Sem Regresso

 Quando penso na areia que se lava na água salgada de uma praia qualquer, recordo de imediato o meu metro de gente, que cheio de uma vontade, com sabor de vida, se encontrava preso num olhar perdido, mas feliz, de constante procura. A inquietude de um mundo ainda sonhado reflectia-se no sorriso de complacente alegria da minha avó. Ao longe os sons confundiam-se e ecoavam como amigas que me procuravam para brincar. O mundo era imenso, dentro e fora de mim.

Deslumbrado pela simplicidade dos mais insignificantes pormenores tudo em mim era luz. Procurava perceber o incompreensível, e, de certa forma encontrava o sentido para ele. Tudo era novo, mesmo o que se repetia continuadamente. Mas naquela praia perdida algures a areia não tinha textura e o mar… era apenas e só o mar.
O tempo passou. Os anos atropelaram-se num receio infundado de que não chegasse a sua vez. O meu pai deixou de ser Deus e a minha mãe perdeu a imortalidade. As ilusões desvaneceram-se, ou melhor, transformaram-se em realidades capazes de me assustam tanto quanto sombras de corpos que não estão lá para a justificarem.

Tornei-me melancólico e distante como a ilha que o homem não é. As lágrimas, passei a trata-las por tu, dei-lhes nomes para as distinguir. No entanto, nunca as deixo sair e lavrar as montanhas do meu rosto de expressão triste. No percurso que deixei o destino doar-me ceguei-me nos sentires, guardo-os no peito, para se quedar perfeito na espera de razões mais válidas que o deixem ver e olhar.
Sinto-me só. Sinto falta do que acredito ter sido. Sinto-me vazio de mim.