Desigualdade num Mundo Globalizado

JosephEStiglitzConferência do economista norte-americano Joseph E. Stiglitz, um dos autores mais influentes em matéria de desigualdade e uma das vozes mais críticas da globalização comercial e financeira, e um dos poucos que anteciparam a crise internacional desencadeada em 2008, sobre a Desigualdade num Mundo Globalizado.

Desigualdade num Mundo Globalizado
Conferência por Joseph Stiglitz
Terça, 1 dez 2015  |  18:30
Grande Auditório

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A minha amiga é negra | Ferreira Fernandes | in DN 28-08-2015

ferreira-fernandesA minha amiga é negra. Ainda há pouco eu não me lembraria de o dizer. Nesta semana, ela obrigou-me. Claro, não foi do género “olha, escreve lá no teu jornal que sou negra”. Foi assim, ela estava a fazer uma coisa solene e ficou de cara levantada – dizia uma jura pública – olhando-nos, olhos nos olhos, a mim e a vocês também. Eu disse-me: está bem, Francisca, eu digo.

Ao João, seu irmão, ele morreu há dois anos, eu até já chamei “preto”. Ele, o mais cosmopolita dos meus amigos, apareceu-me com uns sapatos a que os americanos chamam spectators. E chamam bem, porque, de couro negro ou castanho e pala branca, os spectators atraem a atenção e só ficam bem a quem os ousa usar. Invejo-os, porque me sei disléxico de alfaiataria. Foi o que talvez me tenha levado a dizer ao João: “Pareces um preto de Nova Orleães…” Ele gostou, olhou para os sapatos e pôs-me a mão no ombro: “São bonitos, não são?” Acho que se permitiu a superioridade, a mão no ombro, porque se aproveitou da minha nítida desvantagem no vestir. Geralmente os irmãos Van Dunem tratam-me com menos sobranceria. Nem tanto por mim, suspeito, mas porque eu fui “o amigo do Zé”, o mais velho dos irmãos.

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Não lhes perdoo! | Francisco Seixas da Costa | in Blog Duas ou Três Coisas

FranciscoSeixasdaCostaAcaba hoje aquela que constitui a mais penosa experiência política a que me foi dado assistir na minha vida adulta em democracia. Salvaguardadas as exceções que sempre existem, quero dizer que nunca me senti tão distante de uma governação como daquela a que este país sofreu desde 2011.
Não duvido que alguns dos governantes que hoje transitam para o passado tentaram fazer o seu melhor ao longo destes cerca de quatro anos e meio. Em alguns deles detetei mesmo competência técnica e profissional, fidelidade a uma linha de orientação que consideraram ser a melhor para o país que lhes calhou governarem. Mas há coisas que, na globalidade do governo a que pertenceram, nunca lhes perdoarei.
Desde logo, a mentira, a descarada mentira com que conquistaram os votos crédulos dos portugueses em 2011, para, poucas semanas depois, virem a pôr em prática uma governação em que viriam a fazer precisamente o contrário daquilo que haviam prometido. As palavras fortes existem para serem usadas e a isso chama-se desonestidade política.
Depois, a insensibilidade social. Assistimos no governo que agora se vai, sempre com cobertura ao nível mais elevado, a uma obscena política de agravamento das clivagens sociais, destruidora do tecido de solidariedade que faz parte da nossa matriz como país, como que insultando e tratando com desprezo as pessoas idosas e mais frágeis, desenvolvendo uma doutrina que teve o seu expoente na frase de um anormal que jocosamente falou, sem reação de ninguém com responsabilidade, de “peste grisalha”. Vimos surgir, escudado na cumplicidade objetiva do primeiro-ministro, um discurso “jeuniste” que chegou mesmo a procurar filosofar sobre a legitimidade da quebra da solidariedade inter-geracional.

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Carlos Nejar: o espetáculo da palavra | Adelto Gonçalves

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Se como ensina o professor Massaud Moisés (1928), em A criação literária. Prosa II (São Paulo, Editora Cultrix, 19ª ed., 2005), prosa poética é a fusão da poesia e da prosa, caracterizada pela musicalidade, pela metaforização abundante e a divisão da frase em segmentos que recordam a cadência do verso, O feroz círculo do homem (Taubaté-SP, Editora Letra Selvagem, 2015), de Carlos Nejar (1939), preenche todos esses requisitos. Constitui, portanto, um romance escrito inteiramente em prosa poética.

Como observa o jovem escritor, jornalista e crítico Diego Mendes Sousa (1989) no posfácio que escreveu para este livro, em dez capítulos de O feroz círculo do homem, o leitor pode escutar a voz de Carlos Nejar ecoar no pensamento do relator Tibúrcio Dalmar, personagem enveredado na arte de guardar as sombras das almas no sótão de um tenda localizada em Pontal do Orvalho – entre o cimo do monte e as margens do rio João Aragem – que toma a forma de uma Caverna circular, governada pelo enigmático Círculo.

Como logo percebe o culto leitor, o livro recorre à alegoria da caverna, também conhecida como parábola da caverna, mito da caverna ou prisioneiros da caverna, passagem escrita por Platão que se encontra na obra intitulada A República (Livro VII) em que o filósofo grego procura mostrar como o ser humano pode se libertar da condição de escuridão que o aprisiona através da luz da verdade. Nessa obra, Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal.

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O romance de Adelto | Anderson Braga Horta

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O professor Adelto Gonçalves é conhecido e enaltecido pelo exercício da crítica literária, função que desempenha com segurança, simpatia e estilo tanto nos modernos meios de comunicação virtual — importantes sites do País e do exterior, notadamente Portugal — quanto em órgãos da imprensa tradicional. A qualidade, a frequência e a intensidade desse trabalho, uma das mais louváveis exceções à tendência dos grandes periódicos, hoje, de eliminar a resenha crítica regular a cargo de profissionais “do ramo”, competentes e respeitados, fazem, por si sós, benemérita a pena do escritor.

A crítica registra e analisa a produção literária, atuando como fiel e guia do leitor e armazenando, para os historiadores e estudiosos do setor, informações sem as quais a pesquisa seria um perder-se na floresta, cada vez mais densa e intrincada, dos produtos e despejos editoriais. Sem a crítica restam a publicidade e a resenha expositiva, cumpridoras, é certo, de um papel respeitável, mas incapazes, por definição, de ir ao âmago da criação literária, em termos de técnica, de humanismo e de arte.

Além disso, é autor de ensaios literários, históricos e biográficos como, apenas exemplificando, os que dedicou a Bocage, Tomás Antônio Gonzaga e Fernando Pessoa, que lhe aumentaram a notoriedade e lhe granjearam justos prêmios.

Finalmente, sabemo-lo autor de narrativas ficcionais, como os contos de Mariela Morta (sua estréia, em 1977) e o romance Barcelona Brasileira, publicado em Lisboa, em 1999, e em São Paulo, em 2002. Quanto a mim, tomo conhecimento direto desta sua faceta de escritor apenas agora, com a recente publicação, por LetraSelvagem, da segunda edição de Os Vira-Latas da Madrugada. Tendo-o escrito no final da adolescência, refundiu-o em 1977-78, vindo essa versão a merecer destaque, dois anos depois, no Prêmio Nacional José Lins do Rego, da editora José Olympio, que o publicou em 1981.

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RÓMULO DE CARVALHO / ANTÓNIO GEDEÃO por Cristina Carvalho

Romulo de CarvalhoRómulo de Carvalho / António Gedeão nasceu a 24 de Novembro de 1906.

Também se comemora hoje, 24 de Novembro, o DIA NACIONAL DA CULTURA CIENTÍFICA instituído em 1996 em sua homenagem, pelo Ministério da Ciência e da Educação.

Quase todo o espólio da sua vastíssima obra pode ser consultado pelo público em geral na Biblioteca Nacional de Portugal em Lisboa.

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Extrema Esquerda – Porque não fizemos a revolução?

Extrema Esquerda RTP

No início dos anos 60 do século XX, o movimento extrema-esquerda nasce em Portugal com uma dissidência do Partido Comunista Português, inspirada de certa forma no conflito entre o Partido Comunista soviético e o Partido Comunista chinês e nas diferentes interpretações da estratégia de implantação do comunismo.

Este projeto é um repositório de história verbal, apoiado numa recolha de documentação, que conta com a participação de todos os interessados em contribuir para o crescimento do deste projeto de multimédia através dos seus depoimentos e documentos. Para o desenvolvimento deste projeto e sua continuidade é fundamental a parceria com o IHC – Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, o Centro de Documentação 25 de abril, da Universidade e o Mural Sonoro como garante do rigor histórico.

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Lettre d’Egon Schiele à Anton Peschka

egonL’œuvre de l’artiste autrichien Egon Schiele (1890-1918) constitue une véritable ode au mouvement, à la chair, à l’érotisme et à la nature. Si l’on connaît de lui de nombreuses toiles et dessins, ses poèmes et lettres restent plus confidentiels. Dans ce billet qu’il adresse à son ami le peintre Anton Peschka, cet « éternel enfant » témoigne d’une admiration sans cesse renouvelée pour toutes les beautés que le monde est en mesure de prodiguer.

1910

(Vienne)

Peschka ! […] Je brûle d’envie d’aller dans la forêt de Bohême. Mai, juin, juillet, août, septembre : il faut absolument que je voie quelque chose de nouveau, que je l’explore ; je veux déguster les eaux sombres, voir craquer des arbres, des airs sauvages, regarder ébahi des haies de jardin pourrissantes, y surprendre le foisonnement de la vie, entendre bruire les bouquets de bouleaux, frémir les feuilles ; je veux voir la lumière, le soleil, et savourer les humides vallées du soir au vert bleuissant, épier l’éclat fugace des poissons dorés, voir se former les blancs nuages, je voudrais parler aux fleurs. Scruter l’intimité des brins d’herbe, des hommes au teint rose, parler de dignes vieilles églises, de petites chapelles, je veux parcourir sans trêve des collines verdoyantes, parmi de vastes plaines, je veux baiser la terre, humer les tendres, chaudes fleurs des mousses. Alors je donnerai forme à de belles choses : des champs de couleurs…

Au petit matin, je voudrais revoir le soleil se lever, être libre de regarder la terre respirer, dans la lumière vibrante.

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Ardenas 1944, de Antony Beevor

WebA última jogada de Hitler.
No dia 16 de dezembro de 1944, Hitler deu início à sua «última jogada» nas florestas e desfiladeiros cobertos de neve das Ardenas. Estava convicto de que seria capaz de dividir os Aliados se os empurrasse até Antuérpia, obrigando os canadianos e os britânicos a saírem da guerra. Embora os seus generais tivessem dúvidas sobre o êxito da ofensiva, os oficiais mais jovens e menos graduados estavam desesperados por acreditar que as suas casas e as suas famílias podiam ser salvas do Exército Vermelho, que se aproximava, vingador, de leste. Muitos exultavam perante a expectativa de contra-atacar. A ofensiva nas Ardenas, que envolveu mais de um milhão de homens, tornou-se a maior batalha da guerra na Europa Ocidental. As tropas americanas, apanhadas de surpresa, deram por si a lutar contra dois exércitos de Panzers. Os civis belgas fugiram, justificadamente com receio da vingança alemã. O pânico espalhou-se até Paris. Muitos americanos desertaram ou renderam-se, mas muitos outros mantiveram-se heroicamente firmes, atrasando o avanço alemão. O inverno rigoroso e a selvajaria da batalha tornaram-se comparáveis aos da frente ocidental. E depois dos massacres da Waffen-SS, até os generais americanos deram a sua aprovação quando os seus homens mataram alemães que se rendiam. A Batalha das Ardenas quebrou finalmente a Wehrmacht.

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AS GRANDES DIVAS DO SÉCULO XX, de Luciano Reis

Grandes Divas LRNomes como Amália Rodrigues, Laura Alves, Milú, Beatriz Costa, Maria Matos ou Amélia Rey Colaço, entre muitas outras, marcaram definitivamente o mundo do espectáculo português ao longo do século XX.

Os rostos destas divas são-nos familiares desde sempre, algumas das suas míticas interpretações em filmes ou peças de teatro são ainda recordadas, as suas canções pertencem já ao património colectivo.

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O Candidato Improvável – Sampaio da Nóvoa

Nóvoa«As palavras que procurei ao longo da minha vida, do meu trabalho e que agora compartilho convosco: liberdade, futuro e compromisso.»

ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA, O Candidato Improvável, de Filipe S. Fernandes.

António Sampaio da Nóvoa foi reitor da Universidade Clássica de Lisboa entre 2006 e 2013, tendo sido o grande obreiro da fusão entre esta universidade e a Universidade Técnica de Lisboa.
A capacidade de dar uma dimensão maior aos cargos que ocupa fez dele uma voz contra a austeridade e a falta de alternativas, que teve o momento alto no discurso oficial do Dia de Portugal, das Comunidades e de Camões a 10 de Junho de 2012 em Lisboa.
Nesse mesmo dia nasceu um candidato à Presidência da República.

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