CARTA ABERTA AO actual PSD | Gaëlle Becker Silva Marques

A coligação do PSD Açores com o Chega é reveladora de uma grande enfermidade!

Enquanto filha de um ex-deputado do PSD, não posso deixar de manifestar um profundo desprezo pela decisão política dos actuais dirigentes deste partido.

Enquanto filha de um ex-Presidente da Bancada Parlamentar do PSD, não posso ficar calada perante esta assombrosa decisão.

Enquanto filha de um dissidente do Estado novo, de um grande lutador pela Democracia em Portugal, sinto-me na obrigação de denunciar o inimaginável e de acusar o actual PSD Açores de defraudar os ideias democráticos que o fizeram nascer e crescer enquanto partido.

Acusar o actual PSD Açores de defraudar os portugueses que nele votaram, acreditando que os princípios fundadores do partido continuariam a ser os mesmos princípios de sempre e, por isso, os de respeito, de diálogo, de defesa da Democracia e de combate em prol da Democracia. Acusar o actual PSD Açores de defraudar os seus eleitores, que se reviram naqueles princípios e que deram o seu voto para que esses fossem firmemente aplicados em nome da Democracia. Acusar o actual PSD de defraudar, sem o mínimo sentido crítico, sem a mínima consciência histórica e partidária, de forma deliberada, oportunista e desonesta, o seu próprio partido. Acusar o actual PSD Açores de defraudar a memória dos seus fundadores, a memória de Francisco Sá Carneiro que acreditou que a reconstrução política através do diálogo era não só possível, mas louvável.

Também é como filha de um pai resiliente e lutador que denuncio. A que presenciou a uma realidade perturbante. A que cresceu ao lado de um pai que foi preso, perseguido, torturado e obrigado a viver no exílio porque acreditava no Ideal Democrático. A que soube o quão devastador foi para ele o afastamento com a sua família. A que soube como se acentuaram as complicações que os anos de Clandestinidade provocaram no seio familiar: ameaças de morte, rusgas, pilhagem. A que o viu abraçar-se ao seu próprio pai, bafejado pelas lágrimas, este que o julgara morto e que por isso demorou a desculpá-lo. A que pressentiu e presenciou: as suas angústias, os seus terrores nocturnos, as suas cicatrizes no corpo, as suas tensões e crispações, os seus sobressaltos, a sua revolta contra a injustiça, a sua luta na defesa do oprimido, da dignidade humana, do direito das mulheres e de todos os direitos que um regime totalitário pretende à força, a ferro, a tiro e a sangue abafar e anular.

Esta coligação não só ataca a Democracia, como também ataca directamente as famílias nos seus lares. Ataca o que de mais precioso se exala: o livre Pensamento, a Liberdade em si, a Humanidade, o direito à Escolha, mas também a Responsabilidade.

A política existe, antes de mais, para servir o eleitor. Jamais deve obstruir a livre circulação da democracia. Jamais deve pactuar com a gangrena que se queira instalar.

E é em nome de todos os cidadãos que acreditam nos valores da Democracia, mas também em nome do meu Pai, que hoje denuncio:

Acuso! Acuso o actual PSD de fragilizar a via democrática e de empurrar, mesmo que a longo prazo, a nação portuguesa para a via totalitária!

Não à gangrena!

A gangrena, Nunca Mais! Nem a da Esquerda, nem a da Direita!

E que o medo nunca nos cale!

Gaëlle Silva Marques

Hoje, no dia 7 de Novembro de 2020, dia em que o meu Pai faria anos, denuncio o que ele próprio denunciaria se ainda estivesse vivo.

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

Eu sou do tempo do Silva Marques deputado do PSD, e também de Emídio Guerreiro e uns tantos mais (Nuno Rodrigues dos Santos) que nos (aos militares do 25 de abril) mereciam respeito embora e apesar das suas opções e ruturas. Eram uma garantia de antifascismo. Esses garantes pelo que lemos na corajosa e límpida carta da filha deixaram de existir com Rui Rio.

Carlos Matos Gomes

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