2022 à la minute  –  On my own | Carlos Matos Gomes

Gosto mais da frase em inglês — on my own — do que em português: só comigo.

A minha intenção ao escrever este texto sobre o ano de 2022 é a mesma dos solitários que fazem desenhos na areia: entreterem-se enquanto falam consigo próprios. Depois, quem passa olha, se lhe apetecer acrescenta, apaga, ou distorce. E segue o seu caminho. A nova maré levará a obra. O desenhador irá olhar o vazio para lá do horizonte.

Bom ano de 2023.

Personalidades portuguesas:

– Marta Temido, a sua equipa e o SNS. A frágil ministra, juntamente com o seu sereno secretário de Estado, enfrentaram o mais poderoso e desapiedado gangue do planeta: o dos industriais e comerciantes da saúde. Os Serviços Nacionais de Saúde são uma ofensa inadmissível para os mercadores dos medicamentos, dos hospitais e clinicas, dos laboratórios e fábricas de equipamentos. Marta Temido e o seu secretário, mais da Diretora Geral da Saúde enfrentaram-nos. Se tivessem a mais pequena sombra no seu currículo, nas suas vidas privadas estariam entregues aos bichos, aos liberais! E nós, os cidadãos, com eles.

– Os “uberistas”, sejam os condutores de automóveis sejam os distribuidores de comida às costas que respondem às app e aos Tm. São os novos escravos, sem esquecer os importados para os trabalhos agrícolas. Eles antecipam o futuro das sociedades ditas desenvolvidas, e neoliberais, a par dos “colaboradores” em teletrabalho e dos robôs.

Personalidades Internacionais:

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O que acho do Pedro Nuno Santos? | por Sófia Smirnov

Oque acho do Pedro Nuno Santos? Querem mesmo saber? Gosto do Pedro Nuno, mais jovem, determinado, sem papas na língua nem medo de fugir ao politicamente correto e às regras impostas por uma seita há décadas, uma rede de influências e favores que minou toda a classe política e não há exceções, da esquerda à direita, a anormalidade do panorama político é atroz.

Inteligente, estratega e com experiência política tem mais peso do que possa parecer. Gosto de pessoas com carácter e sem medo e Pedro Nuno Santos é isso mesmo, corajoso e destemido. Falhou, quando entrou no esquema e vícios do próprio partido, nomeadamente ao apoiar a nomeação da mulher como chefe de gabinete do secretário de Estado Duarte Cordeiro. Atenção que tal não é por não considerar Ana Catarina Gamboa como competente. A questão não é essa. A questão prende-se com a ética. Há 30 anos, quando entrei no mercado de trabalho e numa empresa que exigia ética, não era permitido que familiares trabalhassem nas mesmas áreas, por questões que me parecem lógicas. Nada tem a ver com a competência ou com a incapacidade das pessoas conseguirem separar interesses pessoais da ética profissional. Há pessoas e pessoas e ninguém é igual. Tem a ver com probabilidades e, a probabilidade dessa ética ser corrompida, é substancialmente maior quando há relações pessoais. O que temos visto, não só no Governo como no próprio PS, é um absurdo de influências e cunhas entre familiares e amigos. Eu, pessoalmente, se ocupasse algum cargo político, não quereria ninguém da minha família por perto, por uma questão, não só de imparcialidade, como para não me colocar numa situação de fragilidade perante a opinião pública que, no fundo, é o eleitorado. Faz-me confusão, toda esta anormalidade, não só na política como na comunicação social, como na sociedade em geral. Acho, inclusive, que vamos pagar toda esta anormalidade cara, aliás, já a estamos a pagar.

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A superação da dissidência, a desobediência e o regresso dos velhos totalitarismos | por Carlos Matos Gomes

A Liberdade é para mim o valor supremo. É a Liberdade que me permite ser eu. Mas apenas posso sobreviver em sociedade, o que impõe limites à minha liberdade. Vivo e vivi a lutar por me libertar, sabendo que estarei sempre preso, mas bato-me para esticar ao máximo a corda que me limita. Cheguei à conclusão (já não era sem tempo) que passei a existência como um prisioneiro que pensou constantemente em planos de fuga, e se relacionou com os outros presos e os guardas de modo a garantir a maior liberdade possível. Descobri à minha custa o segredo de conseguir equilibrar forças numa sociedade violenta. Nada de novo. Desde a antiguidade que primeira tarefa dos chefes é assegurar a obediência dos seus subordinados. Tentei e tento superar os riscos da dissidência, da desobediência. Nunca recebi um louvor por comportamento exemplar. Não me orgulho, mas sinto-me bem por ter superado a minha dissidência e, antes do tudo o mais, aprendi a distinguir os profetas da submissão por debaixo do tropel dos gritos e dos arrepelos dos cabelos. Os movimentos de extrema-direita que estão a sair da terra como os cogumelos do estrume gritam muito, mas nada mais pretendem que um regime de submissos. A insubmissão é hoje a defesa contra a berraria dos serventuários dos poderosos.

Max Weber, o sociólogo alemão, afirmou que a finalidade do poder é “a imposição da vontade de uma pessoa ou instituição sobre os indivíduos, mesmo contra resistências”. O poder é independente da aceitação dos sujeitos, mas aprendi que a utilização da força é o mais oneroso e traiçoeiro dos meios de obter um domínio e o menos fiável. Recrutar vendedores de felicidade e ilusionistas é muito mais eficaz.

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Maria Callas sings “Casta Diva” (Bellini: Norma, Act 1)

The great Maria Callas performs an aria from her signature role, Bellini’s druid priestess Norma, with the Orchestre de l’Opera National de Paris and Georges Sebastian. Recorded live at the Palais Garnier on the 19th of December 1958, this concert marked the soprano’s debut at the Paris Opera, a major social event for Parisians and for which Callas donned her most elegant couture and a million dollars’ worth of jewelry. The official Maria Callas website: http://www.maria-callas.com/

Günther Anders | ′′ A obsolescência do homem ′′ 1956

′′Para sufocar antecipadamente qualquer revolta, não deve ser feito de forma violenta. Métodos arcaicos como os de Hitler estão claramente ultrapassados. Basta criar um condicionamento coletivo tão poderoso que a própria ideia de revolta já nem virá à mente dos homens. O ideal seria formatar os indivíduos desde o nascimento limitando suas habilidades biológicas inatas…

Em seguida, o acondicionamento continuará reduzindo drasticamente o nível e a qualidade da educação, reduzindo-a para uma forma de inserção profissional. Um indivíduo inculto tem apenas um horizonte de pensamento limitado e quanto mais seu pensamento está limitado a preocupações materiais, medíocres, menos ele pode se revoltar. É necessário que o acesso ao conhecimento se torne cada vez mais difícil e elitista…. que o fosso se cave entre o povo e a ciência, que a informação dirigida ao público em geral seja anestesiada de conteúdo subversivo.

Especialmente sem filosofia. Mais uma vez, há que usar persuasão e não violência direta: transmitir-se-á maciçamente, através da televisão, entretenimento imbecil, bajulando sempre o emocional, o instintivo. Vamos ocupar as mentes com o que é fútil e lúdico. É bom com conversa fiada e música incessante, evitar que a mente se interrogue, pense, reflita.

Vamos colocar a sexualidade na primeira fila dos interesses humanos. Como anestesia social, não há nada melhor. Geralmente, vamos banir a seriedade da existência, virar escárnio tudo o que tem um valor elevado, manter uma constante apologia à leveza; de modo que a euforia da publicidade, do consumo se tornem o padrão da felicidade humana e o modelo da liberdade.

Assim, o condicionamento produzirá tal integração, que o único medo (que será necessário manter) será o de ser excluído do sistema e, portanto, de não poder mais acessar as condições materiais necessárias para a felicidade.

O homem em massa, assim produzido, deve ser tratado como o que é: um produto, um bezerro, e deve ser vigiado como deve ser um rebanho. Tudo o que permite adormecer sua lucidez, sua mente crítica é socialmente boa, o que arriscaria despertá-la deve ser combatido, ridicularizado, sufocado…

Qualquer doutrina que ponha em causa o sistema deve ser designada como subversiva e terrorista e, em seguida, aqueles que a apoiam devem ser tratados como tal ′′

O suicídio da social-democracia — onde está a Internacional Socialista? | Carlos Matos Gomes

Minhas amigas e meus amigos, com antecipadas desculpas por este texto fora de moda e de época. Os tempos de celebrações são de esquecimento e despreocupação. O mundo andará sem nós. Não parece fazer sentido falar da morte ou da hibernação, ou da hasta mais ou menos pública, ou de OPA mais ou menos hostil,  de uma certa ideia de governo dos povos, simpática, por sinal, e agradável, como é, ou foi a social democracia europeia no pós-guerra. 

Dentro de dias teremos um ano novo no calendário. O impasse em que estamos não terminará com a mudança de folha. Os meus desejos sinceros de Bom Ano Novo não têm, infelizmente, o poder de alterar a realidade. Este texto não apresenta boas notícias, e não é por eu ser um pessimista, mas porque estou como o homem velho no cimo da montanha de que falava Nietzsche em Assim Falava Zaratustra, vejo os vales e as nuvens no horizonte. Um Bom Ano e desculpem o incómodo. Há com certeza leituras mais animadoras e mais adequadas à época. Que raio de lembrança: a cataplesia da social-democracia no Natal!

Mas, boas festas para todos.

Carlos Matos Gomes


As burguesias: industriais, proprietários de bens de raiz, de rendimentos palpáveis, comerciantes regionais, altos funcionários foram o motor das sociedades capitalistas e demoliberais que tomaram o poder na Europa após as revoluções dos séculos XVIII em França, na Inglaterra e na Alemanha e no século XX na Rússia. Foram as classes médias europeias (as burguesias) que decidiram o colonialismo para se apropriarem das matérias-primas de África e que estiveram na origem de duas guerras mundiais.

O colonialismo e a Segunda Guerra estão na raiz da atual ordem no mundo. O colonialismo resultou das necessidades de matérias primas pela indústria da revolução industrial e a Segunda Guerra resultou das respostas das burguesias nacionais aos movimentos operários (os camponeses transformados em operários — proletários) que geraram o complexo fenómeno que por facilidade designamos comunismo. O nazismo foi uma resposta ao comunismo, a outra foi a social-democracia — os católicos referem a democracia cristã e a encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII e publicada em 1891, mas esta é mais uma “orientação” para limitar a exploração gerada pelo liberalismo capitalista do que para alterar a ordem social e a hierarquia das classes.

(Adivinho o comentário: compara o nazismo à social-democracia! — não, o que quero dizer é que o mesmo problema (no caso a revolta dos proletários) pode originar diferentes soluções políticas e que reconhecer a diversidade de opções é a base do pluralismo. Depois há soluções melhores, piores e péssimas.)

Partindo desses pressupostos, chegamos ao artigo de Alexis Corbiére no Nouvelle Observateur, L’Obs para os amigos e ao artigo de Novembro: Porque não sou social-democrata.

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FALECIMENTO | Eterna Saudade, Nélida Piñon (1937 – 2022)

Nelida Pinon at Nantes 2013 1st May 2013 Picture by Mathieu Bourgois/Writer Pictures NO FRANCE

Nélida Piñon, nascida no Rio de Janeiro numa família originária da Galiza, faleceu hoje em Lisboa, no Hospital CUF Descobertas.

Autora amada por nós, seus editores há mais de duas décadas, é considerada um ícone da grande literatura de língua portuguesa, internacionalmente reconhecida e premiada.

Expoente máximo da literatura brasileira que escreveu de um modo fulgurante, expressando os sonhos de todo o Brasil e as grandes questões da literatura com a cultura e a sociedade.

Humanista, generosa, interventiva, uma artista do pensamento, teve uma voz firme contra a censura e a ditadura no Brasil. Feminista, afrontou com coragem os modelos tradicionais, celebrando e escrevendo a liberdade de pensar.

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Ninguém gosta de ser exposto como corno | por Carlos Matos Gomes

A verdade explosiva e a” sabedoria popular: Ninguém gosta de ser exposto como corno. À primeira todos caem… à segunda só os parvos…”

A declaração de Angela Merkel de que os acordos de Minsk entre os EUA, a UE e a Rússia a propósito de uma relação de confiança que garantisse a segurança da Rússia e a neutralidade da Ucrania foi uma vigarice para ganhar tempo e tramar a Rússia é politicamente mortal.

Mesmo com muito boa vontade, nenhum líder russo vai num futuro próximo estabelecer um acordo com qualquer destas entidades, desde logo para os seus concidadãos não o acusaram de otário, de estupido, de ingénuo, de se deixar cornear pela segunda vez.

Angela Merkel forneceu argumentos ao regime de Putin para não negociar, de ir até onde entender na neutralização da Ucrânia, de impor as suas condições sem concessões!

Nenhum líder europeu, americano ou ucraniano desmentiu Angela Merkel: todos assumiram a armadilha que tinham preparado a título de um acordo.

Todos os estados sabem que os acordos existem para serem violados, mas uma coisa é saber, outra é uma das partes vir para a praça pública ufanar-se e humilhar o traído, que foi o que Angela Merkel fez.

A partir de agora quem confiará em qualquer tratado ou acordo assinado pelos estados que estiveram em Minsk? Que político na China, na Índia, na Amérrica latina se exporá a ver-se na posição do chifrudo a quem os chico-espertos entretiveram enquanto lhe preparavam o assassinato?

A imagem dos enganos é do grande Vilhena e de um livro sobre a Vigarice e a Batota.

Amílcar Cabral e a Ordem da Liberdade  |  a visão do futuro de Marcelo Rebelo de Sousa

Dia 10 de Dezembro, no âmbito de uma visita a Cabo Verde para participar na cerimónia de doutoramento Honoris Causa a título póstumo de Amílcar Cabral, o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou com o colar da Ordem da Liberdade o fundador do PAIGC, o partido independentista da Guiné e Cabo Verde.

A Ordem da Liberdade é uma ordem honorífica portuguesa, criada após o 25 de Abril de 1974, que se destina a distinguir serviços relevantes prestados na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do Homem e à causa da liberdade. A Ordem da Liberdade pode ser atribuída a entidades portuguesas e estrangeiras.

Amílcar Cabral cumpre com distinção os requisitos. Apenas por curiosidade, à data da morte e durante toda a sua vida, Amílcar Cabral foi oficialmente cidadão da República Portuguesa! Mais, foi um cidadão da luta pela dignidade de todos os povos do mundo, em particular dos que estiveram sujeitos ao domínio do colonialismo. No pós-Segunda Guerra Mundial, como resultado da nova ordem internacional, da perda de centralidade da Europa, da emergência de novos valores entre os povos do mundo, impôs-se o Movimento Descolonizador como novo paradigma e o colonialismo foi considerado pela Assembleia Geral das Nações Unidas um crime contra a humanidade!

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O deserto está repleto de coisas | João Gomes

Queria falar-vos de esperança, deixando que apenas palavras doces e ternas surgissem no amargor da realidade diária do presente. Nós, humanos, precisamos tanto de palavras positivas, como de pão para a boca, para a digestão de ideias felizes. Mas apetece-me calar a minha voz, emudecer, fazer o meu destino mais próximo dos silêncios, deixar essa esperança em mim aparecer, sem me sentir desumano, demente. Os olhos vêem os gestos que me apetece oferecer, mas os rostos escondem-se no trapo colorido e o gesto esmorece. As minhas mãos já só praticam tarefas simples e sem bravura. Nos dias que nascem frios, as noites morrem ainda mais frias.

Pergunto a mim próprio se sou uma pessoa feliz e o que me falta para, verdadeiramente, o ser. Descubro que nada me falta e apenas falta a forma de me compreender. Um deserto não é, verdadeiramente, um vazio. O deserto está repleto de coisas. Só precisamos de as saber encontrar e usufruir daquilo que até um deserto pode oferecer. Antes mesmo de nele temermos morrer e a esperança é uma palavra que nunca se completa, se não for atravessada como um deserto que enfrentamos, buscando o que pode conter. E basta encontrar nele uma flor, uma simples e terna flor, para valer a pena a aventura da travessia ou ver a esperança acontecer.

João Gomes

(2021)

A corrupção dos valores começa na nossa casa | por Carlos Matos Gomes

Miguel Sousa Tavares publicou um excelente texto sobre a corrupção no Parlamento Europeu, neste caso envolvendo a eurodeputada grega Eva Kaili, a propósito de subornos feitos pelo Qatar. Este meu texto é uma adaptação do texto de Simon Tisdall, do The Guardian, que reforça a ideia de estarmos a assistir à corrupção por dentro dos regimes de democraca representativa e de Estado de Direito.

O texto de Simon Tisdall começa com uma provocação:

Boas notícias para os autocratas do mundo — a mesquinhez (corrupção e cupidez) da UE é um grande golpe contra a democracia. Artigo de Simon Tisdall (The Guardian)

O escândalo do Qatargate (que envolve a eurodeputada grega Eva Kaili) mostra como a corrupção interna e o tráfico de influência e podem corroer a confiança pública. A democracia é uma planta vulnerável, facilmente negligenciada e enfraquecida por parasitas. Ela enfrentou ataques abertos, às vezes letais, em 2022, de autocratas em lugares tão distantes quanto Estados Unidos, Brasil, China, Rússia, Irão e a Turquia. No entanto, quando a democracia é silenciosamente corrompida e subvertida por dentro — esse é o verdadeiro assassino. O caso da eurodeputada grega está nesta categoria, de inimigo interno, de cancro insidioso. Se provada, a corrupção no Parlamento Europeu constituirá uma enorme traição à confiança pública.

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Moacir Amâncio: poemas que captam sensações | por Adelto Gonçalves

   “Câmara Escuro” reúne 65 peças que reafirmam a maturidade poética do autor


                                                           I
            Depois de alguns anos sem publicar livros de poesia, Moacir Amâncio reaparece com Câmara Escuro (São Paulo, Editora Hedra, 2022), que reúne 65 poemas que reafirmam a sua maturidade poética e mostram que, “às vezes, precisamos baixar os olhos para ver, e de pequenos deslocamentos para achar um outro modo de estar onde estamos”, como observa Roberto Zular, professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), no texto de capa que escreveu para este livro. E acrescenta: “Um livro que, enfim, faz das sombras um mote para redimensionar o caminho da iluminação”.
            De fato, o leitor não vai encontrar aqui poemas que possam servir de exemplo perfeito para o conceito estabelecido pelo professor Massaud Moisés (1928-2018) segundo o qual a poesia é a expressão do “eu” por meio de metáforas, como aquela famosa frase de Fernando Pessoa (1888-1935) em que o poeta contempla o silêncio feminino e nele descortina uma nau: “o teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas”.  Nestes poemas curtos, que não se confundem com haicais, a metáfora literária tem objetivo estético, procurando reproduzir beleza ou emoção estética.
Ou seja, as palavras procuram reproduzir, através de uma figura de linguagem, fenômenos provocados por uma condição neurológica, estabelecendo uma experiência sinestésica, que se dá por via sensorial ou cognitiva.

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A NATO E AS ORIGENS DA GUERRA NA UCRÂNIA | Embaixador americano John Matlock Jr

Artigo publicado pelo embaixador americano John Matlock Jr., em fevereiro deste ano, recordando o erro que foi a desnecessária expansão da NATO para leste e o perigo extremo de um confronto com a Rússia a que nos poderia – pode levar a situação na Ucrânia.

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Após a queda da União Soviética, eu disse ao Senado que a expansão nos levaria até onde estamos hoje.

Jack F. Matlock Jr. , Embaixador

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Hoje enfrentamos uma crise evitável entre os Estados Unidos e a Rússia que era previsível, intencionalmente precipitada, mas pode ser facilmente resolvida pela aplicação do bom senso.

Mas como chegamos a este ponto?

Permitam-me, como alguém que participou das negociações que acabaram com a Guerra Fria, trazer um pouco da história para lidar com a crise atual.

Todos os dias nos dizem que a guerra pode ser iminente na Ucrânia. As tropas russas, dizem-nos, estão se concentrando nas fronteiras da Ucrânia e podem atacar a qualquer momento. Os cidadãos americanos estão sendo aconselhados a deixar a Ucrânia e os dependentes da equipe da embaixada americana estão sendo evacuados. Enquanto isso, o presidente ucraniano alertou contra o pânico e deixou claro que não considera uma invasão russa iminente. Vladimir Putin negou que tenha qualquer intenção de invadir a Ucrânia. Sua exigência é que cesse o processo de inclusão de novos membros na OTAN e que a Rússia tenha a garantia de que a Ucrânia e a Geórgia nunca serão membros.

O presidente Biden se recusou a dar tal garantia, mas deixou claro sua disposição de continuar discutindo questões de estabilidade estratégica na Europa. Enquanto isso, o governo ucraniano deixou claro que não tem intenção de implementar o acordo alcançado em 2015 para submeter as províncias de Donbass na Ucrânia com um alto grau de autonomia local – um acordo com Rússia, França e Alemanha que os Estados Unidos endossaram.

Essa crise era evitável?

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Mozart – Música Clássica para Estimular o Cérebro

Mozart – Música Clássica para Estimular o Cérebro Tracklist: Divertimento in D major, K. 136 “Salzburg Symphony No. 1” 00:00 I. Allegro 02:59 II. Andante 06:38 III. Presto Divertimento in F major, K. 138 “Salzburg Symphony No. 3” 08:30 I. Allegro 11:09 II. Andante 13:55 III. Presto Metamorphose String Orchestra Conductor: Pavel Lyubomudrov

Eine Kleine Nachtmusik, K. 525 15:57 I. Allegro 21:55 III. Minuetto 24:18 IV. Rondò Opole Philharmonic Orchestra Conductor: Werner Stiefel

27:28 Rondò in D Major, K. 485 (live recording) Piano: Vadim Chaimovich

Flute and Harp Concerto in C Major, K. 299 34:09 I. Allegro 44:36 II. Andantino 52:44 III. Rondò. Allegro Harp: Ursula Mazurek Opole Philarmonic Orchestra Conductor: Silvano Frontalini

Piano Sonata No. 10 in C Major, K. 330 (live recording) 1:03:19 I. Allegro moderato 1:07:56 II. Andante cantabile 1:14:32 III. Allegretto Piano: Vadim Chaimovich

1:18:32 Lucio Silla, K. 135: Ouverture Opole Philharmonic Orchestra Conductor: Alexandr Tracz

Flute Concerto No. 1 in G Major, K. 313 1:27:00 I. Allegro maestoso 1:36:02 III. Rondò – Minuetto Flute: Ubaldo Rosso Opole Philarmonic Orchestra Conductor: Silvano Frontalini

Piano Sonata No. 12 in F Major, K. 332 (live recording) 1:43:47 I. Allegro 1:51:15 II. Adagio 1:56:47 III. Allegro assai Piano: Vadim Chaimovich

Era uma noite fria. Esticando as mãozitas para a lareira a criança aquecia-se | João Gomes

Era uma noite fria. Esticando as mãozitas para a lareira a criança aquecia-se. A sopa e os doces haviam-lhe aconchegado a fome e a mãe cirandava pela cozinha, arrumando a loiça. Sentia o encosto do gato, aninhado ao seu lado. No conforto do fogo, nem percebia a ausência do pai, ausente no trabalho. Era a noite de Natal e o pai tinha a missão de conduzir comboios, transportando as pessoas para todo o lado. Já era hábito ser assim. No Natal anterior tinha ficado com o pai, enquanto a mãe não chegava do hospital, onde era enfermeira. O gato, esse estava sempre presente. E que sorte ela tinha por o ter sempre aninhado, junto de si e à lareira. Cresceria percebendo que os Natais eram com a mãe ou o pai, enquanto não tivesse a sua própria família. Ainda não sabia que profissão queria ter. Mas certamente não seria enfermeira ou maquinista. Desejaria trabalhar em algo que lhe permitisse estar com os filhos, nas noites de Natal. E casaria, certamente, com alguém que assumisse um trabalho qualquer, desde que ficasse com ela e os filhos, um gato e um cão, numa lareira quente. Era essa a prenda que mais desejava para o futuro. As outras prendas tinham-se tornado uma consolação para as noites de uma certa solidão.

João Gomes

Até amanhã!

Arte de Paul Delvaux, Solitude, 1955

José Tolentino Mendonça vence Prémio Ilídio Pinho

Lisboa, 14 de dezembro de 2022

José Tolentino Mendonça é o vencedor da primeira edição do Prémio Ilídio Pinho, atribuído pela Fundação Ilídio Pinho, no valor de cem mil euros. Este é o maior prémio pecuniário atribuído em Portugal e exclusivamente português. A distinção é atribuída a personalidades que trabalhem «na promoção e defesa dos valores universais da portugalidade», sendo o júri composto pelos presidentes das Câmaras Municipais de Lisboa, do Porto e de Vale de Cambra, e pelos reitores das Universidades do Porto, de Aveiro, Católica e de Trás-os-Montes. A entrega do prémio terá lugar na próxima segunda-feira, 19 de dezembro.

O Cardeal José Tolentino Mendonça estará este domingo no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, para um encontro com leitores, a propósito do livro Metamorfose Necessária. Reler São Paulo. O livro será apresentado, a partir das 16h00, por José Rui Teixeira, numa sessão com entrada livre. Já na passada sexta-feira, dia 9, o autor da Quetzal esteve com os leitores de Lisboa, num encontro na Fundação Calouste Gulbenkian, que contou com a participação de António Feijó, Teresa Bartolomei e Ângela Barreto Xavier. Estas são as primeiras apresentações de José Tolentino Mendonça para os seus leitores portugueses desde 2018, aquando do lançamento de O Elogio da Sede.

Desde então mudou-se para Roma, onde foi responsável pela Biblioteca e Arquivos do Vaticano, tendo sido, em setembro passado, nomeado prefeito do novo Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé, pelo Papa Francisco. 


Para mais informações, contacte o Gabinete de Comunicação da Quetzal:
Vânia Custódio | E-mail: vania.custodio@bertrand.pt

Então a Europa também é corrupta? | Pedro Tadeu | in DN

s suspeitas de corrupção que atingem o Parlamento Europeu e levaram a justiça belga a propor uma prisão preventiva para uma vice-presidente da instituição, a grega Eva Kaili, suscitam-me, para já, muitas mais perguntas do que propriamente conclusões.

A investigação, que levou à descoberta de pacotes de dinheiro escondido em casas de vários políticos europeus, no valor 1 milhão e 500 mil euros, suspeita, diz a imprensa, que o governo do Qatar subornou essas pessoas em troca de “favores políticos”.

Ora a primeira pergunta que me veio à cabeça, e para a qual não vi resposta em lado algum, é esta: de que “favores” estamos a falar?

Era apenas a aprovação, que estava em marcha e agora foi suspensa, de entrada na União Europeia de qatarenses com passaporte, sem necessidade da formalidade dos vistos? Foi alguma coisa relacionada com o Mundial de Futebol? Com as moções e tomadas de posição sobre Direitos Humanos e de trabalhadores no Qatar? Sobre a aprovação de projetos que, de alguma forma, beneficiassem o governo e as empresas do Qatar?

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DO INÚTIL | Tiago Salazar

Que adianta ao meu íntimo mundo pessoal, e mesmo a vós, meus assíduos, se vos disser que sempre preferi o Messi ao Ronaldo, tal como o Barça ao Real Madrid. Prefiro a arte subtil e o sentido do artista que, embora sobredotado, nunca deixa de trabalhar para o colectivo que o admira. No relvado, entre colegas, e nas bancadas pasmadas, sem celebrar o golo como um vaidoso toureiro pavoneia o cravar da farpa (Messi não foi visto a fazer manguitos aos holandeses derrotados).

E depois, quase tudo em Messi me devolve a aura de Diego Armando que é inultrapassável, mas viu nele o legado alvi celeste e lhe passou o ceptro. E o rei negão que me desculpe. A Messi, bailarino de tango, só lhe falta o sentido dramático de um fadista.

Fotos selecionadas por vcs

Messi vai à montanha, a crónica do dia na Tribuna | Bruno Vieira Amaral

“Talvez o que me irrite em Messi seja a persistência do génio, a forma metódica, maníaca, como não desperdiçou uma gota do talento com que nasceu, como, ao fim de quase décadas no topo, por lá se mantém sem um ano sabático, sem uma reforma antecipada que lhe permitiria o regresso triunfal, sem uma pausa, apenas um ligeiro declive após a saída do Barcelona.

Irrita-me porque a perfeição perfeita, infalível, é absolutamente desumana, desinteressante, vazia. É como um Deus todo-poderoso, infinito e imortal. Maradona era um deus grego, com o seu génio e mau génio, irascível e abrasivo, sanguíneo e sentimental. Sentíamo-nos abençoados por vê-lo e, lá no fundo, sentíamos que também ele precisava de nós. Era de carne e osso.

Messi é um deus abstrato, uma ideia. Sem rosto e sem história. Indiferente ao tempo, invulnerável. Como escrevia um amigo na ressaca de mais uma exibição fulgurante, ele faz aos 35 anos o que fazia aos vinte. É o mesmo jogador que sempre foi. Não se reinventou e nem sequer se aperfeiçoou porque tudo o que ele é agora já era quando começou.

O próprio tempo, ofendido com a audácia, tentou derrotá-lo, pondo-lhe um croata de vinte anos ao caminho, e Messi dobrou o tempo e o pobre croata com uma dança vertiginosa, como um parapsicólogo dobra colheres com o poder da mente. É o Alfa e o Ómega, não tem começo nem terá fim.

Bem, parece que terá um fim pois anunciou que a final será o seu último jogo com a seleção argentina. Mas o fim não lhe foi imposto pelo tempo, pela decadência. Foi ele que o decidiu. Estará aqui o seu gesto de húbris? Terá despertado finalmente a fúria dos outros deuses que guardaram para o fim a sua vingança? Lembro que, em 2006, Zinedine Zidane, outro génio, esteve a minutos de sair banhado com a glória suprema, embora para ele repetida, de campeão do mundo. E bastou um gesto para o condenar.

Talvez a explicação para a persistência do génio de Messi, para a sua assombrosa longevidade, seja mais simples: ao contrário de outros – Pelé, Maradona, Zidane, Ronaldinho – não foi campeão do mundo quando era jovem. E essa única, mas enorme, lacuna manteve o fogo vivo. Quando os outros já tinham descido a montanha, Messi continuava a imaginar o que haveria lá no cimo e, aos 35 anos, pôs-se uma última vez a caminho. No próximo domingo ou desce sem a revelação ou volta com o rosto transfigurado por se ter aproximado da presença divina. E não me admirava que no cimo do monte Horeb não estivesse uma sarça ardente, mas um espelho.”

Retirado do Facebook | Mural de Bruno Vieira Amaral

XANANA GUSMAO | por AS Curvelo-Garcia

De seu nome José Alexandre Gusmão, nasceu em Laleia, Manatuto, Timor-Leste, então colónia portuguesa, em 20 de junho de 1946. Frequentou um colégio jesuíta, nos arredores de Dili. Aos 15 anos saiu do colégio, por motivos financeiros da sua família, continuando os estudos numa escola noturna e exercendo diversas profissões não qualificadas. Durante o governo português em Timor-Leste, de 1966 a 1968, foi funcionário do Departamento de Silvicultura e Agricultura. Em 1968 foi incorporado no exército português, onde esteve durante três anos, conforme o que se passava na altura com todos os jovens em Portugal e nas suas colónias: Portugal mantinha a guerra colonial em diversas frentes!

Em 1971, ingressou numa organização nacionalista encabeçada por José Ramos-Horta; até 1974, esteve ativamente envolvido em protestos pacíficos dirigidos ao sistema colonial. Em 1974, quando o governo português promoveu a descolonização de Timor-Leste, tornou-se membro da ASDT (Partido Social-Democrata de Timor-Leste), mais tarde transformado na FRETILIN (Frente Revolucionária para a Independência de Timor-Leste). Integrou o Comité Central da FRETILIN. Em 1975 uma intensa luta interna

ocorreu entre duas fações rivais no Timor Português. Xanana Gusmão envolveu-se profundamente com a FRETILIN, tendo sido preso e encarcerado pela fação rival, a União Democrática Timorense (UDT), em meados de 1975. A Indonésia começou

imediatamente uma campanha de desestabilização, e frequentes incursões no Timor Português foram realizadas a partir de Timor Ocidental indonésio. No final de 1975, a FRETILIN ganhou o controlo do Timor Português e Xanana foi libertado, sendo

conduzido ao cargo de secretário de imprensa dentro da organização. Em 28 de novembro de 1975, foi declarada a independência do Timor Português como “República

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Na Ucrânia, os EUA estão nos arrastando para a guerra com a Rússia | John Pilger | in The Guardian

| Este artigo tem mais de 8 anos |

O papel de Washington na Ucrânia, e seu apoio aos neonazistas do regime, tem enormes implicações para o resto do mundo.

Toleramos a ameaça de outra guerra mundial em nosso nome? Por que permitimos mentiras que justifiquem esse risco? A escala de nossa doutrinação, escreveu Harold Pinter, é um “ato de hipnose brilhante, até mesmo espirituoso e altamente bem-sucedido”, como se a verdade “nunca tivesse acontecido mesmo enquanto estava acontecendo”.

Todos os anos, o historiador americano William Blum publica seu “resumo atualizado do registro da política externa dos EUA”, que mostra que, desde 1945, os EUA tentaram derrubar mais de 50 governos, muitos deles democraticamente eleitos; interferiu grosseiramente nas eleições em 30 países; bombardeou as populações civis de 30 países; armas químicas e biológicas usadas; e tentou assassinar líderes estrangeiros.

Em muitos casos, a Grã-Bretanha tem sido um colaborador. O grau de sofrimento humano, e muito menos de criminalidade, é pouco reconhecido no Ocidente, apesar da presença das comunicações mais avançadas do mundo e, nominalmente, do jornalismo mais livre. Que as vítimas mais numerosas do terrorismo – o “nosso” terrorismo – são muçulmanos, é indizível. Esse jihadismo extremo, que levou ao 11/9, foi alimentado como uma arma da política anglo-americana (Operação Ciclone no Afeganistão) é suprimido. Em abril, o Departamento de Estado dos EUA observou que, após a campanha da Otan em 2011, “a Líbia se tornou um refúgio seguro para terroristas“.

O nome do “nosso” inimigo mudou ao longo dos anos, do comunismo para o islamismo, mas geralmente é qualquer sociedade independente do poder ocidental e ocupando um território estrategicamente útil ou rico em recursos, ou simplesmente oferecendo uma alternativa à dominação dos EUA. Os líderes dessas nações obstrutivas são geralmente violentamente deixados de lado, como os democratas Muhammad Mossedeq no Irã, Arbenz na Guatemala e Salvador Allende no Chile, ou são assassinados como Patrice Lumumba na República Democrática do Congo. Todos estão sujeitos a uma campanha de difamação da mídia ocidental – pense em Fidel Castro, Hugo Chávez, agora Vladimir Putin.

O papel de Washington na Ucrânia é diferente apenas em suas implicações para o resto de nós. Pela primeira vez desde os anos Reagan, os EUA ameaçam levar o mundo à guerra. Com a Europa Oriental e os Bálcãs agora postos militares avançados da Otan, o último “estado-tampão” que faz fronteira com a Rússia – a Ucrânia – está sendo dilacerado por forças fascistas desencadeadas pelos EUA e pela UE. Nós, no Ocidente, estamos agora apoiando neonazistas em um país onde os nazistas ucranianos apoiaram Hitler.

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Turquia vs Irão

TURQUIA

População 79.814.871
Orçamento$ 20.000.000.000
Mão-de-obra425000
Aeronaves1057
Lutadores205
Helicópteros474
Ataque de helicópteros107
Frota156
Porta-aviões0
Submarinos12
Armas nucleares0

Informações

A Turquia (em turco: Türkiye, pronunciado: [ˈtyrcije]), cujo nome oficial é República da Turquia (Türkiye Cumhuriyeti, pronunciado: [ˈtyrcije d͡ʒumˈhurijeti] (escutar )), é um país euro-asiático que ocupa toda a península da Anatólia, no extremo ocidental da Ásia, e se estende pela Trácia Oriental (também conhecida como Rumélia), no sudeste da Europa. É um dos seis estados independentes cuja população é maioritariamente turca. Faz fronteira com oito países: a noroeste com a Bulgária, a oeste com a Grécia, a nordeste com a Geórgia, a Arménia e o enclave de Naquichevão do Azerbaijão, a leste com o Irão e a sudeste com o Iraque e a Síria. O mar Mediterrâneo e o Chipre situam-se a sul, o mar Egeu a sudoeste-oeste e o mar Negro a norte. O mar de Mármara, o Bósforo e o Dardanelos (que juntos formam os Estreitos Turcos) demarcam a fronteira entre a Trácia e a Anatólia e separam a Europa da Ásia.Os turcos começaram a migrar para a área que é atualmente a Turquia (“terra dos turcos”) no século XI. O processo foi acelerado pela vitória do Império Seljúcida sobre o Império Bizantino, na Batalha de Manziquerta. Os turcos seljúcidas constituíram um poderoso reino na Anatólia nos 150 anos seguintes, o Sultanato de Rum, que governou grande parte da Anatólia até às invasões mongóis, em meados do século XIII. A decadência do sultanato seljúcida deu origem à independência e expansão política e militar de uma série de beilhiques (principados muçulmanos), entre eles o dos otomanos, que viriam a absorver os restantes beilhiques e a criar o Império Otomano, que no seu auge, nos séculos XVI e XVII, se estendia desde o Sudeste da Europa ao Sudoeste da Ásia e Norte da África. Após o Império Otomano ter entrado em colapso, na sequência da derrota na Primeira Guerra Mundial, os seus territórios foram ocupados pelos aliados vitoriosos.

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CONVERSA DE 1H20M | recomendo vivamente, para entendermos com precisão o que aí vem! Notável conversa entre dois indivíduos notáveis! ——————————————————————– Pepe Escobar e Elias Jabbour: o Brasil, a China, a Rússia e o mundo multipolar

© Copyright 2022 – Editora 247 LTDA

Marcelo dá recado à UE e recorda que há outros focos de guerra | in Notícias ao Minuto

Para Marcelo Rebelo de Sousa, a paz tem um significado concreto, salientando que “não há paz sem desenvolvimento, sem justiça económica e social, sem liberdade”.

O Presidente da República considerou hoje que a União Europeia esteve em “autocontemplação” e “continua a não saber encontrar maneira de se relacionar com África”, relembrando que, além da Ucrânia, há outros focos no mundo que ameaçam a paz.

Marcelo Rebelo de Sousa assumiu esta posição na Igreja de São Domingos, em Lisboa, onde inaugurou, em conjunto com a ministra da Defesa Nacional, uma mostra expositiva alusiva à vigília da Capela do Rato, que começou em 30 de dezembro de 1972, e participou numa conversa sobre o tema “A Paz é Possível: afirmação impossível?”, organizada pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril.

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AMIGA | Florbela Espanca

Deixa-me ser a tua amiga, Amor;
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho…
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho…

Beija-mas bem!… Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos
Os beijos que sonhei pra minha boca!…

Florbela Espanca

AMAR | Florbela Espanca

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui… além…

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…

Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!…

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder… pra me encontrar…

Florbela Espanca, em “Charneca em Flor”

SER POETA | Florbela Espanca

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…

É seres alma e sangue e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda gente!

Florbela Espanca, em “Charneca em Flor”

Avram Noam Chomsky | por El Centenario Y La Literatura

No dia 7 de dezembro nasce Avram Noam Chomsky, um linguista, filósofo, politólogo e ativista americano de origem judaica. É professor emérito de linguística no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e uma das figuras mais destacadas da linguística do século XX, graças aos seus trabalhos em teoria linguística e ciência cognitiva.

Também é reconhecido pelo seu ativismo político, caracterizado por uma forte crítica ao capitalismo contemporâneo e à política externa dos EUA. Ele é considerado um pensamento socialista libertário. O New York Times chamou-o “o mais importante dos pensadores contemporâneos”.

Propôs a gramática generativa, disciplina que colocou a sintaxe no centro da pesquisa linguística. Com isso mudou a perspectiva, programas e métodos de pesquisa no estudo da linguagem. Sua linguística é uma teoria da aquisição individual da linguagem e tenta explicar as estruturas e princípios mais profundos da linguagem. Postulou um aspecto bem definido de inatismo na aquisição da linguagem e da autonomia da gramática (sobre os outros sistemas cognitivos), bem como a existência de um «órgão da língua» e de uma gramática universal.

Opôs-se fortemente ao empirismo filosófico e científico e ao funcionalismo em favor do racionalismo cartesiano. Todas estas ideias colidiram frontalmente com as tradicionais das ciências humanas, o que fez múltiplas adesões, críticas e polêmicas que acabaram por o tornar um dos autores mais citados. Destaca a sua contribuição para o estabelecimento das ciências cognitivas a partir da sua crítica ao comportamento de Skinner e das gramáticas de estados finitos, que pôs em causa o método baseado no comportamento do estudo da mente e a linguagem que dominou nos anos Cinquenta.

Sua abordagem naturalista no estudo da linguagem influenciou a filosofia da linguagem e da mente (veja Harman e Fodor). É o descobridor da hierarquia de Chomsky, uma classificação de linguagens formais de grande importância na teoria da computadores.

Também é conhecido pelo seu ativismo político e pelas suas críticas à política externa dos EUA e de outros países, como Israel. Chomsky, que dissocia completamente a sua atividade científica do seu ativismo político, descreve-se como simpatizante do anarcosindicalismo (é membro do sindicato IWW). Chomsky é considerado uma figura influente no seu país de origem e no mundo.

Retirado do Facebook | Mural de El Centenario Y La Literatura

Como os poderosos nos manipulam | por Carlos Matos Gomes

Como os poderosos nos manipulam. Um exemplo prático:

O que importa

A velha referência ao Titanic: O navio afunda-se, mas a orquestra continua a tocar. A Europa vive um tempo de catástrofe anunciada. Tal como nas cidades, perante evidências meteorológicas de chuvas e ventos devia estar a preparar-se, a limpar valetas, a reforçar defesas, a acumular reservas, a elaborar planos de emergência para sobreviver. Nada disso. Ler jornais ajuda a perceber o que, na verdade preocupa as pessoas.

O Reino Unido, ou Inglaterra, é considerado um espaço habitado por povos que  desenvolveram obras materiais e do pensamento das mais importantes na história da humanidade, desde a Magna Carta ao escrito de Adam Smith sobra as causas da riqueza das nações, do teatro de Shakespeare à Utopia de Thomas More, da caldeira a vapor ao conceitos de imperialismos e colonialismo, o Reino Unido foi a cabeça de um dos maiores impérios do planeta, foi o centro da Europa e do Mundo, deteve a primeira moeda de troca universal, a libra, impôs o sistema de horas com o centro em Inglaterra, meridiano de Greenwich, a língua de entendimento planetário, produziu físicos como Newton, filósofos como Hobbes.  São apenas exemplos do que os ingleses produziram. Os ingleses viveram momentos dramáticos, a revolução de Cromwell, a guerra das rosas, a independência dos Estados Unidos, a guerra anglo-boer, a independência da Índia, a intervenção nas duas grandes guerras do século XX, o conflito na Irlanda do Norte…

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ENTREVISTA EXCLUSIVA A MIGUEL ESTEVES CARDOSO: “SEM O PRAZER, É TUDO UMA ESTUCHA” | por JOÃO PEDRO GEORGE | in VISÃO

Entrevista exclusiva a Miguel Esteves Cardoso: “Sem o prazer, é tudo uma estucha”

Aos 67 anos, é um dos mais brilhantes retratistas de Portugal, país que ama, mas no qual identifica uma paralisante resignação e uma falta de sentido de humor. Numa rara e longa conversa, conduzida pelo escritor João Pedro George, falou de tudo – da infância, dos prazeres da vida, da escrita, de política

Há muitas pessoas que têm o costume de fazer listas com as coisas que gostariam de fazer antes de morrer: passear num balão, participar num safari, saltar de para-quedas, montar um elefante, ficar representado num busto, ver a Aurora Boreal, flutuar no Mar Morto, declamar Herberto Helder numa reunião de empresários, ir ao supermercado de pijama. A mim, o que mais gozo me daria, antes de morrer, era uma coisa muito mais insensata: conversar com o Miguel Esteves Cardoso. Consegui-lo tornou a minha vida realmente magnífica. Por isso, estou-lhe grato. Grato no duplo sentido de agradecido e agradado.

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LISBOA | Aeroporto: há novidades | in DN

SOLUÇÃO MAIS ACONSELHÁVEL : Portela + Alverca c/ mais 1 pista. Num futuro próximo os aviões não poluirão como actualmente.

FUTURO: no estudo do professor de Coimbra, Pais Antunes, especialista em mobilidade, o crescimento do tráfego aéreo global até 2050 é de apenas 2 a 4%. Nas suas contas, a capital portuguesa só necessitaria de construir mais uma pista, além da atual.

Nenhuma conclusão substitui o estudo que o Governo mandou fazer sobre a melhor localização para o aeroporto de Lisboa. Mas há novas pistas, fruto do debate promovido pelo Conselho Económico e Social e o Público. No quadro abaixo ficam alguns dos pontos fortes e fracos de cada projeto apresentados na terça-feira. As premissas da análise são estas:

IMPACTO NO AMBIENTE: não há tema mais crítico para a construção de um aeroporto em qualquer ponto do mundo. Olhando para as seis hipóteses em análise, talvez apenas Alverca (que já tem uma pista, numa área menos crítica do estuário) ou Santarém (numa zona menos sensível) escapem. Alcochete e Montijo são indubitavelmente as piores pelas consequências ecológicas em redor. Manter a Portela tem um impacto pesado sobre os habitantes da capital – daí as dúvidas sobre se se deve diminuir a operação, ou pura e simplesmente acabar. Nem o presidente da Câmara, Carlos Moedas, consegue dizer qual escolhe…

CUSTO DE INVESTIMENTO: a grande novidade veio da Vinci-ANA. Afinal, não há aeroportos grátis, ao contrário do que António Costa deu a entender quanto ao Montijo. Ficou subentendido nas afirmações do líder da Vinci que ou a ANA paga o aeroporto com os lucros que não entrega ao Estado, ou o Estado paga tudo. Só a melhoria da Portela fica por conta dos franceses (ou não?). Portanto, não é indiferente querermos um aeroporto + acessos cuja escala pode ir de 500 milhões (Alverca) até 8 mil milhões (Alcochete). Não sendo certo, Santarém começou por assinalar mil milhões para a primeira fase, tal como o Montijo. Acessos já construídos: Alverca e Santarém são claramente os melhores.

ATÉ 30 MINUTOS DE LISBOA: este ponto é decisivo e não se mede em quilómetros, mas em tempo de acesso. A Portela é imbatível – já está na cidade. Alverca e Montijo estão mais perto, Alcochete, Ota e Santarém mais longe. No entanto, todas as soluções de transporte os colocam a 30 minutos da capital. Mais: se a alta velocidade ficar no subterrâneo do aeroporto escolhido, não é por este critério que Santarém – o mais distante – fica de fora. E quanto ao resto das regiões em redor da capital? Em população abrangida, Santarém também é o que marca mais pontos neste item.

NAVEGAÇÃO AÉREA: o maior argumento contra Alverca sempre foi o de ter uma pista conflituante com a da Portela, mas a nova proposta traz até três pistas sem conflitos de tráfego. A presidente da autoridade de navegação aérea (NAV) confirmou essa plausibilidade na terça-feira. Ora, se é assim, Alverca passa a ser uma hipótese muito próxima, barata e de impacto mais reduzido do que, por exemplo, Montijo – apesar de também estar no estuário e ambas terem contra si a questão das aves. A Ota, com a serra da Montejunto a limitar a operação aérea, e os frequentes nevoeiros, sempre foi má hipótese. A Portela, com uma só pista, tem os problemas conhecidos. Santarém e Alcochete parecem ser os que têm menos limitações de expansão.

FUTURO: no estudo do professor de Coimbra, Pais Antunes, especialista em mobilidade, o crescimento do tráfego aéreo global até 2050 é de apenas 2 a 4%. Nas suas contas, a capital portuguesa só necessitaria de construir mais uma pista, além da atual. Queremos um aeroporto que possa crescer muito mais?

O ministro Pedro Nuno Santos não quer um futuro pequenino. Só que a vantagem deste processo é que qualquer solução só crescerá por fases e o dinheiro impõe a realidade. AlcocheteOtaSantarém, mas até Alverca (ainda que mais limitada), têm espaço para crescer gradualmente. Se houver procura.

Conclusão: não perdemos 50 anos a adiar. Pura e simplesmente não tivemos capacidade de realizar mais endividamento para um enorme investimento público. Entretanto, se levarmos o comboio de alta velocidade ao novo aeroporto, garantirmos um custo decente e gradual, e minimizarmos o impacto na capital pela chegada de aviões mais limpos, o tempo deu-nos uma melhor solução. E não destruímos nem o estuário do Tejo, nem a muralha de sobreiros e biodiversidade ambiental da margem Sul. Seria notável.

https://www.dn.pt/opiniao/amp/aeroporto-ha-novidades-15423237.html?fbclid=IwAR1YDjxGzZl4vXGO-pkNg7V5vis_fPK4pKld30rdA7xS9GOTFAbohya_Nb8

Saúde – o maior negócio do mundo | por Carlos Matos Gomes

O senso comum considera o negócio da guerra o maior negócio do mundo. Não é. O maior negócio do mundo é o da Saúde. O segundo é o do “infoentertainment” (a manipulação pelo entretinimento) e a guerra é o terceiro. Esta hierarquia faz todo o sentido: todos os humanos querem ser saudáveis, viver mais e melhor; a mais eficaz (custo-eficácia) atividade para dominar uma sociedade é a manipulação da sua opinião; por fim, porque se não obedecemos a bem obedecemos a mal: a guerra.

No sistema político dominante – o do capitalismo neoliberal – é evidente que o maior negócio tem de ser dominado pelas oligarquias. Os serviços públicos e tendencialmente gratuitos de saúde são uma heresia “comunista”.

Já agora, o envolvimento da Europa (UE e Reino Unido) na guerra na Ucrânia que os Estados Unidos provocaram, teve também como finalidade destruir o modelo social europeu – assente em serviços públicos – e substituí-lo pelo capital privado, das grandes multinacionais que vigora nas Américas, onde se tens dinheiro vais para o hospital, se não tens vais para a morgue.

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A decadência da sociedade ocidental | por António Jorge

A Europa Ocidental, é hoje uma realidade sem futuro, por ser um tipo de sociedade desumana que é dirigida por mentirosos e psicopatas políticos-sociais criminosos ao serviço de quem os usa.

A palavra Democracia tão abusivamente utilizada, é apenas propaganda feita para iludir e enganar idiotas e propagandistas pagos pelo sistema.

Só não vê quem não quer… onde está o futuro… que não se vê… mesmo com óculos graduados?

– Basta-nos ver o que não devíamos ter de ver… os programas televisivos idiotizados, vazios de interesse cultural e social, para perceber a realidade a que chegamos.

Não se trata de um desabafo circunstancial… ou de critica política, nem de uma noite mal dormida… Não tive nenhum pesadelo… mas acordado e a pensar que tipo de sociedade é esta?

Empurram-nos para a guerra, sem ninguém se meter com nós e justificado por traições e mentiras feitas contra os povos da Europa Ocidental, através de comissários políticos que ninguém elegeu em nome do povo ordeiro… que como carneiros seguem a caminho do matadouro e enganados por tanta mentira sórdida à solta.

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Maria Estela Guedes: ode a García Lorca | por Adelto Gonçalves

Obra reconstitui trajetória do vate espanhol em périplo poético que soa como uma conversa íntima com o espírito do poeta

                                                         I
            Uma ode formada por versos inspirados na vida e na obra do poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936) é o que o leitor irá encontrar no livro mais recente da dramaturga, poeta e ensaísta portuguesa Maria Estela Guedes, que acaba de sair pela Editora Urutau, estabelecida no Barreiro, em Setúbal, do lado de lá do rio Tejo, em Portugal, e em Cotia, no Estado de São Paulo, no Brasil. Com capa que reproduz desenho do próprio poeta, a obra Conversas com Federico García Lorca traz 107 poemas que procuram reconstituir a breve e fulgurante trajetória do vate que seria interrompida com o seu fuzilamento por hordas direitist as comandadas pelo general Francisco Franco (1892-1975).
            Lenda em vida, e ainda longe da idade madura, Lorca já era à época um ícone daquela que, mais tarde, viria a ser definida como a geração de 27, que incluía, entre outros, Pedro Salinas (1891-1951), Jorge Guillén (1893-1984), Rafael Alberti (1902-1999), Vicente Aleixandre (1898-1984) e Luis Cernuda (1902-1963), ainda que não constituísse um grupo movido por qualquer motivação histórica ou influxo literário ou mesmo por um líder.

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O ESTRANHO DESAPARECIMENTO DA OSCE | por Carlos Matos Gomes

O que aconteceu à OSCE? Finou-se em segredo! Raptaram-na? O desaparecimento da OSCE tem um significado: a tentativa dos EUA de impedir o multilateralismo nas relações internacionais.

A guerra na Ucrânia, é um dos resultados do desaparecimento da OSCE e da reposição da ordem bipolar — bons e maus; nós e os outros — da guerra fria. O desaparecimento sem dor nem deixar rasto da OSCE é a vitória da política de confronto, de alinhamentos, da ideia de quem não é por mim é conta mim, da visão do mundo a preto e branco. Os atuais dirigentes europeus enfiaram a Europa nesse beco sem nada terem perguntado aos europeus. Antes pelo contrário, ludibriando-os, iludindo-os, metendo questões inconvenientes debaixo do tapete. Onde está OSCE?

A OSCE — a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa — desapareceu. Segundo as notícias antigas, incluindo do governo português no seu site, a dita criatura havia nascido na sequência de um processo político, iniciado em 1973, intitulado “Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa” (CSCE), que visava melhorar o clima entre o bloco soviético e o bloco NATO, e reforçado em 1990, com a “Carta de Paris para uma nova Europa”, adotada na sequência do fim da União Soviética.

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Major-General Carlos Branco | O confronto dos EUA com a Rússia

O confronto dos EUA com a Rússia é apenas um dos capítulos do projeto da afirmação hegemónica global de Washington, que visa, entre outros aspetos, afetar as relações da Rússia com Europa, e as veleidades europeias de autonomia estratégica, nomeadamente quebrar o comércio e o investimento bilateral com a Rússia e a China.

Isso passa, entre outros aspetos, por impedir a entrada em funcionamento do Nord Stream 2, tornar a Europa dependente do gás americano, viabilizar uma indústria com elevado break even, assim como os bancos que a financiam, bloquear a implementação dos acordos celebrados entre a Europa e a China, e inviabilizar economicamente os corredores euroasiáticos da “Uma Faixa, Uma Rota”, com passagem pela Rússia e fim na Europa, impedindo o aprofundamento das relações comerciais e investimentos mútuos europeus com a China e a Rússia.

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Pepe, o nome de um monstro | João Querido Manha

O senhor Anael Ferreira podia ter escolhido para o filho o seu nome hebraico de arcanjo, vulgar de Lineu, o sueco que inventou o método de baptizar os grupos biológicos, mas não. Quis ir ainda um pouco mais longe para distinguir o primogénito, nascido na recôndita Maceió, dos confins do Nordeste brasileiro, povoado de gerações de luso-descendentes únicos e diferenciados.

O senhor Anael obteve autorização de Dona Rosilene para chamarem o menino de Kepler Laveran, no longínquo ano de 1983, quando ainda não havia internet e as enciclopédias eram privilégio de curiosos ávidos de conhecimento. Um nome único no mundo, acredito, porque juntar o de um astrónomo e matemático alemão do século XVII ao de um francês Prémio Nobel da Medicina de 1907, é tão rebuscado e original que muito cedo a família se terá cansado de dar explicações a familiares, vizinhos e amigos.

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O Sul Global gera um novo sistema de pagamento revolucionário | por Pepe Escobar | 30/11/2022

Desafiando o sistema monetário ocidental, a União Econômica da Eurásia está liderando o Sul Global em direção a um novo sistema de pagamento comum para contornar o dólar americano.

A União Econômica da Eurásia (EAEU) está acelerando seu projeto de um sistema de pagamento comum, que tem sido discutido de perto por quase um ano com os chineses sob a administração deSergey Glazyev, ministro da UEEA encarregado da Integração e Macroeconomia.

Através de seu órgão regulador, a Comissão Econômica da Eurásia (CEE), a UEEA acaba de estender uma proposta muito séria aos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que, crucialmente, já estão a caminho de se transformar emBRICS +: uma espécie de G20 do Sul Global.

O sistema incluirá um único cartão de pagamento – em concorrência direta com a Visa e a Mastercard – fundindo o já existente MIR russo, o UnionPay da China, o RuPay da Índia, o Elo do Brasil e outros.

Isso representará um desafio direto ao sistema monetário projetado (e aplicado) pelo Ocidente, de frente. E vem na esteira de membros do BRICS que já transacionam seu comércio bilateral em moedas locais e ignoram o dólar americano.

Esta união EAEU-BRICS estava há muito tempo em construção – e agora também se moverá em direção à prefiguração de uma nova fusão geoeconômica com os países membros da Organização de Cooperação de Xangai (SCO).

A UEEA foi criada em 2015 como uma união aduaneira da Rússia, Cazaquistão e Bielorrússia, à qual se juntaram um ano depois a Arménia e o Quirguistão. O Vietnã já é um parceiro de livre comércio da UEE, e o Irã, membro recentemente consagrado da OCS, também está fechando um acordo.

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A identidade da Europa — o Ocidente para que lado fica? | por Carlos Matos Gomes

Um artigo de Simon Jenkins no The Guardian comenta o resultado do último senso no Reino Unido: De acordo com o censo, agora somos uma terra de muitas religiões.

“Inglaterra e País de Gales não são mais cristãos! De acordo com o censo de 2021, o número dos que colocaram um X na caixa cristã do formulário caiu para menos de 48%. Um número superior de habitantes vai a uma mesquita todas as semanas em vez de ir a uma igreja paroquial. Os “sem religião” triplicaram desde o milênio, para 37%. As minorias étnicas agora compreendem 18% da população e formam maioria em cidades como Birmingham e Leicester. Isso significa que muçulmanos e hindus criaram algum terreno para a religião como tal.”

As opiniões dominantes nos meios de comunicação europeus podem condenar o racismo e a discriminação, mas isso não deve esconder as alterações resultantes da diversidade, nem as suas consequências, seja nas Ilhas Britânicas, seja na Europa continental onde a mesma alteração demográfica e cultural está a ocorrer. Paris, o Sul de França, Bruxelas, Berlim, Franckfurt, Amesterdão são hoje regiões multiétnicas, multiculturais, onde o cristianismo e a sua história, a visão do mundo que marcou a Europa desde o império romano são minoritárias e estão em competição com outras cosmogonias.

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O recorde de Eusébio e os coreanos | João Querido Manha

“Colored” e “olhos em bico” foram duas expressões que aprendi em 1966, por altura do histórico Eusébio versus Coreia do Norte. Eram usadas nos jornais que me ensinaram a ler, sobretudo o Diário Popular, como compreensíveis e lógicas, carinhosas até, sem vislumbre de xenofobia ou ódio. Era o “velho normal”.

Dos coreanos, dizia-se meio a brincar, meio a sério, que eram todos iguais, que todos se chamavam Park qualquer coisa, que talvez tivessem substituído os onze da primeira parte por outros onze ao intervalo e que podia ter sido isso, não a sua qualidade atlética nem o efeito surpresa, a provocar a eliminação prematura da poderosa Itália. Quando a “equipa da Disney”, como lhe chamou Otto Glória pela comicidade dos passinhos de corrida, vencia Portugal por 3-0 aos 25 minutos de jogo, esses eram os comentários que ouvia à minha volta: “olhem como eles correm, parece que são mais que os nossos e ao intervalo ainda vão trocá-los por outros iguais, isto não devia ser permitido!”

Mas a fé em Eusébio, aquele ‘sprint’ com bola pelo lado esquerdo até ser derrubado dentro da área, a frieza a marcar os penaltis, a tranquilidade corajosa, o cavalheirismo na vitória, a liderança natural e a classe insuperável tudo dissolveram, como uma barrela ao preconceito. A maior reviravolta da história dos campeonatos do Mundo, um recorde irrepetível!

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