Crítica Desjardim | Muito além do farol do fim do mundo, o terceiro romance de uma trilogia estupenda de Silas Corrêa Leite

Desjardim, Muito além do farol do fim do mundo – é um dos primeiros livros escritos por Silas Corrêa Leite, romance que compõe uma trilogia depois de O marceneiro — A última tentativa de Cristo e Ele está no meio de nós. Um crime grave cometido, e o meliante fugindo como se querendo voltar ao começo da louca jornada da vida que fez e levou, e fazer tudo diferente. Quando não há uma saída, nada faz a volta ser pacífica. No meio do caminho do desespero há um palhaço negro vestindo um macacão amarelo, com um botijão de gás nos ombros largos, como um acusador e modificador de roteiro, feito um juiz e salvador no limbo das circunstâncias. Um livro sobre medo, fuga, arrependimento, culpa e castigo, crime e acusação. O que vem para salvar, também pode cobrar seu preço. Voltar para casa, num caminho feito errado, pode ser só um pedido de mãe, e, como diz Henfil, quem tem mãe não tem medo. Essa é aventura de Desjardim.


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Silas Corrêa Leite | “VIVÊNCIAS EDUCACIONAIS”

De Educador para Educador, o Especialista e Teórico em Educação, Silas Corrêa Leite, Premiado como Escritor e Professor, e seu livro “VIVÊNCIAS EDUCACIONAIS”

“Não ensine ninguém a ser como você/Já pensou o perigo?

Ensine o aluno a ser ele mesmo/Que isso dói menos

Ensine o aluno a se procurar/Dê os sinais…

Seja o referencial; procure-o/Nele – sendo ele

Então ele tendo essa ajuda-você/Pode se achar no Ele

Ensine o aluno a ser o que Ele/Precisa ser: um não-você

Já pensou que LIBERDADE?”

(Ensinança, Professor Silas Corrêa Leite

Poema escrito em Reunião Pedagógica)

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‘Vaca profana’: um mundo lúdico e divertido | Silas Corrêa Leite | por Adelto Gonçalves

Nova obra de Silas Corrêa Leite reúne breves narrativas que devem ser lidas “de uma assentada     

                                                           I

             Escritor polifacetado e autor de vasta obra, Silas Corrêa Leite (1952) acaba de lançar mais um livro, desta vez, uma reunião de contos que leva por título Vaca profana: microcontos (Cotia-SP, Editora Cajuína, 2023), breves narrativas e poemas em prosa em que o autor procura colocar para fora “o consciente e o inconsciente também”, como reconhece no “quase prefácio: outras palavras” que escreveu à guisa de apresentação de sua própria obra. E que devem ser lidos “de uma assentada”, ou seja, de uma só vez, como recomendava o escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849).

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De Educador para Educador, o Especialista e Teórico em Educação, Silas Corrêa Leite, Premiado como Escritor e Professor, e seu livro “VIVÊNCIAS EDUCACIONAIS” 

“Não ensine ninguém a ser como você/Já pensou o perigo? 

Ensine o aluno a ser ele mesmo/Que isso dói menos 

Ensine o aluno a se procurar/Dê os sinais… 

Seja o referencial; procure-o/Nele – sendo ele 

Então ele tendo essa ajuda-você/Pode se achar no Ele 

Ensine o aluno a ser o que Ele/Precisa ser: um não-você 

Já pensou que LIBERDADE?”  

(Ensinança, Professor Silas Corrêa Leite  

Poema escrito em Reunião Pedagógica) 

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VACA PROFANA – Microcontos assustadores pra boi não dormir, de Silas Corrêa Leite

A “vaca profana” da barbárie da civilização/Da sociedade hipócrita, pântano da condição humana/Planeta terra, vaca profana no aterro sanitário do espaço/Onde estão depositados todos os vermes/Vaca profana em palavras, atos, consumos e pertencimentos/Estátuas, cofres, palácios, igrejas, de um lado/miséria, fome, guetos, becos, cortiços, palafitas e miseráveis de outro lado/E a sagrada vaca profana do “lucro-fóssil” e do consumo-ração/Com o “medo-rabo” sociedade anônima/Que veio das cavernas e para as cavernas do futuro de infovias efêmeras/E singrará/Assim na terra como no céu de todas as vacas profanas/entre sóis, luas e agonias em verso e prosa. SCL, in, Feridos Venceremos, Berrar é Humano.

Os textos diferenciados de Silas Corrêa Leite, professor premiado, blogueiro premiado, e escritor premiado em verso e prosa, agora de novo e sequencialmente apronta seu mais emergente rebento, um livro de dezenas de seus melhores microcontos assustadores, nanonarrativas insurgentes, pondo os cornos pra fora da manada, afinal, viver não é só abanar o rabo.

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Uma viagem ao plano extraterrestre – Silas Corrêa Leite | por Adelto Gonçalves

Romance infantojuvenil de Silas Corrêa Leite conta a aventura de um jovem marginalizado no mundo da ficção científica

                                                      I
            Em nova experiência no gênero romance infantojuvenil,  Silas Corrêa Leite (1952) apresenta A Coisa: muito além do coração selvagem da vida (São Paulo, Editora Cajuína, 2021), que conta a trajetória de um adolescente revoltado com a difícil vida que leva numa das zonas periféricas da grande cidade de São Paulo e procura fugir de casa para embrenhar-se no mundo. Abandonado pelos pais, decide largar-se sozinho a pé, com seu skate, pela Serra do Mar em busca das praias do Litoral paulista.
            E, assim, passa a viver uma vida de andarilho e a sobreviver do que a floresta lhe podia oferecer como alimento, ou seja, água, peixes, frutas e animais silvestres, até que, um dia, acaba por descobrir, no meio da mata, um objeto enorme não identificado, a que passa a chamar de A Coisa, ou seja, um aparelho estranho que soltava sons igualmente inidentificáveis, ou seja, provavelmente um veículo extraterrestre.

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Silas Corrêa Leite e a voz dos deserdados da terra | por Adelto Gonçalves

Em novo livro, autor recolhe flagrantes da história oral vivida nas favelas de São Paulo

                                                          I
            Quem já percorreu os labirintos dos arquivos públicos sabe que a documentação, majoritariamente, reflete a posição das classes dominantes e de seus lacaios. Por isso, quando um dos deserdados da terra consegue fazer com que ouçam sua voz esse acontecimento torna-se motivo de regozijo. Foi o caso de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), catadora de papéis que vivia numa favela do Canindé, em São Paulo, que ficou conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960, com auxílio do jornalista Audálio Dantas (1929-2018), obra traduzida para 14 idiomas.


Nessa linhagem, o poeta, romancista e contista Silas Corrêa Leite (1952), de origem humilde, também é uma espécie de deserdado da terra que encontrou na literatura uma forma de fazer com que a voz dos excluídos seja ouvida. Começou sua vida profissional cedo, tendo sido aprendiz de marceneiro e garçom em Itararé, cidade na divisa entre os Estados de São Paulo e Paraná, além de engraxate, boia-fria e vendedor de doce de groselha. Começou a escrever aos 16 anos, passando a produzir crônicas para o jornal O Guarani. E logo foi aprovado num concurso para locutor na Rádio Clube local.
 Em 1970, migrou para São Paulo, onde morou em pensões, cortiços, passou fome e dormiu na rua.  Já empregado, formou-se em Direito e Geografia, sendo especialista em Educação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, além de ter cursado pós-graduações nas áreas de Educação, Filosofia, Inteligência Emocional, Jornalismo Comunitário e Literatura na Comunicação, curso este que fez na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

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Saga de um menino de Itararé: romance de esperança | Silas Corrêa Leite | por Adelto Gonçalves

                                                    I
Um menino de Itararé, criado pelos avós, que, quando chega à idade do entendimento, aos 15 anos, sai de casa em busca da mãe, que sumira quando ele nascera e estaria perdida nos cafundós do Mato Grosso do Sul, perto da fronteira com a Bolívia, e virara missionária. Em breves palavras, este é o enredo do novo livro de Silas Corrêa Leite (1952), O menino que queria ser super-herói (Lisboa/São Paulo, Editora Primeiro Capítulo, 2022), romance infantojuvenil que vem se juntar a uma obra já extensa que inclui publicações em outros gêneros (poesia, prosa poética, contos e romances).
 Inteligente, precoce, muito ativo e sensível, o menino sabe que o sótão de sua casa guarda um segredo e o porão também esconde coisas do passado de seus familiares. Fã de desenhos animados, de histórias em quadrinhos e de personagens de gibis, como Super-Homem, Batman, o Homem Invisível e o Capitão Marvel, o menino, que tem o nome de Ben-Hur, precisa visitar aqueles lugares recônditos, para conhecer os mistérios de sua vida e descobrir segredos, como saber que seu pai ainda vive em Itararé, mítica cidade localizada no Estado de São Paulo “fincada às barrancas do vizinho Estado do Paraná”, famosa depois da chamada Revolu& ccedil;ão de 1930, que constituiu mais um golpe civil-militar em que, desta vez, as elites dos demais Estados derrubaram as tradicionais elites paulistas e mineiras.
Itararé, antiga terra dos índios guaianases e, depois, no século XVIII, ponto de descanso dos tropeiros que levavam animais do Sul para a feira de Sorocaba, ficaria famosa porque, quando Getúlio Vargas (1882-1954) partiu de trem rumo ao Rio de Janeiro, então capital federal, esperava-se que ocorresse lá uma grande batalha, que não houve porque a cidade acolheu o futuro ditador na estação ferroviária, permitindo sua entrada no Estado de São Paulo, e os militares depuseram o presidente Washington Luís (1869-1957) em 24 de outubro daquele ano e impediram a posse do presidente eleito Júlio Prestes (1882-1946).

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Silas Corrêa Leite: a poesia como libertação da alma | por Adelto Gonçalves

  I
Autor multifacetado, Silas Corrêa Leite (1952) volta às livrarias com novo livro de poemas, Lampejos (Belo Horizonte, Sangre Editorial, 2019), que reúne 25 peças em que o poeta coloca em prática a poesia como libertação da alma. E o faz como uma forma de ter em mãos um mundo mais tranquilo que o mundo de todos os dias, alheando-se dos momentos difíceis por meio da busca do sonho e do desejo.      
                Em outras palavras: a palavra poética seria a ponte por onde a alma do poeta passaria para o futuro, ou seja, para a vida eterna, como se constata no poema que tem por título exatamente “Morte” e no qual ele diz que: Quando a morte vier me buscar / estarei sentado à beira do caminho / Escrevendo meu último poema para o luar cor de prata / com minha lupa de restos de calendários vencidos… / A morte – a mais bela mulher que jamais vi – dirá, / toda vaidosa e pintada para a guerra das estrelas / – Vamos, poeta, se apresse, vamos, é hora… / Eu a olharei, entregue, e a tomarei nos braços / Então a abraçando forte e seguro como uma ilha eterna de / estúdio de luz / E finalmente  assim embarcaremos na canoa furada da noite, / e juntos / Como unha e carne / seremos um só / Como um voo de Ícaro para o céu de todas as honras…
Com imagens triviais, Silas Corrêa Leite explora temas como o mar e o tempo, a vida e a morte, a alma e o corpo, o “eu” poético e o amor em todos os níveis, inclusive o amor filial e o maternal e o paternal, com versos bem lapidados, às vezes até enveredando pelo barroco, para concluir com explosões épicas, pois, se algo sabe fazer com quase perfeição, é a maneira habilidosa com que manipula as palavras. 
Leia-se, por exemplo, este poema que leva por título “Saudade”: Mãe, às vezes, quando vou dormir ensimesmado / Na fronha de algodão cor de neve / encardida – com lágrimas de saudades de ti / Ainda parece que vejo teu rosto; / parece que no pano a tua voz como uma cantilena terreal / me diz / – Dorme, guri, dorme… / Então eu fecho os olhos chorando escondido da vida / E minha saudosa lembrança de ti / abraça minha angústia noturna no travesseiro / E acaricia com tintas de imenso amor eterno / o desalinho de minha saudade de órfão triste.

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Adelto Gonçalves | Bocage: uma história agora contada com primor | por Silas Corrêa Leite

Lançado em Portugal em 2003, o livro ganhou a sua edição brasileira em 2021 pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

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            Pelo que me lembro, na minha chamada memória recorrente desde priscas eras de atiçado buscador e ledor voraz, Bocage era e ficava entre um Pedro Malasartes  (figura tradicional nos contos populares da Península Ibérica, tido como burlão invencível, astucioso, cínico, inesgotável de expedientes, de enganos, sem escrúpulos e sem remorsos) e um Casanova (Giacomo Girolamo Casanova, escritor e aventureiro italiano, tendo interrompido as carreiras profissionais que iniciou — a militar e a eclesiástica — e que passou a levar uma vida aventurada), em terras de Camões, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa, muito antes ainda de José Saramago, portanto. Tinha-o como um boêmio aprontador em terras lusas de Cabral e de Pero Vaz Caminha.

            Lendo agora Bocage, o perfil perdido, que virou clássico da obra-pesquisa-documentário do mestre e doutor Adelto Gonçalves, depois de levar tempo para lê-lo, tal o peso do livraço e a densidade do historial enquanto pesquisa e documentário também, posso dizer que tive uma universidade de mais de ano inteiro sobre o poeta. Afinal, um curso e tanto, um livro precioso, com aulas magnas desse que já é escritor esmerado de tantos outros portentosos livros, que tive o prazer de ler, curtir e gostar, e até me mesmo fazer aqui e ali breves resenhas.

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Transpenumbra do Armagedom | distopia depois de uma hecatombe  | Silas Corrêa Leite | por Adelto Gonçalves

Autor de livros polêmicos e diferenciados, Silas Corrêa Leite (1952), depois de publicar Ele está no meio de nós (Curitiba, Kotter Editorial), em 2018, O Marceneiro: a última tentativa de Cristo (Maringá-PR, Editora Viseu), em 2019, e Cavalos selvagens (Taubaté, Letra Selvagem; Curitiba, Kotter Editorial), em 2021, surpreende seus leitores com Transpenumbra do Armagedom (São Paulo, Desconcertos Editora, 2021), obra em que, mais uma vez, mistura gêneros e estilos, fazendo com que a crítica fique em dificuldades para defini-la.  

I 

Na verdade, trata-se de uma reunião de textos que vão do romance de ficção científica a contos futuristas e crônicas minimalistas, passando por poemas de cunho libertário. Enfim, uma obra que traz uma visão épica e fantástica de um futuro que se desenha para o planeta Terra e que se avizinha como assustador. 

O autor reconhece que procurou fazer uma literatura de ficção futurista baseado na new weird fiction, (que pode ser traduzida como “ficção esquisita”), estilo que produz criaturas mutantes, personagens que não são totalmente humanos, que surgiu na década de 1990 com a ideia de subverter conceitos, combinando elementos da ficção científica, horror e fantasia, não seguindo convenções ou exemplos estereotipados. Um gênero que anuncia a chegada da distopia, também denominada cacotopia ou antiutopia, que representa a antítese do que se lê em Utopia, do escritor inglês Thomas Morus (1480-1535), onde um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz. 

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Logística: os novos desafios | herança de um megaempresário e visionário | Silas Corrêa Leite

SÃO PAULO – O livro Logística: os novos desafios (São Paulo, 2020), de Milton Lourenço, belamente ilustrado pelo artista plástico Paulo von Poser, lançado em homenagem póstuma a um importante empresário, é obra extremamente importante na área de comércio exterior, pois constitui um mosaico de textos brilhantes. Ex-diretor do Grupo Fiorde, Milton Lourenço (1967-2020) era, por assim dizer, um visionário, dotado de uma mente brilhante e muito além de sua época.

            Neste livro, reuniu textos sobre temas importantes como concorrência desleal, desindustrialização em marcha, o porto de Santos e seus desafios, modernização, o isolacionismo brasileiro, Mercosul-União Europeia, os embates EUA x China, entre outras tantas dezenas de temas enfocados com qualidade de conhecimento profundo e escrita de qualidade. Em muitos de seus artigos, defendeu a ideia de que o Brasil, para aumentar a sua participação no comércio exterior, teria de assinar mais acordos com grandes países e blocos.

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Cavalos Selvagens | uma obra imaginativa | Silas Corrêa Leite | por Adelto Gonçalves

Depois de publicar, em 2018, Ele está no meio de nós (Curitiba, Kotter Editorial) e, em 2019, O Marceneiro: a última tentativa de Cristo (Maringá-PR, Editora Viseu), Silas Corrêa Leite (1952) acaba de lançar o romance Cavalos Selvagens, publicação que marca o início de uma parceria entre as editoras Letra Selvagem, de Taubaté-SP, e Kotter Editorial, de Curitiba-PR. Este romance, escrito há 15 anos, porém, não faz parte da projetada trilogia aberta pelas duas obras anteriores. Segundo o autor, o último livro da trilogia está praticamente concluído e deverá vir a público em 2023. 

A nova obra do romancista e poeta, a exemplo das anteriores, pode ser definida como mística, ecumênica e religiosa, mas vai além, partindo do título inspirado numa canção dos roqueiros ingleses Keith Richards e Mick Jagger, em que a expressão “cavalos selvagens” pode ser apenas uma metáfora de tudo o que o ser humano é, como se lê em Hamlet, tragédia do poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616), escrita entre 1599 e 1601 e que explora temas como traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade.   

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Livro ESPANTALHOS, Ensaios e afins | Silas Corrêa Leite

Os ossos e ócios dos espantalhos do estupendo literato ADEMIR DEMARCHI

Breve Resenha Crítica

-Eu já o conhecia de outras plagas e sítios, das redes sociais e do próprio nome forte nas lidas da literatura contemporânea de um modo geral. Aqui e ali, volta e meia nos acercamos, mas, aqui e ali também não deu liga de presto, até que, finalmente, num desses sadios contatos que  as redes sociais graciosamente propiciam, e, vai lá, agregamento feito, conexão confirmada, e ele generosamente me mandou alguns de seus portentosos livros, que, claro, sentindo-me honrado com a gentileza, e, de cara, garrei a ler, primeiro o livraço ESPANTALHOS, 312 pgs, 2017, Nave Editora de SC. Foi a gota d´água, quero dizer, foi o tsunami literário me encantando, leitor voraz…

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Os desespelhos quase esquizocênicos da poética teatral de Daniel Osiecki | por Silas Corrêa Leite

  • Quando você recebe “de grátis”  alguns livros de um generoso amigo virtual que conheceu pelas artes lítero-culturais das ricas redes sociais, você sempre se sente um privilegiado. Mas, quando você começa a ler aqui e ali, versos e prosas, tudo junto e misturado, você fica atiçado e, pego pelas palavras, e ritmos, em delirantes cenas rápidas, corre, saca e sente que precisa escrever sobre o que viu de lastro e lustre. E foi isso que ocorreu, quando recebi, entre outras obras, o livro “27 episódios diante do espelho” de Daniel Osiecki, de Curitiba Paraná, com o qual tive o prazer de  já estar e palavrear em duas Lives, via You Tube da Kotter.
  • Daniel Osiecki foi professor universitário, é mestre em teoria Literária, editor-chefe da Revista TXT, organizador de saraus coletivos e apresentador do Programa VIVA LITERATURA no canal do Youtube. Também altamente produtivo assim e assado, autor de Abismo (2009), Sob o signo da noite (2016), fellis (2018), Morre como em um vórtice de sombra (2019), Fora de ordem(2021) e  ainda em 2021 este livro de Episódios… Ou seriam, trocadilhando,  EPI-sódios? Curto e grosso, poemas-cenas-de-teatro aberto, acidez-solo, e vai por aí a derrama da arte de Daniel na cova dos leões das palavras, atos e fatos, prismas e cenas rápidas. Aliás, EPI-Equipamento de Proteção Individual. Sódio, isso mesmo, o principal ingrediente do sal, que é o cloreto de sódio, importante para a manutenção do equilíbrio do pH do sangue, dos impulsos nervosos e da contração muscular.
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Tutti-frutti | novo livro de microcontos de Silas Corrêa Leite, com suas jocosas e insurgentes inutilezas surtadas.

PRÉ-LANÇAMENTO

“O autor mergulha na alma contundente de prismas rápidos. Anacronismos e anomalias em nanonarrativas cênicas e rasteiras. Com sintaxe peculiar, quando não língua bárbara, toda própria, cria desconstruindo situações e momentos, expressando seu desencantamento em fios desencapados. Um esgotamento em nódoas corrosivas, misturando ora Tutti, ora Frutti…

Escritor, professor e blogueiro premiado, com sua carga de ceticismo conta o embuste social paranoico numa literatura contemporânea. O sabor da opereta bufa, tipo deja-vu, guloseima em prosa irônica. Tudo junto e misturado. Esquentando cérebros, instantes-trevas. Periga ler o anacrônico, purgativo e inaceitável. Situações corrosivas e surtos circuitos de criações hilárias, horrendas ou obscuras; luz criativa sobre particularidades assustadoras. Tirem o sorriso do caminho, que Tutti-frutti vai passar com seu escárnio.” (Divulgação, Cult News – Maria das Graças Aranha)

Sobre o autor :

Professor, escritor e blogueiro premiado, 68 anos, nascido em Monte Alegre, criado em Itararé-SP. Autor de outros livros, como Goto, a lenda do Reino do barqueiro noturno do rio Itararé. Consta em várias antologias literárias em verso e prosa, inclusive no exterior. Criador do Estatuto de poeta, traduzido para o inglês, francês, espanhol e russo. Elogiado por Moacyr Scliar, Ignácio de Loyola Brandão e Ledo Ivo, da ABL (Academia Brasileira de Letras), e Adelto Gonçalves e Oscar D´Ambrósio (USP). Acredita na arte como libertação, e seu mote predileto é “Feridos Venceremos”.

Esta obra faz parte do projeto 2 em 1, em que publicamos dois autores em um mesmo volume.

Para adquirir este livro em pré-lançamento a R$ 36,90, acesse:

https://caravanagrupoeditorial.com.br/…/tutti-frutti…/

COLISEU TROPICAL | Viegas Fernandes da Costa | por Silas Corrêa Leite

Breve resenha crítica:

COLISEU TROPICAL, o livro de Viegas Fernandes da Costa como um soco duro, fértil e impactante, nesses tenebrosos tempos pandêmicos do fascista necrobrasilis S/A.

 “Houve um tempo em que as vidas não estavam escritas” – A Cidade Transparente – Ana Alonso Javier Pelegrin Pere Ginard.

Se “A literatura é uma oferta de espaço”, como bem disse Georges-Arthur Goldschmidt, o livraço COLISEU TROPICAL de Viegas Fernandes da Costa, impactante, feroz e voraz a palo seco, nos assaca de cara, como um soco, a nos remeter, por exemplo, a Kafka:  “De modo geral, acho que devemos ler apenas os livros que nos cortam e nos ferroam. Se o livro que estivermos lendo não nos desperta como um golpe na cabeça, para que perder tempo lendo-o, afinal de contas? Para que nos faça feliz, como você escreveu? Meu Deus, poderíamos ser tão felizes assim se nem tivéssemos livros; livros que nos alegram, nós mesmos também poderíamos escrever num estalar de dedos. Precisamos, na verdade, de livros que no toquem como um doloroso infortúnio, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido expulsos do convívio para as florestas, distantes de qualquer presença humana, como um suicídio. Um livro tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós.” (Citação de Kafka, no livro História da leitura, Steven Roger Fischer, p. 285).

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O polivalente escritor e promotor cultural Luiz Eudes e a Cangalha de Contações Maviosas | Breve resenha Crítica | por Silas Corrêa Leite

“Se cada dia cai, dentro de cada noite/Há um poço/Onde a claridade está presa./Há que sentar-se na beira/Do poço da sombra/E pescar luz caída/Com paciência.” (Pablo Neruda)

-A internet tem disso, aproxima pessoas dos lugares mais distantes possíveis, principalmente nas continentais lonjuras desses brasis gerais, sertões e veredas, trilhas e turnos. Como se diz que todo artista toca seu Deus quando cria, os arteiros; e a arte como levitação e libertação, também aproximam os iguais na seara de escrevivências, que labutam com a palavra, a literatura, os assentos narrativos. Num vareio de ventos insurgentes desses, por assim dizer, conheci o Luiz Eudes e nos fizemos amigos virtuais e dele recebi o precioso livro CANGALHA DO VENTO, contos que se entrelaçam, segunda edição, Editora Zarte, Feira de Santana, Bahia.

-Escrito e feito, e dito e feito, tomei do livro e pus-me a saborear o cardume dos causos entrelaçados, contos, acontecências num projeto que se pode a bem dizer colocar e nominando como se um romanceiro de contações do arco da velha, mais registros de saudades, revisitanças, inocências perdidas, lares e bares, luares e contares, aprumada conversa fiada para nos deliciar. E o autor já tem outros livros e nesse, CANGALHA DO VENTO, com ilustrações de Samuel Costa, e sua bucólica prosa ligeirinha vai nos levando, tomando-nos pela mão, e vamos entrando preciosos no Junco pela porta aberta dos olhos sadios de um contador portentoso.

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Cavalos Selvagens, o novo romance de Silas Corrêa Leite, de novo surpreende, cativa, emociona.

Lançamento

“…quem somos nós, autointitulados humanos, senão meros cavalos passando de mão em mão e servindo como veículos para que a vida possa escorrer por meio de nossas existências? – Roberto Damatta

-Como em seus outros diferenciados romances anteriores, o polímata Silas Corrêa Leite de novo se supera. Seu novo livro, bancado pela LetraSelvagem (SP) e Kotter (PR) – Editoras que inauguram parceria de coedição – começa como se em um thriller desesperado e assustador, já iniciando a própria dicotomia que funda a obra como um todo, feições entre a vida morrendo e a morte nascendo, nesses entremeios o medo, o desespero, revisitanças, mais doces e amargas memórias, passagens de vidas a limpo, a corrida contra o tempo, desvãos de almas, tudo isso partindo de uma doença fatal, da capital, para o interior, mais precisamente Itararé, sudoeste do Estado de São Paulo, divisa com o noroeste do Paraná, e ali finca-se o palco do romance em que o cavalo selvagem pode ser apenas uma metáfora de tudo o que somos, como em Hamlets, carnicentos e afins. Diz o rock Cavalos Selvagens “A infância é algo fácil de viver(…)/Você sabe que não posso deixar você deslizar pelas minhas mãos(…)/Cavalos selvagens não conseguiriam me levar embora(…)/Eu assisti você sofrer uma dor lancinante(…)/Nenhuma saída ligeira ou falas nos bastidores(…)/Podem me fazer sentir amargurado ou lhe tratar com grosseria – Wild Horses, (Composição de Keith Richards / Mick Jagger).

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Romance Social O LIXEIRO E O PRESIDENTE de Silas Corrêa Leite

  • Se arte e criatividade são, entre outras coisas, a inteligência e a imaginação se divertindo, segundo Albert Einstein, e, como diz Nelson Oliveira (Prêmio casa de las Américas), o maior mérito de uma obra literária é ser, acima de tudo, uma festa para a inteligência, em O LIXEIRO E O PRESIDENTE, romance social, o escritor, poeta e ficcionista premiado, Silas Corrêa Leite, mostra nesse novo trabalho e de novo polêmico e diferenciado, a face da personagem principal do livro, o Presidente Fernando 2, o néscio, como rotula ele, bem a propósito do que preconiza Sigmund Freud, de que cada pessoa é um abismo, e dá vertigem olhar dentro delas. Bem isso.
  • O livro criativo, ousado, e ainda assim cativante, finca o palco nas narrativas todas em diálogos, entre causos, humores políticos, contações e abobrinhas afins, no Palácio do Planalto, as redondezas e quadradezas, entornos e antros, na Era D.c (Depois de Collor), em que um Fernando 2 – e de Fernando em Fernando o Brasil vai se ferrando – deita e rola no mesmo funesto modus operandi de maracutaias de carteis e propinas da anterior era civil e mesmo do militarismo incompetente e corrupto no processo histórico que o antecedeu, e que nasceu nas hediondas capitanias hereditárias até hoje nos podres poderes do planalto central.
  • A obra, entre uma comédia escondida e uma tragédia camuflada – corja blindada pela justiça e pela mídia abutre corruptas – resgata desvão de almas corrompidas nos flancos dos poderes executivo, legislativo e judiciário, mais o quarto poder, a imprensa blindando uma elite pústula em nome de neoescravistas neoliberais e agiotas do capital emboaba.
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O MARCENEIRO, A ÚLTIMA TENTATIVA DE CRISTO | Silas Correa Leite

Ao ler o novo – e de novo polêmico e de novo diferenciado – romance (místico, ecumênico, religioso?) “O MARCENEIRO, A última Tentativa de Cristo”, Editora Viseu, 2018, de Silas Corrêa Leite, a primeira coisa que nos vem à mente é uma frase de Friedrich Nietzche: “A verdadeira questão é: quanta verdade consigo suportar?”. Simples assim. O livro, segundo o autor, é do final do ano 2.000, com aquela história do tal bug do milênio, o mundo iria acabar, coisa assim, e ele escreveu este despojo para não dizer que não era capaz de escrever um romance, principalmente se mirando o livro Memorial de Maria Moura, de Raquel de Queiroz, quando então se decidiu que, se aquele era um romance contemporâneo, atual, também poderia bolar um. Deu nisso. Um desafio? Um braço quebrado, engessado, outro com problema, pois pegou uma velha maquina remington, botou papel de formulário contínuo, e, feito um surto-circuito – psicografado? Jorro neural? –  por quinze dias, a média de doze horas por dia, de licença médica, macetou o começo, meio e fim do projeto então se formalizando. Às vezes, confessa, aqui e ali, numa parte emocionante e elevadora, do registro que punha para fora, sentia que, madrugada a dentro, a sala do apartamento da Alameda Barros onde morava no bairro de Santa Cecilia como se iluminava, e ele, que tem medo de fantasma, de espírito, feito um bobo, parava assustado e chamando a esposa, acendia todas as lâmpadas do lugar, quando ela assustada, mas já o conhecendo, perguntava:

-O que você está fazendo?

-Estava escrevendo sobre Jesus, dizia ele.

Ela então entendia, e respondia:

– E você quer escrever sobre Jesus sem iluminação de algum lugar? Quem procura, acha…

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Silas Correa Leite Lança seu Romance Místico ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS

ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS, Romance místico, romance religioso ou romance ecumênico? Depois de Goto, A Lenda do Reino Encantado do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, pela Clube de Autores Editora, SC, romance pós-moderno (considerado a melhor obra do escritor); depois do gracioso Gute-Gute, Barriga Experimental de Repertório, Editora Autografia-RJ, e depois do revoltado Tibete-De quando você não quiser mais ser gente, Editora Jaguatirica, RJ, três romances de peso e agraciados por boas críticas literárias de renome, o escritor, ciberpoeta, ensaísta, crítico literário e então por isso mesmo romancista, Silas Correa Leite, de Itararé-SP, premiado em diversos concursos literários, lança finalmente o romance ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS, primeiro de uma trilogia. Este livro começou a ser escrito em 1998, terminado em 2015, e só agora finalmente lançado pela Sendas Editora do grupo Kotter Editorial de Curitiba-PR.

Como todos os livros diferenciados do autor, polêmicos, críticos, ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS não foge à regra e ao estilo de Silas Correa Leite vai nesse fulcro literário. Desta feita, entrando num campo por assim dizer místico, ele narra a história de um cidadão de Itararé, claro – “Canta a tua aldeia e serás eterno”, disse Leon Tolstoi – (e isso o Silas faz como primeiro expoente da chamada Literatura Itarareense), e narra sobre um cidadão pobre, renegado pelo pai empresário rico da cidade de origem, que depois de décadas de muitos trabalhos e estudos em SP, vence na vida, feito um new rich da chamada alta sociedade paulistana.  Menino sensível, camuflou seu lado sentidor, especial, para ganhar dinheiro. Ficando rico – e ninguém fica muito rico impunemente entre riquezas impunes e lucros injustos – o personagem (real, imaginário?), dr Paulo de Tarso Trigueiro um dia ao sair de um luxuoso jantar em point rico de área nobre da capital, tem uma visão que o alumbra.

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ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS | Silas Correa Leite | Lançamento

Romance místico, romance religioso ou romance ecumênico? Depois de Goto, A Lenda do Reino Encantado do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, pela Clube de Autores Editora, SC, romance pós-moderno (considerado a melhor obra do escritor); depois do gracioso Gute-Gute, Barriga Experimental de Repertório, Editora Autografia-RJ, e depois do revoltado Tibete-De quando você não quiser mais ser gente, Editora Jaguatirica, RJ, três romances de peso e agraciados por boas críticas literárias de renome, o escritor, ciberpoeta, ensaísta, crítico literário e então por isso mesmo romancista, Silas Correa Leite, de Itararé-SP, premiado em diversos concursos literários, lança finalmente o romance ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS, primeiro de uma trilogia. Este livro começou a ser escrito em 1998, terminado em 2015, e só agora finalmente lançado pela Sendas Editora do grupo Kotter Editorial de Curitiba-PR.

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TIBETE | o novo romance de Silas Corrêa Leite | E quando você não quiser mais ser gente?

O novo romance do escritor Silas Corrêa Leite, lançado ao final do ano passado pela Editora Jaguatirica, RJ, vem bem a calhar, tendo em vista o tenebroso momento em que se resta o Planeta Terra, e particularmente o Brasil também em crise sem precedentes históricos, em que há uma falência generalizada de valores e estruturas sociais, terrivelmente depondo com o que deveria ser o público fito ético-plural-comunitário da  sociedade nesses tempos de falta de qualidade de vida e de uma convivência humana de baixíssimo nível. Fugir seria a melhor estratégia? Loucos escrevem. Céu ou inferno moram nos desfechos?  O personagem principal do livro, nesse contexto todo relata sobre as tormentas de um ex-escritor marcado, com altos e baixos na vida, mas, afinal evoluído socialmente falando, e que num estranho súbito momento, um bendito dia saca que não é feliz; avalia que o que conquistou não o satisfaz, quando conclui que “vencer na vida” não é tudo, não significa nada, não faz sentido, e, parafraseando Caetano veloso se questiona: tudo o que conquistou, a que será que se destina? Fechamento de ciclo.

De cara resolve pular fora do sistema, da redoma de infernos que é seu meio conturbado. Larga tudo e vai em busca de um lugar para chamar de céu, um infinito particular que seja. Quer um canto para se esconder de ser gente, de ver gente, se tratar de si, se reconciliar, cavar uma trilha, um buraco, antes que faça uma besteira… Estresse e paranoia de finalmente se descobrir sendo uma coisa que não quis ao final de tudo, passando da idade do lobo.

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BELTERRA – Folhas de Regresso a Uma Ítaca de Lonjuras Íntimas

“Nada é para sempre(…). Mas há momentos

que parecem ficar suspensos, pairando sobre o

fluir inexorável do tempo”. (José Saramago)

 

  • Na açodado do momento, sem razão e nem porque, de imediato, a revisitada canção explode na minha mente atiçada, mal acabei de começar a ler (e de chorar, lendo) o novo livro BELTERRA de Nicodemos Sena, Editora LetraSelvagem. Jatos de música e letra: -“Por toda terra que passo me espanta tudo que vejo// A morte tece seu fio de vida feita ao avesso//O olhar que prende anda solto//O olhar que solta anda preso//Mas quando eu chego eu me enredo//Nas tramas do teu desejo//O mundo todo marcado à ferro, fogo e desprezo//A vida é o fio do tempo, a morte o fim do novelo//O olhar que assusta anda morto//O olhar que avisa anda aceso//Mas quando eu chego eu me perco//Nas tranças do teu segredo//(…)… é hora de partir, eu vou//(Desenredo – Dorival Caymmi)

-Era o livro tomando forma em minha mente atiçada. Leitura é entrar no mapeamento das palavras, espaços e tempos. Lonjuras íntimas. Procuras. Fotos. Desenhos apalavreados de rostos e almas, nos confins. Como Homero querendo voltar para casa, o autor leva o pai para um distante caminho de volta, atrás de um eldorado que acabou sendo lágrima e dor, e, revisitando trilhas e sentenças, veios e capões, matas e pesadelos, tenta redescobrir o encoberto, tenta retrazer o curtume de um tempo chamado já-hoje, e perpassa a narrativa fluindo como linhas de cerol na alma, na saudade, na história, como se um belo caderno de viagem dizendo dessa cicatriz lixada, de um magno patriarca sofrido e ainda assim resistente e herói, de uma lágrima sedenta de lavar os vidros dos olhos, de serenar os cacos de espelhos da alma. Olhares. Páginas de lágrimas. O menino que envelheceu, o velho que quer voltar a ser menino, na pureza do olhar de um sensível e destemido filho escritor renomado, ponderando, pausando, contemplando, reinando, respeitando, admirando – ah o reencontro – clicando, repaginando um tempo antigo; o agora menino-pai tomando o pai-menino pela mão… Tempo-rei. Como não se encantar? Os dias eram assim…

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Lulu Santos Transformou o Rock Groselha do Rei Roberto Carlos em Rock Raul | Silas Correa Leite

Silas Correa Leite 250Crítica
Lulu Santos Transformou o Rock Groselha do Rei Roberto Carlos em Rock Raul
(Cedê LULU CANTA & TOCA ROBERTO E ERASMO)

-Crescemos, parimos, regurgitamos, sonhamos amor & flor,  e amamos os Beatles e Tonico e Tinoco, ouvindo a Jovem Guarda do Rei Roberto, que gritava no auge que tudo mais fosse pro inferno, mora? Erasmo Carlos, lado a lado mas ele mesmo muito roqueiro de origem e mentalidade, era o parceiro-rock que gritava contra a banda dos contentes. O rei era o rei. Mas jovem, guarda, né não? Daquilo para tropicália, festival universitário, bossa nova, foi um pulo. Para não dizer que não falei de flores, ficamos com um rei na cabeça e o rei com o rei na barriga.  Os deuses quando querem detonar os reis, enlouquece-os, desde Shakespeare.
-Pois não é que o rei proibiu a biografia não autorizada, virou padrão global (o que não significa nada), cantou bregas e idolatrias, cristianizou-se, e, desde As Baleias não se viu um reinado tão coxinha-daslu e uma mesmice tão brega que perdeu a graça. Mas Roberto é Roberto.
-Elis cantou Roberto de arrepiar. Caetano abrilhantou Roberto, na veia. Agora, Lulu Santos botou as letras que o Roberto fez pra mim, e as músicas suaves, em arroubos de rock mesmo, e, falando sério, ficou bonito, tudo muito mais Jovem Guarda a la Rock Raul Seixas e Rita Lee do que Roberto Carlos rock groselha. Claro, aqui e ali Lulu botou um e outro para cantar, quando o cedê é dele e era ele quem queríamos ouvir com sua guitarra empolgante e forte e brilhante. Tampem podia tirar as tais vinhetas, e mesmo, a musica bobinha É preciso Saber Viver que já deu o que tinha de dar de falso pop, mas, no frigir dos ovos, Lulu acetou na maioria das escolhas entre tantas (não é fácil), embora devesse também ter gravado As Baleias,  Quando as Crianças Saíssem de Férias, Maria Carnaval e Cinzas, e, ainda, Quero Que Vá tudo pro Inferno, ou o rei refugou essa, de novo?

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Os Cascalhos dos Poços Íntimos do Livro de Poesia “Alvéolos de Petit Pavê” de Ricardo Pozzo | Silas Corrêa Leite

pozzoBreve Resenha Crítica

Os Cascalhos dos Poços Íntimos do Livro de Poesia “Alvéolos de Petit Pavê” de Ricardo Pozzo

“Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada(…)/
Agora não espero mais aquela madrugada(…)/
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada/”

(Fé Cega, Faca Amolada, Milton Nascimento)

As vezes brinco de dizer que a Poesia é o meu “sábio chinês” que me resgatou do cárcere privado sem porcelana da vida vã, me cuidou como um triste cachorro craquento da pá virada, e ainda me preserva frutado como uma bananeira que já deu goiaba. Desacelerações de partículas na parte, poesia pode ser tudo e nada ao mesmo tempo, paradoxalmente isso mesmo: criar Poesia propriamente dita. Ou, talvez, Poesia é… ponhamos:  varreção de fragmentos e chorumes de subterrâneos mal resolvidos para debaixo do tapete dos palavrórios… O aparato técnico para mim, perdão, é não ter aparato técnico nenhum, as vias acadêmicas às vezes tripudiam sobre o inominável e matam a arte-criação. A subjetividade é, aqui e ali, um lampejo, ou ainda faz desandar a polenta da arte com lume neutro. Todas as alternativas são apenas alter-nativas… Aliás, a própria vida é uma poesia esperando tradução. A Poesia tem que ser levada até o mais extremo, ou não seria poesia, seria rima, ritmo, metáfora, e eu gosto da santa loucura-lucidez da poesia, que revisita os bulbos inomináveis das entranhas da angústia-vívere, da solidão-coivara, da tristeza-coxia e do terrível e indizível medo de sobreviver; como um dezelo íntimo, um ranço tácito, uma cruz que se extravasa na arte como cicatriz, na poesia como fermento, na criação como um tabule de mixórdia, feito então – como sequela – uma assustadora levitação lustral. Curto e grosso, a poesia também pode ser casca de banana-caturra no trapézio, a casca de tangerina na linha do horizonte, o arco-íris marrom, o chute na canela da escurez, a placa de sinalização estrambólica das erratas de percurso acidentado, o humor irônico dos suicidas, a própria faca de dois legumes das metáforas barulhadas, e ainda assim e por isso mesmo, talvez, as iluminuras de desvairados inutensílios com impropriedades de incompletudes, mais os bulbos paraexistenciais. Talvez até, um liquidificador de ideias mais as fugas das tentativas de abismos da vida como achadouros de cintilâncias…

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