Amarrada à Tua Mão, de José Fialho Gouveia

Amarrada à Tua Mão

Sara cresceu, deixou de ser criança e arrumou a sua velha boneca dentro de uma caixa. Tornou-se jornalista, mas sente-se desanimada com a vida e a profissão, até porque lhe sobra cada vez menos tempo para dedicar à filha. Um desabafo com Vasco, o marido, leva-os a empreender uma viagem à infância e aos sonhos que acalentavam antes de se tornarem adultos. Será que ainda irão a tempo de os cumprir?
Entretanto, também a Boneca dá a conhecer o que foi a sua vida e a forma como se sente hoje, fechada numa arrecadação, sem sequer uma janela por onde ver o mundo.

Amarrada à Tua Mão é uma peça de teatro intercalada de canções compostas por Manuel Paulo, mas é, além disso, um texto profundamente actual e oportuno, fundamental para compreendermos a vertigem da sociedade contemporânea e o seu impacto nas nossas vidas.

António Lobo Antunes

António Lobo Antunes

O escritor António Lobo Antunes vai receber no próximo dia 6 de Outubro o Doutoramento Honoris Causa da Universidade Babes-Bolyai de Cluj, na Roménia, uma das mais antigas e prestigiadas da Europa Central e Oriental (www.lett.ubbcluj.ro).
A distinção, resultado de uma decisão unânime dos membros do Senado daquela Universidade, é atribuída a António Lobo Antunes pela sua “contribuição excepcional para a literatura mundial” e, também, pela “difusão da cultura portuguesa no Mundo”. O mais alto título académico da Universidade Babes-Bolyai de Cluj tem reconhecido personalidades com realizações notáveis nos domínios científico, artístico, filosófico e teológico. Mario Vargas Llosa, Prémio Nobel da Literatura,Jacques le Goff, historiador francês, Angela Merkel, Chanceler Alemã, e Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, são algumas das individualidades recentemente distinguidas com o mesmo grau académico.
Um dia depois da cerimónia, no decorrer da abertura do Salão do Livro da Transilvânia, onde serão apresentadas as edições romenas dos livros do autor, António Lobo Antunes receberá, também, o Grande Prémio de Excelência do Salão do Livro.
De referir, por último, que a Dom Quixote publicará o mais recente livro de António Lobo Antunes, Caminho Como Uma Casa Em Chamas, no próximo dia 21 de Outubro.

Ver: Amor, de David Grossman

Ver Amor

Na década de 1950, em Israel, Momik, um rapazinho de nove anos, filho de judeus sobreviventes do Holocausto nazi, interpreta à sua maneira os silêncios e os fragmentos de conversas dos adultos sobre o que viveram na terra «de Lá». Convencido de que a «Besta nazi» é, literalmente, um monstro horrendo, resolve atraí-la à cave de sua casa para poder domesticá-la com a ajuda do avô Anshel Wasserman, que aparentemente ficou louco num campo de concentração.

Já adulto, e agora romancista, Momik recria literariamente a história de Bruno Schulz (1892-1942), escritor polaco morto por um soldado nazi no gueto de Drohobycz. Na variante inventada por Momik, porém, Schulz foge para Danzig e atira-se ao mar do Norte, em cujas profundezas vive uma aventura fantástica e alegórica.

Narrado a várias vozes, fundindo géneros e estilos, o romance Ver: Amor percorre de modo não linear praticamente todo o século xx, tendo como núcleo a experiência indizível do Holocausto.
Nas livrarias a 30 de Setembro

A maior flor do mundo, de José Saramago

a maior flor

Porto Editora publica A maior flor do mundo, de José Saramago.

A maior flor do mundo, livro para crianças de José Saramago, publicado originalmente em 2001, termina com uma questão: se as histórias para crianças fossem de leitura obrigatória para os adultos, seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar? Porque esta é, sem dúvida, uma obra sublime e de leitura obrigatória, a Porto Editora publica uma nova edição deste livro, com as ilustrações originais (e premiadas) de João Caetano, já disponível nas livrarias.

Em A maior flor do mundo, Saramago estabelece um imaginativo jogo com o leitor, transformando-se em personagem. Começa assim: «As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas.

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A Peregrinação do Rapaz Sem Cor, de Haruki Murakami

A Peregrinação do Rapaz Sem Cor

Nos seus dias de adolescente, Tsukuru Tazaki gostava de ir sentar-se nas estações a ver passar os comboios. Agora, com 36 anos feitos, é engenheiro de profissão e projecta estações, mas nunca perdeu o hábito de ver chegar e partir os comboios. Lá está ele na estação central de Shinjuku, ao que dizem «a mais movimentada do mundo», incapaz de despregar os olhos daquele mar selvagem e turbulento «que nenhum profeta, por mais poderoso, seria capaz de dividir em dois».
Leva uma existência pacífica, que talvez peque por ser demasiado solitária, para não dizer insípida, a condizer com a ausência de cor que caracteriza o seu nome. A entrada em cena de Sara, com o vestido verde-hortelã e os seus olhos brilhantes de curiosidade, vem mudar muita coisa na vida de Tsukuru. Acima de tudo, traz a lume uma história trágica, que a memória teima em não esquecer.
Um romance marcadamente intimista sobre a amizade, o amor e a solidão dos que ainda não encontraram o seu lugar no mundo.
Nas livrarias a 30 de Setembro

Pompas Fúnebres, de Eduardo Pitta

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«Este volume colige uma parte significativa das crónicas que publiquei entre 2008 e 2013, na revista LER, a convite de Francisco José Viegas e João Pombeiro. Seleccionei as que me parecem poder resistir ao crivo do tempo. Eventuais rasuras ou alterações de pormenor não beliscam o espírito original. A que dá o título ao conjunto, Pompas Fúnebres, pode ser lida como um conto (nessa ambiguidade reside a sedução do género). O espectro de temas versados é muito amplo.» Eduardo Pitta

 

Os Luminares, de Eleanor Catton

Os Luminares

Simultaneamente um thriller e um romance histórico, este é um livro original e inovador: original pelos temas que traz – um mistério por resolver em 1866 na cidade de Hokitika, Nova Zelândia, que reagrupa o destino de doze personagens – e inovador pela estrutura reinventada dos romances vitorianos.

A corrida ao ouro, o tráfico de ópio, a prostituição e a expiação do passado de cada uma das personagens, além de um grandioso mistério por resolver, relevam a singularidade desta obra, iluminada por referências astrológicas, chaves simbólicas orientadoras do destino das personagens. Surpreendente e viciante, trata-se de ficção ao mais alto nível literário. Este romance de Eleanor Catton é incontornável, tendo sido reconhecido com o Man Booker Prize 2013.

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O Organista, de Lídia Jorge

O Organista

Antes do princípio, ao vazio chegou um órgão. Com esse órgão, o vazio encheu-se de música, e o Criador, atraído pelo som, resolveu tocar ele mesmo o extraordinário instrumento. Então a música passou a ser invenção e revelação, e a cada sopro do órgão apareceram o cosmos, o tempo, os primeiros seres vivos e, por fim, o homem e a mulher, tal como os conhecemos, criados pelo Organista.

Esta é uma prodigiosa fábula sobre a criação do Universo e a relação dos homens com Deus, pela mão de uma escritora que dispensa apresentações.

Um livro em edição bilingue, português e inglês, que será publicado poucos dias antes de mais uma edição do Escritaria, em Penafiel, que este ano homenageia a autora de O Dia dos Prodígios.

Nas livrarias a 30 de Setembro

O que nos separa…

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Desculpa, é a primeira palavra desta novela, atitude de quem timidamente inicia uma conversa que sabe intrusiva, de quem receia incomodar. Não espera respostas, nem pretende ser entendido, a barreira da língua assegura-lhe essa reserva de intimidade. Um ser escutado sem ser ouvido. Pouco mais lhe pede, adormecido em expectativas ausentes que não afectam ninguém. Só ali, em Macau, com um copo de whisky na mão isso é possível, ali ou em outro local qualquer onde fosse mais um homem com um copo de whisky na mão.

Este é o mais recente livro de Patrícia Reis, cujo lançamento é daqui a bocado.

Leia mais em Acrítico, leituras dispersas.

 

Stoner, de John Willimans

Stoner

O Stoner do título é o protagonista deste romance – um obscuro professor de literatura, que até ao dia da sua morte dá aulas numa obscura universidade do interior americano. A sua vida, brevemente descrita nos dois primeiros parágrafos, oferece um triste obituário. O que se segue, numa prosa precisa, despojada, quase cruel, é a sucessão dos falhanços de uma personagem que perde quase tudo menos a entrega à literatura. O romance foi publicado em 1965, e caiu no esquecimento. Tal como o seu autor, John Williams.

Passados quase 50 anos, porém, o mesmo cego amor à literatura que movia a personagem principal levou a que uma escritora francesa, Anna Gavalda, traduzisse o livro perdido. Outras edições se seguiram, em vários países da Europa. E em 2013, quando os leitores da livraria britânica Waterstones foram chamados a eleger o melhor livro do ano, escolheram uma relíquia – e não as novidades publicadas nesse ano. Julian Barnes, Ian McEwan, Bret Easton Ellis, entre muitos outros escritores, juntaram-se ao coro e resgataram a obra, repetindo por outras palavras a síntese do jornalista Bryan Appleyard: “É o melhor romance que ninguém leu”.

Amor Entre Guerras, de Sofia Ferros

Amor Entre Guerras

Quando a Alemanha declara guerra a Portugal em 1916, Miguel Vieira, um jovem médico do Porto, voluntaria-se para integrar o Corpo Expedicionário Português e parte para a frente de combate, na Flandres. Encontra-se nas trincheiras aquando do ataque devastador dos alemães às tropas portuguesas, naquela que ficará conhecida como a Batalha de La Lys. Como responsável pelo Posto de Socorro Avançado, é chamado a tomar decisões dramáticas, uma das quais envolve o seu melhor amigo. Será, de resto, por causa dele que, num castelo transformado em hospital de guerra, conhece e se apaixona por Alexandrine Roussel, uma francesa de espírito indomável que tem a ambição de se tornar médica e trava uma luta sem tréguas pela emancipação das mulheres e pela liberdade.

Amor Entre Guerras, que se baseia na história dos bisavós maternos da autora, é um romance fascinante sobre uma família entre 1916 e as vésperas da Segunda Guerra Mundial, oferecendo-se ainda como relato das convulsões que o mundo atravessou na época e como testemunho da vida quotidiana em Moçambique.

Da Europa de Schuman à Não Europa de Merkel

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«Que reste-t-il de nos amours?» É a indagação nostálgica de uma bela canção de Charles Trenet, dos tempos da grande música europeia. É, também, de algum modo, o fio interrogativo de um livro em que se questiona a forma como foi possível passar de uma construção europeia destinada a assegurar a solidariedade e a prosperidade de um continente devastado – criando estruturas jurídicas de organização social e económica que se impuseram ao Mundo –, para um continente cada vez mais irrelevante, cujos valores fundadores se desvaneceram quase por completo.

Como se passou de um projecto comum, em que todas as vozes e vontades se juntavam, a um (des)agregado de países, alguns unidos por pouco mais do que uma moeda comum, em que os interesses nacionais a tudo se sobrepõem, e os conflitos e ódios florescem? Onde errámos? Nos termos da própria criação do Mercado Comum? No Tratado de Maastricht e nas suas revisões? Nos poderes não controlados, outorgados a um grupo de políticos com legitimação frágil e a uma massa anónima de eurocratas insensíveis? Ou teremos errado ao criar o ambiente que levou à passagem de uma Alemanha Europeia a uma Europa Alemã?

Num livro pontuado pela decepção, mas em que persiste a ilusão do grande sonho europeu, há ainda espaço para a apresentação de um programa geral de acção para a Europa: democratizar, desenvolver e “desgermanizar”. Existirá uma Europa capaz de responder a este programa?

www.quetzal.blogs.sapo.pt

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Mustang Branco, de Filipa Martins

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Uma mulher cresce protegida pela austeridade do pai – um Coronel – que, para além do bem-estar da família, tem como paixão um Ford Mustang branco titânio a rolar nas estradas da cidade da Beira, em Moçambique. Alheada da guerra civil que domina a ex-colónia portuguesa, apaixona-se pela pele curtida de um guerrilheiro. Vinte anos mais tarde, no seu apartamento, numas minúsculas águas-furtadas em Saint-Germain-des-Près, ela continua marcada pelas lembranças que tem deste catanador de chissamba – Caju, de seu nome, tal como o fruto.

Quando um conjunto de acasos a leva ao septuagésimo nono andar da Torre Montparnasse, reencontra o seu velho amor no ambiente cosmopolita de Paris, apertado pelos fatos cintados da alta-costura e de braço dado com o dinheiro.

De imediato, é enredada numa teia de negociatas de contornos densos, misteriosos e devassos que a conduzem à prisão – e ao passado.

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Girassol

Girassol

Pétalas fundidas ao tempo
flores e flores amarelas,
recolhem e derramam luz,
atirando, à sala,
a arte de Vincent.

Pétalas de luz transverberada
retendo, no vaso, as flores
refletindo o amarelo ouro
além do vaso,
além da sala,
além do tempo.

Pétalas de “Lírios”
pétalas de “Sorrow”, nua,
pétalas de “Loendros”.

Eis ali o artista, de corpo inteiro,
transfigurado em Girassol.

Vicente Freitas
Girassol de Van Gogh

A prisão do Gungunhana pelo “valente Mousinho” – no DN

O DIA EM QUE O DN CONTOU: O ‘leão de Gaza’, senhor do segundo maior império de África no século XIX, seria capturado a 28 de dezembro de 1895, pelo jovem major de cavalaria Mouzinho de Albuquerque. A notícia chegaria a Lisboa sete dias depois. O folhetim haveria de marcar presença nas páginas do DN entre 4 e 10 de janeiro. E regressar de 13 a 16 de março para relatar a chegada da “pretalhada” que, metida numa jaula, atravessaria a cidade e pararia no Jardim Botânico… para exibição.
Um artigo de Artur Cassiano.

No dia em que Gungunhana desembarca na Praça do Comércio, não é só o régulo Moçambicano que se encontra perdido, também Mouzinho lhe seguirá os passos, acabando “desterrado” de Moçambique, enviado para a corte como percetor do príncipe herdeiro. Um confronto de personalidades onde o lado selvagem e cru habita as circunstâncias de cada um. Este é um dos eixos narrativos do romance que Ana Cristina Silva dedicou a este episódio da história da presença portuguesa em África.

Um livro que o Acrítico – leituras dispersas – recomenda.

COMO SE FOSSE A ÚLTIMA VEZ, António Lopes

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«Quando o desejo de viver é imenso, uma vida não é suficiente»

A vida de C. parecia perfeita: era uma mulher bonita e inteligente, tinha um casamento realizado, um emprego estável, uma vida tranquila. Um dia, inesperadamente, o seu corpo é encontrado sem vida. Estamos perante um suicídio? Foi a jovem e bela mulher assassinada?

Enquanto o marido, homem egocêntrico e ambicioso, e a melhor amiga, racional e objectiva, procuram entender as razões da morte, o aparecimento em cena de um amante solitário e de um enigmático amigo poeta complicam uma explicação.

A par destas quatro vozes que relatam a secreta, enigmática ou frustrada relação que mantinham com a vítima, numa tentativa de compreender o mistério em volta desta morte, também a polícia vai fazendo o seu trabalho. Que segredos escondem estas quatro pessoas?

Obra de intenso mistério, Como se fosse a última vez é uma viagem às profundezas das emoções humanas e uma inteligente procura do sentido da vida. Sobretudo, quando o desejo de a viver é incontrolável…

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O Que Nos Separa dos Outros Por Causa de Um Copo de Whisky

O Que Nos Separa Dos Outros Por Causa de Um Copo de Whisky

Um homem está sozinho num bar, em Macau. Longe da pátria, mas afogado no whisky e nas memórias – pequenos momentos, frases, acontecimentos que vão derretendo como o gelo no fundo do copo. A sua interlocutora imaginária é a mulher estranha que está do outro lado do balcão. Uma mulher que lhe parece ser uma potencial salvação, mas que se torna apenas o eco do seu monólogo interior. Ela não sabe quem ele é e tão-pouco falam o mesmo idioma. Raramente o encara. Ele continua a contar-lhe a sua história de vida. Por pedaços. De forma não-linear. Ao mesmo tempo, inventa-lhe diversos cenários. Será ela alguém que, como o personagem principal, é um acumular de histórias ou de banalidades?

Esta novela, vencedora do Prémio Nacional de Literatura Lions Portugal 2013-2014, é uma nova forma de trabalhar o discurso interno, as memórias, sempre com a indicação de uma certa polifonia, já habitual nos livros de Patrícia Reis.

O Fruto da Gramática, de Nuno Júdice

O Fruto da Gramática

O novo livro de Poesia do autor vencedor, em 2013, do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana.

Nuno Júdice formou-se em Filologia Românica pela Universidade Clássica de Lisboa. É professor associado daUniversidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval. Entre 1997 e 2004 desempenhou as funções de Conselheiro Cultural e Director do Instituto Camões em Paris.

Tem publicado estudos sobre teoria da literatura e literatura portuguesa. Entre outras, publicou as edições de Sonetos de Antero de Quental, do Cancioneiro de D. Dinis, e Os Infortúnios Trágicos da Constante Florinda de Gaspar Pires Rebelo. Publicou o primeiro livro de poesia em 1972. Recebeu os mais importantes prémios de poesia portugueses: Pen Clube em 1985, Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus em 1990 e da Associação Portuguesa de Escritores em 1994. O seu romance Por Todos os Séculos recebeu o prémio Bordalo da Casa da Imprensa.

O Anjo Negro, de Antonio Tabucchi

O Anjo Negro

Um admirável conjunto de seis contos, que de algum modo retractam o lado negro da alma humana: a cobardia, a traição, a prepotência, a vaidade.

Um dos contos, «Noite, mar ou distância» passa-se em Lisboa, em 1969, e remete, sem o dizer, para um célebre poema de Alexandre O’Neill «Sigamos o Cherne» e para uma Lisboa sombria nos anos finais da ditadura.

Na sua nota introdutória, Antonio Tabucchi define assim os anjos que lhe inspiraram estes contos: «Os anjos são seres difíceis, principalmente os da espécie de que se fala neste livro. Não têm penas macias, têm um pelame ralo, que pica.»

Nas livrarias a 16 de Setembro

As Mulheres Contra a Ditadura

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A primeira “elite” de mulheres que lutou contra a ditadura no pós-guerra nasceu no Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUDJ, 1946-1957).

Filhas de juízes, de conservadores, de médicos, advogados, militares, ou de empresários, filhas de oposicionistas, republicanos sobretudo, elas foram jovens escolarizadas à procura de respostas políticas novas, diferentes das de seus pais. Burguesas, muitas universitárias, que arrastaram operárias e trabalhadoras rurais para o MUDJ, com a sua capacidade de liderança e de organização.

Este trabalho destina-se a dar visibilidade às raparigas do MUDJ, que arriscaram, estiveram presas, leram livros proibidos, recrutaram, discursaram, militaram nas campanhas, discutiram animadamente nos cafés, e desafiaram até a moral e os bons costumes do tempo, com a sociabilidade mista, que juntava raparigas e rapazes nos passeios no campo, nos piqueniques, ou cantando Lopes Graça. Vai à procura das que começaram a sua vida política no MUDJ e das muitas que passaram da luz à sombra, mesmo quando não desistiram de lutar contra a ditadura.

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A Última Dama do Estado Novo, de Orlando Raimundo

A Última Dama do Estado Novo

Orlando Raimundo – o jornalista que trouxe ao conhecimento público o famoso documento encontrado nos Arquivos de Salazar (de início atribuído a Franco Nogueira mas que veio a saber-se ser de André Gonçalves Pereira), propondo abdicar das colónias menos importantes para resistir em Angola e Moçambique – vem, neste ensaio biográfico, penetrar nos bastidores da história de Marcello Caetano para nos revelar as suas origens modestas, a ajuda dos amigos na sua formação, o núcleo de pressão que o levou ao poder, o drama vivido com a doença da mulher, a forma como a filha, Ana Maria Caetano, foi condenada a assumir o papel de primeira-dama – desistindo de um casamento com um advogado de grande prestígio – e, por fim, as determinações frias e racionais sobre a questão colonial que acabaram por levar à queda do regime em 1974 e ao seu exílio no Brasil.

Publicado originalmente em 2003, este livro foi revisto e aumentado, partilhando agora com os leitores novas e surpreendentes revelações que ajudam a entender ainda melhor o que foi, afinal, o marcelismo e o papel que desempenhou o império no imaginário e na política do século xx português.

The End of History? | BY NOAM CHOMSKY

Noam 02
An Indian army camp on the “world’s highest battlefield,” the Siachen Glacier. Long the site of brutal battles between India and Pakistan, the glacier is now melting as the result of climate change. (Annirudha Mookerjee/Getty Images)

It is not pleasant to contemplate the thoughts that must be passing through the mind of the Owl of Minerva as the dusk falls and she undertakes the task of interpreting the era of human civilization, which may now be approaching its inglorious end.

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Se Não Agora, Quando?, de Primo Levi

Se Não Agora, Quando

Este célebre romance de Primo Levi oferece-nos um novo quadro do judaísmo da Europa Oriental, centrado não já sobre a realidade das pequenas cidades-gueto da Galícia ou da Rússia, mas sobre a epopeia em parte ignorada dos seus grupos de resistentes que, durante a Segunda Guerra Mundial, travaram por vezes combates de vanguarda e lutaram frequentemente em duas frentes pela conquista de uma pátria, de uma dignidade e de uma identidade que até então lhes haviam sido negadas.

Através das aventuras de um desses grupos, pode assim vislumbrar-se o destino de todos aqueles que, sendo simultaneamente polacos ou russos e judeus, encontraram na Resistência uma dramática oportunidade para a si próprios se resgatarem, afirmando-se como gente livre. «Tínhamos encontrado, na neve e na lama, uma nova liberdade, desconhecida dos pais e dos avós, um contacto até então inexperimentado com amigos e inimigos, com a natureza e a ação.» E se os não tivessem então assumido, quando teriam voltado a ter possibilidade de agir como protagonistas?

Nas livrarias a 9 de Setembro

Uma Noite de Inverno, de Simon Sebag Montefiore

Uma Noite de Inverno

Moscovo, 1945. Enquanto Estaline celebra a vitória sobre Hitler, ouvem-se tiros ao longe. Numa ponte da cidade são encontrados os corpos sem vida de um casal de adolescentes. É uma tragédia de contornos invulgares. Rosa e Nikolai eram filhos de dois líderes do Kremlin, estudavam numa escola de elite, eram modelos de virtude.

Estamos perante um crime? Um pacto suicida? Ou uma conspiração?
A investigação, conduzida pelo próprio Estaline, estende-se ao círculo restrito das famílias mais poderosas do império. Várias crianças são feitas prisioneiras e obrigadas a testemunhar contra os pais e amigos. A pouco e pouco, são revelados os amores ilícitos e os segredos da alta sociedade de Moscovo, cruelmente exposta no seu esplendor e decadência.

Protagonizado por algumas das mais marcantes figuras históricas do século xx, Uma Noite de Inverno é uma viagem única aos meandros da vida privada da elite soviética na década de 1940.
Nas livrarias a 9 de Setembro

O mundo

Mulher galhosAqui está o mundo:
paisagens diluídas;
pretebranco, pretebranco
e nada mais.

O ser que o construiu:
uma barata, uma formiga, um dinossauro,
um orangotango
ou
quiçá
outras espécies antropóides
ou
quiçá
todos… juntos.

Cresceram sob o sol,
criaram asas, caíram,
(as linhas de voo, incertas, evoluíram)
e alguns renasceram das cinzas
— Fênix.

Mas,

o que nasce; morre, nascemorre
morremorre.

— E nada mais.

Vicente Freitas

40xAbril

40xAbril

ABRIL ILUSTRADO | A exposição abre na próxima sexta-feira, dia 5 de setembro, a partir das 22 horas. Contará com a presença de alguns ilustradores e poetas participantes no projecto.
“Falaremos desta ideia e falaremos de poesia. A poesia que ilustra esta significativa exposição. Apareçam.”, José Teófilo Duarte.

A exposição estará patente na Casa da Cultura de Setúbal.

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As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia, de António Tavares

As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia

Olhar para trás, para os anos mais importantes das nossas vidas – aqueles que nos tornaram o que hoje somos – nem sempre se revela tarefa fácil; mas o narrador deste romance terno e deslumbrante tem, desde pequeno, um companheiro inseparável que, até certo ponto, facilita as coisas: um caderno de papel pardo com linhas, comprado, ainda nos anos 1960, em Moçâmedes, no qual foi registando – com palavras, desenhos, fios de cabelo, pétalas, sangue, sémen – os episódios que marcaram decisivamente a sua história.

Com uma simplicidade invejável e, ao mesmo tempo, parecendo ter uma biblioteca dentro, As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia, finalista do Prémio LeYa em 2013, é um romance de formação tão enternecedor como Cinema Paraíso, só que com livros em vez de filmes.

Os Interessantes, de Meg Wolitzer

Os Interessantes

Numa noite de verão de 1974, seis adolescentes encontram-se num campo de férias e planeiam uma amizade para toda a vida. Jules, Cathy, Jonah, Goodman, Ethan e Ash ensaiam a atitude cool que (esperam) os defina como adultos. Fumam erva, bebem vodka, partilham os seus sonhos. E, juram, serão sempre Os Interessantes.

Décadas mais tarde, a amizade mantém-se embora tudo o resto tenha mudado. Jules, que planeava ser atriz, resignou-se a ser terapeuta. Cathy abandonou a dança. Jonah pôs de lado a guitarra para se dedicar à engenharia mecânica. Goodman desapareceu. Apenas Ethan e Ash se mantiveram fiéis aos seus planos de adolescência. Ethan criou uma série de televisão de sucesso e Ash é uma encenadora aclamada. Não são apenas famosos e bem-sucedidos, têm também dinheiro e influência suficientes para concretizar todos os seus sonhos.

Mas qual é o futuro de uma amizade tão profundamente desigual? O que acontece quando uns atingem um extraordinário patamar de sucesso e riqueza, e outros são obrigados a conformar-se com a normalidade?

Nas livrarias a 2 de Setembro