saiu da aldeia do Vimioso para o seminário de Viseu e, daí, para a Universidade de Coimbra onde dirigiu a madraça do CADC que havia de fornecer-lhe os quadros para a repressão que o manteve no poder. Não recebeu a tonsura no seminário, mas fez do País uma sacristia.

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32) – C19 Upshot | COVID-19 e a normalização da vigilância em massa | Impacto económico da pandemia poderá atingir 8,8 biliões de dólares a nível mundial | Paulo Querido

26 mai 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade.

👮🏼‍♂️ COVID-19 e a normalização da vigilância em massa

Nos últimos meses, governos que vão da Austrália ao Reino Unido e empresas tão influentes quanto Google e Apple adotaram a ideia de que o rastreamento através dos telemóveis pode ser usado para combater efetivamente o COVID-19.

Infelizmente, a ideia é tecno-utópica, baseada no otimismo e não na evidência. O impacto real dessa abordagem na sociedade não seria uma imunidade melhor, mas a aceitação e o crescimento de um estado de vigilância global ainda mais poderoso e omnisciente.

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31) – C19 Upshot | Como sabemos que a democracia está quebrada se não sabemos o que é? | Erradicar o vírus é impossível. Libertem as praias | Paulo Querido

25 mai 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido.

🗳️ Como sabemos que a democracia está quebrada se não sabemos o que é?

Baixa confiança, notícias falsas e muito dinheiro. A democracia enfrenta a sua maior ameaça em décadas, talvez séculos. Mas antes que possamos corrigi-la, precisamos entender o que é. Uma das duas palavras-chave é poder. O poder final sempre volta ao povo. Alguém tem que ter o poder da sociedade e, se não é o povo, quem é?

  1. É uma ótima pergunta que implora uma segunda:
  2. se estamos insatisfeitos com os nossos sistemas de governo e gostaríamos de avançar para algo mais parecido com o “governo pelo povo“, por onde começar? Podemos consertar a democracia?

[Patrick Chalmers – The Correspondent]

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INTIMIDADES | Tiago Salazar

Se vos contar uma história baseada em factos reais vão acompanhar-me até ao fim? Vão voltar atrás, e reler, e tentar entrar na intenção do autor? Vão perorar aí em baixo, clicar numa das opções reactivas? Vão comentar com acidez ou escárnio sem clicar no gosto por desdém irritativo? Faltam aqui patilhas do não gosto, não curto, não me identifico, ou uma que me apraz, vai-te catar. Mas isto hoje é sério. Ser levado a sério implica toda uma reputação de conduta retrospectiva. Como para votar num indivíduo há que apurar do seu currículo, de públicas virtudes e impúdicas particulares. O Bill, por exemplo, ganhou ou perdeu mais pelo facto de se aprestar a um fellatio na sala oval? Entre os machos, marcou pontos de virilidade, sobretudo os de pele rosada e cheínhos. Entre as fêmeas púdicas, recebeu as ovações de porco, canalha, sacana, facínora, no pressuposto de que o adultério é um crime solitário. Não sabemos se o Bill vivia numa relação aberta e a Hillary não andava em coboiadas, ou se o casamento não era apenas um contrato social de onde a sexualidade estava arredada. Que sabemos, no fundo, dessas coisas pudibundas que alimentam o voyeurismo, aqui, a jusante, ou na Ferrante, que fala disso, desabrida como poucos?

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30) – C19 Upshot | Como viveremos a seguir ao vírus | A vacina para todos será uma (cara) quimera | Paulo Querido

👿 John Lloyd – Quillette // Como viveremos a seguir ao vírusMuitos acreditam que o futuro beneficiará os autoritários, e que as circunstâncias atuais já o fizeram – mesmo os estados mais liberais e democráticos colocaram seus cidadãos sob uma espécie de prisão domiciliária, uma política imposta pela ameaça de detenção e por espionagem vizinha e censura social. Outros desesperam com a abdicação dos EUA da sua posição de liderança mundial e temem que a China realmente beneficie do vácuo.

Mau, mau, é o euro

A dívida aumentará para níveis anteriormente considerados inadmissíveis, exceto na guerra. Pior: por mais sombria que as perspectivas económicas pareçam”, relatou o New York Times, o maior perigo para a economia mundial pode ser o risco de que o euro possa ser prejudicado pelas brechas profundas entre os membros da UE

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POLISBIGAMIA | Tiago Salazar

Eu, pecador, confesso a minha pólisbigamia: entre Lisboa e Porto, nunca virá o Diabo a escolher por mim.

Amo as duas (perdidamente). Às duas me quedo aos pés e às beiras dos seus maviosos rios. Às duas incenso as carnes de senhoras rústicas e chiques. Às duas teço odes de paixão eterna em letra de vate e bardo. Que flores suas mais me falam ao peito se apenas uma, de cada uma, me fosse dado escolher? Há uma curva na estrada, toda ela iluminada por luzes baixas quando a noite se abeira, feita sobre o cotovelo do rio como uma tiara. Ali se passa de carro mormente, mas para quem se apreste a caminhar, há um paredão discreto nas traseiras de onde melhor se avista a força do braço fluvial apenas perturbada no seu curso por pilares de ferro ou pedra das pontes que o encimam e afagam a vista.

Em Lisboa, nada mais convém à minha alegria de filho ali nado e criado do que descer ao rio, onde este leva o nome de mar e se aquieta como as palhas e espigas num palheiro defendido das batidas do vento. Entre canaviais e o lodaçal da corrente baixa, tenho em mim todas as alegrias do mundo, alheio e distraído por momentos dos seus desvarios, com o recuo prazeroso e ingénuo ao tempo das barcaças fenícias e dos sane per aqua romanos onde hoje se acolhem as paredes cobertas de pó e fuligem do beato.

Tiago Salazar

Retirado do Facebook | Mural de Tiago Salazar

29) – C19 Upshot | Rastreamento COVID-19: quais são as implicações para a privacidade e os direitos humanos? | Post Corona: Os Quatro | Paulo Querido

⚖️ Lisa Cornish – Devex // Rastreamento COVID-19: quais são as implicações para a privacidade e os direitos humanos?“Devemos garantir que quaisquer medidas de emergência sejam legais, proporcionadas, necessárias e não discriminatórias, tenham um foco e duração específicos e adotem a abordagem menos invasiva possível para proteger a saúde pública”, disse António Guterres. “A melhor resposta é aquela que responde proporcionalmente a ameaças imediatas enquanto protege os direitos humanos e o estado de direito”.

Que é isto?

Em 23 de abril o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, divulgou um novo resumo da política destacando essa crescente preocupação dentro da ONU e alertou os governos sobre os riscos de diminuir a prioridade dos direitos humanos. Este artigo passa em revista várias políticas em todo o mundo que estão a fazer precisamente isso.

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28) – C19 Upshot | Privacidade e saúde pública: prós e contras das aplicações de contact tracing COVID-19 | Novo estudo indica que o verão não é suscetível de afetar a disseminação do COVID-19 | Paulo Querido

🗃️ Estelle Massé – Access Now // Privacidade e saúde pública: prós e contras das aplicações de contact tracing COVID-19O rastreamento de contatos é o processo de identificação, avaliação e gestão de pessoas que foram expostas a uma doença para impedir a transmissão subsequente. Por meio desse processo, governos e profissionais de saúde buscam ajudar a limitar a propagação de um vírus, interromper a transmissão contínua e aprender sobre a pandemia.

O contact tracing é mesmo necessário?

Resposta rápida: não. Resposta longa: não, de todo!

Estás a gozar-me!?

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27) – C19 Upshot | Como será o nosso futuro pós-pandémico. Economistas, investidores e CEOs sobre como o coronavírus mudou para sempre o mundo | Manhattan deserta se trabalhar em casa se tornar a norma | Paulo Querido

🌐 – Bloomberg // Como será o nosso futuro pós-pandémico. Economistas, investidores e CEOs sobre como o coronavírus mudou para sempre o mundo.Alguns analistas dizem que o fundo está próximo, mas poucos esperam que a economia volte ao estado anterior à pandemia. Prepare-se para um alívio maciço da dívida, mais intervenção do governo, aumento das tensões China-EUA e, pelo lado positivo, mais mulheres na força de trabalho.

Que se passa?

A Bloomberg pediu a várias personalidades mundiais da economia, finança e política o seu melhor palpite sobre como as nossas vidas serão fundamentalmente mudadas.

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26) – C19 Upshot | Uma abordagem estratégica para a pesquisa e desenvolvimento de vacinas COVID-19 | Pela conquista de novos direitos laborais na pandemia | Paulo Querido

💉 Lawrence Corey et al – Science Magazine // Uma abordagem estratégica para a pesquisa e desenvolvimento de vacinas COVID-19Os coronavírus têm um genoma de RNA de fita simples com uma taxa de mutação relativamente alta. Embora tenha havido alguma deriva genética durante a evolução da epidemia, as principais alterações não são extensas até o momento, especialmente nas regiões consideradas importantes para a neutralização; isso permite um otimismo cauteloso de que as vacinas projetadas agora serão eficazes contra cepas circulantes daqui a 6 a 12 meses.

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25) – C19 Upshot | Não tenhamos ilusões quanto ao capitalismo verde: precisamos de uma visão de decrescimento | Em que dados do Covid-19 podemos afinal confiar? | Paulo Querido

💚 Guilherme Serôdio e Hans Eickhoff – Público // Não tenhamos ilusões quanto ao capitalismo verde: precisamos de uma visão de decrescimentoParece que não há coragem para pensar ou liderar a necessária luta ecológica pela transição da sociedade. Será que uma análise verdadeiramente ecológica, sóbria, corajosa e profunda do problema “não vende”?

A situação atual é assustadora

Os autores consideram urgentemente ter a coragem e a humildade de questionar posicionamentos que se defenderam durante vidas inteiras. É preciso ter a coragem de aceitar que não devíamos, nem “relançar a economia”, nem andar como loucos à procura de soluções tecnológicas que resolveriam magicamente os nossos problemas.

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24) – C19 Upshot | A pandemia e a recolonização do tempo | O relato de uma doente que sobreviveu ao novo coronavírus | Paulo Querido

🕰️ Çiğdem Boz e Ayça Tekin-Koru – Social Europe // A pandemia e a recolonização do tempoA expansão do tempo livre durante a crise poderia levar a uma reavaliação do lazer e a uma esfera pública revalorizada.

Que se passa?

Um texto deveras interessante: as autoras debruçam-se sobre um efeito inesperado do confinamento, a valorização do que entendemos por tempos livres. O lazer é entendido hoje como tempo livre. Esta é, no entanto, uma versão diminuída do lazer na tradição aristotélico-marxista. Para os gregos antigos, lazer não significava perder tempo. Pelo contrário, era a forma ideal de autonomia temporal para exibir as virtudes superiores: bondade, verdade e conhecimento.

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23) – C19 Upshot | O contrato racial da América está à vista | Covid-19: A vacina é o próximo campo de batalha | Paulo Querido

⚔️ Adam Serwer – The Atlantic // O contrato racial da América está à vistaA pandemia expôs os termos amargos do contrato racial americano, que considera certas vidas de maior valor que outras. Quando percebeu quem o vírus mais matava, a administração Trump relaxou o combate.

Hipocrisia racial tornada política

A epidemia de coronavírus tornou visível o contrato racial de várias maneiras. Uma vez que o impacto desproporcional da epidemia foi revelado à elite política e financeira americana, muitos começaram a considerar o aumento do número de mortos menos como uma emergência nacional do que como um inconveniente. Medidas temporárias destinadas a impedir a propagação da doença restringindo o movimento, obrigando o uso de máscaras ou impedindo grandes reuniões sociais tornaram-se tirânicas. A vida dos trabalhadores na linha de frente foi considerada tão inútil que os legisladores querem aliviar os seus empregadores da responsabilidade, mesmo quando os forçam a trabalhar em condições inseguras. No leste de Nova York, a polícia agride moradores negros por violar regras de distanciamento social; na parte baixa de Manhattan, distribuem máscaras e sorrisos para pedestres brancos.

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22) – C19 Upshot | O “barril de pólvora” das residências para idosos de Madrid, Rumo a um rendimento mínimo europeu | Paulo Querido

👵🏻🦠 Julio de la Fuente – ctxt.es // O “barril de pólvora” das residências para idosos de MadridApenas 5% dos lares e 12% das suas vagas são administrados diretamente pelo governo regional, facto que se mostrou essencial no combate à pandemia, uma vez que, sem capacidade real de controlo, foi muito difícil dar resposta rápida aos pedidos recebidos das administrações.

O horror espanhol explicado

Relacionando o relato cronológico da pandemia em Espanha com as respostas, sobressaem duas explicações que, juntas, não deixam margem para dúvidas. O fraco controlo das estruturas residenciais para idosos por parte das autoridades de Madrid e a lentidão em aceitar que a pandemia existia levaram ao descalabro na região (mais que no resto do país).

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21) – C19 Upshot | No ‘novo normal’, a bicicleta e o andar a pé fazem parte da cidade, Así será el día después del Covid-19, según los expertos de la mayor universidad presencial de España | Paulo Querido

🚴‍♀️ Mário Rui André – Shifter // No ‘novo normal’, a bicicleta e o andar a pé fazem parte da cidadeCom os transportes públicos sob ameaça de perder passageiros, por medo e por restrições às lotação dos veículos, e com o automóvel a não ser uma alternativa sustentável, algumas cidades já estão a olhar para a bicicleta e para o andar a pé como parte do pós-confinamento.

Sumário

O artigo passa em revista algumas mudanças em cidades europeias. Londres e Glasgow, no Reino Unido, tornaram os seus sistemas de bicicletas partilhadas gratuitas para estimular o uso – em Lisboa foi feito o mesmo mas apenas para profissionais de saúde. Também as bicicletas elétricas podem ser úteis, ajudando a descongestionar o trânsito citadino e a melhorar o ambiente. Muitas cidades pelo mundo criaram ou estão a planear criar ciclovias temporárias.

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20) – C19 Upshot | Mulheres com crianças que trabalham suportam a maior carga de stress causado pelo confinamento, What Life Looks Like on the Other Side of the Coronavirus | Paulo Querido

🌐 Cristina Benlloch, Empar Aguado e Anna Aguado – The Conversation // Mulheres com crianças que trabalham suportam a maior carga de stress causado pelo confinamentoAs mulheres não são obrigadas a trabalhar em casa e a cuidar de crianças em simultâneo, mas espera-se que devem tentar facilitar o teletrabalho dos seus parceiros

Que se passa aqui?

Cristina Benlloch e Empar Aguado, professores do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade de Valência, e a cientista-jurista política Anna Aguado estão a realizar pesquisas para aprender como o confinamento afeta o teletrabalho e a conciliação em unidades familiares. Com entrevistas por telefone e uma pesquisa voluntária on-line concluem, entre outras observações, que são principalmente as mães que monitoram a situação escolar de seus filhos e que, em alguns casos, as mulheres precisam facilitar o teletrabalho para seus parceiros.

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Lançamento da Internacional Progressista ! | DiEM25

Na segunda-feira, 11 de Maio, o DiEM25 dá um grande salto na formação da Internacional Progressista com o lançamento da sua nova plataforma digital.

Em Dezembro de 2018, associámo-nos ao Sanders Institute para lançar um apelo aberto à formação de uma frente comum na luta contra um autoritarismo crescente.

O ano que se seguiu foi descrito como uma “Onda de Protesto Global”. De Deli a Paris, de Santiago a Beirute, os cidadãos ergueram-se para defender a democracia, exigir um nível de vida decente e proteger o planeta para as gerações futuras.

2020 é o ano em que unimos estes protestos díspares numa Internacional Progressista, juntando o DiEM25 com ativistas e organizadores, sindicatos e associações de inquilinos, partidos políticos e movimentos sociais para construir uma visão partilhada de democracia, solidariedade e sustentabilidade.

A 11 de Maio, entraremos em direto com o nosso novo website – progressive.international – e anunciaremos os nomes do nosso Conselho consultivo, incluindo rostos familiares como Noam Chomsky e Naomi Klein, políticos como Álvaro García-Linera e Áurea Carolina, pensadores como Arundhati Roy e Nanjala Nyabola, e ativistas como Carola Rackete e Vanessa Nakate.

Com DiEM25 como força motriz da Internacional Progressista, perguntamos a todos os nossos membros: podem doar ao DiEM25 para apoiar os nossos esforços na construção desta frente global?

Damos-vos as boas vindas para se juntarem a nós para darmos vida à Internacional Progressiva na próxima semana!

David

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19) – C19 Upshot | Adiando uma catástrofe na produção de petróleo | Paulo Querido

🐑 Carl T. Bergstrom e Natalie Dean – The New York Times // O que realmente significa a imunidade de grupoTalvez o mais importante seja entender que o vírus não desaparece magicamente quando o limite de imunidade do rebanho é atingido. Não é quando as coisas param – é apenas quando elas começam a desacelerar.

A experiência sueca

A Suécia enveredou por uma política diferente: não confinou a população, aplicando apenas umas frouxas medidas aos idosos. O objetivo: manter a economia a funcionar, esperando atingir rapidamente a imunidade de grupo e apostando que no longo prazo o número de vítimas será idêntico ao dos países que confinaram.

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18) – C19 Upshot | Adiando uma catástrofe na produção de petróleo | Paulo Querido

⛽ Antonia Colibasanu – Geopolitical Futures // Adiando uma catástrofe na produção de petróleoRecém-chamado a intermediar um acordo global sobre cortes na produção de petróleo, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou que os cortes americanos são uma prioridade para o país.

Que se passa?

O armazenamento de petróleo está quase no limite da capacidade. O acordo para a extração limitada pode fracassar ou ser insuficiente, o que levaria a uma catástrofe com o preço do petróleo a cair até ao zero neste mês de maio.

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17) – C19 Upshot | E depois da pandemia? Dez notas para pensar o futuro | Paulo Querido

🔮 Tiago Barbosa Ribeiro – Público // E depois da pandemia? Dez notas para pensar o futuroSe ninguém tem uma bola de cristal para antecipar as mudanças, há tendências que se desenham no horizonte. Arrisco antecipar muito sumariamente dez delas.

Sinopse

O autor fornece uma lista com o que considera serem as 10 tendências do futuro pós-pandemia. Mais Estado; mais e melhor Europa; mudanças na globalização; reindustrialização; mudança de paradigmas de trabalho; mais uma legião de desempregados; digitalização e desmaterialização; emergência climática; reforço do serviço de saúde como direito fundamental; maior recolha de dados sem menor amplitude democrática; e novas regras mundiais para limitar focos de zoonoses.

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Ecumenismo na visão grega de cultura aberta | Jorge Alves

“Le Portugal, pour des raisons historiques et géographiques, ne peut et ne doit pas ignorer l’héritage historique qu’il détient du Maghreb et du Mashrek. Nous devons au moins le respecter. Pour une raison simple – il fait partie de notre ADN. Et, mes chers amis, que ce serait bien si nous ne gaspillions pas le capital de sympathie que nous avons dans le monde arabe! Comme je me souviens des regards brillants et pleins d’affection de ceux qui m’ont demandé d’où je venais, dans n’importe quel coin de la Syrie ou de la Palestine, quand j’ai répondu: Portugal. “

—— / ——

“Portugal, por razões históricas e geográficas, não pode e não deve ignorar a herança histórica que detém do Magreb e do Mashreq. Devemos no mínimo respeitá-la. Por uma simples razão – faz parte do nosso ADN. E, meus caros amigos, que bom seria se não desperdiçássemos o capital de simpatia que temos no mundo árabe! Como me recordo dos olhares brilhantes, plenos de afecto, de quem me perguntava de onde eu era, em qualquer recanto da Síria ou da Palestina, quando eu respondia: de Portugal.”

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Querido Tiago | Brindemos então aos nossos amores! | Frederico Duarte Carvalho

Querido Tiago,

Brindemos então aos nossos amores! Que as nossas mulheres nunca fiquem viúvas e que venha mais uma garrafa de rum! Sim, poderia falar das mulheres que amei e amo, mas não seria justo para elas nem para aquelas que, sabe-se lá, podem um dia também vir a querer amar-me! Tu tiveste uma vida de casado com uma figura pública e há essa história, linda, da coincidência da mensagem no telemóvel enquanto ambos, sem o saberem, estão praticamente na mesma rua. É de filme. No meu caso, tive os meus filmes, as minhas coincidências, as minhas certezas, incertezas, paixões e entregas. A todas que amei, amei. No meio disto tudo, houve um filho. O meu único filho, Álvaro. É hoje o homem que eu amo. Um loiraço de olhos azuis, inteligente, com personalidade e excelente jogador de ténis.

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16) – C19 Upshot | Economias europeias com (pequenos) sinais de recuperação | Paulo Querido

Jessica Hinds – Capital Economics // Economias europeias com (pequenos) sinais de recuperaçãoExistem sinais preliminares de melhoria da atividade económica nos dados de alta frequência, como o aumento do consumo de eletricidade em Itália e em Espanha e um tráfego ligeiramente menos deprimido nas cidades alemãs na semana passada.

A sério?!

Sim. A autora pensa que Abril pode marcar o início da recuperação. Mas avisa que ainda é muito cedo para tirar qualquer conclusão pois outros indicadores ainda precisam de mostrar progressos.

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Querido Frederico Duarte Carvalho | O Amor é uma coisa rara | Tiago Salazar

Querido Frederico Duarte Carvalho

Voltamos sempre ao amor (e à paz e a justiça, como as Misses Mundo). Um dia li esta frase, da Hélia Correia, e guardei a sua fala para sempre. “O Amor é uma coisa rara. Tão rara como um homem evolar-se pelos ares ou um analfabeto citar Cícero em correcto latim”. A Hélia (e o Jaime Rocha), duas almas antigas e floridas, vivem um amor raro. Um amor onde assenta a poesia é do domínio da raridade. Na rua chamam-me “o poeta” ou, por vezes, “fadista”. É um equívoco perdoável. Logo eu, que tenho uma obra completa de três poesias e nada sei de decassílabos, sextilhas ou sonetos.

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15) – C19 Upshot | Companhias aéreas e gigantes do petróleo estão à beira do colapso. Nenhum governo deve oferecer-lhes a salvação | Paulo Querido

George Monbiot – The Guardian // Companhias aéreas e gigantes do petróleo estão à beira do colapso. Nenhum governo deve oferecer-lhes a salvaçãoEsta crise é uma chance de reconstruir nossa economia para o bem da humanidade. Vamos salvar o mundo dos vivos, não seus destruidores, diz o colunista do Guardian George Monbiot

Que se passa aqui?

Esta crise é uma oportunidade para reconstruir a economia para o bem da humanidade. Vamos salvar o mundo dos vivos, não os seus destruidores, defende o colunista do Guardian George Monbiot.

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14) – C19 Upshot | Como a pandemia afeta a liderança americana no mundo | Paulo Querido

João Paulo Charleaux – Nexo Jornal // Como a pandemia afeta a liderança americana no mundoCom recorde de mortos, um sistema de saúde colapsado e taxas históricas de desemprego, os EUA vêem tornar-se mais frágil uma imagem construída a partir da Segunda Guerra Mundial. Cenário acentuado pela degeneração do quadro político interno: mesmo durante a crise, Trump não desistiu da postura permanentemente belicosa que caracterizou todo o seu mandato.

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13) – C19 Upshot | Germany’s Covid-19 expert: ‘For many, I’m the evil guy crippling the economy’ | Paulo Querido

Laura Spinney – the Guardian // Germany’s Covid-19 expert: ‘For many, I’m the evil guy crippling the economy’At the moment, we are seeing half-empty ICUs in Germany. This is because we started diagnostics early and on a broad scale, and we stopped the epidemic – that is, we brought the reproduction number [a key measure of the spread of the virus] below 1. Now, what I call the “prevention paradox” has set in. People are claiming we over-reacted, there is political and economic pressure to return to normal. The federal plan is to lift lockdown slightly, but because the German states, or Länder, set their own rules, I fear we’re going to see a lot of creativity in the interpretation of that plan. I worry that the reproduction number will start to climb again, and we will have a second wave.

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12) – C19 Upshot | O que mudou num mês? Não há dinheiro | Paulo Querido

Tiago Freire, Exame // O que mudou num mês? Não há dinheiro. Não sei se o governo subestimou os custos desta travagem, para as empresas e para os cofres do Estado (por exemplo com a magnitude do recurso ao layoff simplificado). Provavelmente esperaria uma ação solidária europeia, com meios que ajudassem neste momento absolutamente extraordinário, algo que o bom senso poderia razoavelmente prever. O problema é que o bom senso não é há muito critério para a atuação da União Europeia. Ao fim do dia, e por mais floreados que o esforçado Mário Centeno faça, da Europa veio uma mão-cheia de nada, e mesmo assim arrancada a ferros.

O que se passa? Sujeito à pressão contínua de múltiplos actores do comércio, indústria e restauração, completamente parados desde o início do confinamento obrigatório do Estado de Emergência, o Governo Português prepara-se para lançar um plano de reabertura da economia, quando, há poucas semanas, deixava (pouco) implícito que estaríamos confinados, para nossa segurança, durante largas semanas. O que mudou?

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Querido Tiago | “era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto” | Frederico Duarte Carvalho

Querido Tiago,

Como diria o pai da Ana Margarida de Carvalho, a tua “madrinha” do PCP, “era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto”. Se estas cartas fossem como um bar, então não poderíamos falar de política, religião e futebol. Como os dois últimos temas já foram abordados, só nos faltava mesmo entrarmos no campo da política. São os ventos de Abril, claro. As portas que nos abriram, sobretudo agora, quando temos as portas que o vírus nos fechou. No que diz respeito a escolhas políticas, poderia comparar isso a escolhas clubísticas e até a escolhas de amores: não se explicam. Sentem-se. Só que a minha mente gosta de encontrar lógica até nos sentimentos.

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SÓ PARA NÃO ESQUECER | Paulo Marques

Há quatro décadas Portugal era um país triste, pobre, atrasado e analfabeto, em guerra em três colónias (que se arrastou por treze penosos anos). Nesse tempo, os mais audazes partiam rumo à emigração e os que ficavam tinham de se sujeitar às regras dum país pequenino e mesquinho, conservador e moralista, em que o lápis azul da censura “selecionava” o que os portugueses podiam ou não saber. Uma moral castradora que cortava o beijo do filme Casablanca, proibia os Beatles e a Coca-Cola, punia com multa um beijo na boca em público…

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11) – C19 Upshot | Repensar as cidades e o modo de vida | Paulo Querido

Repensar as cidades e o modo de vida

Talvez a principal oportunidade proporcionada pelo coronavirus seja a de repensarmos a forma como nos organizamos nas cidades. Ao longo dos milénios vimos acumulando mais e mais pessoas, recursos e riqueza em cidades que se tornaram estados e cresceram até se tornarem megacidades complicadas de gerir, que começam a criar mais problemas do que as soluções que oferecem. A insustentabilidade do modelo mega é hoje notória. A leitura de dois artigos abaixo propostos é uma reflexão intensa sobre o nosso modo de vida – e como o vamos modificar.

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Querido Frederico Duarte Carvalho | (…) daqui te escreve o camarada Salazar | Tiago Salazar

Querido Frederico Duarte Carvalho

Para falar de Abril e da Revolução, daqui te escreve o camarada Salazar, o único membro do Partido Comunista Português (PCP) de apelido conotado com o fascismo. Era simpatizante e votante de longa data do PCP, e passei a militante de cédula e quotas (opcionais), num Abril de há dois anos. Ninguém me sondou ou aliciou. Fui pelos meus pés, amadrinhado pela Ana Margarida De Carvalho, sem que a amizade ditasse a minha escolha.

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Querido Tiago | Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas | Frederico Duarte Carvalho

Querido Tiago,

Hoje é dia 23 de Abril, uma quinta-feira – isto para quem ainda faz sentido saber em que dia da semana estamos. Se a revolução de 25 de Abril tivesse de acontecer nos dias de hoje, então era hoje, a 23 de Abril, que ela deveria ter lugar. Seria hoje que os tanques viriam para a rua, tomariam de assalto os pontos nevrálgicos de comunicações e emitiram as suas recomendações para que a população permanecesse fechada em casa. Sem sair à rua:

“Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma”.

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10) – C19 Upshot | Mário Centeno: estamos a falar de 12 zeros para o plano de recuperação | Paulo Querido

Teresa de Sousa, Público // Mário Centeno: estamos a falar de 12 zeros para o plano de recuperação Definido o plano de emergência, falta o plano de recuperação. Mário Centeno deixa pistas para as decisões que cabem ao Conselho Europeu de quinta-feira.

Que se passa aqui? Trata-se de uma grande entrevista a Teresa de Sousa de Mário Centeno enquanto presidente do Eurogrupo. Mostra-se obviamente otimista para o Conselho Europeu, dizendo coisas como: ‘O apelo que agora é feito à inovação neste último passo – o da recuperação – não é novo. Não devemos ficar muito ansiosos, portanto, face à capacidade para inovar também aqui. Estou muito confiante e muito seguro de que essa resposta vai aparecer. As forças que têm permitido construir a Europa vão estar presentes nesta discussão e vão levar-nos a um porto seguro.’

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9) – C19 Upshot | El Gobierno ya plantea una España sin hoteles, bares y restaurantes recuperados hasta Navidad | Paulo Querido

Eduardo Fernández, El Mundo // El Gobierno ya plantea una España sin hoteles, bares y restaurantes recuperados hasta Navidad “El Ministerio de Trabajo y Economía Social está trabajando en dos fases para las medidas en los sectores más afectados: excepcionalidad atenuada, que durará hasta este verano, y normalidad atenuada, que se prolongará hasta final de año”, comunicó a última hora este departamento.

O que se passa? O Governo Espanhol prepara a segunda fase de abertura do País, e entre a primeira fase agora encetada, e a segunda fase, depois do verão até ao final do ano, antevê que negócios como a Cultura, os Bares e Restaurantes e os Hotéis possam vir a ser fortemente restritos até ao final de 2020.

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8) – C19 Upshot | Sobrevive a democracia ao coronavírus? | Paulo Querido

EDITORIAL por Paulo Querido

Nova secção de bookmarks

A partir da edição de ontem a newsletter conta com uma secção fixa intitulada **bookmarks**. O objetivo é manter uma lista perene de links para conteúdos particularmente úteis, como sites de síntese gráfica, boletins oficiais relevantes e documentos científicos.

Esta lista será acrescentada regularmente e aceita indicações dos leitores, que as podem submeter por email (ver abaixo, na secção). Uma vez analizada a sua pertinência, serão integrados. Aliás, o quinto link foi inserido hoje a partir da sugestão enviada por um membro. E escrevo ‘membro’ porque a newsletter não se esgota enquanto tal: propõe a interação entre os interessados, em moldes que vão eles próprios evoluir com o tempo e o envolvimento.

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Querido Fred, Frederico Duarte Carvalho | Tiago Salazar … Querido Tiago Salazar | Frederico Duarte Carvalho

Querido Fred,
Frederico Duarte Carvalho

Se eu morresse agora isto seria o meu cartão de farewell:

Tiago Salazar nasceu em Lisboa, em 1972 (a 21 de fevereiro)
Formou-se em Relações Internacionais e estudou Guionismo e Dramaturgia em Londres
É (era) doutorando no Instituto de Geografia onde prepara(va) uma tese sobre A Volta ao Mundo de Ferreira de Castro
Trabalhou como jornalista desde 1991
Venceu o prémio Jovem Repórter do Centro Nacional de Cultura, em 1995
Foi formador de Escrita e Literatura de Viagens
Idealizou, escreveu e apresentou o programa Endereço Desconhecido, da RTP2
Foi Bolseiro da Fundação Luso Americana em Washington, em 2010
Foi vencedor do prémio Literatura na XVII Gala dos prémios da revista Mais Alentejo, em 2018

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7) – C19 Upshot | O estertor do jornalismo agravado pela pandemia | Paulo Querido

EDITORIAL por Paulo Querido

O estertor do jornalismo agravado pela pandemia

No início da pandemia muita gente dentro dos media esfregou as mãos. A procura de jornais, de papel e em linha, disparou. Os mais alegres vaticinaram o regresso do jornalismo. Mas sucedeu o contrário. Entre as primeiras vítimas económicas do COVID-19 está o jornalismo. E mais uma vez as respostas do setor foram as erradas. Em Portugal os diretores de 20 meios apelaram ao coração dos consumidores para comprarem assinaturas ao mesmo tempo que os responsabilizavam por um detalhe que não tem importância económica alguma (a partilha de PDFs) e baixavam as paywalls, criando um conjunto de sinais no mínimo confuso.

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6) – C19 Upshot | Our Pandemic Summer | Paulo Querido

Ed Yong, The Atlantic // Our Pandemic Summer I think people haven’t understood that this isn’t about the next couple of weeks. This is about the next two years.

Que se passa? Ed Yong tem um segundo long-form sobre a pandemia. Preenche parte da lacuna que os governos de todo o mundo não conseguem abordar publicamente. Define o cenário desde o início, com uma citação de Michael Osterholm, chefe do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota: “Acho que as pessoas não entenderam que isso não acontece nas próximas semanas. Isso é sobre os próximos dois anos.”

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Querido Tiago | Aos meus amores. Aos nossos amores. | Frederico Duarte Carvalho

Querido Tiago,

Aos meus amores. Aos nossos amores. Sim, já fui infiel. Fui a mim próprio, por não ter sabido a tempo revelar, com palavras, aquilo que tentava ocultar com actos. Sempre tive espaço para muitas mulheres nos quartos do meu coração, como qualquer homem. Só que era uma de cada vez. Lidar com uma mulher é, por si só, um mistério tão grande, um labirinto tão atractivo e profundo onde nos queremos perder e perder sem encontrar a saída, que não vejo como seja possível manter dois amores ao mesmo tempo. O que me faz ficar? O que faz saber que vale a pena acordar todos os dias e amar mais do que ontem? Não é um bom par de seios, ancas ou traseiro desejável. Não é nada disso que, para mim, faz a Vénus ser de Milo. Existe uma única coisa que sei que é capaz de sobrepor a um nariz que podia ser mais pequeno, lábios que podiam ser mais grossos, dentes em melhores condições, uma personalidade mais sociável. O que consegue minimizar os defeitos são os olhos. Os olhos. Olhos no olhar de uma mulher. É o momento em que sei que fui captivado e estou rendido a uma pessoa. É como se fosse o Mel Ferrer, no “Guerra e Paz” do King Vidor, a apreciar a Audrey Hepburn enquanto dança no grande salão com outra pessoa, e dizer para mim próprio: “Se na próxima volta ela olhar para mim e sorrir, será a minha mulher”. É assim que, em geral, tenho gerido a minha vida sentimental.

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Querido Fred, Frederico Duarte Carvalho | Estes vaivéns são como bate-bolas | Tiago Salazar

Estes vaivéns são como bate-bolas (intelectuais, sentimentais). Temo viciar-me neles para além da quarentena, e se tu me falhares, ver-me forçado a criar um interlocutor (alter-ego) do teu calibre, o que não será fácil. Isto de contar histórias há que vivê-las para contá-las. Memórias de mis putas tristes e Vivir para Contar La, de Gabo, são dois exemplos máximos de como há vidas extraordinárias no meio do furacão nefasto que é o intervalo entre nascer e morrer. E claro, ter a perícia de saber brincar-dançar com as palavras. Nós, os humanos, apesar de tudo, somos uma grande invenção. Rir da desgraça, rir da decadência, rir simplesmente, é um remédio poderoso.

Podia rir-me, por exemplo, de ter um pai que, não sendo o modelo de pai canónico, aquele que se ocupa de cuidar dos filhos antes de si próprio, me dá vontade de rir, como muitas vezes deu de chorar. O velho é um filho da mãe safado com graça, e embora tenda a repetir-se nas suas façanhas de macho alfa, tem nas suas histórias de fanfarrão um sentido profilático do humor. Penso sempre no meu pai nu ou armado, o que pode vir a dar ao mesmo. Armado, porque tudo para ele é motivo de conflito, disputa e acusação. Nu, porque sofre do vício das mulheres. Nunca estive com ele sem que deixasse de falar das mil mulheres a quem dedicou a sua pujança de garanhão.

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5) – C19 Upshot | Four scenarios for the global economy after COVID-19 | Paulo Querido

Carsten Brzeski e James Smith, ING // Four scenarios for the global economy after COVID-19 In this fast-moving environment, we need to think in scenarios, rather than pretending to know how the economy will evolve over the next 1 ½ years. We’ve developed four scenarios of how the virus, the lockdown measures and consequently the different economies could evolve. Needless to say, even these scenarios cannot try to fully predict reality, but we hope they can provide a benchmark for both the extremes and the middle-ground. In each case, we’ve laid out some possible health factors that may be driving the scenarios – although we’d emphasise these are not meant to be interpreted as forecasts.

O que se passa? O ING criou um conjunto de 4 cenários sobre o futuro próximo na progressão do COVID-19 (um com a baseline, um assumindo a reincidência do virus no Inverno, um cenário optimista e um cenário pessimista) que, sem recorrer aos artifícios clássicos de quadrantes e outros que tais, baliza de forma sóbria num artigo de poucos minutos de leitura os potenciais caminhos económicos dos meses que se nos avizinham.

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4) – C19 Upshot | Ensaio: o capitalismo numérico | Paulo Querido

José Gil no Público // Ensaio: o capitalismo numérico A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro.

Sumário O filósofo José Gil assina este interessante artigo onde ensaia algumas modificações mais ou menos radicais do nosso modo de vida. Segundo ele, fator decisivo são as “novas” tecnologias, que vão aplicar-se num quadro pós-pandémico de desterritorialização e em plena crise ecológica.

O capitalismo acaba? Não, que ideia 😛 Para Gil, não escaparemos ao seu poder de “preservação, auto-regeneração e metamorfose”.

Nova subjectividade Gil antevê a formação de um novo tipo de subjetividade, a subjetividade digital, a surgir no final da atual transição que é o confinamento, e que se colocará no centro do novo “capitalismo numérico”. A Covid-19 seria o trampolim a catapultar a colectividade para um nível superior, o da sociedade digital. Em vez de progredir gradualmente, passando por fases mediadoras, a pandemia vai obrigar a um salto brutal, impondo indiscriminadamente a digitalização de todas as actividades.

Obey! Talvez a parte mais perturbadora do ensaio diz respeito ao comportamento geral. José Gil diz sem rodeios que a nova subjectividade comportará capacidades passivas de obediência voluntária e capacidades activas de funcionamento programado, características já presentes na subjectividade digital pré-pandémica.

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Querido Tiago, o que é a Felicidade? | Frederico Duarte Carvalho

Querido Tiago,

O que é a Felicidade? Um chocolate quente na sala com a chuva a cair lá fora, por exemplo? As memórias de quando fomos felizes? Li uma vez, e achei um exagero, que um estudo defende que a memória mais duradoura nas células do cérebro é a dos cheiros. Até que, um dia, senti um cheiro que me fez recuar a um tempo em que eu deveria ter três anos e percebi que sim, esse estudo é capaz de estar certo. Sou como o Woody Allen quando diz que deveríamos viver a vida ao contrário. O judeu de Nova-Iorque é da opinião de que o dinheiro da reforma deveria ser para gastarmos enquanto somos novos e, no fim, podemos morrer com um orgasmo. Falas das corridas de F1 e ainda hoje li a notícia da morte do Sterling Moss, aos 90 anos, que disse que era feliz a fazer o que gostava e, ainda por cima, lhe pagavam para isso. Como sustenta o Herman José: o dinheiro não dá felicidade, mas manda ir buscar. Contava ainda o George Best, o futebolista genial do Manchester United, que todo o dinheiro que ganhou, gastou-o em mulheres e bebida. E o que lhe sobrou, gastou-o mal gasto.

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3) – C19 Upshot | Dumped Milk, Smashed Eggs, Plowed Vegetables: Food Waste of the Pandemic | Paulo Querido

David Yaffe-Bellany e Michael Corkery no NYT // Dumped Milk, Smashed Eggs, Plowed Vegetables: Food Waste of the Pandemic With restaurants, hotels and schools closed, many of the nation’s largest farms are destroying millions of pounds of fresh goods that they can no longer sell.

Que se passa? Milhões de litros de leite, milhões de vegetais frescos, toneladas de produtos alimentares estão a ser atirados para o lixo. O artigo foca os EUA e pressupõe o efeito da paralisação forçada pela pandemia. Mas o problema é muito maior.

O modelo insustentável do desperdício Ao contrário de alguma crença, os alimentos não estão a ser atirados fora apenas porque os produtores preferem isso a dá-los a quem precisa. O que está em causa não é tanto o modelo capitalista, mas toda a complexa organização da produção alimentar. A começar pela lógica geográfica, que empurrou a produção para demasiado longe dos locais de consumo. A rede de frio e de transportes é demasiado atreita aos contratempos e às crises duráveis.

Menos vegetais em casa Os hábitos alimentares também mudam, levando os produtores a alterar planos. Por exemplo: o consumo de vegetais frescos é menor em casa do que no restaurante.

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Querido Frederico, Frederico Duarte Carvalho | Tiago Salazar

Estas partilhas, que vamos fazendo públicas, e suscitam comentários imediatos, alerto-o, por mim, e creio por ti, são a narrativa das mais puras das verdades. Por outro lado, não as considero tempo perdido ou uma forma de gastar o tédio dos dias confinado, e nunca, mas nunca, escrevê-las à pressa, descarregando-as sem as rever, cortar, limar, polir e aperfeiçoar com todos os detalhes. Prefiro espaçá-las, sem nenhum imperativo de as escrever, ou de que me respondas forçado, como se houvera um compromisso com os leitores (a não ser que estes nos digam, queremos contribuir para a vossa causa, queremos cartas diárias, e mais tarde, umas vez compiladas por um editor generoso, nos enviem uns trocos para casa).

Eis um tema na ordem de todos os dias: o custo e a paga. Isto, por exemplo, é uma troca de correspondência, mas sem pretensões agostinianas, falo de Agostinho da Silva, e as suas míticas Sete Cartas a um Jovem Filósofo, rilkianas, de Rainer Maria Rilke, autor máximo do género com as suas Cartas a um Jovem Poeta, ou mesmo do teu conhecido Christopher Hitchens, polemista autor das Letters to a young contrarian, nomeado por Gore Vidal como o seu sucessor, e em quem Susan Sontag viu brilhantismo epistolar, género onde outros tendem a praticar o cliché.

Temos um método e um objetivo: chegar às 40, número bíblico do sofrimento cristão, jornada iniciática, providencial. Porventura este falso cativeiro irá prolongar-se além desta quarentena, e aí, por mais vividos e aventureiros, teremos esgotado os superlativos temas das nossas autobiografias prematuras (somos jovens de 48 anos, tu ainda por completar).

Notemos aos que nos lêem que nunca combinamos o tema do dia. A magia de escrever, realista ou surrealista, é como tudo nasce de onde nos venham as ganas.

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2) – C19 Upshot | A resposta europeia à pandemia: um “castelo de cartas”? | Paulo Querido

Ricardo Cabral e Ricardo Sousa, Público // A resposta europeia à pandemia: um “castelo de cartas”? As medidas que têm vindo a ser anunciadas terão custos enormes. Não são credíveis na protecção dos trabalhadores, sendo expectável um aumento em massa do desemprego e da precariedade das condições laborais sem paralelo. São complacentes com a eliminação de um grande número de pequenas e médias empresas, garantindo apenas a sobrevivência daquelas que, por via de relações privilegiadas com o poder político ou com o sector financeiro, acabarão por concentrar grande parte dos recursos do país.

Que se passa?! A resposta da UE à crise pandémica é por um lado pífia e por outro irá reforçar o poder dos indivíduos e instituições que já o detém. O pacote de 500.000 milhões de euros aprovado pelo Ecofin com uma encenação de dramatismo que é mais significativa que o acordo é um exemplo da decepção.

Mais austeridade? Exatamente. Podem os governantes, como o PM português António Costa, pretender dourar a pílula como quiserem que o amargo não desaparece: a resposta da UE é apenas e só um conjunto de linhas de crédito, a empresas e a estados. O que significa juros e prazos de pagamento que atendem exclusivamente aos interesses de quem empresta.

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1) – C19 Upshot | EDITORIAL | Paulo Querido

EDITORIAL por Paulo Querido

O que vai ser esta newsletter?

C19 Upshot: explicar a incerteza — é uma nova publicação diária gratuita, distribuída a assinantes por correio eletrónico. É elaborada por uma equipa plural que inclui jornalistas, cientistas e outras pessoas experientes em filtrar o caudal informativo nas suas áreas, identificando os sinais acima do ruído.

A atitude da equipa é de serviço público. O seu único compromisso é propor a leitura de artigos de qualidade que lancem luz sobre o futuro moldado pelos efeitos da pandemia COVID-19 e suas sequelas. Numa frase curta: constituir um filtro de inteligência que coe a torrente de informação relacionada com a pandemia.

Esta newsletter assume que o seu alvo são pessoas que somam ao interesse por reflexões de utilidade comprovada algum à-vontade com as línguas, pois apresentará fontes em português, castelhano, inglês, francês – italiano e alemão podem também surgir.

Nesta primeira edição temos 7 sugestões, das quais 4 são artigos anotados e 3 são breves links. Procuraremos manter um ritmo de entre 2 a 5 artigos sumarizados e outras tantas breves.

Nota final. A newsletter não é enviada de um endereço ‘no reply’ mas sim do endereço real do projeto. Assim, é interativa: basta responder para a sua mensagem me chegar. Procurarei não deixar correio por responder.

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Querido Fred | Tiago Salazar

Querido Fred,
Frederico Duarte Carvalho

Portas o facho da esperança ou da ironia ou fintaste a ti próprio? És tu um niilista ou um crente (nem que seja nas virtudes lenitivas do vinho?). Tu, que lês e bebes na História, achas que o mundo vai mudar para melhor ou não andaremos de crise em crise com interlúdios de fraternidade universal, até à extinção? A aldeia global não é uma grande farsa? Que sabe um inuit por aí além de um português ou que sabemos nós dos esquimós para além de iglus e beijos de nariz a dar e dar (por ora proibidos)?

Quando me vejo asfixiado, agrilhoado (como Prometeu), preso num colete de forças, atiro-me ao que me pode salvar-evadir, a escrita-a viagem, mormente, como se escrever-viajar me devolvessem o sentido de pertença a um mundo que sei condenado. A nossa geração não conhecia, até aqui, mais do que o drama dos recibos verdes. Fome, guerra, doença, miséria, são realidades para a maioria de nós desconhecidas. Haverá filhos de quem foi à guerra que padeçam de males que não serão menores, como o da rejeição e do abandono ou da violência doméstica (que também é a dos pais sofre os filhos). As nossas guerras têm sido outras: a do trabalho precário, sobretudo. Chamar guerra ao que se passa é um ultraje. Será do hino termos que ir logo apelar às armas? E os barões assinalados, os donos disto tudo, que farão eles neste momento a não ser acautelar os seus interesses, proteger as suas perdas, inventando outras formar de lucrar como lacraus e abutres e saqueadores de outroras e agoras?

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