O perfil de Dorian Gray – por Leonne Castro

Da mesma forma funcionam nossos perfis nas redes sociais. Pense: lá consta foto, nome, idade, preferências, escolhas culturais e até uma linha do tempo, traçando o comportamento do usuário ao longo dos dias. Tudo é tão plausível e verossimilhante que chega a confundir. Trata-se de uma imagem que montamos de nós mesmos e que passa a ser o que somos para um número significativo de pessoas. Quando não se teve a oportunidade de conhecer alguém com mais afinco, é com base na internet que formamos nosso [pré]conceito – prática comum inclusive em empresas, que buscam informações de funcionários e candidatos em processo de seleção. É como se fôssemos, cada um de nós, eternos Dorian Gray’s, com nosso retrato intacto aos olhos do mundo, sem se preocupar com os bastidores da alma.

Leonne Castro – LiteraTortura.

Bluebird

Bluebird é uma animação de um poema de Charles Bukowski, criada por Monika Umba, estudante de Cambrigde School of Art. Sobe esta animação, Marina Franconeti escreveu o seguinte:

Com uma perfeição visual muito bem desenvolvida pela artista, a trilha de poucas notas dá o toque melancólico que soa na leitura. Os personagens possuem um corpo meio rígido, parecem feitos de recortes de jornal. Por isso, tem algo de cotidiano neles. O pássaro e o azul, os grandes protagonistas da animação, dão o tom aos eventos e brilham pela imagem, trazendo à vida a magia do poema.

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Filipe Morato Gomes – Cronista de Viagens

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Filipe Morato Gomes define-se como uma espécie de viajante profissional.

Tenho, atualmente, 43 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, estive em quase 100 países e estou certo de que essa experiência pode ser útil para os que, como tu, querem também descobrir o mundo. Estejas a dar os primeiros passos ou a desbravar novas e mais desafiantes geografias.
Quero, especialmente, inspirar-te.

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De Corpo Inteiro

DeCorpoInteiro_RRNo próximo dia 3 de dezembro, quarta-feira, pelas 18:30, realiza-se na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, a sessão de lançamento do livro Rui Rio – de corpo inteiro, da autoria de Mário Jorge Carvalho. Com a presença de Rui Rio, a apresentação do livro ficará a cargo de Daniel Bessa.
Prefaciado por Nuno Morais Sarmento e com posfácio de Fernando Neves de Almeida, Rui Rio – de corpo inteiro apresenta o retrato do homem e as ideias do político através de inúmeras conversas que Mário Jorge Carvalho manteve com Rui Rio ao longo do ano de 2014 e de testemunhos de quase meia centena de pessoas (desde amigos, colegas e apoiantes a críticos e opositores políticos), procurando o autor responder às muitas perguntas que se colocam sobre Rui Rio e as suas ideias.

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Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres

Assinalando o dia 25 de Novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) promove uma ação de sensibilização através de plataformas online. Esta ação passa pela partilha de fotos (“selfies”) no Instagram, acompanhadas da mensagem “Basta que me batas uma vez”.

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O Meu Irmão – Prémio LeYa 2014

O Meu IrmãoEm O Meu Irmão, considerado pelo júri, de forma unânime, o melhor original apresentado este ano a concurso, o narrador, um professor universitário de meia-idade, passa férias com o irmão deficiente numa pequena casa de família situada numa aldeia abandonada no interior de Portugal. O isolamento força-o a rememorar a vida em comum com o irmão, em particular porque os acontecimentos mais recentes podem pôr em causa o seu relacionamento. No fim desvenda-se o mistério.

Recordando as palavras do júri no dia da atribuição do Prémio, o livro aborda um tema delicado, que poderia suscitar uma visão sentimental e vulgar: a relação entre dois irmãos, um deles com síndrome de Down. A realidade é trabalhada de uma forma objectiva e com a violência que estas situações humanas podem desenvolver, dando também um retrato social que evita tomadas de decisão fáceis, obrigando a um investimento numa leitura que nos confronta com a dificuldade de um mundo impiedoso. Há no entanto uma tonalidade lírica na relação que se estabelece entre dois deficientes e que salva, através de apontamentos de poesia e humor, o desconforto de quem vive este problema.

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As Criadas – de Jean Genet por ArteViva

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AS CRIADAS, de Jean Genet.
Encenação de Carina Silva. Em Cena de Novembro 2014 a Janeiro 2015

Duas criadas, uma Senhora. Duas Senhoras, uma criada. Uma Senhora que é criada, uma criada que é Senhora, ou serão duas? Uma Senhora prestes a ser assassinada pelas criadas mascaradas de Senhora. Duas criadas oprimidas, pobres, invejosas. Querem os vestidos, querem a riqueza. A vontade é alimentada pelo desespero. Duas aspirantes a Senhora.
Uma Senhora que não sabe… não saberá? Entre o “silencioso arroto do lava-loiça” e a Senhora e “a sua estola, as suas pérolas, as suas lágrimas, os seus suspiros, a sua doçura”, há máscaras, mentiras, segredos e angústias.

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Um Circo que Passa, de Patrick Modiano

Um Circo que Passa

Um Circo que Passa revela bem o estilo de Patrick Modiano, fortemente marcado pela Guerra, pelos anos 40 e pela sua própria infância.

A polícia, os bares duvidosos e as ruas de uma cidade simultaneamente amiga e inimiga – é nesta Paris dos anos 60 que acompanhamos a fuga e as deambulações de um casal à procura do amor. Uma história que tem como narrador Jean, e em que toda a acção gira em torno do seu relacionamento, aos dezassete anos, com a misteriosa Gisèle.

Ambos têm muito a esconder um do outro. Partilham, porém, os mesmos sonhos.

Os Pés na Grande Guerra

Imagens de treino da Cavalaria Portuguesa na Primeira Guerra Mundial – British Pathé.

Em agosto de 1914, os pés (categoria na qual se incluíam as patas dos cavalos) eram tão importantes como os comboios, de tal maneira que, depois do desembarque em zonas de concentração, cavalaria e infantaria se deslocavam sobre a linha de marcha. Para os alemães, era o presságio de dias infindáveis a caminharem para oeste e para sul, nos quais os pés humanos iriam sangrar e as ferraduras dos cavalos perder-se. O tilintar revelador de um prego solto era o sinal para o cavaleiro procurar um ferrador, se quisesse seguir a coluna no dia seguinte. Para o condutor de uma carruagem, semelhante som ameaçava comprometer a mobilidade dos seis animais aparelhados.

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História da Criança em Portugal, de Maria João Martins

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DESDE D. AFONSO HENRIQUES ATÉ AOS NOSSOS DIAS, UM OLHAR INÉDITO SOBRE A INFÂNCIA

O que tiveram em comum as infâncias de D. Afonso Henriques, Luís de Camões e dos nossos próprios avós? Na verdade, quase nada, à parte as dores associadas ao aparecimento dos primeiros dentes e as dificuldades de adaptação ao mundo. Ser criança é um estado condicionado pela sociedade e pela cultura, que variou ao longo dos séculos, ao sabor da própria História.

História da Criança em Portugal é uma viagem fascinante pela história do nosso país, desde o nascer da nacionalidade até aos nossos dias: surpreendemos as crianças nos seus jogos e brincadeiras, no quarto de vestir ou na escola, mas também na oficina, na eira, no orfanato ou no hospital.

Neste livro ficamos a saber como eram educados os reis com vista à futura governação do país, como apareceu a moda infantil, qual o papel da escola após a implantação da República ou a conhecer o lugar da criança na sociedade de consumo contemporânea.

Obra didática e rigorosa, surpreendente e divertida, História da Criança em Portugal é um trabalho inédito na historiografia nacional que não deixará nenhum leitor indiferente.

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Domingos de Agosto, de Patrick Modiano

Domingos de Agosto

Em Domingos de Agosto entramos num fascinante labirinto de mistérios. Por que motivo o narrador fugiu das margens do Marne com Sylvia para se esconderem num obscuro quarto de Nice? Qual a origem do diamante Cruz do Sul, que Sylvia arrasta consigo como uma promessa e uma maldição?

De que morreu o popular ator Aimos? Quem é Villecourt? Quem são os Neal, esse estranho casal cujo carro ostenta uma matrícula diplomática?

E por que estão tão interessados em Sylvia, no narrador e no Cruzeiro do Sul? Ao longo das páginas deste misterioso romance, onde se cruzam todos estes enigmas, nasce uma história de amor que exala um fascínio que irá dominar o leitor por muito tempo.

Citando Rubem Fonseca

Quando terminei o curso primário, arranjei um emprego para ajudar a minha mãe. De bicicleta eu fazia a entrega de produtos de beleza de uma firma que não tinha loja, só anunciava pela internet. O nome era Slim Beauty, acho que é assim que se escreve, é inglês, creio que significa beleza e magreza. Mas quando eu tocava a campainha das casas para entregar os pacotes, as mulheres que abriam a porta estavam cada vez mais gordas.

Amalgama

Amálgama, de Rubem Fonseca – Sextante.

Leia a nota de imprensa aqui.

Meninas, de Maria Teresa Horta

MeninasDo fabuloso monólogo de Lilith num paradisíaco ventre materno, primeiro conto deste volume, até «Estrela», que fecha o livro, numa violenta, mas irresistível, história de abuso sexual paterno que leva a filha ao suicídio, Maria Teresa Horta traça, num português sumptuoso, ao longo de trinta e dois contos, uma vasta e belíssima galeria de meninas. Quase todas negligenciadas, quando não abandonadas e maltratadas, entregam-se à magia ou à leitura salvadoras. É assim com Beatriz, à beira do abismo no Faial, com Laura, abandonada pela mãe em «Eclipse», com Branca, perseguida pela madrasta e o pai, com Maria do Resgate, que abre a porta aos anjos na falta da mãe, com Rute, ladra «sem culpa» de uma rosa apaixonante. Mas também com a infância de personagens históricas como a sanguinária condessa húngara Erzsébet, com a rebelde Carlota Joaquina, inconformada com um destino que não quis, a seduzir e a enfeitiçar o pintor Maella, autor do seu retrato oficial, ou literárias como Katie Lewis, apaixonada pela leitura e assim retratada por Edward Burne-Jones, a gerar o fascínio de Oscar Wilde.

A Viagem do Elefante – em BD

A_Viagem_Elefante_JSJosé Saramago em BD
João Amaral adapta para banda desenhada A Viagem do Elefante.
No dia 21 de novembro, a Porto Editora publica um livro surpreendente: A Viagem do Elefante, romance de José Saramago, adaptado para banda desenhada por João Amaral. Resultado de um trabalho de quase três anos, este livro, que tem a particularidade de ser narrado pelo Nobel português, relata a viagem do elefante Salomão, um presente do rei D. João III para o arquiduque Maximiliano da Áustria, de Lisboa até Viena, guiado pelo indiano Subhro.
Como diz Pilar del Río, no prefácio que escreveu para este livro, «o caminho até Viena é tortuoso: João Amaral sabe-o bem porque o esteve a desenhar durante mais de dois anos passo a passo. […] João Amaral estudou muito bem aquilo que José Saramago havia escrito e logo que o soube com todas as letras pintou-o para que nada na sua banda desenhada fosse falso».

Leia a recensão no Acrítico, leituras dispersas.

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MixBrasil 2014

MixBrasil_macaquinhosAinda faz sentido definir gêneros em um mundo onde a fronteira entre o masculino e o feminino estão cada vez menos claras? 

Abriu em São Paulo o 22º Festival MixBrasil de Cultura e Diversidade que decorre até 23 de Novembro.

Na amostra de teatro, um dos destaques vai para a performance Macaquinhos que leva ao palco nove atores explorando o ânus um dos outros. As linhas de força da atuação: o desbunde: deboche: degredo: ingênuo: vulgar: arcaico: frágil: íntimo: comum: construir uma fisicalidade a partir do cu: brincar de epistemologia do cu: parodiando: Macaquinhos assenta em três orientações: aprender que existe cu: aprender a ir para o cu: aprender a partir do cu e com o cu.

A arte levada a novos limites, explorando novos conceitos, para ajudar a compreender e dar visibilidade à crescente multiplicidade de identidades sexuais.

macaquinho from Fernanda Vinhas on Vimeo.

Vila Algarve, de Francisco Duarte Azevedo

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Este romance conta a história de um homem – um branco, português, de uma família de retornados a Portugal com a descolonização – que regressa à cidade onde viveu a sua infância e juventude.
A cidade é a mesma, e é outra – chama-se Maputo. Na alterada geografia poucos marcos se mantêm: uma amizade, os fantasmas que lhe povoam a solidão, e a Vila Algarve.

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Nove Mil Passos, de Pedro Almeida Vieira

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Um livro narrado por Francisco d’Ollanda, ou melhor pelo seu espírito, já que o narrador está morto, num tom cheio de humor, que nos relata as peripécias que o seu ser imaterial vai acompanhando.
Francisco d’Ollanda foi o primeiro arquitecto e visionário a quem D. João III pediu estudos para a construção de um aqueduto que abastecesse de água a cidade de Lisboa e aqui conta, quase dois séculos depois, como se processou todo o estudo, adjudicação e construção do Aqueduto das Águas Livres, já no reinado de D. João V.
Ficamos a saber tudo sobre os seus construtores e as tramóias, as intrigas, as traições, os golpes de génio que vão fazendo andar de um para outro dos arquitectos e engenheiros que ficaram com o seu nome ligado ao fabuloso monumento.

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O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Zafón

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Com um estilo deslumbrante e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo à Barcelona de o Cemitério dos Livros Esquecidos para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos, onde o encantamento dos livros, a paixão e a amizade se conjugam num romance magistral.

Na turbulenta Barcelona dos anos de 1920, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe a proposta de um misterioso editor para escrever um livro como nunca existiu, em troca de uma fortuna e, talvez, de muito mais.

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O Leopardo, de Jo Nesbo

O Leopardo

Perturbado com os acontecimentos que levaram à detenção do Boneco de Neve, o inspector Harry Hole refugia-se em Hong Kong onde as únicas regras a que obedece são as que lhe são impostas na sordidez das salas de ópio. Enquanto isso, em Oslo, num inverno excepcionalmente ameno, a Polícia depara-se com o brutal assassino de duas mulheres.

Sem pistas, sem perceber que arma do crime seria capaz de provocar os ferimentos que apresentavam, e com a investigação num impasse, só lhe esta encontrar Harry Hole e convencê-lo a colaborar.

Com o pai gravemente doente no hospital, Harry Hole acaba por regressar à Noruega. Não tenciona trabalhar na investigação mas o instinto leva a melhor quando a Polícia encontra uma terceira vítima num parque da cidade, violentamente assassinada. Quando consegue desvendar a ligação entre as vítimas, Harry Hole percebe que está a lidar com um psicopata que, tal como O Boneco de Neve, o vai levar ao limite das suas capacidades.

Prémio Literário Fernando Namora 2013

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As Primeiras Coisas, de Bruno Vieira Amaral vence o prémio literário Fernando Namora 2013.

Neste romance, somos convidados a reviver um país suburbano, pobre e bairrista, que o dinheiro, injetado pela União Europeia, parecia ter resgatado de forma definitiva. Um país onde frases deste tipo fazem todo o sentido: o doutor Santos era médico, de especialidade indeterminada, ou ainda, Diógenes nasceu completo de dedos. Hoje, não é só o Bruno desempregado que regressa ao Bairro Amélia e à sua realidade degradada, é todo um país que é violentamente atirado para a sua periferia europeia. Um país, onde uma minoria de privilegiados deita um olhar crítico e estende o dedo acusatório: falta aí o Olímpio.

Leia a recensão completa em Acrítico, leituras dispersas.

 

Yaybahar de Görkem Şen

O Yaybahar é um instrumento acústico criado por Gorkem Sen. Elementos ressonantes, cordas e molas helicoidais constituem a estrutura do instrumento com uma sonoridade hipnótica e envolvente.

Neste vídeo, sem qualquer tipo de pós-produção, podemos assistir, no início, à exploração das potencialidades acústicas do instrumento e depois a interpretação de uma peça. Vale a pena deixar passar os primeiros minutos deste vídeo e aguardar pela peça musical que Gorkem Sen interpreta.

Algumas peças de Gorkem Sen aqui.

COMER AVIÕES E NAVIOS RUSSOS AO PEQUENO-ALMOÇO | Tomás Vasques

maoO conflito sino-soviético, iniciado nos anos 60 do século passado, está ao rubro em Portugal. O partido comunista da China, com a ajuda de Passos Coelho e Paulo Portas, está a invadir o nosso país. Em rigor, nacionaliza o que o governo português quer privatizar. E ainda compra os latifúndios no Alentejo para os membros mais qualificados do partido passarem férias. Os russos, incomodados, respondem. Enviam a aviação e a marinha para a nossa costa. O nosso ministro da defesa não tem mãos a medir. Envia F-16 contra os Tupolev que nos sobrevoam diariamente e corvetas da marinha contra os navios russos. Todos os dias há notícias deste conflito sino-soviético em terras lusas. Como é natural, o nosso governo está ao lado do partido comunista da China contra a ameaça russa. Os russos já não têm no poder o partido comunista, mas são russos. E agora, isto é diferente. Aguiar-Branco disse, na Lituânia, onde os nossos aviões F-16 controlam o espaço aéreo daquele país contra os russos, que isso de aviões e navios russos comemos nós ao pequeno almoço.

A Verdade sobre o Mal – John Gray

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A nossa fé no avanço civilizacional leva-nos a acreditar que estamos a coberto de erros do passado e, consequentemente, do “mal” que assolou a humanidade em tempos idos. Qualquer retrocesso civilizacional é considerado como pontual e corrigível. Saddam Hussein foi a personificação do mal que uma vez extirpado, mergulharia o Iraque numa florescente democracia. ISIS é agora o novo mal. John Gray olha para a nossa história e para o percurso da humanidade e constata de que, nem a nossa civilização evolui em direção do bem, nem o mal traz assim uma tão grande novidade.

Removido o tirano, nada garante que as forças do bem prevaleçam. É um facto histórico.

Our leaders talk a great deal about vanquishing the forces of evil. But their rhetoric reveals a failure to accept that cruelty and conflict are basic human traits.

O texto, em inglês, é extenso, mas recorrendo-se à função long read torna-se fácil segui-lo.

(texto na edição online do The Guardian)

O Rei Pálido, de David Foster Wallace

PrintO romance inacabado do autor de A Piada Infinita.
O aborrecimento. Se há alguém capaz de escrever um grande romance sobre este tema é certamente David Foster Wallace: o aborrecimento e os seus efeitos sobre o espírito.
Em A Piada Infinita, explorava o entretenimento e o prazer – que obliteram a dor; aqui, em O Rei Pálido, Wallace leva até às últimas consequências a observação e o estudo da tristeza, da monotonia, do tédio. E, para isso, não poderá haver ambiente mais natural e propício do que a Autoridade Tributária, um centro regional de processamento de IRS algures no Midwest.
O Rei Pálido foi publicado postumamente e editado a partir dos manuscritos encontrados – doze capítulos prontos e outros ainda em construção –, seguindo-se as anotações do autor ou apenas a lógica interna do texto.

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Os guarda-chuvas cintilantes, de Teolinda Gersão

GuaChuCintilantesPublicado pela primeira vez em 1984, o livro e diário Os guarda-chuvas cintilantes – Cadernos I, de Teolinda Gersão, regressa às livrarias no dia 7 de novembro, com chancela da Sextante Editora. A propósito deste livro, José Emílio Nelson defende que «Teolinda Gersão escreve “a forma inteira” das inquietações contemporâneas num tempo difícil de definir. Os guarda-chuvas cintilantes, livro “sobre tudo”, cintilante entre dois planos de redação oximora (racional/irracional, a um tempo), exemplo de contestação e exemplar alternativa à noção de ficção, vulgarizada por obras contemporâneas menores».
A Sextante Editora havia já publicado, em 2013, As águas livres, o segundo volume dos Cadernos da autora.

A dimensão simbólica oscila entre um sentido lúdico e um sentido fantástico, mas também incide sobre o domínio sobrenatural das coisas e dos seres. Ultrapassar fronteiras de territórios mentais aparentemente incomunicáveis é operação que constantemente se pratica neste livro. Maria Alzira Seixo

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Marcello Caetano – Um destino, de Luís Menezes Leitão

PrintQuarenta anos depois da sua partida para o exílio, na sequência do 25 de Abril, o que recordamos ainda do legado de Marcello Caetano?
Os partidários do Estado Novo nunca lhe perdoaram ter sido incapaz de evitar a queda do regime; os opositores ao Estado Novo culparam-no por não ter sido capaz de reformar o regime no sentido da democracia.

Os defensores de Marcello Caetano mostraram-se incapazes de defender o seu consulado – por isso ele é visto pela opinião pública como um parêntese entre o regime salazarista e o PREC iniciado com o 25 de Abril.
Esta é uma perspectiva injusta, pois esquece a extraordinária obra do governo de Marcello Caetano nos planos económico, social e laboral.

A miséria da economia

Privatizar ou estatizar? Mais estado ou mais mercado? Protecionismo ou abertura? Os pontos e contrapontos do discurso econômico desta eleição nos deram um toque de nostalgia. De um lado, parecíamos estar no ambiente do final da Segunda Guerra, no qual os economias da Fiesp, Roberto Simonsen à frente, defendiam proteção à indústria nascente e investimento público. De outro, parecíamos estar no final dos anos 1980, com o Consenso de Washington e suas propostas liberalizantes.

O debate moderno sobre política industrial passou longe dos programas de governo, mesmo de Marina Silva. Iniciado com o paper Industrial policy for the 21st century, a conversa não está mais no nível do Privatizar x Estatizar. Ela opera em uma contraposição entre reformas pro-business e pro-market (Peço desculpas pelas palavras em inglês, algumas delas tem o sentido fortemente alterado em português). Enquanto as reformas pro-business consistiriam em investimentos estatais para desenvolvimento de empresas e empreendedores, as reformaspro-market seriam aquelas que afetam a economia como um todo.

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Lugar Caído no Crepúsculo, de João de Melo

Lugar Caído no Crepúsculo

O que nos acontece depois da morte? É esta a pergunta implícita ao longo das páginas deste romance. Um livro que impõe a vida, em protesto contra a tragédia da morte humana, recusando-se a aceitar o silêncio e a escuridão do desconhecido e do sagrado: os mistérios acreditados pela fé de muitos, mas não pela angústia dos que questionam o Além.

Com uma abordagem distinta dos conceitos tradicionais, e numa escrita marcada pelo realismo fantástico, João de Melo humaniza a imagética cristã, conferindo-lhe uma realidade mais próxima do mundo e da vida.

Uma viagem pela vida e pelo Além em que o leitor é guiado por diversos narradores: vozes comprometidas, trágicas, cómicas, que narram a excepção e a realidade do Homem no nosso mundo.