BRASIL | O economista que previu a crise de 2008 vem para o Fronteiras 2024! | O nome desse professor é Nouriel Roubini

Em 7 de Setembro de 2006, um professor de economia na Universidade de Nova Iorque realizou uma palestra para economistas de alto escalão do Fundo Monetário Internacional (FMI) e anunciou que, muito em breve, os Estados Unidos entrariam em uma crise imobiliária gigantesca, seguida de uma recessão profunda. 

Não era uma opinião popular.

Naquela altura, o desemprego e a inflação estavam baixos, e a economia continuava a crescer. Muitas pessoas estavam ficando ricas e o mercado imobiliário estava muito aquecido. 

O público recebeu os avisos com ceticismo. Quando o economista desceu do palco após sua fala, o moderador do evento brincou: 

“Acho que vamos precisar de uma bebida forte depois disso.”

No ano seguinte, no entanto, os títulos subprime começaram a entrar em colapso, os fundos de cobertura começaram a falir e o mercado de ações despencou. 

O desemprego subiu e o dólar deteriorou. Em setembro de 2008, o gigantesco banco Lehman Brothers, com mais de 150 anos de história, faliu.

Nouriel Roubini, economista com doutorado em Harvard, professor emérito da Stern School of Business da Universidade de Nova York e CEO da Roubini Macro Associates, falará em Porto Alegre e São Paulo sobre as 10 tendências que colocam em perigo nosso futuro, e como sobreviver a elas.Como faz em seu livro Mega-Ameaças (2023), Roubini não apenas apontará os desafios que a humanidade precisa enfrentar – e logo – mas também falará sobre como podemos contorná-los para criar um futuro mais próspero.
Fronteiras do Pensamento 2024 | Brasil

✅ Nouriel Roubini está confirmado no Fronteiras do Pensamento 2024! 

➡️ 05/08 em São Paulo

➡️ 07/08 em Porto Alegre

Se inscrevendo na temporada 2024, além de Nouriel Roubini, você vai ver, presencialmente:

  • Stuart Russell: Uma das maiores referências mundiais em Inteligência Artificial.
  • Muriel Barbery: Sensação literária no mundo todo, com livros traduzidos para 40 idiomas.
  • Yascha Mounk: Professor da Universidade Johns Hopkins, conhecido por apontar as saídas para a crise mundial das democracias.
  • Anna Lembke: Psiquiatra, professora de Stanford e grande autoridade em dependência química, que alerta sobre os perigos das “drogas digitais”.
  • Simon Montefiore: Multipremiado biógrafo e historiador britânico, que mapeia a evolução do poder no mundo.

Portugal: porquê o país do salário de mil euros?

O QUE ANDO A LER | Pedro Lima, Adjunto de Economia do Jornal Expresso.

Assume-se como “o novo livro do desassossego” e acaba de ser lançado: “Portugal: porquê o país do salário de mil euros?”, parte de um primeiro diagnóstico, feito em 2002 e organizado por Luís Valadares Tavares, Abel Mateus e Francisco Sarsfield Cabral, com o título “Reformar Portugal. 17 estratégias de mudança”. O mesmo Luís Valadares Tavares juntou-se agora a um seu ex-aluno, o também professor universitário João César das Neves, para analisar os avanços e recuos dos últimos 20 anos, sob o mote de “seis grandes ambições”: o rendimento dos trabalhadores, a desigualdade social, o planeamento das infraestruturas, a saúde, a educação e as finanças públicas.

A ideia foi identificar “seis bloqueios ao desenvolvimento”, que passam pelo Estado, pela produtividade, pela lei laboral, pela saúde, pela educação e pelo mercado de capitais, o que fazem numa conversa em que vão alternando os papéis de entrevistador e de entrevistado. É na qualidade de entrevistado que César das Neves nos recorda, logo no início, que “Portugal é um país indiscutivelmente rico” mas apesar disso “a nossa economia ainda está assolada por graves contrastes, sendo o nível de salários um dos mais gritantes”. “Assim que chegámos ao grupo de cima, apagámos a chama, danificando fortemente as nossas ambições”. Eis o ponto de partida para esta análise à economia portuguesa.

A CONCEPÇÃO IMANENTE DE DEUS EM ESPINOSA | Pablo Joel Almeida – Filosofia (UEL) | Prof. Dr. Carlos Alberto Albertuni (Orientador)

RESUMO


O filósofo holandês Baruch de Espinosa parte do imanentismo e do
princípio da unidade substancial para chegar a uma concepção de Deus,
sendo que este então seria, por sua vez, também imanente e detentor do
título de única substância.
Desse modo, a intenção primordial de nossa
comunicação é analisar como se dá a relação entre estes conceitos, no
caso, imanentismo, Deus e substância, como se definem e se situam ao
longo da Ética de Espinosa.
Para isso, também analisaremos conceitos que
agregam conhecimentos básicos para nosso propósito, principalmente as
definições de atributo e modo, sendo estes partes fundamentais
constituintes da definição de substância e consequentemente, parte vital
para a realização de nossa intenção. Assim, através desse percurso, é
possível chegarmos à conclusão sobre a definição do Deus espinosista, ou
seja, de um Deus que é imanente e única substância existente, a partir da
qual todo o mundo existe e por ela é determinado a existir.

Palavras-Chave: substância; imanência; Deus

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As estrelas do Estado Novo | Carlos Matos Gomes

Este texto é uma peça extraordinária sobre a “história portuguesa do século XX”, de uma clarividência incomum, um ensaio brilhante de como analisar factos políticos, sociais, económicos e estratégicos. Os meus respeitos para Carlos Matos Gomes [vcs].

Extinguiu-se no dia 23 de Outubro de 2022 a última estrela política do Estado Novo, Adriano Moreira. Ele fez parte da constelação de pensadores e atores que dotaram o Estado Novo com um pensamento para além do corporativismo de matriz fascista, do integrismo de raízes miguelistas, do beatismo. Adriano Moreira pertenceu a um grupo de políticos talentosos e ambiciosos que subiram a pulso em termos sociais, seguindo o percurso de Salazar, que utilizaram a aderência aos meios e estruturas do corporativismo para ascender individualmente e que retribuíram essa escalada dotando o regime de iluminações que ultrapassassem os cirios das igrejas e as sombras dos mortos vivos que se sentavam na Assembleia Nacional e na Câmara Corporativa.

O grupo inorgânico a que Adriano Moreira pertenceu conseguiu apresentar o Estado Novo e Portugal como atores internacionais de relevo em três grandes momentos da História da primeira metade do século vinte: a Guerra Civil de Espanha, a Segunda Guerra Mundial e o Movimento Descolonizador.

A Guerra Civil de Espanha teve como personagem de primeiro plano o embaixador Pedro Teotónio Pereira, o homem enviado por Salazar para junto do governo de Franco, em Burgos, o segundo embaixador a apresentar credenciais, após o Núncio Apostólico da Igreja Católica e o primeiro embaixador em Madrid após a vitória franquista. Teotónio Pereira iria conseguir alcançar o objetivo que o Portugal de Salazar recebera dos ingleses, o de evitar e a entrada da Espanha na Segunda Guerra Mundial aliada da Alemanha nazi. Seria embaixador no Brasil, nos Estados Unidos e em Londres no período de antes da guerra, durante e no pós-guerra. Contribuiu para manter Portugal na órbita dos Aliados e para a entrada no clube da NATO. Não foi tarefa fácil fazer o Portugal rural, beato e antiliberal de Salazar ser admitido neste grupo. Os Aliados (em particular os americanos) entenderam através de Pedro Teotónio Pereira que Portugal não era Salazar (os ingleses, esses sabiam que Salazar negociaria tudo, incluindo os princípios (além do volfrâmio) para se manter no poder).

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As terríveis 10 estratégias de manipulação massiva, reveladas por Noam Chomsky

Fonte: A Mente é Maravilhosa

Noam Chomsky é um dos intelectuais mais respeitados do mundo. Este pensador americano foi considerado o mais importante da era contemporânea pelo The New York Times. Uma de suas principais contribuições é ter proposto e analisado as estratégias de manipulação de massa que existem no mundo hoje.

Noam Chomsky ficou conhecido como lingüista, mas também é filósofo e cientista político. Ao mesmo tempo, ele se tornou um dos principais ativistas das causas libertárias. Seus escritos circularam pelo mundo e não param de surpreender os leitores.

Chomsky elaborou um texto didático no qual ele sintetiza as estratégias de manipulação maciça. Suas reflexões sobre isso são profundas e complexas. No entanto, para fins didáticos, ele resumiu tudo em princípios simples e acessíveis a todos.

1. A distração das estratégias de manipulação maciça

Segundo Chomsky, a mais recorrente das estratégias de manipulação massiva é a distração. Consiste basicamente em direcionar a atenção do público para tópicos irrelevantes ou banais. Desta forma, eles mantêm as mentes das pessoas ocupadas.

Para distrair as pessoas, abarrotam-lhes de informações. Muita importância é dada, por exemplo, a eventos esportivos. Também ao show, às curiosidades, etc. Isso faz com que as pessoas percam de vista quais são seus reais problemas.

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Europa e cultura | Guilherme d’Oliveira Martins | in DN

A Comissão Europeia e a Europa Nostra anunciaram os prémios do património cultural 2022, entre os quais se encontram o Convento dos Capuchos em Sintra, na categoria de Conservação e adaptação a novos usos e o projeto Museu na Aldeia, que envolve 13 museus e 13 aldeias em Leiria, na categoria Envolvimento e sensibilização dos cidadãos. Do Convento dos Capuchos falei aqui na crónica de 15 de fevereiro, e devo dizer que se trata de um prémio justíssimo. Entre os galardoados, encontra-se ainda a Igreja de Santo André em Kyiv, na Ucrânia, mercê de uma ação de conservação que devolveu aos ucranianos e à humanidade um monumento de grande valor comum, funcionando o monumento como um museu que acolhe serviços religiosos, eventos científicos e educacionais e concertos de música de câmara.

Se falo do reconhecimento da defesa e salvaguarda do património cultural, como realidade viva, refiro, a propósito desta iniciativa europeia, a necessidade de uma cultura de paz que obriga a que tomemos consciência de que a defesa do património não se refere apenas aos monumentos ou às “pedras mortas”, mas aos direitos fundamentais das pessoas, à memória e à dignidade humana.
Como disse o poeta Heinrich Heine: “onde se queimam livros (ou objetos de memória, lembramos nós), acaba-se a queimar pessoas”. É, pois, a memória que está em causa e os direitos e deveres que a acompanham. Lembre-se o que ocorre neste momento na Ucrânia: segundo a UNESCO, mais de 150 monumentos, museus ou sítios foram danificados ou destruídos – 70 templos religiosos, 30 edifícios históricos, 18 centros culturais, 15 museus e 7 bibliotecas. 45 em Donetsk, 40 em Kharkiv e 26 em Kyiv. Exemplos? A Catedral da Assunção em Kharkiv, bem como diversos pavilhões da Universidade Nacional das Artes na mesma cidade; o teatro de Marioupol; o museu da artista Maria Pryimachenko de Ivankiv (Kyiv). Por outro lado, os Museus de Arqueologia e de Arte Moderna de Odessa estão sob ameaça ou o centro da cidade de Lviv, classificado pela UNESCO.

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Ucrânia | por Rainer Matos-Franco

Internacionalista por El Colegio de México y maestro en Estudios de Rusia y Eurasia por la Universidad Europea de San Petersburgo. Colaborador frecuente en Istor (CIDE), Nexos, la Revista de la Universidad de México y Este País. Es autor de la Historia mínima de Rusia (México, El Colegio de México, 2017).

Não custa nada aprender, basta um pouco de paciência e vontade, além de curiosidade. Este texto foi traduzido do espanhol e terá por isso algumas imprecisões meramente gramaticais. (Rodrigo Sousa e Castro).

Rainer Matos-Franco

O que hoje é conhecido como “Ucrânia” reúne territórios muito diversos – em termos políticos, econômicos, sociais, culturais, religiosos e linguísticos – que formaram uma única entidade política até 1954, quando Nikita Khrushchev cedeu a maioria étnica República Autônoma da Crimeia Russa, a República Socialista Soviética da Ucrânia.

Mesmo nos últimos anos temos visto rearranjos territoriais mesmo naquele país, como a anexação da própria Crimeia à Rússia em março de 2014. A última região que foi incorporada à Ucrânia antes de 1954 foi o que é amplamente conhecido como Galícia em 1939, com a União Soviética invasão da Polônia pelo leste para “proteger” as minorias rutenas do avanço alemão do oeste.

Ao contrário da Ucrânia soviética entre 1917 e 1939, onde o conteúdo nacional foi impulsionado de cima com a política de nacionalidades ou Korenizatsiia – promovendo a cultura e a língua ucraniana para conter o nacionalismo –(Martin, 2001), as minorias políticas ucranianas na Polônia do entreguerras, que eram maioria em províncias como Volínia, se radicalizaram ao longo dos anos. Além da tentativa caótica e complicada de estabelecer uma Ucrânia independente durante a Guerra Civil Russa (1917-1921), o movimento nacionalista radical ucraniano nasceu na Polônia anos depois e logo optou pelo radicalismo. Desde 1929, foi fundada em Viena a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), um típico movimento fascista que buscava libertar-se do jugo polonês e, em segundo lugar, estabelecer laços com a nação ucraniana ampliada na Ucrânia soviética.

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Noan Chomsky, les médias et les illusions nécessaires | Long métrage, documentaire

Avram Noam Chomsky dezembro de 1928) é um linguista, filósofo, cientista cognitivo, ensaísta histórico,crítico social e ativista político. Às vezes chamado de “o pai da linguística moderna”, Chomsky também é uma figura importante na filosofia analítica e um dos fundadores do campo da ciência cognitiva. É professor laureado de linguística na Universidade do Arizona e professor emérito do Institutode Tecnologia de Massachusetts (MIT), e é autor de mais de 150 livros sobre temas como linguística, guerra, política e mídia de massa. Ideologicamente, alinha-se ao anarco-sindicalismo e ao socialismo libertário.

Para uma autocrítica da Europa | Boaventura Sousa Santos, in Público, 10/03/2022

Imagem: Enlèvement d’Europe de Nöel-Nicolas Coypel, c. 1726

Somos forçados a concluir que os líderes europeus não estavam nem estão à altura da situação que vivemos. Ficarão na história como as lideranças mais medíocres que a Europa teve desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Porque não soube tratar das causas da crise da Ucrânia, a Europa está condenada a tratar das suas consequências. A poeira da tragédia está longe de ter poisado, mas mesmo assim somos forçados a concluir que os líderes europeus não estavam nem estão à altura da situação que vivemos. Ficarão na história como as lideranças mais medíocres que a Europa teve desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Esmeram-se agora na ajuda humanitária, e o mérito do esforço não pode ser questionado. Mas fazem-no para salvar a face ante o escândalo maior deste tempo. Governam povos que nos últimos setenta anos mais se manifestaram contra a guerra em qualquer parte do mundo. E não foram capazes de os defender da guerra que, pelo menos desde 2014, germinava dentro de casa. As democracias europeias acabam de provar que governam sem o povo.

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Guerra | Informação | Propaganda | por António Conceição

Na guerra, evidentemente, a informação tem de ser controlada e substituída pela propaganda.

Uma das vertentes essenciais de qualquer guerra é o controle da sua dimensão psicológica (Alberto João Jardim que o diga, porque esteve não sei quantos anos no poder, eleito sempre democraticamente, com o que aprendeu na tropa).

A eficácia da guerra psicológica pressupõe o controle da informação.

Os mecanismos são básicos e há muito conhecidos:

a) multiplicar as representações do inimigo, como animal, para o desumanizar (o lobo, se o inimigo tiver um exército ou um porco, se inimigo for um povo desarmado, como sucedeu com as representações dos judeus no regime nacional socialista);

b) publicar muitas fotografias de crianças a sofrer por causa das bombas do inimigo;

c) publicar outras tantas fotografias dos actos heróicos do amigo, da sua generosidade no tratamento do adversário capturado e do arrependimento deste depois de descobrir a verdade, pedindo muito perdão e apelando aos seus para descobrirem, como ele, que a sua guerra é injusta. E, claro está, proclamar todos os dias em grandes manchetes que os nossos ganham as batalhas todas e o inimigo está de rastos, prestes a render-se incondicionalmente.

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VIAGEM AO PASSADO POR CAUSA DO PRESENTE | por José Pacheco Pereira in Jornal Público | 22/12/2012 (nós, humanidade, não temos vergonha – vcs)

Hoje tudo é muito diferente em relação ao passado, mas também muita coisa é demasiadamente igual.

No final do século XIX, princípio do século XX, o incipiente operariado português concentrava-se em poucas fábricas dignas desse nome no Norte do país, em particular no Porto, e numa multidão de pequenas oficinas em Lisboa e Setúbal e nas principais cidades do país. Eram operários e operárias, tabaqueiros, têxteis, soldadores, conserveiros, corticeiros, mineiros, padeiros, alfaiates, costureiras, cinzeladores, cortadores de carnes verdes, carpinteiros, fragateiros, estivadores, carregadores, carrejonas no Porto, carvoeiros, costureiras, douradores, etc., etc. Havia uma multidão de criados e criadas, criadas “de servir”, e muito trabalho infantil em todas as profissões, em particular nas mercearias, onde os marçanos viviam uma infância muitas vezes brutal, dormindo na loja e carregando com cargas muito pesadas. Falei em operariado, mas na verdade, muito poucos correspondem ao conceito, porque se trata mais de artífices, trabalhadores indiscriminados, e em muitos casos com profissões hierarquizadas em que os aprendizes eram sujeitos a todos os abusos. Havia depois uma aristocracia operária, essencialmente entre os que faziam tarefas qualificadas e mais bem pagas, como era o caso dos tipógrafos, que sabiam ler e por isso tinham um mundo social diferente. Antero de Quental foi tipógrafo de passagem.

Deixo o campo de lado, em que a maioria dos portugueses ainda vivia, onde havia igualmente um território obscuro e pouco conhecido que despertou com a I República, os trabalhadores rurais alentejanos. Estes viviam uma vida violenta e esquecida no meio do deserto alentejano. Nos meios rurais vários grupos de trabalhadores vegetavam na mais negra miséria e vendiam o seu trabalho sazonalmente, nas vinhas do Douro, nos campos do Alentejo e Ribatejo como maltezes e ratinhos. O que de mau se pode dizer das cidades, pode-se dizer pior do campo ou das vilas piscatórias do litoral e mineiras do interior.

A economia do mundo operário centrava-se no salário muito escasso, na renda de casa, numa vila operária ou numa “ilha” se fosse no Norte do país, onde se amontoavam em condições higiénicas e sanitárias inimagináveis. A epidemia de cólera no Porto, e a habitual ocorrência de tifo, demoraram muito anos a lembrar os governantes do problema de insalubridade da “habitação operária” e deram origem aos bairros sociais no salazarismo.

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Francisco Louçã e Mariana Mortágua | Manual de Economia Política

Lisboa, 9 de setembro de 2021

Francisco Louçã e Mariana Mortágua, dois nomes de respeito na esfera económica e política, escrevem Manual de Economia Política, um manual completo,
rigoroso, com fórmulas e gráficos de apoio, que atualiza o trabalho iniciado por José Castro Caldas, também em parceria com Francisco Louçã, com o livro Economia(s), publicado em 2009. Disponível em todas as livrarias a partir de hoje.


Este é um manual de economia, dividido em 14 capítulos, que parte do real para discutir a teoria, que promove a pluralidade de perspetivas e o pensamento crítico. «Num momento em que de novo se fazem ouvir reclamações de mudança de “paradigma” e juras de arrependimento pelos “excessos” anteriores de terapêuticas baseadas na Economia da idade das trevas. Desta vez é que há mudança?», escreve José Castro Caldas, autor do prefácio.

Sinopse:

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A pandemia e o capitalismo numérico | José Gil | Ensaio in Jornal Público

A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro.

A pandemia da Covid-19 pode vir a modificar radicalmente o modo de vida das sociedades actuais, pré e pós-industriais. Um factor decisivo dessa transformação serão as novas tecnologias, que virão a ganhar uma importância maior na economia e nas relações sociais. Formar-se-á um novo tipo de subjectividade, a “subjectividade digital”, já em gestação nas sociedades actuais, mas que, no futuro, se colocará no centro do novo “capitalismo numérico”, como condição essencial do seu funcionamento. Entretanto, vivemos uma crise de transição, que compromete as próprias subjectividades.

Pandemia e desterritorialização

Mesmo antes de ser declarada a quarentena em Wuhan, sete milhões de chineses saíram da cidade e espalharam-se pelo mundo. A região da Lombardia, na Itália, que mantinha voos directos para a região mais contaminada da China, foi rapidamente atingida. A França, a Alemanha, a Espanha, o Reino Unido e, muito rapidamente a Europa, foram infectados. Alastrando a todos os continentes, a pandemia cobriu o planeta em poucos meses. Uma disseminação tão célere e imprevisível deveu-se às características do novo vírus, mas só foi possível graças à deslocação intensa de indivíduos e grupos, através da rede extraordinária de comunicações e transportes que liga hoje os países uns aos outros.

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Mais um regresso de Keynes? | João Rodrigues | in Jornal de Negócios

«John Maynard Keynes (1883-1946) é um pensador que nos ajuda nas curvas apertadas. Já foi várias vezes proscrito, mas ressurge sempre. Esperemos que, ao contrário do que aconteceu em 2008/2009, quando políticas ditas keynesianas foram usadas para salvar bancos, desta vez sejamos capazes de fazer melhor, evitando também a austeridade contraproducente. Existem então meia dúzia de razões para um regresso de Keynes.

Em primeiro lugar, colocou no centro da análise algo que a economia convencional esquece: a incerteza radical, para lá do risco probabilístico. Atentar nas “forças obscuras do tempo e da ignorância que dominam o nosso futuro” não é um convite à passividade. Trata-se de conhecer as forças que nos impelem a agir aqui e agora, esconjurando a catástrofe iminente, distinguindo a incerteza inevitável da que é produto de arranjos disfuncionais.

Em segundo lugar, convida-nos a pensar o papel da moeda, que nunca é neutra. No capitalismo, tudo começa pela moeda-crédito e acaba em rendimentos monetários. A busca de liquidez, dinheiro mais ou menos vivo, é um volátil comportamento, que funciona como “barómetro do grau da nossa desconfiança em relação aos nossos cálculos e convenções relacionadas com o futuro”. A economia também é psicologia, porque é feita de e por humanos.
Em terceiro lugar, alerta-nos para o salto mortal que temos de dar quando passamos da microeconomia para o continente que ele ajudou a descobrir, a macroeconomia. O todo pode ser mais ou menos do que a soma das partes. Isto significa que um somatório de comportamentos individuais racionais pode originar uma situação irracional. Pense-se no paradoxo da poupança: se todos decidirem poupar, porque desconfiam do futuro, as despesas de consumo e de investimento diminuem, o que significa que o rendimento, resultado da despesa, diminui e logo a poupança também.

Em quarto lugar, convida-nos a atentar nas dinâmicas da procura agregada, da despesa total que molda o produto e o rendimento totais. O emprego depende disso. Reduzir salários em face de uma crise pode ser racional do ponto de vista de um empresário míope, mas se esse comportamento se generalizar o desemprego pode bem aumentar, dado o colapso de uma fonte essencial de procura.

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Os tempos sujos, segundo Vargas Llosa | Francisco Louçã | in Jornal Expresso

Vargas Llosa é alguém que, nos seus meneios sociais e serôdia ambição de carreira política, se sabe fazer detestar. É também um gigante da literatura, que merece ser lido sempre pelo que escreve. Deu-nos, aos seus leitores devotos, algumas das grandes obras do nosso tempo. Está bem, nem sempre é assim: no meu caso, uma vez desiludido, achei o seu recente “Cinco Esquinas” pretensioso, sem chama, até triste na forma. Mas quem escreveu “A Guerra do Fim do Mundo”, mesmo que depois de trabalho com Ruy Guerra, ou antes “A Casa Verde” ou “Conversa na Catedral”, e mais haveria a citar, é um escritor monumental. O seu recente “Tiempos Recios” (imagino que se traduza por “Tempos Difíceis” ou “Tempos Sombrios”) restitui-nos à escrita de fôlego.

Num livro anterior, “A Festa do Chibo”, Vargas Llosa tinha descrito o sangrento regime de Trujillo na República Dominicana. Este “Tempos Difíceis” regressa a um tema próximo, investigando o golpe na Guatemala contra o Presidente Jacobo Arbenz, em 1954, e o que se seguiu. Em modo de reportagem, recupera personagens reais, como Sam Zemurray, o dono da United Fruit, Edward Bernays, o responsável da empresa pela campanha na opinião pública contra um governo que se limitara a exigir-lhe que pagasse imposto, o embaixador John Peurifoy, que coordenou a operação de derrube do regime, o Generalíssimo Trujillo e Somoza, os seus aliados, ou ainda Johnny Abbes Garcia, o chefe dos serviços da informação militar dominicana que vai assassinar o ditador que substituiu Arbenz, ou ainda Marta Borrero Parra, chamada Miss Guatemala, que perpassa pela vida de vários dos personagens desta história verdadeira. Acrescenta-lhes um agente da CIA a quem chama Mike, esse nome serve, como outro qualquer, para contar o que se passou antes e depois do golpe e como estes personagens se envolvem no turbilhão de uma história sangrenta e sem remissão. São páginas notáveis de um grande escritor.

Vargas Llosa também regista aqui uma mensagem política. Como explica numa entrevista, o golpe da United Fruit, da CIA e do Departamento de Estado contra Arbenz “levou muitos jovens latino-americanos, eu entre eles, a desacreditar da democracia e a pensar no socialismo”. “Se os Estados Unidos, em vez de derrubar Árbenz, tivessem apoiado as suas reformas, provavelmente a história da América Latina seria outra, provavelmente Fidel Castro não teria se radicalizado e tornado comunista, nem Che Guevara, que estava na Guatemala nesse momento”, lamenta. O golpe “atrasou dezenas de anos a democratização do continente e custou milhares de mortos, mas contribuiu para popularizar o mito da revolução armada e do socialismo em toda a América Latina”, escreve na última página do livro. Há neste drama uma história de vida e ela é irremediável, o golpe foi o que foi e a lição foi sentida em todo o continente. Mas o que o livro nos traz de novo é um imponente retrato das pessoas que foram atropeladas pela história.

Francisco Louçã

(no Expresso)

Retirado do Facebook | Mural de Francisco Louçã

VAMOS CURAR A TERRA, de Julian Lennon e Bart Davis e ilustrado por Smiljana Coh

Esta semana nas livrarias – infantil/juvenil

VAMOS CURAR A TERRA, de Julian Lennon e Bart Davis e ilustrado por Smiljana Coh chega esta semana às livrarias

No seguimento de Vamos Ajudar a Terra publicado o ano passado pela ASA, Vamos Curar a Terra é uma nova história inspiradora e enraizada na vida e obra de Julian Lennon, filantropo, fotógrafo, músico e produtor musical.

Elogiado neste projeto por figuras como Bono ou Laurie Berkner, Julian Lennon, filho do lendário líder dos The Beatles, leva os jovens leitores numa viagem que os desafia a fazerem da Terra um sítio melhor para toda a Humanidade, protegendo o meio ambiente e ensinando todos a amar o nosso planeta.

Sobre o Livro

Coloca-te de novo aos comandos do Avião da Pena Branca, um avião mágico que pode levar-te até onde quiseres, e faz parte desta aventura para curares a Terra! Basta carregares nos botões das várias páginas e inclinares o livro nas direções indicadas.

O Avião da Pena Branca tem como missão transportar os leitores numa viagem pelo mundo fora e mostrar-lhes como podem fazer da Terra um sítio melhor para toda a Humanidade, protegendo o meio ambiente e ensinando todos a amar o nosso planeta.

JULIAN LENNON é cantor, compositor e músico (com uma nomeação para os Grammy Awards e outra para os MTV Video Music Awards), produtor musical, fotógrafo e filantropo. Nasceu em Liverpool, Reino Unido, e desde sempre se afirmou como um observador da vida em todas as suas vertentes, razão pela qual necessita de se expressar através das mais variadas formas de arte. Em 2007 fundou a organização The White Feather Foundation, que leva a cabo iniciativas ambientais e humanitárias, atuando nas áreas da preservação da natureza, educação, saúde pública e proteção das culturas indígenas.

BART DAVIS é autor tanto de romances ficcionados como de livros de não-ficção, em especial biografias, tendo obras suas sido traduzidas para múltiplas línguas. No seu currículo conta ainda com a escrita de dois filmes e também de múltiplos artigos de opinião, no âmbito da sua colaboração regular com a imprensa. Vive em Nova Iorque.

SMILJANA COH estudou animação para filmes e, no seu trabalho, combina técnicas de ilustração mais tradicionais com técnicas de ilustração digital. A sua criatividade emerge da atenção que dá a cada detalhe das suas ilustrações. Além de já ter ilustrado alguns livros infantis, também já se aventurou, ela própria, na escrita. Vive na Croácia.

Ficha do Livro: Título: Vamos Curar a Terra – Nº págs: 48 – ISBN: 9789892344850 – PVP C/ IVA: 11,90€

RAÍZES DO ESTRANHAMENTO: A (IN)COMUNICAÇÃO PORTUGAL-BRASIL | Carlos Fino

(Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho e pela Universidade de Brasília)

Resumo

Apesar da língua e de um fundo histórico e cultural comuns, as relações entre Portugal e o Brasil têm sido reconhecidamente permeadas por um sentimento de estranhamento ou desconforto mútuo, mesmo quando no plano estatal – sobretudo em períodos de coincidência ideológica e política dos regimes que os governam – se registam avanços em termos de acordos e tratados celebrados em diversas áreas.

Esse estranhamento opera como fator inibitório do aprofundamento das relações, que estão aquém da intensidade registada noutros casos de relacionamento entre a ex-potência colonial e as ex-colónias, designadamente os Estados Unidos com a Inglaterra e a Espanha com os países latino-americanos. Essa situação de latência não inteiramente realizada entre Portugal e o Brasil já foi caracterizada como “parceria inconclusa”.

Paralelamente, regista-se entre os dois países um défice de comunicação, que tanto pode derivar desse sentimento de desajustamento mútuo como estar, até, na sua origem. Em qualquer caso, essa (in)comunicação tende a reforçar o estranhamento e vice-versa, num perpetuum mobile em que ambos mutuamente se alimentam.

Investigar as origens dessa realidade, sondar na História do passado comum as razões desse estranhamento e dessa (in)comunicação – este o objetivo do presente estudo.

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Amor sexual e bem-aventurança | Frederico Lourenço

As pessoas que se interessam por temas cristãos e sabem um bocadinho de grego conhecem a palavra que está em causa quando, nos Evangelhos, Jesus fala de amor: «agápē» (ἀγάπη). Trata-se de uma palavra que podemos distinguir de outras duas palavras gregas que significam «amor»: philía (φιλία) e érōs (ἔρως). A ideia de uma expressão sexual do amor pode estar implícita em «philía» e é explícita em «érōs», mas à partida «agápē», o amor de que fala Jesus, é aquilo que um padre com quem conversei há muitos anos chamou o «amor desinteressado».

Eu falava-lhe na minha homossexualidade e nas questões daí decorrentes para o católico que eu tentava ser; e a solução que ele me deu foi que não havia mal no facto de eu ter um namorado, desde que fosse um «amor desinteressado». Ele não o disse explicitamente, mas percebi que a ideia dele era que estaria tudo bem se vivêssemos «como irmãos».

Esta exigência de que eu deveria viver como irmão do homem que eu amava e com quem eu partilhava a minha vida foi recomendada no século XX porque se tratava de um casal constituído por dois homens. Se fôssemos um casal constituído por pessoas de sexos diferentes e casados pela igreja teríamos podido dar expressão sexual ao nosso amor.

No entanto, nos primeiros séculos do cristianismo, mesmo casais heterossexuais eram desafiados a viver como irmãos num casamento isento de sexo. A «moda» veio logo com São Paulo (1 Coríntios 7), mas a literatura cristã apócrifa dos séculos II-III está a abarrotar de histórias e de exemplos que dão como ideal da vida de casados a virgindade permanente de ambos os esposos.

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El orgasmo femenino explicado por una monja medieval | Hildegard von Bingen | POR VIRGINIA MENDOZA in “Yorokobu.”

Hildegard von Bingen fue pintora, poeta, compositora, científica, doctora, monja, filósofa, mística, naturalista, profeta y, quizá, la primera sexóloga de la historia. También está considerada precursora de la ópera, de la ecología e inventó un idioma que podría ser la primera lengua artificial de la historia.

Cuando la Primera Cruzada estaba a punto de llegar a Jerusalén, una niña lloró por primera vez en Bermersheim (Alemania)Hildegard von Bingennació en 1098 y se convirtió en un diezmo. Como décima hija que fue, sus padres la entregaron a la Iglesia. La dejaron en el monasterio de monjes de Disivodemberg, que albergaba una celda para mujeres dirigida por Jutta von Spannheim, quien se convertiría en madre e instructora de la pequeña Hidegard. Tenía ocho años y había comenzado a tener visiones a los tres, pero no fue hasta pasados los cuarenta cuando empezó a escuchar una voz que le decía que escribiera y dibujara todo aquello que alcanzaran sus ojos y oídos.

Se convirtió en abadesa tras la muerte de Jutta. Atemorizada por sus visiones y predicciones convenció al papa para que le consintiese escribirlas, y fue así como empezó a registrar tanto sus visiones, como libros de medicina (que hoy consideraríamos superstición), remedios naturales, cosmogonía y teología. Desde entonces empezó a relacionarse con las autoridades eclesiásticas y políticas de su época y se convirtió en su consejera, algo impensable tratándose de una mujer.

Hildegard von Bingen y su legado son inabarcables. Tanto que, a pesar de su recuperación a raíz de la esperada canonización (que no tuvo lugar hasta 2012), su lado más peculiar ha sido eclipsado por sus predicciones. De todo lo que hizo Hildegard a lo largo de su vida, lo más desconcertante, surrealista y contradictorio, quizá sean sus consideraciones sobre el orgasmo femenino que bien le podrían valer el título de primera sexóloga de la historia.

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A arte do azulejo em Portugal e no Brasil | Clara Emília Sanches Monteiro de Barros Malhano e Hamilton Botelho Malhano | por Adelto Gonçalves

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Considerada arte menor ou apenas decorativa, a azulejaria ganha agora foro de expressão artística com o estudo Desenhadores & Azulejeiros – Ensino e Aprendizagem, Arquitetura e História (Rio de Janeiro, Synergia Editora, 2018), de Clara Emília Sanches Monteiro de Barros Malhano e Hamilton Botelho Malhano (1947-2017), que resgata a história de vida de dois artistas portugueses – José Colaço (1868-1942) e Manuel Félix Igrejas (1928) –, além de analisar o ensino das Belas Artes no Brasil, o que inclui a azulejaria, e a sua relação com a arquitetura neocolonial e modernista. Para tanto, o trabalho, segundo definição dos autores, procura entender as “técnicas artesanais, manufatureiras e industriais da produção cerâmica azulejeira luso-brasileira em relação a outras produções de azulejos enquanto arte de caráter internacional”.

Nascido no Tânger, Marrocos, Colaço, de origem aristocrata, com formação acadêmica, pensou em emigrar para o Brasil e chegou a adquirir bilhete de viagem, mas deixou de fazê-lo porque a morte o alcançou antes, já na idade madura. Deixou atrás de si uma série de trabalhos, dos quais os mais famosos são os painéis de azulejos que decoram o grande átrio da Estação de São Bento, no Porto, desde 1915, e até hoje encantam os passageiros que por lá passam pela primeira vez ou não, e a parede de uma sala na Casa do Alentejo, próxima aos Restauradores, em Lisboa, de 1918.  No Brasil, porém, é mais conhecido pelos painéis da fachada principal do Estádio de São Januário, do Clube de Regatas Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, que produziu na década de 1930.

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Diez años bastan | En este decenio se ha producido la mayor intervención pública para salvar el capitalismo y la democracia tal y como los conocíamos | EL PAÍS | Introdução de Carlos Matos Gomes

Passam por agora 10 anos sobre a chamada crise do subprime e da falência do banco Lehman Brothers (18 Setembro)

O jornal EL PAÍS recolhe elementos de 10 livros sobre a crise que ajudam a perceber a tempestade que se levantou e as consequências que ela provocou e que ainda vivemos.

A crise de 2008: “Não foi um acidente pontual, mas uma mudança global: trouxe populismo, autoritarismo e Brexit.”

“Nesta década houve a maior intervenção pública para salvar o capitalismo e a democracia como os conhecíamos” – quanto a princípios e competências dos economistas neoconservadores e neoliberais (o diabo que os distinga), estamos conversados.

“A recessão foi muito pior do que teria sido sem a intervenção de economistas ortodoxos”

Após o colapso do banco de investimento Lehman Brothers, após fracassarem todas as tentativas por parte das autoridades dos EUA para vendê-lo a alguém, o Tesouro Americano (FED) injetou cerca de 105 bilhões de dólares no sistema, mas logo percebeu que não poderia deter a maré de retirada de dinheiro. As autoridades financeiras americanas (FED presidido por Alan Greenspan, um radical neoliberal) decidiram suspender a operação, fechar as contas monetárias e anunciar garantias de US $ 250.000 por conta, para que não houvesse mais pânico. Se não o tivessem feito, estimaram que 5,5 bilhões de dólares do sistema de mercado monetário dos EUA teriam sido retirados às duas horas daquela tarde, e isso teria destruído a economia mundial.
Teria sido o fim do nosso sistema económico e do nosso sistema político, como o conhecemos.

No dia seguinte à queda do Lehman, os mercados financeiros ficaram paralisados, o governo republicano de Bush nacionalizou a AIG, uma das maiores seguradoras do mundo, e começaram as primeiras injeções de centenas de bilhões de dólares (capitais públicos) para salvar Wall Street!
Alguns textos (10 anos de crise, Rumo ao controle cidadão das finanças, publicados pelo ATTAC) defendem que a Grande Recessão ainda não acabou, embora o mundo tenha retornado a um estágio de crescimento económico e redução das taxas de desemprego, mas houve uma mutação silenciosa e uma metástase de seus efeitos negativos mais estruturais, como a precariedade da vida, dos mercados de trabalho e o aumento da desigualdade.
Durante as três décadas anteriores, a revolução conservadora havia ensinado ao mundo que “o mercado resolveria tudo”. Mas Wall Street caiu e a solução foi renegar todos os princípios e sacar dinheiro público para a maior intervenção com dinheiro público de que havia memória.
O famoso “consenso de Washington” (disciplina fiscal e monetária) foi nada mais e nada menos que uma ejaculação piedosa dos teóricos necons sem contato com a realidade. O problema não era, como eles haviam dito, dos grandes governos, dos ogros filantrópicos, mas dos executivos fracos, de menos Estado, que haviam destruído, ou enfraquecido os instrumentos regulatórios adequados para enfrentar os desafios do mercado entregue à lei da selva.

O texto introdutório foi feito a partir de uma tradução automática do espanhol para o português do Brasil.

LER TEXTO DO EL PAÍS AQUI: 

https://elpais.com/cultura/2018/09/07/babelia/1536338430_931760.html?id_externo_rsoc=FB_CC

SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL | António Galopim de Carvalho

No tempo que estamos a viver, em que todos os dias se fala, e bem, do aquecimento global e consequentes manifestações atmosféricas, com magnitudes extremas, não raras vezes catastróficas, a acontecerem com frequência alarmante, fora das épocas e do lugares. Estamos a assistir a mudanças climáticas que constantemente ouvimos dizer serem da inegável responsabilidade da sociedade de consumo, um processo que continua a passar ao largo das preocupações do presidente do segundo país mais poluidor do mundo (o primeiro é a China).

Não em defesa da estúpida teimosia do senhor Trump, importa, todavia, reflectir sobre o que tem sido o sobe e desce da temperatura do planeta, nos derradeiros milhares de anos, à escala global, e o consequente sobe e desce do nível geral da superfície do mar.

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Um manifesto “luterano” para a economia | por Luiz Gonzaga Belluzzo

Inspirados na reforma de Martinho Lutero, o New Weather Institute e o Rethinking Economics propõem 33 teses para revolucionar o pensamento econômico.

É possível abalar os alicerces da ortodoxia econômica como Lutero abalou a Igreja Católica?

Na celebração dos 500 anos do repto lançado por Martinho Lutero à hierarquia da Igreja Católica, o New Weather Institute e o movimento Rethinking Economics, com o apoio de um largo espectro de economistas, acadêmicos e cidadãos, lançam um desafio ao ensino de economia baseada na visão dominante e convocam a mobilização por uma Nova Reforma consubstanciada nas 33 Teses para a Reforma da Economia.

O lançamento das Teses foi realizado no University College London em associação com a The Economists Society of University College London e o Institute for Innovation and Public Purpose.

Leia também:
A ortodoxia no divã

Participaram do lançamento, entre outros, Victoria Chick (UCL), David King (assessor científico do governo britânico), Andrew Simms (University of Sussex) e Kate Raworth (Oxford University).

Lei a seguir o manifesto:

33 teses para uma reforma da economia

O mundo enfrenta pobreza, desigualdade, crise ecológica e instabilidade financeira.

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O homem é um ser perverso | Carlos Vale Ferraz

Texto- síntese da comunicação de Carlos Vale Ferraz para a Sessão “Palavra de Escritor” do Grupo 3 de Oeiras da Amnistia Internacional – Biblioteca Operária Oeirense, 30 Março 2017
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No dia 30 de Março falei na seção de Oeiras da Amnistia Internacional. Escolhi o tema da perversidade do homem, que estas dignas organizações tentam minimizar. Deixo aqui alguns tópicos, um pouco à laia de informação sobre o inimigo que enfrentam.
«O homem é um gorila lúbrico e feroz» escreveu Hipólito Taine, um positivista francês do século XIX, que tentava compreender o homem à luz de três fatores determinantes, o meio ambiente, raça e momento histórico. À luz destes factores não temos motivos para nos congratularmos com a evolução da nossa espécie. Utilizei esta citação no meu primeiro romance «Nó Cego». No romance que irá sair em Setembro/Outubro mantenho-me céptico quanto natureza do homem. Kant considerava os cépticos como nómadas, e como vigilantes da razão. Tenho sido nómada do espírito e procurado ser mais céptico que asséptico. Não ser asséptico é, para mim, não acreditar na bondade do homem, mas que o bem existe e que se opõe ao mal. Estou fora da moda que tudo relativiza. De que o mal é fruto do meio. Nos meus romances responsabilizo as minhas personagens. Não gosto de coitadinhos. Também recuso a leitura das grandes religiões sobre a bondade intrínseca do homem, por ele ter sido criado à semelhança de Deus e Deus não poder ser mau. Pode, como se verifica pelas suas criações. Não estou mal acompanhado. A má opinião sobre a humanidade é antiga. A natureza humana em Platão é degenerada, mas ele considerava que a degeneração podia ser travada através do uso da razão e pela contemplação do Sumo Bem pelo homem. Discordo desta parte. É a inteligência e a razão que tornam o homem um ser perverso.

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A ascensão da nova ignorância | José Pacheco Pereira in “Público”

jpp-200Nada é mais significativo e deprimente do que ver pessoas que estão juntas, mas que quase não se falam, e estão atentas ao telemóvel.

Entre os temas tabu dos nossos dias está a ignorância. Parece que falar da ignorância coloca logo quem o faz numa situação de arrogância intelectual, o que inibe muita gente de a nomear. Mas não há muita razão para se enfiar essa carapuça, tanto mais que o problema é enorme e está agravar-se e a assumir novas formas, socialmente agressivas. Acompanha outro tipo de fenómenos como o populismo, a chamada “pós-verdade”, a circulação indiferenciada de notícias falsas, e, o que é mais grave, a indiferença sobre a sua verificação. Não explica, nem é a causa de nenhum destes fenómenos, mas é sua parente próxima e faz parte da mesma família. É, repetindo uma fórmula que já usei, como se de repente se deixasse de ir ao médico, e se passasse a ir ao curandeiro.

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Lançamento de novo livro de José Adelino Maltez | Do Império por Cumprir

galvaoNão temos política colonial, nem um espírito colonial, nem um método colonial.

Henrique Galvão, em Huíla. Relatório de Governo. 1929, confessa que não temos política colonial, nem um espírito colonial, nem um método colonial. Porque esta falta de uma doutrina colonial resulta em grande parte da ausência de uma Política Colonial, e a falta de uma e outra, eliminam, de entrada, a possibilidade de ideias coloniais práticas e eficientes. Fica sempre tudo à mercê das ideias dos governantes que passam, dado que cada ministro da pasta dispõe de ideia própria para governar as possessões ultramarinas, mas esta não é transmitida aos governadores, uma vez que estes também dispunham de ideias próprias, e o fenómeno vai reproduzindo-se em toda a escala hierárquica até ao mais simples amanuense. Uma situação que permite que tudo seja possível – até bons governos!

Henrique Carlos Mata Galvão (1895-1970).

Participa no golpe dos Fifis (1927). Deportado para Angola.

Governador de Huíla (1929). Organiza a Exposição Colonial Portuguesa no Porto (1934).

Deputado. Diretor da Emissora Nacional (1935). Lança a Exposição Colonial do Mundo Português (1940). Inspetor superior da administração colonial.

Discurso parlamentar (22 de janeiro 1947). Fuga da prisão (1959). Assalto ao paquete Santa Maria e coordenação da operação de desvio de um avião da TAP (1961).

Depoimento na ONU (13 dezembro de 1963).

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Brexit, projeto europeu e interesses de Portugal | Pensar Portugal

brexit-2 - 200A decisão do Reino Unido (RU) de abandonar a União Europeia (UE) constitui um acontecimento que irá marcar de forma indelével o futuro do processo de integração europeia e colocar desafios cruciais a Portugal. Propomo-nos centrar a atenção no impacto do BREXIT na UE, referindo-nos ao que pensamos poderá vir a ser uma das respostas mais prováveis a essa saída, à posição que Portugal deve assumir face a essa hipótese e a algumas atitudes de curto prazo.

 

BREXIT, circunstâncias em que ocorre e consequências para a UE

 

O referendo do RU acontece num período em que três crises sucessivas já tinham corroído a confiança e a adesão ao projeto europeu em vários Estados-Membros (EM). Referimo-nos à crise das dívidas soberanas na zona euro, à crise em torno do acordo de associação da Ucrânia à UE e à crise dos refugiados.

 

Todas elas foram desencadeadas depois de 2010, num contexto em que a UE foi das macro-regiões mundiais com menor crescimento na última década, perdendo competitividade e revelando-se incapaz de reduzir significativamente o nível de desemprego, em particular da sua população juvenil, não obstante dispor de um vasto mercado interno, encarado pelos Estados Membros (EM) como condição necessária para crescer na fase de globalização.

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Umberto Eco |14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno

umbertoeco-200Intelectual italiano, romancista e filósofo, autor de “O pêndulo de Foucault” e “O Nome da Rosa” morreu em 19 de fevereiro, aos 84 anos; ‘O fascismo eterno ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis’, diz Eco

A Revista Samuel reproduz o texto de Umberto Eco Ur-Fascismo, produzido originalmente para uma conferência proferida na Universidade Columbia, em abril de 1995, numa celebração da liberação da Europa:

‘O Fascismo Eterno’

Em 1942, com a idade de dez anos, ganhei o prêmio nos Ludi Juveniles (um concurso com livre participação obrigatória para jovens fascistas italianos — o que vale dizer, para todos os jovens italianos). Tinha trabalhado com virtuosismo retórico sobre o tema: “Devemos morrer pela glória de Mussolini e pelo destino imortal da Itália?” Minha resposta foi afirmativa. Eu era um garoto esperto.

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Instituto Superior Técnico | Teseu Quântico encontra Minotauro mais rapidamente

mediumImagine que está perdido num labirinto à procura da saída. Ou que é o antigo herói grego Teseu à procura do Minotauro. Será que a utilização de um computador quântico, que pode explorar todos os caminhos em paralelo graças ao princípio da sobreposição quântica, torna mais rápida a forma de encontrar a solução?

A resposta positiva era conhecida apenas para um punhado de labirintos, muito regulares e simétricos. No seu trabalho publicado na prestigiada revista americana Physical Review Letters e destacado como uma sugestão dos editores, Shantanav Chakraborty e Leonardo Novo, dois estudantes do Doctoral Programme in the Physics and Mathematics of Information do Instituto Superior Técnico (Universidade de Lisboa), juntamente com o seu orientador Yasser Omar, descobriram que um passeio quântico por labirintos aleatórios permite encontrar a saída da forma mais rápida possível, mesmo que a estrutura do labirinto seja extremamente desordenada.

Esta descoberta, feita em conjunto com Andris Ambainis, da Universidade de Letónia, é muito surpreendente e que mostra a vantagem quântica em computação é robusta à desordem espacial.

Adicionalmente, os autores estenderam os seus resultados para mostrar que é possível estabelecer comunicação quântica de elevada fidelidade entre dois pontos arbitrários de uma rede aleatória (nomeadamente para realizar a transferência de bit quântico), assim como a geração de entrelaçamento. Este trabalho abre caminho para o desenvolvimento de tarefas de informação quântica que mantêm um desempenho optimal em sistemas altamente desordenados.

Para mais detalhes, consulte o artigo AQUI

A Sociedade do Custo Marginal Zero – Jeremy Rifkin

978-989-25_A Sociedade de Custo Marginal ZeroA Internet das Coisas, a comunidade de bens comuns e o eclipse do capitalismo.

Em A Sociedade do Custo Marginal Zero, Jeremy Rifkin anuncia que um novo sistema económico está a entrar na cena mundial. A emergente Internet das Coisas está a dar origem a uma economia colaborativa, baseada numa comunidade dos bens comuns. Este é o primeiro paradigma económico a enraizar-se desde o advento do capitalismo e do socialismo do início do século XIX. A economia colaborativa está a transformar o modo como organizamos a vida económica, permitindo reduzir drasticamente clivagens salariais, democratizar a economia global e criar uma sociedade mais sustentável em termos ecológicos.

Neste novo e provocador livro, Rifkin explica de que forma a Internet está a fortalecer a produtividade a ponto de o custo marginal (o custo de produção de uma unidade se os custos fixos não forem considerados) de bens e serviços ser quase zero, tornando-os praticamente gratuitos, abundantes e independentes das forças de mercado.

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O Amor está no virtual | Inês Salvador

Ines - 200A gosta da foto de perfil de B
A gosta de mais uma foto de perfil de B
A gosta de várias fotos de perfil de B
A gosta de posts B
A gosta da página da empresa onde trabalha B
A comenta fotos e posts de B com elogios superlativos e graçolas e (im)pertinências dispensáveis
A gosta da foto de perfil de C
A gosta de mais uma foto de perfil de C
A gosta de várias fotos de perfil de C
A gosta de posts C
A comenta fotos e posts de C com elogios superlativos e graçolas e (im)pertinências dispensáveis
A tornou-se amigo D, E, F, H…
A gosta da foto de perfil de D
A gosta de mais uma foto de perfil de D
A gosta de várias fotos de perfil de D
A gosta de posts D
A comenta fotos e posts de D com elogios superlativos e graçolas e (im)pertinências dispensáveis
A foi bloqueado por B
B é agora amigo de C
A repete a receita com E, F, G, H…
A falou no chat com B, C, D, E, F, G, H…
I, J L, M, N sabem quem é A
A arrasta-se no alfabeto virtual da sua não existência.
A morreu de amor virtual.

Retirado sem autorização do Facebook | Mural de Inês Salvador

A Reforma do Parlamento Português, de António José Seguro

PrintO livro de António José Seguro aborda, de forma pioneira e com minúcia de dados, um tema fundamental no funcionamento das democracias de hoje, e da portuguesa especialmente – o do controlo do Governo perante o Parlamento e, consequentemente, o do poder relativo de que as maiorias e minorias (ou da maioria e da oposição) dispõem no hemiciclo.

No presente quadro parlamentar saído das últimas eleições legislativas e, ao mesmo tempo, assinalando os 40 anos da Assembleia da República, este livro de António José Seguro é mais atual do que nunca.

Lançamento no dia 10 de março, às 18h30, no Auditório 2 da Universidade Autónoma de Lisboa. O livro será apresentado por Viriato Soromenho-Marques. A sessão conta com intervenções de André Freire e Manuel Meirinho Martins.

«Muito bem ancorado teoricamente, o trabalho de António José Seguro permite demonstrar que a tese sobre o declínio dos parlamentos […] é no mínimo parcial.»
André Freire, Professor Associado com Agregação em Ciência Política do ISCTE-IUL

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A crise da social-democracia | MANUEL LOFF in “Público”

manuel lof - 150A tão discutida crise da social-democracia (SD) – não, não estou a falar da que Passos Coelho redescobriu há dias… – observa-se hoje, a partir de Portugal, com uma experiência de governo tão original quanto a atual, de forma substancialmente diferente da visão desoladora com que ela emerge à escala internacional. Depois da sua viragem ideológica dos anos 80 no sentido de um social-liberalismo (liberal na economia e nos costumes, social na preservação de políticas de redistribuição desde que não ponham em causa a recomposição do capitalismo internacional em nome da competitividade), a SD perdeu uma grande parte da sua capacidade de representação política, sobretudo entre os que dependem de um salário e os setores sociais que, avessos a mudanças estruturais do capitalismo, não deixam de acreditar na função reguladora das políticas sociais.

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APELO AOS AMIGOS DO EPHEMERA | José Pacheco Pereira

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Neste momento, o ritmo das ofertas e das aquisições semanais subiu muito, e tem havido um crescente número de voluntários para trabalhar no ARQUIVO / BIBLIOTECA. Torna-se necessário uma espécie de entreposto em Lisboa, onde se possa recolher material, dar-lhe um primeiro tratamento e organização e ter um posto de digitalização. Por isso, precisamos da cedência de um espaço que não precisa de ser muito grande, com condições mínimas para que se possa fazer estes trabalhos, ou pro bono, o que seria ideal para não agravar as despesas, ou com uma renda nominal. De nossa parte, podíamos fazer pequenas obras de manutenção, garantir os gastos de electricidade e água e cuidar da segurança do espaço. Há por toda a cidade espaços vazios, lojas e pequenos apartamentos vagos, que podem servir para este objectivo,. A acessibilidade é também importante. O período da cedência seria de cerca de dois anos.

Obrigado.

Choque Climático – Gernot Wagner e Martin L. Weitzman

978-972-25-3131-3_Choque ClimaticoSe tivesse 10% de hipóteses de ter um acidente de automóvel fatal, não tomaria as precauções necessárias para que tal não acontecesse? Se as suas finanças tivessem 10% de hipóteses de sofrer uma perda severa, não reavaliaria as suas contas? Então, se sabemos que o mundo está a aquecer e que existem 10% de hipóteses de isso provocar uma catástrofe, por que motivo não são imediatamente alteradas as leis ambientais?

Partindo de material e trabalhos que não estão, habitualmente, ao alcance do grande público, Gernot Wagner e Martin Weitzman exploram, de modo claro e lúcido, as eventuais repercussões de um planeta mais quente. Aquilo que sabemos sobre o aquecimento global é já de si alarmante; aquilo que ainda não sabemos sobre os riscos extremos que corremos pode ser ainda pior.

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«SEXALESCENTES»

actriz

Se estivermos atentos, podemos notar que está a surgir uma nova faixa social, a das pessoas que estão em torno dos sessenta/setenta anos de idade, os sexalescentes – é a geração que rejeita a palavra “sexagenário”, porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.

Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica – parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.

Este novo grupo humano, que hoje ronda os sessenta/setenta, teve uma vida razoavelmente satisfatória.

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Derrota ideológica e vitória política | José Pacheco Pereira in “Público” de 16-01-2016

jpachecopereiraUma coisa a esquerda deve compreender com toda a clareza: a direita venceu a batalha ideológica nos últimos anos. Mais: essa vitória tem profundas repercussões nos anos futuros e molda a opinião pública. É uma vitória muito perigosa e pegajosa, porque se coloca no terreno daquilo que os sociólogos chamam “background assumptions”, molda o nosso pensamento sem trazer assinatura, parece a “realidade” quando é uma construção ideológica. No entanto, convém não confundir duas coisas distintas, a ideologia e política. E a direita perdeu a batalha política, o que ajuda a ocultar a sua vitória ideológica. O problema é que a solidez da vitória ideológica é maior do que a solidez da vitória política.

Para começar, obrigou-me a contragosto a ter que retomar uma linguagem esquerda-direita, que de há muito penso estar ultrapassada e ter mais equívocos do que vantagens. Sim, já sei, conheço a frase de Alain sobre que quem pensa que não é de esquerda nem de direita é de direita, mas hoje a frase oculta mais do que revela.

Considero este retorno a um quadro de dualidades, que só pode ser usado numa perspectiva histórica ou sentimental, um dos estragos mais recentes sobre possibilidade de se sair de uma política do passado. Pode servir para dar identidade, mas explica cada vez menos o que se passa. Um exemplo, é a crítica ao consumismo oriunda da esquerda que preparou o terreno e encaixou perfeitamente na crítica da direita ao “viver acima das suas posses”, em ambos os casos centrando-se na culpabilização dos consumos típicos da classe média. Mais do que de esquerda e direita, estas posições são socialmente reaccionárias.

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Lusofobia | Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias

Viriato-Soromenho-MarquesLula da Silva escolheu a Espanha para reativar um dos tiques culturais de alguma elite brasileira contra o colonizador português. Culpou Portugal pelo facto de a primeira universidade brasileira ter sido fundada apenas em 1922. Para além de ignorar as iniciativas lusas em matéria de ensino superior, em 1792, no Rio de Janeiro (Ciências Militares), e em 1808, na Bahia (Medicina), Lula fez cair para cima da herança lusa um século de independência brasileira (1822-1922). Como Pedro Calafate tem escrito, a procura de um paradigma não português para inspiração cultural alternativa atravessa todo o século XIX do país irmão. Não só o positivismo francês, imortalizado na bandeira nacional adotada em 1889, como um germanismo mítico, com Tobias Barreto, ou um indigenismo romântico em Gonçalves de Magalhães e Oswald de Andrade (tupi or not to be…). Contudo, Lula ignora os grandes vultos contemporâneos da Academia brasileira. Não só o luso tropicalismo de Gilberto Freyre, como os trabalhos monumentais de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e Darcy Ribeiro. Lula ignora que em 1815 o Brasil ganhou o estatuto de reino. E que a história de Pedro I, imperador do Brasil, que foi também Pedro IV de Portugal, é uma singularidade irrepetível na história universal. Ignora que a Universidade de Coimbra (depois do fecho da de Évora) foi a única para todo um império pobre. Contudo, foi esse espírito coimbrão, que unia a elite brasileira, coeva de José Bonifácio, aliado à sábia estrutura administrativa portuguesa, que garantiu – em contraste com a total fragmentação da América Espanhola – a unidade do Brasil. Os pobres portugueses asseguraram a integridade desse chão que fará do Brasil uma das grandes potências mundiais do século XXI. Basta que o seu grande povo escolha líderes capazes de cultivar a história, em vez de a tratarem com os pés.

Fonte: http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/viriato-soromenho-marques/interior/lusofobia-4957487.html

Homenagem a André Carneiro | Itaú Cultural‏

O poeta arrudA e o músico Peri Pane conduzem o espetáculo Confissões do Inexplicável, uma homenagem-performance a André Carneiro, morto em outubro de 2014 e considerado um dos grandes autores de ficção científica do Brasil. Os convidados Luiz Bras, Eunice Arruda, Carlos Rosa, Ava Rocha, Elisa Band e Joana Egypto celebram a obra do autor com leituras de textos, música, dança e VJing.

Com curadoria de Marcelino Freire, o AuTORES EM CENA transforma escritores em atores. Em vez de leituras, o evento propõe espetáculos teatrais baseados nos textos dos autores.

Apresentação gravada no programa AuTORES EM CENA em 19 de junho de 2015, no Itaú Cultural, em São Paulo/SP.

Palácio da Fazenda, um tesouro arquitetônico | Rio de Janeiro | Adelto Gonçalves

                              Convite Lancamento Tesouro (2)

    I

A história do Palácio da Fazenda, construção de 1943 que se destaca na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro, é o que contam os arquitetos, professores e pesquisadores Helio Brasil e Nireu Cavalcanti em Tesouro (O Palácio da Fazenda, da Era Vargas aos 450 anos do Rio de Janeiro), edição comemorativa e fora do comércio, publicada com o patrocínio da Caixa Econômica Federal e o apoio das empresas Carvalho Hosken Engenharia, Petróleos Ipiranga, Lopes Machado/BKR Auditores e Top Down Sistemas.

Construído para abrigar o Ministério da Fazenda, o antigo Tesouro da época do Império e Real Erário do tempo colonial, o vetusto prédio tem sido palco de acontecimentos de relevância na história do País e até hoje é o local preferido para despachos ou encontros promovidos pelo ministro da Fazenda, a despeito da transferência do órgão para Brasília quando da inauguração da atual Capital da República.

Considerado patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro, o prédio, projeto do arquiteto Luiz de Moura (1909-?), apresenta uma entrada principal baseada na arquitetura de um templo grego, ocupando uma quadra inteira de 9.360 metros quadrados de terreno e 14 pavimentos de altura. A construção abrange uma área privilegiada na Avenida Presidente Antônio Carlos, no centro da cidade do Rio de Janeiro, destacando-se na paisagem como uma das mais significativas representações do estilo neoclássico, tendo sido seu conjunto arquitetônico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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O riso, o sexo e os palavrões | HUGO GONÇALVES | DN 22-08-2015

Hugo GoncalvesPorque estou a traduzir o romance American Psycho, de Bret Easton Ellis, voltei a pensar em como a língua inglesa tem muito mais palavras do que a nossa para o verbo sorrir – to smile, to grin, to smirk, to simper – e para o verbo rir ou o ato de dar gargalhadas – to laugh, to chukle, to giggle, guffaw, to crack up. Em inglês, estes signos captam diferentes características e gradações. Um sorriso gozão, pretensioso: to smirk. Dar uns risinhos: to giggle. Uma gargalhada forte: guffaw.

De que forma, em Portugal, séculos de Inquisição, de pudor católico, da ideia de transgressão e castigo, e quase meio século de ditadura salazarista – uma polícia política, os bufos, o medo de falar, o “respeitinho é muito bonito” -, podem ter limitado a nossa habilidade de expressar felicidade e humor? Talvez se William Baskerville, protagonista de O Nome da Rosa, usasse o seu engenho neste mistério não se afastasse muito de um dos temas do romance de Umberto Eco: o riso como uma forma subversiva contra o poder. Ou, no nosso caso, a falta dele. Toda a gente faz comédia com Hitler, poucas vezes vi Salazar como protagonista de um sketch ou uma anedota.

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“A corrupção é prática tão antiga quanto o Brasil” | Rivaldo Chinem

Adelto-GoncalvesAutor das biografias dos poetas Gonzaga e Bocage, o pesquisador Adelto Gonçalves desvenda a estrutura judiciária na capitania de São Paulo (1709-1822) em livro que ajuda a entender as relações entre Estado e Justiça e o movimento político que o País vive hoje

                                                                                                           Rivaldo Chinem (*)

Adelto Gonçalves, 63 anos, é jornalista desde 1972, com passagens pelos jornais A Tribuna, de Santos, O Estado de S. Paulo e Folha da Tarde e pela Editora Abril. É doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa e mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana pela Universidade de São Paulo (usp). Seu trabalho de doutorado Gonzaga, um poeta do Iluminismo, sobre Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), foi publicado em 1999 pela Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro.

Em 1999, com bolsa de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), desenvolveu em Portugal projeto sobre a vida e a obra do poeta Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805), publicado em 2003 pela Editorial Caminho, de Lisboa, sob o título Bocage – o perfil perdido.

Foi professor titular da Universidade Paulista (Unip), nos cursos de Direito e Pedagogia, e da Universidade Santa Cecília (Unisanta), no curso de Jornalismo, em Santos. É autor também de Mariela Morta (Ourinhos, Complemento, 1977), Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio, 1981; Taubaté-SP, Editora Letra Selvagem, 2015), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2003), Fernando Pessoa: a voz de Deus (Santos, Editora da Unisanta, 1997) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro/São Paulo, Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012).

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Para Onde Vai Portugal? – Raquel Varela

Para onde vai portugalDa autora de História do Povo na Revolução Portuguesa 1974-75 e A Segurança Social é Sustentável.

Qual será o rumo do País nos próximos anos? Para onde vai Portugal? O regime democrático-parlamentar sobreviverá às mudanças sociais? Que aconteceu à educação, à saúde, ao trabalho, à vida pessoal, familiar e afetiva dos portugueses para lá dos títulos dos grandes jornais depois da crise de 2008?

Raquel Varela, historiadora, traz-nos um ensaio com propostas económicas e sociais inéditas sobre a crise iniciada em 2007/8 e o rumo do País para os próximos anos, pondo em cima da mesa as várias possibilidades de progresso e decadência histórica. Uma voz surpreendente pela combinação de uma escrita escorreita e rigorosa, que com humor e ironia se propõe pensar o futuro do País.

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Todos Devemos ser Feministas, de Chimamanda Ngozie Adichie

Todos Devemos Ser FeministasNeste ensaio pessoal – adaptado de uma conferência TED – Chimamanda Ngozi Adichie apresenta uma definição única do feminismo no século XXI. A escritora parte da sua experiência pessoal para defender a inclusão e a consciência nesta admirável exploração sobre o que significa ser mulher nos dias de hoje.

Um desafio lançado a mulheres e homens, porque todos devemos ser feministas.

O Fim do Homem Soviético – Um tempo de desencanto

O_Fim_Homem_Soviético_SAAo longo de 35 anos, Svetlana Aleksievitch tem escrito sobre a identidade russa, sobre o seu passado e futuro, e o ponto final é dado em O Fim do Homem Soviético – Um tempo de desencanto, livro vencedor do Prémio Médicis Ensaio e indicado pela revista Lire como Livro do Ano 2013 em França. Este documento único, já publicado em dezenas de países e traduzido diretamente do russo, chega a Portugal no dia 24 de abril com a chancela Porto Editora.

Svetlana Aleksievitch, jornalista laureada e já apontada para o Prémio Nobel da Literatura, percorreu dezenas de regiões do território soviético, falou com pessoas «de planetas diferentes» – os que nasceram na URSS e os seus filhos – e apercebeu-se de que uma grande parte da nova geração de russos eleva as qualidades de Estaline, sonha com o ressurgimento do antigo império e revive os símbolos soviéticos num Estado que já não os procura promover.

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Novas Cartas Portuguesas Entre Portugal e o Mundo

Nova Cartas Portuguesas Entre Portugal e o MundoNovas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, tiveram em Portugal e no resto do Mundo.

Organizado por Ana Luísa Amaral e Marinela Freitas, inclui depoimentos e traduções de inúmeros artigos publicados na Imprensa estrangeira, entre eles, o de Simone de Beauvoir.

Novas Cartas Portuguesas Entre Portugal e o Mundo tem como objectivo mapear o impacto e a recepção nacional e internacional do livro (Novas Cartas Portuguesas) relevando a repercussão que ele teve na academia, no trabalho de outros autores (escritores, dramaturgos, actores, tradutores, etc.) e na sociedade em geral.”

Ana Luísa Amaral, in Introdução

 

O perfil de Dorian Gray – por Leonne Castro

Da mesma forma funcionam nossos perfis nas redes sociais. Pense: lá consta foto, nome, idade, preferências, escolhas culturais e até uma linha do tempo, traçando o comportamento do usuário ao longo dos dias. Tudo é tão plausível e verossimilhante que chega a confundir. Trata-se de uma imagem que montamos de nós mesmos e que passa a ser o que somos para um número significativo de pessoas. Quando não se teve a oportunidade de conhecer alguém com mais afinco, é com base na internet que formamos nosso [pré]conceito – prática comum inclusive em empresas, que buscam informações de funcionários e candidatos em processo de seleção. É como se fôssemos, cada um de nós, eternos Dorian Gray’s, com nosso retrato intacto aos olhos do mundo, sem se preocupar com os bastidores da alma.

Leonne Castro – LiteraTortura.

COMO SOBREVIVER A PORTUGAL, de Gabriel Magalhães

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Um ensaio provocatório. Uma análise impiedosa dos nossos defeitos. Uma obra polémica que não deixará ninguém indiferente, mas deixará cada um pensar sobre quem somos e, principalmente, quem queremos ser, como povo e como indivíduos.

Numa altura em que a troca de ideias se espartilha em um ou dois modelos oficiais de debate, Gabriel Magalhães expõe ideias com uma clareza, um desassombro e uma serenidade que nos faz acreditar que a liberdade de pensamento e opinião ainda existe e é praticável.

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