O suicídio da social-democracia — onde está a Internacional Socialista? | Carlos Matos Gomes

Minhas amigas e meus amigos, com antecipadas desculpas por este texto fora de moda e de época. Os tempos de celebrações são de esquecimento e despreocupação. O mundo andará sem nós. Não parece fazer sentido falar da morte ou da hibernação, ou da hasta mais ou menos pública, ou de OPA mais ou menos hostil,  de uma certa ideia de governo dos povos, simpática, por sinal, e agradável, como é, ou foi a social democracia europeia no pós-guerra. 

Dentro de dias teremos um ano novo no calendário. O impasse em que estamos não terminará com a mudança de folha. Os meus desejos sinceros de Bom Ano Novo não têm, infelizmente, o poder de alterar a realidade. Este texto não apresenta boas notícias, e não é por eu ser um pessimista, mas porque estou como o homem velho no cimo da montanha de que falava Nietzsche em Assim Falava Zaratustra, vejo os vales e as nuvens no horizonte. Um Bom Ano e desculpem o incómodo. Há com certeza leituras mais animadoras e mais adequadas à época. Que raio de lembrança: a cataplesia da social-democracia no Natal!

Mas, boas festas para todos.

Carlos Matos Gomes


As burguesias: industriais, proprietários de bens de raiz, de rendimentos palpáveis, comerciantes regionais, altos funcionários foram o motor das sociedades capitalistas e demoliberais que tomaram o poder na Europa após as revoluções dos séculos XVIII em França, na Inglaterra e na Alemanha e no século XX na Rússia. Foram as classes médias europeias (as burguesias) que decidiram o colonialismo para se apropriarem das matérias-primas de África e que estiveram na origem de duas guerras mundiais.

O colonialismo e a Segunda Guerra estão na raiz da atual ordem no mundo. O colonialismo resultou das necessidades de matérias primas pela indústria da revolução industrial e a Segunda Guerra resultou das respostas das burguesias nacionais aos movimentos operários (os camponeses transformados em operários — proletários) que geraram o complexo fenómeno que por facilidade designamos comunismo. O nazismo foi uma resposta ao comunismo, a outra foi a social-democracia — os católicos referem a democracia cristã e a encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII e publicada em 1891, mas esta é mais uma “orientação” para limitar a exploração gerada pelo liberalismo capitalista do que para alterar a ordem social e a hierarquia das classes.

(Adivinho o comentário: compara o nazismo à social-democracia! — não, o que quero dizer é que o mesmo problema (no caso a revolta dos proletários) pode originar diferentes soluções políticas e que reconhecer a diversidade de opções é a base do pluralismo. Depois há soluções melhores, piores e péssimas.)

Partindo desses pressupostos, chegamos ao artigo de Alexis Corbiére no Nouvelle Observateur, L’Obs para os amigos e ao artigo de Novembro: Porque não sou social-democrata.

Continuar a ler