Rapariga era eu | Maria Isabel Fidalgo

Silêncio à proa das sílabas

onde as palavras roçam a sombra

que vem da vaga despedida do dia

ou do roçar da melancolia

no berço da noite.

Queria ser rapariga com sol dentro

a desbravar o fogo no lume verde

da erva dos meus olhos.

Se chamo

não vem a mansidão da madrugada

na voz dos búzios.

Nem tu.

Dorme a vida numa vigia muda

longe do arfar das ondas

ao lusco-fusco do desejo.

Queria ser rapariga

cana verde

assobio

malhão

vira

fado

rosa

ó és tão linda…!

Mas os ferrinhos desafinam

os tambores não rufam

o poema não tem folhos

nem colho alecrim aos molhos

na dolência do poema.

Guardador de Rebanhos | Poesia Portuguesa II

Mário Viegas ironiza sobre a “popularidade” de Fernando Pessoa, escritor e poeta da primeira metade do século XX; Mário Viegas conversa com “Fernando Pessoa” (personagem interpretada por Mário Viegas) sobre a sua personalidade e obra; 41m50: Mário Viegas declama 10 poemas do livro “Guardador de Rebanhos ” de Alberto Caeiro, acompanhado por António Marques à flauta e a interpretação de Rui Miguel, ator; reconstituição do quadro “Retrato de Fernando Pessoa” de José Almada Negreiros.

Vandalismo com futuro | Francisco Louçã

Ao longo do dia de hoje, o drama das eleições norte-americanas, que ainda não tem vencedor oficialmente certificado três semanas depois do dia do voto (e as contagens ainda continuam, mesmo que já não mudem nada), vai chegando ao fim.

Entretanto, foi-se convertendo numa farsa: os tuítes do presidente cessante deixaram de ser uma ameaça para serem risíveis, fracassou a convocação para a Casa Branca dos representantes da maioria republicana na assembleia estadual do Michigan para os convencer a imporem um golpe constitucional de duvidoso resultado, os anunciados processos com provas esmagadoras são amesquinhados por juízes conservadores em tribunal. Parece não sobrar nada da estratégia de Trump, que sorumbaticamente se arrasta por campos de golfe para passar o tempo, enquanto no seu país o número de casos Covid se aproxima dos duzentos mil por dia.

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Certamente | Paulo Querido

Quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Hoje: um diário muito mais político do que é habitual. Não te habitues: tenho dias.

Orçamento de Estado para 2021 aprovado por 3 votos
😂 Rui Rio
😕 Catarina Martins
😰 António Costa
😐 Inês Sousa Real
😞 Telmo Correia
🤥 André Ventura

Pontos breves:

O Bloco fez um arriscado investimento no chumbo do OE com a proposta do corte do Novo Banco. Vai pagar juros altíssimos, a começar já em Janeiro com o eleitorado a fugir de Marisa Matias para Ana Gomes e João Ferreira.

Rui Rio foi o espertalhufo da semana: não arriscou um cêntimo seu e palmou quase todo o lucro que a proposta do Bloco possa vir a render.

O PCP, o PEV e o PAN estiveram imperiais. Não apenas os seus eleitores mas os portugueses de uma forma geral devem-lhes uma palavra de agradecimento pela seriedade, pelo empenho e pelo esforço que colocaram neste Orçamento. Se o documento não ficou pior, muito se deve aos deputados destes três partidos. E se não temos o agravamento desnecessário da tensão política a semanas das presidenciais e da chefia portuguesa da União Europeia, a eles o devemos.

João Leão revelou-se frouxo e inábil. Ou vice-versa. Não me parece que António Costa e João Leão, ou vice-versa, possam invocar a COVID-19 para justificar o gelo fino em cima do qual o Governo vai entrar em 2021. Ou Costa está farto de ser PM, ou este é um desastre político difícil de explicar. E não é limpando as mãos ao Bloco nem dramatizando o golpe de mestre de Rio que o PS se safa.

Catarina Martins e Mariana Mortágua estão a lamber as feridas e a tirar os estilhaços da bomba explodida por Rui Rio. O Bloco perdeu espaço de manobra a troco de nada. Eu creio que foi premeditado o timing da jogada: dar um rebuçado à ala dura do Bloco enquanto se surge como oposição destemida a “este” PS e fazê-lo JÁ, a dois orçamentos de distância das próximas legislativas. Quer dizer: eu QUERO ter esta fé. Chama-me ingénuo se quiseres.

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PAN | PESSOAS-ANIMAIS-NATUREZA

O PAN defende uma sociedade informada, consciente, livre, justa e inclusiva e uma democracia baseada na participação, na ética, na convergência, no respeito e na igualdade.

Ciente do poder de mudança de cada um de nós, o PAN considera que as transformações políticas, sociais, económicas, ambientais e culturais que almeja só podem ser alcançadas por via do exercício da democracia participada, do pensamento livre, do compromisso pessoal e da responsabilização onde a reunião de vontades e esforços se conjugam no trabalho colectivo.

Os presentes estatutos conferem os instrumentos normativos para que todos e todas possam construir visões, estratégias e objectivos, promovendo o envolvimento e valorizando cada pessoa em toda a sua singularidade, na estreita observância dos princípios e valores éticos que norteiam o PAN.

Estas disposições procuram conferir uma organização interna baseada na confiança, na solidariedade, no respeito pela diversidade e, sobretudo, na liberdade e nas responsabilidades partilhadas a todos os níveis.

Reconhecendo a relevância de todos os contributos e a igualdade de oportunidades na participação nos destinos, implantação e consolidação do PAN, os estatutos garantem a representatividade dos vários pensamentos e sensibilidades que enriquecem este projecto, pois o PAN de cada um e de cada uma é o PAN de todos e de todas.

https://www.pan.com.pt

É melhor não repetir o que a TVI fez com o Banif | Francisco Louçã

A desvantagem de comentar a quente é esta: não se pensa duas vezes.

José Gomes Ferreira, que conhece bem a economia e as trapalhadas do Novo Banco, veio dizer hoje ao almoço que havia um “risco indireto” para os depositantes desse banco e um risco para o Estado português, em função da decisão do parlamento de não autorizar uma transferência de 478 milhões até haver resultado de uma auditoria confiável.

Ele apressou-se logo a corrigir e a dizer que o risco era “muito indireto”, mas fez mal em ter feito a sugestão inicial. Foi assim que uma informação da TVI, aliás errada, desencadeou uma corrida ao Banif.

Esse risco de depósitos não existe no Novo Banco e é errado suscitar esse receio. Os depósitos estão seguros. O que o parlamento decidiu é de simples bom senso.

O pagamento ao Novo Banco pelo Fundo de Resolução, que só ocorre em maio, deve ser precedido de uma justificação nos termos do contrato, da certeza de que não há abuso e de que as contas estão certas. Aliás, Gomes Ferreira declara peremptoriamente que os 478 milhões nunca iriam chegar e que, portanto, a conta proposta no Orçamento era a fingir. Ele tem a certeza de que vai ser pedido mais dinheiro, tem razão e ainda bem que o revelou.

Por isso, sabe-se que haveria sempre uma nova proposta do Fundo de Resolução e do governo para subir o financiamento. Tudo em maio, como está no contrato. Não há, portanto, nenhum incumprimento desse contrato pelo Estado português. Não sabemos é se há um incumprimento por parte da Lone Star e isso vai ser apurado pela auditoria.

Que um Estado decente proteja os seus cidadãos e os depositantes do banco é de meridiana clareza.

Não vejo como se possa alegar uma obrigação que ainda não está confirmada (nem as contas do ano estão fechadas) ou como se possa aceitar que um fundo financeiro imponha a um país a obrigação de lhe dar uma fatia do orçamento, só pela sua conveniência e à margem das obrigações contratuais.

Ouvir membros do governo falarem como se fossem porta-vozes da Lone Star, afirmando que o contrato está a ser incumprido só porque não foi autorizada em novembro, e até haver auditoria competente, um pagamento aprazado para daqui a seis meses, só permite uma constatação triste de como se degradou o sentido da governação.

Seria preferível defender Portugal e a seriedade das suas contas.

Francisco Louçã

Retirado do Facebook | Mural de Francisco Louçã

Querido Diego | Luís Osório

Não me conheces, mas eu aprendi a gostar de futebol com as tuas fintas, o teu toque de bola, a tua habilidade para fazer de cada jogada uma obra de arte.

Impossível ficar indiferente ao que eras dentro de campo. No palco estavam vinte e dois homens, mas os olhos das pessoas não se desviavam de ti, do teu corpo baixo e anafado, da tua pose provocadora, da tua arrogância de menino de rua.

Nunca conheci ninguém como tu. Nunca conheci ninguém que tivesse feito tanta merda para que o mundo desistisse de ti. Esforçaste-te o melhor que conseguiste para enterrar fundo tudo o que de bom fizeras nascer. Foste um mau exemplo para as crianças, mas as crianças continuaram a olhar fascinadas para as imagens dos teus golos.

Foste dependente de todas as drogas. Fumadas, snifadas, injetadas. Heroína, cocaína, anfetaminas, crack. Nos dias de catástrofe injetavas-te num braço com cocaína e no outro braço com heroína. Precisavas de acelerar para viver e de acalmar para que os cavalos não te saíssem a galope do coração. Mas mesmo assim o povo continuou a aplaudir-te como se tu fosses o que salva pessoas do vício e os faz acreditar que é possível a felicidade.

Em muitos dias alucinados agredias pessoas, disparavas tiros de espingarda contra jornalistas acampados à porta de tua casa, cuspias, ameaçavas e eras na maioria parte do teu tempo um mau caráter. Ah, mas as pessoas nunca te abandonaram.

Nunca desistiram de ti. A cada erro, a cada queda lá vinham os aplausos, os abraços, as lágrimas. Trataste mal filhos e mulheres com quem casaste. Foste um cabrão da pior espécie, mas depois erguias-te e tudo passava. Ficaste disforme. Duzentos quilos de gente. Um monstro de banhas num corpo quase anão, os olhos quase a sair das órbitas, um exemplo de decadência. Mas o povo não te via assim, via-te outra vez na Bombonera a partir os rins a meia equipa contrária antes de picares a bola por cima do guarda-redes.

Passavas os dias em bordéis e trocavas mensagens com chulos, mas até o Papa Francisco te definiu como o único ser humano que se aproximou de uma ideia de Deus.

Envolveste-te com a máfia napolitana, trocaste favores, fizeste trinta por uma linha, mas se fechar agora os olhos vejo-te a fintar meia equipa de Inglaterra antes de entrares com a bola pela baliza dentro.

Fizeste tudo o que pudeste para que o povo te abandonasse. Mas fracassaste, Diego. Desculpa que te diga, mas fracassaste nesse objetivo.

Aos deuses tudo se perdoa. E tu foste o único humano a quem tudo se perdoou. A esta hora não estarás a caminho do céu, não acredito nisso.

Mas sei que já estarás no Olimpo, uma terra de deuses imperfeitos onde pertences por inteiro direito.

Adeus, Diego. Não me conheces, mas eu conheço-te muito bem. E perdoei-te sempre. Nunca liguei ao que fizeste para que eu te esquecesse.

LO

Retirado do Facebook | Mural de Luís Osório

Mourir d’aimer | Zoubida Belkacem

Des mots blessants assénés

Aussi mortels qu’une flèche empoisonnée.

Prélude d’une tragédie annoncée

Ce n’était pas une lune de miel

Mais une nuit d’horreur et de fiel

Au crépuscule d’une aube vacillante

Un goût d’amertume, sous une pluie battante

Les larmes coulent étouffant des sanglots

Une blessure béante qui ne retient plus les maux.

Un coeur meurtri qui souffre trop

J’aurai voulu mourir d’aimer

Connaître l’amour et l’ivresse désabusée

Croire encore en ses promesses insensées

Mais où est la magie ?

lorsqu’il ne reste plus que

mensonge et mépris !!

Zoubida Belkacem

Texte protégé

Bendito seja o mesmo sol de outras terras | Alberto Caeiro

Bendito seja o mesmo sol de outras terras

Que faz meus irmãos todos os homens

Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,

E nesse puro momento

Todo limpo e sensível

Regressam lacrimosamente

E com um suspiro que mal sentem

Ao Homem verdadeiro e primitivo

Que via o Sol nascer e ainda o não adorava.

Porque isso é natural — mais natural

Que adorar o ouro e Deus

E a arte e a moral …

Teresa Ricou | antes palhaça do que equilibrista | Luís Osório

1.

Chegara-se à conversa final e Daniel Sampaio foi o mais entusiasta. Teresa Ricou, a mulher palhaço, deveria ser a escolhida. D. Manuel Clemente, ao contrário de António Barreto e Cristina Louro, não a conhecia bem. Explicaram então ao bispo e na altura recém-nomeado Patriarca de Lisboa, que Tété era mais do que uma palhaça – a escola de circo que fundara, o Chapitô, salvara dezenas de miúdos da marginalidade.

Transformara uma prisão de mulheres, o estabelecimento das Mónicas, num lugar que oferecia a hipótese de um futuro. Para Clemente calou fundo a ideia da salvação pela arte, bastou-lhe para ficar convencido.

Sá Carneiro não pertenceria a este PSD | Luís Osório

1.

A propósito da evocação dos 40 anos da trágica morte do fundador do PSD, o Instituto Sá Carneiro preparou uma campanha que espalhará três frases intemporais do seu líder histórico pelas principais cidades do país.

“Ser homem é ser livre, a liberdade de pensar é a liberdade de ser”

“Não há nada que pague a sinceridade na ação política”

“O meu sentimento? Define-se numa palavra: responsabilidade”

Inauguração do Museu Roque Gameiro | 21/11/1970 | 50º aniversário | Minde

FOI HÁ 50 ANOS QUE FOI INAUGURADO O MUSEU ROQUE GAMEIRO.

Em 21 de Novembro de 1970 Minde vivia momentos de grande agitação. Foi inaugurado o MUSEU ROQUE GAMEIRO e Minde recebeu a presença do Presidente da República Almirante Américo Thomaz. Era Presidente da Junta de Freguesia de Minde o Senhor Lourenço Coelho Anjos da Silva.

J’ai des rides | MARINELLA CANU | placé par Samia Cherradi

J’ai des rides.

Je me suis regardée dans le miroir et j’ai découvert que j’avais beaucoup de rides autour des yeux, de la bouche, du front.

J’ai des rides parce que j’ai eu des amis, et on a ri, on a ri souvent, jusqu’aux larmes, et puis j’ai rencontré l’amour, qui m’a fait essorer les yeux de joie.

J’ai des rides parce que j’ai eu des enfants, et je me suis inquiétée pour eux dès la conception, j’ai souri à toutes leurs nouvelles découvertes et j’ai passé des nuits à les attendre.

Et puis j’ai pleuré.

J’ai pleuré pour les personnes que j’ai aimées et qui sont parties, pour un peu de temps ou pour toujours, ou sans savoir pourquoi. J’ai veillé aussi, j’ai passé des heures sans sommeil pour des beaux projets pourtant pas toujours aboutis , pour la fièvre des enfants, pour lire un livre,j’ai veillé aussi pour me lover dans des bras aimants.J’ai vu des endroits magnifiques, de nouveaux endroits qui ont eu tous mes sourires et mes étonnements, et j’ai revu également d’anciens endroits qui m’ont fait pleurer.

Dans chaque sillon sur mon visage, sur mon corps, se cache mon histoire, les émotions que j’ai vécues et ma beauté plus intime, ….. et si je devais enlever tout ceci …. je m’effacerais moi-même.

Chaque ride est une anecdote de ma vie, un battement de coeur, c’est l’album photo de mes souvenirs les plus importants.

“MARINELLA CANU

Très bon week-end à vous tous et toutes

Retirado do Facebook | Mural de Samia Cherradi

Novo Livro | “LATIM DO SÉRIO” | Frederico Lourenço

Lançado hoje! (13/11/2020)

Quando, em Março de 2020, a pandemia levou a Universidade de Coimbra a substituir, até ao fim do ano lectivo, a leccionação presencial pelo ensino online, pensei em formas de manter motivada a minha turma de Poesia Latina.

Ocorreu-me a ideia de criar uma página no Facebook, a que chamei «Vergílio em Coimbra», porque a pandemia atacara no momento em que, justamente, eu me preparava para aprofundar com a turma o estudo de Vergílio. A turma de Poesia Latina tinha 19 inscritos; depressa compreendi que, no Facebook, o universo de interessados era muito maior. Também me fui dando conta de que, na caixa de comentários dos posts, iam surgindo perguntas da parte de gente não só interessada nas reflexões propostas sobre Vergílio como, ao mesmo tempo, curiosa sobre como aprender latim a partir do zero. Comecei a perceber que havia muitas pessoas em Portugal e no Brasil interessadas em saborear as nuances sublimes da poesia vergiliana – só que lhes faltava, para tal, saber latim.

Claude Lorrain e o espírito de Vergílio | Frederico Lourenço

No final da sua longa vida, o pintor seiscentista Claude Gellée (conhecido como «Lorrain» por ter nascido na Lorena) dedicou-se à leitura da «Eneida» de Vergílio, focando-se assim num texto em cujo ideal estético (a Perfeição pura e simples) viu decerto um reflexo do seu.

Sabemos que Claude leu Vergílio na tradução italiana de Annibale Caro (que saíra em Veneza, em finais do século XVI), pois, ao contrário do seu amigo e vizinho Nicolas Poussin, não obtivera uma escolaridade suficientemente sólida em latim para conseguir ler o poema na língua original. E porquê italiano – e não francês? Pela simples razão de que Claude – tal como Poussin – viveu a maior parte da sua vida em Roma; e (de novo, como Poussin) tinha aversão à ideia de viver em França. É sempre estranho vermos a historiografia francesa considerar Poussin e Claude como pintores franceses, porque a única coisa de francês que eles tiveram foi a naturalidade. A sua arte não é francesa: por um lado, todos os modelos que os inspiraram foram italianos (Rafael, Ticiano, Annibale Carracci, Domenichino); por outro, vivendo eles durante toda a sua vida adulta perto da Piazza di Spagna em Roma – e recriando eles, na sua arte, uma antiguidade romana idealizada –, a melhor forma que temos de os descrever é como artistas romanos.

Constantinopla – Florença – Coimbra | Frederico Lourenço

Entre as grandes alegrias de ser professor de Grego na Universidade de Coimbra tenho de contar o sentido histórico de continuidade que nunca deixa de me encantar. Ao vigiar hoje, na Faculdade de Letras de Coimbra, um teste de Grego em que os meus alunos tinham de responder a perguntas sobre uma passagem da comédia «Pluto» de Aristófanes, dei por mim a pensar na longa tradição – que já se estabelecera antes de ter nascido Jesus Cristo – de usar esta comédia como instrumento didáctico para o ensino do Grego. Depois, ao longo de mil anos de escolaridade grega em Constantinopla, o estudo deste texto de Aristófanes ocupou um lugar central. É, de todas as comédias de Aristófanes, a que conta um número mais elevado de manuscritos bizantinos.

RSI | Atirar areia para os olhos da maioria | Tiago Franco

Desde que abriu a caça aos beneficiários do RSI, com a mão amiga da Iniciativa Liberal e do Chega no arquipélago dos Açores, que alguma comunicação social começou a fazer o que dela não se espera. Atirar areia para os olhos da maioria e branquear um populismo crescente e insuportável, que empesta diariamente tudo o que se lê e ouve.

José Manuel Fernandes (JMF) fez a sua parte, assinando esta crónica deplorável sobre Rabo de Peixe (https://observador.pt/…/umas-coisas-que-eu-sei…/…).

Há uma semente de antigos maoístas, ex-combatentes do povo, que entretanto se aburguesaram e ficaram com um ligeiro asco a pobres.

O que o Gambito da Rainha nos ensina sobre a vida (e a política) | Francisco Louçã in Jornal Expresso

Para bastante gente, “O Gambito da Rainha” tem sido uma acolhedora companhia no semi-confinamento em que vivemos. A série tem tido sucesso, seja porque junta uma personagem fascinante, mesmo que puramente ficcional, Elizabeth Harmon, a algum romance, pouco, ao retrato sofrido das esquinas da vida, ou ainda a uma pitada de Guerra Fria em tom de época, seja, e sobretudo, porque se constrói sobre um mistério. Esse mistério é o xadrez, dois exércitos de oito peões e oito aristocratas frente a frente num pequeno tabuleiro.

Encontrado esboço inédito do rosto de Jesus Cristo

Historiadores acreditam que obra-prima pertença ao pintor Leonardo da Vinci, autor de quadros como a Mona Lisa e A Última Ceia.

Um esboço do rosto de Jesus Cristo nunca antes visto foi recentemente descoberto pela comunidade artistica que acredita que a obra deverá pertencer ao pintor Leonardo da Vinci, autor de quadros icónicos como a Mona Lisa e A Última Ceia.

O desenho, feito com recurso a giz vermelho, foi mantido durante anos numa coleção particular de um banco na Lombardia, em Itália. Agora foi tornado público.

“É uma obra extraordinariamente bela e refinada. Estou absolutamente convencida de que é um esboço de Da Vinci”, garantiu Annalisa Di Maria, historiadora de arte italiana, em declarações ao Telegraph.

Para determinar se a peça foi ou não produzia pelo renacentista. especialistas testaram o papel usado e confirmaram que remonta ao século XVI, altura em que da Vinci desenhou o “Retrato de um Homem em Giz Vermelho”, com um estilo muito semelhante à obra descoberta.

A peça está agora nas mãos de dois colecionadores da cidade de Lecco, no norte de Itália.

Retirado do Facebook | Mural de Paulo Freitas Do Amaral

O comunismo ainda não existiu, o fascismo e o nazismo, sim | Gabriel Leite Mota in Jornal Económico

PCP e Bloco estão do lado humanista da política. O Chega, não. Essa é a grande fronteira. Esse é o grande muro que não devemos deixar cair.

Tem sido motivo de aceso debate o acordo de governo que CDS, PPM, PSD, Chega e IL fizeram no Açores. Nesse acordo, ficou estabelecido que PSD, CDS e PPM governam em coligação, com o beneplácito parlamentar de Chega e IL.

A notícia é o facto de o Chega ter sido incluído nesse acordo, sabendo-se que este recente partido é, o que hoje chamamos, da extrema-direita populista, uma novidade no nosso sistema político.

Prazo de validade: Velho | Paulo Sande | in EURATÓRIA

  1. Uma pandemia não é um acontecimento frequente. Infelizmente, poucas tiveram o alcance, o impacto e as consequências (previsíveis) da resultante do SARS-COV-2, vulgo COVID 19. A peste negra, no século 14, provocada pela bactéria yersinia pestis, que matou mais de 75 milhões de pessoas. A vibrio cholerae, bactéria da cólera, cuja primeira manifestação global, de 1817, vitimou centenas de milhares. A gripe espanhola, causada por um subvírus da influenza, que não falava espanhol mas matou, em cerca de quatro anos, mais de 50 milhões de pessoas no mundo inteiro, a maior parte das quais jovens adultos.  E agora o COVID 19, cuja mortalidade se avizinha do milhão e meio.

A Crise | Thomas Paine

Em Dezembro de 1776, numa altura em que a sorte da guerra lhe era adversa, Paine publicou um panfleto intitulado A Crise, que começava assim:

Estas são as ocasiões que põem à prova a alma dos homens. O soldado do tempo de verão e o patriota dos dias ensolarados irão, nesta crise, recuar perante o serviço ao seu país; mas aquele que agora se mantém firme merece o amor e a gratidão dos homens e das mulheres.

Este ensaio foi lido às tropas, e George Washington expressou a Paine um «sentimento vivo da importância das suas obras»

Transcrito de uma obra de Sir Bertrand Russel

Álvaro Cunhal | Elementos Biográficos

Álvaro Cunhal nasceu em Coimbra (freguesia da Sé Nova) em 10 de Novembro de 1913. Passou parte da sua infância em Seia. A família mudou-se entretanto para Lisboa, onde Álvaro Cunhal começou por frequentar o Liceu Pedro Nunes e, mais tarde, o Liceu Camões.

Concluídos os estudos liceais, ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa onde iniciou a sua actividade revolucionária. Participou no movimento associativo estudantil, tendo sido eleito em 1934 como o representante dos estudantes no Senado Universitário. Foi militante da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) sendo eleito seu secretário-geral em 1935. Membro do Partido Comunista Português desde 1931, a partir de 1935 passou a integrar o quadro de militantes clandestinos.

Preso em 1937 e em 1940 e submetido a torturas, voltou imediatamente à luta logo que libertado depois de alguns meses de prisão.

A Pandemia | Isto é uma guerra | Jorge Alves

Bom dia, amigos. Diz-se por aí, à boca pequena, que a situação da pandemia está como está por culpa do Costa.

Há muitos casos? A culpa é do Costa; há muitos mortos? A culpa é do Costa; há poucos testes? A culpa é do Costa.

Antes do mais, uma pequena declaração de interesses: como a maioria sabe, não sou militante do PS.

Se o primeiro-ministro tomou várias decisões erradas no decurso desta tremenda luta contra o Covid? Com certeza que sim.

Mas que diabo! Algum de nós, em consciência, queria estar na pele de António Costa?

Creio convictamente que, apesar dos vários erros (diria que naturais em quem tem de trabalhar no arame e quase às cegas…), este Governo tem feito um bom trabalho na defesa dos Portugueses.

Dúvidas? Vejamos os casos de dois países muito mais ricos e desenvolvidos (acentuo o muito mais…) do que nós – a Suécia e a Áustria (ambos com o mesmo número de habitantes do que Portugal). O número de casos nos três países é semelhante (204 mil para Portugal, 191 mil para a Áustria e 177 mil para a Suécia).

É verdade que a Áustria está melhor do que nós no que toca a falecimentos por Covid – 1.660 mortos, contra os nossos 3.250. Mas que dizer da Suécia, que tem muitos mais recursos do que nós? É que os suecos já vão, infelizmente para eles, nos 6.160 mortos!

Voltemos por uns instantes à questão dos recursos existentes em cada país – suecos e austríacos têm muito mais dinheiro e mais meios para combater esta pandemia. Mas têm testado muito menos – 2,6 milhões de testes em cada um desses países e 3,25 milhões em Portugal.

Isto diz bem, a meu ver, do enorme esforço que está a ser feito por quem nos governa. A verdade, meus amigos, é que todo o mundo está a trabalhar no trapézio. Se há muita gente que chora os seus entes queridos e muitos mais ainda que perderam tudo? Pois há e infelizmente muitos mais vai haver.

MAS ISTO É UMA GUERRA.

Se ainda não tinham percebido, acordem. Mas não crucifiquemos quem não merece.

Um bom sábado para todos.

Jorge Alves

Retirado do Facebook | Mural de Jorge Alves

Marta Menezes | Pianista | Natural de Minde

CENTRO CULTURAL DE BELÉM | 15 NOVEMBRO 2020, 11H | LUDWIG VAN BEETHOVEN, Sinfonia nº 6, em Fá Maior, op. 68, Pastoral

https://www.martamenezes.com

Vencedora do 1º Prémio no Concurso Beethoven no Royal College of Music, em Londres, e no Concurso Internacional de Piano de Nice Côte D’Azur, Marta Menezes conta ainda com outros prémios em concursos internacionais em Portugal, Espanha e França. Recebeu em 2014 a “Medalha de Prata de Valor e Distinção” pelo seu percurso enquanto pianista, atribuída pelo Instituto Politécnico de Lisboa.

Marta apresenta-se regularmente em concertos a solo, em música de câmara e com orquestra, tendo actuado em diversos países na Europa, nos Estados Unidos, em Cabo Verde e na China. Das temporadas recentes, destacam-se os seus recitais no National Centre for the Performing Arts (Pequim), na Chopin Society of Connecticut (Estados Unidos), em St. Martin-in-the-Fields (Londres), no Festival Internacional IKFEM (Espanha) e no Festival Internacional de Música de Gaia.

Como solista, apresentou-se com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orchestre Régional de Cannes (concurso de piano de Nice), Orquestra IKFEM, Orquestra Sinfónica Juvenil, Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, Orquestra Sinfónica da Escola Superior de Música de Lisboa, Camerata MusArt, entre outras. Trabalhou com maestros como Pedro Neves, Pedro Amaral, Nicolas Simon, Christopher Bochmann, Gareguin Aratiounian e Vasco Azevedo.

Marta tem um papel activo na divulgação da música portuguesa. Fez a encomenda e estreia de várias obras de compositores contemporâneos e desenvolveu vários projectos dedicados a este repertório. Na presente temporada, prepara a apresentação dos 5 Concertos para Piano de Beethoven, com a estreia absoluta de 5 encores aos Concertos, encomendados a compositores da sua geração, no contexto dos 250 anos do nascimento de Beethoven.

Em 2015 editou o seu primeiro CD com obras de Beethoven e Lopes-Graça, com o apoio da Fundação GDA, que recebeu o prémio Global Music Award nos EUA: Silver Medal – Outstanding Achievement nas categorias de classical piano e emerging artist.

Marta tem sido convidada para dar entrevistas e a participar em programas na rádio Antena 2, rádio Super Bock Super Rock, Radio Internacional da China e Rádio Morabeza (Cabo Verde), bem como em televisão, tendo recentemente estado no Jornal da Noite da TVI.

Marta fez os seus estudos na Escola Superior de Música de Lisboa com Miguel Henriques, tendo também trabalhado com Jorge Moyano. Terminou o seu Mestrado com classificação máxima. Em Londres, fez um segundo mestrado no Royal College of Music, com Dmitri Alexeev, que terminou com distinção. Marta é doutorada pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, onde trabalhou com Arnaldo Cohen, tendo como tema do seu trabalho final as “Obras para Piano e Orquestra de Compositores Portugueses”.

Gonçalo Ribeiro Telles | por Anabela Mota Ribeiro

É um monárquico que viveu sob o signo da República. “Eu não me importo nada de servir a República. Tenho bilhete de identidade, servi, fui deputado”.

É um arquitecto paisagista que fala de jardins como se falasse do paraíso. “Na Bíblia, quando se fala do jardim, é um lugar concreto, circunscrito. Os hebreus não andavam à procura do jardim, andavam à procura do Éden, o vale fértil onde estava o jardim. Depois vem a casa do Homem. A certa altura a casa do Homem é tão grande que começa a ser necessário o jardim público, o parque, a ligação de parques e de jardins, os espaços verdes. Não chega, porque 84% da população mundial vai viver para as cidades, que ficam desmesuradas, ou então são todas torres, o que é desumano. Temos de criar um Éden para esta cidade, e temos que criar dentro do Éden o paraíso, que é o jardim”. Um idealista? Um realista. Empenhou-me em fazer um mundo mais próximo daquele onde gostaria de viver. 

É um homem de outro tempo. Do tempo em que se brincava na Avenida da Liberdade. A cidade era outra. “Eu tinha uma tia que morava numa casa que hoje é um hotel de luxo, na Rua de Santa Marta. Essa tia não tinha filhos e tinha um sobrinho, que era o meu avô; vendeu o palácio e fez uma casa na Avenida da Liberdade (que já foi abaixo). A minha avó, por sua vez, vinha de uma casa de São Paulo, ao Cais do Sodré; depois de casar, ocupou a casa na Avenida da Liberdade. Trouxe com ela o irmão coxo, que [se instalou] nas águas-furtadas. Vivia sozinho com uma criada, o marido da criada, que era carteiro, e os livros. O resto da família vivia por andares, no prédio; eu vivia no 3º”. Visitava-o muito.

Gonçalo Ribeiro Telles é um contador de histórias. Passei uma tarde com ele a ouvir histórias. É esta a sua história.

CARTA DE AMOR A MOÇAMBIQUE | Paulo Sande

1. Os telejornais inteiros cheios de Covid e suas sequelas. Um cheirinho de Trump, alguma coisa de Biden, quase nada de tudo o resto. Futebol, sempre, mesmo esventrado. De Moçambique, reportagens rápidas, friamente compungidas, a despachar. Temos de fazer muito melhor.

2. Vivi em Lourenço Marques alguns anos, quando ainda se chamava assim. Passei duas férias grandes – quatro longos meses de verão – em Nampula, na adolescência, um tempo de primícias e promessas. Fundei a primeira Câmara de Comércio com um país africano lusófono, justamente Moçambique e fui o seu primeiro Presidente. Visitei o país dezenas de vezes em três anos.

3. Assassinos a quem chamam “al-shabab”, mas que não deviam ter nome porque não podem ter nome os seres sem alma nem rosto, tão feios são, há meses que matam, violam, destroem, roubam. São maka, como os macuas chamam aos muçulmanos do litoral, ou talvez sejam tumpurawus (tubarões) de duas pernas que chegam das terras do norte, fanáticos, ou simplesmente baratas, praga difícil de exterminar.

4. Horrorizaram-nos as torres a desabar como castelos de cartas, fomos todos Charlie Hebdo até à exaustão, chorámos lágrimas sentidas pelos inocentes do Bataclan e os mortos de Paris, revendo dezenas de vezes as imagens e a imaginar o medo, o sofrimento, escandalizámo-nos com os degolados de Nice, os sacrificados de Viena de Áustria. Os nossos irmãos europeus.

5. Moçambique, sobretudo aquele norte distante onde em tempos morreram tantos portugueses – e moçambicanos – a lutar por uma causa em que acreditavam, aquele norte que nos soa a qualquer coisa quando nos falam de Mueda, de Pemba, a capital da província de Cabo Delgado, das Quirimbas (belo e ensanguentado arquipélago), do Rovuma que é fronteira com a Tanzânia, esse norte merece-nos um rápido “que horror”, um breve “coitados”, um capilé de palavras sem alma e depois de volta ao jantar que o recolher obrigatório não espera.

6. Devíamos ligar mais a Moçambique, ao que se passa no seu norte? Às vinte pessoas mortas nos últimos dias, aos milhares assassinados nos últimos meses, a tiro, à catana, degoladas, espancadas? Lamentar os inocentes, homens, mulheres, crianças, sacrificados em Mucojo, Naunde, Pangane, Nambo, na Ilha Mais? Preocupar-nos com os assaltos às penitenciárias de Mocímboa da Praia e Mieze? Com os mais de 300 mil deslocados?

7. Portugal tem uma obrigação moral. Tem uma obrigação política. Tem uma obrigação humanitária. Tem uma obrigação para consigo próprio e com o seu passado.

8. Acreditem: conheço-os, não certamente muito bem, mas sei do seu carácter afável e da sua hospitalidade. São gente boa e isso não é dizer qualquer coisa, isso é dizer tudo. A palavra Portugal tem valor em Moçambique. Os moçambicanos gostam maningue dos portugueses (eu sei). Façamos desse valor fortuna, ajudando. Preocupando-nos.

9. O país apelou à comunidade internacional, a ministra moçambicana dos negócios estrangeiros reuniu-se com o corpo diplomático em Maputo e exigiu a condenação inequívoca do terrorismo; cooperação para o eliminar; apoio no controlo de fronteiras (as belas mas ó tão permeáveis fronteiras marítimas e terrestres do país longo, tropical, coralífero); no combate ao crime organizado; na cibersegurança. E o mais importante: no apoio humanitário. Fome, doenças diarreicas, milhares de deslocados a precisar de ajuda.

10. Portugal pode fazer mais? Há certamente limitações para a ajuda que podemos dar, sejam elas diplomáticas, logísticas, financeiras, militares. Mas temos a obrigação de ajudar tanto quanto essas limitações permitam. E se calhar ultrapassá-las. Senão, não vale a pena continuarmos a encher a boca com retóricas desgarradas sobre a amizade com os povos irmãos lusófonos. É tempo de mostrar que a alma – a grande e antiga alma lusitana – não é pequena, mas generosa, grata e solidária.

Ororomela (esperar com esperança) …

Retirado do Facebook | Mural de Paulo Sande

Um Rio desencontrado da história | Daniel Oliveira in Jornal Expresso

Rui Rio celebrou o avanço da história que representou a derrota de Trump enquanto o PSD remava em sentido contrário, com uma aliança entre Chega e PSD, nos Açores.

Para além do acordo regional, o Chega disse que o PSD nacional lhe deu garantias de que contemplará no seu projeto de revisão constitucional pontos que o partido defende. Na frenética sucessão de tweets a desmentir a existência deste acordo nacional, Rio só nunca quis dizer que a fonte original da informação, o Chega, mentia.

Nem é capaz de dar a sua opinião sobre a existência do acordo regional.

Assim, defende a sua honra sem pôr em causa a viabilização do governo açoriano. É evidente que Ventura exigiu mudanças constitucionais que não foram atendidas. As do sistema político já eram do PSD, as da justiça são opostas às que defende. Mas ele não precisava de conquistar nada, só precisava de abrir uma porta nos Açores sem que Rio a fechasse em Lisboa. A porta foi aberta pelo acordo regional e pela ausência de reação direta de Rio às suas mentiras. Rui Rio, que nunca manifestou oposição expressa ao acordo regional, defende-se com o facto do Chega não entrar para o governo.

E escreveu: “Merkel recusou a Afd nos Governos regionais, tal como o Chega que não vai para o Governo dos Açores. O PP espanhol tem entendimentos parlamentares com o Vox em três regiões autónomas.”

Tem razão em relação ao PP espanhol, e Pablo Casado bem se arrepende. Não tem razão em relação a Merkel. A líder da CDU não se limitou a recusar a AfD nos Governos regionais. Recusou o que o PSD acabou de aceitar. Quando a CDU aceitou o apoio da AfD para um governo liderado pela FDP na Turíngia, Merkel disse: “Esta eleição de um ministro-presidente de um estado rompeu com uma convicção central da CDU e minha, ou seja, que nenhuma maioria deve ser conquistada com a ajuda da AfD”. Demitiu um membro do governo que celebrou o acordo e acabou por o impedir.

Já Rio, nem consegue dizer que “este acordo é errado” ou que “o Chega está a mentir”. Rui Rio partilhou no Twitter o extraordinário discurso de derrota de John McCain.

No fim da sua vida, McCain teve a coragem de traçar uma linha vermelha que o deixou quase sozinho no seu campo político.

Rui Rio teve a primeira oportunidade histórica para o fazer. Duvido que tenha outra. Há momentos que parecem pequenos e são tudo.

Retirado do Facebook | Mural de Daniel Oliveira

CARTA ABERTA AO actual PSD | Gaëlle Becker Silva Marques

A coligação do PSD Açores com o Chega é reveladora de uma grande enfermidade!

Enquanto filha de um ex-deputado do PSD, não posso deixar de manifestar um profundo desprezo pela decisão política dos actuais dirigentes deste partido.

Enquanto filha de um ex-Presidente da Bancada Parlamentar do PSD, não posso ficar calada perante esta assombrosa decisão.

Enquanto filha de um dissidente do Estado novo, de um grande lutador pela Democracia em Portugal, sinto-me na obrigação de denunciar o inimaginável e de acusar o actual PSD Açores de defraudar os ideias democráticos que o fizeram nascer e crescer enquanto partido.

Acusar o actual PSD Açores de defraudar os portugueses que nele votaram, acreditando que os princípios fundadores do partido continuariam a ser os mesmos princípios de sempre e, por isso, os de respeito, de diálogo, de defesa da Democracia e de combate em prol da Democracia. Acusar o actual PSD Açores de defraudar os seus eleitores, que se reviram naqueles princípios e que deram o seu voto para que esses fossem firmemente aplicados em nome da Democracia. Acusar o actual PSD de defraudar, sem o mínimo sentido crítico, sem a mínima consciência histórica e partidária, de forma deliberada, oportunista e desonesta, o seu próprio partido. Acusar o actual PSD Açores de defraudar a memória dos seus fundadores, a memória de Francisco Sá Carneiro que acreditou que a reconstrução política através do diálogo era não só possível, mas louvável.

Também é como filha de um pai resiliente e lutador que denuncio. A que presenciou a uma realidade perturbante. A que cresceu ao lado de um pai que foi preso, perseguido, torturado e obrigado a viver no exílio porque acreditava no Ideal Democrático. A que soube o quão devastador foi para ele o afastamento com a sua família. A que soube como se acentuaram as complicações que os anos de Clandestinidade provocaram no seio familiar: ameaças de morte, rusgas, pilhagem. A que o viu abraçar-se ao seu próprio pai, bafejado pelas lágrimas, este que o julgara morto e que por isso demorou a desculpá-lo. A que pressentiu e presenciou: as suas angústias, os seus terrores nocturnos, as suas cicatrizes no corpo, as suas tensões e crispações, os seus sobressaltos, a sua revolta contra a injustiça, a sua luta na defesa do oprimido, da dignidade humana, do direito das mulheres e de todos os direitos que um regime totalitário pretende à força, a ferro, a tiro e a sangue abafar e anular.

Esta coligação não só ataca a Democracia, como também ataca directamente as famílias nos seus lares. Ataca o que de mais precioso se exala: o livre Pensamento, a Liberdade em si, a Humanidade, o direito à Escolha, mas também a Responsabilidade.

A política existe, antes de mais, para servir o eleitor. Jamais deve obstruir a livre circulação da democracia. Jamais deve pactuar com a gangrena que se queira instalar.

E é em nome de todos os cidadãos que acreditam nos valores da Democracia, mas também em nome do meu Pai, que hoje denuncio:

Acuso! Acuso o actual PSD de fragilizar a via democrática e de empurrar, mesmo que a longo prazo, a nação portuguesa para a via totalitária!

Não à gangrena!

A gangrena, Nunca Mais! Nem a da Esquerda, nem a da Direita!

E que o medo nunca nos cale!

Gaëlle Silva Marques

Hoje, no dia 7 de Novembro de 2020, dia em que o meu Pai faria anos, denuncio o que ele próprio denunciaria se ainda estivesse vivo.

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

Eu sou do tempo do Silva Marques deputado do PSD, e também de Emídio Guerreiro e uns tantos mais (Nuno Rodrigues dos Santos) que nos (aos militares do 25 de abril) mereciam respeito embora e apesar das suas opções e ruturas. Eram uma garantia de antifascismo. Esses garantes pelo que lemos na corajosa e límpida carta da filha deixaram de existir com Rui Rio.

Carlos Matos Gomes

UM POEMA E UMA IMAGEM DO LIVRO “EUFORIA” RECENTEMENTE PUBLICADO | Casimiro de Brito

Aurora! Somos nós onde quer que respiremos;

somos nós em todos os rios e montanhas,

somos nós nas flores e nos templos sagrados,

em lágrimas e em grãos de areia. A febre

atravessa os bichos humanos, os criadores de deuses,

os mágicos tão pobres como a terra

onde nascem. Mas eles desencantam

mantos de alegria, levantam templos

e confiam. E mesmo quando a doença e a morte

se aproximam sorriem.

FRAGMENTOS MÍNIMOS | II VOLUME DE “A MÚSICA ROUCA DO PRAZER” | LIVRO DE EROS | Casimiro de Brito

1 – Eros. A música rouca do prazer.

3 – A morte. Conheci enfim a morte. A morte eufórica. Quando nos amámos.

14 – A boca quando beija: um fruto que não se esgota.

19 – Mata-me, o perfume da minha amada, que tanto gozo me dá.

29 – Do sexo: sol interior.32Quando a mulher se cala o homem treme.

39 – A mulher, quando ama, é líquida. Reparai como ela se molda ao seu amado.

41 – O mais doce dos exílios: a concha da minha amada.

52 – Amar-te é uma bebedeira sem fim.

60 – A tua febre dá-me paz. Agita-me. Estou vivo.

65 – Amo. Sei que tudo é boca e seio.

68 – A taça, dá-me a tua taça que me quero de novo embriagar.

Fatma Said records “Aatini Al Naya Wa Ghanni” أعطنى الناى وغنى

La soprano égyptienne, formée dans les écoles prestigieuses de musique berlinoises, chante en arabe , en français et espagnol, aussi bien des airs d’opéra, que des chants du patrimoine arabe et européen. Le mariage magique entre l’Orient et l’Occident. Ouarda, fayrouz, Oum keltoum, etc. ont une jeune héritière. Écoutez. [Souad Khodja]

Biden, o pacificador, é eleito 46º Presidente dos Estados Unidos | in Revista Visão

Aos 77 anos, é o mais velho presidente eleito. História de um homem decente que passou por batalhas duríssimas.

As sondagens davam-no como vencedor, as projeções da noite eleitoral deram-no por momentos como derrotado e os votos que demoraram muito tempo a contar, urbanos e por correio, elegeram-no. Joe Biden destronou Donald Trump e tornar-se-á o 46º Presidente dos EUA. Kamala Harris será a primeira mulher vice-presidente. Joe Biden deverá falar dentro de poucas horas aos americanos, fazendo o que tem sido o seu comportamento nos últimos dias: pacificar e unificar uma América dividida.


Kamala Harris | Vice-Présidente des États-Unis

Kamala Harris, sénatrice de Californie est désormais la première femme vice-présidente des États-Unis✌️
Joie Biden lui doit incontestablement sa victoire en mobilisant sans relâche,les jeunes, les femmes et les minorités.
Sa pugnacité et son dynamisme la mèneront sans aucun doute en 2024 à être première femme noire présidente des États-Unis! Et que vive la diversité.

Nadia Bensmaia | Facebook

Literalmente, cortaram-lhe o pio! | por Carlos Matos Gomes

Algumas televisões dos Estados Unidos cortaram a intervenção que Donald Trump fez sexta-feira, na Casa Branca. Literalmente, cortaram-lhe o pio!

Justificaram dizendo que o Presidente estava a mentir. O título da edição brasileira do El País é divertido:

“Três grandes redes de TV dos EUA interrompem o discurso em que Trump blefava sobre fraude eleitoral. ABC, CBS e NBC cortam a transmissão da fala em que, sem prova alguma, o presidente acusava adversários de tentar “roubar” na apuração e atacava todo o sistema eleitoral dos EUA”

Algumas almas mais cândidas levantaram a questão de defender o regime americano, pois não seria possível imaginar outro país democrático onde algo de semelhante pudesse acontecer, com um Presidente ou com outra qualquer pessoa, e com o mesmo argumento.

Ora, as decisões nos EUA nunca são tomadas tendo como base a “democracia” , mas sempre tendo por base o “ mercado”. A decisão das estações de TV americanas não é, não foi, nem deixa de ser democrática.

Foi uma decisão empresarial. Os acionistas das estações, com a força do seu negócio, entenderam que aquele produto (Trump) já lhes estragava a imagem (eles vivem da imagem) o negócio e as vendas. Descontinuaram-no. Simplesmente despejaram da montra um manequim que deixou de ter préstimo.

O mercado a funcionar. A democracia é outra coisa.

Carlos Matos Gomes | Facebook

Barack Obama | Joe Biden and Kamala Harris

I could not be prouder to congratulate our next President, Joe Biden, and our next First Lady, Jill Biden.

I also couldn’t be prouder to congratulate Kamala Harris and Doug Emhoff for Kamala’s groundbreaking election as our next Vice President.

In this election, under circumstances never experienced, Americans turned out in numbers never seen. And once every vote is counted, President-Elect Biden and Vice President-Elect Harris will have won a historic and decisive victory.

We’re fortunate that Joe’s got what it takes to be President and already carries himself that way. Because when he walks into the White House in January, he’ll face a series of extraordinary challenges no incoming President ever has – a raging pandemic, an unequal economy and justice system, a democracy at risk, and a climate in peril.

I know he’ll do the job with the best interests of every American at heart, whether or not he had their vote. So I encourage every American to give him a chance and lend him your support. The election results at every level show that the country remains deeply and bitterly divided. It will be up to not just Joe and Kamala, but each of us, to do our part – to reach out beyond our comfort zone, to listen to others, to lower the temperature and find some common ground from which to move forward, all of us remembering that we are one nation, under God.

Finally, I want to thank everyone who worked, organized, and volunteered for the Biden campaign, every American who got involved in their own way, and everybody who voted for the first time. Your efforts made a difference. Enjoy this moment. Then stay engaged. I know it can be exhausting. But for this democracy to endure, it requires our active citizenship and sustained focus on the issues – not just in an election season, but all the days in between.

Our democracy needs all of us more than ever. And Michelle and I look forward to supporting our next President and First Lady however we can.

Barack Obama ( Facebook)

Yuval Noah Harari | Sapiens, une brève histoire de l’humanité – Homo Deus, une brève histoire de l’avenir – 21 leçons pour le XXIe siècle | by Rania Hadjer

Je viens de finir la série de Yuval Noah Harari et je pense qu’elle doit faire partie du top 10 des livres à lire dans sa vie. Un rythme haletant et captivant autour d’un voyage en trois temps : passé, présent et futur.

– Dans « Sapiens, une brève histoire de l’humanité » l’auteur interroge de manière inédite le passé sur Comment notre espèce a-t-elle réussi à dominer la planète ? Pourquoi nos ancêtres ont-ils uni leurs forces pour créer villes et royaumes ? Comment en sommes-nous arrivés à créer les concepts de religion, de nation, de droits de l’homme ? À dépendre de l’argent, des livres et des lois ? À devenir esclaves de la bureaucratie, des horaires, de la consommation de masse ? Et à quoi ressemblera notre monde dans le millénaire à venir ?

– Homo Deus, une brève histoire de l’avenir nous dévoile ce que sera le monde d’aujourd’hui lorsque, à nos mythes collectifs tels que les dieux, l’argent, l’égalité et la liberté, s’allieront de nouvelles technologies démiurgiques. Et que les algorithmes, de plus en plus intelligents, pourront se passer de notre pouvoir de décision. Car, tandis que l’Homo Sapiens devient un Homo Deus, nous nous forgeons un nouveau destin : Que deviendront nos démocraties quand Google et Facebook connaîtront nos goûts et nos préférences politiques mieux que nous-mêmes ? Qu’adviendra-t-il de l’Etat providence lorsque nous, les humains, serons évincés du marché de l’emploi par des ordinateurs plus performants ? Quelle utilisation certaines religions feront-elles de la manipulation génétique ?

– Enfin, dans 21 leçons pour le XXIe siècle, Yuval Noah Harari décrypte le XXIe siècle sous tous ses aspects: politique, social, technologique, environnemental, religieux, existentiel…Avec l’intelligence, la perspicacité et la clarté qui ont fait le succès des deux premiers ouvrages, l’auteur répond à des questions centrales de notre siècle telles que : Pourquoi la démocratie libérale est-elle en crise ? Sommes-nous à l’aube d’une nouvelle guerre mondiale ? Que faire devant l’épidémie de « fake news » ? Quelle civilisation domine le monde ? Que pouvons-nous faire face au terrorisme ? Que devons-nous enseigner à nos enfants ?

Bref, un vrai coup de cœur que je vous conseille vivement.

Rien de mieux qu’un livre entre les mains mais pour ceux qui les veulent en version PDF je les ai, laissez moi vos adresses mails en commentaire ou en privé si vous les voulez en version électronique (gratuite)

Rania Hadjer (Facebook)

“Velha Maria, Vais Morrer” | Um poema do médico-guerrilheiro Ernesto Che Guevara (1928-1967)

Velha Maria, vais morrer:
Quero falar contigo seriamente.

Tua vida foi um rosário completo de agonias,
não houve homem amado nem saúde nem dinheiro,
apenas a fome para ser compartilhada.
Mas quero falar-te da tua esperança,
das três diversas esperanças
que tua filha fabricou sem saber como.

Toma esta mão de homem que parece de menino
nas tuas mãos, polidas pelo sabão amarelo.
Abriga teus calos duros e teus nós puros dos dedos
na suave vergonha de minhas mãos de médico.

Escuta, avó proletária:
crê no homem que chega,
crê no futuro que nunca verás.

Não rezes ao deus inclemente
que toda uma vida desmentiu tua esperança;
não peças clemência à morte
para ver crescer tuas pardas carícias;
os céus são surdos e o escuro manda em ti.
Mas terás uma vermelha vingança sobre tudo,
juro pela exata dimensão de meus ideais:
todos os teus netos viverão a aurora.
Morre em paz, velha lutadora.

Vais morrer, velha Maria:
trinta projetos de mortalha
dirão adeus com o olhar
num destes dias em que te vais.

Vais morrer, velha Maria:
ficarão mudas as paredes da sala
quando a morte se conjugar com a asma
e copularem seu amor na tua garganta.

Essas três carícias construidas de bronze
(a única luz que alivia a tua noite),
esses três netos vestidos de fome
chorarão os nós destes dedos velhos
onde sempre encontravam um sorriso.
E isso será tudo, velha Maria.

Tua vida foi um rosário de magras agonias,
não houve homem amado, saúde, alegria
apenas a fome para ser compartilhada.
Tua vida foi triste, velha Maria.

Quando o anúncio do descanso eterno
suaviza a dor de tuas pupilas
e quando a tua mão de perpétua borralheira
absorve a última e ingênua carícia,
pensas neles… e choras,
pobre velha Maria!

Não, não o faças!
Não rezes ao deus indolente
que toda uma vida desmentiu a tua esperança,
nem peças clemência à morte,
que tua vida foi horrivelmednte vestida de fome
e acaba vestida de asma.

Mas quero anunciar-te,
na voz baixa e viril das esperanças,
a mais vermelha e viril das vinganças.
Quero jurá-lo pela exata
dimensão de meus ideais.

Toma esta mão de homem que parece de menino
nas tuas mãos, polidas pelo sabão amarelo.
Abriga teus calos duros e teus nós puros dos dedos
na suave vergonha de minhas mãos de médico.

Descansa em paz, velha Maria,
descansa em paz, velha lutadora:
todos os teus netos viverão a aurora.
EU JURO!

Ernesto Che Guevara

(Poema escrito a uma doente terminal de Che, quando este actuava como médico num hospital do México. Pouco antes da sua partida para a Sierra Maestra)