40) – C19 Upshot | Das ruínas não vem necessariamente a nova ordem e a mudança pode ser pior | O efeito das políticas anti-contágio em grande escala na travagem da pandemia da COVID-19 | Paulo Querido

12 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, JL Andrade, Ana Roque.

🖍️ Das ruínas não vem necessariamente a nova ordem e a mudança pode ser pior

As democracias têm um grave problema com a produção intencional de transformações sociais, sejam elas chamadas reformas ou transições. Deve ser o facto de vivermos em democracias onde pouco se transforma que explica por que razão, quando uma catástrofe atinge aqueles que mais desesperaram, se torna possível mudar a sociedade através da vontade política ordinária, a mais esperançosa de que a natureza corrija as coisas.

Neste contexto, Žižek anuncia novamente, desta vez com metáforas cinematográficas, a chegada iminente do novo comunismo. Agora que já não há reforma ou revolução, todas as nossas apostas estão numa viragem, numa viragem imprevista, catastrófica, num acidente histórico sob a forma de uma crise sanitária ou ambiental, que felizmente nos coloca na direcção certa.

[Miquel Seguró – ctxt.es]

🦠 O efeito das políticas anti-contágio em grande escala na travagem da pandemia da COVID-19

Os governos de todo o mundo estão a responder à pandemia de coronavírus com políticas sem precedentes concebidas para abrandar a taxa de crescimento das infecções. Muitas acções, como o encerramento de escolas e a restrição das populações às suas casas, impõem custos elevados e visíveis à sociedade, mas os seus benefícios não podem ser directamente observados e só são compreensíveis através de simulações baseadas em processos.

Aqui, compilamos novos dados sobre 1.717 intervenções locais, regionais e nacionais não-farmacêuticas, utilizadas na pandemia em curso nas localidades da China, Coreia do Sul, Itália, Irão, França e Estados Unidos. Aplicamos depois métodos econométricos de forma reduzida, habitualmente utilizados para medir o efeito das políticas no crescimento económico, para avaliar empiricamente o efeito que estas políticas anti-contágio tiveram na taxa de crescimento das infecções.

Na ausência de acções políticas, estimamos que as infecções precoces da COVID-19 apresentam taxas de crescimento exponencial de cerca de 38% por dia. Constatamos que as políticas anti-contágio abrandaram significativa e substancialmente este crescimento.

[Hsiang, S., Allen, D., Annan-Phan, S. et al – Nature]

📺 Cultura de convergência na era da COVID-19: um sonho que é um pesadelo

Não é que já não existam distinções entre antigos e novos meios de comunicação social, entre produtores comerciais e de base, mas são cada vez menos importantes neste momento. Uma vez pensámos que os meios de comunicação social estavam a isolar-nos, isolando-nos das pessoas que nos rodeiam. Agora, parece ser a única ligação que nos resta, pois olhamos com crescente tédio para as paredes dos nossos próprios apartamentos, não podendo sair, mal podendo ficar no interior. Os nossos meios de comunicação social levam-nos para onde nós próprios não podemos ir. Vivemos nos interstícios.

[Henry Jenkins – Interdisciplinary Italy]

🚌>🏃‍♀️ Mais de metade dos portugueses pretende deixar de usar transportes públicos

Cerca de um terço pretende andar mais a pé, o que pode ser uma consequência do tempo passado em casa, aliado ao receio de possível contágio em transporte público. Cerca de quatro em cada dez homens preferem voltar ao local de trabalho, contra apenas três em cada dez mulheres. As mulheres tendem a concordar mais com as regras, mas estão mais receosas com algumas reaberturas, nomeadamente das creches, cerimónias religiosas e competições futebolísticas.

[Carmo Lico – Visão]

CURTAS

🏙️ Os pobres urbanos têm sido duramente atingidos pelo coronavírus. Temos de perguntar a quem são as cidades concebidas para servir. A vida urbana de alta densidade tem sido mencionada como uma forma de resolver o problema da criação de cidades mais sustentáveis e mais habitáveis. Mas, em vez disso, as cidades são apenas mais habitáveis para uns poucos[Colin McFarlane – The Conversation]

💦 A disseminação assintomática do coronavírus é “muito rara”, diz a OMS. Algumas pessoas, especialmente os indivíduos jovens e saudáveis, que estão infectados pelo coronavírus, nunca desenvolvem sintomas ou apresentam apenas sintomas ligeiros. Outras podem não desenvolver sintomas até dias depois de terem sido realmente infectadas. [William Feuer – CNBC]

👺 David Graeber: rumo a uma “economia da treta”. Depois do Covid, “pôr a economia a andar de novo“? O autor do best-seller sobre “bullshit jobs” vê acima de tudo o ressurgimento deste “sector da treta, onde os gestores supervisionam outros gestores, onde os administradores controlam hospitais e escolas. Uma aberração económica. [David Graeber – Libération]

💪 Confinamento evitou 3,1 milhões de mortes em 11 países da Europa. Estudo da Imperial College estima que as medidas reduziram em 82% a taxa de reprodução do vírus (o número de novos casos por cada pessoa infetada), permitindo que se mantivesse abaixo de um, limiar abaixo do qual o número de casos diminui. [ – JN]

🥡 O futuro dos restaurantes na era pós-COVID-19. A pandemia deu um golpe decisivo no negócio da restauração, nos tempos actuais e no futuro próximo. Por muito que nos congratulemos e aguardemos com expectativa a abertura dos restaurantes, há muitos desafios a vários níveis e temos de admitir que estamos apreensivos e tememos o caminho a seguir. [Sadananda Maiya – Deccan Herald]

🤮 Como a América do Sul se tornou o novo centro da pandemia do coronavírus. Os casos de coronavírus estão a aumentar acentuadamente na América do Sul, agravados pela desigualdade, pela instabilidade económica e pela actuação do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. [Luke Taylor – New Scientist]

BOOKMARKS

  1. 📈 Direção-Geral de Saúde: ponto de situação atual em Portugal (link)
  2. 💊 Mapping COVID-19 Research: The “Map of Hope” provides a geographical overview of planned, ongoing and completed clinical trials. (link)
  3. 📊 Reuters: breaking the wave (link) (enviado por Marisa Torres da Silva)
  4. 📊 ESRI: Evolução Covid-19 em Portugal – Dados Adicionais (link) (enviado por leitor anónimo)
  5. 📈 European monitoring of excess mortality for public health action (link) (enviado por Manuel Carreira)
  6. 🕸️ Google: See how your community is moving around differently due to COVID-19 (link)
  7. 🏙️ Público: Como está a evoluir a pandemia onde eu vivo (link)
  8. 🏛️ Oxford University: Government Response Tracker (OxCGRT) (mapa das políticas de resposta, RECOMENDADO) (link)
  9. 📈 Ministério da Saúde: Vigilância da mortalidade (link)
  10. 🦠 Uns estão a vencer, outros não: que países estão a safar-se melhor na luta contra a COVID-19? (link)
  11. 📊 Pordata: Números da Crise. Dezenas de indicadores-chave para melhor analisar o impacto económico e social da Covid-19 em Portugal (link) (enviado por leitor anónimo)
  12. 📈 COVID-19 Infections Tracker; Estimativas de RT por país (NOVO) (link) (enviado por Manuel Carreira)

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