PORQUE É QUE NÃO VALE MUITO A PENA TER ESPERANÇA … | José Pacheco Pereira

jppereira… como no Inferno quando se entra pela porta maldita e se deixa a dita esperança à entrada. Agosto é um bom mês para percebermos tudo. Milhares e milhares de jovens que não lêem um livro, passam o mês em festivais no meio do lixo, do pó, da cerveja e dos charros. Milhares e milhares de adultos vão meter o corpo na água e na areia, sem verdadeira alegria nem descanso. Outros muitos milhares de jovens e adultos nem isto podem fazer porque não tem dinheiro. No interior, já que não há correios, nem centros médicos, nem tribunais, proliferam as capitais, da chanfana, do caracol, do marisco, do bacalhau, dos enchidos, da açorda, as “feiras medievais” de chave na mão, as feiras de tudo e mais alguma coisa desde que não sejam muito sofisticadas. Não é uma Feira da Ciência, nem Silicon Valley.

As televisões, RTP, SIC e TVI “descentralizam-se” e fazem arraiais com umas estrelas pimba aos saltos no palco, mais umas “bailarinas”, nem sequer para um grande público. Incêndios este ano há pouco, pelo que não há imagens fortes, ficamos pelo balde de água. Crimes violentos “aterrorizam” umas aldeias de nomes entre o ridículo e o muito antigo, que os jornalistas que apresentam telejornais com tudo isto gostam de repetir mil vezes. Felizmente que já começa outra vez a haver futebol, cada vez mais cedo. O governo, com excepção das finanças e dos cortes contra os do costume, não governa, mas isso é o habitual.

A fina película do nosso progresso, cada vez mais fina com a crise das classes ascendentes, revela à transparência todo o nosso ancestral atraso, ignorância, brutalidade, boçalidade, mistura de manha e inveja social. No tempo de Salazar falava-se do embrutecimento dos três f: futebol, Fátima e fado. Se houvesse Internet acrescentar-se-ia o Facebook como o quarto f. Agora não se pode falar disso porque parece elitismo. Áreas decisivas do nosso quotidiano hoje não são sujeitas à crítica, porque se convencionou que em democracia não se critica o “povo”.

Agosto é um grande revelador e um balde de água fria em cima da cabeça para aparecer na televisão ou no You Tube. Participar num rebanho, mesmo que por uma boa causa, podia pelo menos despertar alguma coisa. Nem isso, passará a moda e esquecer-se-á a doença. Pode ser que para o ano a moda seja meter a cabeça numa fossa séptica, a favor da cura do Ebola.

Assim não vamos a lado nenhum. Como muito bem sabem os que não querem que vamos a qualquer lado.

http://abrupto.blogspot.pt/2014/08/versao-da-porque-e-que-nao-vale-muito.html … (FONTE)

MATERIAIS DIVERSOS | OFERTA DE EMPREGO – PRODUTOR/A EXECUTIVO/A | produção e difusão

header_logoA Materiais Diversos é uma associação cultural sem fins lucrativos que tem como missão incentivar a investigação e experimentação artísticas e sensibilizar o público para as artes performativas, com especial enfoque na dança. Integra a rede europeia de apoio ao desenvolvimento coreográfico europeu Open Latitudes, bem como a Rede de Estruturas de Dança nacional. No quadriénio 2013-2016, a MD é uma estrutura financiada pelo Governo de Portugal/Secretário de Estado da Cultura – DGArtes e pelos os Municípios de Alcanena, Torres Novas e Cartaxo, domiciliada no espaço Alkantara (Lisboa) e em Minde (Alcanena). A actividade da MD desenvolve-se em três eixos: Produção e difusão de projectos associados; Festival Materiais Diversos; e Programação Regular nos Municípios de Torres Novas e Cartaxo. O/a produtor/a executivo/a irá integrar o núcleo de difusão e produção, dedicado aos projectos associados dos criadores Filipa Francisco, Lander Patrick, Marcelo Evelin, Sofia Dias & Vítor Roriz. O/a produtor/a representará a Materiais Diversos na sua relação com os criadores e os seus colaboradores e com parceiros de difusão, nomeadamente estruturas de acolhimento. Deverá estabelecer e manter relações harmoniosas entre todas as partes, respeitando as necessidades específicas de cada projecto/artistas em difusão e as condições acordados com a estrutura de acolhimento.

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A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea

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Hilariante, mordaz, um sucesso mundial traduzido para 36 países.

Estreia de Romain Puértolas é o maior fenómeno da literatura francesa atual.

A crítica foi unânime, também o foram os milhares de leitores: A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea, romance de Romain Puértolas, foi a grande surpresa da literatura francesa atual e chega finalmente às livrarias nacionais no dia 1 de setembro, numa edição Porto Editora.

Uma «pérola de humor» (Livres Hebdo), este é «o livro mais divertido do momento e, como se isso não bastasse, uma reflexão profunda sobre o destino dos imigrantes ilegais» (Radio RTL). Trata-se de uma aventura rocambolesca e hilariante passada nos quatro cantos da Europa e na Líbia pós-Kadhafi, uma história de amor efervescente, mas também o reflexo de uma terrível realidade: o combate travado por todos os clandestinos, últimos aventureiros do nosso século.

Romain Puértolas estará em Lisboa nos dias 10 e 11 de setembro e disponível para entrevistas.

 

A banalização do fascismo | Rui Bebiano in Blog “A Terceira Noite”

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Quando oiço dizer que vivemos, em Portugal e nesta complicada Europa que nos cabe, «pior que no tempo do fascismo», ocorrem-me três argumentos contra uma afirmação tão imperfeita e perigosa. Em primeiro lugar, ninguém que tenha vivido ou conheça de forma cabal o tempo e a experiência dos fascismos que envenenaram o século passado, fazendo dos Estados aparelhos de coação e não de garantia dos direitos fundamentais, é incapaz de proferir em consciência uma afirmação dessa natureza. Em segundo lugar, estabelecer uma comparação que incide de forma particularmente negativa sobre o presente é prova de um claro desconhecimento da História, pois nenhum dos conflitos e formas de opressão pelos quais passamos hoje, sobretudo no mundo industrializado e nas suas contíguas periferias, se compara, em escala e na brutalidade, com aqueles que cruzaram as décadas em que os fascismos se impuseram. Em terceiro lugar, quem o diz vive provavelmente no terreno nebuloso de um wishful thinking feito de enormes simplificações, com recurso às quais pensa agudizar contradições e desta forma prover as «condições objetivas» para impor mudanças julgadas redentoras, necessariamente ilusórias. No fundo, quem de tudo isto beneficia são de facto os novos fascismos, agora mais insidiosos e apurados nos seus métodos, que pelo efeito de banalização que uma tal afirmação provoca vão podendo desbravar caminho. Desta maneira, em vez de se baterem pela defesa dos direitos alcançados em décadas de lutas pela democracia e pelo bem-estar, muitos cidadãos desenvolvem uma consciência política feita essencialmente de ressentimento, que acaba por isolá-los, desmobilizando-os de facto e colocando-os à mercê dos algozes. À noite, nas suas casas, adormecem narcotizados, tentando esquecer um mundo que os atemoriza e não compreendem.

Rui Bebiano

http://aterceiranoite.org/2014/08/26/a-banalizacao-do-fascismo/ … (FONTE)

FOTO: Auschwitz

A mansa revolta da dor | José António Barreiros in Blog “A Revolta das Palavras”

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Há um momento na vida em que a tirania mansa esgota a paciência e atiça o fogo da revolta. E a revolta não é mansa e gera o mal que se faz sofrer a partir do mal que se sofreu. E há sempre as vítimas sem razão.
Mas há um momento em que a violência brutal, que nos chega como quotidiana, já está para além da capacidade de a suportar.

Quando era miúdo não conseguia ver filmes que se diziam para a minha idade porque havia um nó na garganta, de dor, que me sufocava e as lágrimas contidas a tal ponto que os olhos pareciam implodir. Era uma forma, ouvia dizer, de, por esse meio, nos educarem a sensibilidade, gerando na nossa afectividade em formação, os bons sentimentos. E havia o cão que, morrendo, deixava o menino sozinho e o rapaz que, porque órfão, nunca seria menino. E a vida era um Natal gélido e faminto vivido do lado de cá da vidraça.

E depois era a mágoa dos amores quando ainda eram apenas ternuras inconsequentes, o medo dos adultos e da sua violência castigadora, os remorsos pelo tanto que se poderia ter feito ou por outra forma. E o pecado. E o dia em que as coisas de que gostávamos e as pessoas que amávamos começavam a morrer.
Hoje já não há muito disso que aleijou a alma. Torná-mo-nos adultos. Atentos ao mundo, há, porém, o que nos chega pelas notícias: a selvajaria das guerras entre povos e o mesmo povo, a cruel violência no seio da própria família. E, na dança macabra dos fins de festa, há a estupidez acéfala dos embriagados pela futilidade, a indiferença que nasce pela banalização do horror. Que não magoa menos.

Confesso que sinto de novo a surgir essa até agora longínqua incapacidade de suportar.
Quando, porque nascido em Malanje, me chegaram, tinha eu doze anos, os primeiros sinais da violência feroz que se tornou em guerra, vinda da revolta indígena na Baixa de Cassanje, mais a violência feroz da retaliação e a ferocidade angustiante do medo, quando, tudo tornado pavor e insónia, a ingenuidade infantil quebrou estilhaçada em cacos, senti que se me franqueara do mundo o horrível e o feio. E tentei encontrar então uma razão que ao menos me desse a paz de uma explicação.

Hoje, como insecto estonteado ante a luz, dói-me só de ouvir e dói também constatar que evito saber. Não nasce aí o regresso à inocência, sim o enfrentar o espelho acusador da má consciência.
É que foi este, afinal, o mundo que criámos e deixámos que surgisse.
Há um momento na vida em que a tirania mansa esgota a paciência e atiça o fogo da revolta. E a revolta é connosco mesmo por causa daquilo em que nos tornámos.

José António Barreiros

http://revoltadaspalavras.blogspot.pt/2014/08/a-mansa-revolta-da-dor.html … (FONTE)

Foto: Hugo Simberg | The Wounded Angel | Google Art Project

O povo da televisão | ANTÓNIO GUERREIRO in Jornal Público

O povo da televisão — e esse é o segredo da sua telegenia — coincide quase sempre com os pobres, os deserdados, os excluídos, os que não têm acesso aos centros do poder. Mas a televisão não concede ao seu povo existência política. Pelo contrário, retira-lha e despolitiza-o, mesmo quando ele surge enquadrado num contexto ou num motivo políticos.

O espírito popular desapareceu”, escreveu Pasolini num dos seus textos de crítica e resistência ao presente. Quarenta anos depois, esta proposição tornou-se um axioma, mas de onde se ausentou o sentido que tinha para Pasolini: o de uma catástrofe. Desapareceu o espírito popular, mas os vários canais portugueses de televisão insistem, quase sem excepção, em construir um povo que não existe, mas cujo simulacro — pensam eles, os “produtores de conteúdos” televisivos — é telegénico que se farta e tem aquela qualidade tão apreciada pelos construtores de mentiras: o “efeito de real”. Trata-se daqueles programas, reportagens e concursos frequentados por pessoas que são submetidas à deformação pelos próprios apresentadores, repórteres e entertainers para satisfazer os ditames televisivos do expressionismo grotesco. O povo construído pela televisão é degenerado, ridículo, monstruoso. E os seus criminosos construtores têm nomes publicamente conhecidos e sucesso alargado: são as Júlias, as Luísas, os Joões, os Manueis e os seus directores de programas, produtores, chefes, empresários, até ao topo da hierarquia. Há o “povo” que vem aos estúdios dos programas da televisão (quase sempre um “povo” suburbano que já conhece bem os códigos da televisão e sabe imitá-los); e há o povo que a televisão visita no seuhabitat natural, geralmente os recantos profundos do país onde se vai em busca de arquétipos. Um e outro são descaradas mentiras, falsas construções que deformam até à degradação. Qualquer que seja o sentido da palavra, tenha ela um sentido sociológico e político ou aponte na direcção utópica da criação artística para a qual há sempre “um povo que falta”, existe mais “povo” em qualquer filme de Pedro Costa (um povo que vem, isto é, venturo, como o nome de Ventura) do que em todos os programas de televisão. O povo da televisão — e esse é o segredo da sua telegenia — coincide quase sempre com os pobres, os deserdados, os excluídos, os que não têm acesso aos centros do poder. Mas a televisão não concede ao seu povo existência política. Pelo contrário, retira-lha e despolitiza-o, mesmo quando ele surge enquadrado num contexto ou num motivo políticos. Quantas vezes não assistimos já às câmaras a fazerem um zoom sobre as mãos encarquilhadas, ou qualquer outra parte do corpo, do indivíduo do “povo” que se queixa de uma qualquer decisão — ou da ausência dela — dos governantes? Nesse momento, a pessoa é espoliada do seu estatuto político e ganha uma espécie de qualidade étnica. Já alguém deu por a televisão fazer um grande plano das mãos de um ministro? Já alguém viu, na televisão, as mãos de Marcelo Rebelo de Sousa a não ser como instrumentos de gesticulação expressivo-didáctica? O povo da televisão não é representado como sujeito minoritário do populus, do corpo de todos os cidadãos. É visto, antes, como espécie castiça de um parque natural que fica longe, muito longe, da Comporta. Deste modo, este povo que a televisão reconstrói e deforma à medida das suas exigências tem alguns pontos de coincidência com o povo do populismo. Mas há uma diferença fundamental: o populismo dirige-se à classe geralmente excluída da política e que, por isso, não tem privilégios de sujeito político constitutivo, reclamando que essa classe é o único poder legítimo, é uma parte do populus, do povo como categoria política, detentor da soberania, que deve funcionar como a totalidade da comunidade. A televisão, pelo contrário, quer tudo muito bem arrumado nos seus lugares e que não se quebre a harmonia estabelecida no parque natural do povo.

António Guerreiro

http://publico.pt/culturaipsilon/ … (FONTE)

Em defesa de Lobo Xavier e Pacheco Pereira | Pedro da Silva Pereira

Pedro-Silva-PereiraVítor Gaspar sentiu-se atingido por Lobo Xavier e Pacheco Pereira terem reconhecido, com honestidade, que a verdadeira razão que levou Portugal a ter de pedir ajuda externa foi o assalto ao poder lançado pela direita com a rejeição do PEC IV, que tinha recebido o apoio do BCE e dos nossos parceiros europeus.

A resposta de Gaspar insiste na falsificação da história.

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Festival Materiais Diversos 2014 | Apresentação | 1 de Setembro – 18h00 – Fábrica de Cultura – Minde

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O Festival Materiais Diversos decorre de 18 a 27 de Setembro e temos muito gosto em convidá-lo/a para a conferência de imprensa do próximo dia 1 de Setembro, às 18h00, na Fábrica de Cultura, em Minde. Queremos partilhar consigo os pormenores desta programação de Dança, Teatro e Música que preencherá durante duas semanas Minde, Torres Novas, Alcanena e Cartaxo com uma nova vida.

A 6.ª edição do FMD\2014 será a mais internacional apresentada até hoje. Mas terá também dois espectáculos desenvolvidos com a comunidade e um conjunto de actividades paralelas como conferências, workshops, cinema e DJs.

A conferência terá a presença do director artístico do FMD\2014, Tiago Guedes, e de artistas do Festival.
Por favor, confirme a sua presença até 29 de Agosto através deste email ou contacte:
Assessoria de Imprensa – Tiago Mansilha
(+351) 91 558 66 35
tiago.mansilha@materiaisdiversos.com

Historiquement, les Israéliens et les Arabes sont cousins | Natalie Portman

Natalie_Portman_251Lettre de Natalie Portman aux éditeurs du Harvard Crimson

Natalie Portman est cette célèbre actrice israélo-américaine que ses premiers succès, dans Léon, de Luc Besson et Star Wars (La Menace fantôme) n’ont pas empêchée d’être diplômée de très réputée Université d’Harvard. Etudiante engagée, elle réagit, en avril 2002, à un article de Faisal Chaudry sur le conflit israélo-palestinien et fait connaître, au travers du Harvard Crimson, ses positions sur un sujet qui la touche et la préoccupe particulièrement. Un message de paix trop rarement lu par ces temps de guerre continue.

Aux éditeurs :

Faisal Chaudry a écrit sur le désir qu’ont les Américains et les Israéliens de « reconstruire le système idéologique » de l’actuel Moyen-Orient, avant d’en déduire et de mettre en scène de manière inventive une opposition entre « blancs » et « bruns » (Op-Ed, « Une idéologie de l’Oppression », 11 avril). A un moment, Chaudry compare même cette situation à l’Apartheid. C’est une déformation des faits étant donné que la plupart des Israéliens et des Palestiniens sont impossibles à distinguer physiquement.

Le gouvernement israélien lui-même est composé d’un grand nombre de Juifs séfarades dont certains sont originaires de pays Arabes. Le chef du personnel des armées, le ministre de la défense (qui est le nouveau leader du parti travailleur), le ministre des finances et le président d’Israël sont tous « bruns. » Chacun devrait se faire une idée de la ressemblance physique entre Arabes et Israéliens en examinant cette semaine la couverture de Newsweek sur laquelle une jeune kamikaze palestinienne de 18 ans et sa victime israélienne de 17 ans auraient pu passer pour jumelles.

Historiquement, les Israéliens et les Arabes sont cousins. Tant que nous n’aurons pas accepté le fait que nous sommes les constituants d’une même famille, nous serons prisonniers d’une erreur si nous pensons qu’une perte pour un « camp » – ou, comme Chaudry l’appelle, une « couleur » – n’est pas une perte pour l’ensemble de l’espèce humaine.

Scandaleuse et erronée, la dénonciation est une tactique infantile qui méprise la responsabilité de chacune des parties concernées, c’est-à-dire, en plus d’Israël et des autorités Palestinienne, l’Europe, les Nations Arabes et les Etats-Unis.

Nous devons avoir honte de chaque acte de violence et pleurer chaque enfant comme s’il était le nôtre. Je prie pour la sûreté de tous ceux qui sont dans cette région et j’espère que nous parviendrons un jour à utiliser les spécificités humaines de langage et d’empathie plutôt que des technologies militaires ou de propagande pour résoudre ce conflit.

Natalie Portman | 12 avril 2002

http://www.deslettres.fr/lettre-natalie-portman-aux-editeurs-du-harvard-crimson-historiquement-les-israeliens-les-arabes-cousins/ … (FONTE)

Trompete | ANA BEATRIZ MENEZES GANHA CONCURSO EM LONDRES

ana beatriz menezes 200A jovem trompista Ana Beatriz Menezes venceu o 1º Prémio no concurso “International Horn Society Premier Soloist Competition”, em Londres. Os concorrentes foram seleccionados através de gravação, currículo e carta de recomendação. Apenas cinco concorrentes conseguiram chegar a final, que decorreu perente um júri de trompistas como Froydis, Jeffery Nelson e Susan McCullough.

Ana Beatriz Menezes nasceu em Minde, em Abril de 1992. Frequenta actualmente o Mestrado em Ensino da Música, com a especialização em Trompa, na Escola Superior de Música de Lisboa, sob orientação do professor Paulo Guerreiro.

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O Homem que fez tudo

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Com a Ditadura Militar, instaurada na sequência do golpe de 28 de Maio de 1926, Carlos Botelho Moniz assume a liderança da Câmara de Setúbal, cargo que desempenhará até 1930.

Alinhado politicamente com o novo regime e contando com o apoio dos comandos militares locais, Botelho Moniz, que conhece a realidade sociológica da cidade – com uma matriz fortemente operária de cariz ideológico libertário -, decide seguir uma estratégia de não afrontamento com as associações de classe. Para o efeito não hesita em tomar medidas populistas, em contraciclo com os afetos ideológicos da Ditadura Militar.

Junto do novo poder, ainda não totalmente consolidado, insinua-se como instrumento de pacificação da antiga “Barcelona portuguesa”, conseguindo apoios e ajuda financeira para os seus projetos. Apresenta-se como líder de um grupo de cidadãos que à margem da política conseguiu aquilo que aos políticos nunca foi possível. O discurso protofascista contra a incompetência dos “políticos” face à capacidade realizadora dos técnicos era bem evidente.

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Fernando, em Pessoa – com José Nobre

Pessoa02José Nobre recria Fernando Pessoa no Café das Artes, no próximo dia 29 pelas 23:30, na casa da Cultura de Setúbal. O Das Culturas quis saber mais.

Que Fernando, em Pessoa, é este? Um último heterónimo?

É o próprio, o ortónimo. Pensei primeiramente em ‘compor’ um Álvaro de Campos e dizer a ‘Tabacaria’, mas depois achei mais interessante ser o Fernando, ele mesmo, em Pessoa, a ler, não só a ‘Tabacaria’ como outros escritos de outros heterónimos. Torna a experiência mais rica.

A envolvência cénica do ‘Café das Artes’ convida à descontração, como concebeu este espetáculo?

Claro que é um espetáculo muito descontraído, contrariando um pouco a essência tímida e angustiada do poeta. Aqui o Sr. Fernando sai do armário, ou por outra, vasculha poemas no seu famoso baú e trá-los à luz do presente, compara-os, estabelece pontes entre alguns e conclui que andou dizendo as mesmas coisas durante toda a sua vida, usando diferentes vozes.

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Citando Mário Cláudio

Retrato de Rapaz

Se se curava de afeiçoar os lábios de uma excelsa cortesã, uma dessas que retinham o direito de se sentar à mesa ducal, pelando uma laranja com as unhas rebrilhantes de óleo de amêndoas doces, o impulso de Salai tendia a representá-los carnudos de incontida sensualidade. E quando se tratava de suspender sobre uma paisagem de montanhas longínquas um inconsútil véu de neblina, logo ele o transformava numa nuvem pardacenta, e ameaçadora de borrasca. Cabia pois ao pintor mitigar-lhe os deletérios ímpetos da juventude, significados na busca do que se afirma intenso em prejuízo do que se mostra ameno, coisa que tão-só os génios desprovidos de idade, sobrepondo-se às contingências do tempo, são capazes de contrariar. E um tal extravio dos sentidos, ou um afogadilho assim da vontade, revelava-se na selecção das cores que o jovem empregava, investindo nesse apetite dos extremos que orienta a conduta dos adolescentes de sempre.

Retrato de Rapaz, de Mário Cláudio, D. Quixote

leia a recensão no Acrítico – leituras dispersas.

Por uma esquerda recomposta | André Barata in “jornal i”

winstonPara a esquerda ser alternativa, é indispensável vontades políticas alcançarem uma convergência e imprescindível constituírem-se veículo de um programa político.

A recomposição da esquerda portuguesa está na ordem do dia. Uma esquerda antiausteritária que se queira consequente não pode satisfazer-se com o papel de protesto. Por bem que cumpra esta função, se ao protesto não se seguir nenhuma mudança, se dele nada se esperar além da catarse da rua, então é justo concluir que o protesto serve sobretudo de válvula de escape ao descontentamento social, com benefício exclusivo, na ressaca do dia, para a própria política de austeridade, cuja continuidade se vê assim mais bem assegurada.

Também não basta a desmontagem argumentativa da austeridade, dos três ângulos, social, político e económico, por que tem sido feita: a) Fazer a demonstração, do ponto de vista social, de como a austeridade naturaliza a desigualdade, impinge a precariedade como normalidade social e instala no quotidiano das pessoas o medo da incerteza sobre o futuro próximo, recusando-lhes a capacidade de projectarem as suas vidas. b) Deixar claro, do ponto de vista político, como a dívida se substitui de facto ao soberano e como a precariedade restitui ao poder político atributos de um absolutismo que não conceberíamos há alguns anos atrás. c) Fazer evidência de como, do ponto de vista económico, a austeridade não resulta, em nada diminui a dívida soberana, antes transforma-a em dívida eterna, que nos subjugará social, política e economicamente por décadas.

Tornar consequentes estas vocações de protesto e de desmontagem argumentativa, exige à esquerda antiausteritária que encontre uma terceira vocação: mostrar-se alternativa credível de poder face à austeridade que nos governa. Sem esta vocação, a esquerda portuguesa, por empenhada e brilhante que seja, nulifica todos os seus esforços. E para a esquerda antiausteritária ser alternativa, é tão indispensável vontades políticas alcançarem uma convergência real como é imprescindível constituírem-se veículo de um programa político. Em poucas palavras: uma alternativa política para uma política alternativa.

Se a recomposição da esquerda for mais do que um espectro e servir para fechar este triângulo – protesto, argumentação, alternativa – far-se-á um pouco de história, pois desde que há democracia em Portugal nunca a esquerda à esquerda do PS teve ambições de governar. Mas, outra governação valerá a pena se, além disso, consumar a oportunidade histórica para uma recomposição da própria ideia de esquerda. Não deve preocupar à esquerda apenas as suas dificuldades em convergir, mas também de se renovar ideologicamente a sua capacidade propositiva. Não é certamente esse o caso de uma esquerda refugiada no patriotismo em extremidade peninsular ou, ainda, na nostalgia do regresso ao passado do escudo. Propor é fundamentalmente projectar, com linhas de futuro como horizonte. E pelo menos dois eixos merecem futuro:

1. Quando nos citam pela enésima vez a espirituosa frase de Churchill sobre a que considerou ser a pior forma de governo à excepção de todas as outras, fica bem explicado por que a democracia liberal é inaceitavelmente tímida, com eleitores postos à margem sempre que não há eleições, a democracia europeia resumida a um clube de chefes de governo, a democracia nacional a um clube de partidos, a democracia partidária a um clube de dirigentes. É preciso a esquerda reivindicar-se mais radicalmente democrata e bater-se pela inclusão plena das comunidades no processo político.

2. Hoje não restam dúvidas que a social-democracia, assente no Estado social e na função redistributiva das transferências sociais está a falhar maciçamente. As desigualdades aumentam por toda a parte, a concentração de riqueza também, mau grado as transferências sociais tradicionais. Pior ainda: mau grado o empobrecimento da sociedade. É preciso a esquerda propor-se a mais do que remediar, a jusante do ciclo económico, a desigualdade. Assumindo que as sociedades mais iguais fazem melhor, é preciso complementar as políticas redistributivas, radicalizando-as com políticas de pré-distribuição, que façam da igualdade força geradora de prosperidade económica.

Filósofo, dirigente do Livre