Da Europa de Schuman à Não Europa de Merkel

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«Que reste-t-il de nos amours?» É a indagação nostálgica de uma bela canção de Charles Trenet, dos tempos da grande música europeia. É, também, de algum modo, o fio interrogativo de um livro em que se questiona a forma como foi possível passar de uma construção europeia destinada a assegurar a solidariedade e a prosperidade de um continente devastado – criando estruturas jurídicas de organização social e económica que se impuseram ao Mundo –, para um continente cada vez mais irrelevante, cujos valores fundadores se desvaneceram quase por completo.

Como se passou de um projecto comum, em que todas as vozes e vontades se juntavam, a um (des)agregado de países, alguns unidos por pouco mais do que uma moeda comum, em que os interesses nacionais a tudo se sobrepõem, e os conflitos e ódios florescem? Onde errámos? Nos termos da própria criação do Mercado Comum? No Tratado de Maastricht e nas suas revisões? Nos poderes não controlados, outorgados a um grupo de políticos com legitimação frágil e a uma massa anónima de eurocratas insensíveis? Ou teremos errado ao criar o ambiente que levou à passagem de uma Alemanha Europeia a uma Europa Alemã?

Num livro pontuado pela decepção, mas em que persiste a ilusão do grande sonho europeu, há ainda espaço para a apresentação de um programa geral de acção para a Europa: democratizar, desenvolver e “desgermanizar”. Existirá uma Europa capaz de responder a este programa?

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Mustang Branco, de Filipa Martins

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Uma mulher cresce protegida pela austeridade do pai – um Coronel – que, para além do bem-estar da família, tem como paixão um Ford Mustang branco titânio a rolar nas estradas da cidade da Beira, em Moçambique. Alheada da guerra civil que domina a ex-colónia portuguesa, apaixona-se pela pele curtida de um guerrilheiro. Vinte anos mais tarde, no seu apartamento, numas minúsculas águas-furtadas em Saint-Germain-des-Près, ela continua marcada pelas lembranças que tem deste catanador de chissamba – Caju, de seu nome, tal como o fruto.

Quando um conjunto de acasos a leva ao septuagésimo nono andar da Torre Montparnasse, reencontra o seu velho amor no ambiente cosmopolita de Paris, apertado pelos fatos cintados da alta-costura e de braço dado com o dinheiro.

De imediato, é enredada numa teia de negociatas de contornos densos, misteriosos e devassos que a conduzem à prisão – e ao passado.

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Girassol

Girassol

Pétalas fundidas ao tempo
flores e flores amarelas,
recolhem e derramam luz,
atirando, à sala,
a arte de Vincent.

Pétalas de luz transverberada
retendo, no vaso, as flores
refletindo o amarelo ouro
além do vaso,
além da sala,
além do tempo.

Pétalas de “Lírios”
pétalas de “Sorrow”, nua,
pétalas de “Loendros”.

Eis ali o artista, de corpo inteiro,
transfigurado em Girassol.

Vicente Freitas
Girassol de Van Gogh