Crónica do Pássaro de Corda, de Haruki Murakami

Crónica do Pássaro de CordaToru Okada, um jovem japonês que vive na mais completa normalidade, vê a sua vida transformada após o telefonema anónimo de uma mulher. Começam a aparecer personagens cada vez mais estranhas em seu redor e o real vai degradando-se até se transformar em algo fantasmagórico. A percepção do mundo torna-se mágica, os sonhos invadem a realidade e, pouco a pouco, Toru sente-se impelido a resolver os conflitos que carregou durante toda a sua vida.

Crónica do Pássaro de Corda, ao qual foi atribuído o Prémio Yomiuri, é considerado, por muitos, a obra-prima de Murakami.

Para Onde Vai Portugal? – Raquel Varela

Para onde vai portugalDa autora de História do Povo na Revolução Portuguesa 1974-75 e A Segurança Social é Sustentável.

Qual será o rumo do País nos próximos anos? Para onde vai Portugal? O regime democrático-parlamentar sobreviverá às mudanças sociais? Que aconteceu à educação, à saúde, ao trabalho, à vida pessoal, familiar e afetiva dos portugueses para lá dos títulos dos grandes jornais depois da crise de 2008?

Raquel Varela, historiadora, traz-nos um ensaio com propostas económicas e sociais inéditas sobre a crise iniciada em 2007/8 e o rumo do País para os próximos anos, pondo em cima da mesa as várias possibilidades de progresso e decadência histórica. Uma voz surpreendente pela combinação de uma escrita escorreita e rigorosa, que com humor e ironia se propõe pensar o futuro do País.

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Auto dos Danados, de António Lobo Antunes

Auto dos DanadosNa segunda semana de Setembro de 1975, na casa da família, Diogo, o patriarca, agoniza, ao longo dos cinco dias da festa da povoação. Projecta-se assim para primeiro plano a festa de Monsaraz, no terceiro dia da qual a pega de um touro culminará na sua morte, desenrolando-se os preparativos em simultaneidade com a agonia do ancião, o qual virá a morrer ao mesmo tempo que o animal. Neste contexto, os vários membros da família contam do círculo de ódio em que estão aprisionados, e em que participam, introduzindo-os nas histórias individuais, e do conjunto, desde crianças. Ao velho patriarca, a infância sofredora de filho punido a chicote, a traição do irmão e da mulher, a decepção com os filhos, levaram-no a proceder como dono de pessoas e bens, usufruindo do poder e do prazer malévolo de destruição de uns e de outros.

Edição comemorativa dos 30 anos da 1.ª Edição 1985-2015

O Sonho Português, de Paulo Castilho

O Sonho PortuguêsA Vivenda Pérola é o que resta da antiga opulência da família Mendes que agora espera ansiosamente pela herança do tio Leonardo, uma herdade no Alentejo, junto da barragem do Alqueva, que sonham transformar num empreendimento de luxo para turistas.

Um romance com um estilo muito coloquial e vivo com temas da actualidade: a política, os amores e desamores, as quezílias familiares e a ambição pelo dinheiro e pelo poder.

Da experiência nas esplanadas | Inês Salvador in Facebook

InesAcredito pouco na qualidade do silêncio. Quem não diz nada é porque não tem nada para dizer. É ver o desembaraço a falar dos sapatos da zara e das almofadas do ikea, do Benfica e da cor do carro. Sobre política, religião e sexo não se fala, porque disso não se fala. Está tudo dito. Nos Estados Unidos é tudo bom, a religião islâmica é toda má e só não vimos de Paris no bico de uma cegonha, porque as pessoas agora já fazem o que querem. Mas das pessoas também não se fala, não vá isso descambar para a política, religião ou sexo. Dos outros é que já se fala com o mesmo desembaraço com que se fala das almofadas do ikea, “essa gaja anda desaparecida, deve andar metida com algum”. E nisto continuam todos de acordo. Sobre o que suscite opinião diversa é que não se fala. Se não estiverem todos de acordo estraga-se a tarde. Este país, Portugal, é uma vergonha, só neste país é que isto acontece. “Isto” é uma abstração que serve para tudo neste Portugal que é de outros portugueses, nunca dos portugueses intervenientes na conversa. Ser português parece ter a fatalidade de uma visita de estudo da lição que não se estuda. Uma espécie de turismo conformado em que os outros é que sabem. Os outros, os políticos, que eles é que quiseram ir para lá. Os caracóis é que não estão maus. E a gaja que não atende o telefone, deve andar mesmo metida com algum. Chegam os cafés que se tomam em separado. Mulheres para um lado, homens para o outro, sentados à mesma mesa, porque a conversa tem género e fora do género não há nada para dizer.

Caiu o homem da cadeira, mas pouco.

Minderico | Dicionário Bilingue Piação – Português

Livro PiaçãoTitulo: Dicionário Bilingue Piação – Português

Autores: Ferreira, Vera / Schulze, Ilona / Carvalho Vicente, Paulo / Bouda, Peter

ISBN: 978-989-97819-0-0

Editora: CIDLeS

Sinopse

O Dicionário Bilingue Piação – Português, criado e editado pelo CIDLeS – Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social, é o primeiro dicionário de minderico no sentido lexicográfico do termo. O minderico é uma língua ameaçada falada em Minde e Mira de Aire, Portugal, (código ISO [drc]), por uma comunidade de 150 falantes activos e 1000 falantes passivos. Este dicionário bilingue e bidireccional (Minderico – Português / Português – Minderico), com um total de 2254 entradas, não se limita à versão impressa, sendo acompanhado também por uma versão digital multimédia adquirida automaticamente com a compra desta obra. Através da versão digital terá acesso a um conjunto de informações adicionais que complementam a edição em papel, nomeadamente elementos áudio de cada lexema, exemplos contextualizados com áudio, vídeos que exemplificam a utilização da língua, fotografias e detalhes extra que contextualizam e fundamentam a etimologia de cada lexema.

Elaborado numa perspectiva interdisciplinar, o dicionário, ao contrário dos demais, alia a história, os estudos culturais e sociais e a informática à linguística. Para tal foi feita uma inventariação exaustiva do léxico minderico, recorrendo sempre a dados primários (resultantes do trabalho directo com os informantes sob a forma de entrevistas (livres e com estímulo) e gravações de eventos comunicativos com e sem participação activa do investigador), a fontes linguísticas, históricas, geográficas e culturais existentes e a resultados de investigação anteriormente desenvolvida. Os dados primários, complementados com dados secundários já existentes (como por exemplo, as explicações de alguns lexemas apresentadas pelos autores/editores dos glossários desenvolvidos no passado pela comunidade), permitem-nos retratar de forma mais fidedigna a realidade linguística que o minderico representa.

Mais do que um simples dicionário, o Dicionário Bilingue Piação – Português é uma enciclopédia do minderico.

LINK para aquisição online: http://www.cidles.eu/shop/order-dicion%C3%A1rio-bilingue-pia%C3%A7%C3%A3o-portugu%C3%AAs/

O Dia em Que o Sol se Apagou, de Nuno Gomes Garcia

O Dia em Que o Sol se ApagouNo dia 26 de Março de 1487, o Sol apaga-se subitamente no reino de Portugal. Sem explicação para tão súbitas trevas – que uns atribuem à maldade castelhana e outros à heresia dos judeus –, D. João II envia dois espiões em demanda da solução que restitua a luz ao País e evite o seu definhamento. Com Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva irá também, guardado num estojo, um par de olhos de diamante que outrora pertenceram a um menino chamado Mil-Sóis, cujo olhar cegava quem o encarasse, e que são a peça fundamental desta missão.

O Dia em Que o Sol Se Apagou, finalista do Prémio LeYa em 2014, é uma obra fascinante que inventa um cataclismo improvável para reescrever o período áureo da História de Portugal. Um romance de luz e sombra, de avanços e recuos, que cruza fantasia com rigor histórico. E que, no final, responderá a duas questões essenciais: irá o Sol regressar a Portugal? É a Europa o lugar certo para que Portugal continue a existir?

A Valsa do Adeus, de Milan Kundera

A Valsa do AdeusNumas termas, sete pessoas em busca da felicidade envolvem-se e afastam-se ao ritmo de uma «valsa» orquestrada por Milan Kundera com o seu habitual humor. Ruzena, uma bela enfermeira, Klima, um músico de jazz, Jakub, antigo militante e vítima das depurações, o doutor Skreta, diretor dos serviços de ginecologia das termas, e Bertlef, o americano, são algumas das personagens que durante cinco dias se debatem nesta Valsa do Adeus, construída com o rigor de um romance clássico e fruto de uma rara capacidade de síntese e do forte poder inventivo que caracterizam as obras do autor.

Todos Devemos ser Feministas, de Chimamanda Ngozie Adichie

Todos Devemos Ser FeministasNeste ensaio pessoal – adaptado de uma conferência TED – Chimamanda Ngozi Adichie apresenta uma definição única do feminismo no século XXI. A escritora parte da sua experiência pessoal para defender a inclusão e a consciência nesta admirável exploração sobre o que significa ser mulher nos dias de hoje.

Um desafio lançado a mulheres e homens, porque todos devemos ser feministas.

Se Eu Fosse Chão, de Nuno Camarneiro

Se Eu Fosse ChãoNum grande hotel, as paredes têm ouvidos e os espelhos já viram muitos rostos ao longo dos anos: homens e mulheres de passagem, buscando ou fugindo de alguma coisa, que procuram um sentido para os dias. Num quarto pode começar uma história de amor ou terminar um casamento, pode inventar-se uma utopia ou lembrar-se a perna perdida numa guerra, pode investigar-se um caso de adultério ou cometer-se um crime de sangue.

Em três épocas diferentes, entre guerras que passaram e outras que hão-de vir, as personagens de Se Eu Fosse Chão – diplomatas, políticos, viúvos, recém-casados, crianças, actores, prostitutas, assassinos e até alguns fantasmas – contam histórias a quem as queira escutar.

Lettre d’Albert Einstein à Django Reinhardt

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15 Septembre 1946

Cher Monsieur Reinhardt,

En Juillet dernier, je fus convié à participer à New York à un colloque sur la paix dans le monde. Le soir venu, avec quelques amis, nous nous sommes rendus au Café Society à Greenwich village afin d’assister au concert donné par Duke Ellington, car on nous avait informé que vous étiez maintenant membre de son orchestre et telle ne fut pas notre surprise de constater votre absence. À la fin du concert, j’allais féliciter Monsieur Ellington pour sa prestation pianistique et la grande qualité de son orchestre.

Il nous présenta la très chaleureuse Rosetta Tharpe qui assurait la première partie de la soirée. C’est une femme très douée, pourvue de grandes qualités morales s’accompagnant d’une étrange guitare, possédant en son centre une espèce de couvercle de métal vibrant engendrant un son envoûtant correspondant parfaitement à son répertoire au caractère très spirituel.

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Fábula política para principiantes | António Guerreiro in “Público”

ag-1fe7Numa sociedade ideal, cujas leis fossem a delicadeza, a cortesia e a afabilidade, num mundo sem constrangimentos nem fricções que fosse a combinação de todas as possibilidades compatíveis, de tal modo que o resultado fosse a bondade máxima, nesse mundo descrito por Leibniz, na suaMonadologia, como o melhor dos mundos possíveis, Daniel Oliveira reuniria as suas crónicas num volume intitulado A Década dos Psicopatas e teria Marcelo Rebelo de Sousa a fazer a apresentação do livro.

 Nos convites e nos comunicados à imprensa haveria de ler-se: “Deus calcula e o mundo faz-se”. Mas essa luz fina que emana do sistema leibniziano, onde tudo concorre para uma ordem hierarquizada e harmoniosa, não penetra onde há política, nem sequer ilumina os doces costumes da democracia.

Ainda assim, sem ser preciso supor a existência desse mundo — onde tudo se faz e se desfaz por correspondências, harmonias e concordâncias — vamos ter na mesma Marcelo Rebelo de Sousa a apresentar os Psicopatasde Daniel Oliveira. Sob tais condições, o acontecimento não é propriamente uma mónada, um mundo fechado sem portas nem janelas, mas uma escancarada fábula política do nosso tempo.

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Bairro Ocidental, de Manuel Alegre

Bairro Ocidental50 anos depois de Praça da Canção, a Dom Quixote edita Bairro Ocidental, de Manuel Alegre, um livro em que, tal como no primeiro, o poeta afirma a sua confiança na força da palavra poética.

Tal como há 50 anos, a poesia de Manuel Alegre seduz o leitor não só pela qualidade e o inesperado da linguagem mas também pela força que recebe de raízes que mergulham no presente histórico.

Tal como em Praça da Canção, também em Bairro Ocidental o poeta vem dizer-nos que é necessária e urgente a nossa Libertação, título do poema com que termina o primeiro segmento do livro.

Citando Woody Allen

Woody-Allen-Workout-Routine-and-Diet-PlanNa minha próxima vida, quero viver de trás para frente. Começar morto, para despachar logo o assunto.

Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa.
Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo.
E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer.
Por fim, passo nove meses flutuando num spa de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois:  Voilà!  – desapareço num orgasmo.

Assim Nasceu Portugal, de Domingos Amaral

Assim Nasceu PortugalNa Páscoa de 1126, em Viseu, o príncipe Afonso Henriques conhece uma bela rapariga galega, de seu nome Chamoa Gomes, por quem se apaixona perdidamente. Contudo, sua mãe, Dona Teresa, regente do Condado Portucalense, irá proibir aquele casamento, pois Fernão Peres de Trava, seu amante, não admite que o príncipe se enlace com sua sobrinha Chamoa. A fúria de Afonso Henriques é imensa. Zangado com a mãe, arma-se a si próprio cavaleiro, na Catedral de Zamora; recusa prestar vassalagem ao novo rei de Leão, Castela e Galiza, o seu primo Afonso VII; e começa a liderar os portucalenses de Entre Douro e Minho, entre os quais Egas Moniz e seu irmão Ermígio, que vivem revoltados com a influência do Trava e as decisões de Dona Teresa.

Cresce a convulsão no Condado Portucalense e todos são arrastados por ela. Nobres e almocreves, amigos e conselheiros, mulheres e trovadores, pais e filhos, envolvem-se num conflito sangrento, que terminará com a inevitável batalha de São Mamede, em Guimarães.

História da Literatura Europeia, uma nova e fundamental disciplina | Adelto Gonçalves

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Distinguir História da Literatura de História Literária é tarefa das mais difíceis porque, muitas vezes, ambos os termos podem parecer sinônimos, mas esse é um ledo engano em que muitos historiadores costumam escorregar. Assim, História da Literatura seria a sequência de narrativas, autores, estilos literários e teorizadores de poéticas literárias, enquanto História Literária constituiria a disciplina que estuda a Literatura de um ponto de vista histórico. Ou ainda a compreensão da Literatura através dos seus contextos (políticos, econômicos, culturais).
Feitas estas distinções, Maria Luísa Malato, professora de Metodologia dos Estudos Literários e de Retórica Geral da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mestre e doutora em Literatura Comparada, partiu para compor História da Literatura Europeia: uma introdução aos Estudos Literários (Lisboa, Quid Júris, 2008), que desde o seu lançamento há sete anos tem constituído livro de referência na área e presença obrigatória na bibliografia dos cursos de Metodologia dos Estudos Literários e de Retórica nas universidades portuguesas.
Aliás, alguma editora brasileira deveria celeremente também publicar esta obra para que cumpra o mesmo caminho nas faculdades de Letras das universidades brasileiras, especialmente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), pois seria um complemento imprescindível ao que se lê em Literatura Comparada (São Paulo, Edusp/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000), da professora Sandra Nitrini.
Até porque os países de língua espanhola e portuguesa tomaram como modelo outras literaturas europeias, sobretudo a francesa, ainda que, a partir de certo momento no século XX, a literatura norte-americana tenha se tornado para os literatos desta parte do globo um novo polo de atração. Seja como for, é impossível estudar as literaturas do Brasil e dos países da América hispânica sem levar em conta as suas ligações com as diversas literaturas do continente europeu.

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Hanns e Rudolf, de Thomas Harding

NI_Hanns_HR«Um thriller incrível, um crime inenarrável e uma história essencial.» John Le Carré

Maio, 1945. No rescaldo da Segunda Guerra Mundial, a primeira equipa britânica de investigação de crimes de guerra é reunida para caçar os oficiais nazis responsáveis pelas maiores atrocidades alguma vez vistas.

Um dos principais investigadores é o tenente Hanns Alexander, um judeu alemão que serve no Exército Britânico. Rudolf Höss é o seu alvo – como Kommandant de Auschwitz, não só foi o responsável pelo assassinato de mais de um milhão de pessoas, como também quem aperfeiçoou o programa de extermínio em massa idealizado por Hitler.

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Obra Poética de Sophia de Mello Breyner Andresen

Obra_poetica_SMBAChega hoje às livrarias a nova edição de Obra Poética, o livro que reúne toda a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, seguindo e atualizando os critérios de fixação de texto adotados nas edições anteriores, graças ao cuidado trabalho de Maria Andresen Sousa Tavares e Carlos Mendes de Sousa, que assinam, respetivamente, o prefácio e a Nota de Edição. O presente volume inclui ainda uma parte com vários poemas inéditos que integram o espólio da autora, em depósito na Biblioteca Nacional de Portugal.
Como diz Maria Andresen Sousa Tavares, no Prefácio a esta edição, há «poetas mais peritos, mais cultistas, mais destros e liricamente sofisticados, mais modernos, mais antimodernos e pós-modernos, melhores pensadores. Mas aqui há uma força. Uma força muito raramente atingida. Há o vislumbre de um excesso não muito cauteloso, umas vezes iluminado, outras vezes rouco (“às vezes luminoso outras vezes tosco”). Mas há, sobretudo, o poder de uma simplicidade difícil de enfrentar, por vezes inconfortável, não pela dificuldade conceptual, mas porque a simplicidade é a coisa mais complexa e, neste caso, a mais difícil, porque nem sempre oferece o flanco ao diálogo, quando busca o “dicível” do esplendor e do terror […].»

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O Livro dos Camaleões, de José Eduardo Agualusa

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Um ditador africano, muito respeitado em Portugal, escreve a sua biografia. Um famoso marinheiro maltês visita São Tomé, depois de passar por um lugar onde o tempo não passa. Um antropólogo descobre-se nu e indefeso diante de uma mulher. Uma zebra persegue um escritor. Uma virgem perde a cabeça.

Neste O Livro dos Camaleões cruzam-se personagens em busca de uma identidade, ou em trânsito de identidade, atravessando diversas épocas, do século XIX aos nossos dias, e diversas geografias, das savanas do Sul de Angola às ruidosas ruas do Rio de Janeiro.

Algumas destas personagens são arrancadas à realidade ou inspiradas em figuras reais. Não se trata de saber onde termina a realidade e começa a ficção. Trata-se de questionar a própria natureza do real.

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Voltar a Keynes para resolver a crise actual

keynes_300415Dois prestigiados professores, do MIT e de Oxford, pegaram na teoria de Keynes e encontraram soluções para a economia de hoje.
Recuperar os conceitos de Keynes para resolver os problemas da economia actual não é uma ideia nova. Vários políticos têm falado sobre isso. E agora dois conceituados professores de Economia: Peter Temin e David Vines , um do MIT e outro da Universidade de Oxford, escreveram um livro onde recorrem às ferramentas keynesianas para explicar como solucionar os principais problemas macroeconómicos do mundo de hoje e da crise económica global. Em “Keynes – Uma teoria útil à economia mundial”, os autores usam esta argumentação para defender o fim da austeridade nos países do Sul da Europa.

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Festival de Jazz de Minde | 11.ª edição | 8,9 e 10 de Maio 2015

jazzmindeO norte-americano Leburn Maddox abre, na sexta-feira à noite, a 11.ª edição do Festival de Jazz de Minde, iniciativa que tem palco principal numa antiga fábrica têxtil nesta vila do concelho de Alcanena.
O programa de sexta-feira inclui ainda a banda espanhola The Blast e uma “Jam Blues Star Fest”, “com muitos músicos nacionais e de Espanha liderados por Pedro Tatanka”, afirma a organização deste certame no distrito de Santarém.

No sábado, além da estreia nacional do projeto “Wonder Wheel”, de André Fernandes com Mário Laginha, o vibrafonista Jeffery Davis apresenta “LiftOff”, projeto iniciado em 2001 com Óscar Graça (piano).

O Festival de Jazz de Minde nasceu de uma homenagem feita em 2004 ao mestre Jaime Chavinha, mas a aceitação do público fez com que, cumpridas 10 edições, “seja considerado e referenciado como um dos melhores festivais de jazz da zona centro do país”, sublinha a organização.

“Muitos e bons músicos já passaram pelos palcos do JazzMinde, e, degrau a degrau, o festival tem vindo a pautar-se como um evento de prestígio e grande qualidade artística, com uma atmosfera muito `sui generis` e com um público muito entendido e entusiasmado”, realça a nota de apresentação do festival.

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PAREM AS MÁQUINAS!

K_ParemAsMaquinas_AltaGLÓRIAS, PERIPÉCIAS E EMBUSTES DO JORNALISMO PORTUGUÊS, de Gonçalo Pereira Rosa.

Conhece a capa da revista TIME que enfureceu Salazar ou a manchete que anunciou em primeira mão a eleição de um papa português? Ou a heróica aventura de Urbano Carrasco, o jornalista que desafiou a erupção do vulcão dos Capelinhos e depositou uma bandeira nacional no solo da nova ilha açoriana? Sabia que o Repórter X foi cruelmente «assassinado» numa pensão da Rua dos Fanqueiros, descrevendo depois o crime nas páginas de O Século, ou que Fernando Assis Pacheco assistiu a um «homicídio» na Sociedade Nacional das Belas-Artes?

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Jaula de Aço | Max Weber

Max_WeberEm 1920, Max Weber antecipou uma implacável racionalização da vida, amputada do seu lado afectivo. Isto seria o resultado de uma modernidade regida só pelo lucro.
Em vez de ser vivida como uma emancipação, esta mudança levaria a uma total submissão aos desejos e aos bens materiais, que o sociólogo alemão simbolizara pela imagem da “jaula de aço”.

 
Para Weber, “a preocupação com os bens exteriores não devia pesar sobre os nossos ombros (…) a não ser como um sobretudo ligeiro que a qualquer momento podemos despir.”
A fatalidade transformou o sobretudo de Weber numa “jaula de aço”.

O meteorologista, de Olivier Rolin

O_meteo_ORA Sextante Editora publica o mais recente romance de Olivier Rolin, O meteorologista, um relato surpreendente da história real de Alexei Vangengheim, um homem que, como muitos outros, perdeu o controlo sobre o seu destino e foi enviado para um dos primeiros gulags no Norte da Rússia, após ser alvo de uma denúncia de oposição ao regime.

Anos mais tarde, Olivier Rolin encontrou as cartas de Alexei para a filha – que vêm fac-similadas nesta edição – e decidiu investigar esta emotiva história que, como o próprio afirma, não é tão longínqua como poderíamos pensar.

Olivier Rolin vai estar em Portugal de 7 a 9 de maio para participar na 1ª edição do Festival Encontradouro, em Sabrosa.

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A religião na escola pública | Anselmo Borges, Padre e Professor de Filosofia, in “Diário de Notícias”

anselmo-borgesQuantos cristãos saberão que, se Adão e Eva fossem figuras reais e nossos contemporâneos, precisariam, para viajar para o estrangeiro, de um passaporte iraquiano? Quantos se lembram de que Abraão, que está na base das três religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo, islão -, possuiria igualmente nacionalidade iraquiana? Quantos se lembram de que os primeiros capítulos do Génesis, referentes ao mito da criação e da queda, se passam na Mesopotâmia, onde mergulham algumas das nossas raízes culturais? Há guerras em curso, também por causa da divisão entre xiitas, sunitas e jihadistas. Mas quem conhece essas divisões e a sua origem e importância históricas? Qual é a relação entre religião e violência, religião e política, religião e desenvolvimento económico?

Há já alguns anos, Umberto Eco, agnóstico, lamentava-se: “Nas escolas italianas, Homero é obrigatório, César é obrigatório, Pitágoras é obrigatório, só Deus é facultativo. Se o ensino religioso se identificar com o do catecismo católico, no espírito da Constituição italiana deve ser facultativo. Só lamento que não exista um ensino da história das religiões. Um jovem termina os seus estudos e sabe quem era Poséidon e Vulcano, mas tem ideias confusas acerca do Espírito Santo, pensando que Maomé é o deus dos muçulmanos e que os quacres são personagens de Walt Disney…”

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