3 ago 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.
🧭 Ulrich Beck é o intelectual pandémico mais importante do mundo
Se só puderes ler um artigo hoje, lê este: é muito, muito bom.
Quanto mais sabemos, mais nos damos conta de que não somos os únicos a julgar. Cada parte interessada está a escolher e a escolher as suas fontes. É uma exposição esclarecedora, mas também chocante, de como a salsicha do conhecimento moderno é verdadeiramente feita. E, como Beck nos lembra, “não seria tão dramático e poderia ser facilmente ignorado se não se tratasse apenas de perigos muito reais e pessoais“
23 jul 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Luis Grave, Nuno Andrade Ferreira.
💉 Três portuguesas contam a corrida à vacina pelas suas empresas
Há agora 163 vacinas em desenvolvimento para o novo coronavírus. O número não pára de crescer de dia para dia. À etapa dos ensaios em pessoas já chegaram 23 dessas vacinas experimentais. Mas quando chegará ao fim a corrida e teremos mesmo uma vacina? Os primeiros resultados dos ensaios começam a sair: a empresa Moderna fê-lo na última semana e a equipa de Oxford fá-lo-á esta segunda-feira.
8 jul 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, JL Andrade.
💉 Vacina para o coronavírus: Estamos perto de encontrar uma? O que está a acontecer
Vacinas para prevenir o COVID-19 estão a ser desenvolvidas a um ritmo recorde. Neste artigo pode encontrar tudo o que precisa de saber acerca do progresso que foi feito até agora contra esta doença potencialmente fatal.
O artigo inclui notícias recentes sobre os candidatos a vacinas a ser desenvolvidos em vários países, as investigações mais promissoras, mas também reflecte sobre as dificuldades e as várias fases antes de uma aprovação generalizada, ou a probabilidade de não se conseguir uma vacina.
1 jul 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque, JL Andrade.
🖐️ A política pandémica da Europa: como é que o vírus mudou a visão do mundo
A crise da covid-19 é provavelmente a maior experiência social das nossas vidas. Não sabemos quando ou como irá terminar. É ainda demasiado cedo para prever como irá mudar radicalmente a forma como os europeus vêem as suas próprias sociedades. Mas já podemos ver que a pandemia transformou a forma como os europeus vêem o mundo para além da Europa, e – como consequência – o papel da União Europeia nas suas vidas.
Nas fases iniciais da crise, a política foi suspensa, e a opinião pública ficou atrás das acções dos governos nacionais. Os cidadãos foram enviados para o exílio interno nas suas próprias casas, muitos paralisados pelo medo e pela incerteza. Os governos avançaram rapidamente para introduzir medidas de emergência para impedir a propagação da doença, apoiar os sistemas de saúde, e salvar postos de trabalho e empresas do colapso.
Na próxima fase da crise, à medida que os governos angariarem vastas somas de dinheiro para financiar uma recuperação, terão de ter em conta a política. Não será suficiente desenvolver as políticas certas; os governos e os líderes da UE também terão de encontrar a linguagem e os quadros adequados para ganhar o apoio do público para as suas políticas. Para o fazerem, terão de compreender como a covid-19 mudou – ou não – os receios e expectativas do público.
16 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque.
🇪🇺 Coronavírus: o fim do europeísmo ingénuo?
No meio da discussão sobre possíveis instrumentos financeiros para fazer face aos custos da pandemia, já está à vista o problema básico que poderá surgir quando a emergência sanitária tiver terminado. Itália e Espanha foram duramente atingidas pelo vírus, mas Portugal – com menos casos – também se sentiu atacado por declarações políticas vindas do Norte da Europa.
A retórica do confronto Norte-Sul voltou à política da UE, com o risco de minar a confiança dos poucos italianos eurófilos que ainda restam e de marcar uma mudança de tendência em Espanha e Portugal. Se o europeísmo ingénuo sofrer uma mutação, como o vírus, aprofundará a divisão Norte-Sul.
12 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, JL Andrade, Ana Roque.
🖍️ Das ruínas não vem necessariamente a nova ordem e a mudança pode ser pior
As democracias têm um grave problema com a produção intencional de transformações sociais, sejam elas chamadas reformas ou transições. Deve ser o facto de vivermos em democracias onde pouco se transforma que explica por que razão, quando uma catástrofe atinge aqueles que mais desesperaram, se torna possível mudar a sociedade através da vontade política ordinária, a mais esperançosa de que a natureza corrija as coisas.
4 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, Ana Roque
🧍↔️🧍 A distância social como guerra civi
A separação entre cidadãos imposta pelo coronavírus, e que em princípio apenas diz respeito à separação física, tem sido chamada de “distância social”, alargando à sociedade o que se refere aos corpos. Talvez tenha sido um acto de poder falhado, talvez seja devido a uma intenção obscura, mas o certo é que nos faz pensar no início do fragmento 25 da Sociedade do Espetáculo: “A separação é o alfa e o ómega do espectáculo”.
1 jun 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido, JL Andrade, Ana Roque.
🤒 Não é *SE* foi exposto ao Coronavírus. É *QUANTO*.
Quando os especialistas recomendam o uso de máscaras, ficar pelo menos a dois metros de distância dos outros, lavar as mãos com frequência e evitar espaços apinhados, o que eles estão realmente a dizer é o seguinte: tente minimizar a quantidade de vírus que encontra.
Umas poucas partículas virais não podem levar-nos a adoecer – o sistema imunitário destruiria os intrusos antes que eles pudessem. Mas quanto vírus é necessário para que uma infecção crie raízes? Qual é a dose mínima eficaz?
26 mai 2020 // Hoje temos escolhas de Ana Roque, Paulo Querido, JL Andrade.
👮🏼♂️ COVID-19 e a normalização da vigilância em massa
Nos últimos meses, governos que vão da Austrália ao Reino Unido e empresas tão influentes quanto Google e Apple adotaram a ideia de que o rastreamento através dos telemóveis pode ser usado para combater efetivamente o COVID-19.
Infelizmente, a ideia é tecno-utópica, baseada no otimismo e não na evidência. O impacto real dessa abordagem na sociedade não seria uma imunidade melhor, mas a aceitação e o crescimento de um estado de vigilância global ainda mais poderoso e omnisciente.
25 mai 2020 // Hoje temos escolhas de Paulo Querido.
🗳️ Como sabemos que a democracia está quebrada se não sabemos o que é?
Baixa confiança, notícias falsas e muito dinheiro. A democracia enfrenta a sua maior ameaça em décadas, talvez séculos. Mas antes que possamos corrigi-la, precisamos entender o que é. Uma das duas palavras-chave é poder. O poder final sempre volta ao povo. Alguém tem que ter o poder da sociedade e, se não é o povo, quem é?
É uma ótima pergunta que implora uma segunda:
se estamos insatisfeitos com os nossos sistemas de governo e gostaríamos de avançar para algo mais parecido com o “governo pelo povo“, por onde começar? Podemos consertar a democracia?
🗃️ Estelle Massé – Access Now // Privacidade e saúde pública: prós e contras das aplicações de contact tracing COVID-19. O rastreamento de contatos é o processo de identificação, avaliação e gestão de pessoas que foram expostas a uma doença para impedir a transmissão subsequente. Por meio desse processo, governos e profissionais de saúde buscam ajudar a limitar a propagação de um vírus, interromper a transmissão contínua e aprender sobre a pandemia.
O contact tracing é mesmo necessário?
Resposta rápida: não. Resposta longa: não, de todo!
🌐 – Bloomberg // Como será o nosso futuro pós-pandémico. Economistas, investidores e CEOs sobre como o coronavírus mudou para sempre o mundo.. Alguns analistas dizem que o fundo está próximo, mas poucos esperam que a economia volte ao estado anterior à pandemia. Prepare-se para um alívio maciço da dívida, mais intervenção do governo, aumento das tensões China-EUA e, pelo lado positivo, mais mulheres na força de trabalho.
Que se passa?
A Bloomberg pediu a várias personalidades mundiais da economia, finança e política o seu melhor palpite sobre como as nossas vidas serão fundamentalmente mudadas.
💉 Lawrence Corey et al – Science Magazine // Uma abordagem estratégica para a pesquisa e desenvolvimento de vacinas COVID-19. Os coronavírus têm um genoma de RNA de fita simples com uma taxa de mutação relativamente alta. Embora tenha havido alguma deriva genética durante a evolução da epidemia, as principais alterações não são extensas até o momento, especialmente nas regiões consideradas importantes para a neutralização; isso permite um otimismo cauteloso de que as vacinas projetadas agora serão eficazes contra cepas circulantes daqui a 6 a 12 meses.
💚 Guilherme Serôdio e Hans Eickhoff – Público // Não tenhamos ilusões quanto ao capitalismo verde: precisamos de uma visão de decrescimento. Parece que não há coragem para pensar ou liderar a necessária luta ecológica pela transição da sociedade. Será que uma análise verdadeiramente ecológica, sóbria, corajosa e profunda do problema “não vende”?
A situação atual é assustadora
Os autores consideram urgentemente ter a coragem e a humildade de questionar posicionamentos que se defenderam durante vidas inteiras. É preciso ter a coragem de aceitar que não devíamos, nem “relançar a economia”, nem andar como loucos à procura de soluções tecnológicas que resolveriam magicamente os nossos problemas.
🕰️ Çiğdem Boz e Ayça Tekin-Koru – Social Europe // A pandemia e a recolonização do tempo. A expansão do tempo livre durante a crise poderia levar a uma reavaliação do lazer e a uma esfera pública revalorizada.
Que se passa?
Um texto deveras interessante: as autoras debruçam-se sobre um efeito inesperado do confinamento, a valorização do que entendemos por tempos livres. O lazer é entendido hoje como tempo livre. Esta é, no entanto, uma versão diminuída do lazer na tradição aristotélico-marxista. Para os gregos antigos, lazer não significava perder tempo. Pelo contrário, era a forma ideal de autonomia temporal para exibir as virtudes superiores: bondade, verdade e conhecimento.
🌐 Cristina Benlloch, Empar Aguado e Anna Aguado – The Conversation // Mulheres com crianças que trabalham suportam a maior carga de stress causado pelo confinamento. As mulheres não são obrigadas a trabalhar em casa e a cuidar de crianças em simultâneo, mas espera-se que devem tentar facilitar o teletrabalho dos seus parceiros
Que se passa aqui?
Cristina Benlloch e Empar Aguado, professores do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade de Valência, e a cientista-jurista política Anna Aguado estão a realizar pesquisas para aprender como o confinamento afeta o teletrabalho e a conciliação em unidades familiares. Com entrevistas por telefone e uma pesquisa voluntária on-line concluem, entre outras observações, que são principalmente as mães que monitoram a situação escolar de seus filhos e que, em alguns casos, as mulheres precisam facilitar o teletrabalho para seus parceiros.
🐑 Carl T. Bergstrom e Natalie Dean – The New York Times // O que realmente significa a imunidade de grupo. Talvez o mais importante seja entender que o vírus não desaparece magicamente quando o limite de imunidade do rebanho é atingido. Não é quando as coisas param – é apenas quando elas começam a desacelerar.
A experiência sueca
A Suécia enveredou por uma política diferente: não confinou a população, aplicando apenas umas frouxas medidas aos idosos. O objetivo: manter a economia a funcionar, esperando atingir rapidamente a imunidade de grupo e apostando que no longo prazo o número de vítimas será idêntico ao dos países que confinaram.
George Monbiot – The Guardian // Companhias aéreas e gigantes do petróleo estão à beira do colapso. Nenhum governo deve oferecer-lhes a salvação. Esta crise é uma chance de reconstruir nossa economia para o bem da humanidade. Vamos salvar o mundo dos vivos, não seus destruidores, diz o colunista do Guardian George Monbiot
Que se passa aqui?
Esta crise é uma oportunidade para reconstruir a economia para o bem da humanidade. Vamos salvar o mundo dos vivos, não os seus destruidores, defende o colunista do Guardian George Monbiot.
Laura Spinney – the Guardian // Germany’s Covid-19 expert: ‘For many, I’m the evil guy crippling the economy’. At the moment, we are seeing half-empty ICUs in Germany. This is because we started diagnostics early and on a broad scale, and we stopped the epidemic – that is, we brought the reproduction number [a key measure of the spread of the virus] below 1. Now, what I call the “prevention paradox” has set in. People are claiming we over-reacted, there is political and economic pressure to return to normal. The federal plan is to lift lockdown slightly, but because the German states, or Länder, set their own rules, I fear we’re going to see a lot of creativity in the interpretation of that plan. I worry that the reproduction number will start to climb again, and we will have a second wave.
Tiago Freire, Exame // O que mudou num mês? Não há dinheiro. . Não sei se o governo subestimou os custos desta travagem, para as empresas e para os cofres do Estado (por exemplo com a magnitude do recurso ao layoff simplificado). Provavelmente esperaria uma ação solidária europeia, com meios que ajudassem neste momento absolutamente extraordinário, algo que o bom senso poderia razoavelmente prever. O problema é que o bom senso não é há muito critério para a atuação da União Europeia. Ao fim do dia, e por mais floreados que o esforçado Mário Centeno faça, da Europa veio uma mão-cheia de nada, e mesmo assim arrancada a ferros.
O que se passa? Sujeito à pressão contínua de múltiplos actores do comércio, indústria e restauração, completamente parados desde o início do confinamento obrigatório do Estado de Emergência, o Governo Português prepara-se para lançar um plano de reabertura da economia, quando, há poucas semanas, deixava (pouco) implícito que estaríamos confinados, para nossa segurança, durante largas semanas. O que mudou?
Teresa de Sousa, Público // Mário Centeno: estamos a falar de 12 zeros para o plano de recuperação . Definido o plano de emergência, falta o plano de recuperação. Mário Centeno deixa pistas para as decisões que cabem ao Conselho Europeu de quinta-feira.
Que se passa aqui? Trata-se de uma grande entrevista a Teresa de Sousa de Mário Centeno enquanto presidente do Eurogrupo. Mostra-se obviamente otimista para o Conselho Europeu, dizendo coisas como: ‘O apelo que agora é feito à inovação neste último passo – o da recuperação – não é novo. Não devemos ficar muito ansiosos, portanto, face à capacidade para inovar também aqui. Estou muito confiante e muito seguro de que essa resposta vai aparecer. As forças que têm permitido construir a Europa vão estar presentes nesta discussão e vão levar-nos a um porto seguro.’
Eduardo Fernández, El Mundo // El Gobierno ya plantea una España sin hoteles, bares y restaurantes recuperados hasta Navidad . “El Ministerio de Trabajo y Economía Social está trabajando en dos fases para las medidas en los sectores más afectados: excepcionalidad atenuada, que durará hasta este verano, y normalidad atenuada, que se prolongará hasta final de año”, comunicó a última hora este departamento.
O que se passa? O Governo Espanhol prepara a segunda fase de abertura do País, e entre a primeira fase agora encetada, e a segunda fase, depois do verão até ao final do ano, antevê que negócios como a Cultura, os Bares e Restaurantes e os Hotéis possam vir a ser fortemente restritos até ao final de 2020.
A partir da edição de ontem a newsletter conta com uma secção fixa intitulada **bookmarks**. O objetivo é manter uma lista perene de links para conteúdos particularmente úteis, como sites de síntese gráfica, boletins oficiais relevantes e documentos científicos.
Esta lista será acrescentada regularmente e aceita indicações dos leitores, que as podem submeter por email (ver abaixo, na secção). Uma vez analizada a sua pertinência, serão integrados. Aliás, o quinto link foi inserido hoje a partir da sugestão enviada por um membro. E escrevo ‘membro’ porque a newsletter não se esgota enquanto tal: propõe a interação entre os interessados, em moldes que vão eles próprios evoluir com o tempo e o envolvimento.
No início da pandemia muita gente dentro dos media esfregou as mãos. A procura de jornais, de papel e em linha, disparou. Os mais alegres vaticinaram o regresso do jornalismo. Mas sucedeu o contrário. Entre as primeiras vítimas económicas do COVID-19 está o jornalismo. E mais uma vez as respostas do setor foram as erradas. Em Portugal os diretores de 20 meios apelaram ao coração dos consumidores para comprarem assinaturas ao mesmo tempo que os responsabilizavam por um detalhe que não tem importância económica alguma (a partilha de PDFs) e baixavam as paywalls, criando um conjunto de sinais no mínimo confuso.
Carsten Brzeski e James Smith, ING // Four scenarios for the global economy after COVID-19 . In this fast-moving environment, we need to think in scenarios, rather than pretending to know how the economy will evolve over the next 1 ½ years. We’ve developed four scenarios of how the virus, the lockdown measures and consequently the different economies could evolve. Needless to say, even these scenarios cannot try to fully predict reality, but we hope they can provide a benchmark for both the extremes and the middle-ground. In each case, we’ve laid out some possible health factors that may be driving the scenarios – although we’d emphasise these are not meant to be interpreted as forecasts.
O que se passa? O ING criou um conjunto de 4 cenários sobre o futuro próximo na progressão do COVID-19 (um com a baseline, um assumindo a reincidência do virus no Inverno, um cenário optimista e um cenário pessimista) que, sem recorrer aos artifícios clássicos de quadrantes e outros que tais, baliza de forma sóbria num artigo de poucos minutos de leitura os potenciais caminhos económicos dos meses que se nos avizinham.
José Gil no Público // Ensaio: o capitalismo numérico . A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro.
Sumário O filósofo José Gil assina este interessante artigo onde ensaia algumas modificações mais ou menos radicais do nosso modo de vida. Segundo ele, fator decisivo são as “novas” tecnologias, que vão aplicar-se num quadro pós-pandémico de desterritorialização e em plena crise ecológica.
O capitalismo acaba? Não, que ideia 😛 Para Gil, não escaparemos ao seu poder de “preservação, auto-regeneração e metamorfose”.
Nova subjectividade Gil antevê a formação de um novo tipo de subjetividade, a subjetividade digital, a surgir no final da atual transição que é o confinamento, e que se colocará no centro do novo “capitalismo numérico”. A Covid-19 seria o trampolim a catapultar a colectividade para um nível superior, o da sociedade digital. Em vez de progredir gradualmente, passando por fases mediadoras, a pandemia vai obrigar a um salto brutal, impondo indiscriminadamente a digitalização de todas as actividades.
Obey! Talvez a parte mais perturbadora do ensaio diz respeito ao comportamento geral. José Gil diz sem rodeios que a nova subjectividade comportará capacidades passivas de obediência voluntária e capacidades activas de funcionamento programado, características já presentes na subjectividade digital pré-pandémica.
David Yaffe-Bellany e Michael Corkery no NYT // Dumped Milk, Smashed Eggs, Plowed Vegetables: Food Waste of the Pandemic . With restaurants, hotels and schools closed, many of the nation’s largest farms are destroying millions of pounds of fresh goods that they can no longer sell.
Que se passa? Milhões de litros de leite, milhões de vegetais frescos, toneladas de produtos alimentares estão a ser atirados para o lixo. O artigo foca os EUA e pressupõe o efeito da paralisação forçada pela pandemia. Mas o problema é muito maior.
O modelo insustentável do desperdício Ao contrário de alguma crença, os alimentos não estão a ser atirados fora apenas porque os produtores preferem isso a dá-los a quem precisa. O que está em causa não é tanto o modelo capitalista, mas toda a complexa organização da produção alimentar. A começar pela lógica geográfica, que empurrou a produção para demasiado longe dos locais de consumo. A rede de frio e de transportes é demasiado atreita aos contratempos e às crises duráveis.
Menos vegetais em casa Os hábitos alimentares também mudam, levando os produtores a alterar planos. Por exemplo: o consumo de vegetais frescos é menor em casa do que no restaurante.
Ricardo Cabral e Ricardo Sousa, Público // A resposta europeia à pandemia: um “castelo de cartas”? . As medidas que têm vindo a ser anunciadas terão custos enormes. Não são credíveis na protecção dos trabalhadores, sendo expectável um aumento em massa do desemprego e da precariedade das condições laborais sem paralelo. São complacentes com a eliminação de um grande número de pequenas e médias empresas, garantindo apenas a sobrevivência daquelas que, por via de relações privilegiadas com o poder político ou com o sector financeiro, acabarão por concentrar grande parte dos recursos do país.
Que se passa?! A resposta da UE à crise pandémica é por um lado pífia e por outro irá reforçar o poder dos indivíduos e instituições que já o detém. O pacote de 500.000 milhões de euros aprovado pelo Ecofin com uma encenação de dramatismo que é mais significativa que o acordo é um exemplo da decepção.
Mais austeridade? Exatamente. Podem os governantes, como o PM português António Costa, pretender dourar a pílula como quiserem que o amargo não desaparece: a resposta da UE é apenas e só um conjunto de linhas de crédito, a empresas e a estados. O que significa juros e prazos de pagamento que atendem exclusivamente aos interesses de quem empresta.
C19 Upshot: explicar a incerteza — é uma nova publicação diária gratuita, distribuída a assinantes por correio eletrónico. É elaborada por uma equipa plural que inclui jornalistas, cientistas e outras pessoas experientes em filtrar o caudal informativo nas suas áreas, identificando os sinais acima do ruído.
A atitude da equipa é de serviço público. O seu único compromisso é propor a leitura de artigos de qualidade que lancem luz sobre o futuro moldado pelos efeitos da pandemia COVID-19 e suas sequelas. Numa frase curta: constituir um filtro de inteligência que coe a torrente de informação relacionada com a pandemia.
Esta newsletter assume que o seu alvo são pessoas que somam ao interesse por reflexões de utilidade comprovada algum à-vontade com as línguas, pois apresentará fontes em português, castelhano, inglês, francês – italiano e alemão podem também surgir.
Nesta primeira edição temos 7 sugestões, das quais 4 são artigos anotados e 3 são breves links. Procuraremos manter um ritmo de entre 2 a 5 artigos sumarizados e outras tantas breves.
Nota final. A newsletter não é enviada de um endereço ‘no reply’ mas sim do endereço real do projeto. Assim, é interativa: basta responder para a sua mensagem me chegar. Procurarei não deixar correio por responder.