46) – C19 Upshot | O Manifesto da ‘Main Street’: precários de todos os países, uni-vos! | Manuel Castells: “o mundo do consumismo desenfreado acabou” | Paulo Querido

30 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.

👷🏾 O Manifesto da ‘Main Street’: precários de todos os países, uni-vos!

Os protestos históricos que varreram a América estavam atrasados, não apenas como uma resposta ao racismo e à violência policial, mas como uma revolta contra a plutocracia entrincheirada.

O novo proletariado – o precariado – é agora revoltante. Parafraseando Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista: “Deixem as classes plutocratas tremer perante uma revolução do Precariado. Os precários não têm nada a perder a não ser as suas correntes. E têm um mundo a ganhar. Trabalhadores precários de todos os países, uni-vos!

[Nouriel Roubini – Social Europe]

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45) – C19 Upshot | Como o vírus ganhou | Coronavírus: cientistas descobrem porque é que algumas pessoas perdem o seu olfacto | Paulo Querido

29 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Luis Grave, JL Andrade.

🦠 Como o vírus ganhou

Começou pequena. Um homem perto de Seattle teve uma tosse persistente. Uma mulher em Chicago teve febre e falta de ar.

Surgem surtos invisíveis em todo o lado. Os Estados Unidos ignoraram os sinais de aviso. Analisámos padrões de viagem, infecções ocultas e dados genéticos para mostrar como a epidemia se tornou descontrolada.

  • Um relato interativo  de impressionante qualidade, com eficazes visualizações de dados, mostra-nos como os EUA perderam contra a pandemia.

[Derek Watkins et al – The New York Times]

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44) – C19 Upshot | As pandemias resultam da destruição da natureza, dizem a ONU e a OMS | Coronavírus pode impulsionar a pobreza global pela primeira vez desde os anos 90 | Paulo Querido

24 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Luis Grave.

🦒 As pandemias resultam da destruição da natureza, dizem a ONU e a OMS

O comércio ilegal e insustentável da vida selvagem, bem como a devastação das florestas e outros locais selvagens, continuavam a ser as forças motrizes por detrás do número crescente de doenças que saltavam da vida selvagem para os seres humanos, disseram os líderes ao Guardian.

Apelam a uma recuperação verde e saudável da pandemia, em especial através da reforma da agricultura destrutiva e das dietas insustentáveis.

[Damian Carrington – The Guardian]

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MANTAS DE MINDE – JÁ TÊM PADRINHO | TIAGO GUEDES

 

 

 

 

Candidatura a uma das 7 Maravilhas da Cultura Popular – é apadrinhada pelo Minderico TIAGO GUEDES – director artístico do Teatro Municipal do Porto.
O Tiago Guedes foi aluno do Conservatório de Música e do Atelier de Dança do Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro, em Minde. É coreógrafo, licenciado em Dança, pela Escola Superior de Dança de Lisboa. É detentor de um curriculum de referência nacional e internacional.

Nota – o padrinho é a personalidade escolhida por cada um dos candidatos, com a missão de o representar, nos diferentes programas que a RTP irá transmitir. Deverá ser uma figura pública, com grande notoriedade nacional, de origem ou com fortes ligações à terra do candidato que vai defender. No nosso caso, o Tiago reune todas estas condições e é um Minderico de sangue e de coração.

https://www.facebook.com/mantas.deminde

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43) – C19 Upshot | Danos colaterais: as mortes por malária e tuberculose podem aumentar porque o mundo está fixado na Covid-19 | O número K é o novo número R? O que você precisa saber | Paulo Querido

22 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade.

⚱️ Danos colaterais: as mortes por malária e tuberculose podem aumentar porque o mundo está fixado na Covid-19

As vacinas e os rastreios do sarampo, da tuberculose e de outras doenças infecciosas estão em baixa na pandemia.

Qualquer país é vulnerável quando confrontado com múltiplas ameaças“, disse à Vox Claire Standley, membro do corpo docente do Centro de Ciência e Segurança Global da Saúde da Universidade de Georgetown. “Os que correm maior risco são os que têm recursos humanos, materiais e financeiros limitados para apoiar a resposta aos surtos

[Katherine Harmon Courage – Vox]

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O frustrado concurso de beleza monástica | Crónica inédita (2008) | Carlos Esperança

Em 2008, um padre italiano propôs uma competição que pretendia eleger a freira mais bonita, via internet. Face às críticas, voltou atrás e suspendeu tudo.

De onde vem este ódio ao corpo feminino, a fúria misógina, o ranger de dentes, perante a forma de um corpo, as curvas do desejo e a beleza da mulher?

Paulo de Tarso, um místico desequilibrado, rotulou o cabelo e a voz das mulheres como coisas obscenas e Agostinho de Hipona entrava em desvario por não poder resistir-lhes, e ambos foram santos na infância dos milagres, quando a produção em série estava por inventar e a Igreja católica era avara na produção de taumaturgos.

Mas que obsessão é essa dos que lhes querem cobrir o corpo, seja com o hábito, alvo, de freira ou com a negrura da burca, e esconder-lhes as formas, porque temem a beleza, e as reduzem a um corpo sem feitio porque lhe adivinham a inteligência da alma?

Não, não é dessa alma que falo, da criação ontológica que alimenta um deus sedento no Olimpo de todos os medos, da metafísica dos negócios pios, do pretexto para a renúncia à vida e ao sortilégio do amor. Falo da alma com que as mulheres cantam, riem, choram e gritam, da alma com que animam a vida, da alma com que amam e procriam, da força que lhes vem dos séculos de tirania e humilhação.

Quem oprime as mulheres são doentes de desejos reprimidos, inquietos com a perda do poder, célibes que temem o amor e o escândalo, maníacos da castidade que a educação e o múnus castram e que, no êxtase de fantasias sórdidas, se entretêm a inventar castigos.

Quando homens e mulheres descobrirem que a liberdade é feminina, dar-se-ão conta de que a igualdade não é uma utopia e a discriminação dos livros pios é uma afronta que se perpetua para gáudio de homens sós e eterna perdição da felicidade humana numa vida irrepetível.

Agosto de 2008

Carlos Esperança

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Esperança

A mulher e as religiões | Carlos Esperança

Que demência misógina levou os patriarcas tribais da Idade do Bronze a impor a metade da Humanidade a subalternidade que castigou a mulher durante milénios e que, ainda hoje, 72 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos, persiste? Não lhes ocorreu que ninguém é livre se alguém for escravo.

O que surpreende é a condescendência com a alegada vontade divina, a manutenção dos preconceitos que impuseram a infelicidade e indizível sofrimento das mulheres, como se os algozes não fossem filhos, irmãos, pais e avós das vítimas que querem perpetuar. O mais implacável dos monoteísmos é o paradigma do despotismo e do desprezo contra quem dá aos homens a vida e o amor, e lhes garante a eternização do ignóbil privilégio.

Carlos Esperança

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Esperança

O MARTELO DE THOR | José Pacheco Pereira

«Eu gosto muito do meu país, mas não tenho muitas ilusões sobre ele. É um país atrasado, pouco desenvolvido, sem massa crítica, pouco culto, sem grande qualificação da mão-de-obra, muito dependente de vagas de superficialidade, onde a maioria das pessoas trabalha duramente para não receber sequer o mínimo vital, sem vida cívica autónoma do Estado, com uma economia débil, desindustrializado, com uma agricultura desigual, pouco cosmopolita, com muitos aproveitadores e alguns bandidos, mas aí como os outros.

É um país que cada vez menos tem autonomia política, dependente da transferência dos centros de decisão para Bruxelas. Aquilo em que somos melhores não coloca o pão no prato ao fim do dia, como agora se diz. Temos uma língua e uma literatura de valor universal, a melhor obra dos portugueses, mas ninguém come literatura. E temos uma democracia que é um valor que só quem sabe o que é ditadura percebe qual é. É mau? Não é mau, há muito pior, mas é sofrível, e sofrível não permite andar por aí a bater em pandeiretas.

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O PRIMEIRO GLOBO TERRESTRE | apelidado “Maçã do Mundo” | 20 de Junho de 1492

Em Nuremberga, no dia 20 de Junho de 1492, ou seja, algumas semanas antes da descoberta do “Novo Mundo”, o cartógrafo e navegador Martin Behaim conclui a construção do primeiro globo terrestre. Em colaboração com o pintor Georg Glockenthon, Behaim  construiu-o entre 1491 e 1493 aquando da sua permanência em Nuremberga, denominando-o  “Erdapfel”, ou seja, “maçã do mundo”. O original está hoje em exibição no Germanisches Nationalmuseum de Nuremberga e é uma das obras de arte mais descritas da Europa.

O Globo de Behaim, também conhecido como Globo de Nuremberga, seguiu a ideia de um globo construído por volta de 1475 para o papa Sisto IV, porém melhorando a representação e incluindo meridianos e a linha do Equador. Este globo, de cerca de 50 centímetros de diâmetro, encontra-se conservado na sua cidade natal.

A rotundidade da Terra, posta em evidência dois mil anos antes, não era já dúvida para ninguém. Entretanto, houve necessidade de mais meio século para compreender, a partir de Copérnico, que a Terra é que gira em torno do Sol e é só um planeta no meio de outros.

É certo que os Sumérios, devotados à astronomia e que viviam na Mesopotâmia 3 mil anos antes de Cristo, representavam a Terra como um disco chato pousado sobre um oceano sem limites.

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O PADRE ANTÓNIO VIEIRA E A ESCRAVATURA | por João Pedro Marques – (2018)

Seria o padre António Vieira um defensor da escravatura dos africanos? A resposta, depois do que ficou exposto, é claramente não. Aceitar ou tolerar não são sinónimos de defender ou promover.

“Cada Um é da Cor do seu Coração” (…) é uma seleção de textos representativos do pensamento do padre António Vieira sobre a escravatura. Trata-se de uma obra muito útil pois continuam a escrever-se e a dizer-se coisas incrivelmente ignorantes sobre a forma como Vieira via a escravatura dos africanos. Algumas confusas cabeças deram, até, em acusá-lo de ser um acérrimo defensor da escravidão dos negros. Terá isso algum fundamento?

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42) – C19 Upshot | Devemos visar a imunidade do rebanho, como a Suécia? | Estarão as nações mais seguras do coronavírus quando as mulheres lideram? | Paulo Querido

17 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, Luis Grave.

🦠 Devemos visar a imunidade do rebanho, como a Suécia?

A Suécia tem seguido uma estratégia de coronavírus diferente da maioria do resto do mundo desenvolvido: deixa o vírus correr solto, refreia-o o suficiente para garantir que não sobrecarregue o sistema de saúde como em Hubei, Itália ou Espanha, mas não tenta eliminá-lo. Pensam que pará-lo completamente é impossível. A consequência natural é que a maioria dos cidadãos é infectada, e isso acaba por abrandar a epidemia. É por isso que, em suma, as pessoas chamam a essa estratégia “Imunidade do Rebanho“.

A outra estratégia é o Martelo e a Dança. O Martelo ataca  agressivamente o coronavírus, fechando a economia. Uma vez travado, salta para a Dança substituindo o bloqueio agressivo por medidas baratas e inteligentes para controlar o vírus.

Alguns países e Estados, como a Holanda e o Reino Unido, ou Estados norte-americanos como o Texas e a Geórgia, implementaram medidas entre as duas estratégias. Então qual é a melhor estratégia?

  • Nota: artigo longo e com boa controvérsia nos comentários.

[Tomas Pueyo – Medium]

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41) – C19 Upshot | Coronavírus: o fim do europeísmo ingénuo? | “Respect them”: mesmo em zonas ricas, a procura de bancos alimentares está em alta | Paulo Querido

16 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.

🇪🇺 Coronavírus: o fim do europeísmo ingénuo?

No meio da discussão sobre possíveis instrumentos financeiros para fazer face aos custos da pandemia, já está à vista o problema básico que poderá surgir quando a emergência sanitária tiver terminado. Itália e Espanha foram duramente atingidas pelo vírus, mas Portugal – com menos casos – também se sentiu atacado por declarações políticas vindas do Norte da Europa.

A retórica do confronto Norte-Sul voltou à política da UE, com o risco de minar a confiança dos poucos italianos eurófilos que ainda restam e de marcar uma mudança de tendência em Espanha e Portugal. Se o europeísmo ingénuo sofrer uma mutação, como o vírus, aprofundará a divisão Norte-Sul.

[Héctor Sánchez Margalef – ctxt.es]

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Mário Centeno e o Banco de Portugal | Carlos Esperança

Grassa uma onda de ódio partidário contra Mário Centeno, por sair do Governo, para os que não queriam que tivesse entrado, por ser competente, para quem nunca se resignou com o seu mérito, por presidir ao Eurogrupo, para quem considerou uma piada do 1.º de abril o seu prestígio, enfim, ressentimento, inveja e vingança contra quem suportou Cavaco e Passos Coelho a vaticinarem a vinda do Diabo e a difamarem o governo PS, porque BE, PCP e PEV o apoiaram, alheios ao prejuízo nos juros da dívida soberana.

A saída do ministro, prevista há muito, com eventual ida para Governador do Banco de Portugal, expôs a vileza da inveja, a mesquinhez da vingança e a baixeza do ódio.

A pressa de impedir que a personalidade mais qualificada ocupe o lugar para o qual tem perfil, qualificação, currículo e experiência ímpares, é a tentativa tosca de criar uma lei ‘ad hominem’ contra o mais competente ministro das Finanças da democracia.

Surpreende que não trema a mão a quem apoiar uma lei, sem precedentes, com a pressa da perseguição a uma personalidade a quem todos somos devedores.

Calculo a azia que despertou a revista The Banker, um suplemento do Financial Times, ao revelar na última quarta-feira que o ministro das Finanças português, Mário Centeno, foi considerado em 2019 o melhor ministro das Finanças do ano, na Europa.

Doem os elogios da generalidade dos ministros das Finanças do Eurogrupo onde, tantas vezes, conseguiu dirimir divergências que pareciam insanáveis e, sobretudo, o prestígio que a sua competência técnica granjeou. Não é fácil absolver o ministro que conseguiu baixar o clássico défice orçamental de Portugal e teve o descaramento de conseguir um superavit orçamental.

Em democracia, foi uma situação inédita desde há 105 anos, quando Afonso Costa, PM, em acumulação com ministro das Finanças, obteve em 1912/13 um lucro 117 mil libras-ouro e em 1913/14, 1257 mil libras ouro.

Aguardo pelo voto dos partidos para decidir o meu nas eleições presidenciais. Já tinha um/a candidato/a entre os que prevejo na corrida presidencial, e decidirei de acordo com o voto do seu partido em relação a Centeno.

É deplorável que a competência, dedicação e integridade sejam motivo de represália.

Há quem preferisse que se tivesse vendido a um fundo abutre e acumulasse com o lugar de deputado, um precedente inexplicavelmente esquecido.

Carlos Esperança

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Esperança

𝐀 𝐀𝐌𝐈𝐙𝐀𝐃𝐄 É 𝐔𝐌𝐀 𝐏Á𝐓𝐑𝐈𝐀 | José Tolentino Mendonça in Expresso, 13.06.2020

Foi isso, ou melhor, foi mais do que isso que o escritor Joseph Roth escreveu numa carta ao seu amigo Stefan Zweig, datada do verão de 1935. Ele escreveu: “Por fim, a amizade é a verdadeira pátria.” Na verdade, dois anos antes, nos meses fatídicos em que Hitler se tornara chanceler do Reich, Roth começara a perder as suas pátrias, e percebemos melhor aquele “por fim” a encabeçar a sua afirmação. Com o estabelecimento do nazismo, Joseph Roth perdia para sempre a Alemanha, mas estava consciente de que esse seria apenas o início do irreversível processo que conduziria a tantas outras perdas: “Avizinhamo-nos a grandes catástrofes. Para lá daquelas privadas — a nossa existência literária e material está liquidada — tudo conduz a uma nova guerra… Conseguiu-se que a barbárie governe. Não se iluda. O inferno comanda.” Porém, em 1935, ainda restava a Roth uma pátria imaginária: o regresso da Casa de Habsburgo, a nostalgia por uma Áustria imperial que servisse de tampão ao avanço daquela loucura extrema. Mas, em relação a essa pátria idealizada, não havia propriamente certezas. Ele próprio balançava entre a militância e o luto, como confessa no prefácio a um dos seus grandes romances, “A Marcha de Radetzky”: “Uma cruel vontade da história estilhaçou a minha velha pátria, a monarquia austro-húngara. Amei-a, a esta pátria, que me permitiu ser contemporaneamente um patriota e um cidadão do mundo, um austríaco e um alemão… Amei as suas virtudes e qualidades e agora que está morta e perdida, amo também os seus erros e fraquezas. E tinha muitos. Expiou-os a todos com a sua morte.” Restava, portanto, a Joseph Roth o que ele, naquele verão, refugiado no Hotel Foyot, em Paris, declarou a Stefan Zweig: “Por fim, a amizade é a verdadeira pátria.”

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Larry Beckett & Tim Buckley | Song to the Siren

Long afloat on shipless oceans

I did all my best to smile

‘Til your singing eyes and fingers

Drew me loving to your isle

And you sang

Sail to me, sail to me

Let me enfold you

Here I am, here I am

Waiting to hold you

 

Did I dream you dreamed about me ?

Were you hare when I was fox ?

Now my foolish boat is leaning

Broken lovelorn on your rocks

For you sing

‘Touch me not, touch me not

Come back tomorrow

Oh my heart, oh my heart

Shies from the sorrow’

 

I am puzzled as the oyster

I am troubled as the tide

Should I stand amid your breakers ?

Or should I lie with death my bride ?

Hear me sing

‘Swim to me, swim to me

Let me enfold you

Here I am, here I am

Waiting to hold you’

40) – C19 Upshot | Das ruínas não vem necessariamente a nova ordem e a mudança pode ser pior | O efeito das políticas anti-contágio em grande escala na travagem da pandemia da COVID-19 | Paulo Querido

12 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, JL Andrade, Ana Roque.

🖍️ Das ruínas não vem necessariamente a nova ordem e a mudança pode ser pior

As democracias têm um grave problema com a produção intencional de transformações sociais, sejam elas chamadas reformas ou transições. Deve ser o facto de vivermos em democracias onde pouco se transforma que explica por que razão, quando uma catástrofe atinge aqueles que mais desesperaram, se torna possível mudar a sociedade através da vontade política ordinária, a mais esperançosa de que a natureza corrija as coisas.

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39) – C19 Upshot | O Sars original desapareceu. Porque é que o coronavirus não faz o mesmo? | Rastreador de infecções | Paulo Querido

9 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade.

🦠 O Sars original desapareceu. Porque é que o coronavirus não faz o mesmo?

O vírus que causou o Sars original já não nos assombra, mas as características do coronavirus de hoje indicam que é pouco provável que desapareça da mesma forma.

Num prazo semelhante ao do Sars original, o SARS-CoV-2 revelou-se mais contagioso, mas aparentemente menos mortífero do que o seu primo era há quase 20 anos. Uma preocupação adicional – e crítica – é que o SARS-CoV-2 se propaga eficientemente antes de as pessoas adoecerem. Isto torna as tradicionais restrições de saúde pública de base sintomática, que funcionaram bem para a Sars, em grande parte incapazes de conter o COVID-19.

No fundo, esta facilidade de transmissão significa que o SARS-CoV-2 é infinitamente mais desafiante de controlar. Temos também uma má compreensão se a captura e a recuperação do COVID-19 o impede completamente de voltar a capturar o vírus e de o transmitir a outros. Em conjunto, estes factores significam que a SRA-CoV-2 irá muito provavelmente instalar-se na população humana, tornando-se um vírus endémico como os seus primos coronavirus, que são as principais causas de constipações todos os Invernos.

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38) – C19 Upshot | Cinco maneiras de o coronavirus transformar a União Europeia | O racismo, não a genética, explica porque os americanos negros estão a morrer da COVID-19 | Paulo Querido

8 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, JL Andrade.

🇪🇺 Cinco maneiras de o coronavirus transformar a União Europeia

A resposta da Comissão Europeia ao coronavírus enfrenta pelo menos cinco desafios fundamentais – todos eles criando oportunidades significativas para a Europa.

Quando se serve nas instituições da União Europeia, é imperativo acreditar que o que mais importa é o interesse da União como um todo – e agir em conformidade. A acção política assenta na firme convicção de que os interesses nacionais devem ser incorporados no bem comum europeu. Isto aplica-se em todas as circunstâncias, incluindo a segunda fase da crise que a Europa enfrenta devido à pandemia. A Europa do Norte não pode sair da crise como vencedora se o Sul for ferido.

Este é, portanto, o dilema fundamental que a Presidente Ursula von der Leyen e os membros da sua Comissão precisam de resolver. Irão eles agir como políticos de países separados ou como estadistas europeus que reafirmam a unidade, a solidariedade e a coordenação entre os Estados-Membros? Há pelo menos cinco desafios fundamentais com os quais têm de lidar.

[Anna Diamantopoulou – ECFR]

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O Momento Chernobyl de Trump e Bolsonaro? | Francisco Louçã | in Jornal Expresso

Não foi o acidente nuclear de Chernobyl em 1986 que derrubou o regime soviético, que se viria a desagregar irreversivelmente com a queda do Muro em 1989 e com o golpe militar em 1991. O poder de Gorbachov, que já representava uma transição, fracassou cinco anos depois, no fim de um longo processo em que foi corroído por contradições internas, pelo esgotamento económico e pelo desgaste social, acentuado pela derrota na guerra do Afeganistão. O acidente foi somente um choque que se sobrepôs a essa exaustão. Mas, por isso, foi também um momento trágico que revelou a fragilidade do Kremlin, sobretudo pela tentativa de ocultação, pela revelação da impotência e pela impopularidade que multiplicou. O tempo de Chernobyl foi a mentira e a revelação da mentira e, com isso, o início do fim de uma era.

A pandemia pode ser o Momento Chernobyl da extrema-direita no poder em países poderosos, como os Estados Unidos ou o Brasil. O caso com maiores implicações internacionais será o de Trump que, nas suas deambulações justificativas e na verve desculpatória, revela uma obsessão pelo interesse económico de curto prazo contra a proteção das vidas. E aí entra o efeito Chernobyl: ele precisa de ocultar o desprezo pela população e, sobretudo, a sua calculista impotência perante a doença.

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Ton rire | Pablo Neruda

Tu peux m’ôter le pain,
m’ôter l’air, si tu veux :
ne m’ôte pas ton rire.

Ne m’ôte pas la rose,
le fer que tu égrènes
ni l’eau qui brusquement
éclate dans ta joie
ni la vague d’argent
qui déferle de toi.

De ma lutte si dure
je rentre les yeux las
quelquefois d’avoir vu
la terre qui ne change
mais, dès le seuil, ton rire
monte au ciel, me cherchant
et ouvrant pour moi toutes
les portes de la vie.

À l’heure la plus sombre
Égrènes, mon amour,
Ton rire, et si tu vois
Mon sang tacher soudain
Les pierres de la rue,
Ris : aussitôt ton rire
Se fera pour tes mains
Fraîche lame d’épée.

Dans l’automne marin
Fais que ton rire dresse
Sa cascade d’écume,
Et au printemps, amour,
Que ton rire soit comme
La fleur que j’attendais,
La fleur guède, la rose
De mon pays sonore.

Moque-toi de la nuit,
Du jour et de la lune,
Moque-toi de ces rues
Divagantes d’île,
Moque-toi de cet homme
Amoureux maladroit,
Mais lorsque j’ouvre, moi,
Les yeux ou les referme,
Lorsque mes pas s’en vont,
Lorsque mes pas s’en viennent,
Refuse-moi le pain,
L’air, l’aube, le printemps,
Mais ton rire jamais
Car alors j’en mourrais.

(Pablo Neruda, Les vers du Capitaine, 1952. Aussi in Neruda par Skarmeta », Paris, Grasset, 2006, pp. 127-128.)

A NOVA ORDEM MUNDIAL NÃO É UMA ‘TEORIA DA CONSPIRAÇÃO’ | José Gabriel Pereira Bastos

Quem se informa sabe que a Nova Ordem Mundial é um Projecto Imperial Anglo-Americano, herdeiro do Secretismo Maçónico (inscrito na nota do Dollar) e do Suprematismo WASP (racista), dotados de um “Destino Manifesto” e de um “Excepcionalismo” que configuraram o século XIX americano, projecto esse criado com Instituições próprias (Council on Foreign Relations, em Nova York, Chattam House, em Londres), logo à saída da Guerra de 1918, tendo enormes desenvolvimentos funcionais entre guerras, que não cabe aqui enunciar.
(“The Century of the Self”, abaixo, pode servir de Introdução).

A vitória de 45 levou ao relançamento de novas Organizações Instrumentais (NATO, ONU e organizações satélites, etc.) e de inúmeras “iniciativas privadas”. antevendo e propulsionando o futuro WASP Idealizado.

Em 1952, Bertrand Russell publicou “A última oportunidade do homem” (New Hopes for a changing world, New York, Simon and Shuster), contendo o Projecto Despótico da Globalização Anglo-Americana (que o Brexit actual vai reforçar), sob a forma antevista e proposta de uma Ditadura Militar por um século até que todos os povos dos cinco continentes se submetam pela Força à “Nova Democracia Mundial” WASP.

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Hipernormalisation (2016) | Legendado | Documentário do cineasta Adam Curtis

Documentário do cineasta Adam Curtis. O filme argumenta que desde a década de 1970, os governos, o mercado financeiro e os tecnocratas desistiram do complexo “mundo real” em prol de um “mundo falso”, mais simples, comandado pelas corporações e controlado pelos políticos.

Faltam 48 horas para a votação das propostas de lançamento do DiEM25 2.0

Tens 48 horas para votar nas seis propostas que irão finalizar a nova e melhorada versão do nosso movimento!

Juntos, passámos o ano 2019-2020 a modelar o DiEM25 2.0, e estamos agora prontos para o toque final: o Plano de Implementação do Coletivo Coordenador que, após quase sete meses de deliberações, está pronto para ser votado. As seis votações, relativas a aditamentos ou alterações aos nossos Princípios Organizadores podem ser encontradas abaixo. É importante que todos nos empenhemos neste momento decisivo para o desenvolvimento do nosso movimento:

  1. Mudanças futuras nos Princípios Organizativos
  2. A melhoria da coordenação dos Coletivos Nacionais e das Alas Eleitorais com o Coletivo Coordenador
  3. Introdução de um donativo regular dos membros para tornar o movimento financeiramente sustentável
  4. O estabelecimento de um processo de organização das votações de todos os membros, iniciadas por membros.
  5. Constituição de um Grupo de trabalho para o feminismo, diversidade e pessoas com deficiência.
  6. A extensão do mandato dos membros do Conselho de Validação

Por favor clica em CADA UM destes links e vota.

Depois desta votação, temos todos de nos concentrar na forma como podemos fazer do DiEM25 uma forte força para a política progressista numa Europa que precisa desesperadamente dela. Estamos quase a terminar os alicerces, agora temos de começar a construir. Juntos/as!

Carpe DiEM25!
Erik
>>DiEM25

 

A reeleição de Trump e a destituição de Bolsonaro — os efeitos da reputação | Carlos Matos Gomes

Reputação tem origem no latim, reputatio-onis, e significa ponderação, conceito favorável ou desfavorável. Como palavras relacionadas o dicionário apresenta, reputaria e figurona.

A comunicação social nacional e internacional tem referido como questões importantes a reeleição de Trump e a destituição de Bolsonaro, a este através do processo que os brasileiros designam por “impinchamento”, dentro da mesma lógica que os leva a chamar “midia” à comunicação social. Já sobre a reputaria não é conhecida adaptação. A palavra e o conceito valem por si.

À primeira vista a eleição de presidentes dos EUA e do Brasil seria um assunto importante para a comunidade internacional. Os EUA são uma superpotência planetária e o Brasil a maior potência na América do Sul, além de falar uma versão do português e de lá viver uma numerosa comunidade portuguesa. Não é assim. Trump e Bolsonaro conseguiram o feito de tornarem as suas eleições e destituições irrelevantes! E não só as deles, como a dos que lhes venham a suceder! Eles destruíram a reputação dos seus países. Transformaram a reputação em reputaria e eles próprios se assumiram como figuronas, ou, em termos de Carnaval de Torres Vedras, como matrafonas.

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Acórdão do Tribunal Constitucional Alemão sobre o programa de compra de ativos do BCE | Texto de José Luís da Cruz Vilaça | Introdução de Paulo Sande | in Facebook

Este texto resume o essencial da análise feita por José Luís da Cruz Vilaça ao acórdão do Tribunal Constitucional Alemão sobre o programa de compra de ativos do BCE.
Antigo Juiz do Tribunal de Justiça da União Europeia, seu Advogado Geral e primeiro Presidente do Tribunal de Primeira Instância, atual Tribunal Geral da União Europeia, Cruz Vilaça é dos portugueses mais abalizados para interpretar o referido acórdão nos seus devidos termos e consequências
O TC alemão ultrapassou várias linhas vermelhas
1. O acórdão do 2º Senado do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha (adiante “TC alemão”), de 5 de maio, sobre o programa PSPP – Public Sector Purchase Programme (programa de compra de ativos do setor público em mercados secundários) do Banco Central Europeu (BCE), provocou ondas de choque em toda a Europa. Não é caso para menos: o debate jurisdicional entre o TC alemão e o Tribunal de Justiça da União Europeia(adiante “TJUE”) suscita, inevitavelmente, a questão essencial de saber se é possível evitar o risco de desagregação constitucional na UE.

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37) – C19 Upshot | A distância social como guerra civil | Desinformação no púlpito | Paulo Querido

4 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque

🧍↔️🧍 A distância social como guerra civi

A separação entre cidadãos imposta pelo coronavírus, e que em princípio apenas diz respeito à separação física, tem sido chamada de “distância social”, alargando à sociedade o que se refere aos corpos. Talvez tenha sido um acto de poder falhado, talvez seja devido a uma intenção obscura, mas o certo é que nos faz pensar no início do fragmento 25 da Sociedade do Espetáculo: “A separação é o alfa e o ómega do espectáculo”.

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POÈME “HOMME de COULEUR” de Léopold Sédar SENGHOR

Quand je suis NÉ, j’étais NOIR !
Quand j’ai GRANDI, j’étais NOIR !
Quand j’ai PEUR, je suis NOIR !
Quand je vais au SOLEIL, je suis NOIR !
Quand je suis MALADE, je suis NOIR !

Quand tu es NÉ, tu étais ROSE !
Quand tu as GRANDI, tu es devenu BLANC !
Quand tu vas au SOLEIL, tu deviens ROUGE !
Quand tu as FROID, tu deviens BLEU !
Quand tu as PEUR, tu deviens VERT !
Quand tu es MALADE, tu deviens JAUNE !

Et APRÈS tout ça,
Tu oses M’APPELER,”HOMME de COULEUR” !!!

Poème de : Léopold Sedar Senghor,
né le 9 octobre 1906 à Joal, au Sénégal,
et mort le 20 décembre 2001 à Verson, en France,
est un poète, écrivain, homme politique sénégalais
et premier président de la République du Sénégal (1960-1980)
et il fut aussi le premier Africain à siéger à l’Académie française.
Il a également été ministre en France avant l’indépendance de son pays.

Cláudio Torres | D. Afonso Henriques não conquistou Lisboa aos mouros, foi aos cristãos | in revista Sábado

23.02.2018 07:24 por Carlos Torres

O arqueólogo, especialista em cultura islâmica, desfaz vários mitos da História. Defende que não houve invasões muçulmanas em massa na Pensínsula Ibérica nem a batalha de Covadonga, onde Pelágio se tornou um herói do cristianismo. “O isão chegou cá pelo comércio, não foi imposto à espadeirada”

Cláudio Torres olha para o buraco no tecto, por onde entra a pouca luz do sol de Inverno, e exclama: “Foi aqui que tudo começou”. O “aqui” é a cisterna medieval, junto ao castelo de Mértola.

“Quando cá vim pela primeira vez, em 1976, trazido pelo presidente da Câmara, o Serrão Martins, meu aluno de História na Faculdade de Letras de Lisboa, havia uma grande figueira junto a este buraco. Espreitei lá para dentro, aquilo estava cheio de lixo, e logo na altura apanhei vários cacos de cerâmica islâmica”.

Sentado no que resta das paredes de uma casa com 900 anos, Cláudio Torres aponta para o terreiro junto ao castelo: “Os miúdos costumavam vir para aqui brincar. Havia hortas, assavam-se galinhas, namorava-se às escondidas. Em 40 anos, mudámos isto: já desenterrámos o bairro almóada do século XII, o baptistério do século VI e o palácio episcopal. Se continuarmos a escavar, vamos encontrar o fórum romano”.

Hoje com 78 anos, Cláudio Torres anda a escavar Mértola desde 1976. O arqueólogo instalou-se em definitivo com a mulher e as filhas na vila alentejana em 1985. Fundador e director do Campo Arqueológico de Mértola (trabalho que lhe valeu, em 1991, o Prémio Pessoa), é um dos mais conceituados investigadores da civilização islâmica no Mediterrâneo.

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36) – C19 Upshot | As consequências das diferentes pandemias são profundamente diferentes, tanto em termos de percepção como de efeitos reais | Visualizando a propagação da Covid-19 | Paulo Querido

3 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade

🦠 As consequências das diferentes pandemias são profundamente diferentes, tanto em termos de percepção como de efeitos reais

Existiram três grandes pandemias no século XX, todas elas causadas por variantes do vírus da gripe. Em termos de risco de morte, a atual pandemia não é qualitativamente muito diferente das gripes que assolaram o mundo em 1957 e em 1968, e que agora são comuns e endémicas, recorda-nos Arlindo Oliveira.

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35) – C19 Upshot | Não é *SE* foi exposto ao Coronavírus. É *QUANTO*. | A economia está de pernas para o ar. E agora? | Paulo Querido

1 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, JL Andrade, Ana Roque.

🤒 Não é *SE* foi exposto ao Coronavírus. É *QUANTO*.

Quando os especialistas recomendam o uso de máscaras, ficar pelo menos a dois metros de distância dos outros, lavar as mãos com frequência e evitar espaços apinhados, o que eles estão realmente a dizer é o seguinte: tente minimizar a quantidade de vírus que encontra.

Umas poucas partículas virais não podem levar-nos a adoecer – o sistema imunitário destruiria os intrusos antes que eles pudessem. Mas quanto vírus é necessário para que uma infecção crie raízes? Qual é a dose mínima eficaz?

[Apoorva Mandavilli – The New York Times]

💶 A economia está de pernas para o ar. E agora?

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