TIBETE | o novo romance de Silas Corrêa Leite | E quando você não quiser mais ser gente?

O novo romance do escritor Silas Corrêa Leite, lançado ao final do ano passado pela Editora Jaguatirica, RJ, vem bem a calhar, tendo em vista o tenebroso momento em que se resta o Planeta Terra, e particularmente o Brasil também em crise sem precedentes históricos, em que há uma falência generalizada de valores e estruturas sociais, terrivelmente depondo com o que deveria ser o público fito ético-plural-comunitário da  sociedade nesses tempos de falta de qualidade de vida e de uma convivência humana de baixíssimo nível. Fugir seria a melhor estratégia? Loucos escrevem. Céu ou inferno moram nos desfechos?  O personagem principal do livro, nesse contexto todo relata sobre as tormentas de um ex-escritor marcado, com altos e baixos na vida, mas, afinal evoluído socialmente falando, e que num estranho súbito momento, um bendito dia saca que não é feliz; avalia que o que conquistou não o satisfaz, quando conclui que “vencer na vida” não é tudo, não significa nada, não faz sentido, e, parafraseando Caetano veloso se questiona: tudo o que conquistou, a que será que se destina? Fechamento de ciclo.

De cara resolve pular fora do sistema, da redoma de infernos que é seu meio conturbado. Larga tudo e vai em busca de um lugar para chamar de céu, um infinito particular que seja. Quer um canto para se esconder de ser gente, de ver gente, se tratar de si, se reconciliar, cavar uma trilha, um buraco, antes que faça uma besteira… Estresse e paranoia de finalmente se descobrir sendo uma coisa que não quis ao final de tudo, passando da idade do lobo.

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O orador falante | Fernando Venâncio

É um pretexto. Mas pode servir. A Revista do penúltimo “Expresso” inseria um artigo de Henrique Raposo sobre Vasco Pulido Valente, de quem prepara uma biografia. No sábado passado, o semanário incluiu uma réplica de Diogo Ramada Curto ao artigo de Raposo. E eu, que, vai para 30 anos, me ocupei do célebre cronista, tenho esta marginália (mas, bom, tome o seu tempo, e deguste relaxado), de novo aqui oferecida ao mundo.
*
Há duzentos anos, a prosa não prestigiava ninguém. Altas, garantes de fama, eram a poesia e a oratória. Tinha de ser poeta ou orador quem, por essa altura, quisesse andar nas bocas do mundo. Bocage e o padre Macedo correspondiam-se publicamente em verso. Filinto ritmava torturadamente os seus ensaios. E as multidões iam, em dia de santo, ouvir quantos, dos púlpitos, se excediam em sonoridade e arredondamentos.
Alinhar parágrafos, como suficientemente mostravam umas poucas de novelas alegóricas e ‘exemplares’, era ofício menor. A ele se entregavam os historiadores, os criadores de leituras edificantes, os autores de compêndios, os de memórias (assim se designava, por então, os ensaios), os ditantes de boas maneiras. Gente séria, mas dificilmente citável. Sobretudo, se se exceptuar o bilioso Macedo, que também polemizava em prosa, gente que a ninguém divertia. Para recreio, para descontracção, a literatura marcava encontro nos templos ou nos saraus.
Meio século mais tarde, por 1830, esse estado de coisas, no essencial, mantinha-se. Se novidade havia, eram as traduções de novelas francesas. Traduções péssimas, de efabulações de pacotilha, mas que no seu conjunto afiançavam uma movimentação editorial nada despicienda. Era patente: a prosa conservava-se um exercício sem especial magia, e não admira que os manuais a considerassem um subdomínio da eloquência. Nos casos mais felizes, a prosa discursava.

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Simplement | Malika Mellal

Simplement parler sans titre
Me laisser aller sans filtre
Aussi t’écouter comme tu aimerais
Sans rien interpréter ni imaginer
Être nous même simplement
Sans peur ni jugement
Ouvre toi n’ai pas peur de moi
Chez moi il n’existe aucune loi
Oublies tes préjugés qui te retiennent
Pour libérer une parole saine
Partager est libérateur
J’aurai les mots réparateurs
Pour te guérir et que tu respires
Tu peux parler sans réfléchir
Je saurai faire le tri dans tes pensées
Même livrées brouillées
Écoutes moi à ton tour
Me livrer sans détours
Construire cette complicité
Si chèrement convoitée
Quand deux âmes se reconnaissent
Ce n’est que bonheur en liesse
Si tu te mettais en danger
Rien ne me ferais hésiter
Je serai sûrement violente
Mais je ne serai jamais mante
Aucunes libertés sacrifiées
Ou volontés d’enfermer
Deux âmes sœurs luttant en cœur
Qui ne compteraient pas les heures
Pour chaque fois refaire le monde
De tout ces sentiments qui nous inondent.
Alors pourquoi hésites tu encore ?
Viens ne reste pas dehors.

Malika Mellal 01 /2018
Copyright@mellalmalika

Retirado do Facebook | Mural de Malika Mellal

QUEM TEM MEDO DE FRANCISCO LOUÇÃ? | Francisco Seixas da Costa

Sinto por aí um certo mal-estar com a proeminência pública de Francisco Louçã, seja pela presença regular na comunicação social (imprensa, rádio e televisão), seja pelos lugares que ocupa no Banco de Portugal e no Conselho de Estado. Pena é que não se destaque, com igual nota, a sua atividade académica, em que, por um indiscutível mérito próprio, chegou ao topo da carreira letiva, com amplo reconhecimento dos seus pares. Louçã é, além disso, autor de uma bibliografia muito assinalável, também publicada no estrangeiro.

Esta atitude anti-Louçã – chamemos as coisas pelos nomes – apoia-se num pouco subliminar juízo de “ilegitimidade”. Porque as ideias políticas de Louçã são minoritárias, dar-lhes relevo não tem o menor sentido e representa uma injustificável cedência de espaço ao Bloco de Esquerda – é esta a “lógica” do raciocínio.

Ora Louçã tem todo o direito de pensar o que pensa. Não concordo com muitas coisas que ele defende, sentir-me-ia mesmo pouco confortável se algumas das suas ideias fossem levadas à prática, nomeadamente nos temas europeus. Mas reconheço que o seu pensamento tem uma indiscutível racionalidade e coerência, mesmo quando ataca aquilo que eu próprio penso. E fá-lo com uma inteligência e uma preparação intelectual muito raras.

Num país em que o pensamento económico dominante é um ecoado por um “coro” que papagueia uma linha quase uniforme, difundindo um “template” que surge vendido como verdade indiscutível nas salas das nossas universidades (isto sabe-se?), de que algum “jornalismo” económico é apenas um subproduto para “dummies”, fico muito feliz pelo facto de poder existir, com visibilidade nacional, um contraditório, mediático e não só, feito por alguém com a estatura de Francisco Louçã.

Francisco Seixas da Costa 

Retirado do Facebook | Mural de Francisco Seixas da Costa

Onésimo Teotónio Almeida | designado pelo Presidente da República para presidir às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas | por Nuno Costa Santos

Ao saber que Onésimo Teotónio Almeida foi designado pelo Presidente da República para presidir às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, sinto de imediato tratar-se de um gesto naturalíssimo, da mais inteira justiça. Se há alguém que tem pensado Portugal de um modo original e persistente é o autor de “Rio Atlântico” e “Viagens na Minha Era”. Não é que, depois de uma vida académica intensa, com continuada produção intelectual e um reconhecimento crescente por cá (demorou mas chegou), precisasse disso. Mas é justo e faz sentido.

“A Obsessão da Portugalidade”, o seu último livro, ajuda-nos a perceber o que somos e como nos pensamos – em várias tradições. Faz críticas e elogios e um dos elogios maiores vai para Eduardo Lourenço, entretanto destratado por alguns elementos das ciências sociais, que vê como um pensador de síntese, de grande poder intuitivo, situado entre “o sentimento” de Pascoaes e “a razão” de António Sérgio.

Inspirado em Lourenço defende, nesse mesmo livro, algo elementar mas pouco formulado: a única coisa que une os portugueses é Portugal. E que cada português constrói Portugal à sua maneira, para além de quaisquer constrangimentos impostos – sem que isso apague um sentimento de pertença que de quando em quando emerge.

Sente-se que Onésimo, aos 71 anos, está mais apaziguado com um certo Portugal. E que, apesar de manter as críticas ao vícios nacionais, como o de se falar muito e se fazer pouco, como o de ser impossível debater aqui sem descambar no insulto, como o de nos mantermos deslumbrados com termos estrangeiros e modalidades fáceis de tratar o turismo, vê uma nova abertura no país, o fim de um longo período de oco e vaidoso ensimesmamento.

O país que valoriza também é o país dos pequenos territórios, das regiões, das localidades, das pequenas cidades e vilas. Os lugares onde se vive e os lugares de onde se veio. Disse, em entrevista: por muito que se queira ser global, “a ligação à terra em que se vive, mas sobretudo aquela em que se passam os anos formativos da vida, acaba por emoldurar um pano de fundo que afeta, mais ou menos intensamente, os seres humanos para toda a sua vida”. E isso em Onésimo acontece com Portugal, em geral, e com os Açores, em particular.
(Uma nota, por fim. Dado o sentido de humor de Marcelo e Onésimo, imagino que os serões pós-cerimónia merecerão ser depois consagrados em livro. Já deverá haver movimentações editoriais).

Nuno Costa Santos

Retirado do Facebook | Mural de Nuno Costa Santos

 

Migas de Marisco | António Galopim de Carvalho

A expressão “migas de marisco” é, em nossa opinião, mais correcta do que a bem conhecida açorda de marisco, de que há muitas versões por todo o país, dando razão a Maria de Lourdes Modesto (1982), quando refere a infinidade de variantes que cada receita comporta. A “açorda” de marisco da nossa casa é a melhor de todas, no dizer dos filhos, familiares e demais amigos. É uma gentileza que compensa todo o tempo necessário à sua confecção.

Cozem-se, em pouca água e durante um tempo mínimo, os camarões e uma dezena de caranguejos. À parte, cozem-se lulas pequenas ou chocos, bem limpos de tinta e peles. À parte, numa panela tapada, abrem-se amêijoas e mexilhões, comprados já limpos de areia e depurados. Se incluir lagosta coza-a também à parte. Tenha-se em atenção que apenas os camarões não perdem qualidade como congelados. Assim, todos os restantes ingredientes têm de ser necessariamente frescos (lulas, chocos, bivalves e crustáceos). Corta-se pão caseiro (alentejano ou de tipo saloio) com dois ou três dias, em fatias tão finas quanto o consinta o jeito de quem o corta.

Descasque os camarões deixando uma dezena deles intactos. As cascas dos camarões juntamente com os caranguejos cozidos são depois bem pisados. O pisado obtido é, de seguida, diluído num pouco da respectiva água de cozedura e coado por uma peneira fina ou num pano e aí bem espremido. O caldo resultante desta operação, muito rico em paladar, mistura-se com a dita água de cozedura.

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VLADIMIR VASILIEV | GOD OF THE DANCE

Танцует Владимир Васильев / Vladimir Vasiliev performs 1. A. Крейн. «Лауренсия» / Laurencia by A. Krein 2. Н. Черепнин. «Нарцисс» / Narcissus by N. Tcherepnin – 0:53 3. Л. Минкус. «Дон Кихот» / Don Quixote by L. Minkus(1969) – 5:14 4. С. Баласанян. «Лейли и Меджнун» / Leyli and Majnun by S. Balasanyan – 6:45 5. Р. Щедрин. «Конёк-Горбунок» / The Little Humpbacked Horse by R. Shchedrin – 9:15 6. С. Слонимский. «Икар» / Icarus by S. Slonimsky – 10:43 7. A. Адан. «Корсар» / Le Corsaire by A. Adam – 12:53 8. C. Прокофьев. «Ромео и Джульетта» / Romeo and Juliet by S. Prokofiev – 15:03 9. Ф. Дзеффирелли. Сцена из фильма «Травиата» / Scene from La Traviata by F. Zeffirelli – 21:42 10. Л. Минкус. «Дон Кихот» / Don Quixote by L. Minkus(1972) – 25:07 11. А. Хачатурян. «Спартак» / Spartacus by A. Khachaturian – 27:22 12. П. Чайковский. «Щелкунчик» / The Nutcracker by P. Tchaikovsky – 37:07 Все дуэты совместно с Екатериной Максимовой и Ниной Тимофеевой(Корсар)/ All duets together with Ekaterina Maximova and Nina Timofeeva(Le Corsaire) Официальный сайт артиста http://vasiliev.com Большой Балет – XX век / Bolshoi Ballet – XX сentury

Cláudio Torres: “D. Afonso Henriques não conquistou Lisboa aos mouros, foi aos cristãos”

O arqueólogo, especialista em cultura islâmica, desfaz vários mitos da História. Defende que não houve invasões muçulmanas em massa na Pensínsula Ibérica.

Cláudio Torres olha para o buraco no tecto, por onde entra a pouca luz do sol de Inverno, e exclama: “Foi aqui que tudo começou”. O “aqui” é a cisterna medieval, junto ao castelo de Mértola.

“Quando cá vim pela primeira vez, em 1976, trazido pelo presidente da Câmara, o Serrão Martins, meu aluno de História na Faculdade de Letras de Lisboa, havia uma grande figueira junto a este buraco. Espreitei lá para dentro, aquilo estava cheio de lixo, e logo na altura apanhei vários cacos de cerâmica islâmica”.

Sentado no que resta das paredes de uma casa com 900 anos, Cláudio Torres aponta para o terreiro junto ao castelo: “Os miúdos costumavam vir para aqui brincar. Havia hortas, assavam-se galinhas, namorava-se às escondidas. Em 40 anos, mudámos isto: já desenterrámos o bairro almóada do século XII, o baptistério do século VI e o palácio episcopal. Se continuarmos a escavar, vamos encontrar o fórum romano”.

Hoje com 78 anos, Cláudio Torres anda a escavar Mértola desde 1976. O arqueólogo instalou-se em definitivo com a mulher e as filhas na vila alentejana em 1985. Fundador e director do Campo Arqueológico de Mértola (trabalho que lhe valeu, em 1991, o Prémio Pessoa), é um dos mais conceituados investigadores da civilização islâmica no Mediterrâneo.

Em entrevista à SÁBADO, a propósito da edição 711 (o ano, segundo a História, que marca o início do domínio islâmico na Península Ibérica), o arqueólogo aproveita para desfazer vários mitos das invasões muçulmanas e da reconquista.

Com tantas e tão interessantes informações, decidimos dividir a entrevista em três partes, a publicar hoje e nos próximos dois dias. Na primeira, o arqueólogo aborda o que aconteceu realmente em batalhas como Covadonga e Poitiers (tidas como decisivas para travar o avanço muçulmano), assim como as conquistas de Coimbra e de Lisboa.

Na segunda parte, Cláudio Torres explica como era o actual território português em 711, fala da corrida ao ouro em Mértola e do grande contraste entre as gigantescas e opulentas cidades do sul e as urbes miseráveis como Paris e Londres, feitas de casas de madeira e ruas de lama.

Por fim, o arqueólogo aborda o seu percurso pessoal, as aventuras políticas no PCP, as prisões pela PIDE, a fuga de Portugal para Marrocos num barco a motor, o exílio na Roménia e em Budapeste e ainda o que Portugal poderá fazer para combater os radicais islâmicos do Daesh.

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Cheminée adorée | Malika Mellal

Cheminée adorée

Belle cheminée belle adorée
Qui ne cesse de brûler
Pour son beau bûcheron
Qui l’a élue âtre de sa maison
Elle aimerait parfois des fleurs
Offertes par son joli cœur
Galant et homme habile
Il lui dessine des jonquilles
Elle aimerait des friandises
Il met une bûche et attise
“Je suis l’âtre de ta maison
Ton ardente liaison
Qui réchauffe ton cœur
Les soirs de torpeur”
Il aimerait qu’elle comprenne
Que matin et soir il se démène
Pour que jamais ne s’éteigne
Le feu de sa douce sienne.
“Flamme de mon cœur
De quoi as tu peur?
Je peins à foison
Fleurs et bonbons
Pour que tes braises bleues
Crépitent d’un feu joyeux
Je débite stères après stères
Que ton cœur jamais ne désespère
Elle se réjouit, elle a compris
Que chacun se nourrit et vit
De leurs arts bien accomplis
D’amour et de mots qui se délient
Mais jamais dans le déni.
C’est pour cela que les feux
Ont un parfum délicieux
Mélange sucré boisé
D’amour subtilement délié.

Malika Mellal 15 février 2018

Clin d’oeil suite au post de Hocine Ziani

Utroba Cave | Bulgaria | 3000 anos

Utroba Cave 

Nas montanhas Rhodope, na Bulgária. Esculpido à mão há mais de 3000 anos (?), Foi redescoberto em 2001.

Os arqueólogos levantam a hipótese de que um altar construído no final da caverna, com cerca de 22 m de profundidade, ou o colo do útero ou o útero.
Ao meio dia, a luz penetra no templo através de uma abertura no teto, projetando uma imagem de um falo no chão.

Quando o sol está no ângulo direito, no final de fevereiro ou início de março, o falo cresce mais e atinge o altar, fertilizando simbolicamente o útero antes da semeadura das culturas de primavera.

Manual de Ciência Política | José Adelino Maltez

Chegou-me hoje a versão final do “Manual de Ciência Política”. Talvez saia do prelo, dentro de um mês. Tinha o dever de o editar: “O autor deste manual, apesar de uma manifesta conceção do mundo e da vida, não quer converter qualquer leitor, ou aluno, mas apenas peregrinar pelos tópicos fundamentais da coisa pública, embora invoque os seus mestres-pensadores, aqueles que o provocam neste caminho de procura da verdade, incluindo os da segunda metade do século XX, quase todos mortos no dobrar do milénio. Assim se confirma como os professores, quando se julgam na madura idade, isto é, no pleno exercício da liberdade académica, não passam de avôs de si mesmos, quando invocam aqueles inspiradores que lhes ensinaram a caminhar, das anteriores gerações. Nihil sub sole novi…Daí que não ocultemos autores malditos, de fascistas a comunistas, de reacionários a progressistas, marcados pelos sobressaltos autoritários e totalitários da primeira metade do século XX. Contudo, sempre começamos por dizer que a doutrinação missionária não cabe à universidade, mas sim às seitas que, dos seus púlpitos ou das suas redes sociais, podem diabolizar…”

José Adelino Maltez

Retirado do Facebook | Mural de José Maltez

encomendas: ISCSP: editorial@iscsp.ulisboa.pt

combien vous vendez les oeufs ?

Elle a demandé : ” combien vous vendez les oeufs ?”
Le vieux vendeur a répondu : 5 Da l’oeuf, madame “.
Elle a dit : “je vais prendre 6 oeufs pour 25 Da- ou je pars”.
Le vieux vendeur a répondu : ” venez les prendre au prix que vous souhaitez. Peut-être, c’est un bon début parce que je n’ai pas pu vendre un seul oeuf aujourd’hui “.

Elle a prit les oeufs et s’est écartée de la sensation qu’elle a gagné. Elle est entrée dans sa voiture élégante et est allée dans un restaurant élégant avec son amie. Elle et son amie ont demandé ce qu’elles voulaient. Elles ont mangé un peu et ont laissé beaucoup de ce qu’elles ont demandé. Alors elle a payé l’addition. Le compte coûtait 4000Da/ -. elle a donné 5000Da / – et a demandé au propriétaire du restaurant de garder la monnaie….

Cet incident pourrait avoir semblé assez normal au propriétaire, mais très douloureux pour le vendeur d’œufs pauvre..

Le but est,
Pourquoi avons-nous toujours montré que nous avons le pouvoir quand nous achetons des nécessiteux ? Et pourquoi sommes-nous généreux avec ceux qui n’ont même pas besoin de notre générosité ?

Une fois j’ai lu quelque part :

” mon père avait l’habitude d’acheter des biens simples de pauvres à des prix élevés, même s’il n’avait pas besoin d’eux. Parfois, il payait plus pour eux. J’étais inquiet pour cet acte et je lui ai demandé pourquoi il fait ça ? Alors mon père répondit : “C’ est une charité enveloppée dans la dignité, mon fils”

Os massacres do regime colonial e ditatorial | Rodrigo Sousa e Castro

Os terriveis massacres de Batepá em São Tomé, Pidjiguiti, na Guiné, Baixa do Cassange, em Angola, Mueda e Wiriamu, em Moçambique, são pontos negros e dolorosos da nossa presença em África.
Exprimiram o ódio do regime colonial e ditatorial contra os Povos Africanos suprimindo qualquer ideia de Liberdade e Libertação mesmo antes de começar a luta armada e das violentas reações contra as populações brancas, indefesas e colocadas entre dois fogos.
Foram em geral os desencadeadores da guerra injusta que se seguiu.
Esta é a herança mais dramática do fascista Salazar e da Ditadura Fascista a que algumas almas cobardemente piedosas chamam de Estado Novo, e que muitos por aqui incensam ou simplesmente toleram.
Que seja um Presidente oriundo das Direitas, onde se acoitam todos os saudosistas da ditadura, ainda por cima filho de um ex ministro da ditadura a resgatar a Honra da Nação e do Povo Português perante aqueles Povos Irmãos, revela uma dimensão de Homem e Estadista muito rara nos tempos que correm.
Obrigado Presidente Marcelo.

Rodrigo Sousa e Castro

Retirado do Facebook | Mural de Rodrigo Sousa e Castro

O sorriso | Le sourire | Eugénio de Andrade

 

 

 

 

Creio que foi o sorriso,
0 sorriso foi quem abriu aporta.
Era um sorriso com
muita luz
lá dentro, apetecia entrar nele,
tirar a roupa,
ficar
nu dentro daquele
sorriso.

Correr, navegar, morrer
naquele sorriso.

Eugénio de Andrade


Le sourire

Je crois que ce fut le sourire,
le sourire, lui, qui ouvrit la porte.
C’était un sourire avec
beaucoup de lumière
à l’intérieur, il me plaisait
d’y entrer,
de me dévêtir,
de rester
nu
à l’intérieur de ce sourire.

Courir, naviguer, mourir
dans ce sourire.

Eugénio de Andrade

Giordano Bruno, o místico ‘visionário’ queimado na fogueira há 418 anos pela Santa Inquisição in BBC Brasil

Há 418 anos, em 17 de fevereiro de 1600, uma quinta-feira ensolarada, Roma presenciou um espetáculo dantesco. Centenas de pessoas lotaram o Campo dei Fiori (Campo das Flores), uma praça no centro da cidade, para assistir à morte na fogueira de Giordano Bruno, por ordem da Santa Inquisição.

O padre, filósofo, místico, poeta, autor de peças de teatro, nascido Filippo Bruno em 1548 em Nola, no reino de Nápoles, pagava com a vida pela ousadia de ter desafiado a Igreja e discordado das ideias então vigentes, entre as quais a de que a Terra era o centro do universo.

A sentença havia sido proferida oito dias antes pelo papa Clemente 8 depois de sete anos de julgamento, durante os quais Bruno negou-se diversas vezes a renunciar às suas ideias e arrepender-se. Fez mais. Conta-se que, enquanto ardia na fogueira, ainda teve forças para virar o rosto a um crucifixo que alguém lhe havia mostrado.

No livro As Sete Maiores Descobertas Científicas da História, os irmãos David Eliot e Arnold Brody contam que a história desse desfecho trágico, mas mais ou menos previsível para a época, começou a ser escrita em 1575, quando Bruno leu textos proibidos do filósofo holandês Desidério Erasmo (1466-1536), o que lhe valeu o primeiro processo de excomunhão.

É provável, dizem, que o temperamento inquieto e contestador de Giordano Bruno o tivesse levado por si só à fogueira, mas ter lido Erasmo ajudou a marcá-lo como herege. Na verdade, desde cedo ele mostrou tendências heterodoxas. Ainda noviço, ele atraiu atenção pela originalidade de seus pontos de vista e por suas exposições críticas das doutrinas teológicas então aceitas.

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Um grito (sufocado) contra a ditadura | Álvaro Alves de Faria, por J. J. Pereira Coelho

I

            Se já foi definido pelo poeta e professor Affonso Romano de Sant´Anna, doutor em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, como o mais português dos poetas brasileiros, Álvaro Alves de Faria (1942) também pode ser considerado um dos romancistas mais criativos da geração de 1940 na Literatura Brasileira. Prova disso é o romance O Tribunal (Taubaté-SP: Editora LetraSelvagem, 2015), escrito e publicado em 1971 à época do regime militar (1964-1985) e que constitui “um testemunho fidedigno da resistência da cidadania contra um regime ditatorial e a demonstração surpreendente da capacidade humana de superação diante das mais angustiantes situações”, na definição do editor e escritor Nicodemos Sena, autor do texto de apresentação deste livro.

            Texto que foge à classificação de novela ou romance, O Tribunal, primeira incursão do poeta na ficção, é uma prosa poética em tom de confissão – não fosse seu autor extremamente lírico – que surpreende ainda hoje o leitor, ao mostrar “uma personagem que avança pelos meandros de uma selva escura, através das barbáries e miséria, lutando pela consolação desse sentimento positivo”, como escreveu o crítico Geraldo Galvão Ferraz (1941-2013) no prefácio preparado para a segunda edição desta obra publicada em 1976.

            Como o bancário Josef K., de O Processo, de Franz Kafka (1883-1924), a personagem de Faria se vê diante de uma acusação absurda, que foge à luz da razão, ou seja, a de ter atropelado um tanque, o que lhe rende uma condenação à pena máxima. E, como a personagem de Kafka, sente-se como um inseto diante da brutalidade e insensibilidade de “um tribunal criado apenas para condenar”.

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A Mulher, o Homem e o Cão | Um romance das profundezas da floresta | Nicodemos Sena por Adelto Gonçalves

I

Terceiro romance de Nicodemos Sena (1958), A Mulher, o Homem e o Cão (Taubaté-SP, Editora LetraSelvagem, 2009) não só confirma o talento do seu autor como, ao lado de seus livros anteriores, é, desde a sua publicação, obra de referência para o estudo temático da vida das populações marginalizadas da Amazônia (indígenas e caboclos) na Literatura Brasileira. Por seu estilo ímpar, o autor já foi comparado a grandes ficcionistas brasileiros, como Graciliano Ramos (1892-1953), Mário de Andrade (1893-1945), Érico Veríssimo (1905-1975), Guimarães Rosa (1908-1967) e João Ubaldo Ribeir o (1941-2014), e a importantes ficcionistas latino-americanos, como o paraguaio Augusto Roa Bastos (1917-2005) e o peruano José María Arguedas (1911-1969).

A exemplo do que fez Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, com a figura de Riobaldo, o personagem-narrador de A Mulher, o Homem e o Cãofala diante de um suposto ouvinte sobre as suas vivências no meio da floresta amazônica, discorrendo histórias fantásticas, com ele ocorridas e com sua família, que estão perpassadas por mitos regionais e bíblicos.  Em outros momentos, o narrador-personagem, cujo nome não se conhece, reproduz para o seu suposto ouvinte o que a esposa lhe contara sobre um diálogo que tivera com um homem desconhecido, que seria o “coisa ruim”, uma criatura fantástica e camaleônica que acaba por gerar os conflitos quer perpassam o romance.

Na verdade, como diz o protagonista-narrador logo no início da narrativa, ele, a mulher e seu menino (que, como as crianças-personagens de Graciliano Ramos em Vidas Secas, não tem nome) –  e também o cão que apareceu depois – viveram uma vida feliz em meio aos mistérios da selva, até que algo de estranho aconteceu, ou seja, o aparecimento de uma criatura diabólica, de voz doce e melodiosa, que teria atraído para a água do rio a sua esposa com propostas soezes.

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«Há muita sede no coração humano»: Tolentino Mendonça escreve sobre cultura e retiro do papa

Por vocação e missão dei por mim, nos meus 25 anos de vida sacerdotal, a trabalhar pastoralmente no âmbito do pensamento e da cultura. Se há lugar em que a Igreja se assemelha a um hospital de campo – para retomar a imagem mais do que oportuna do papa Francisco –, é precisamente este, onde as perguntas são exigentes e contínuas, as procuras de sentido são intensas, por vezes extremas, na sua vulnerabilidade, e a fome de Deus é, sim, latente, mas também se oculta sob uma dor humana nem sempre confessada, um grande vazio, muito sofrimento, em conflito e em solidão no modo de se confrontar com a vida ou com a fé. Por isso, quem trabalha no sector da cultura não pode ser uma simples pessoa de gabinete ou gestor de sacristia. Apesar de trabalhar há muitos anos numa universidade, vejo-me, com efeito, como um padre de estrada, dado que a cultura, na sua fantástica e dramática vitalidade, é isto: é estar no meio da estrada, é o desarmante espaço aberto da vida. A cultura é um extraordinário motor de procura, no qual a complexa ansiedade do viver está sempre presente. Um território que não é fácil, mas é apaixonante. E este campo pastoral ensinou-me o valor da escuta.

A escuta é já, por si, um modo de cuidar, uma maneira de se ocupar das feridas do coração humano. Um sacerdote não deve ser necessariamente um megafone. Muitas vezes aquilo que Deus lhe pede é ser uma humilde antena. Não tem de seguir diretamente para Jerusalém sem olhar nem para a direita nem para a esquerda, indiferente aos dramas dos outros. Muitas vezes, o que Deus lhe pede é que seja o Bom Samaritano de plantão. O amor de Cristo pelos humanos é um amor sem reservas, é uma misericórdia que nos abre à vastidão, baseando-se nos pontos de partida já existentes, ainda que frágeis e insuficientes no turbilhão da vida. A pastoral deve tentar ser uma arte da hospitalidade. Só quem está disposto a escutar as perguntas até ao fim pode dar respostas. Se há coisa que eu aprendi ao trabalhar no campo da cultura é o significado espiritual da sede. Agradeço a Deus todos os dias por isso. Há muita sede no coração humano. O coração, podemos dizer, é um interminável reservatório de sede. Sede de amor. Sede de verdade. Sede de reconhecimento. Sede de razões de viver. Sede de um refúgio. Sede de novas palavras e de novas formas. Sede de justiça. Sede de humanidade autêntica. Sede de infinito. E Jesus identificou-se com os sedentos. Uma das suas últimas palavras na cruz foi «tenho sede» (João 19, 28). A sede torna-se assim uma interpretação necessária não só para chegar ao coração humano, mas também para compreender o mistério de Deus.

Quando o Santo Padre quis falar comigo para que colaborasse nos Exercícios da Quaresma, disse-lhe que eu sou apenas um pobre padre, e é a verdade. Ele encorajou-me a partilhar da minha pobreza. Veio então à minha mente propor um ciclo de meditações muito simples sobre a sede, intitulado “Elogio da sede”. A sede é um tema bíblico, elaborado muitas vezes pela tradição cristã, e ao mesmo tempo é um mapa real, muito concreto, que nos ajuda a ficarmos sintonizados com a vida de todos os dias. Interessa-me sobretudo uma espiritualidade do quotidiano.

José Tolentino Mendonça 
In Avvenire 
Trad.: SNPC
Imagem: amenic181/Bigstock.com
Publicado em 15.02.2018
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Gosto deste Senhor; um homem de grande espiritualidade, filósofo, homem de extensíssima cultura. Humano, que entende os humanos. Um Cristão. (VCS)

Ils ont changé le monde | Les Arabes | France 5

A l’origine, des tribus nomades vivant dans les déserts de la péninsule arabique s’unissent sous l’influence d’un homme, le prophète Muhammad. Par la suite, ce peuple parvient à conquérir un large empire, ce qui l’amène à se rapprocher d’un grand nombre de civilisations différentes. Bagdad devient ainsi la capitale intellectuelle de son époque et accueille les savant étrangers de toutes les disciplines. De nombreux traités de référence en chirurgie, botanique, mathématiques et astronomie voient le jour. Mais les luttes intestines et les invasions successives affaiblissent peu à peu l’empire des califes jusqu’à sa disparition.

Os desafios da social democracia | Pedro Nuno Santos in Jornal Público

1. Em 2015 deu-se uma viragem histórica em Portugal: pela primeira vez na história da nossa democracia a esquerda entendia-se para formar uma maioria que sustentasse um governo. Ganhou a representação democrática: temos uma democracia mais plural, com mais configurações parlamentares disponíveis e sem nenhum partido excluído, por definição, da esfera governativa. O nosso sistema político tem hoje dois pólos distintos, o que promove a dialética entre visões diferentes da sociedade, facilita a escolha do eleitorado e torna mais difícil a emergência de extremismos.

Ganhou também o país: Este Governo e esta maioria estão a mostrar que é possível viver melhor em Portugal e a imprimir mudanças profundas nas políticas públicas. O que estamos a fazer na política orçamental e de rendimentos, na trajetória do salário mínimo, no alargamento de direitos e mínimos sociais, na recuperação dos serviços públicos ou na diversificação do financiamento da segurança social é mesmo diferente do que um Governo apoiado numa maioria de direita faria.

Ganhou, por fim, o PS: com esta solução governativa, aumentou a sua autonomia estratégica. Não está impedido de procurar compromissos alargados em áreas específicas (como as de soberania), mas deixou de estar obrigado a governar com a direita.

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Gonçalo M. Tavares | UN PAYS AGRÉABLE

C’était un pays très agréable à vivre, mais les gens étaient tellement paresseux que, lorsque le président leur ordonna de défendre les frontières, ils ne firent rien d’autre que bâiller. Ils furent envahis.
A leur tour, les envahisseurs commencèrent à devenir paresseux et, un jour, lorsque le nouveau président ordonna que les hommes aillent défendre les frontières, tous se mirent à bâiller. Ils furent eux aussi envahis.
Une fois encore, les envahisseurs devinrent rapidement paresseux et, lorsque pour la troisième fois un nouveau président ordonna que les hommes aillent assurer la défense des frontières, tous se mirent à bâiller. Une fois de plus, ils furent envahis. Le pays était de plus en plus peuplé.
Ce phénomène se répéta jusqu’à ce que tous les peuples – même ceux venus de l’autre bout de la terre – aient envahi ce pays, avant d’être envahis à leur tour. Il ne restait plus personne nulle part : tout le monde se pressait dans ce pays agréable.
C’est alors que le nouveau président résolu d’ordonner l’invasion du reste du monde : puisqu’il était complètement vide, le monde était donc à sa merci. Cependant, tous les hommes se mirent à bâiller.
Alors le président (sans rien remarquer) s’avança, seul.

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Gonçalo M. Tavares (Autor)
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UM PAÍS AGRADÁVEL

Era um país muito agradável para viver, mas as pessoas eram tão preguiçosas que, quando o presidente ordenou que defendessem as fronteiras, eles não faziam nada além de bocejar. Eles foram invadidos.
Por sua vez, os invasores começaram a tornar-se preguiçosos, e um dia, quando o novo presidente ordenou que os homens fossem e defendessem as fronteiras, todos começaram a bocejar. Eles também foram invadidos.
Mais uma vez, os invasores rapidamente tornaram-se preguiçosos e, quando, pela terceira vez, um novo presidente ordenou que os homens fossem à defesa das fronteiras, todos começaram a bocejar. Mais uma vez, eles foram invadidos. O país estava cada vez mais povoado.
Este fenômeno foi repetido até que todos os povos – mesmo aqueles do outro lado da terra – invadiram este país, antes de serem invadidos por sua vez. Não havia ninguém em qualquer lugar: todos estavam apressando-se para este país agradável.
Foi então que o novo presidente resolveu ordenar a invasão do resto do mundo: uma vez que estava completamente vazio, o mundo estava, portanto, à sua mercê. No entanto, todos os homens começaram a bocejar.
Então, o presidente (sem nada perceber) avançou sozinho.

Bebe | Cocaine | Siempre me quedará

Cómo decir que me parte en mil
Las esquinitas de mis huesos,
Que han caído los esquemas de mi vida
Ahora que todo era perfecto.
Y algo más que eso,
Me sorbiste el seso y me desciende el peso
De este cuerpecito mío
Que se ha convertido en río.
De este cuerpecito mío
Que se ha convertido en río.

Me cuesta abrir los ojos
Y lo hago poco a poco,
No sea que aún te encuentre cerca.
Me guardo tu recuerdo
Como el mejor secreto,
Que dulce fue tenerte dentro.

Hay un trozo de luz
En esta oscuridad
Para prestarme calma.
El tiempo todo calma,
La tempestad y la calma,
El tiempo todo calma,
La tempestad y la calma.

Siempre me quedará
La voz suave del mar,
Volver a respirar la lluvia que caerá
Sobre este cuerpo y mojará
La flor que crece en mi,
Y volver a reír
Y cada día un instante
Volver a pensar en ti.
En la voz suave del mar,
En volver a respirar la lluvia que caerá
Sobre este cuerpo y mojará
La flor que crece en mi,
Y volver a reír
Y cada día un instante
Volver a pensar en ti.

Cómo decir que me parte en mil
Las esquinitas de mis huesos,
Que han caído los esquemas de mi vida
Ahora que todo era perfecto.
Y algo más que eso,
Me sorbiste el seso
Y me desciende el peso
De este cuerpecito mío
Que se ha convertido en río.

Siempre me quedará
La voz suave del mar,
Volver a respirar la lluvia que caerá
Sobre este cuerpo y mojará
La flor que crece en mi,
Y volver a reír
Y cada día un instante
Volver a pensar en ti.
En la voz suave del mar,
En volver a respirar la lluvia que caerá
Sobre este cuerpo y mojará
La flor que crece en mi,
Y volver a reír
Y cada día un instante
Volver a pensar en ti.

POÈME LIBERTÉ | Paul Eluard | Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira

 

Sur mes cahiers d’écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable de neige
J’écris ton nom

Sur toutes les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J’écris ton nom

Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J’écris ton nom

Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l’écho de mon enfance
J’écris ton nom

Sur les merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J’écris ton nom

Sur tous mes chiffons d’azur
Sur l’étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J’écris ton nom

Sur les champs sur l’horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J’écris ton nom

Sur chaque bouffées d’aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J’écris ton nom

Sur la mousse des nuages
Sur les sueurs de l’orage
Sur la pluie épaisse et fade
J’écris ton nom

Sur les formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J’écris ton nom

Sur les sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J’écris ton nom

Sur la lampe qui s’allume
Sur la lampe qui s’éteint
Sur mes raisons réunies
J’écris ton nom

Sur le fruit coupé en deux
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J’écris ton nom

Sur mon chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J’écris ton nom

Sur le tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J’écris ton nom

Sur toute chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J’écris ton nom

Sur la vitre des surprises
Sur les lèvres attendries
Bien au-dessus du silence
J’écris ton nom

Sur mes refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J’écris ton nom

Sur l’absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J’écris ton nom

Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l’espoir sans souvenir
J’écris ton nom

Et par le pouvoir d’un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer

Liberté

(Continua)

Paul Éluard
Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira
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Pour Azouzou ma grand mère qui est partie | Malika Mellal

Un dernier instant 
Juste un petit moment
Je veux lui parler et la voir
Lui dire je t’aime et au revoir
Laissez moi juste cet instant
Faites que j’arrive à temps
Avant qu’on l’emmène
Dans sa dernière demeure
Je suis si loin d’elle, j’ai peur
Attendez moi ! Je ne suis qu’à un pas
Après ce voyage interminable enfin me voilà

J’essaie de me frayer un chemin jusqu’à elle
Elle est là toute à moi son corps si frêle
Des femmes crient ! prient ! Je faiblis
Je m’approche d’elle et supplie.

Elle est belle ! Elle dort ? Réveille toi !
Je suis là ! Regarde moi ! Parle moi !
Mes larmes coulent ! On me somme d’arrêter !
Celles-ci ne doivent pas violer sa nouvelle virginité.
Elle sourit ! Elle paraît heureuse
Je lui murmure des mots sous les cris des pleureuses.

Nous sommes réunies pour la dernière fois
Trois générations, trois femmes, un seul lien
Traversé tant de tempêtes et d’émois
Ensemble fortes, main dans la main
Elle m’a transmis tant de valeurs et de foi

Je suis là pour ce dernier instant
Ce tout dernier moment
Ils couvrent son corps d’un drapeau
La montent au plus haut
Sous les youyous et les cris
Les hommes s’empressent dans le bruit
Comme dans une course ils font vite
Je les poursuis dans cette fuite
Ils m’arrêtent , m’empêchent de les suivre
Elle part , sans elle continuer à vivre
Je dois faire comme elle, avoir du courage
Indépendante, fière, savoir tourner une page
Ce dernier moment,ce dernier instant
Elle est partie toute vêtue de blanc.

Malika mellal

Pour Azouzou ma grand mère qui est partie
Mercredi 31 janvier 2018

Todas as cartas de amor são ridículas | versões portuguesa e francesa | Álvaro de Campos / Fernando Pessoa

Toutes les lettres d’amour sont ridicules.

Toutes les lettres d’amour sont
Ridicules.
Elles seraient pas lettres d’amour si elles étaient pas
Ridicules.

J’ai écrit aussi, à mon époque, lettres d’amour,
comme celles-là,
ridicules.

Les lettres d’amour, s’il y a de l’amour,
doivent être
Ridicules.

Mais, en fin du compte,
Juste les gens qui ont jamais écrit
Lettres d’amour
sont
ridicules.

Qu’elle était bonne, l’époque où j’écrivais les lettres d’amour
sans me rendre compte
qu’elles étaient si ridicules.

La vérité, aujourd’hui ce sont mes mémoires
de ces lettres d’amour,
qui sont ridicules.

(Tous les mots quétaines,
comme les sentiments quétaines,
sont naturellement ridicules)
——
Álvaro de Campos – hétéronyme de Fernando Pessoa (PORTUGAL)


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Andrei Markin, Russian ,(ENJOY)

Jay Yanagawa 
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A woman is an eternal dream, mystery and a muse. I like glamour woman’s portraiture with dreamy, elegant and sensual twist. The beauty of a woman is a power; a smile is its sword. Intelligence is sexy, Spiritual awareness is powerful, Self-love makes you invincible. Happiness is what makes you pretty. Period. Happy people are beautiful. They become like a mirror and they reflect happiness. Elegance is a glowing inner peace. Grace is an ability to give as well as to receive and be thankful. Mystery is a hidden laugh always ready to surface! Glamour only radiates if there is a sublime courage and bravery within: glamour is like the moon; it only shines because the sun is there.