EM FINAIS DE SEMANA SANTA, UMA REFLEXÃO SOBRE A GEOLOGIA NO DEBATE ENTRE A FÉ E A RAZÃO | António Galopim de Carvalho

Na Idade Média e no que respeita o chamado mundo ocidental, as respostas aos grandes temas que, só em começos do século XVIII, viriam a integrar a geologia encontravam-se no seio das universidades europeias, cujos mestres eram, na grande maioria, eclesiásticos.

Do universo ao homem, passando pelo nosso planeta, onde os mares, as montanhas, os vulcões e os sismos eram alvo de um misto de curiosidade e temor, essas respostas, todas elas condicionadas pela fé, impunham verdades globais, definitivas e indiscutíveis.
Paradoxalmente, o pensamento científico emergia e crescia no seio da mesma Igreja. Cautelosa e timidamente, os seus cultores propunham as suas explicações, sujeitando-se ao risco de uma tal ousadia.

Como é vulgo dizer-se, a ciência e a religião são como a água e o azeite, não se misturam. As atitudes de uma e de outra perante as entidades e os fenómenos naturais são geradoras de confronto, hoje razoavelmente civilizado e pacífico nas sociedades democráticas, mas conflituoso e, tantas vezes, cruel e desumano no passado e, estupidamente em algumas sociedades do presente.
Foram muitas as situações em que a Igreja, declaradamente em nome da fé e encobertamente, em defesa dos seus privilégios, tentou submeter os “sábios”, muitos deles, os seus doutores, e pô-los ao serviço da sua condição de classe dominante.

Falar ou escrever sobre a origem da Terra e as suas transformações ou sobre o nascimento da vida e a evolução das espécies, incluindo o surgimento do homem, tinha limites impostos pelos zeladores da fé. Fazê-lo à luz da ciência e, inevitavelmente, em confronto com as “verdades” bíblicas e com os dogmas decretados pela Santa Sé, não foi uma caminhada fácil. Foi, sim, causa de perseguições, sofrimento e, não raras vezes, sacrifício da própria vida. Basta lembrar Averróis, no século XII, Roger Bacon, no XIII, Jean Buridan, no XIV, Ulisse Aldrovandi e Giordano Bruno, no XVI, Galileu, no XVII, e Buffon, no XVIII, para nos darmos conta dos escolhos postos ao progresso desta e de outras ciências.

Ao evocarmos filósofos, astrónomos, geógrafos e naturalistas que, tijolo a tijolo, implantaram as fundações do conhecimento hoje ao nosso alcance sobre a história do nosso planeta, da vida que sobre ele se desenvolveu e da nossa própria história como seres vivos, deparamo-nos, a cada passo, com o debate, entre o saber científico, racional, e o das crenças impostas pelas tradições religiosas ou outras, numa competição que só começou a esbater-se com o surgimento do iluminismo (movimento da elite intelectual europeia, em finais do século XVIII) e a vitória do liberalismo. Cultivar a geologia em moldes científicos, nos tempos anteriores, teve os seus riscos. E não foram pequenos.

A geologia foi um dos domínios do conhecimento científico cuja competição e cujos conflitos com a religião (em particular, com a Igreja Católica) foram mais graves e violentos. Apesar disso, cresceu, e muito, nos contextos da ciência e da tecnologia, sendo hoje um dos pilares da sociedade moderna, constituindo alavancas poderosas para o bem e para o mal, ao serviço de uma humanidade a um tempo sabedora e desencantada, à procura de um caminho que tarda em encontrar.

António Galopim de Carvalho

Retirado do Facebook | Mural de António Galopim de Carvalho

Lançamento do MeRA25 | Atenas, Grécia | DiEM25

Esta segunda-feira demos mais um passo para a democracia EuropeiaLançamos o MeRA25, a nossa ala eleitoral na Grécia.

O lançamento do MeRA25 decorreu num teatro apinhado de Atenas e à medida que a nossa magnífica cerimónia de lançamento terminava, cerca de vinte neonazis atacaram os nossos membros. Felizmente os nosso apoiantes e voluntários conseguiram controlar a situação e ninguém se magoou.

Esta foi uma ação coordenada e os media oligárquicos gregos fizeram os possíveis para matar o MeRA25 à nascença.

Na terça-feira Julian Assange, membro do Painel Consultivo e fundador do WikiLeaks ficou sem acesso à internet e sem permissão para visitas. Porquê? Porque quiz apenas partilhar a sua opinião sobre o que se passa no mundo.

O DiEM25 emitiu um comunicado assinado pelo co-fundador do DiEM25 Yanis Varoufakis e por Brian Eno, membro do Colectivo Coordenador a criticar o Equador por deixar Assange sem capacidade de comunicação.

Sempre soubemos que não seria fácil. À medida que nos vamos tornando mais fortes, o status quo e os seus aliados vão tentar tudo para silenciar o nosso apelo à democracia, transparência e justiça.

Sabemos o que temos de fazer e estamos certos que juntos somos mais fortes.

Tu podes ajudar, vê como:

  • Assina e partilha a nossa petição para permitir que Assange tenha acesso à internet e a visitas

  • Doar ao MeRA25 para que os ativistas do DiEM25 consigam formar uma política alternativa para a Grécia

Vítor, estamos a entrar numa nova fase,crítica para curar a União Europeia e realizar o nosso sonho coletivo. Precisamos por isso do teu apoio.

Carpe DiEM!

Luis Martin – Coordenador de comunicações do DiEM25

Sepultar Jesus | Frederico Lourenço

O problema da celebração da Páscoa para o agnóstico é a terceira das suas três etapas (sendo elas: crucificação; deposição no túmulo; ressurreição).

Para quem prefere manter uma posição distanciada relativamente ao modo como o Novo Testamento narra a biografia de Jesus, custa aceitar a ideia de que o homem a quem injustamente torturaram e mataram supera milagrosamente o horror do que lhe aconteceu ressuscitando ao terceiro dia.

O horror da última sexta-feira da sua vida é crível: é 100% consentâneo com o horror da realidade humana. O sentimento (de perda, de exaustão emocional e de infinita tristeza) vivido pela mãe do defunto e pelos seus amigos é compreensível, necessário e intensamente humano. O que acontece de sábado para domingo – o inexplicável regresso à vida depois da morte – obriga a um salto de raciocínio que a Razão trava à partida. Só podemos aceitar a ideia de que à morte se segue a vida (ainda para mais eterna) se aceitarmos que isso só pode fazer sentido num plano irracional.

Mas permaneçamos no terreno do racional. O Evangelho de Mateus (27: 57) conta como um homem de Arimateia chamado José se dirigiu a Pilatos e obteve dele a permissão para enterrar o corpo de Jesus. “E levando o corpo” (escreve o evangelista) “José envolveu-o num pano de linho lavado e depô-lo num túmulo recente, que mandou cavar na rocha”. O laconismo discreto das palavras de Mateus não deixa espaço para a consideração do estado emocional de José; das duas mulheres (ambas de nome Maria) que o evangelista inclui neste episódio diz-se apenas que ficaram sentadas em frente do sepulcro. Mas facilmente conseguimos imaginar o estado de espírito com que permaneceram ali sentadas: esse estado de choque, decorrente do luto profundo, foi descrito por um poeta em Roma mais ou menos na altura em que Jesus teria 8 anos de idade. A mulher enlutada descrita por esse poeta queda-se, imóvel, com o rosto pálido e sem pinga de sangue, com os olhos parados e a língua congelada dentro da boca (Ovídio, Metamorfoses 6, 303-6). O horror daquilo a que as duas Marias tinham assistido no lugar chamado Gólgota outra coisa decerto não permitiria.

Quanto às emoções de José de Arimateia, essas só 1700 anos depois é que encontrariam quem as soubesse intuir e descrever. Não apenas por palavras, mas acima de tudo por música. “Quero ser eu a enterrar Jesus” canta o solista da última das quatro árias para Baixo da “Paixão Segundo São Mateus” de Johann Sebastian Bach. “Faz-te puro, meu coração”.

Que sentido tem esse “quero ser eu a enterrar Jesus?” De que serviu declarar isto numa igreja em Leipzig mais de 1700 anos após o acontecimento? E de que servirá hoje, quase 2000 anos depois, a um ex-católico como eu a ideia de que continua válido o sentimento de responsabilidade individual experimentado por José de Arimateia no enterro de Jesus? Quero ser eu a enterrar Jesus porquê? Que significado tem para mim esse gesto?

Para o agnóstico, a acção de José de Arimateia – o Enterro de Jesus – é justamente o momento da história pascal que mais apela à sua participação. Se eu tenho dúvidas de que Jesus tenha sido filho de Deus, se eu não sei se existe Deus (embora intua irracionalmente que Ele existe), não me fará sentido a “forte união ao sacrifício de Cristo na cruz” (que, já agora, um padre católico me recomendou em tempos como “cura” para a homossexualidade). Muito menos me fará sentido a ressurreição.

Sepultar Jesus é outra coisa. É um gesto de desvelo, de homenagem a este homem que poderá (ou não) ter caminhado sobre a água, que terá conseguido (ou não) restituir a visão aos cegos e que terá feito (ou não) a multiplicação de pães. Foi um homem que morreu traído por um amigo e renegado por outro; foi um homem que teve a coragem de criticar fariseus, de escorraçar vendilhões e que afirmou “amém vos digo que dificilmente um rico entrará no reino dos céus” (Mateus 19: 23). Pregou o amor ao próximo, chamou “filhos de Deus” aos que promovem a paz e prometeu o “reino dos céus” aos que sofrem perseguição por causa da justiça.

Dar, como José de Arimateia, enterro condigno a este homem é – independentemente da religião que se formou em seu nome – homenagear o melhor que existe na natureza humana. Ao mesmo tempo, é voltar ao minuto zero, ao pré-Cristianismo, antes de Jesus ter (ou não) ressuscitado dos mortos: é voltarmos atrás na História, ao último momento em que nos podemos concentrar apenas nele – na sua vida e na sua morte. Antes da sua ressurreição. Antes de outros se terem interposto entre ele e nós e antes da fixação da igreja na figura mediadora de Maria. Pois este momento da deposição no túmulo permite-nos esquecer tanto São Paulo como todos os protagonistas vindouros das lutas assassinas entre seitas cristãs; permite-nos esquecer Constantino, Justiniano, os Reis Católicos, Luís XIV, D. João V, Pinochet e todos os outros ditadores e bilionários a quem a acomodatícia igreja de Cristo sancionou o devaneio de que professavam uma religião inspirada na vida de Jesus; permite-nos esquecer papas e inquisidores, católicos e luteranos, ortodoxos e calvinistas. Permite-nos esquecer dogmas e concílios, teólogos e missionários, conversões forçadas e autos-de-fé, Fátima e outras árvores-das-patacas similares.

Estarmos, uma vez por ano, ao lado de José de Arimateia a enterrar Jesus (e a sentir o luto intenso pela sua morte tão injusta) é homenagearmos a vida dele. E homenagearmos a vida de Jesus é o primeiro passo na percepção de que, em última análise, somos nós que podemos (por meio da forma como vivemos a nossa própria vida) assegurar que a vida admirável deste admirável defunto não tenha sido vivida em vão.

Frederico Lourenço

Retirado do Facebook | Mural de Frederico Lourenço

FOTO: The Entombment of Christ / El Entierro de Cristo // 17th c. // Adriaen van der Werff

Sexta-feira Santa | Frederico Lourenço

Apesar de, no plano racional, me considerar ex-católico e profundamente céptico em relação a todas as religiões, a sexta-feira santa nunca será para mim um dia como outro qualquer.

De manhã à noite o meu pensamento está involuntariamente dominado pela imagem do homem pregado na cruz, esse homem singular portador de três identidades (Filho de Deus; ou apenas um nazareno histórico chamado Jesus; ou somente personagem da narrativa dos evangelistas). A ideia de pregar alguém numa cruz, depois de se lhe ter cuspido em cima e chicoteado de forma cruel, é persistentemente perturbadora, talvez porque nela conseguimos focar a indignação que o conhecimento da história humana nos obriga a repartir por tantas realidades análogas.

Torturas e execuções são o pão quotidiano da humanidade desde que ela deixou de ser constituída por caçadores-recolectores e passou a organizar-se em torno de um modo de vida sedentário. A civilização (não esquecer a ligação etimológica com «civitas») que nasceu da descoberta da agricultura há 12000 anos trouxe no seu encalço a escravatura, a guerra, as hierarquias sociais e a vocação das ideologias políticas e religiosas para cercear a liberdade de pensamento.

Desde então, muitos seres humanos foram torturados e executados (por vezes com crueldades ainda piores do que as sofridas pelo Nazareno); a própria crucificação já era coisa banal no mundo antigo quando Jesus foi crucificado. Basta dar este exemplo: na mesma Jerusalém, no século anterior, 800 judeus sofreram no mesmo dia a crucificação enquanto as mulheres e os filhos eram degolados à vista dos crucificados.

De alguma forma, a imagem da crucificação de Jesus propõe à nossa consideração uma espécie de sinédoque visual do sofrimento humano: é a parte abarcável que nos põe em confronto com um todo inabarcável – pois desse todo fazem parte as masmorras da Inquisição, da Gestapo e da KGB; dele fazem parte genocídios de povos inteiros; dele fazem parte as tragédias de hoje na Síria e no Iraque; dele fazem parte toda a fealdade hedionda do ser humano.

Pensarmos, pois, com toda a nossa compaixão no homem de Nazaré pregado na cruz é, assim, uma pequena tentativa de abarcarmos o inabarcável. É darmos um nome a um sofrimento que é global, milenar e anónimo.

imagem: a Crucificação de Guido Reni (século XVII), na igreja de San Lorenzo in Lucina (Roma), onde está enterrado Poussin.

A NOVA CULTURA GESTIONÁRIA | José Gabriel Pereira Bastos

Noto grande decepção sintomática e irreflectida, depressiva, entre gente da educação e das artes, confrontados com a Morte da Cultura e das relações Humanísticas, movidas pela dedicação.

Parece que não se aperceberam (e por isso não sabem lutar contra) a entrada da CULTURA PRAGMÁTICA ANGLO-AMERICANA na Europa (um espaço de desorientação, desistência, submissão e inexistência).

Quando gentes das “Ciências da Educação” foram ‘aprender’ em Boston a CULTURA GESTIONÁRIA, a dimensão da dedicação ao ensino (e às Artes) foi esterilizada – há que gastar formamente o tempo ‘de forma racional’ em reuniões, no preenchimento de formulários e a cumprir ‘programas’,a ‘ser útil’ e a ‘acabar com ‘devaneios humanístas’, de raiz familialista, dizem eles, que estudaram em Boston (são uma bosta).

Nesta Nova Cultura, quem não souber submeter-se aos Jogos Burocráticos, é eliminado por ‘Concursos’ formalizantes.

Da Política como Burocracia, à Educação e às Artes como Acções orientadas por Objectivos (que alguém decidiu que eram) ‘Pragmáticos’, isto é, Importados da América, vai um passo de Anão, estamos a caminho da perda da estatura humana, humanizada e humanística, e há muitos que estão a amuar, em vez de reagir.

Não se lembram dos “Tempos Modernos” e do Taylorismo Chaplinesco? Fomos avisados quase há um século. É a América Nazi (isto é, ‘Republicana’), o Positivismo, o Racionalismo, o Pragmatismo, o Machismo Mental Frio, e outras Ideologias Suprematistas de “Espíritos Racionais” (que comem rações, como as Bestas), isto é, de Almas Insensíveis.

Há muita dificuldade em perceber que os Burocratas da Intelectualidade “Racional” são doentes mentais de uma patologia até hoje não-diagnosticada, que vivem em Estado de Exibição, não buscam ajuda clínica e projectam à sua volta a Desumanidade das suas Almas Vazias, mas Suprematistas e, portanto, de um Imperialismo Globalizante. Paranóides, dizem os Psiquiatras, em livros que ninguém pensa. Freud definiu-os como “Homens Narcísicos” ou Homens de Acção (1930, 1931), que podem fazer perigar Civilizações.

Kant definiu-os como Gerontes Altivos (viris), deu-lhes o cognome de “Sublimes” e contrapôs os Sublimes (ele, como exemplo exemplar, estéril e sem família) aos “Belos” (as Mães brincando com filhos na relva, muito abaixo deles) e aos “geridos por Interesses”, que são hoje os que puxam os cordéis das Marionetas Sublimes e destroem o Belo, isto é, a Fecundidade feminina e materna.

José Gabriel Pereira Bastos

Retirado do Facebook | Mural de José Gabriel Pereira Bastos

A confissão de um vagabundo | Serguei Iessiênin

Nem todos sabem cantar
Não é dado a todos ser maçã
Para cair aos pés dos outros.

Esta é a maior confissão
Que jamais fez um vagabundo.

Não é à toa que eu ando despenteado,
Cabeça como lâmpada de querosene sobre os ombros.
Me agrada iluminar na escuridão
O outono sem folhas de vossas almas,
Me agrada, quando as pedras dos insultos
Voam sobre mim, granizo vomitado pelo vento.
Então limito-me a apertar mais com as mãos
A bolha oscilante dos cabelos.

Como eu me lembro bem então
Do lago cheio de erva e do som rouco do amieiro
E que nalgum lugar vivem meu pai e minha mãe,
Que pouco se importam com meus versos,
Que me amam como a um campo, como a um corpo,
Como à chuva que na primavera amolece o capim.
Eles, com seus forcados, viriam aferrar-vos
A cada injúria lançada contra mim.

Pobres, pobres camponeses,
Por certo, estão velhos e feios,
E ainda temem a Deus e aos espíritos do pântano.
Ah, se pudessem compreender
Que o seu filho é, em toda a Rússia,
O seu melhor poeta!
Seus corações não temiam por ele
Quando molhava os pés nos charcos outonais?
Agora ele anda de cartola
E sapatos de verniz.

Mas sobrevive nele o antigo fogo
De aldeão travesso.
A cada vaca, no letreiro dos açougues,
Ele saúda à distância.
E quando cruza com um coche numa praça,
Lembrando o odor de esterco dos campos nativos,
Lhe dá vontade de suster o rabo dos cavalos
Como a cauda de um vestido de nooiva.

Amo a terra.
Amo demais a minha terra!
Embora a entristeça o mofo dos salgueiros,
Me agradam os focinhos sujos dos porcos
E, no silêncio das noites, a voz alta dos sapos.
Fico doente de ternura com as recordações da infância.
Sonho com a névoa e a umidade das tardes de abril,
Quando o nosso bordo se acocorava
Para aquecer os ossos no ocaso.
Ah, quantos ovos nos ninhos das gralhas,
Trepando nos seus galhos, não roubei!
Será ainda o mesmo, com a copa verde?
Sua casca será rija como antes?

E tu, meu caro
E fiel cachorro malhado?!
A velhice te fez cego e resmungão.
Cauda caída, vagueias no quintal,
Teu faro não distingue o estábulo da casa.
Como recordo as nossas travessuras,
Quando eu furtava o pão de minha mãe
E mordíamos, um de cada vez,
Sem nojo um do outro.

Sou sempre o mesmo.
Meu coração é sempre o mesmo.
Como as centáureas no trigo, florem no rosto os olhos.
Estendendo as esteiras douradas de meus versos
Quero falar-vos com ternura.

Boa noite!
Boa noite a todos!
Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo…
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua.

Luz azul, luz tão azul!
Com tanto azul, até morrer é zero.
Que importa que eu tenha o ar de um cínico
Que pendurou uma lanterna no traseiro!
Velho, bravo Págaso exausto,
De que me serve o teu trote delicado?
Eu vim, um mestre rigoroso,
Para cantar e celebrar os ratos,
Minha cabeça, como agosto,
Verte o vinho espumante dos cabelos.

Eu quero ser a vela amarela
Rumo ao país para o qual navegamos.

Expoente de uma ramificação das vanguardas, o Imagismo, Serguei Iessiênin  simbolizou a tragédia vivida pelos grandes poetas soviéticos: viveu 30 anos de grande furor literário e pessoal, foi casado com a precursora da dança moderna. Isadora Duncan, e encerrou sua vida suicidando-se num quarto de hotel.

ESTE INFERNO DE AMAR | ALMEIDA GARRETT

Este inferno de amar – como eu amo! – 
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…

Almeida Garrett, in ‘Folhas Caídas’

Grã-Bretanha | A razão para a expulsão de diplomatas russos | Carlos Matos Gomes

A derrota dos Estados Unidos e da Grâ Bretanha na Siria são a razão para a patética “guerra” de expulsão de diplomatas russos da Grã-Bretaha, dos Estados Unidos e dos seus satélites aliados na guerra perdida para fazer da Siria um Iraque a saque e base de apoio da coligação contra o Irão.
A história da morte dos agentes duplos em Londres é uma historieta para crianças e idiotizados.
A expulsão de diplomatas russos de Inglaterra a pretexto de uma alegada e nunca provada ação de envenenamento de um alegado agente duplo – sem qualquer prova – é um fellatio que a senhora May faz aos americanos como resultado da derrota da dita “coligação” na Siria.
Os Estados Unidos (animados pela Inglaterra da May) respondem assim à derrota da sua manobra de desestabilização e ocupação da Siria. É disso que se trata.
A estratégia dos Estados Unidos de ocupar a Siria e de, a partir dali, construir uma base para o ataque ao Irão e ali instituir um regime fantoche e corrupto para vender o espaço para construção de oleodutos falhou redondamente.
A intervenção da Rússia em apoio do governo Sírio, a aliança da Rússia com a Turquia, a abertura de um porto no Mediterrâneo à China deixou os americanos e os seus agentes locais, Israel em estado de choque.
O Médio Oriente deixou de ser uma coutada americo-israelita, como foi desde a II Guerra Mundial.
Por outro lado os americanos são obrigados a tratar a Coreia do Norte como um parceiro respeitável. Uma nova moeda está a surgir como alternativa ao dólar nos negócios internacionais.
Trump é uma figura desacreditada internamente, como Theresa May em Inglaterra com o Brexit. Nestas circunstâncias, arranjar um inimigo externo é a solução clássica.
É na palhaçada em que estamos. Esta palhaçada tem tudo para correr mal. Nós, os cidadãos do mundo desta parte do mundo estamos, mais uma vez, a ser arrastados para um jogo muito perigoso, comandados por tipos e tipas sem escrúpulos, capazes de tudo.
A Revista Militar do Exército dos Estados Unidos, uma fonte credível e que reflete o pensamento dos militares americanos reconhece a derrota. Já o tinha feito anteriormente, a propósito do Vietname.


http://www.businessinsider.com/the-armys-military-review-declared-the-us-was-defeated-in-syria-2018-3?utm_source=facebook&utm_content=top-bar&utm_term=desktop

O Monte Alentejano | Marta Algarvio

De traço alegre e seguro, as obras de Marta Algarvio esperam ser reconhecidas e expostas no Concelho, pelo que alertamos a Câmara Municipal de Viana do Alentejo para tal situação, lembrando o espaço agora vago no Castelo de Viana, na Biblioteca Municipal ou, numa das salas do Paço dos Henriques, na vila de Alcáçovas. A ideia aqui fica.

João Vieira 

Retirado do Facebook | Mural de João Vieira

DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES | José Gabriel Pereira Bastos

É chegada a altura de ir para além das tradicionais formas de acção e organização (estilhaçadas temática, religiosa e ideologicamente) e de nos unirmos EM REDE, á escala nacional, internacional e mundial, como PARTIDÁRIOS DE UM MUNDO MELHOR, em Amor, Respeito, Paz e Solidariedade.

Somos muitos mais do que pensamos, somos quase todos. Só falta que nos organizemos à escala mundial e corramos democraticamente com os Grandes Opressores Criminosos a quem temos vindo a delegar a competência de nos representarem à escala nacional e europeia.

Os nossos inimigos são os Aparelhos de Estado, sobretudo os Aparelhos Bancários e Militares, associados a organizações secretas, mafiosas e criminais que se ocultam noutros aparelhos, como os Judiciais e policiais.

A estratégia do PODER MAFIOSO é “dividir-nos, para reinar sobre nós”. A nossa estratégia contra o Poder Mafioso (parcialmente secreto, parcialmente controlando a organização e os programas dos Aparelhos Escolares e Universitários e controlando os Media, para nos alienarem), deve UNIR-NOS À ESCALA MUNDIAL para lhes retirarmos o Poder Maligno, de forma pacífica e democrática. A MAIORIA SOMOS NÓS, GENTE BOA DE TODO O MUNDO.

A DIVERSIDADE É UMA FORÇA VITAL A RESPEITAR.

Vamos confederar a Diversidade da Gente Boa que quer um Mundo Melhor. Eu estarei na primeira linha. Convosco.

Chega de ‘manifestações’ e de discursos. Vamos finalmente organizar-nos, construir o CADERNO REIVINDICATIVO, e impô-lo, através de Referendos?

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Ginja de Óbidos (Liqueur Ancestrale)

Le Fruit ( griotte – cerise à chair très acidulée )

La création de liqueurs à base de fruits remonte à un lointain passé ainsi qu´à des rîtes et endroits ancestraux, où elles étaient utilisées à des fins médicinales où pour la guérison de certaines maladies.

Il est difficile d´établir avec précision l´origine de l´apparition de la ginja (Griotte). O pense qu´elle serait originaire de l´Asie Mineure, des marges de la mer caspienne, et petit à petit elle à fait son apparition dans les différents pays de la méditerranée grâce aux routes commerciales.

Dans l´Ethnographie Portugaise, José Leite Vasconcelos, mentionne que Pline l´Ancien (Siècle 1er après Jésus Christ), célèbre écrivain romain, qui loua les Ginjas (Griottes) de la Lusitanie. Le Portugal, dans sa région de l´Ouest, plus précisément dans la municipalité de óbidos, grâce à son microclimat, possède les meilleures griottes Sylvestres d´Europe.

La Liqueur

Également connue sous le nom de « Ginjinha de óbidos », la liqueur possède une forte saveur, intensément parfumée à la saveur aigre-douce des griottes. de couleur rouge foncée, la liqueur possède deux variétés distinctes : la liqueur simple ainsi que celle avec des fruits, parfois aromatisée à la vanille où avec un bâton de cannelle.

Son origine remonterait au XVIIème siècle, de confection conventuelle, un moine aurait tiré partie des grandes quantités de fruits existantes dans la région, procédant au raffinement de cette liqueur bien connue. La formule fut peu à peu répandue, étant ensuite confectionnée de façon traditionnelle, fait maison, par les habitants de óbidos, fiers de faire connaitre aux illustres visiteurs la meilleure des Ginjas. Composée à l´aide d´un peu d´alcool où acide, la ginja est le produit par excellence de la Ville qui cède sa réputation à la nuit de óbidos.

Camarada Salazar | Tiago Salazar

A motivação é um aspecto intrigante quando pensamos em validar (ou dispensar) um indivíduo. Por exemplo, o borrego manso do PSD, notório arrivista molecular, ao fantasiar (digamos assim) dados do seu percurso curricular num tempo de acesso fácil ao mais ínfimo e sórdido detalhe, põe a sua cabeça no cepo. Quem quer os laranjas mantidos no chão da sua peçonha ainda a tresandar, agradece. Quem pratica o ofício do humorismo, regozija-se. Quem se preocupa com o valor dos animais políticos, entristece-se. Por estes e por outros, se ensombra qualquer alma hoje dedicada com honestidade ao ofício mais nobre da civilização, a Política.

Hoje, para que se saiba sem intermediários, juntei oficialmente os trapinhos com a única força política viril, diria mesmo entumescida, na qual leio, vejo, oiço e sinto capacidades frontais e acções consistentes onde habitem as palavras liberdade, coragem, frontalidade e integridade. Não me movem o oportunismo, a avença, a agremiação de mais leitores. Não tenho aspirações a grande mufti ou a discursar perante tribunas de plebeus sanguinários.

Agrada-me doravante ser chamado de Camarada Salazar, erguer os copos com um líder assertivo de nome de índio, ter na linhagem de fundadores um escritor, artista e pensador dos mais combativos e brilhantes que o país conheceu e seguir uma tradição antiga, onde o mote sem dogma é trabalhar para o bem comum e não para o benefício de alguns.

P.S. Para que conste dia 3 de Abril, às 18h, no Centro de Trabalho Vitória, na Av. da Liberdade, 170, Lisboa, serão homenageados os escritores-camaradas Rui Nunes e Modesto Navarro, há 50 anos dedicados aos combates políticos e literários.

Tiago Salazar

Retirado do Facebook | Mural de Tiago Salazar

Reacção desesperada de Governos Ocidentais | José Gabriel Pereira Bastos

Está a ser fascinante a reacção desesperada de governos Ocidentais (e de seguidores dessa religião política) à vitoria da aliança Síria-Rússia, que vai gorar as fantasias de dominação imperialista Anglo-Americana, começada com a Guerra Iraque-Irão, paga por Anglo-Americanos e continuada com a invasão do Afeganistão, do Iraque, da Líbia e da Síria, com liquidação de dois velhos aliados que convinha que não pudessem contar a História (Sadam Hussein, pago para atacar o Irão, e Kadhafi, que financiou Governos Europeus periclitantes, como agora dizem que Putin financiou Trump, é, pelos vistos, um hábito de falsificação das Democracias Eleitorais falsificadas em que vivemos).

Abater Assad era a nova obsessão, para dividir a Síria (como fizeram no Iraque) e arranjar um Governo para entregar aos Sunitas que tinham expulso do governo do Iraque, entregue por eles (Anglo-Americanos) aos Xiitas, nas suas já habituais manipulações de engenharia política, sempre falhadas e com péssimos resultados (enormes instabilidades e destruições, e milhões de mortos e refugiados em fuga para dentro da UE, dividindo-a e pondo-a na mão de Erdogan, o novo Imperador Turco que tinha sonhado invadir a Europa com as suas dezenas de milhões de muçulmanos e foi, por isso, rejeitado e desrespeitado pela UE).

No FB corre uma petição histérica da Avaaz querendo que os Jogos Olímpicos na Rússia sejam alvo de bloqueio ‘Ocidental’ e Boris Johnson, ministro dos Negócios Estrangeiros britânico vem, com um raciocínio paranóide, acusar a Rússia da agressão que o ‘Ocidente’ patrocinou e ainda quer teimosamente vencer.e propor esse bloqueio aos Jogos Olímpicos (a inveja, mesmo política, é uma das maiores motivações dos obsessivos, não aguentam que outros brilhem).

Nunca, como é óbvio, um Governo Russo liquidaria ex-expiões com veneno de origem russa na véspera de eleições russas que estavam mais do que ganhas. A Inglaterra dispunha da fórmula química daquele veneno e só se nunca viram filmes de espionagem é que não conhecem a manobra de fazer o mal e a caramunha, imputando ao opositor um crime feito pelos seus próprios Serviços Secretos.(contra um ex-espião duplo, que atraiçoou dois Estados).

José Gabriel Pereira Bastos

Retirado do Facebook | Mural de José Gabriel Pereira Bastos

SOBREIRO PORTUGUÊS | António Galopim de Carvalho

Esta magnífica árvore, situada em Águas de Moura, no concelho de Palmela, foi eleita ontem, no Parlamento Europeu, em Bruxelas, a árvore europeia de 2018.
Esta árvore, plantada há 234 anos, “foi já descortiçada mais de 20 vezes e está classificada como “Árvore de Interesse Público” desde 1988 e inscrita no Livro de Recordes do Guinness como “o maior sobreiro do mundo”.

António Galopim de Carvalho

Retirado do Facebook | Mural de António Galopim de Carvalho

Constituição | Artigo 271.º

Constituição: Artigo 271.º

Responsabilidade dos funcionários e agentes

1. Os funcionários e agentes do Estado e das demais entidades públicas são responsáveis civil, criminal e disciplinarmente pelas ações ou omissões praticadas no exercício das suas funções e por causa desse exercício de que resulte violação dos direitos ou interesses legalmente protegidos dos cidadãos, não dependendo a ação ou procedimento, em qualquer fase, de autorização hierárquica.

2. É excluída a responsabilidade do funcionário ou agente que atue no cumprimento de ordens ou instruções emanadas de legítimo superior hierárquico e em matéria de serviço, se previamente delas tiver reclamado ou tiver exigido a sua transmissão ou confirmação por escrito.

3. Cessa o dever de obediência sempre que o cumprimento das ordens ou instruções implique a prática de qualquer crime.

4. A lei regula os termos em que o Estado e as demais entidades públicas têm direito de regresso contra os titulares dos seus órgãos, funcionários e agentes.

DiEM25 na Grécia | Novo Partido Político

A última semana foi histórica. Lançamos a primeiro lista transnacional para participar nas eleições na Europa.

Desde então recebemos uma enchente de mensagens de apoio dos apoiantes do DiEM25! E foram disparados tiros de aviso aos políticos do “status quo” e aos seus trolls espalhados pelos media. Estão a ficar preocupados e fazem bem em estar.

A nossa estratégia para os dois meses seguintes divide-se em duas partes:

  • No nosso Movimento: Vamos continuar a crescer e a fortalecer o nosso movimento para que consigamos chamar a atenção dos cidadãos da UE. Vamos também expandir o número de ativistas e voluntários e manter a pressão sobre o sistema político europeu.
  • Na nossa Ala eleitoral: Vamos continuar a contruir uma força política progressiva e transnacional que possa apoiar e eleger os candidatos que não são financiados pelos suspeitos do costume, o que dará peso político real às nossas políticas.

Vítor, se estás em Atenas, ou podes vir até cá, por favor junta-te a nós dia 26 de Março quando iremos lançar o MeRA25, , a ala eleitoral do DiEM25 na Grécia.

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MINDE | Parreirais dos Moquinhos | Turismo Rural

Os Parreirais dos Moquinhos estão estrategicamente localizados no centro da Vila de Minde e no Coração do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. A menos de uma hora de Lisboa, a 2 qulilómetros das grutas de Mira d’Aire e a minutos da cidade de Fátima.
Nos Parreirais dos Moquinhos irá encontrar uma decoração que funde modernidade, cultura e tradição.
Dispõe de Internet (wireless), tv cabo, estacionamento.

Contactos:

EMAIL: parreiraisdosmoquinhos@gmail.com

FACEBOOK (vídeo):  https://www.facebook.com/147298785341436/videos/1893547380284/

Ver mais … clicar em baixo

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Poema | José Gomes Ferreira

Vem hoje um cheiro tão bom lá de fora do mundo!
Um cheiro a esponsais de primavera
com deusas de astros na fronte
e enlaces de folhas de hera
no cabelo voado…

(Ah! se eu encontrasse a ponte
que vai para o outro lado!)

José Gomes Ferreira

in Antologia Poética, Porto Editora, 197

 

Retirado do Facebook | Mural de Vítor Quelhas

RACISMO NO PAÍS DOS BRANCOS COSTUMES | Joana Gorjão Henriques, comentário de Bárbara Bulhosa

“Este livro não é um ensaio, nem quer produzir uma teoria. O que estas histórias expõem é a forma desabrida como o racismo se incrustou na nossa sociedade, com consequências graves, ao ponto de permitir que um professor catedrático goze publicamente com um colega por causa do seu nome, que um senhorio recuse alugar a casa a alguém apenas por ser afrodescendente, e que um banqueiro se dê ao luxo de colocar um currículo de lado por a candidata ser negra. Estas são histórias de hoje, em Portugal.”

Retirado do Facebook | Mural de Bárbara Bulhosa

Christianity as default is gone | the rise of a non-Christian Europe

Figures show a majority of young adults in 12 countries have no faith, with Czechs least religious

Europe’s march towards a post-Christian society has been starkly illustrated by research showing a majority of young people in a dozen countries do not follow a religion.

The survey of 16- to 29-year-olds found the Czech Republic is the least religious country in Europe, with 91% of that age group saying they have no religious affiliation. Between 70% and 80% of young adults in Estonia, Sweden and the Netherlands also categorise themselves as non-religious.

The most religious country is Poland, where 17% of young adults define themselves as non-religious, followed by Lithuania with 25%.

70% of young people in the UK identify with no religion
How 16- to 29-year-olds self-identify, %

In the UK, only 7% of young adults identify as Anglican, fewer than the 10% who categorise themselves as Catholic. Young Muslims, at 6%, are on the brink of overtaking those who consider themselves part of the country’s established church.

The figures are published in a report, Europe’s Young Adults and Religion, by Stephen Bullivant, a professor of theology and the sociology of religion at St Mary’s University in London. They are based on data from the European social survey 2014-16.

Religion was “moribund”, he said. “With some notable exceptions, young adults increasingly are not identifying with or practising religion.”

The trajectory was likely to become more marked. “Christianity as a default, as a norm, is gone, and probably gone for good – or at least for the next 100 years,” Bullivant said.

But there were significant variations, he said. “Countries that are next door to one another, with similar cultural backgrounds and histories, have wildly different religious profiles.”

59% of young people in the UK never attend religious services
Frequency of attendance, outside of special occasions, 16- to 29-year-olds

The two most religious countries, Poland and Lithuania, and the two least religious, the Czech Republic and Estonia, are post-communist states.

The trend of religious affiliation was repeated when young people were asked about religious practice. Only in Poland, Portugal and Ireland did more than 10% of young people say they attend services at least once a week.

In the Czech Republic, 70% said they never went to church or any other place of worship, and 80% said they never pray. In the UK, France, Belgium, Spain and the Netherlands, between 56% and 60% said they never go to church, and between 63% and 66% said they never pray.

Among those identifying as Catholic, there was wide variation in levels of commitment. More than 80% of young Poles say they are Catholic, with about half going to mass at least once a week. In Lithuania, where 70% of young adults say they are Catholic, only 5% go to mass weekly.

Nearly two-thirds of young people in the UK never pray
Frequency of prayer, outside of religious services, 16- to 29-year-olds

According to Bullivant, many young Europeans “will have been baptised and then never darken the door of a church again. Cultural religious identities just aren’t being passed on from parents to children. It just washes straight off them.”

The figures for the UK were partly explained by high immigration, he added. “One in five Catholics in the UK were not born in the UK.

“And we know the Muslim birthrate is higher than the general population, and they have much higher [religious] retention rates.”

In Ireland, there has been a significant decline in religiosity over the past 30 years, “but compared to anywhere else in western Europe, it still looks pretty religious”, Bullivant said.

“The new default setting is ‘no religion’, and the few who are religious see themselves as swimming against the tide,” he said.

“In 20 or 30 years’ time, mainstream churches will be smaller, but the few people left will be highly committed.”

VER GRÁFICOS AQUI:

https://www.theguardian.com/world/2018/mar/21/christianity-non-christian-europe-young-people-survey-religion?CMP=share_btn_fb

O Bufo | Jorge Alves

Quando era miúdo, no tempo da Outra Senhora, havia uma figura sinistra em que se apoiava o regime – o bufo. Nada havia pior do que um bufo, nem mesmo um pide. Um pide era um pide, dava a cara. Já lhe bastava ser pide. Um bufo não. Escondia-se nas sombras, como rato de esgoto que era, e denunciava aos pides qualquer raio de sol que vislumbrasse. Mesmo as crianças sabiam que uma bufa era mau, mas que um bufo era um nojo. Ai daquele que fizesse queixinhas de outro, tinha logo um acidente traumatológico. E depressa deixava de andar a treinar para bufo. Nunca pensei que quase meio século depois do 25 de Abril voltássemos ao tempo dos bufos. Qualquer um pode hoje denunciar outrem inventando o que quer que seja. Senhores magistrados, o vizinho do 5º direito cheira a chulé! Pimba, lá vai um batalhão de judites ao 5º direito com um alguidar cheio de água com creolina, esfregão de arame e sabão azul e branco! Pior: o bufo de hoje é um rato sem focinho, um rato anónimo. E há lá coisa pior do que um queixinhas anónimo? Um queixinhas já é suficientemente mau. Anónimo é mil vezes pior. É como receber uma carta anónima. Ao longo da minha vida só recebi uma. E chegou. Tinha acabado de ser premiado pelo JN devido a uma reportagem na guerra da Bósnia e que só eu sei quanto me custou a fazer quando recebi a tal carta. Sem remetente, claro. Supostamente enviada por um coleguinha despeitado. E lá estava – que eu era este e aquele, uma nulidade do jornalismo, um falso, um pobretana, um miserável zé-ninguém que aspirava a um lugar ao sol a todo o custo. Confesso que me custou a engolir. Foi como ter levado um soco no estômago. Fiquei sem acção, incapaz de reagir. Reagir a quê e contra quem se a carta era anónima? Fiquei ali a lê-la e a relê-la, sentindo como cada palavra era injusta e a molhar as páginas com as lágrimas que me caíam. Lágrimas de revolta, de raiva por não poder obrigar a engolir cada letra a quem as tinha tão cobardemente escrito. Voltámos ao mesmo – à denúncia cobarde e miserável, à denúncia anónima. Num Estado de direito não deveria haver lugar à denúncia anónima. Dirão alguns que quem o faz fá-lo por medo. Não aceito. Uma democracia com medo não é uma democracia. É uma merdocracia. Dirão outros que sim, que há medo. Medo dos mafiosos que regem este quintal mal-amanhado e pior frequentado e dos caceteiros e pistoleiros que os caciques têm a soldo, saídos desta ou daquela claque. Pois é simples – prendam-se os mafiosos e os caciques, caceteiros e pistoleiros. Acabe-se com as claques, essas escolas de bandidos. Só não o fazem porque não querem. Porque não interessa. Mas enquanto não o fizerem não me venham dizer que vivemos em democracia. Porque isto assim não passa de uma bufaria. E uma bufaria é um nojo.

Jorge Alves

Retirado do Facebook | Mural de Jorge Alves

Engenheiros sem lei? | Fernando Santo

Boa noite. Embora antigo, recomenda-se a leitura deste artigo do ex- Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Portugal, Engº Fernando Santo

Direito de resposta – Sol, 23-02-2008

Na edição de IG de Fevereiro do Jor­nal SOL, foi publicado um artigo sob o título Engenheiros sem lei, da au­toria de Margarida Davim, que jus­tifica um esclarecimento, pois os en­genheiros sempre tiveram lei

Percebemos que a onda de elei­ções na Ordem dos Arquitectos e a divergência quanto às posições que alguns têm defendido a propósito da revisão do Decreto 73/73, que re­gula a qualificação profissional dos técnicos que podem subscrever pro­jectos, sirva de bandeira eleitoral, mas os engenheiros não servem para alimentar a visão corporativa de alguns arquitectos que preten­dem ignorar a lei e as directivas co­munitárias em vigor.

Devo confessar que tenho uma elevada estima pela classe profissional dos arquitectos, mas a visão corpo­rativa de uma parte não pode afir­mar-se contra direitos e competências reconhecidas, desde há séculos, a outros profissionais. Contrariamente ao título da referida notícia a engenharia está reco­nhecida em Portugal desde 1647, através de um decreto de D. João IV sendo uma das mais antigas enge­nharias da Europa. Foram os enge­nheiros que projectaram a Baixa de Lisboa, após o terramoto de 1755, desde o Plano Geral, passando pelos projectos de arquitectura, até às ino­vadoras estruturas de madeira para resistirem aos sismos. Há séculos que os engenheiros elaboram projectos que incluem ar­quitectura e engenharia. Mais re­centemente, em 1973, o célebre De­creto 73/73 veio reafirmar que os engenheiros civis tinham compe­tência para elaborar projectos de ar­quitectura.

Também a Directiva Arquitectura, de Agosto de 1985, esta­belece que os engenheiros civis de Portugal, Itália e Grécia podem ela­borar projectos de arquitectura no espaço europeu.Por cá, uma linha de orientação da Ordem dos Arquitectos entendeu usar como bandeira a reclamação do direito à arquitectura, tendo apre­sentado, na Assembleia da Repúbli­ca, uma petição assinada por 35.000 cidadãos, reclamando o direito ex­clusivo à arquitectura para arqui­tectos, excluindo todos os outros pro­fissionais, independentemente da di­mensão ou complexidade dos projectos. Não está sequer definido o que se entende por projecto de ar­quitectura, para deixar todo o espa­ço de interpretação alargado.

Como se tratava da primeira ini­ciativa legislativa de cidadãos, a As­sembleia de República colocou em primeiro lugar a vertente política, acabando por aprovar a petição, que passou a ser o Projecto de Lei mais corporativo produzido em Portugal após a Revolução de AbrilNão passa pela cabeça dos enge­nheiros reclamar na Assembleia da República o direito à engenha­ria, mas também não necessita­ríamos de andar pelas ruas a pe­dir assinaturas de favor, pois so­mos mais de 43.000.Antes da petição, já a Ordem dos Engenheiros havia entregue uma proposta ao Governo, em Dezembro de 2004, em que aceitava o princípio da arquitectura para arquitectos, sal­vaguardando determinadas situa­ções reconhecidas ao longo das últi­mas décadas e o disposto na própria Directiva Arquitectura. Aversão que foi apresentada pelo Governo à As­sembleia da República, após a peti­ção, não só ignorou o reconheci­mento desses direitos a nível euro­peu, como divide as obras em duas partes: os edifícios, com projectos de arquitectura, e o resto. O resto são simplesmente as obras de engenha­ria civil designadas como tal em todas as classificações europeias e na­cionais e que, em Portugal, repre­sentam tão-somente o sector das obras públicas, que valem mais de 50% de todo o sector da construção! Até parece que a simples designação de engenharia civil é incómoda. Quanto à diferenciação dos projec­tos de engenharia, nas suas diferen­tes especialidades, nem uma palavra! Para tornar ainda mais corpora­tivo o Projecto de Lei, os arquitectos também podem assumir responsabilidades nas áreas de engenharia. Estamos perante um Projecto de Revisão do Decreto 73/73, feito para agradar a uma classe profissional, remetendo as restantes para plano secundário. A obsessão de alguns vai tão longe que ainda não perceberam que a arquitectura não é uma “deu­sa” exclusivamente atingida por quem tem uma formação superior de 5 anos, pois fora dessa exigência não querem permitir que alguém possa produzir um risco, nem que seja para um depósito enterrado.

Chamamos a isto a criação de mer­cados protegidos.Contrariamente, na engenharia, temos engenheiros com formação superior de 5 anos, engenheiros técnicos com formação de 3 anos e técnicos de nível médio, como são, entre outros, os Agentes Téc­nicos de Arquitectura e de Enge­nharia. Felizmente que todos exis­tem, são necessários, e trabalham de forma complementar, importando apenas diferenciar as competências, de acordo com a com­plexidade das intervenções. A exclusão não faz parte do nosso vocabulário e julgo que também não será aceite pelos Deputados que, cer­tamente, perceberam o erro que co­meteram ao aprovarem a referida petição de cidadãos. Nesta fase esta­rão, com toda a certeza, a tentar pro­duzir uma Lei que introduza os ne­cessários equilíbrios, que respeite a legislação comunitária e o exercício profissional de muitos técnicos. Era só o que faltava que um Pro­jecto de Alterações no interior de um edifício Pombalino, ou com paredes resistentes, tivesse que ser obriga­toriamente assinado por um arqui­tecto, quando a questão essencial, neste exemplo, é a própria seguran­ça estrutural do edifício! Se nada se alterar no Projecto de Lei, serão aprovados muitos disparates de vi­são corporativa Ao contrário de alguns, que que­rem ver aprovado o disparate rapi­damente, nós não temos pressa. Se já esperámos 34 anos após a publi­cação do 73/73, então que se espere mais algum tempo, para que o re­sultado final seja o justo equilíbrio entre todas as profissões e o interes­se público. Penso que será esse o in­teresse do país, que, naturalmente, se sobrepõe ao interesse de alguns.

Fernando Santo – Ex-Bastonário da Ordem dos Engenheiros (Sol, 23-02-2008)

Engenheiros sem lei?

COMUNICADO DA CÂMARA MUNICIPAL DE ALCANENA | ESTRADA SERRA SANTO ANTÓNIO / MINDE

A Câmara Municipal de Alcanena, reunida a 19 de março, reforça a deliberação tomada a 8 de janeiro de 2018, considerando as informações técnicas que reportam o grau de perigosidade do troço sujeito a corte de trânsito e a informação da Proteção Civil (Bombeiros Voluntários de Minde) que referem a existência regular de acidentes vários no referido troço.

Lamentamos o “vandalismo “que tem ocorrido no local, de destruição das estruturas e sinalética colocada no local pela Câmara Municipal.

Lamentamos, ainda mais, os constrangimentos pessoais e/ou económicos que a situação (provisória) possa causar.

A deliberação tomada tem como principal objetivo “SALVAGUARDAR A PROTEÇÃO DE PESSOAS E BENS”.

A Câmara Municipal de Alcanena tinha já assumido o compromisso de reabilitar este troço de estrada no ano 2018, estando a diligenciar todos os procedimentos, para que essa intervenção ocorra no mais curto espaço de tempo, prevendo iniciar os trabalhos no mês de abril de 2018.

Agradecemos a compreensão de todos, pois a segurança das pessoas encontra-se em primeiro lugar na tomada das nossas decisões.

Os trompetistas não voam | Raquel Serejo Martins

Escolheu um vestido que não usava há muito tempo,
demasiadas flores, demasiados botões,
botões pequeninos de madrepérola,
demorou a enfiar os botões dentro das casas,
quase o mesmo tempo que demora a sair de casa,
mora num quinto andar sem elevador,
sentada ao espelho no toucador,
mas antes pôs um disco a tocar no gira-discos,
demorou a acertar com agulha
demorou até o Chet Baker começar a cantar
you make me smile with my heart
your looks are laughable
unphotographable,
um rapaz do seu tempo, da sua criação,
são do mesmo mês e do mesmo ano
Dezembro de 1929, morreu tão novo,
caiu da janela de um quarto de hotel em Amesterdão,
os trompetistas não voam,
ainda hoje não se sabe se acidente,
pensava, enquanto o ouvia cantar,
but don’t change a hair for me
not if you care for me
enquanto de nariz enfiado no espelho,
cataratas, miopia, pintava os lábios,
primeiro rosa, depois vermelho,
porque o rosa, mesmo com óculos, invisível aos seus olhos,
depois nos olhos passou um lápis-lazúli,
nas maçãs dos rosto um tom de avelã,
deu uma segunda demão nas cores,
do guarda-jóias um o colar de pérolas e os brincos em par,
comoveu-se com a sua vaidade,
estava feliz como há muito tempo não estava,
estava feliz sem saber porquê,
depois escolheu os sapatos,
tem dois pares de sapatos,
parecem mais pantufas que sapatos,
os joanetes nos pés não suportam sapatos,
agora que tem pés de pato, pensa e sorri,
e é com esse sorriso sai para a rua,
vai ao café, senta-se na sua mesa,
longe da porta e de correntes de ar,
sem pedir trazem-lhe um bolo de arroz,
uma chávena de chá, pacotinho de açúcar nenhum, diabetes,
e como se ele estivesse sentado ao seu lado,
ele está sempre ao seu lado, namoram um bocadinho,
todos os dias namoravam um bocadinho,
stay little Valentine, stay
each day is Valentine’s Day
o tempo de um bolo de arroz, de uma chávena de chá,
namoram até que, sem discrição,
uma menina na mesa ao lado aponta o dedo e pergunta,
aquela senhora a falar sozinha é um palhaço,
e, sem ter tocado no bolo de arroz, ele desaparece,
ela que estava feliz, fica desmedidamente triste,
porque a tristeza consegue ser mais triste quando já foi alegria.

©rsm | Raquel Serejo Martins

Donna al caffè, Antonio Donghi,1931

Retirado do Facebook | Mural de Raquel Serejo Martins

DiEM25 | Sê candidato ao Colectivo Nacional Francês ou Holandês

Os nossos membros estão preparados para os próximos passos no desenvolvimento do nosso movimento, neste caso para estabelecer Coletivos Nacionais em dois outros países: França e Holanda

De acordo com os Princípios Organizadores , o Coletivo Nacional deverá ter entre 16 a 18 membros que ficariam responsáveis pelas seguintes tarefas de coordenação:

Melhorar a comunicação das políticas e atividades do DiEM25 a nível nacional

Comunicar os pontos de vista dos membros na Europa e ao Coletivo Coordenador

Fornecer instalações e recursos aos membros locais e CEDs (grupos locais)

Gerar políticas nacionais e regionais em harmonia com a Agenda Progressista do DiEM25 para a Europa

Angariar fundos

Conectar o DiEM25 a outros atores políticos e civis em coordenação com o Coletivos Coordenador

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Capitães da Areia | Paulo Fonseca nas Filipinas, em Borakay.

Estive agora com Deus….
Estava imponente,
no limiar de um rochedo curvilíneo….
Sua graça transbordava doçura.
Derramou Divindade
em canivetes salgados
que rebentam diariamente na areia….
Cantou epopeias aos ventos….
Fez-me transbordar de emoção.
Mil rouxinóis melados
largam pegadas de azáfama
no carrocel da míngua.
Deus apontou-lhes o dedo,
apadrinhando a sinfonia…
Transbordo trôpego
na plateia das vidas,
destas aves perdidas.
Foi Deus que apontou o caminho….
Estrada da emoção,
não tem nada que enganar…
Petizes,
felizes,
na primavera da vida…
Não aprenderam,
ainda,
o inverno da morte….
da tortura,
má sorte….
ser parido
em favela,
em bote…
Sorrisos, ingénuos,
fervilham…
A fome
que dói,
não existe…
Tão triste…
Chilream
produtos de sonho….
esculturas,
pulseiras,
mergulhos,
entulhos medonhos….
Tanta esperança Divina
corre nesta vida varina….
Preferem dinheiro ou comer ?
<<eat is better, sir>>….
Ah….
afinal o sorriso é um papel….
uma força heróica
de mel….
Dentes de leite
aguçam
de anseio…
Sentem-se e comam.
<<You choose>>….
Oh…
<<We choose sir ?>>
<<Yes, you choose>>….
Festa na areia,
Capitães em sentido…
Comer….
Bocas pequenas
salivam sonhos de vida…
Ai Deus….
Milhões de petizes
riem
por não saberem chorar…
Milhões de corações
arrefecem
por não saberem amar…
Milhões de sorrisos
aquecem
por conhecerem o mar….
e os sonhos,
sentidos,
contidos….
Ameias do curral,
ao luar….
Oh Deus imponente,
rezo sorridente…
Alma ardente
te venera,
na espera….
bocas parecem rir….
a carpir….
Oh Deus,
emocionei-me e chorei….
a sorrir….

Paulo Fonseca

Retirado do Facebook | Mural de Paulo Fonseca

Marcelo: “Alma árabe é o fundo da alma portuguesa” | por Carlos Matos Gomes

Num texto anterior, a propósito deste título escrevi que Marcelo age no espaço público com a lógica da máquina de discos. Toca (diz) o que o cliente quer ouvir. Primeira questão, simpatizo com Marcelo e entendo que ele é um descompressor social. Faz de interlúdio entre momentos de tensão. Terá a sua agenda, mas a descompressão de tensões é uma boa atitude. Dito isto e quanto ao título, este coloca 2 pontos que rejeito: o conceito de “alma” para significar uma identidade social – alma árabe, alma lusitana… – tenho as mais sérias dúvidas sobre o conceito de identidade nacionais – e no caso de uma identidade árabe mais ainda – árabe é um conceito demográfico/geográfico (os naturais da Arábia) que surge muitas vezes associado a um conceito religioso – islamismo. Entre um persa e um egípcio, entre um turco e um indiano – todos islâmicos, mas de várias fações – sunitas, xiitas, ismaelitas vão diferenças que não permitem falar em alma comum. Não há nenhuma alma árabe. Nem mesmo na arábia saudita onde a dinastia dos petroleiros vive em casamento de conveniência com os clérigos wabitas. Quanto a alma árabe, o que quer dizer Marcelo?
Segue-se a outra questão, a segunda – a da alma – que é a do proselitismo religioso. Marcelo é religioso – crente Católico – , mas fundamentalmente crente em que o que salva o homem da sua dolorosa vida é a fé num deus que lhe levará alma a um paraíso eterno. Ora o presidente de uma república pode acreditar num paraíso do Além, mas o seu dever é agir sobre a realidade.
Repito, reconhecendo o mérito de Marcelo Rebelo de Sousa na descompressão social e na agressividade que o antecessor causou, entendo que é criticável, escusado e contraproducente Marcelo entrar na lógica da fé contra a razão que tão maus resultados tem dado. ao longo da história da humanidade. Marcelo é católico, mas isso é lá com ele. O facto de ser católico não o deve levar a defender o princípio da crença num deus como caminho para a felicidade, porque é historicamente falso e arrasta seguidores para essa ilusão. Ora, com esta afirmação Marcelo está a vender a ilusão que todos somos, afinal, boas almas. É um discurso para crentes pobres de espírito.

Retirado do Facrbook | Mural de Carlos Matos Gomes

http://expresso.sapo.pt/politica/2018-03-16-Marcelo-Alma-arabe-e-o-fundo-da-alma-portuguesa#gs.c5cUuZw

Pensar fora da caixa ou seja fora do “economês” da troika | José Pacheco Pereira in jornal “Público”

Estamos tão viciados na maneira de pensar ao modo da troika que não somos capazes de colocar as prioridades no sítio certo.

Aquilo que talvez mais distinga a possibilidade de se poder andar para a frente num país como Portugal é a capacidade de sair do pensamento, do vocabulário, do argumentário, da política e mesmo da filosofia dos anos da troika e da herança ainda demasiado viva e poderosa do “economês” da troika. Os anos de lixo que vivemos são–nos apresentados como tendo sido um período de resistência “reformista”, quase heróico, após a bancarrota, atravessando todas as dificuldades e conseguindo no fim “sair” sem consequências de maior e ainda por cima “mais bem preparados” para o futuro imediato, “permitindo” a “coragem” “passista” a recuperação “costista”. Teria sido um período de “verdade” da nossa economia e sociedade, uma espécie de limpeza lustral de tudo aquilo que nos tinha “afundado” na bancarrota, o Estado, o despesismo, o “viver acima das suas posses”, os excessos sindicais, o crescimento da função pública, o “socialismo”, a “social-democracia”, e a corrupção BES-Sócrates, e uma sociedade de “direitos adquiridos”, ou em que os mais velhos exploravam “injustamente” os mais novos, porque tinham reformas e pensões.

Eu quase que tenho que pôr todas as palavras entre aspas para indicar que o seu uso é ideológico, e sem qualquer correspondência com a realidade, e que remetem para um universo orwelliano de manipulação das palavras e das ideias. Nem houve reformas, o que houve foi um “brutal aumento de impostos” de que ainda não saímos, nem podemos sair, visto que ele é a coluna vertebral do cumprimento das chamadas “regras europeias”. Nem houve qualquer “recuperação” estrutural da nossa economia, muito menos resultante das “reformas” laborais que tornaram ainda mais desigual a relação entre patrões e trabalhadores, nem houve qualquer diminuição do peso do Estado na economia, bem pelo contrário. E pagou-se um preço caro na institucionalização à margem da vontade popular e da Constituição, de uma servidão a uma certa política europeia, com perda de poderes dos parlamentos e de soberania.

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Já não se pode dizer nada! – as armadilhas do politicamente correcto | Carlos Matos Gomes in blog “Incomunidade”

É na parte do mundo onde os habitantes podem expressar-se mais livremente, na Europa Ocidental e nas Américas, que mais forte é o sentimento de alguns assuntos não deverem ser referidos, ou não serem referidos em determinados termos, ou abordados por certos pontos de vista por serem politicamente incorretos.

É politicamente incorreto afirmá-lo, mas o Politicamente Correto (PC) é, em grande medida, um fenómeno urbano importado por contágio da cultura anglosaxónica. Uma moda mais do que uma justa luta contra graves situações de violação de direitos fundamentais. As situações criticáveis existem, mas não são o alvo das críticas politicamente corretas. O politicamente correto não resulta de faltas, mas de excessos.

O PC segue o princípio da anedota dos 3 escuteiros que foram necessários para realizar a boa ação de ajudar uma velha (sacrilégio, não existem velhos na novalíngua do PC, mas idosos, ou seniores!) a passar uma rua, porque a senhora (senhora também não é muito politicamente correto, denota machismo subtil) não precisava de ajuda, não queria passar e porque assumia a sua idade.

As vítimas que o PC elege são por norma das que menos necessitam de proteção e de inserção, ou porque não necessitam mesmo – caso de mulheres adultas, informadas, autónomas dispondo de meios consideráveis de defesa e afirmação, ou porque recusam a inclusão e defendem a sua especificidade – caso de comunidades étnicas, como os ciganos, ou porque, como os machos islâmicos no ocidente, pretendem impor a sua lei.

O PC não assenta na lógica, mas no preconceito, rejeita a universalidade dos valores essenciais. Em Roma seria um direito reservado aos patrícios, em Atenas apenas à minoria privilegiada dos cidadãos livres. Para o PC, como para os patrícios romanos, os bárbaros não têm direitos. Têm costumes!

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Trilogia da Inquisição | Richard Zimler

Para quem quer conhecer os efeitos das perseguições aos judeus e cristãos-novos em Portugal e Goa, eis 3 romances sobre gerações diferentes da família Zarco. Acho a nova edição da “Goa ou o guardião da aurora” muito bonita! (Caso tenha amigos que estariam interessados nestes livros, agradeço que divulgue.) 

La Femme Algérienne | Leila Tilmatine

Si je dis oui, je suis une pute
Si je dis non, je suis une frigide
Si je dis je ne sais pas, je suis une hystérique
Si je ne dis rien, je fais l’idiote pour passer du bon temps
Si je tombe amoureuse, je suis une pauvre naïve
Si je ne tombe pas amoureuse, je suis une connasse froide
Si je sors avec une seule personne, je suis une conne
Si je sors avec plusieurs personnes, je suis une salope
Si je regarde les hommes, une chaudasse
Si je ne les regarde pas, je dois être lesbienne
Si je parle trop, on ne m’écoute pas
Si je ne parle pas, c’est parce que je n’ai aucune idée de rien
Si je ne sors pas, je suis ennuyeuse
Si je sors trop, je suis une fêtarde
Si je dis la vérité, on ne me croit pas
Si je mens, je suis comme toutes les autres
Si je parle de sexe, je suis insatiable
Si je n’en parle pas, c’est qu’on ne m’a pas baisé comme il faut
Si je suis intelligente, je fais peur
Si je suis bête, je ne sers à rien
Si je n’appelle pas, on me réclame
Si j’appelle, on ne me répond pas
Si je suis sérieuse, je suis aigrie
Si je souris, je suis facile
Si je veux qu’on soit amis, l’amitié entre les deux sexes n’existe pas
Si je veux plus qu’une amitié, c’est que je n’ai rien compris
Si je ne joue pas les allumeuses, je fais ma sainte ni touche
Si je ne le fais pas, je suis peu féminine
Si je suis bonne au lit, c’est que je m’en suis levée plusieurs
Si je suis tranquille, ce que j’ai pas été assez baisée
Si je veux me marie, je suis restée à une autre époque
Si je ne veux pas me marier, je fais ma libérale
Si je suis dépendante, je n’ai pas de personnalité
Si je suis indépendante, je suis prête à marcher sur les autres
Si je drague quelqu’un, je suis une mangeuse d’homme
Si je ne le fais pas, je suis une momie
Si je suis avec un vieux, j’en veux à son argent
Si je suis avec un petit jeune, c’est parce que je peux le dominer
Si je m’habille bien, c’est que je veux chauffer tout le monde
Si je suis habillée simplement, surement qu’un peu plus arrangée je serais bonne
Si je suis jolie, je suis surement creuse
Si je suis moche, on ne me calcule pas
Et tu sais quoi ? Les gens diront toujours quelque chose parce qu’ils doivent justifier leur lâcheté et leur insécurité

Leila Tilmatine 

Retirado do Facebook |  Mural de Leila Tilmatine 

«Jardim das Pichas Murchas», São Tomé, Lisboa, Foto (e texto) da revista Timeout,15-3-2018.

Jardim das Pichas Murchas

Não é um jardim e não tem nada de murcho ou que possa murchar. Mas em tempos este pequeno largo na Rua de São Tomé, perto do Castelo, juntava a terceira idade do bairro em plena contemplação. Ora um calceteiro, de seu nome Carlos Vinagre, começou a chamar aquele sítio o jardim das pichas murchas, dada a quantidade de sistemas reprodutores ociosos que se sentavam naqueles bancos. O nome pegou, e nem mesmo uma tentativa da junta de mudar o nome demoveu os populares da zona que defenderam sempre este topónimo.», Timeout dixit.

Retirado do Facebook | Mural de André Freire

Biographie de Jürgen Habermas réalisée par Stefan Müller-Doohm

[Hors série Connaissance] Découvrez la biographie de Jürgen Habermas  réalisée par Stefan Müller-Doohm

Sans conteste, Jürgen Habermas est l’un des derniers intellectuels majeurs au niveau international. «Défenseur de la modernité» et conscience publique de la République fédérale», il est aussi un éminent penseur de l’Europe.

Par ses monographies et nombreux articles, recueillis en volumes, traduits dans plus de quarante langues, il s’est acquis, en tant que philosophe, uneréputation mondiale et, en tant qu’auteur, il a reçu un écho qui excède de loin le monde académique. Un tel constat conduirait aisément à en inférer que sa biographie devrait au fond être celle de son œuvre. Mais si cette vie fascine, c’est qu’elle ne peut aucunement se résumer à une pile de livres savants.
En effet, Habermas a toujours plus quitté l’espace protégé de l’univers académique pour endosser le rôle du polémiste pugnace, et peser de cette façon sur l’histoire des mentalités de l’Allemagne et de l’Europe. Aussi l’ouvrage de Stefan Müller-Doohm, à qui l’on doit déjà une biographie d’Adorno, noue-t-il deux trames : d’une part la description des allers-retours sinueux entre activité professionnelle principale et activité seconde, et d’autre part l’interdépendance entre les évolutions de la pensée du philosophe et les interventions de l’intellectuel public dans le contexte de son temps.

L’action conjuguée de la réflexion philosophique et de l’intervention intellectuelle, qui caractérise l’activité de Jürgen Habermas, explique que cette biographie soit celle tant d’une vie que d’une œuvre en devenir perpétuel.

Traduit de l’allemand par Frédéric Joly

Feuilletez les premières pages de ce livre ici : http://bit.ly/2FsWxGX

 Retirado do Facebook | Mural de Gallimard

Poema | INVICTUS | William Ernest Henley | Poema de Inspiração de Nelson Mandela in Revista Pazes

Willian Ernest Henley, ao escrever o poema abaixo, jamais sonharia que os seus versos poderiam inspirar um homem com grandeza de Nelson Mandela a suportar, por vinte e sete anos, o cativeiro, condenado por sua luta contra o apartheid.

INVICTUS

William Ernest Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

——

INVICTO

William Ernest Henley

Da noite escura que me cobre,
Como uma cova de lado a lado,
Agradeço a todos os deuses
A minha alma invencível.

Nas garras ardis das circunstâncias,
Não titubeei e sequer chorei.
Sob os golpes do infortúnio
Minha cabeça sangra, ainda erguida.

Além deste vale de ira e lágrimas,
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos ameaçadores,
Encontram-me sempre destemido.

Não importa quão estreita a passagem,
Quantas punições ainda sofrerei,
Sou o senhor do meu destino,
E o condutor da minha alma.

Declamado por Alan Bates – 2 vídeos – em inglês sem e com tradução – ver ambos

“Invictus”: o poema que inspirou Nelson Mandela em seus 27 anos de de prisão

Maria | by Jorge Alves

Nem sempre as coisas mais sofisticadas são as mais preciosas. Olhos que revelam a transparência da alma, a serenidade, uma pureza quase mística, não têm preço. Deixo-vos com aquele que, apesar de simples, é o meu trabalho preferido – “Maria”. Agradeço-vos a paciência por terem apreciado e criticado os trabalhos feitos nos últimos anos e que ao longo destes dias aqui apresentei. Mais haveria para mostrar, mas por agora fiquemo-nos por aqui. Não estão esquecidos os convites para realizar uma exposição. Virá a seu tempo. Até lá, acalentado pela força que muitos me deram, vou continuar a trabalhar nesta vertente. Prometo voltar ao assunto lá mais para o fim do ano. Mais uma vez obrigado a todos. Boa terça-feira.

Jorge Alves

Retirado do Facebook | Mural de Jorge Alves

Os Óscares e as orgias romanas do império | Carlos Matos Gomes in blog “Media”

Tenho muita dificuldade em compreender a subserviência dos europeus aos Óscares.

É certo que é a sagração dos deuses do Olimpo do Império.

É certo que é a marcha triunfal dos vendedores do Império!

É certo que é o anúncio feito pelos senadores do Império do que nos vão dar a comer nos próximos tempos!

É certo que são aqueles os falsos heróis do Império da Marvel que nos vão salvar e aqueles os bandidos de cartão da Disney de que nos vamos vingar.

É certo que são aqueles corpos das vestais apenas translucidamente cobertos que nos vão povoar os sonhos, embora este ano a moda seja a de cheira mas não comas.

É certo que são aqueles os ditos de inteligência que nos farão rir do Trump que nos impingiram.

É certo que são aquelas luzes que nos vão encadear!

É certo que são aquelas as verdades dos filmes que nos vão moldar.

É certo que serão aqueles os sons que nos entrarão pelos ouvidos e as certezas que nos cegarão os olhos.

É certo que será aquela a droga que nos entrará pelas veias e nos levará para outros mundos.

É certo que serão aqueles sorrisos brilhantes de dentaduras postiças dos patrícios que nos levarão a empenhar-nos para pagar as coroas dentárias sobre as nossas cáries.

É certo que será aquele o silicone que dará forma às ancas e aos seios das deusas e matronas do não me toques que te tramo e também aos implantes capilares das carecas dos patrícios obesos que pagam às “gajas” que este ano os vão acusar de as apalparem.

É certo que é aquela a orgia e o bacanal em que os que vivem à custa das nossas tristezas se riem de nós e nós gostamos de pagar para se rirem de nós.

É certo que nós, os europeus em particular, já tínhamos a experiência dos romanos se apropriarem das obras dos gregos, do pensamento dos gregos, da arquitetura dos gregos, das tragédias dos gregos, mas os atenienses não celebravam com os romanos as suas próprias derrotas, o seu aviltamento.

Sendo tudo isso certo, resta durante a madrugada europeia, o espetáculo de subserviência, de reconhecimento de servidão, de menoridade, de aplauso da boçalidade, de exaltação do plástico sob diversas formas, das ideias às fatiotas, ao botox, das causas do ano aos gritinhos do Oh my God dos chamados ao palco.

Nas primeiras páginas surgem — chocantes — as fotografias das saturnais dos Óscares que nos vendem armas e Trumps, guerras e pastores bíblicos.

Não seria possível a nós, como aos atenienses da antiguidade, manifestar algum recatado desprezo, ou indiferença, já que temos de servir de público e de mercado no espectáculo emitido a partir do coliseu de Hollywood?

Carlos Matos Gomes

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

Livros de cabeceira de grandes escritores | Virginia Woolf

Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski

Virginia Woolf era famosa por suas opiniões fortes – mesmo que as vezes fossem impopulares. Woolf fazia críticas sem piedade a autores que considerava ruins ou mornos, mas também elogiava na mesma intensidade. Na sua opinião, Fiódor Dostoiévski é “obviamente o melhor autor de todos os tempos”. Desta forma, ela cita duas obras do escritor como seus livros de cabeceira. Um deles é Crime e castigo, o qual Woolf indica para aqueles que querem conhecer a obra de Dostoiévski.

Os irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski

Apesar da linguagem de Os irmãos Karamazov ser mais complexa e densa do que de Crime e castigo, Virginia Woolf aponta o livro como o seu favorito de todas as épocas. A obra é elogiada por resumir toda a criatividade de Dostoiévski, no qual ele expõe todas a suas “malditas” questões existenciais que tanto o atormentaram – como a degradação moral da humanidade.

Afrin | para Hussein Habasch – Kurdish Poet | por Maria João Cantinho

Afrin

Para Hussein Habasch

Dizem que o pesadelo dos soldados do Estado Islâmico
é ser morto por uma mulher,
dizem que não terão as 72 virgens
nesse paraíso sonhado que os espera.

E elas, peshmerga, enfrentando a morte,
olhos de tigre, saltam-lhes ao caminho como demónios
livres e sem véus, implacáveis,
elas que, no amor e nos filhos, respiram a ternura
e a salvação.

Ceylan matou-se com a última bala de que dispunha,
talvez tivesse tido medo nessa hora,
mas o tempo não é para medos nem delongas
e Ceylan também não sabe ser heroína
que isso é para as ocidentais plasmadas
No tédio das suas vidas vazias,
entregues à contemplação de miragens,
criadas pelos que vendem a morte
em longínquas paragens.

Arin fez-se explodir, para não cair em mãos inimigas,
O seu corpo matou tantos quanto pôde,
em nome de um povo, que só na alma e no coração
conhece a sua pátria, ardendo
no olhar das suas crianças, quietas,
à espera do futuro, que silva entre as balas
e o sangue, as vísceras dos seus mortos.

Em Afrin, só a morte canta,
só ela floresce, petrificando,
diante da nossa indiferença gelada, muda.

Maria João Cantinho

Retirado do Facebook | Mural de Maria Cantinho

“A rapariga de azul” | Johannes Vermeer

Sou absolutamente apaixonado pela escola seiscentista holandesa. Especialmente por Vermeer, cujo traço, jogo de cores e realismo me impressionam vivamente. Muito à frente do seu tempo, o mestre socorria-se de técnicas surpreendentes, inclusive de instrumentos ópticos para aperfeiçoar este ou aquele detalhe, que servia de ponto de gravidade para todo o quadro, envolto em luz e sombras. Surpreendentemente, ou talvez não, a sua extraordinária obra nunca foi reconhecida em vida. Vermeer, o anti-herói, morreu pobre, mas a sua obra perdurou. Deixo-vos hoje com uma singela homenagem a esse fantástico mestre – “A rapariga de azul”, lápis-aguarela sobre cartolina.

Jorge Alves

Retirado do Facebook | Mural de Jorge Alves