Primeiro número da revista Granta Portuguesa terá inéditos de Fernando Pessoa

O director Carlos Vaz Marques quer publicar um inédito de um autor desaparecido por cada número, mas a própria revista encomendará textos a autores de língua portuguesa.

O primeiro número da edição portuguesa da revista literária Granta, que sairá em Maio, irá publicar inéditos de Fernando Pessoa, disse esta sexta-feira à Lusa o jornalista Carlos Vaz Marques, que a dirige.

A publicação de cinco sonetos de Fernando Pessoa, apresentados pelos investigadores pessoanos Jerónimo Pizarro e Carlos Pitella-Leite, insere-se no primeiro objectivo da revista, que “é o de publicar bons textos literários inéditos”, disse Carlos Vaz Marques.

Referindo-se à publicação dos sonetos de Pessoa, Vaz Marques afirmou tratar-se de “uma revelação absoluta” que “já justificaria, por si só, este primeiro número da edição portuguesa da Granta”.
Segundo o responsável, há o interesse em publicar um inédito de um autor desaparecido por cada número, mas a própria revista encomendará textos a autores de língua portuguesa.

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http://www.publico.pt/cultura/noticia/edicao-portuguesa-da-revista-granta-comeca-em-maio-com-ineditos-de-fernando-pessoa-1589530 … (FONTE)

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DOIS POEMAS DE MARIA JOÃO CANTINHO in “Mallarmagens”

Partes lentamente da vida

num barco ébrio de sangue
onde se inscreve a pele da noite
nesse festim. Dobras o vento, esse uivo
que chega do Norte, nas pegadas de um silêncio
interdito e em que calas os nomes
desenhados na lucidez das mãos.
Ninguém lê as pedras, os sinais,
Ninguém decifra o traço de sangue desse navio
Que navega em direcção a uma ilha,
Neste arquipélago de solidão.
Os gestos são irremediáveis, no instante
Em que tudo refulge para se afundar. Ninguém ouve
Este naufrágio perdido no canto de um marinheiro
Que sabe não voltar. A viagem é sem retorno.
Tu sabes, vais a caminho.
Essa mulher que caminha no orvalho da madrugada,
de pés nus, que dança na margem do rio,
ouvindo o vento da noite,
                                  essa mulher
que canta o silêncio até onde o grito,
traz na fronte a cicatriz,
que se desenha como a luz na água, a sua loucura,
                                 ela, alheia a tudo,
dança até onde a música eleva os seus pés,
ardem-lhe os lábios, morde a dor, a vida
e nada recusa.
Dança até onde a tempestade a leva.
Maria João Cantinho: nasceu em 1963, Lisboa. É poeta, ensaísta e pensadora. Profunda conhecedora da obra e pensamento do  filósofo Walter Benjamin. Formou-se  em Filosofia e realizou  tese de mestrado em estética sobre Walter Benjamin: “O Anjo Melancólico – análise do conceito de alegoria na obra de Walter Benjamin”. Tem vindo a colaborar em várias publicações (jornais e revistas) , tanto na área da poesia, como ensaio.  Publicou entre outros  títulos: “A Garça” (contos, 2001), “Abrirás a Noite com um Sulco” (Poesia, 2002) , “O Anjo Melancólico” (ensaio, 2002), o Traço do Anjo  ( poesia 2011)
mjc

FRASES SOLTAS, MAS ENTRE PONTOS FINAIS | Tomás Vasques

FRASES SOLTAS, MAS ENTRE PONTOS FINAIS (1). | «Sócrates foi moderado, criticou no PR falhas de solidariedade institucional. Ora com Cavaco um animal feroz levantaria outra coisa: aquele que é hoje o Presidente de Portugal ganhou de um banco, num ano, mais do dobro do que lá tinha depositado – e, depois de ter sido provado que o banco era de bandidos, não devolveu as mais-valias. Essa é a questão-chave, porque reconhecida e aceite, do desconforto dos portugueses com os seus políticos.»

Ferreira Fernandes, no DN.

FRASES SOLTAS, MAS ENTRE PONTOS FINAIS (2).«No ano em que soubemos que uma quadrilha de amigos do Presidente não paga o que deve ao BPN e temos nós de pagar por eles, milhares de milhões, as pessoas escolhem odiar Sócrates.»

Clara Ferreira Alves, no Expresso.

FRASES SOLTAS, MAS ENTRE PONTOS FINAIS (3).«Para memória futura: que fique registado que muita e boa gente defendeu, sem pudor, que José Sócrates devia ser silenciado para sempre.»

Miguel Sousa Tavares, no Expresso.

Exercício de independência impossível | Gabriela Ludovice

Tornar o mundo um miolo, achatá-lo com peso de corpo sobre o tampo atoalhado da mesa, arredondá-lo sob a palma linhosa da mão que o sente ínfimo desperdício, coisa que se pode perseguir se rola desatenta para o chão.

Olhá-lo desinteressadamente mesmo que já entre os pés calçados há horas, sem alterar uma pequena parte que seja da sua vaga importância, portanto nem sequer adesivá-lo com palavras inventadas e ele, o miolo, a ponto de esmiuçar-se perante a nossa indiferença e nós, a ruborizarmos sobre os ombros.

Gabriela Ludovice

http://pnetliteratura.pt/cronica.asp?id=5619 … (FONTE)

Primeira mostra individual de Cao Guimarães no Itaú

Autores e Livros

Matéria de Antonio Gonçalves Filho para o Estadão:

Artista consagrado no circuito internacional e representado em coleções como a do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), o mineiro Cao Guimarães, 48, ganha sua primeira individual numa instituição brasileira, o Itaú Cultural, que será aberta hoje para convidados (e amanhã para o público). A mostra Ver É Uma Fábula, com curadoria de Moacir dos Anjos e arquitetura expositiva de Marta Bogéa, reúne seus oito filmes de longa- metragem, além de 21 vídeos e fotografias apresentadas em slide show. A exposição é a maior já feita do artista e ocupa três andares do instituto, onde também será realizado um workshop com Cao e os músicos do Grivo, grupo formado por Marcos Moreira Marcos e Nelson Soares, que assina as trilhas de quase todos os filmes do realizador.

Inspirado numa passagem do livro Catatau, do poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989)…

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Baixa 22

OPORTOCOOL

Designa-se Baixa 22 este restaurante-bar cujo nome se deve ao (já mítico) eléctrico 22, que passa entre este sítio e o luxuoso Hotel Infante de Sagres, do outro lado da praça. Onde antes havia uma antiga carpintaria, agora reinventada mas onde a madeira ainda impera, o sushi de fusão e a sangria, para muitos provavelmente a melhor da cidade, são a especialidade que nos leva frequentemente até lá. O ambiente é informal, despojado e despretensioso mas, sobretudo, honesto com o espírito e a arquitectura original do espaço, procurando manter-se fiel ao carácter muito próprio da cidade. E isso, para mim, é cool!

O espaço deste bar e restaurante é pequeno mas grande em personalidade. Duas estreitas portadas dão acesso a uma sala estreita e comprida, mas alta, com diversas mesas e cadeiras em madeira que mostram um ar robusto e austero como antigamente, tal como o balcão. As cores, bem…

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Good Friday Funeral Procession In Romont, Switzerland

schwingeninswitzerland

We stopped by Romont, Switzerland to view a funeral procession on Good Friday.  Replete with mourners, it takes place in the medieval old town on cobblestone streets past a ancient buildings.

The ceremony begins with a mass and a reading from the Bible of the Passion of Christ. When the funeral procession is mentioned, the congregation exits the church to begin their procession through the streets of the old hilltop town.  The parade is led by a penitent in a black gown, wearing a black hood and carrying a large cross.  A young girl portraying the Virgin Mary follows.  Mourners are clothed and veiled in black come next.  Some of them carry the symbols resting on scarlet cushions.  They include: a crown of thorns, a whip, nails, a hammer, tongs, and St. Veronica‘s shroud.

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Cartas de Amor | Álvaro de Campos

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935

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Álvaro Cunhal por Pedro de Pezarat Correia

alvaro_1998_200pcNo passado sábado, 23 de Março, numa Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa completamente lotada, teve lugar uma sessão cultural evocativa da figura de Álvaro Cunhal, que inicia um ano dedicado às comemorações do centenário do seu nascimento. Não pertencendo nem nunca tendo pertencido ao Partido Comunista Português (PCP) situo-me, porém, no grupo daqueles que consideram que o PCP se inscreve na área política que gostariam de ver o povo português escolher para liderar os destinos do país. Aqui fica o meu registo de interesses para que não haja equívocos com esta nota no GDH.

Com muito gosto aceitei o convite que me dirigiram para integrar a Comissão Promotora e estive presente na Aula Magna onde, entre muitas vantagens, beneficiei da oportunidade de ouvir mais um magnífico discurso do reitor da Universidade, professor Sampaio da Nóvoa. Guardo de Álvaro Cunhal, do cidadão, do resistente e precursor do 25 de Abril, do político, do estadista, do intelectual multifacetado, um profundo respeito. Particularmente agora, quando as figuras menores que têm passado pelo poder sem honra e sem dignidade vêm aviltando a imagem dos políticos e da democracia – e este é dos pecados maiores que lhes devem ser cobrados –, é justo e é pedagógico, evocar alguém que se empenhou profundamente na política sem mácula, sem cedências susceptíveis de violarem os princípios, os valores, os compromissos. Álvaro Cunhal era uma referência para quantos, independentemente dos sectores ideológicos e partidários em que se situassem, cultivavam o rigor na gestão da polis, na política, porque era de uma enorme exigência. Mas começava por ser exigente consigo próprio. Concordasse-se ou discordasse-se dele, confiava-se nele.

Recordo que, quando partilhei algumas responsabilidades no país e, com os meus camaradas, discutíamos ou analisávamos a situação política, o sentimento generalizado em relação a Álvaro Cunhal era o de que se tratava de um homem de carácter, credível no que dizia, fiável naquilo com que se comprometia. Aí pela década de 90, quando eu já estava reformado da vida militar e Álvaro Cunhal já deixara a liderança do PCP, encontrávamo-nos, não com muita frequência mas com alguma regularidade, por vezes com mais dois ou três amigos. Eram conversas privadas, interessantíssimas, trocas de impressões passando em revista as conjunturas nacional e internacional. E Álvaro Cunhal gostava de frisar o que mais o marcara quando teve de lidar com os militares na política no período revolucionário e nos anos em que perdurou o Conselho da Revolução e um militar na presidência da República: eram homens de palavra. E isso fora decisivo na manutenção de relações de respeito mútuo.

Há um aspecto que não posso deixar de registar. Hoje, quando a União Europeia navega em águas agitadas sem rumo perceptível e em que os chamados países periféricos sofrem as consequências de decisões que parecem tudo menos inocentes, é oportuno recordara voz lúcida de Álvaro Cunhal que na altura muitos acusaram de “velho do Restelo”. Quando os responsáveis políticos embandeiravam em arco com a adesão à Comunidade Económica Europeia e a entrada no “clube dos ricos”, quando a maioria do povo português embarcava na euforia da festa das remessas dos fundos estruturais e se empanturrava em betão a troco do abandono da agricultura, da extinção da frota pesqueira, do esvaziamento da marinha mercante, do encerramento de indústrias de base, Álvaro Cunhal alertava e repetia: os portugueses irão pagar isto. Era ouvido com cepticismo. Não me excluo, a palavra de Álvaro Cunhal levava-me a reflectir, mas deixava-me dúvidas.

Álvaro Cunhal tinha razão. Os portugueses estão a pagar isso.

25 de Março de 2013

http://resistir.info/portugal/pezarat_cunhal_25mar13.html (FONTE)

AÇÃO SOBRE POESIA, POR JOÃO MANUEL RIBEIRO

No dia 5 de abril, sexta-feira, entre as 14h30 e as 16h00, a Biblioteca Municipal irá acolher uma ação sobre poesia intitulada “Amo-te – Poemas para gritar ao coração”, a cargo de João Manuel Ribeiro.

Organizada pela Equipa da Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas Campo Aberto – Beiriz, a iniciativa destina-se aos alunos do 8º ano de todas as escolas do concelho.

Promover o gosto pela poesia; desmistificar a dificuldade da escrita poética; participar de forma ativa na construção do texto poético; fomentar o gosto pela partilha; estimular o gosto/ consciencialização na divulgação de conhecimentos adquiridos são os objetivos desta atividade que pretende assinalar o Dia Mundial da Poesia (21 de março), sendo que este decorreu no período de interrupção letiva da Páscoa.

 

jmribeiroJoão Manuel Ribeiro nasceu em 1968, em Oliveira de Azeméis. A concluir Doutoramento em Ciências da Educação, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com dissertação sobre A Poesia na Escola – Resposta ao texto poético e organização do ensino.

Mestre em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com dissertação sobre  “A Poesia no 1.º Ciclo do Ensino Básico – Das Orientações Curriculares às Decisões Docentes”.

Tem-se dedicado à escrita para crianças, acompanhando tal processo com um trabalho de dinamização da literatura em Escolas Básicas do 1º Ciclo e colégios, quer através de oficinas de escrita criativa, quer através de encontros onde diz poesia. Dinamizou alguns projetos de escrita colaborativa com alunos, resultando desse processo alguns livros.

Formador de professores. Formador de formadores. Formador da Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas.

Sócio da Associação Portuguesa de Escritores. Sócio da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Membro da Children´s Literature Association (CHLA – USA).

Citando Paulo Querido | a propósito de José Sócrates

Há uma constante na televisão desde que José Sócrates começou a aparecer nela com regularidade, já lá vai uma década. Sempre que é entrevistado, nas horas seguintes recolhemos os cacos dos entrevistadores.

Sempre.

Quer-me por isso parecer que talvez devamos procurar a explicação não nos comentadores, mas na capacidade mediática dele. A capacidade de desarmar um discurso. De contrapor. A combatividade. De desrespeitar, respeitando o jogo democrático.

Sócrates escapa à docilidade da esmagadora maioria dos políticos, que preferem uma relação macia com os jornalistas. Se aceitarmos os argumentos sobre a sua ferocidade vindos precisamente dos mais experimentados desses entrevistadores ficará mais fácil analisar o trabalho deles.

Não acho que Paulo Ferreira e Vítor Gonçalves se tenham distinguido pela negativa. Não estiveram brilhantes, é certo, e tiveram os seus próprios momentos de se atropelarem mutuamente.

Mas o problema deles não foi a “má preparação”: foi Sócrates. E, se quisermos fazer mesmo justiça, a súbita existência de um discurso de contraponto aos números e guidelines com que a insistência ultraliberal acabou por adormecer o coletivo através da visão única e da voz monocórdica a repetir a mesma ladainha há 4 anos. Acaba por se entranhar e depois qualquer beliscadura faz estremecer.

O contraponto, para mais expresso por uma pessoa veemente, segura de si e com domínio perfeito — visceral — da narrativa televisiva e do timing, desarmou os entrevistadores, habituados a entrevistados concordantes ou no mínimo macios e oblíquos.

Uma notinha final: da próxima vez que quiserem entrevistar José Sócrates em televisão, para evitar o atropelamento pelo camião TIR televisivo que o homem é, não facilitem metendo 2 (ou mais) entrevistadores. Isso só o ajuda a desarmar — basta-lhe mudar o olhar de um para o outro para destruir uma pergunta.

https://www.facebook.com/PauloQuerido (FONTE)

O homem está em grande forma | por BAPTISTA-BASTOS in “Diário de Notícias”

Notoriamente, os dois jornalistas destacados para entrevistar José Sócrates estavam impreparados, ou não tomaram em consideração a aptidão dialéctica do ex-primeiro-ministro, ou, pior, não estavam ali para esclarecer, sim, acaso, para baralhar e entrar em chicana, colocando-se como protagonistas, quando deviam ser mediadores. Chegou a ser pungente a evidência com que o entrevistado repôs a natureza dos factos, perante a turva propriedade das enunciações. O esclarecimento das manobras e das conspiratas com origem em Belém, e as inclinações ideológicas do dr. Cavaco, que põem em causa a sua tão apregoada “independência”, foram pontos fulcrais da entrevista. Ficou-se a saber o que se suspeitava: o manobrismo unilateral de quem começa a ser cúmplice consciente do desastre para que nos encaminham. Um a um, ponto a ponto, Sócrates rebateu as alegações de “desincorporação” que ambos os jornalistas se aplicavam em expor, recorrendo às instâncias que estabeleciam as relações marcantes na época. Aí, a sua intervenção foi arrasadora. Claro que Sócrates e o seu governo não podem ser responsáveis de todas as malfeitorias, apesar das estruturas de contra-informação utilizadas, da negligência propositada de alguma comunicação social, e que ele denunciou com denodo. A entrevista foi extremamente interessante porque o reconhecido talento de José Sócrates voltou a impor-se em grande estilo. Ficámos esclarecidos? Não; porque os entrevistadores, além das deficiências apontadas, foram intimidados pelo “animal feroz”. O homem está em grande forma.

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3134586 (FONTE)

Sem Regresso

 Quando penso na areia que se lava na água salgada de uma praia qualquer, recordo de imediato o meu metro de gente, que cheio de uma vontade, com sabor de vida, se encontrava preso num olhar perdido, mas feliz, de constante procura. A inquietude de um mundo ainda sonhado reflectia-se no sorriso de complacente alegria da minha avó. Ao longe os sons confundiam-se e ecoavam como amigas que me procuravam para brincar. O mundo era imenso, dentro e fora de mim.

Deslumbrado pela simplicidade dos mais insignificantes pormenores tudo em mim era luz. Procurava perceber o incompreensível, e, de certa forma encontrava o sentido para ele. Tudo era novo, mesmo o que se repetia continuadamente. Mas naquela praia perdida algures a areia não tinha textura e o mar… era apenas e só o mar.
O tempo passou. Os anos atropelaram-se num receio infundado de que não chegasse a sua vez. O meu pai deixou de ser Deus e a minha mãe perdeu a imortalidade. As ilusões desvaneceram-se, ou melhor, transformaram-se em realidades capazes de me assustam tanto quanto sombras de corpos que não estão lá para a justificarem.

Tornei-me melancólico e distante como a ilha que o homem não é. As lágrimas, passei a trata-las por tu, dei-lhes nomes para as distinguir. No entanto, nunca as deixo sair e lavrar as montanhas do meu rosto de expressão triste. No percurso que deixei o destino doar-me ceguei-me nos sentires, guardo-os no peito, para se quedar perfeito na espera de razões mais válidas que o deixem ver e olhar.
Sinto-me só. Sinto falta do que acredito ter sido. Sinto-me vazio de mim.

 

Whitman

 Há muito,

cruzei-me com Whitman.

 Olhou-me,

sorriu e seguiu caminho,

sem sequer me “ler” por alto.

 Do cheiro das suas barbas

senti-lhe o aroma a poesia.  

 Parado,

senti nos poros a revolta   

do sangrar da seiva branca,

por onde árvores feridas,

gritam molhadas de dor.

Desfraldo as velas do meu sonho,

agarrado às palavras por escrever.  Image

Solidões Sagradas

 

Há textos doridos,

esmagadores na mensagem.

 

Nascidos em pensamentos

lancinante de tristeza,

gritados em aroma perdido

de sofrimento sem mágoa.

 

Há letras esmagadas

por ingratas ilusões

e mãos que escrevem

incapazes de o negar.

 

As palavras

toldadas de verdade    

sangram do seu próprio acreditar.

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO | CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

( De Sentimento do Mundo)

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

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O Assobiador, de Ondjaki

Numa aldeia de velhos, no interior de Angola, onde se observa um estranho ritual de adoração dos burros, chegam dois personagens vindos de fora. O caixeiro-viajante e o assobiador.

O primeiro espreita a aldeia com a consciência de alguém “treinado nos campos da vida”,  “vendedor de bugigangas, de objectos para distrair ou encantar”, e o segundo assobia um choro como se tivesse por missão exultar a aldeia a um ritual pagão, catalisador de todas as forças, ele, o assobiador, “ o distribuidor enganoso e exclusivo que a tristeza arranjara para mostrar à Humanidade apenas a sua face bela”.

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PRISIONEIROS

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Prisioneiros

Já alguma vez dormiram entre palavras por dizer?
É brutal. Elas esperneiam, contorcem-se de desespero, gritam no silencio que lhes foi imposto. Sentem dores impossíveis de relatar. Abraçam-se umas às outras num amontoado de perfeito desespero.

Já alguma vez dormiram entre actos por praticar?
É profundamente desagradável. Não há qualquer movimento. Nada mexe um milímetro que seja. Desgastados enroscam-se uns nos outros formando montes disformes. Contraem-se na magoa que os devora lenta e drasticamente.

Palavras e actos sem poder, rasgam a essência do ser, no mais íntimo das suas entranhas. Tornam a alma prisioneira de si própria. Aprisionam a consciência de forma perigosa. Tornam a nossa existência numa repetição insana de momentos drásticos de vazio.

IN “Não há pontuação na vida” – Tiago Galvão-Teles

A criação literária ao alcance de todos por Adelto Gonçalves

I

Se é difícil admitir-se que se possa ensinar Literatura, como observou Fidelino Figueiredo (1889-1967), o ensino da atividade crítica pode ser algo ainda mais questionável. Mesmo assim, ensina-se. E quem quiser pode aprender muito. É o que propõe A Criação Literária – Poesia e Prosa (São Paulo, Cultrix, 2012), de Massaud Moisés, obra anteriormente publicada em três volumes, um dedicado à poesia e dois à prosa, que acaba de ganhar uma edição revista, atualizada e unificada.

Concebida originalmente sob o título de Introdução à Problemática da Literatura, a obra, cuja primeira edição é de 1967, mereceu sucessivas impressões e constitui o melhor manual de teoria literária produzido no Brasil. Não é de admirar que ainda seja largamente utilizado nos cursos de Letras.

É claro que a imensa maioria que recorre a este livro – que é, acima de tudo, didático – é formada por aqueles que almejam uma carreira no magistério na área de Letras. Mas este livro é fundamental mesmo para quem quer seguir uma atividade cada vez menos prestigiada nestes dias, a de crítico literário.

Até porque esta não é uma carreira profissional e ninguém sobrevive como crítico ou resenhista de livros nem sobreviveu em outros tempos. Agrippino Grieco (1888-1973), grande crítico literário e ensaísta, que viveu seus últimos dias no subúrbio carioca da magra aposentadoria de ferroviário, sempre lamentou o tempo que perdera analisando obras de autores que considerava inferiores a ele em talento. Mas, se não constitui uma carreira profissional, a atividade ao menos serve não só para bem ocupar as horas de ócio como acumular erudição e, melhor ainda, estimular e exercitar os neurônios, o que, na idade madura, pode ajudar a retardar as manifestações do mal de Alzheimer. Já não é pouco.

Para piorar, nestes dias que correm, as revistas e suplementos literários, praticamente, desapareceram. E os que sobreviveram, diante de tantas dificuldades econômicas, não costumam remunerar seus colaboradores. O último, justiça se faça, que ainda pagava por colaboração era o suplemento Caderno de Sábado, que desapareceu no começo do século XXI, numa daquelas crises periódicas pelas quais passou o Jornal da Tarde, de São Paulo, até o seu fechamento às vésperas do Dia de Finados de 2012.

II

Seja como for, se ainda hoje há jovens que, contrariando a vontade paterna, queiram iniciar-se nesta atividade e tenham disposição e espaço para ler e guardar a infinidade de livros que editoras e autores vão lhe enviar pelo correio, para estes não há outro caminho que não seja começar por A Criação Literária. Afinal, por aqui, vão aprender que o verso é só uma maneira de marcar melhor a narrativa, ou seja, “é mero instrumento da narrativa, que assume valor absoluto”.

Portanto, verso não significa poesia, como sabe quem lê literatura de cordel ou os contos em versos de Geoffrey Chaucer (c.1343-1400) ou de La Fontaine (1621-1695). Na verdade, diz Moisés, a “poesia é a expressão do ‘eu’ por palavras polivalentes, ou metáforas”. São expressões que, como observou Octavio Paz (1914-1998), em O Arco e a Lira (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982), foram classificadas pela retórica e chamam-se, além de metáforas, comparações, símiles, jogos de palavras, paronomásias, símbolos, alegorias, mitos, fábulas etc.

Essas expressões verbais têm ritmo próprio, ou seja, são o próprio ritmo, o mundo da alma do poeta. Não se deve, porém, confundir ritmo com cadência. Para Moisés, “a cadência participa da formulação do ritmo, mas não o determina: na verdade, o ritmo engloba a cadência, como o todo implica a parte”. Já o ritmo, diz, constitui “a sucessão de unidades melódico-emotivo-semânticas, movendo-se na linha do tempo”.

É por isso que pode haver poesia em textos armados em versos ou em linhas cheias, ou seja, numa crônica, conto ou em qualquer outro texto, como, por exemplo, El jardín de senderos que se bifurcan (1941), de Jorge Luis Borges (1899-1986), que Octavio Paz define como poema. Segundo o poeta, nesse relato, “a prosa se nega a si mesma: as frases não se sucedem, obedecendo a uma ordem conceitual ou narrativa, mas são presididas pelas leis da imagem e do ritmo. Há um fluxo e refluxo de imagens, acentos, pausas, sinal inequívoco da poesia”. Em outras palavras: estamos diante de uma prosa poética.

III

Já poema em prosa é, antes de tudo, poema, como diz Moisés, ou seja, a sua meta consiste na expressão da poesia, enquanto na prosa poética o objetivo do ficcionista é “recriar o mundo, inventando uma história e suas personagens, ainda que numa atmosfera de permanente lirismo”. Poemas em prosa são pequenas peças líricas em que toda a primazia é do “eu”, isto é, o poeta volta-se para dentro de si, “fazendo-se ao mesmo tempo espetáculo e espectador”. Como exemplo, leia-se fragmentos do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa (1888-1935).

Nenhuma dessas formas, porém, confunde-se com o poema de forma livre, em que, segundo Moisés, o metro cede lugar ao ritmo que, sem a cadência imposta pela forma fixa, torna-se “a própria alma do verso”, na definição de Antonio Candido, em O Estudo analítico do poema ((Terceira Leitura, FFLCH/USP, 1987). Como exemplo, leia-seOito elegias chinesas (Lisboa: Edições Descobrimento, 1932), poemas traduzidos por Camilo Peçanha (1867-1926), um dos precursores do Modernismo português.

O que sustenta as Oito elegias chinesas é o ritmo, que espelha também toda a inquietação e as alterações do espírito e da sensibilidade do poeta/tradutor. Livre da camisa-de-força da forma fixa, Peçanha, como tradutor, sentiu-se à vontade nos poemas/traduções para colocar toda a tristeza de sua alma de autoexilado em Macau que se identificou com a anima de poetas chineses desterrados do tempo dos Ming (1368-1628). Para tanto, foi mais longe na subversão das formas poéticas tradicionais, suprimindo rimas, fazendo cortes bruscos, reduções inesperadas ou prolongamentos desmedidos – inclusive, adotando soluções da prosa como a divisão silábica.

Mas não é só para elucidar estas questões ligadas à teoria da poesia, aparentemente difíceis, que serve este A Criação Literária. Vai mais longe ao analisar também as formas em prosa, como o conto, a novela, o romance, a crônica e o teatro, além de outras formas híbridas e, por fim, a crítica literária, “talvez o mais espinhoso e controverso” dos problemas relativos à teoria da Literatura, como o próprio autor admite.

IV

Professor titular aposentado da Universidade de São Paulo, Massaud Moisés foi professor visitante nas universidades de Wisconsin, Indiana, Valderbilt, Texas, Califórnia e Santiago de Compostela. Alguns dos seus livros, consagrados à teoria literária e às literaturas em vernáculo, constituem referência obrigatória para estudantes e estudiosos destas matérias como evidenciam as sucessivas edições que têm merecido História da Literatura Brasileira, 3 v.,  A Análise LiteráriaDicionário de Termos LiteráriosA Literatura Brasileira Através dos Textos,  A Literatura Portuguesa Através dos Textos Pequeno Dicionário de Literatura BrasileiraA Literatura Portuguesa,  Fernando Pessoa:  o Espelho e a Esfinge e Machado de Assis: Ficção e Utopia,  todos publicados pela Cultrix, A Literatura como Denúncia (Cotia-SP: Íbis, 2002) e As Estéticas Literárias em Portugal, 3 v. (Lisboa: Editorial Caminho, 2002), entre outros.

Adelto Gonçalves

A CRIAÇÃO LITERÁRIA – POESIA E PROSA, de Massaud Moisés, edição revista e atualizada. São Paulo: Editora Cultrix, 2012, 782 págs. R$ 78,00. E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br Site: http://www.editoracultrix.com.br

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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br

A paixão de Sócrates por Pedro Santos Guerreiro in “Jornal de Negócios”

O homem é um colosso. Só alguém tão carismático como José Sócrates poderia regressar menos de dois anos depois. Mas mesmo isso não bastaria se as actuais lideranças políticas fossem fortes. Não o são: no Rato e na Lapa só há pão-de-ló. Em Belém, chá.

Só se pode encher o que está vazio. A orfandade de lideranças políticas é um buraco tão monstruoso que lá cabe o PS, o PSD e, vá lá, a União Europeia inteira. Ora, Sócrates é uma caderneta de defeitos mas é um líder, um excelente comunicador e um animal político não apenas feroz, mas também mais eficaz que todos os outros juntos. Não é carnívoro nem herbívoro, segundo a legenda de Marcelo Rebelo de Sousa: é omnívoro. Um profissional temível entre amadores amáveis.

Sócrates será um campeão de audiências (sempre o foi, mesmo em Paris) e de fracturas. O seu carisma e linguajar populista acomodam-se a uma idolatria chavista. É, além disso, um personagem intrigante: nunca antes nem depois dele se escreveram tantos “perfis psicológicos” sobre um primeiro-ministro. O país tem uma paranóia com ele, entre os que o odeiam e os que o amam. Ele não une, atrai e repele, pelo que divide. Mas vai meter António José Seguro num chinelo e bater em Passos com o outro.

Sabe o que pensa Passos Coelho da União Europeia? Sabe como quer Seguro resolver os desequilíbrios macroeconómicos do país? Sócrates diz duas frases e toda a gente percebe, concordando ou discordando. Isso é política. E isso vai retirar o PS do centro da oposição.

É por isso que há neste regresso de José Sócrates muito mais que uma inconveniência ou uma excitação. Da mesma maneira que até Manuela Ferreira Leite já chegou a ocupar o espaço de Seguro, Sócrates vai liderar a oposição. Vai acertar contas com Cavaco Silva, que pensou ter dado o golpe de misericórdia no célebre prefácio de há um ano. Vai acertar contas com Passos Coelho, que, sabe-se hoje, mentiu quando se disse surpreendido pelo PEC IV.

As culpas de Sócrates estão documentadas. São gigantes. Como primeiro-ministro, praticou um relativismo moral assustador e um utilitarismo da verdade; endividou o país com políticas de betão que faliriam, tomou conta dos negócios e se hoje diz que só fez o que a União Europeia o mandou fazer, então é igual a Passos na obediência à troika. A saída de Sócrates foi penosa, numa cegueira enlouquecida e negacionismo alucinado que ajoelhou o país. Por tudo isso perdeu umas eleições e será ou não derrotado noutras. Mas nada disso o impede de voltar. Ainda nos irritaremos, ou riremos, quando ouvirmos Sócrates dizer que deixou o Governo com um desemprego de apenas 12%, o PIB sete pontos percentuais maior, a riqueza gerada por cada português (“per capita”) mil euros mais alta que agora.

O regresso de Sócrates é um murro na vidraça desta política açucarada em que vivemos. Mas não é só ele. Ontem, Teixeira dos Santos acusou o Governo de memória curta, Maria de Lurdes Rodrigues deu uma entrevista ao i contra os despedimentos de professores, Jorge Coelho estreou-se na SIC Notícias, Pedro Marques atacou Gaspar no Parlamento, Francisco Assis escreveu no Público e Ferro Rodrigues criticou o Governo. Neste “comeback”, Elvis não estão só. Não é a brigada do reumático, mas é a brigada do traumático. E Seguro, sim, ficará desasado.

Líderes fortes não dariam espaço a quem deixou o país casado à força e de papel passado (e assinado) com uma troika que despreza. Mas os partidos são as vítimas de si mesmos, da falta de possibilidade de renovação, da preservação doentia. É sempre a mesma gente e, quando é outra (como Rui Moreira tenta no Porto), é triturada pelas debulhadoras.

Na célebre parábola d’ “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoiévski, o Grande Inquisidor manda prender Jesus Cristo, que, regressado à Terra em pleno século XVI, se passeia incógnito, mas é reconhecido: toda a gente sente o seu poder. Sócrates regressa à entrada da Quaresma, quando os cristãos trilham o caminho do esforço para se purificarem e acreditam de novo que tudo é possível. Para chegar à ressurreição é preciso passar pela paixão. E paixão não falta a Sócrates. Nem ódio por ele.

Isto não é um show de televisão, isto é política. Sócrates não vai ser comentador, vai ser poderoso, vai forçar a definição de uma nova expectativa política em Portugal, vai pôr em causa a água choca desta ordem estabelecida, partindo o que antes se dobrava. Vai desestabilizar. Vai contribuir para a ingovernabilidade. Vai arregimentar quem prefere dar murros em vez de abraços. Vai ser um fartote.

Pedro Santos Guerreiro

http://www.jornaldenegocios.pt  (FONTE)

O PSD e o memorando da troika: a mentira por Domingos Amaral

mentiroso_retintoNos últimos dias, muitas pessoas próximas do PSD e do Governo têm procurado passar a ideia de que o “memorando da troika” estava mal desenhado desde o princípio (Maio de 2011), e que é por isso que as medidas do Governo estão a falhar, e não por culpa do próprio Governo. Há poucas ideias mais falsas do que esta, e convém que os portugueses não se deixem manipular assim.

(…)

Ou seja, no memorando original, a estratégia escolhida era muito mais de cortes no lado da despesa, e não de aumentos de impostos ou de cortes salarias ou de subsídios. Foi Vítor Gaspar que, mal se viu ministro das Finanças, decidiu escolher uma via diferente, e optar pelas escolhas que optou.

Pode mesmo dizer-se que, não fossem as invenções graves de Gaspar, e a sua mudança abrupta de estratégia relativamente ao que estava acordado com a “troika”, e certamente a recessão não teria sido tão grave como está a ser.

Vítor Gaspar, bem como um grupo de pessoas em seu redor (António Borges, Carlos Moedas, Braga de Macedo) é que conseguiram impor a sua via ao Governo, convencendo um inábil e pouco preparado Passos Coelho de que o ajustamento na sua versão PSD, ultra-rápida e à bruta, iria resultar muito melhor do que o ajustamento “light” que estava previsto no memorando original.

http://domingosamaral.com/73939.html (FONTE)

Ler texto completo no site de Domingos Amaral. Vale a pena.

 

José Sócrates de volta… in Revista Sábado

José Sócrates regressa como comentador

De acordo com a rádio TSF, o antigo primeiro-ministro vai assumir funções como comentador político na RTP.

José Sócrates vai ter um programa semanal, de 25 minutos, no canal público, pelo qual não será remunerado.

O antigo primeiro-ministro tem também acertada com a RTP uma entrevista em que vai procurar esclarecer as principais questões da sua governação.

Portugal's Prime Minister Jose Socrates smiles in parliament during a no-confidence vote against the government in Lisbon

http://www.sabado.pt/Ultima-hora/Sociedade/Jose-Socrates-regressa-como-comentador.aspx?id=578385 (FONTE)

Ana María Matute, por Cristina Carvalho

A literatura é algo que, usando palavras, não se pode definir nem soletrar. É uma expressão artística ambiciosa, que usa sangue e corpo, que tem de ser livre – como todas as expressões de arte ou como a própria vida –

Deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de água, como um estremecer de folhas de árvore.

Quanto a mim, o papel da literatura não é explicar o mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais, histórias experimentadas, visitas, efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e desespero. As palavras escritas devem formar um todo compreensível, – um romance, um conto, um poema. As palavras que servem as ideias, têm de ser dádiva. As palavras não podem viver subterraneamente de modo incompreensível ou navegar ao sabor da moda; as letras não devem agrupar-se em palavras que não tenham significado. Isso não é bom. Não é essa a interrogação que a literatura precisa. Não é isso que perdura. Não é isso que prende. E está à vista de todos.

Ana María Matute enche-me de orgulho como mulher, como escritora, como exemplo de conhecimento, de experiência, de sabedoria, de humanidade e celebro-a em todas as suas vertentes e capacidades. Exalto-a e elevo-a. Desejo-lhe, com toda a admiração e a par desta complexa e temporária passagem pelo planeta Terra, muita saúde e as maiores felicidades em tudo, na sua condição humana e na sua literatura.

ler mais no PNetLiteratura (texto de Cristina Carvalho)

Citando José Guimarães

É preciso amar-se o que se faz na vida e só assim se é feliz e realizado. A maioria dos políticos, estão na política porque não sabem fazer nada! A política foi a prancha de salvação que lhes evitou a indigência. Fazem-no sem gosto, sem competência, sem imaginação, sem inteligência, sem amor, sem felicidade, sem dignidade.

José Guimarães  in Facebook

Mozart Cosi fan tutte

Extrait de l’opéra de Mozart, Cosi fan tutte, dirigé par Jérémie Rhorer à la tête du Cercle de l’Harmonie et mis en scène par Eric Génovèse (Valérie Nègre, metteur en scène associé).
Avec Camilla Tilling, Michèle Losier, Claire Debono, Markus Werba, Bernard Richter et Pietro Spagnoli.
Au Théâtre des Champs-Elysées, 5 représentations du 22 au 31 mai 2012

Jérémie Rhorer [Biografia]

jeremieLa critique française l’a consacré « Révélation musicale » de l’année 2008. Né en 1973 à Paris, Jérémie Rhorer a fait des études de clavecin, d’analyse et de composition au Conservatoire National Supérieur de Paris, avant de devenir l’assistant de Marc Minkowski et, plus tard, de William Christie. En 2005, au festival de Pâques de Deauville, il crée avec le violoniste Julien Chauvin Le Cercle de l’Harmonie, un ensemble sur instruments d’époque qui se focalise sur le répertoire de la fin du XVIIIe siècle.

C’est en 2006, au Festival International d’Opéra Baroque de Beaune, que Rhorer et Le Cercle de l’Harmonie sont découverts par un plus large public grâce à leur interprétation électrisante d’Idomeneo. LeursNoces de Figaro (version de concert), données également à Beaune en 2007, leur vaut des échos enthousiastes et un franc triomphe lors de leur reprise au Théâtre des Champs-Élysées. En 2008, c’est le Festival d’Aix-en-Provence, où il dirige L’Infedeltà delusa de J.Haydn, qui, cette fois, récompense les mérites de ce jeune interprète des partitions de Mozart, en lui remettant le Prix Gabriel Dussurget.

Le Théâtre des Champs-Élysées l’invite avec le Cercle de l’Harmonie à diriger son festival Mozart avec notamment trois productions scéniques, Idomeneo en 2011, Così fan tutte en 2012 et Don Giovanni en 2013.

Il fait ses débuts au Wiener Staatsoper en janvier 2011 avec Così fan tutte, suivis directement d’une invitation pour les Noces de Figaro en 2012. Il fait ses débuts au festival de Salzbourg en 2010 lors de deux matinées Mozart avec Diana Damrau. Il est l’invité du Mostly Mozart du Lincoln center à New York en 2011 et en 2013.

A la Monnaie de Bruxelles, il dirige successivement Les Noces de FigaroIdomeneo et il y reviendra en 2013 et 2014. A l’Opéra-Comique, il dirige Auber (2009), Grétry (2010) et J.C.Bach (2011) etMahagonny Songspiel et les Sept péchés capitaux de K.Weill au théâtre des Champs-Élysées avec Angelika Kirchschlager.

En 2011 il dirige le Requiem de Brahms à Hambourg avec la Deutsche Kammerphilharmonie, ainsi que l’orchestre de chambre de Munich, le Kammerorchester Basel et l’Orchestre National de Bordeaux-Aquitaine. En 2012, il est invité pour les Noces de Figaro à la tête du Cercle de l’Harmonie au Festival d’Aix-en-Provence et dirige à la Radio de Francfort, à la Radio d’Amsterdam et à Poznan.

Parmi ses projets figurent ses débuts au festival de Glyndebourne en 2013 avec les Noces de Figaro à la tête du London Philharmonic, des invitations du philharmonique de Rotterdam ainsi que La Vestalede Spontini et les Dialogues des Carmélites au Théâtre des Champs-Elysées.

Jérémie Rhorer s’est par ailleurs fait un nom en tant que compositeur. Il a été récompensé, entre autres, par le Prix Pierre Cardin de l’Académie des Beaux-Arts et obtenu plusieurs commandes de Radio France. L’intégrale de sa musique de chambre a été donné au festival de La Roche-Posay en 2006. L’Orchestre National de France créé la version pour orchestre de son œuvre Le cimetière des enfants en novembre 2008.

Il a enregistré plusieurs disques pour EMI/Virgin Classics avec Diana Damrau, Philippe Jaroussky et Le Cercle de l’Harmonie, tous salués par la critique. Ses enregistrements avec Le Cercle de l’Harmonie sont désormais publiés chez Ambroisie/Naïve, tel Beethoven : the birth of a master sorti en juin 2011 suivi par  le Paris des Romantiques avec Bertrand Chamayou et Julien Chauvin en solistes et la Lodoïska de Cherubini.

http://cercledelharmonie.fr/presentation/jeremie-rhorer/ … (FONTE)

(…) À situação em que estamos | Carlos Matos Gomes in “Facebook”

A semana passada foi dominada pelos 2 primeiros personagens e por aquilo que as suas organizações representam. O novo papa da Igreja Católica, um desconhecido que de uma hora para a outra se transformou numa estrela planetária, reuniu o circo mediático para dizer o que os sacerdotes de todas as religiões há milhares de anos dizem: acreditemos nos deuses que só eles nos resolvem os problemas.

O segundo (Durão Barroso), também um apostolo da fé no pensamento comum, veio dizer-nos, através do assalto aos depositantes dos bancos de Chipre, que a sua organização faliu, mas convém que não fujamos sem sermos devidamente sangrados, como os cordeiros dos sacrificios pascais. Os dois são figuras conhecidas, omnipresentes.

Reunem à sua volta os holofotes para nos deitarem água chilra sobre as nossas chagas e contarem lengalengas para nos iludirem as dúvidas e os receios. O terceiro é um desconhecido para a maioria. Robert Castels, um pensador (filósofo?, sociólogo?) francês, que morreu na passada semana (a da eleição do papa Francisco e da inaudita medida da Uniião Europeia sacar 10% dos depósitos, para já em Chipre).

Conheci Robert Castels, no ISCTE, através dos livros, no inicio da década de 80. Ele fez-me confrontar com o paradoxo da sociedade industrial, de que a atual situação é o corolário: de tanto nos esforçamos para não termos que nos esforçar, de termos entendido o progresso como a varinha mágica que tudo se resolve com um botão de eficiência, chegámos à sociedade do mercado e do desemprego (nesta sociedade, desde que haja energia barata, tudo pode ser alcançado sem trabalho), da precaridade, da insegurança social. À sociedade em que os homens são, em primeiro lugar desnecessários, depois prejudiciais, e a seguir um custo a eliminar. À situação em que estamos. É evidente que o circo mediático coloca diante dos nossos olhos em doses macissas os que nos garantem que nada mais há a fazer que rezar, deixar-nos levar e confiar em quem nos tosquia antes de nos sacrificar.

Carlos Matos Gomes  in “Facebook”

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“Revolução Social”, Diz Junker

“Não excluo a possibilidade de uma revolução social”, declara Jean-Claude Junker, ontem à margem do chamado Conselho Europeu. O primeiro-ministro do minúsculo Luxemburgo percebeu que a sua principal arma é a palavra, para dizer aquele óbvio que outros têm medo de assumir. Junker tinha, há dias, explicado aos alemães, através da Der Spiegel, que na Europa “os demónios da guerra estão apenas a dormir” e que a actual política imposta à Europa os pode acordar a qualquer momento. Ontem, alertou para a possibilidade de uma “revolução social”.

Junker tem razão e parece o único dirigente europeu a que ainda resta inteligência, lucidez e alguma coragem para falar. Mas, no que diz, não vai até ao fim dos seus raciocínios. O discurso dominante, o da chamada política “neo-liberal”, fechado numa matriz muito pobre e incapaz de integrar factores determinantes da vida política, esquece o essencial. Que Junker agora recordou. E é irónico que seja o “ortodoxo” Junker a fazê-lo. Ele tem mesmo de estar muito assustado com o andamento das coisas para tomar iniciativas deste tipo…

A política imposta por Berlim/Bruxelas aos Estados da Europa (e que só contempla os interesses nacionais da Alemanha e de um ou outro aliado de ocasião) está a ter consequências incontroláveis. Uma bem óbvia é a da ruptura do “contratro social” em sucessivos Estados da orla marítima e que começa também a manifestar-se em Estados mais continentais e tidos como mais ricos. O fenómeno, que começou na Grécia e atingiu pontos irreversíveis em Portugal e Espanha, já atingiu a Itália, como as últimas eleições mostraram. E, em França, a posição de Hollande nas sondagens, as decisões dos sindicatos e ascensão de Marine Le Pen deixam claro que a contaminação já aconteceu.

Ora, enquanto a questão da ruptura do “contrato social” só tocasse a gregos e portugueses, a pequenos países e economias sem peso, Berlim/Bruxelas não tinha de se inquietar e podia gerir o “drama” sem quaisquer preocupações. Mas quando o “contrato social” se rompe em Espanha, esgaça em Itália e ameaça a França, outro galo canta… As Merkels da Europa ficam sem saber que fazer e os Junkers assustam-se. O Verão de 2013 ameaça ser bem quente no continente europeu. Para nós, será a última oportunidade, antes de nos esmagarmos no fundo do abismo, de salvar a nossa Pátria e mantermos alguma dignidade. De anos de aperto já nada nos pode salvar, mas que sejam, ao menos, por algo que valha a pena e não para encher os cofres da banca alemã.

http://inteligenciaeconomica.com.pt … (FONTE)

Rómulo de Carvalho / António Gedeão, de Cristina Carvalho

Esta não é uma biografia escrita de uma forma convencional, um conjunto de eventos enumerados por ordem cronológica ou alinhados pela sua relevância. Um objecto de estudo. Esta é uma biografia escrita por quem arrisca, quem arrisca tudo e muito, sem perder a noção do lado simples da vida: “Eu percebo-o. Não porque tenha o mesmo pensamento, mas porque o percebo. Apenas.”

É esse entendimento que Cristina Carvalho nos transmite neste livro sobre Rómulo de Carvalho, também seu pai. Usando todos os seus recursos de ficcionista ousa, de forma destemida, construir a imagem do homem que muito admirou e muito amou. Fá-lo, por vezes, em registo de miniconto, como se um ritmo próprio (e misterioso) lhe ditasse a ordem pela qual esses eventos lhe surgem na memória.

texto integral no PNet