Morre em São Petersburgo o professor Vadim Kopyl, diretor do Centro Lusófono Camões, que coordenou a publicação de obras de vários autores portugueses e brasileiros.
I Vítima de uma bronquite, faleceu, dia 30 de janeiro de 2023, o professor Vadim Kopyl Alekseevich (1941-2023), doutor em Filologia Românica e diretor do Centro Lusófono Camões, da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, entidade voltada para o ensino da Língua Portuguesa e que tem publicado vários livros de autores portugueses e brasileiros em russo. As obras facilitam o aprendizado tanto de alunos russos como de lusófonos, pois trazem uma página em português seguida de outra com o mesmo texto em russo. Criado por empenho do professor Kopyl, o Centro Lusófono Camões foi inaugurado a 16 de junho de 1999, em ato prestigiado pelo embaixador de Portugal, José Luís Gomes, e pela embaixadora do Brasil, Teresa Maria Machado Quintella, e passou a funcionar dentro do campus da Universidade Hertzen, que é formado por vários palácios adaptados às necessidades de ensino, no centro histórico de São Petersburgo.
ESPINOSA E LEIBNIZ chega na próxima semana às livrarias, editado pela Caminho. Recorde-se que o Historiador António Borges Coelho recebeu recentemente o Prémio Rodrigues Sampaio, da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Sobre o livro Os filósofos movimentam-se no mundo dos conceitos e das doutrinas. «Complexo de doutrinas universais.» É deste modo que Leibniz caracteriza a Filosofia. Olha as coisas do ângulo da Eternidade e do Todo. E dessas alturas como cantou Lucrécio, como que se apagam o tempo, a mudança, o particular. Certamente também o tempo e a mudança são categorias filosóficas mas despidas já da carga terrena dos acontecimentos, despidos da multiplicidade nunca inteiramente classificável do concreto. Desculpem-me se abro demasiadamente a porta do concreto, se não consigo, preso pelos singulares da História, passar o umbral da visão subspecie aeternitatis de que falava Espinosa (de seus nomes, Baruch, Beneditus, Bento de Espinosa, Bento de Spinosa, B. de S.), para quem «a liberdade da Filosofia […] não pode ser abolida sem se abolir ao mesmo tempo a paz do Estado e a própria Piedade».
Obra reconstitui a trajetória de um ex-professor da Universidade de São Paulo que se destacou no estudo da comunidade judaica
SÃO PAULO – Para assinalar a passagem do centenário de nascimento do sociólogo Henrique Rattner (1923-2011), o jornalista Jair Rattner (1960), seu filho, acaba de lançar o livro Sob as asas da fala e da escrita: histórias da vida de Henrique Rattner (Lisboa, edição de autor, 2023), obra que reconstitui a trajetória de um intelectual que marcou sua atuação como professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). A cerimônia de lançamento está marcada para o dia 5 de fevereiro, domingo, às 15 horas, no Plenário (salão de reuniões da diretoria), no primeiro andar, no Clube Hebraica, localizado à Rua Hungria, 1000, no bairro de Pinheiros, em São Paulo-SP. O lançamento da obra coincide com o dia do nascimento do professor e deverá atrair não só alunos e ex-alunos da USP como jornalistas e intelectuais de todo o País. Escrito em estilo memorialístico, o livro reconstitui a trajetória de vida do professor, que, nascido em Viena em meio a uma comunidade judaica, imigrou para o Brasil em 1951 e, com muito esforço, chegou ao título de livre-docente na FFLCH/USP, ao mesmo tempo em que atuava como pesquisador e dava aulas de Sociologia na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), sem deixar de trabalhar, de 1955 a 1967 , no Lar das Crianças, instituição da Congregação Israelita Paulista.
O Município da Póvoa de Varzim vai promover, entre os dias 14 e 18 de fevereiro, a 24.ª edição do Correntes d’Escritas. O evento foi hoje apresentado pelo Presidente da Câmara Municipal, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
Aires Pereira revelou que o Correntes d’Escritas vai trazer à Póvoa de Varzim cerca de uma centena de escritores de 15 nacionalidades e diferentes geografias de línguas hispânicas e portuguesas, sendo 18 os escritores que se estreiam aqui pela primeira vez.De 15 a 18 de fevereiro, serão realizadas 10 mesas na Sala Principal do Cine-Teatro Garrett e no dia 20 teremos mais uma, no Instituto Cervantes, em Lisboa. Todas as mesas têm como tema versos de poemas de Ana Luísa Amaral, uma das presenças assíduas do Encontro que nos deixou, precocemente, no final do ano passado.Nesta edição será ainda homenageado Manuel Rui, a quem é dedicada a 22.ª edição da Revista Correntes d’Escritas. O escritor angolano, de 81 anos, é presença assídua e figura incontornável do encontro desde a sua génese. O lançamento da revista decorrerá, como habitualmente, na Cerimónia de Abertura, a 15 de fevereiro, no Casino da Póvoa, onde é feito o anúncio dos vencedores dos quatro prémios literários. Neste mesmo dia, no Cine-Teatro Garrett, terá lugar a Conferência de Abertura, que será proferida por Manuel Sobrinho Simões, professor catedrático e diretor do Departamento de Patologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, subordinada ao tema “Ciência e Cultura”.De entre os 37 lançamentos de livros, destaque para as edições municipais D’ Escritas 1 Dia II, que resulta da residência realizada por 16 autores em diferentes espaços da nossa cidade em 2020, e Casa Vazia, resultante da experiência de 8 autores, em confinamento, em 2021.Uma vez mais, o Município fará questão que as Correntes Itinerantes percorram várias freguesias do nosso concelho e também marquem presença nas nossas escolas.Desde 2000 que o Correntes d’Escritas se assume como a verdadeira festa do livro, democratizando o acesso à cultura através da participação livre em todas as iniciativas que integram o programa, quer seja nas Mesas, nos lançamentos de livros, nas conversas, nas exposições, no cinema ou nos espetáculos musicais.
Romance infantojuvenil de Silas Corrêa Leite conta a aventura de um jovem marginalizado no mundo da ficção científica
I Em nova experiência no gênero romance infantojuvenil, Silas Corrêa Leite (1952) apresenta A Coisa: muito além do coração selvagem da vida (São Paulo, Editora Cajuína, 2021), que conta a trajetória de um adolescente revoltado com a difícil vida que leva numa das zonas periféricas da grande cidade de São Paulo e procura fugir de casa para embrenhar-se no mundo. Abandonado pelos pais, decide largar-se sozinho a pé, com seu skate, pela Serra do Mar em busca das praias do Litoral paulista. E, assim, passa a viver uma vida de andarilho e a sobreviver do que a floresta lhe podia oferecer como alimento, ou seja, água, peixes, frutas e animais silvestres, até que, um dia, acaba por descobrir, no meio da mata, um objeto enorme não identificado, a que passa a chamar de A Coisa, ou seja, um aparelho estranho que soltava sons igualmente inidentificáveis, ou seja, provavelmente um veículo extraterrestre.
Nasceu há 100 anos, na Póvoa de Atalaia, Fundão, mas radicou-se no Porto onde viveu quase toda a sua vida.
Identificou-se profundamente com a cidade, mas nunca renegou a sua ligação íntima com o mundo rural onde foi criado. Era – É – o poeta do corpo, da terra, do amor.
Apesar de nos ter deixado fisicamente em 2005, mantém, por isso, uma presença indelével.
Coletânea reconstitui os primeiros passos da criação do grupo Picaré e traz depoimentos e poemas dos participantes
I Para assinalar a passagem da quarta década da aparição de um movimento literário e artístico que marcou época não apenas no Litoral paulista mas em boa parte do Estado e até do País, o poeta Raul Christiano organizou a Coletânea Picaré – 40 anos de Poesia & Artes (Santos, Realejo Livros, 2022), que, além de uma longa introdução que contextualiza o surgimento daquele grupo, traz depoimentos e peças poéticas de 38 dos 57 ativistas que fizeram parte daquela multiação literária. Ativista cultural, Christiano foi, em 1979, ao lado de Rafael Marques Ferreira, à época recém-ingressados na Faculdade de Comunicação (Facos) da Universidade Católica de Santos (UniSantos), um dos fundadores do grupo Picaré, que encerrou suas atividades em 1983, e um dos participantes ativos das chamadas gerações do mimeógrafo e da poesia marginal nos anos 1970 e 1980. Como observa Christiano na introdução, o movimento Picaré tentou romper com o academicismo, sem deixar de manter uma política de boa vizinhança com escritores e entidades literárias já estabelecidas. Não se pode esquecer que, à época, o Brasil vivia sob os rigores de uma ditadura militar (1964-1985), marcada pela repressão às liberdades democráticas, com censura, perseguição política, torturas e mortes, inclusive com a presença disfarçada de agentes dos órgãos repressores nas salas de aulas da Facos. Mas, ao mesmo tempo, aquela seria uma época de muit a curtição e desbunde, especialmente em São Paulo, a partir da ação de jovens que fizeram das pichações e grafites o espaço para as suas manifestações artísticas e políticas.
“O problema que há hoje na Europa, em Espanha e em Portugal é que estão a apagar a História dos planos curriculares dos jovens, e estes crescem sem saber História. Se não se conhece a História, não se tem ferramentas para se conhecer o presente. Somos o que somos porque fomos o que fomos no passado, e Espanha e Portugal não se explicam sem todos esses séculos de memória. Não ensinar a História aos jovens, não os levar a museus onde vejam quadros, a origem de onde tudo vem, é condená-los à orfandade, e, quando alguém é órfão, qualquer um pode dizer que é seu pai, é esse o perigo. Um órfão é muito manipulável. Estamos a criar gerações de órfãos, e isso é muito triste e muito perigoso.”
Como bem disse ontem a minha muy estimada editora, Maria Do Rosário Pedreira, devia estar ocupado do meu próximo romance e dos vindouros, no lugar de gastar tempo e engenharia a criar posts. Acontece que estes posts nascem num ápice, são quase escrita automática, e mesmo quando me ponho a jeito de censores e púdicos, se os temas abordados chocalham os badalos, as mamas e os intestinos, não há espiga. Escrever, tal como uma prática oratória, é sacudir, é agitar as águas chocas do charco, é animar a criança interna, é remeter os leitores para as interrogações de quem está por detrás da prosa, poema ou post. Já agora, se não for pedir muito, comprem os meus livros. São 17 editados e mais um no prelo. Este. Aceitam-se encomendas.
Conhecida como ícone feminista, Simone de Beauvoir foi escritora, ativista, professora, socióloga e filósofa (apesar de nunca se ter considerado como tal). Tendo escrito sobre os mais variados assuntos, desde romances a ensaios, é pelo livro O Segundo Sexo, um verdadeiro tratado sobre a condição da mulher ao longo da História, que é mais conhecida. Neste, escreveu uma das suas ideias mais célebres, marcada pela sua teoria existencialista de que a existência antecede a essência: Não se nasce mulher, torna-se mulher.
Filho de Simão Vaz de Camões, e Ana de Sá, da pequena nobreza, Luís Vaz de Camões nasceu em Lisboa por volta de 1524, e era descendente de Vasco Pires de Camões, um trovador galego, guerreiro e fidalgo, que se mudara para Portugal em 1370. Camões teve uma boa e sólida educação, e ainda jovem teria recebido um sólida educação nos moldes clássicos da época, dominando latim, literatura e história e tendo recebido grande parte da sua formação na Universidade de Coimbra.
Camões era um conhecido boémio frequentador da corte de D. João III, onde era reconhecido como poeta lírico, enquanto ao mesmo tempo se envolvia, segundo a tradição, em amores com damas da nobreza e, possivelmente, plebeias também, pois a sua vida boémia levava-o a frequentar frequentemente as tavernas de Lisboa. Reza a história que por conta de amor frustrado, autoexilou-se no Norte de África, alistando-se como soldado em Ceuta onde ficou dois anos e onde perdeu o olho direito numa batalha.
Posteriormente decide partir para a India, comprovado por um documento datado de 1550 em que o dá como alistado para viajar: “Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na Mouraria; escudeiro, de 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador a seu pai; vai na nau de S. Pedro dos Burgaleses… entre os homens de armas”.
Dado o sucesso lúdico do último assunto – o pénis – por justiça antónima trago hoje à liça o cunos, também conhecido por cona, ou ainda fenda, vulva ou greta, que tem o seu garbo. Há um autor inultrapassável que discreteou com elegância e humor de uma estirpe clássica sobre vários tipos de conas imaginárias, de sua graça Juan Manuel de Prada. Perante ele me vergo apondo somente uma breve reflexão sobre a íntima unidade da mulher.
A meio das suas reflexões inauditas (por exemplo, o capítulo sobre as conas das mulheres sonâmbulas) entendeu Juan (justamente) descrever a cona da sua namorada. Não o farei exaustivamente, como o fez o autor basco, por respeito à sua dona, dizendo apenas que quem vê caras poderá ver conas, se tiver olho para isso. É como o tamanho e espessura do polegar masculino, que dita a envergadura e formato do dito.
Interessam-me as redundâncias das conas e as suas infinitas possibilidades. A cona, a quem os exegetas das mulheres chamam o mais belo dos moluscos, sendo o clitóris o berbigão, é um mundo aquático. Talvez aqui resida a sua maior dádiva, permitindo, como a natação, inúmeras variantes encorpadas. Entre o boiar e a mariposa, o mergulho encarpado e a remada de bruços, há todo um manancial de formas de a abordar.
O pénis e a cona juntos, na justa e devida medida do encaixe habilitado, são como a harmonia dos corpos celestes. Não se pode ser demasiado macho a abordar uma cona, tal como não deve uma mulher (resumindo este micro ensaio ao campo heterossexual) tratar o pénis com ímpetos de lenhadora. Para asseverar da importância da cona no território da felicidade conta-se a história de um anão adulto que gritou alto a palavra CONA no meio de uma tribuna de crianças a quem pediam um vocábulo sinónimo de alegria, celebrando assim o seu entusiasmo pela felicidade de estar vivo, apesar da sua baixa condição. O anão tinha-se escapado para o meio do coro infantil durante uma visita presidencial e face à interrogação requerida ditou o que lhe ia na alma. Como um amante feliz.
I Um romance histórico que tem como pano de fundo a Guerra do Paraguai (1864-1870), o maior conflito armado ocorrido na América Latina, mas que não toma partido nem exalta possíveis feitos heroicos ou extraordinários, limitando-se a reconstituir personagens anônimos, sentimentos e fatos provocados por desejo, ódio e amor. Tudo isso é o que o leitor irá encontrar em A Pele doSoldado (Rio de Janeiro, Editora Mauad X, 2022), o mais recente livro do arquiteto e professor universitário Helio Brasil (1931), dono de uma obra literária que começou a ser publicada tarde, quando o autor já tinha 64 anos, mas que começa a se tornar vasta e significativa, seguindo um caminho semelhante ao do memorialista mineiro Pedro Nava (1903-1984), que começou a publicar quando já estava com 69 anos, e da poeta goiana Cora Coralina (1889-1985), que estreou em livro aos 65 anos.
I Depois de lançar, em 2020, O que devíamos ter feito, contos (Editora Patuá), o romancista, contista, poeta e crítico literário Whisner Fraga (1971) chega ao seu décimo-segundo livro com Usufruto de demônios (Ofícios Terrestres Edições, 2022), em que se mantém fiel ao gênero, depois de experiências bem-sucedidas em outras modalidades textuais. A obra, composta por 64 narrativas curtas, a maioria com menos de uma página, todas escritas em letra minúscula, mas com uma linguagem sensível e poética, é uma das primeiras a ter como pano de fundo o trágico período da pandemia de coronavírus (covid-19) em que estão presentes “o horror, o negacionismo, o isolamento social e a perplexidade ante o cinismo fascista”, como observa o poeta, professor e crítico literário Gabriel Morais Medeiros, mestre em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no posfácio que escreveu para este livro. Como já ressaltou o jornalista e escritor Hugo Almeida, nesta coletânea, “atravessa os contos um sopro de revolta, por vezes recheada de candura”, mas sem deixar de manifestar o inconformismo diante da indiferença e do deboche dirigido aos mortos pelas autoridades da época, especialmente o principal mandatário, que sempre ficou indiferente ao genocídio que ocorria com a proliferação da peste e a falta de vacinas e pronto-atendimento às vítimas, como se lê na narrativa que leva por título “ele acompanha aviões”: “(…) é como se setecentas mil pessoas tivessem sido apagadas – e se fossem vinte boeing deletados de suas rotas, em um único dia?, cadentes, se tornassem quebra-cabeças em pastos?, será que assim eles se comoveriam?”
Nelida Pinon at Nantes 2013
1st May 2013
Picture by Mathieu Bourgois/Writer Pictures
NO FRANCE
Nélida Piñon, nascida no Rio de Janeiro numa família originária da Galiza, faleceu hoje em Lisboa, no Hospital CUF Descobertas.
Autora amada por nós, seus editores há mais de duas décadas, é considerada um ícone da grande literatura de língua portuguesa, internacionalmente reconhecida e premiada.
Expoente máximo da literatura brasileira que escreveu de um modo fulgurante, expressando os sonhos de todo o Brasil e as grandes questões da literatura com a cultura e a sociedade.
Humanista, generosa, interventiva, uma artista do pensamento, teve uma voz firme contra a censura e a ditadura no Brasil. Feminista, afrontou com coragem os modelos tradicionais, celebrando e escrevendo a liberdade de pensar.
“Câmara Escuro” reúne 65 peças que reafirmam a maturidade poética do autor
I Depois de alguns anos sem publicar livros de poesia, Moacir Amâncio reaparece com Câmara Escuro (São Paulo, Editora Hedra, 2022), que reúne 65 poemas que reafirmam a sua maturidade poética e mostram que, “às vezes, precisamos baixar os olhos para ver, e de pequenos deslocamentos para achar um outro modo de estar onde estamos”, como observa Roberto Zular, professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), no texto de capa que escreveu para este livro. E acrescenta: “Um livro que, enfim, faz das sombras um mote para redimensionar o caminho da iluminação”. De fato, o leitor não vai encontrar aqui poemas que possam servir de exemplo perfeito para o conceito estabelecido pelo professor Massaud Moisés (1928-2018) segundo o qual a poesia é a expressão do “eu” por meio de metáforas, como aquela famosa frase de Fernando Pessoa (1888-1935) em que o poeta contempla o silêncio feminino e nele descortina uma nau: “o teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas”. Nestes poemas curtos, que não se confundem com haicais, a metáfora literária tem objetivo estético, procurando reproduzir beleza ou emoção estética. Ou seja, as palavras procuram reproduzir, através de uma figura de linguagem, fenômenos provocados por uma condição neurológica, estabelecendo uma experiência sinestésica, que se dá por via sensorial ou cognitiva.
Deixa-me ser a tua amiga, Amor; A tua amiga só, já que não queres Que pelo teu amor seja a melhor A mais triste de todas as mulheres. Que só, de ti, me venha mágoa e dor O que me importa a mim?! O que quiseres É sempre um sonho bom! Seja o que for, Bendito sejas tu por mo dizeres!
Beija-me as mãos, Amor, devagarinho… Como se os dois nascêssemos irmãos, Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho…
Beija-mas bem!… Que fantasia louca Guardar assim, fechados, nestas mãos Os beijos que sonhei pra minha boca!…
Obra reconstitui trajetória do vate espanhol em périplo poético que soa como uma conversa íntima com o espírito do poeta
I Uma ode formada por versos inspirados na vida e na obra do poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936) é o que o leitor irá encontrar no livro mais recente da dramaturga, poeta e ensaísta portuguesa Maria Estela Guedes, que acaba de sair pela Editora Urutau, estabelecida no Barreiro, em Setúbal, do lado de lá do rio Tejo, em Portugal, e em Cotia, no Estado de São Paulo, no Brasil. Com capa que reproduz desenho do próprio poeta, a obra Conversas com Federico García Lorca traz 107 poemas que procuram reconstituir a breve e fulgurante trajetória do vate que seria interrompida com o seu fuzilamento por hordas direitist as comandadas pelo general Francisco Franco (1892-1975). Lenda em vida, e ainda longe da idade madura, Lorca já era à época um ícone daquela que, mais tarde, viria a ser definida como a geração de 27, que incluía, entre outros, Pedro Salinas (1891-1951), Jorge Guillén (1893-1984), Rafael Alberti (1902-1999), Vicente Aleixandre (1898-1984) e Luis Cernuda (1902-1963), ainda que não constituísse um grupo movido por qualquer motivação histórica ou influxo literário ou mesmo por um líder.
«1640» é o título do que considero o meu principal romance, que me levou 13 anos a fazer, embora alternando com outros de mais fácil construção. É a data em que os portugueses dos três Estados – povo, clero e nobreza – se revoltaram contra o governo dos burocratas, a mando de um Rei estrangeiro (D. Filipe IV de Espanha),, que os humilhava e esmagava, e soltaram o grito de liberdade, elegendo um Rei português, Dom João IV, para tomar o destino do país nas suas mãos, defendê-lo dos predadores e fazê-lo sair da crise pelos seus próprios meios. A acção decorre num período de cinquenta anos (1617-1667), riquíssimo em acontecimentos, dramas e personagens, num Portugal esgotado que tentava desesperadamente sobreviver como país independente, acossado por nações inimigas – a Espanha e as suas aliadas –, mas também pelas «amigas» de longa data, como a Inglaterra e a França, que impuseram condições esmagadoras em troca da sua ajuda.
Para investigar a vida de Bocage em suas minúcias, Adelto Gonçalves percorreu todas as biografias e estudos importantes sobre o autor.
I
“Bocage, alistado na Marinha, cursou a respectiva Academia, embarcou para a Índia, foi boêmio no Rio de Janeiro, passou três anos em Goa e Damão, desertou fugindo para Macau, regressou a Lisboa, onde a vida livre e as sátiras o atiraram para a prisão e o hospício. Morreu doente e pobre, traduzindo nos seus versos a sua vida e o seu tempo”. Essa síntese da vida de Bocage (1765-1805), feita no prefácio de Bocage, o Perfil Perdido pelo professor catedrático de Literatura da Universidade de Lisboa, Fernando Cristóvão, bem caberia em similaridade àquela feita por Nabokov sobre um personagem no início de seu romance Gargalhada na escuridão, em relação à qual o escritor russo acrescenta: “Eis aí toda a história, e bem poderíamos abandoná-la neste ponto, se não houvesse vantagem e prazer em contá-la. Embora haja espaço mais do que suficiente numa pedra tumular para conter, encadernada em musgo, a versão re sumida da vida de um homem, os pormenores são sempre bem recebidos”. É o que faz o professor e escritor Adelto Gonçalves ao investigar a vida de Bocage em suas minúcias, percorrendo todas as biografias e estudos importantes sobre o autor, cotejando e contrapondo-os às suas novas descobertas e correções oriundas de exaustivas pesquisas em arquivos e fontes primárias como trabalho de pós-doutoramento na Universidade de São Paulo (USP), que teve sua primeira edição em 2003, em Portugal, pela Editorial Caminho, de Lisboa, e que agora sai em nova edição, com excelente projeto gráfico e ilustrações, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. A vida do poeta português, propagandeada pelo senso comum como “agitada e de boemia” em geral para promover seleções mais vendáveis de sua poética, se decompõe nessa biografia quando a acompanhamos inserida em detalhes na sociedade da sua época histórica e cultural que, agitada e contraditória, se expressa na obra de Bocage transitando do neoclassicismo das Arcádias aos primeiros momentos do romantismo.
Em novo livro, autor recolhe flagrantes da história oral vivida nas favelas de São Paulo
I Quem já percorreu os labirintos dos arquivos públicos sabe que a documentação, majoritariamente, reflete a posição das classes dominantes e de seus lacaios. Por isso, quando um dos deserdados da terra consegue fazer com que ouçam sua voz esse acontecimento torna-se motivo de regozijo. Foi o caso de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), catadora de papéis que vivia numa favela do Canindé, em São Paulo, que ficou conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960, com auxílio do jornalista Audálio Dantas (1929-2018), obra traduzida para 14 idiomas.
Nessa linhagem, o poeta, romancista e contista Silas Corrêa Leite (1952), de origem humilde, também é uma espécie de deserdado da terra que encontrou na literatura uma forma de fazer com que a voz dos excluídos seja ouvida. Começou sua vida profissional cedo, tendo sido aprendiz de marceneiro e garçom em Itararé, cidade na divisa entre os Estados de São Paulo e Paraná, além de engraxate, boia-fria e vendedor de doce de groselha. Começou a escrever aos 16 anos, passando a produzir crônicas para o jornal O Guarani. E logo foi aprovado num concurso para locutor na Rádio Clube local. Em 1970, migrou para São Paulo, onde morou em pensões, cortiços, passou fome e dormiu na rua. Já empregado, formou-se em Direito e Geografia, sendo especialista em Educação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, além de ter cursado pós-graduações nas áreas de Educação, Filosofia, Inteligência Emocional, Jornalismo Comunitário e Literatura na Comunicação, curso este que fez na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).
Ao contrário das ciências, a filosofia não é definida por um objecto nem por um método. Na verdade, revela-se parcialmente nessa diferença. Para a filosofia, o seu método, em vez de ponto de partida, é questão e resposta a que se chega em cada proposta original. E o seu objecto pode ser qualquer um, nada havendo no real reconhecível que se possa dizer à partida filosoficamente inapropriado. Desde que a fenomenologia tomou um cocktail de apricot sorvido à mesa de uma esplanada entre amigos e o tomou com um bom tema de reflexão fenomenológica, nem o mais mundano no mundo desinteressa à filosofia. Como tudo pode ser arte, tudo pode ser filosofia.
Levada a sério a radicalidade bem-querida do seu questionar, a filosofia tem necessariamente de se fazer parte questionada. Por princípio, a pergunta “o que é a filosofia?” é uma pergunta filosófica e filosoficamente incontornável. O que torna a filosofia uma noção aberta e que não se deixa enquadrar. Além disso, uma noção contingente, que depende do acontecimento intelectual de se pôr em questão. Mas, tudo isto faz parte da própria indefinição que caracteriza, de forma necessariamente contingente, a filosofia.
E, contudo, a contingência história perturba a filosofia. Por exemplo, na sua Introdução à Antifilosofia (2009), Boris Groys escreveu que a filosofia é raramente praticada neste tempo de hoje, em que prevalece um saturado mercado de verdades. Como tudo passou a poder ser arte, também tudo passou a poder ser filosofia. O que parece muito – tudo poder ser filosofia – é afinal pouco: trata-se de um tudo pouco disponível, condicionado, até à exaustão dos praticantes, pelo formato da produção e do valor de mercado. Como temos uma anti-arte temos uma anti-filosofia, e ambas deslizam para um lugar de deserto. Não será a arte que se obceca a refutar incessantemente qualquer definição dela mesma um desses exercícios alucinatórios de novidade sem o novo? Não será exactamente assim também com a filosofia, em desenfreada produção de conceitos que se esvaem na própria sofreguidão da atualidade? Já se fez arte e filosofia, mesmo na pobreza; agora, que aderem ao regime da produção de valor, arte e filosofia arriscam a pobreza.
Ou, pelo contrário, não serão a arte e a filosofia os últimos lugares de sentido em que testamos a capacidade de fazer sobrevir o estranhamento que rompe com o banal, com a simples transmissão do movimento que nada mais deixa acontecer? E não vale esta tensão, e inerente ambivalência, para desafiar hoje especialmente a filosofia e a arte?
“Quando Baltasar entra em casa, ouve o murmúrio que vem da cozinha, é a voz da mãe,a voz de Blimunda, ora uma, ora outra, mal se conhecem e têm tanto para dizer, é a grande, interminável conversa das mulheres, parece coisa nenhuma, isto pensam os homens, nem eles imaginam que esta conversa é que segura o mundo na sua órbita, não fossem falarem as mulheres umas com as outras, já os homens teriam perdido o sentido da casa e do planeta, Deite-me sua benção, minha mãe, Deus te abençõe, meu filho, não falou Blimunda, não lhe falou Baltasar, apenas se olharam, olharem-se era a casa de ambos.“
[Entrada in Fernando Cabral Martins (coord.), Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo, Lisboa, Caminho (no prelo)]
Fernando Pessoa é o maior poeta português do século XX e um dos maiores da Modernidade europeia. Contudo, a sua maior genialidade estará, porventura, na criação/construção (mítica ─ «Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da humanidade» (OAM, I, 22, p.109) do theatrum mundi heteronímico («fragmentarismo sistemático»). O Dr. António Mora é uma delas, juntamente com Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e com o semi- heterónimo Bernardo Soares. Todos eles constituem o hiperespaço da máquina de produzir multiplicidades, de «sentir tudo de todas as maneiras», em que «cada canto da minha alma é um altar a um deus diferente» (A.Campos). Cada uma dessas figuras faz parte do «jogo heteronímico». No seu conjunto, estamos perante o que costumamos designar por «quadratura do círculo» heteronímico (de base quadrada – Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Fernando Pessoa – e tendo por ‘hipotenusa’ Bernardo Soares e António Mora). Isto explica que a obra de cada um deles mais não seja do que «os meus livros d’outros», tratando-se, não de «um processo novo em literatura, mas de uma maneira nova de empregar um processo já antigo» (OAM, I,22, p.109).
Mas quem é este “médico da cultura”? António Mora aparece num conto sanatorial intitulado «Na Casa de Saude de Cascaes» (OAM, I, 01-20, pp. 93-105). Este título é anterior ao aparecimento da heteronímia (1912-1914), pois surge num plano de 1907-1910 com a indicação «Contos intellectuaes», junto à tradução do conto de Alexander Search «Um jantar muito original». Por outro lado, e apesar de nenhum dos documentos assinados por António Mora se encontrar datado, sabe-se que este heterónimo o acompanhou até aos últimos dias de vida, sendo referido em dois documentos pertencentes a 1931. Segundo um dos projectos (OAM, I,47, p.155), Pessoa planeou incluir nesse sanatório as várias figuras desse «grupo», o que pressupõe a amplificação da componente sanatorial a toda a heteronímia.
Escritores discutem em Arinos temas ligados ao interior de Minas Gerais e Goiás
I O poeta, romancista e contista Napoleão Valadares (1946) é autor de Delírio Lírico (Rio de Janeiro, Edições Galo Branco, 2008), obra que tem tudo para se tornar um clássico da poesia brasileira deste século XXI. Trata-se de um poema construído em decassílabos brancos, sem estrofes, cujos cantos têm 49 versos cada um, exceto os de números V, VI e VII, num total de 1.759 versos, numa narrativa épica que funde a linguagem clássica à popular. E que abrange, em ordem cronológica, mais de 30 séculos de história, que se inicia com a Guerra de Troia (século XIII a.C. ), passando por Sócrates, Platão, Aristóteles, até chegar praticamente aos nossos dias, como bem assinalou o poeta e crítico João Carlos Taveira em rica resenha publicada no Jornal Opção, de Goiânia, em 15/11/2020. Dono de extensa obra que inclui mais de três dezenas de livros, Valadares, que também se destaca como organizador de coletâneas e antologias, acaba de publicar Encontro de Escritoresem Arinos (Brasília, André Quicé Editor, 2022), que reúne quatro palestras que foram lidas no dia 22 de maio de 2022, durante evento organizado pelo escritor com o patrocínio da Prefeitura de Arinos, em Minas Gerais: “A Literatura Brasileira”, por Anderson Braga Horta; “A água do Urucuia”, por Eugênio Giovenardi; “Antônio Dó, um jagunço urucuiano”, por Marcos Sílvio Pinheiro ; e “A obra de Guimarães Rosa”, por Wilson Pereira. Em sua palestra, Braga Horta fez um voo panorâmico sobre a literatura brasileira, desde a carta em que Pero Vaz de Caminha (1450-1500) comunicava ao rei dom Manuel I (1469-1521) as suas primeiras impressões da paisagem e do potencial econômico da terra “descoberta” até o Pré-Modernismo e Modernismo do século XX, depois de exauridos o Realismo e o Simbolismo, incluindo os movimentos de vanguarda. Em conclusão, Braga Horta reconheceu que a literatura praticada o Brasil não é muito estudada fora dos países de expressão portuguesa, ainda que seja extremamente rica e “sobejamente caracterizada como literatura nacional, brasileira, típica, sem perda de universalidade, sem xenofobia, sem chauvinismo, mas aberta aos ventos do mundo”.
Oh, que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves! Que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vénus com prazeres inflamava, Melhor é exprimentá-lo que julgá-lo, Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.
Poeta faz com versos nada herméticos uma viagem ao tempo da inocência
I Para comemorar o centenário de seus pais, os poetas Humberto Pinheiro Fontes e Maria do Carmo Alencar Oliveira Fontes, ambos nascidos em 1917, o poeta cearense Eduardo Fontes lançou Devaneios (Fortaleza, Editora Expressão Gráfica, 2017), seu 17º livro, que traz prefácio de Anderson Braga Horta, da Associação Nacional de Escritores (ANE), de Brasília, e ilustrações do artista plástico Descartes Gadelha. Poeta bastante conhecido no Nordeste, talvez porque em seus versos nada herméticos e extremamente líricos sempre se mostrou muito preocupado em exaltar suas origens, Fontes, mais uma vez, confirm a sua opção por uma simplicidade que faz evocar nos leitores os anônimos menestréis de tempos mais amenos.
Mais de 50 anos volvidos sobre a sua primeira publicação, os temas que Simone de Beauvoir discute neste célebre tratado sobre a condição da mulher continuam a ser pertinentes e a manter aceso um debate clássico. Entretecendo argumentos da Biologia, da Antropologia, da Psicanálise e Filosofia, e outras áreas de saber, O Segundo Sexo revela os desequilíbrios de poder entre os sexos e a posição do «Outro» que as mulheres ocupam no mundo. O Segundo Sexo é uma obra essencial do feminismo, e as suas considerações acerca dos condicionamentos sociais que levam à construção de categorias como «mulher» ou «feminino» – e que estão na base da opressão das mulheres – são hoje amplamente aceites.
Simone de Beauvoir (1908-1986) nasceu em Paris, no seio de uma família burguesa, e era a mais velha de duas irmãs. Estudou Filosofia na Sorbonne, onde conheceu Sartre, companheiro de toda a vida e com quem viveu uma relação célebre pelos seus padrões de abertura e honestidade. No final da Segunda Guerra Mundial, editou a revista política Les Temps Modernes, fundada por Sartre e por Merleau-Ponty, entre outros. Foi ativista no movimento francês de emancipação das mulheres, nos anos de 1970, e serviu de modelo e de influência aos movimentos feministas posteriores. Simone de Beauvoir ganhou o Prémio Goncourt em 1954 com Os Mandarins, cujo herói se inspira na figura de Nelson Algren, com quem manteve um longo e intenso romance. Autora de uma vasta obra literária, filosófica e autobiográfica, Simone de Beauvoir publicou, em 1949, O Segundo Sexo, texto basilar do feminismo contemporâneo.
«A heterónima Pessoana não nasce apenas da multiplicidade do carácter ou de uma forma de fugir a uma Lisboa enfadonha no início do século vinte que, por acaso, até nem o era, dado o clima efervescente da Primeira República onde todas as viragens sociais e culturais se davam à velocidade do vapor. Essa tese cai por terra de tão inexacta que é. Em nós, não cabem, não -todos os sonhos do mundo – muito menos temos a elasticidade mimética de ser conforme a circunstância. Há, sem dúvida, componentes que fazem um homem mais vibrátil na multiplicação de si mesmo. Mas o que a uns parece do efeito da quimera e do desdobramento da personalidade, pode neste caso ter outras origens bem mais profundas.
Pessoa é originário da Covilhã e de um ramo bastante circunscrito. Sabendo-se da sua descendência familiar que partia de cristãos-novos referenciados, ora existe ainda um ramo remoto que vem das duas filhas de António José da Silva, judeu relapso: uma fugida para os Países Baixos de onde não mais regressaria e outra que vivera escondida dentro de casa para o resto da sua vida. É desta que o ramo é descendente. Para se viver, para se ter subsistido, foram precisas muito mais que análises vãs e, para se ter desembocado em Pessoa, foi preciso também muito mais que uma imaginação torrencial, inspiração, génio e “jeito”. Foi ainda preciso ter nas veias aquela plasticidade de saber que mudar de nome, ter vários nomes, até formas de expressão, fazia parte de uma camuflagem em prol da resistência e do salvar a vida. Aqui chegados, e caso os inimigos sejam só fantasmas, a memória nem por isso se torna um elo morto. E foi nesta imensa componente toldada de segredos que ele se deslinda, acrescentando à necessidade a arte de transformar o medo, a arte pura. Aliás, grandes obras nascem destes caminhos que, depois de aparentemente solucionados, libertam para outra área elevando os mesmos argumentos.
Poeta faz da evocação da mãe que não teve a música inominável de sua poesia
I Em poucos poetas antigos ou modernos brasileiros (para não se dizer nenhum), a evocação da mãe é tão presente e tão luminosa como em Adalberto de Queiroz (1955), que foi educado como órfão em abrigo de Anápolis, no interior de Goiás, de onde saiu só em 1973 para cursar Física na Universidade Federal de Goiás (UFG). Poeta, jornalista e ensaísta, Queiroz, em 2021, lançou a segunda edição, revista e repensada, de Cadernos de Sizenando, publicado em 2014, livro de poemas que “saem da angústia para o enfrentamento da realidade”, como definiu no pref&a acute;cio o escritor Iúri Rincon Godinho, membro da Academia Goiana de Letras. Godinho explica que, a pedido do autor, para a segunda edição da obra, retirou os textos em prosa poética da primeira, deixando apenas os poemas, garantindo que o material que ficou de fora “merece outro livro”. Tanto os textos em prosa poética quanto os poemas haviam sido publicados inicialmente em um blog (http://www.betoqueiroz.com) que Adalberto de Queiroz ainda mantém na internet. Como diz Godinho com percuciência, se ele, como editor do texto, tivesse tirado também todos os poemas e deixasse apenas aquele que tem por título “É a Mãe” o livro já valer ia a pena ser lido.
Fernando António Nogueira Pessoa (1888 — 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Um dos maiores génios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos escritores portugueses mundialmente conhecidos. A sua poesia acabou por ser decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos – Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.
AQUI HÁ UNS ANOS FOMOS CONVIDADOS, EU E A SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, PARA FAZER UM RECITAL NO KING’S COLLEGE (LONDRES). EIS UM DOS POEMAS QUE LI E A SUA TRADUÇÃO POR JONATHAN GRIFFIN, E QUE DEPOIS FOI INCLUÍDO NA BELÍSSIMA ANTOLOGIA “CONTEMPORARY PORTUGUESE POETRY”. VOU ILUSTRÁ-LO COM A GUERNICA, DE PICASSO.
La crise que nous vivons n’est pas simplement économiqueet financière, mais aussi philosophique et spirituelle. Elle renvoie à des interrogations universelles : Qu’est ce qui rend l’être humain heureux ? Qu’est-ce qui peut être considéré comme un progrès véritable ? Quelles sont les conditions d’une vie sociale harmonieuse ?Contre une vision purement matérialiste de l’homme et du monde, Socrate, Jésus et Bouddha sont trois maîtres de vie. Une vie qu’ils n’enferment jamais dans une conception close et dogmatique. Leur parole a traversé les siècles sans prendre une ride, et par-delà leurs divergences, ils s’accordent sur l’essentiel : l’existence humaine est précieuse et chacun, d’où qu’il vienne, est appelé à chercher la vérité, à se connaître dans sa profondeur, à devenir libre, à vivre en paix avec lui-même et avec les autres. Un message humaniste et spirituel, qui répond sans détour à la question essentielle : pourquoi je vis ?Philosophe et directeur du Monde des religions, Frédéric Lenoir est aussi romancier et dramaturge. Il est notamment l’auteur ou le co-auteur de La Promesse de l’ange, de Code Da Vinci, l’enquête, de L’Oracle della Luna et de la pièce de théâtre Bonté divine ! Ses ouvrages sont traduits dans une vingtaine de langues.
Résumé | Le Christ philosophe
Pourquoi la démocratie et les droits de l’homme sont-ils nés en Occident plutôt qu’en Inde, en Chine, ou dans l’Empire ottoman ? Parce que l’Occident était chrétien et que le christianisme n’est pas seulement une religion. Certes, le message des Evangiles s’enracine dans la foi en Dieu, mais le Christ enseigne aussi une éthique à portée universelle : égale dignité de tous, justice et partage, non-violence, émancipation de l’individu à l’égard du groupe et de la femme à l’égard de l’homme, liberté de choix, séparation du politique et du religieux, fraternité humaine. Quand, au IVe siècle, le christianisme devient religion officielle de l’Empire romain, la sagesse du Christ est en grande partie obscurcie par l’institution ecclésiale. Elle renaît mille ans plus tard, lorsque les penseurs de la Renaissance et des Lumières s’appuient sur la ” philosophie du Christ “, selon l’expression d’Erasme, pour émanciper les sociétés européennes de l’emprise des pouvoirs religieux et fonder l’humanisme moderne. Frédéric Lenoir raconte ici le destin paradoxal du christianisme – du témoignage des apôtres à la naissance du monde moderne, en passant par l’Inquisition – et nous fait relire les Evangiles d’un œil radicalement neuf.
À propos de l’auteur
Lenoir, Frédéric Philosophe, historien des religions et chercheur associé à l’Ecole des hautes études en sciences sociales. Directeur du magazine Le Monde des religions, il est l’auteur d’essais et de romans historiques qui ont connu un succès international. Ses ouvrages sont traduits dans vingt-cinq langues.
A Bertrand Editora tem o prazer de convidar para a sessão de lançamento e para a sessão de apresentação de Diabo, de Gonçalo M. Tavares, que decorrem em Óbidos e Lisboa, respetivamente, a 8 e 12 de outubro. A sessão de lançamento, integrada no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, está agendada para sábado, 8 de outubro, às 19h00, no Auditório Municipal da Casa da Música e conta com música da cantora lírica Maria João Sousa, guitarra clássica de Pedro Sousa e leituras de Inês Nogueira. A 12 de outubro, o encontro decorre na FNAC Chiado, em Lisboa, às 18h30, com música da cantora lírica Maria Varandas guitarra clássica de Pedro Sousa e leituras de Inês Nogueira.
Neste seu novo livro, Rubem Fonseca opta de novo pela concisão, tal como fizera na coletânea Amálgama, vencedora do Prémio Jabuti 2015. Junta desta vez trinta e oito histórias curtas, por vezes curtíssimas, nas quais volta a abordar brilhantemente, de forma crua mas delicada, temas já recorrentes na sua obra mais recente: o envelhecimento, a obesidade, a loucura e todo o tipo de decadência humana.
“A pomposidade venturosa e festiva das palavras obscenas.” Palavras do autor que se enquadram perfeitamente nesta obra. Diverti-me imenso. Vasco Costa | 2021-06-07
RUBEM FONSECA
Nasceu em Juiz de Fora (Minas Gerais), no Brasil, a 11 de maio de 1925. É um dos mais prestigiados escritores brasileiros contemporâneos e um dos expoentes máximos da literatura de língua portuguesa. Traduzido em todo o mundo, foi galardoado com seis prémios Jabuti e, pelo conjunto da sua obra, com o Prémio Camões em 2003. Em 2015, recebeu o Prémio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL). É autor de uma vasta obra narrativa, contista e romancista, que tem vindo a ser publicada em Portugal, desde 2010, pela Sextante Editora. Os romances Agosto e A Grande Arte são duas das suas obras incontornáveis, exemplos máximos da sua escrita sóbria e de um realismo «duro» que fez escola na literatura brasileira: «todas as palavras devem ser usadas», disse uma vez numa entrevista. A Carne Crua — uma coleção de 26 contos inéditos, lançada em Portugal há precisamente um ano —, que viria a ser a sua derradeira criação, juntam-se atualmente no catálogo da Sextante os romances O Seminarista, Buffo & Spallanzani (Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas), A Grande Arte, Agosto e O Selvagem da Ópera, os livros de contos Calibre 22, Axilas & Outras Histórias Indecorosas, Histórias Curtas e Amálgama, e a autobiografia de infância intitulada José. Rubem Fonseca faleceu no Rio de Janeiro a 15 de abril de 2020, vítima de um enfarte do miocárdio. Após a sua morte foi editado O Doente Molière.
I Um menino de Itararé, criado pelos avós, que, quando chega à idade do entendimento, aos 15 anos, sai de casa em busca da mãe, que sumira quando ele nascera e estaria perdida nos cafundós do Mato Grosso do Sul, perto da fronteira com a Bolívia, e virara missionária. Em breves palavras, este é o enredo do novo livro de Silas Corrêa Leite (1952), O menino que queria ser super-herói (Lisboa/São Paulo, Editora Primeiro Capítulo, 2022), romance infantojuvenil que vem se juntar a uma obra já extensa que inclui publicações em outros gêneros (poesia, prosa poética, contos e romances). Inteligente, precoce, muito ativo e sensível, o menino sabe que o sótão de sua casa guarda um segredo e o porão também esconde coisas do passado de seus familiares. Fã de desenhos animados, de histórias em quadrinhos e de personagens de gibis, como Super-Homem, Batman, o Homem Invisível e o Capitão Marvel, o menino, que tem o nome de Ben-Hur, precisa visitar aqueles lugares recônditos, para conhecer os mistérios de sua vida e descobrir segredos, como saber que seu pai ainda vive em Itararé, mítica cidade localizada no Estado de São Paulo “fincada às barrancasdo vizinho Estado do Paraná”, famosa depois da chamada Revolu& ccedil;ão de 1930, que constituiu mais um golpe civil-militar em que, desta vez, as elites dos demais Estados derrubaram as tradicionais elites paulistas e mineiras. Itararé, antiga terra dos índios guaianases e, depois, no século XVIII, ponto de descanso dos tropeiros que levavam animais do Sul para a feira de Sorocaba, ficaria famosa porque, quando Getúlio Vargas (1882-1954) partiu de trem rumo ao Rio de Janeiro, então capital federal, esperava-se que ocorresse lá uma grande batalha, que não houve porque a cidade acolheu o futuro ditador na estação ferroviária, permitindo sua entrada no Estado de São Paulo, e os militares depuseram o presidente Washington Luís (1869-1957) em 24 de outubro daquele ano e impediram a posse do presidente eleito Júlio Prestes (1882-1946).
Ouve-se, encantamo-nos … e choramos. É impossível não chorar! [vcs]
Único texto conhecido do heterónimo esquecido de Fernando Pessoa “Maria José”, cujo nome conhecido é “Carta Da Corcunda Para o Serralheiro”.
Fernando Pessoa criou 46 pseudónimos e autores fictícios mas só um era mulher, Maria José, corcunda e patética, figura nada atraente, imagem que o poeta também tinha de si. Fernando António Nogueira Pessoa (1888 — 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Um dos maiores génios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos escritores portugueses mundialmente conhecidos. A sua poesia acabou por ser decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos – Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.
A Portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novaes (1835-1904) foi esposa do escritor Brasileiro Machado de Assis de 1869 a 1904, ano da morte de Carolina.
Eles se conheceram por intermédio do irmão de Carolina, o poeta Faustino Xavier de Novaes, após ela se mudar de Portugal para o Rio de Janeiro, aos 32 anos, cinco a mais do que Machado. No período, era incomum uma mulher solteira com essa idade, mas a decisão, nesse caso, era da própria Carolina, a quem sobravam pretendes. A portuguesa é descrita por Miguel-Pereira como “mulher feita, inteligente, desembaraçada, senhora de si, habituada, na casa paterna, ao trato dos intelectuais”.
O namoro foi reprovado pela família de Carolina, pertencente à elite intelectual, enquanto Machado ainda não tinha grande reconhecimento social – na época, escrevia para jornais e trabalhava no Diário Oficial – e, mais importante, era mulato.
“Na hierarquia social, Carolina se uniu, por escolha própria, a alguém de nível abaixo. Ela foi determinante para que ele tivesse estabilidade emocional e também transitasse entre intelectuais”, diz Luís Augusto Fischer, professor de literatura brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, autor do livro Machado e Borges (Arquipélago).
Yuval Noah Harari é historiador, investigador e professor de História do Mundo na Universidade Hebraica de Jerusalém, considerada uma das melhores instituições de ensino a nível internacional. Doutorado em História pela Universidade de Oxford, Harari tem-se dedicado ao estudo e ensino da História, encorajando os seus alunos a questionar os conhecimentos e ideias que têm por garantidos sobre a vida, o mundo e a humanidade.
SINOPSE
«Nós, humanos, não somos fortes como os leões, não nadamos como os golfinhos e, definitivamente, não temos asas! Então como é que tomámos conta do mundo? A resposta está numa das histórias mais fascinantes que alguma vez te contaram. E é uma história verdadeira.» Indomáveis é uma épica série do autor bestseller mundial Yuval Noah Harari, destinada ao público juvenil, com belas ilustrações de Ricard Zaplana Ruiz.
Romance de Hélverton Baiano recupera a aventura vivida por professores e mateiros, na década de 1970, num complexo de grutas no interior de Goiás I Se “a literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”, como dizia o poeta Fernando Pessoa (1888-1935), a ficção é a saída para se tentar explicar aquilo que ficou no passado envolto em muitas brumas. Nesse sentido, o texto literário, sem as amarras da reportagem ou da notícia de jornal ou do vídeo da televisão ou das redes sociais, por meio do recurso da fantasia, procura trazer ao leitor o que ficou lá atrás, sem maiores explicações. Foi o que procurou fazer o experiente jornalista Hélverton Baiano (1960), ao buscar na ficção a melhor maneira de contar um episódio que ocorreu em 1971, quando um grupo de professores e pesquisadores saiu em busca de vestígios de minerais radioativos no interior de Goiás. Esse romance, o primeiro de um autor que se já havia destacado com obras de poesia e prosa poética, tem por por título Expedição Abissal (Astrolábio Edições, 2022) e procura reconstituir o drama que aquele grupo viveu ao se embrenhar no complexo de grutas de Terra Ronca, em São Domingos, região Nordeste de Goi ás, a 640 quilômetros de Goiânia. Aqueles pesquisadores e seus ajudantes se perderam e percorreram, durante 46 dias, cerca de 100 quilômetros debaixo da terra, até que chegaram à Gruta da Barrinha, em Correntina, já no Estado da Bahia.
“Pourquoi la démocratie et les droits de l’homme sont-ils nés en Occident plutôt qu’en Inde, en Chine, ou dans l’empire ottoman ? Parce que l’Occident était chrétien et que le christianisme n’est pas seulement une religion. Certes, le message des Evangiles s’enracine dans la foi en Dieu, mais le Christ enseigne aussi une éthique à portée universelle : égale dignité de tous, justice et partage, non-violence, émancipation de l’individu à l’égard du groupe et de la femme à l’égard de l’homme, liberté de choix, séparation du politique et du religieux, fraternité humaine. Quand, au IVe siècle, le christianisme devient religion officielle de l’Empire romain, la sagesse du Christ est en grande partie obscurcie par l’institution ecclésiale. Elle renaît mille ans plus tard, lorsque les penseurs de la Renaissance et des Lumières s’appuient sur « la philosophie du Christ », selon l’expression d’Erasme, pour émanciper les sociétés européennes de l’emprise des pouvoirs religieux et fonder l’humanisme moderne. Frédéric Lenoir raconte ici le destin paradoxal du christianisme – du témoignage des apôtres à la naissance du monde moderne en passant par l’Inquisition – et nous fait relire les Evangiles d’un œil radicalement neuf. “
I Depois de cumprir uma carreira jornalística de cinco décadas, mesclando o tempo em redação e o trabalho informal como cronista e poeta, Ivan Berger, finalmente, vê o seu primeiro livro impresso, este Quase Não Sou Mais Eu – O Balacobaco do Deus Ex-Machina (São Paulo, Literando Editora, 2022), que reúne 188 peças em prosa poética, poemas em versos livres e contos curtos. São textos em que rememora não só os seus primeiros anos de vida na pequena cidade de Cachoeira do Sul, na região central do Rio Grande do Sul, às margens do rio Jacuí, a chamada “capital nacional do a rroz”, como boa parte da infância e da adolescência passada em Curitiba, capital do Estado do Paraná, antes de sua família se transferir para a litorânea Santos em busca de melhores oportunidades para sobrevivência. Dividida em três blocos, a obra, em sua primeira parte, depois de dois textos em prosa em que o autor faz uma espécie de apresentação de seu trabalho, deixando claro que não escreve para ser agradável ao leitor nem para “fazer proselitismo”, segue por mais de cem páginas com poemas em versos que se caracterizam por uma tonalidade noturna, de introspecção, ou seja, um mergulho no interior de uma alma solitária.
La Russie est-elle européenne? Qu’est-ce qu’être russe? Depuis le XVIe siècle, la Russie entretient un lien complexe et ambigu avec l’Europe occidentale. À la tête d’un véritable État-continent s’étendant de l’Europe à l’Asie, les tsars de Russie puis les leaders soviétiques n’ont cessé de s’ interroger sur l’identité de leur pays et les relations à nouer avec l’Europe, tour à tour perçue comme modèle de modernité et d’efficacité ou comme source de danger et de subversion. D’Ivan le Terrible à Vladimir Poutine, les décideurs russes ont été confrontés à ce «dilemme» : fallait-il imiter l’Europe pour mieux la dépasser, ou bien s’en protéger? D’une plume alerte, en s’appuyant sur un vaste ensemble documentaire, Marie-Pierre Rey explore les tourments de l’identité russe, à la croisée de l’histoire des relations internationales et de l’histoire des représentations.
Champs – Champs histoire | 512 pages – 108 x 178 mm
Paru le 10/02/2016 | Format poche | Genre : Histoire
Alexandre Herculano morreu faz hoje 145 anos. Aderiu às ideias em voga na Europa do seu tempo, do Romantismo enquanto movimento literário e na vertente política, batendo-se pelos ideais de liberdade dos povos e monarquias constitucionais.
Era, portanto, um liberal, numa altura em que o regime vigente repudiava esta ideologia. Lutou contra os setores mais conservadores do clero e da sociedade portuguesa.
O seu envolvimento numa revolta militar, em 1831, obrigou-o a fugir de Portugal e a procurar refúgio em Inglaterra e, posteriormente, em França. Regressou a Portugal integrado no exército liberal e participou no desembarque do Mindelo, em 1832, ao lado de Almeida Garrett, e foi soldado durante o tempo que durou a guerra civil.
Nisto tudo, foi essencialmente um intelectual, homem de letras que refletiu sobre os problemas do seu tempo. Deixou uma importante obra literária, sobretudo romances históricos, mas também peças de teatro, poesia e ensaios, opúsculos e reflexões sobre o Estado, a sociedade e a Igreja de Portugal.
Foi o introdutor do Romantismo, a par de Almeida Garrett. Contudo, o seu maior contributo foi no campo da História. Pode afirmar-se que Alexandre Herculano foi o primeiro historiador moderno português, tendo-se dedicado, sobretudo, ao estudo das origens de Portugal e dos problemas políticos e sociais da Idade Média, assim como à publicação de documentos, de forma crítica e rigorosa. Assume particular relevância a sua História de Portugal, em vários volumes, que continua a ser um trabalho de grande valor e de importância fundamental para os medievalistas dos nossos dias.
I Livro já considerado clássico da Literatura Brasileira, À beira do corpo (São Paulo: Casarão do Verbo/Bookeirão, 2018), do poeta e ficcionista Walmir Ayala (1933-1991), publicado pela primeira vez em 1964, ganha a sua 13ª edição e merece ser conhecido pelas novas gerações. Maior sucesso literário do autor, trata-se de um romance singular, pois, embora considerado ficção, parte de uma tragédia ocorrida na própria vida do autor, que o inspirou a buscar explicação para um incomensurável desatino. Ou seja, Ayala, quando tinha apenas quatro anos, viu a mãe e seu amante serem assassinados a tiros pelo pai. E, como observa o romancista, roteirista e jornalista Eliezer Moreira (1956), no texto de apresentação da obra, procurou recriar “poeticamente a experiência traumática da infância com uma coragem e autenticidade raras, numa espécie de catarse ou purgação”. Um dos escritores brasileiros mais premiados de sua geração, nos vários gêneros literários a que se dedicou, Ayala, inspirado em Machado de Assis (1839-1908) e o seu Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), coloca um “verme” a contar a história do fatídico triângulo amoroso. E que começa por mostrar Bianca, uma jovem de 17 anos, “de uma beleza cobiçada em toda a redondeza”, filha do velho Piero, proprietário de uma chácara de pêssegos, que começa a se preparar para as bodas com um moço pobre da vizinhança, Vicente, dono de uma ferraria.
Revista Iniciativa Socialista (primeiro período da revista trasversales atual), número 76, verão 2005-2006, Texto inicialmente apareceu em Estudos Culturais Franceses, Edgar Morin , Universidade de Southampton, 1998, pp. 387-396. Traduzido e publicado com a permissão do autor. Françoise Bianchi é professora da Universidade de Pau e autora de Le fil des idées [Seuil, 2001], uma biografia intelectual de Edgar Morin.
A ideia de relacionar o pensamento de um escritor do século XX com a de seus ilustres antecessores dos séculos XVI e XVII pode ser surpreendente à primeira vista. A priori, tudo separa as obras de Montaigne e Spinoza da de Edgar Morin. São obras que surgiram às vezes muito diferentes para que seu confronto fosse frutífero. Na realidade, não se poderia falar de “filiação”· Incluindo. Para o resto, o que uma obra literária, uma obra filosófica e o trabalho de um sociólogo têm a ver com isso? Mas aqui não se trata disso, mas sim de aproximar os projetos de escrita e de apontar suas preocupações comuns, aqueles que norteiam o interrogatório, além das mudanças de episteme, utilizando a terminologia de Michel Foucault [1966, 1968], além, sobretudo, das classificações usuais estabelecidas pela história da literatura e da filosofia.
De Montaigne
Embora seja estranho começar com isso, quero salientar que Edgar Morin é marrano, como Montaigne. Claro, por razões históricas bem conhecidas, uma memória familiar e comunitária estava presente que no século XVI não foi invocada, exceto talvez em alguma alusão amigável e codificada, como a que Edgar Morin [entrevista pessoal, 12/6/1996] acredita presente na carta de Montaige ao seu pai na qual ele relata as palavras de La Boêtie em seu leito de morte dirigindo-se ao padre que acabou de dizer missa: “Eu ainda quero dizer estas palavras em sua presença: eu protesto que como fui batizado e vivi, então eu quero morrer sob a fé e religião que Moisés implantou pela primeira vez no Egito, que os santos padres então receberam na Judéia, e que de mãos dadas, pelo passar do tempo, foi trazido para a França” [Montaigne, 1962]. Qualquer que seja o escopo exato dessas palavras, Montaigne, o Gascon, também era um espírito universal, cuja curiosidade o fez se abrir para outras culturas, e que, o que quer que Barrès diga, não tinha medo de estabelecer contato com o que estava além das fronteiras de sua terra natal [Montaigne 2003, I-31, III-6, III-9].
Com o romance autoral “O BRILHO DAS ESTRELAS CADENTES”, Sebastião Pereira da Costa está consagrado e brilhantemente escrito nas estrelas
O escritor é aquele que se dedica profissionalmente a fazer arte usando como matéria-prima a língua, o texto, sua inspiração e muita criatividade.
Daniele Fernanda Feliz Moreira
Especialista em Linguística, Letras e Artes (CEFETRJ, 2013)
-Ler SPC, ou Sebastião Pereira da Costa, é antes de tudo e a bem dizer, sempre um deleite. Maroto jornalista de histórico insurgente, critico social voraz e feroz, pena pesada como dizem os arqui-inimigos historiais,um jornalista político primoroso, também literato de naipe com outros livros de renome publicados, ou mesmo do primeiro de estreia, NÃO VERÁS NENHUM PAÍS COMO ESTE com prefácio de FHC, SPC, entre Itararé, onde nasceu rebento no Bairro de Santa Cruz dos Lopes, e Itapeva da Faxina, mais acessos aqui e ali em lutas, conflitos e vitórias em Sampa da força que ergue e destrói coisas belas, como bem cantou Caetano Veloso, SPC de mala e cuia e calibre fezhistórias que, finalmente, nesse seu último livro, registra como ousadia, encanto e primor, que é de seu estilo e modus operandi.
-Li quase todos os livros dele, baita aprendizado de escrita e fluente narrativa gostosa com escola no jornalismo regional, então, ler O Brilho das Estrelas Cadentes também foi um prazer, de cara sapequei cento e poucas páginas de puro desfrute, aqui e ali rindo gostoso, e rindo alto de como jocosamente e com estilo garboso, puta literato no auge, floreou umas narrativas de apreendencias infanto-juvenis em escopo afetivo-sexual primário e inocente, dando corda na imaginação do leitor. Fui na fiúza. Primeira parte, para ler, reler e rir novamente, contando dos amigos as doces letras em desbunde…
Sinopse: Tendo como base as mais variadas fontes, mas sobretudo os arquivos da PVDE/PIDE/DGS, esta obra analisa osprocessos da polícia política de figuras «exemplares» no panorama cultural português, como Tomás da Fonseca, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, Miguel Torga, Soeiro Pereira Gomes, Fernando Namora, Jorge de Sena, Natália Correia e Luís de Sttau Monteiro. Sobre o coordenador: Luís Reis Torgal, nascido em Coimbra em 1942, é professor catedrático aposentado da Universidade de Coimbra e membro fundador do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra (CEIS20). Publicou diversas obras e artigos sobre vários temas de várias épocas, entre elas o tempo do Estado Novo. Neste âmbito destaca-se a obra Estados Novos, Estado Novo (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2009). O seu último livro, integrado no Bicentenário da Revolução de 1820, intitula-se Essa Palavra Liberdade… (Lisboa: Temas e Debates, 2021). Sobre o livro: Género: História / História em Geral | Formato: 15×23,5 cm |Nº de páginas: 480| 1ª edição: setembro de 2022 | Encadernação: Mole | PVP: 20,90€ | ISBN: 9789896447472 Para mais informações, contacte o Gabinete de Comunicação da Temas e Debates: Carolina Paiva (carolina.paiva@bertrand.pt)
O Livro, da autoria de Mouta Liz e de Romeu Francês, relata o processo do julgamento de Otelo, a propósito das FP e do Projeto Global.
Vou apresentar este livro por um dever de consciência – o que tem a ver comigo – por um dever cívico. Vou apresentar os meus pontos para serem colocados em muitos is.
Ninguém que esteja convencido do quer que seja sobre o assunto alterará a sua ideia. Não tenho qualquer ilusão. Mas ficará o documento escrito e o que a propósito dele for dito.
Otelo continuará a ser a figura diabolizada que convier a quem se opõe a um regime que não seja de senhores e servos, a um regime de direito à palavra por parte dos que nunca a tinham tido.
A história faz-se de circunstâncias. E é das circunstâncias de um julgamento político que eu falarei.
Tal como na Ucrania, no Iraque, na Siria, na Revolução Bolchevique, na Revolução Francesa e até no Processo dos Távoras não há verdades únicas. Nem julgadores com infalibilidade papal.
I Autor multifacetado, Silas Corrêa Leite (1952) volta às livrarias com novo livro de poemas, Lampejos (Belo Horizonte, Sangre Editorial, 2019), que reúne 25 peças em que o poeta coloca em prática a poesia como libertação da alma. E o faz como uma forma de ter em mãos um mundo mais tranquilo que o mundo de todos os dias, alheando-se dos momentos difíceis por meio da busca do sonho e do desejo. Em outras palavras: a palavra poética seria a ponte por onde a alma do poeta passaria para o futuro, ou seja, para a vida eterna, como se constata no poema que tem por título exatamente “Morte” e no qual ele diz que: Quando a morte vier me buscar / estarei sentado à beira do caminho / Escrevendo meu último poema para o luar cor de prata / com minha lupa de restos de calendários vencidos… / A morte – a mais bela mulher que jamais vi – dirá, / toda vaidosa e pintada para a guerra das estrelas / – Vamos, poeta, se apresse, vamos, é hora… / Eu a olharei, entregue, e a tomarei nos braços / Então a abraçando forte e seguro como uma ilha eterna de / estúdio de luz / E finalmente assim embarcaremos na canoa furada da noite, / e juntos / Como unha e carne / seremos um só / Como um voo de Ícaro para o céu de todas as honras… Com imagens triviais, Silas Corrêa Leite explora temas como o mar e o tempo, a vida e a morte, a alma e o corpo, o “eu” poético e o amor em todos os níveis, inclusive o amor filial e o maternal e o paternal, com versos bem lapidados, às vezes até enveredando pelo barroco, para concluir com explosões épicas, pois, se algo sabe fazer com quase perfeição, é a maneira habilidosa com que manipula as palavras. Leia-se, por exemplo, este poema que leva por título “Saudade”: Mãe, às vezes, quando vou dormir ensimesmado / Na fronha de algodão cor de neve / encardida – com lágrimas de saudades de ti / Ainda parece que vejo teu rosto; / parece que no pano a tua voz como uma cantilena terreal / me diz / – Dorme, guri, dorme… / Então eu fecho os olhos chorando escondido da vida / E minha saudosa lembrança de ti / abraça minha angústia noturna no travesseiro / E acaricia com tintas de imenso amor eterno / o desalinho de minha saudade de órfão triste.
A quoi bon des poètes dans un temps de détresse ? – demandait Hölderlin.
L’orgasme et la folie sont la nouvelle frontière des libérateurs de l’amour où Bukowski monte la garde – Jacques Cabau, Le Point
La réponse est dans Bukowski, dans une prose qui est l’une des plus dénonciatrices-accusatrices de ce temps. Et sans aucune issue proposée : le constat d’enfer nu, organique, brutal. Les ” caprices ” de Goya, en pleines phrases. J’ai lu quelque part que Bukowski était ” rabelaisien “. Mais non, il s’agit de quelque chose de beaucoup plus noir, de beaucoup plus simple et lisible, d’une inspiration beaucoup plus ” théologique ” sous un aira d’anarchisme absolu.
La civilisation, ou ce qui en reste, n’est pas du tout en train de ” renaître ” mais de se tasser, de se décomposer, de se décharger, et Bukowski n’a pas d’autre choix que de lui répondre du tac au tac avec le maximum de violence, à bout portant “.
Philippe Sollers, Le Nouvel Observateur ” Par-delà le cauchemar de l’histoire existe la perfection de l’amour. L’orgasme et la folie sont la nouvelle frontière des libérateurs de l’amour où Bukowski monte la garde “. Jacques Cabau, Le Point
“Se um certo Jean-Paul Sartre for lembrado, eu gostaria que as pessoas recordassem o meio e a situação histórica em que vivi, todas as aspirações que eu tentei atingir. É dessa maneira que eu gostaria de ser lembrado.”
Essa declaração foi feita por Sartre durante uma entrevista, cinco anos antes de morrer. Na mesma ocasião, disse que gostaria que as pessoas se lembrassem dele por seu primeiro romance, “A Náusea”, e duas de suas obras filosóficas, a “Crítica da Razão Dialética” e o ensaio sobre Jean Genet.
Em O Gémeo de Ompanda – e as suas duas almas, Carlos Vale Ferraz convida-nos a fazer uma viagem épica com partida numa pequena localidade do sul de Angola
Com mestria, Carlos Vale Ferraz dá uma vez mais vida a personagens memoráveis em O Gémeo de Ompanda – e as suas duas almas. Um romance indispensável sobre a busca da identidade num mundo de diferenças, que decorre entre Portugal e Angola. O tempo dos missionários laicos portugueses em Angola e a Guerra Civil neste país africano servem de pano de fundo a uma história feita de escolhas. Nela, os protagonistas lutam não só contra os estigmas de duas sociedades, como também contra si próprios. O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 25 de agosto. Conheça a obra nas palavras do próprio autor:
O que começou por ser uma reportagem dos jornalistas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz para o jornal Expresso (distinguida com o Grande Prémio Gazeta 2002, principal galardão de jornalismo concedido em Portugal) acabou num livro. “A Filha Rebelde”, obra editada pela Temas e Debates, em 2003, constitui o desenvolvimento dessa reportagem.
Trata-se da história de Ana Maria Palhota Silva Pais (1935 – 1990), conhecida pelo petit nom Annie, a filha única do último diretor da PIDE, o major Fernando Silva Pais, que dirigiu a polícia política do regime fascista durante os seus últimos doze anos (de 1962 a 1974), que se apaixonou pela revolução cubana, deixando-se envolver pelo clima de efervescência política e social vivido em Havana nos agitados anos 60.
Annie era uma mulher extremamente bonita, culta e com uma sólida formação, determinada, corajosa, que vivia com todas as facilidades e mordomias, e que abandonou todo o seu passado e estatuto, todas as suas referências familiares, todas as suas amizades, para, sob o fascínio da figura de Che Guevara, se entregar à revolução cubana com a qual se identificou.
Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma escritora francesa, filósofa existencialista, memorialista e feminista, considerada uma das maiores representantes do existencialismo na França. Manteve um longo e polêmico relacionamento amoroso com o filósofo Paul Sartre.
Simone Lucie Ernestine de Marie Bertrand de Beauvoir, conhecida como Simone de Beauvoir, nasceu em Paris, França, no dia 9 de janeiro de 1908. Filha de um advogado e leitor compulsivo, desde a adolescência já pensava em ser escritora.
Entre 1913 e 1925, estudou no Institute Adeline Désir, uma escola católica para meninas. Em 1925, Simone de Beauvoir ingressou no curso de matemática do Instituto Católico de Paris e no curso de literatura e línguas no Institute Saint-Marie.
Em seguida, Simone de Beauvoir estudou Filosofia na Universidade de Sorbonne, onde entrou em contato com outros jovens intelectuais como René Maheu e Jean-Paul Sartre, com quem manteve um longo e polêmico relacionamento. Em 1929 concluiu o curso de Filosofia.
Em 1931, com 23 anos, Simone de Beauvoir foi nomeada professora de Filosofia na Universidade de Marseille, onde permaneceu até 1932. Em seguida foi transferida para Ruen. Em 1943, retornou à Paris como professora de Filosofia do Lycée Molière.
Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre
Simone de Beauvoir manteve um relacionamento aberto e um compartilhamento intelectual com o também filósofo Jean-Paul Sartre por mais de 50 anos. Nunca chegaram a se casar ou a ter filhos.
French authors and philosophers Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) and Simone de Beauvoir (1908 – 1986) in Sartre’s apartment on the Rue Bonaparte, Paris, France, circa 1964. (Photo by Gisele Freund/Photo Researchers History/Getty Images)Continuar a ler →
Dormi contigo toda a noite junto ao mar, na ilha. Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água.
Os nossos sonos uniram-se talvez muito tarde no alto ou no fundo, em cima como ramos que um mesmo vento agita, em baixo como vermelhas raízes que se tocam.
0 teu sono separou-se talvez do meu e andava à minha procura pelo mar escuro como dantes, quando ainda não existias, quando sem te avistar naveguei a teu lado e os teus olhos buscavam o que agora — pão, vinho, amor e cólera — te dou às mãos cheias, porque tu és a taça que esperava os dons da minha vida.
Estarei nos risos das crianças quando têm fome e as chamam para jantar.
«Não sei para onde vou mãe (…). Andarei por ai no escuro. Estarei em toda a parte. para onde quer que olhem. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, estarei lá. Onde houver um policia a espancar uma pessoa, estarei lá. Estarei nos gritos das pessoas que enlouquecem. Estarei nos risos das crianças quando têm fome e as chamam para jantar. E quando as pessoas comerem aquilo que cultivam e viverem nas casas que constroem, também lá estarei.»
there are worse things than being alone but it often takes decades to realize this and most often when you do it’s too late and there’s nothing worse than too late.
Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote. Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei riscar este assunto do mapa, mas eu sou uma troca-tintas, uma vira casacas e vou voltar à vaca fria.
Andava eu a brincar aqui com os meus botões, a chorar sobre o leite derramado, com bicho carpinteiro e macaquinhos na cabeça, quando decidi procurar uma agulha no palheiro. Eu sei, eu não bato bem da bola, mas sentia-me pior que uma lesma e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar cabelos. Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta.
Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de dezembro de 1930), batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca, foi uma poeta portuguesa. A sua vida, de apenas 36 anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos, que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo. Há uma biblioteca com o seu nome em Matosinhos.
I Para comemorar o 40º aniversário de sua estreia literária, o poeta Iacyr Anderson Freitas (1963) acaba de lançar Os campos calcinados (São Paulo, Faria e Silva Editora, 2022), que reúne toda a sua produção lírica escrita após o seu livro anterior, Estação dasClínicas (2016), além de poemas que até então figuravam apenas em periódicos nacionais e estrangeiros. A exemplo de obras anteriores, os poemas do novo livro trazem a cáustica ironia e o sentimento de perda que são características marcantes do seu itinerário literário. < /span> Dividida em cinco partes bem distintas – “O cerol no ouvido”, “Menos café que cicuta”, “Perder um país”, “Este mínimo infinito: breviário” e “Limão Capeta” –, a obra traz peças que fundem o pictórico com o sonoro, expressando o sentimento do poeta em imagens que valem por si mesmas. O poema “A derradeira”, que consta da terceira parte, é um bom exemplo disso: “a manhã curvou seus sinos aos escolhidos / : tu estavas dormindo / veio silenciosa / brindar os passantes / com a última rosa / branca enorme esplendorosa / a última / a d erradeira rosa / a manhã curvou seus sinos / sobre o sono dos vencidos / era domingo / adeus vida que não veio / vento que acende os aceiros / adeus amores de outrora / vela que se queimou no vime dos veleiros / : a manhã devora / a última rosa”. A imagem que se desprende da frase “a vida que não veio”, de certo modo, repete-se em “Abaixo, no lugar de rancor, use a palavra amor”, poema que consta da primeira parte, pois traz o mesmo sentimento que evoca um poema de Manuel Bandeira (1886-1968), “Pneumotórax”, que fala de “uma vida inteira que podia ter sido e que não foi”. Segue o poema: “nada como um rancor não correspondido / no lugar da dor / o olvido / nenhum remorso / nenhum ódio ressentido / nenhuma palavra / como navalha / no ouvido / somente o vazio o vazio infinito / do que não foi / vivido”.