Covid-19 | Nobel da Química prevê fim da pandemia mais cedo do que o previsto | Michael Levitt | in Revista Visão

(Julia Reinhart/ Getty Images)
O cientista assume que apesar do aumento do número de mortos, existem recuperações e um abrandamento na taxa de mortalidade.

Michael Levitt, bioquímico na Universidade de Standford e vencedor do Prémio Nobel da Química em 2013, contraria o que muitos epidemiologistas e cientistas prevêem – meses de perturbações sociais e milhares de mortos em todo o mundo. Levitt acredita que os dados não apresentam um cenário tão terrível como o descrito, em especial nas áreas onde são respeitadas as medidas de distanciamento social. “O que precisamos é de controlar o pânico”, disse ao Los Angeles Times. “Nós vamos ficar bem”.

O cientista começou, em janeiro, a analisar o número de casos de Covid-19. Destes cálculos percebeu que a China passaria pela fase pior do surto numa data anterior à previsão que fizeram outros especialistas.

No dia 31 de janeiro, a China registou 46 novas mortes em comparação com as 42 assinaladas no dia anterior. Embora o número de mortes tenha continuado a aumentar, a taxa de mortalidade diminuiu. Ou seja, o número de mortos cresceu mas a percentagem desses mortos é menor do que a do dia anterior. “Isto sugere que a taxa do aumento no número de mortos diminuirá ainda mais durante a próxima semana”, declarou Levitt no relatório que enviou aos colegas no dia 1 de fevereiro, e que mais tarde foi partilhado nas redes sociais. Três semanas depois de ter escrito o relatório, o bioquímico calculou que a China tinha atingido o pico e que o país iria ter cerca de 80 mil casos confirmados e 3250 mortes. Essa previsão mostrou-se extremamente precisa: no 16 de março, o país contabilizou um total de 80 298 casos e 3 245 mortes. O número de pacientes recém-diagnosticados com o vírus desceu para cerca de 25 por dia.

O vencedor do prémio Nobel prevê um padrão semelhante noutros países: analisou 78 países que relataram mais de 50 novos casos de Covid-19 por dia e vê “sinais de recuperação” em muitos dos casos. O foco do cientista não é o número total de casos de um país, mas sim no número de casos identificados diariamente. “Os números ainda não são significativos mas existem sinais claros de um crescimento lento”.

Levitt concorda com as medidas de distanciamento social e reforça a ideia de que é importante estar vacinado contra a gripe, pois episódios de gripe durante o surto do coronavírus, para além de sobrecarregar os hospitais, aumentam as hipóteses de o novo vírus não ser detetado. O bioquímico assume que este pode ter sido um dos fatores que contribuiu para o estado atual da Itália, onde existe um forte movimento anti-vacinação.

O pânico causado pelos meios de comunicação, que se concentram no número de novos casos, destacando os casos de celebridades, é uma das preocupações de Levitt, assim como as medidas de proteção que colocam em causa a própria economia de cada país, podendo tornar-se numa catástrofe.

Embora a taxa de mortalidade por causa do coronavírus seja maior do que a taxa de mortalidade da gripe, Levitt garante que “não é o fim do mundo”. “A situação não é tão terrível como parece”, diz.

https://visao.sapo.pt/atualidade/mundo/2020-03-31-covid-19-nobel-da-quimica-preve-fim-da-pandemia-mais-cedo-do-que-o-previsto/?fbclid=IwAR0N9JyR1WZE2StqvzSFw-11dFzR2_wyVs66cCrTtFgBRdbm2JUNPdG26ME

Boris Johnson, o Coriolano | Carlos Matos Gomes

Há dez anos sofremos a crise do subprime, ou do Lehman Brothers. Uma crise longa, com resultados devastadores nas economias e na vida dos cidadãos europeus. Essa crise foi um fator influenciador do Brexit e da ascensão de vários políticos populistas ao governo dos seus países, na Europa e pelo mundo.

A crise do euro, dos resgates, das troikas foi aparentemente resolvida, os mais ricos ficaram mais ricos e os mais pobres mais pobres. Negócio habitual. Mas na Europa as feridas mantiveram-se e numa reunião de há dias, num conselho europeu destinado a discutir medidas de combate à pandemia do Covid-19, elas foram reabertas a propósito da questão essencial da solidariedade entre os estados da União Europeia. Vieram de novo ao cimo os nacionalismos mais ou menos racistas dos nórdicos (germânicos, também) e as visões mais integradoras dos países do sul. Ricos e pobres. Ressurgiu a velha fábula da formiga e da cigarra, a que o então ministro das finanças holandês Jeroen Dijsselbloem deitou mão, dirigindo-se aos países do sul: “não se pode gastar todo o dinheiro em mulheres e álcool e, depois, pedir ajuda”.

Não deixa de ser revelador que seja o governo do Estado que desenvolve a política fiscal mais agressiva de captura de capitais dos outros estados, da sua riqueza, a Holanda, o menos solidário. Que seja o Estado mais próximo do gangsterismo neoliberal o que mais desenvergonhadamente acusa os outros de mau governo!

Os nacionalistas ricos ganharam então em toda a linha, impuseram medidas draconianas de rigidez orçamental, destruíram empregos, causaram uma crise social, transferiram riqueza do Sul para o Norte, acentuaram as desconfianças entre os povos, puseram em causa a utilidade e até a viabilidade do projeto europeu e, com o argumento da inutilidade da União (que eles promovem), fizeram eleger uma piara de dirigentes populistas à custa das críticas a estas políticas, que, no fundo são as suas, as do salve-se cada um como puder, sem olhar para o lado. O objetivo final era e é matar a União Europeia como espaço decisivo no xadrez político, militar e económico mundial.

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A guerra biológica | Carlos Matos Gomes

A guerra biológica. Este artigo de José Goulão relata reuniões ocorridas em Nova Iorque e em Pequim que indiciam a origem programada da epidemia, como arma de uma guerra biológica. Todas as especulações são possíveis. Admitamos esta. Já que as superpotencias não podem utilizar as armas nucleares, por risco de destruição mútua, deitam mão à guerra biológica.
A guerra biológica está estudada e tem sido praticada, tal como química. O grande problema da guerra biológica é a facilidade com que os seus autores perdem o controlo do efeito das “armas”. Daí a prudência para não ir por lã e vir tosquiado ou sofrer o efeito do ricochete, ou de morrer com o seu veneno.

Mas a hipótese de estarmos no meio de uma guerra biológica tem, como todas as situações e neste caso, uma conclusão má e outra menos má. A má, é que, sendo a epidemia uma ação deliberada, os contendores que a desencadearam devem ter previsto contra-medidas de proteção. A guerra terá um final previsto e terminará quando os objetivos forem alcançados. Não valerá a pena tomar medidas, comprar máscaras, ventiladores, levantar hospitais de campanha… e então o Bolsonaro é o bufo, o idiota útil, que, pela despreocupação que revela, deu com a língua nos dentes e está a dizer ao mundo: o Trump e o Jinping estão tratando de negócio e a nóis só nos resta preparar caixões!

Ou então, na vertente pior, os desencadeadores da guerra biológica perderam o controlo e serão também eles arrastados pela destruição do virus. estamos então numa nave à deriva.
Sendo historicamente comprovado que todas as armas, mesmo as mais desumanas são um dia utilizadas, daí as proibições do uso da besta, na idade média, pela Igreja Católica, as da metralhadora.. e do controlo das armas nucleares, parece-me pouco provável estarmos a viver uma guerra biológica.
Mas parece-me altamente provável que os detentores dessas armas as estejam a utilizar como negaças, como instrumentos de demonstração de poder e a preparar o futuro…
Aqui fica o link do artigo de José Goulão, dentro do principio que há bruxas e bruxedos…

Carlos Matos Gomes

Retirado do facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

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Os profetas dos Vírus – POR JOSÉ GOULÃO

https://www.abrilabril.pt/internacional/os-profetas-do-virus?fbclid=IwAR0ztzTt_t74Xr1YqMlpgpiSj6WfVhqlcqa7tWk_jxqfZQUHoJiymlH2NcY

𝐕𝐀𝐌𝐎𝐒 𝐅𝐀𝐋𝐀𝐑 𝐀 𝐒É𝐑𝐈𝐎 𝐃𝐄 𝐒𝐄𝐆𝐔𝐑𝐀𝐍Ç𝐀? | Francisco Louçã | in Jornal Expresso

Expresso, 28.03.2020
Antes da pandemia, o mundo estava a ser reformatado por uma nova direita. Houve quem achasse que se tratava de um intermezzo e que os tiques de Trump e Bolsonaro eram uma galeria de piadas, mas descobriu-se depressa que encabeçam um mundo novo. A vaga autoritária que lideram é a principal ameaça contra a democracia, e estavam a ganhar. Convém por isso perceber o que lhes dava a vitória: era simplesmente a capacidade de corporizarem uma socie­dade do medo. A garantia de segurança foi a sua chave para o poder. A segurança, no caso de Bolsonaro, são milícias; no caso de Trump, um nacionalismo agressivo; em todos os casos usam a cruzada evangélica. Ora, o mundo descobriu agora que essas prosápias são inseguras. Sugiro então que discutamos segurança como um valor fundamental que é preciso disputar duramente nesta tragédia que estamos a viver.

A SEGURANÇA É O HOSPITAL PÚBLICO

Quando a vida é ameaçada, o mundo vira-se para os serviços públicos de saúde, descobrindo que há algo de essencial antes de tudo, a proteção da nossa gente. Ted Yoho, um ‘trumpista’ deputado pela Flórida, reconheceu que “isto pode ser considerado medicina socializada, mas, em face de um surto, de uma pandemia, quais são as tuas opções?” Macron, ex-banqueiro de gestão de fortunas e agora Presidente francês, estendeu este “socia­lismo” a uma promessa contra a globalização: “Delegar a nossa alimentação, a nossa proteção, a nossa capacidade de cuidar do nosso quadro de vida nas mãos de outros é uma loucura […] As próximas semanas e meses necessitarão de decisões de rutura nesse sentido. Irei assumi-las.” Em todo o mundo, os neoliberais fazem fila para pedir a intervenção do Estado que salve vidas.

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COVID-19 | TESTES: TEMOS SOLUÇÃO EM PORTUGAL | Jorge Buescu, 27/3/2020

Via Teresa Mónica:

“Já enalteci Maria Mota. Agora ficamos a saber mais através de J Buescu. Notícias maravilhosas !!!!!!!!!!!

TESTES: TEMOS SOLUÇÃO EM PORTUGAL!

Os leitores perdoar-me-ão se deixar a análise aos números de hoje para segundo plano. Porque venho trazer-lhes uma mensagem de esperança que pode salvar muitas centenas ou milhares de vidas — mas exige acção imediata.

Muitos conhecerão de nome Maria Manuel Mota. Investigadora de primeiro plano mundial na área das Biociências e doenças infecciosas, em particular malária. Directora do Instituto de Medicina Molecular, onde trabalham mais de 600 pessoas. Prémio Pessoa em 2013.
Mais importante do que qualquer elemento curricular, a Maria Mota tem na mão uma chave para o problema da falta de testes COVID em Portugal. Conheço-a há muitos anos, falei com ela há pouco. Aqui segue o relato.

Os testes de detecção à COVID são fabricados essencialmente por duas empresas, a Roche e a Qiagen. Os kits de teste contemplam duas fases: extracção e amplificação por processo PCR, sendo os reagentes bem conhecidos. O problema, claro, já se sabe qual é: nós não produzimos estes reagentes, fomos ao mercado tarde, já não encontramos à venda e agora estamos a racionar (ou a “racionalizar” – neste momento os malabarismos retóricos são o que menos importa) os poucos que temos e a fazer muito, MUITO menos testes do que devemos. A Alemanha, cuja indústria produz os reagentes necessários, faz 500.000 testes por semana. Portugal esta semana fez 17.000. Tendo em conta que a população alemã é 8 vezes maior, temos um nível de testes que é 20% do alemão.

Que entre a Maria Mota.

Há 17 dias, alertada para o problema por dois médicos de Santa Maria, a Maria Mota colocou a a sua equipa no IMM a desenvolver uma alternativa portuguesa ao kit de teste. Foi, num certo sentido, muito simples: em vez de desenvolver um processo a partir do início, a Maria Mota pegou no protocolo publicado pela OMS e pelo CDC americano para os testes à COVID e adaptou-o à realidade portuguesa. Identificou os reagentes críticos em falta em Portugal para produzir um teste e concebeu alternativas. A alternativa existe em Portugal; a empresa que a produz, a NZY Tech, pode produzi-los em quantidade virtualmente ilimitada para todos os efeitos práticos.

Neste momento a Maria Mota já dispõe de um kit testado, que funciona perfeitamente na identificação quer de casos positivos quer de casos negativos. Há uma semana contactou a DGS por escrito, não tendo ainda obtido resposta. Felizmente para nós tem linha aberta para o Ministro da Ciência, Manuel Heitor, que compreende bem a urgência destes tempos, e que desbloqueou a situação. Obrigado por todos nós, amigo Manuel. Quando os tempos forem outros dar-te-ei um abraço muito apertado.
O kit foi testado e está certificado pelo Instituto Ricardo Jorge no sábado passado. Há dois dias foi validado pelo mesmo Instituto. Está pronto a ser aplicado em quantidades virtualmente ilimitadas. As limitações para a Maria Mota não são de número de testes disponíveis: são de mão de obra humana. O seu IMM tem neste momento capacidade para administrar 300 testes por dia, podendo talvez chegar aos 900 a 1000

Isto são notícias extraordinárias. Temos um teste português, validado e certificado, que pode começar a produção em massa ONTEM. Podemos abrir centros de testes por todos o País e começar finalmente a política de testes massivos e rastreios sistemáticos recomendada pela OMS, que nunca seguimos. De que estamos à espera?
Dizia-me a Maria Mota que cada dia que passa conta. Se tivéssemos começado há uma semana tínhamos salvo muitas vidas. Já não vamos a tempo. Mas vamos a tempo de salvar muitas mais nas semanas que se avizinham e vão ser terríveis.

Ainda vamos a tempo de salvar milhares de vidas (e estou a medir as palavras). Mas temos de agir JÁ.

Senhores do Governo, do Ministério da Saúde, da DGS, de tudo quanto manda neste País: larguem os vossos papéis e agarrem na Maria Mota. Não interessam agora os vossos erros de avaliação do passado: não cometam agora o maior de todos. Dêem à Maria Mota tudo, TUDO o que ela pedir. E peguem nos kits dela, comecem a produção em massa daqui a uma hora, organizem a abertura urgente postos de teste de emergência nos pavilhões multiusos em todos os concelhos daqui a duas horas. Não queiram ser responsáveis por tudo: mobilizem a sociedade civil. Recrutem voluntários para administrar testes e realizar análises laboratoriais (que demoram 4 a 5 horas) entre estudantes de Medicina e Farmácia. Usem os estádios de futebol, os pavilhões desportivos, façam o que quiserem. Mobilizem as empresas para donativos, as indústrias para produzir, mexam-se. Organizem, não é para isso que servem os Governos? Mas DESPACHEM-SE! Não é para amanhã, é para ONTEM!

Porque cada dia conta, e cada hora perdida hoje representa mais mortos daqui a 15 dias.”

Jorge Buescu, 27/3/2020

Retirado do Facebook | Mural de José Silva Pinto

Os grandes homens morreram porquê? | Carlos Matos Gomes | in Medium

Por homem, neste contexto, entenda-se um ser humano, masculino ou feminino. Neste sentido tanto serve para o 3º Conde de Castelo Melhor, reorganizador das tropas portuguesas para expulsar os espanhóis após 1640, como para a rainha Filipa de Lencastre, inspiradora (no mínimo) da expansão marítima portuguesa. Parece que sim, que os “grandes homens” morreram sem descendência. Pelo menos não os encontramos nesta crise, nem na anterior, a de 2008, a do sistema financeiro, nem na guerra da Sérvia, nem na Invasão do Iraque, nem no ataque ao Afeganistão, nem na implosão da União Soviética… nem… nem…

No entanto deviam ter surgido, se fosse cumprida a definição de loucura erradamente atribuída a Einstein e a Benjamim Franklin: “ loucura é fazer a mesma coisa uma vez e outra e esperar obter resultados diferentes”. Podíamos dizer que circunstâncias idênticas produzem resultados idênticos e concluir que as grandes crises produzem grandes homens. Ora, não produziram.

A explicação da História a partir da ação e do impacto dos indivíduos determinantes por carisma, génio ou impacto político foi muito popular na Europa no final do século XIX e no início do XX. Em Portugal manteve-se dominante durante o Estado Novo, com uma historiografia assente na epopeia e na figura do “herói”, de Viriato a Salazar, passando por Vasco da Gama. Thomas Carlyle, um historiador, ensaísta e professor escocês durante a era vitoriana considerou que “A história do mundo é apenas a biografia de grandes homens”, mas teve a presciência de definir a economia como uma “ciência sombria”.

Então porque não produziram “grandes homens” as crises das últimas décadas, desde o desaparecimento dos que dividiram o mundo em Ialta, no pós-Segunda Guerra (Roosevelt, Estaline e Churchill) e dos que se reuniram em Bandung, na Indonésia, em 1955 para lançarem o conceito de Terceiro Mundo e o Movimento Descolonizador (Nheru, Sukarno, Nasser) e do emergir da China como ator mundial com Mao Tse Tung? Porque desapareceram os “grandes homens” da paisagem da história?

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Antonio Scurati | Milão.

Milão. A cidade mais privilegiada de Itália está agora na fila do pão. A partir de Milão, onde vive e está isolado, o escritor italiano Antonio Scurati escreve o que vê da janela da sua casa.

« Como posso convencer a minha mulher de que, enquanto olho pela janela, estou a trabalhar? — perguntava-se Joseph Conrad no início do século passado. Eu, em vez disso, pergunto-me: como posso explicar à minha filha que, quando olho pela janela, vejo o fim de uma era? A era em que ela nasceu, mas que não conhecerá, a era do mais longo e distraído período de paz e prosperidade desfrutado na história da Humanidade.

Vivo em Milão, até ontem a mais evoluída, rica e brilhante cidade de Itália, uma das mais desejadas do mundo. A cidade da moda, do design, da Expo. A cidade do aperitivo, que deu ao mundo o Negroni Sbagliato e a happy hour e que hoje é a capital mundial do Covid-19, a capital da região que, sozinha, soma trinta mil contágios confirmados e três mil mortos. Uma taxa de mortalidade de 10 por cento, os caixões empilhados à frente dos pavilhões dos hospitais, uma pestilência vaporosa que paira sobre as torres da sua catedral como sobre as cidades amaldiçoadas das antigas tragédias gregas. As sirenes das ambulâncias tornaram-se na banda sonora dos nossos dias; as nossas noites são atormentadas por homens adultos que choramingam no sono: “O que é, sentes-te bem?”; “Nada, não é nada, volta a dormir”. Milhares de amigos, parentes e conhecidos seus tossem até cuspir sangue, sozinhos, fora de todas as estatísticas e sem qualquer assistência, nas camas dos seus estúdios decorados por arquitetos de renome.

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Carta de Paris: O imprevisível amanhã | in Carta Maior

Escritores de várias nacionalidades refletem sobre o mundo antes e pós-coronavírus | Por Leneide Duarte-Plon | 25/03/2020

« De quoi demain sera-t-il fait ? » (De que o amanhã será feito ou O que será o amanhã ?) perguntou Victor Hugo num poema. Ele continua : « O homem hoje semeia a causa. Amanhã, Deus faz amadurecer o efeito ».

O filósofo Jacques Derrida e a historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco retomaram a pergunta do poeta, abreviando-a, para intitular o livro « De quoi demain… », em forma de diálogo, lançado na primeira semana de setembro de 2001.

Estimulante e abrangente, o diálogo gira em torno de temas políticos e filosóficos que resumem as interrogações de dois intelectuais sobre o século que se iniciava. A conversa termina com um elogio da psicanálise : somente levando-se em conta o inconsciente e a pulsão de morte podemos compreeder as desordens do mundo e restituir uma sociedade humana onde a abertura aos outros seja uma realidade.

Mas apenas alguns dias depois do lançamento do livro nas livrarias francesas, o 11 de setembro veio provar que o amanhã, de que falou Victor Hugo e sobre o qual se interrogavam Derrida e Roudinesco, é totalmente imprevisível.

Quem poderia prever o que se passou no dia 11 de setembro de 2001 ?

O mundo nunca mais foi o mesmo depois que a potência hegemônica se descobriu vulnerável, em estado de choque.

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Bode Inspiratório | Folhetim | 40 Escritores | 40 Artistas Plásticos

Recomende o Bode Inspiratório.
Contribua para que este folhetim à moda antiga leve a literatura e a arte ainda mais longe. Um capítulo a cada dia, pela mão de 40 escritores. Uma obra a cada dia, pela mão de 40 artistas plásticos. Diferentes gerações e abordagens. Para que fique ao alcance de muitos e a todos possa contagiar, capítulo a capítulo. O vírus lá fora passa, cá dentro a cultura continua.
Siga e recomende.

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ORDEM DOS ENGENHEIROS DE PORTUGAL | MENSAGEM DO BASTONÁRIO | PANDEMIA COVID-19

Caras e caros colegas, 

Como todos saberão, acaba de ser declarado o estado de emergência com fundamento na verificação de uma situação de calamidade pública devido a uma emergência de saúde decorrente do crescimento do número casos originados pela pandemia COVID-19 em território nacional.

Neste momento de invulgar gravidade na história do nosso país, é meu dever dirigir-vos uma palavra de solidariedade, de preocupação, desejando que tudo nos corra da melhor forma.

É já sabido que, independentemente do prazo de tempo em que este regime constitucional de exceção se mantiver, após este período, a pandemia não estará solucionada, pois o que se pretende é fazer decrescer a taxa exponencial do seu crescimento ao evitar a possibilidade de contágio.

Esta é uma obrigação de cada um de nós enquanto atores fulcrais na atividade do país.

Assim, todos temos de estar conscientes da gravidade e da incerteza da situação que, com maior ou menor proximidade, abalará cada um de nós e que terá efeitos devastadores na economia nacional e internacional.

Esta, para além da saúde, também é a minha grande preocupação, pois todos ainda temos na nossa memória as dificuldades e tudo o que passámos durante quase uma década na sequência da crise financeira, situação da qual, em boa verdade, ainda estávamos a sair.

Daí, a minha apreensão com o presente, mas sobretudo com o futuro próximo, quando muitas empresas encerram, quando famílias inteiras estão em risco de perder o seu trabalho, num quadro em que os vínculos precários serão os mais afetados, o que particularmente atingirá os profissionais mais jovens.

A Ordem dos Engenheiros dentro das competências estatutárias que lhe estão atribuídas, estará pronta e disponível para ajudar e apoiar os seus membros.

Como já referi no Comunicado que foi difundido no passado dia 16, a Ordem dos Engenheiros pela responsabilidade que detém na sociedade e enquanto representante de 56.000 profissionais com elevadas competências técnicas, embora condicionadas nesta situação, disponibiliza-se para apoiar o Governo e as demais autoridades no que for considerado de interesse nacional e que contribua para a salvaguarda da saúde pública e para a redução de riscos para a economia.

Também endossamos uma mensagem de agradecimento a todos os profissionais de saúde que tudo têm feito para atenuar as consequências deste nefasto acontecimento global.

Resta-me desejar-vos, o que estendo às vossas famílias, que este período seja curto e sem consequências para aqueles que nos são próximos, e que rapidamente possam voltar a existir condições que permitam a estabilização da economia e dos empregos.

Com estima, envio um fraterno abraço 

Carlos Mineiro Aires | 18-03-2020

Frases sobre a MULHER

A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte. (Oscar Wilde)

Não se ama duas vezes a mesma mulher. (Machado de Assis)

A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem. (John Lennon

PARA LOS QUE PASAN POR AQUI | Ir. Joao De Blas Salamanca (1983)

  • SOLEDAD

¡ Oh Dios !

¡ Qué larga es la noche,

qué triste y callada!

No hay luna que ría

y cubra con luz

el frío del alma.

No hay fuentes que sacien

la sed que me abrasa…

  • LA NOCHE

Por entre las rocas,

perforada el alma,

brotaba un suspiro

que llevaba España.

Muy lejos moría la tarde.

Monótono canto de cigarra

llamaba a la luz

y respondía el alba

Joao De Blas Salamanca | 1983

Somos uma tragédia? Tem dias | Francisco Louçã | in Jornal Expresso

Não sei se o pânico instalado com o coronavírus alterará a agenda do segundo congresso de um pomposo Movimento Europa e Liberdade, que se propõe nada menos do que refundar a direita na Culturgest, hoje mesmo. Seria pena, essa refundação faz tanta falta. Ao que informa o Expresso, a promoção do evento invoca as questões fundamentais da nossa existência coletiva: “Estará Portugal condenado? As novas desigualdades são superáveis? Somos uma tragédia? O Estado de Direito foi capturado pelos interesses? A ditadura do politicamente correto está a destruir-nos? Há saídas?”. O MEL não se limita a questionar, quer abrir soluções e, por isso, lança ainda a pergunta tremenda: “E quem é que protagoniza a alternativa à extrema-esquerda e ao socialismo radical?” Quem se oferece parece que tem que picar o ponto no congresso.
Candidatáveis, são bastantes. Diz-se que Portas, Júdice, Ventura, Cotrim de Figueiredo, o novel líder do CDS, Paulo Mota Pinto e Poiares Maduro abrilhantarão o evento, que os organizadores chamam de “primárias da direita”, sabe-se lá porquê. Mesmo que não conste que vão a votos, ou que apresentem currículos ou sequer propostas, os oradores passear-se-ão por estas “primárias”, que serão pelo menos um evento social, coisa grande quando se pergunta com inquietação se “somos uma tragédia”, claro que tudo por causa da “ditadura do politicamente correto”.
Candidamente, a convocatória repete os refrões brasileiros, nos termos exatos dos bolsominions, desta vez com “Portugal condenado”, a penar uma feroz “ditadura” sob um “socialismo radical”, que até foi ovacionado no dia anterior pelas associações patronais por se dispor a facilitar o lay off no contexto da epidemia. Ora, são linguagens dos dias que correm, quem ligaria a estas “primárias” se elas não prometessem sangue, Europa e liberalismo?

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A Terra é como a bolacha Maria? | Francisco Louçã

Imagine um mundo plano com apenas duas dimensões, Flatland, no qual triângulos, quadrados, pentágonos e outras figuras geométricas vivem e se movimentam. Este mundo é-nos apresentado pelo Quadrado, que um dia sonha que visita um mundo unidimensional, Lineland, que é habitado por pontos brilhantes. Estes não conseguem ver o Quadrado senão como um conjunto de pontos e linhas, e o Quadrado ressente-se desta imagem de si, porque sabe não corresponder ao que é na realidade. E é então que começam os problemas.

Afinal são três

Um dia, Flatland é visitada pela Esfera, uma habitante de Spaceland, um mundo tridimensional. A reação dos habitantes de Flatland foi semelhante à da dos de Lineland. Tal como os pontos brilhantes só conseguiam ver o Quadrado como um conjunto de pontos e linhas, também os habitantes de Flatland só conseguem ver a Esfera como um círculo. A Esfera, orgulhosa da sua tridimensionalidade, salta para cima e para baixo, de modo a que se consiga ver o círculo a expandir e a retrair e fique assim demonstrada a existência de uma terceira dimensão. Os líderes de Flatland reconhecem secretamente a existência da Esfera, mas decidem perseguir os divulgadores da notícia. O Quadrado, convertido à tridimensionalidade, tenta convencer a Esfera da hipótese da existência de uma quarta dimensão, caindo em desgraça aos seus olhos, que são incapazes de ver para além do que percecionam. O Quadrado tem, entretanto, outro sonho, no qual a Esfera o visita e lhe apresenta Pointland, um mundo adimensional composto por um único ponto. Ao contrário de Lineland, Flatland e Spaceland, onde, apesar das tensões e hierarquias, existem sociedades, em Pointland tal não é possível, porque existe apenas um habitante – o rei –, que vive preso num universo confinado a um ponto e acredita ser infinito e a única realidade existente.
Esta é, resumidamente, a deliciosa história de Flatland – O Mundo Plano, uma aventura matemática escrita por Edwin Abbott em 1884, que é um retrato mordaz da sociedade vitoriana, satirizando ditaduras e várias formas de censura, mas onde também explica conceitos físicos e matemáticos complexos.

Entra a bolacha Maria

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El orden natural de las cosas | ARTURO PÉREZ-REVERTE | in ZENDA LIBROS

En el restaurante Martinho de Arcada, mi casa de comidas habitual en Lisboa (allí donde el espía Lorenzo Falcó cena con la vedette Rita Moura tras cargarse a un agente republicano en Alfama), comento con Nuno y Paulo, camareros y amigos desde hace mucho, las cosas que pasan en Portugal, en España y en el mundo. El veterano Nuno, que es pequeño, rubio y simpático, trae un vino del Alentejo estupendo y barato, que yo no conocía, y mientras me lo hace probar cuenta que el alcalde de Oporto acaba de proponer unir a Portugal y España en un solo espacio político. ¿Te imaginas?, dice. Y le digo que sí, que lo imagino. Es la vieja idea de la Unión Ibérica de Garret, Saramago, Maragall y Unamuno, que resucita de vez en cuando, o tal vez nunca muere. Sesenta millones de personas y dos economías coordinadas. Lo que seríamos juntos. Un sueño maravilloso e imposible.

Algo más tarde, mientras paseo por la Baixa esquivando turistas anglosajones y japoneses, sigo dándole vueltas, pues me acuerdo de España y Portugal juntos como parte da orden natural das coisasque decía Teófilo Braga, o del somos hispanos, e devemos chamar hispanos a quantos habitamos a Península hispânica de Almeida Garret. Y, bueno. Es difícil no hacerlo, cuando pienso en el poco peso de Portugal y España en las decisiones que se toman en Bruselas, donde los españoles somos con harta frecuencia el hazmerreír de Europa; en el detalle de que los dos idiomas tengan una similitud léxica del 89%; en que la economía de los países que hablan español y portugués represente un 14% del PIB mundial, y en el hecho encuestado de que casi la mitad de los españoles y más de la mitad de los portugueses verían con buenos ojos una unión ibérica de tipo confederal: una asociación coordinada y fuerte, como el Benelux con que Bélgica, Holanda y Luxemburgo fundaron lo que luego sería Comunidad Económica Europea.

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Um Homem Só | Maria Helena Ventura

SINOPSE DE “UM HOMEM SÓ”

Cumpriu a itinerância de gerações do seu povo, aprendizes dos caminhos da Luz pelas províncias imperiais. Tornou-se adulto entre mercadores, ascetas, homens da lei.

Um dia chegou ao politeúma de Alexandria. Hábil no domínio da palavra, disciplinado por conhecimentos acumulados nas andanças de anos, ganhou o estatuto de rabbi.

Mas o Homem solitário, habituado a cruzar fronteiras físicas e culturais, aprendeu ainda a sabedoria dos terapeutas, praticando o silêncio introspectivo na busca do entendimento da natureza humana em todas as suas dimensões. Percebendo a origem do sofrimento, estava apto a praticar a cura.

A resistência na Diáspora reparou nele. Poderia ser o líder nominal que esperavam? Para pegar em armas o movimento zelote tinha operacionais bem treinados. E aproveitando o chamamento do pai, também ele um destacado membro dos Filhos da Luz, os líderes das comunidades judaicas no Egipto arquitectaram um plano articulado com a resistência dentro da Judeia.

O rabbi estava disposto a regressar à pátria para rever o pai moribundo, para levar palavras de incentivo aos que lutavam pela libertação dos povos. Mas os da Diáspora sabiam que à chegada Yosêph bar Ya´aqôb teria para ele uma missão mais difícil de aceitar.

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Como é possível à gente da minha terra “quaresmar”? | José Alberto Catarino

Como é possível à gente da minha terra – Cardigos (Mação) “quaresmar”?

A gente vai de passagem pela sede de freguesia (Cardigos), entra num estabelecimento comercial “ao acaso”, para cumprimentar um familiar, e sai carregado de pecados mortais (qual Quaresma qual carapuça):
1) – a melhor morcela do país, ali do lado, de Vale da Urra – (Vila de Rei) boa. Boa boa boa … daquelas que sabem verdadeiramente a cominhos!
2) – uma farinheira de “cair para o lado” feita mesmo ali em Cardigos. Comer e chorar por mais (na dúvida compram-se várias para não ter de ficar a chorar por mais).
3) – o pão de Cardigos. Verdadeiro “pecado mortal” (sempre que eu dizia às minhas doentes que eu era de Cardigos vinha sempre a mesma resposta: “Ah, é a terra do meu padeiro!”). Este pão não é carne, mas não deixa de ser pecaminoso porque atrai a gula (a gente ouve o pão a chamar pela manteiga … pelas azeitonas … a gritar; “transformem-me em açorda!”
4) – e quando pensamos que o demo larga por ali do nosso pé … aparecem as tijeladas de Abrantes (agora já feitas ali ao lado, no Azinhal). E ficamos com pecados suficientes para esgotarmos as hipóteses de ainda pensar no Purgatório. É direitinhos ao Inferno.
– ( só faltou um plangaio de Proença-a-Nova, mas esses há 50 anos que não lhes ponho o dente em cima …

Abençoada terrinha!

Zalberto Catarino

Retirado do Facebook ! Mural de Zalberto Catarino

A qualidade global do SNS – Serviço Nacional de Saúde | António Ribeiro

Há quem ponha em causa a qualidade global do SNS a propósito do Coronavirus. Mas uma observação atenta da realidade desmente essa crítica, que é politicamente enviesada e ideologicamente preconceituosa. A abordagem ao surto tem sido eficaz e, acima de tudo, não discriminatória. É fácil criticar, mas este é um país pobre onde muitíssima gente nem sequer contribui para aquilo que consome no SNS. Aliás, o nosso SNS dá excelentes respostas à paridade do poder de compra europeu. Isto é, mal-grado os inevitáveis descontentamentos, alguns justificados, temos muito mais out-puts em termos de resultados do que in-puts para o Serviço. Em matéria de Saúde, Portugal é uma espécie de Escandinávia com pouco dinheiro, mas que funciona. Os adeptos do “antigamente” deviam recordar as antigas “Caixas” e a forma como se morria nos hospitais. Não havia tratamentos adequados, mas morria-se com o consolo de um crucifixo por cima da cama, sem biombo nem coisa nenhuma que resguardasse a privacidade. Tenham algum discernimento nessa análise negativa, porque as pessoas que iam à Caixa eram muito mal tratadas e não voltavam de lá para casa num Mercedes. Ou já se esqueceram de como morreram os vossos Avós. Uma coisa que me irrita neste país é que anda muita gente a fingir que a família era rica há 200 anos. Veneram os antepassados, mas muitos nem sabem quem eram, ou como viviam

António Ribeiro

Retirado do Facebook | Mural de António Ribeiro

AEROPORTO no MONTIJO ou ALCOCHETE | a opção cega e incoerente – ou a opção inteligente e sustentável? | Mário Baleizão Jr.

Discute-se ao longo de 50 anos a construção do novo Aeroporto de Lisboa e a última intenção é a Base Aérea N.º 6 do Montijo, situada no Samouco.
É triste que, ao fim de tantos anos, a escolha seja a pior possível, a mais incoerente, a mais prejudicial, a mais insegura e a mais insustentável.

Para não pensarem que eu sou “do contra”, vejamos as vantagens de construir o novo Aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete:
1 – O campo de tiro de Alcochete é uma zona plana, rodeada de terrenos agrícolas, com muitas poucas habitações e logo mais segura para os voos e para a população.
2 – Por ser uma zona livre, a construção na envolvente do campo de tiro de Alcochete pode ser condicionada, a fim de evitar o urbanismo não planeado e a insegurança no local.
3 – O campo de Tiro de Alcochete fica logo a seguir à ponte Vasco da Gama, só que em vez de se virar à direita para o Montijo, vira-se à esquerda na direcção de Alcochete e Samora Correia e é muito próximo (a cerca de 10 Km das portagens).
4 – O campo de tiro de Alcochete já tem uma pista de aviação (aproximadamente a meio do campo e transversalmente ao mesmo), o que prova que é o local ideal para levantar voo e aterrar.
5 – O campo de tiro de Alcochete, pela actividade militar no mesmo (tiros e ruído), não tem aves próximo, não são precisas medidas especiais de protecção a aves e as aves não são um risco de segurança grave, se entrarem numa turbina e explodirem um motor do avião.
6 – A construção do Aeroporto no campo de tiro de Alcochete não coloca em risco as dezenas de espécies de aves e mamíferos que habitam e nidificam na zona de Reserva Natural do Estuário do Tejo.
7 – Os acessos ao campo de Tiro de Alcochete não precisam de estradas novas, nem de portagens novas.
8 – Quando foi da opção da Aeroporto na OTA, o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) deu como alternativa viável o Aeroporto no campo de Tiro de Alcochete.

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A solução aeroportuária de Lisboa: do Contrato de Concessão à situação atual | Carlos Matias Ramos in Jornal Público | 05/03/2020

Tenho solicitado repetidamente os estudos e projetos que sustentam as afirmações do Governo e da ANA/Vinci que pretendem justificar técnica e economicamente a solução Montijo. Nunca os recebi.

Num artigo recentemente publicado pelo jornal PÚBLICO, o senhor secretário de Estado adjunto e das Comunicações (SEAC) escreveu, e passo a citar: “À nossa geração, agora, cabe a responsabilidade e o risco de fazer. E a ousadia de fazermos bem. Com os melhores dados da ciência e da técnica.” Muito gostaria que assim fosse, mas não tem sido. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e a posterior e consequente Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) são um exemplo bem demonstrativo da deficiente utilização dos dados da ciência e da técnica.

Em relação à AIA, que contém omissões importantes, identificadas em documentos apresentados no âmbito da Consulta Pública, a simples afirmação do Governo de que não havia “plano B” feriu de morte a credibilização de todo o processo. Cito apenas a componente das aves. Num artigo do PÚBLICO de 20 de fevereiro, um investigador da Universidade de Aveiro rebate as afirmações de bem fazer, salientando que estudos científicos comprovam que as aves limícolas que frequentam o estuário do Tejo, estimadas em cerca de 200.000, são extremamente fiéis aos locais que usam diariamente. Esta abordagem põe em causa a proposta do EIA que apresenta como solução a deslocalização dessas aves para zonas marcadas. Quais são os exemplos com sucesso na aplicação desta metodologia? O EIA, ao referir a escassez de dados de campo, justifica a não apresentação da análise de risco de colisão de aves com aeronaves. Propõe o desenvolvimento de estudos por um período de pelo menos um ano. Passado um ano é que esse estudo será conclusivo? E se for desfavorável, as obras param e a solução Montijo é abandonada? Quem suporta os custos desta eventual situação? O Estado? O operador aeroportuário?

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A espiritualidade é palpável | MARIA ANTÓNIA JARDIM

Uma leitura hermenêutica e simbólica

É preciso ir além da superficialidade e fazer uma leitura hermenêutica / simbólica do conceito “espiritualidade” para perceber que a espiritualidade, tal como o sonho, é algo concreto e definido como outra coisa qualquer ( António Gedeão: Pedra Filosofal). Vejamos.

Em primeiro lugar é urgente compreender que “Somos um Corpo”. O corpo é o templo da alma e do espírito que o habitam e portanto o bem ou o mal fazer passam pela acção, pela sua voz, pelas suas mãos…A espiritualidade do Ser Humano exprime-se em actos, actos de fala, gestuais, afectivos, artísticos.

Materializa-se cada vez que o Mundo “pula e avança”, com a imaginação, com a Nona Sinfonia de Beethoven ou com a Última Ceia de Da Vinci; com revoluções de consciência, com “batalhas” que se travam dentro do nosso corpo, corpo afectivo, erótico (note-se que o corpo faz-se a beijar…), com todos os nossos Eus, pois Somos Seres plurais, já nos ensinou o grande psicólogo / escritor Fernando Pessoa!

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A corrupção, a política e a demagogia | Carlos Esperança

Quando alguém afirma que “todos os políticos são corruptos”, interrogo-me se esse alguém é ignorante, fascista ou pretende, apenas, gritar as frustrações e dizer que, ao contrário de ‘todos os políticos’, (ele ou ela) não é ou não pode.

Cinco anos de ditadura militar e 43 de fascismo deixaram marcas indeléveis na nossa sociedade. A raiva contra os políticos é a herança transitada por má fé ou ignorância, de geração em geração, como se os políticos fossem menos honrados do que o comum dos cidadãos e as generalizações não fossem a revelação da indigência intelectual e cívica que habita um país cujas causas do atraso foram magistralmente analisadas por Antero de Quental na conferência sobre «As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares».

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