Homem Irracional, de Woody Allen

Um professor de filosofia atravessando uma crise existencial deixa de se rever nas teorias filosóficas que ensina. A liberdade de escolha entre a submissão moral e o dever, leva-o a dissertar sobre Kant e Kierkegaard, sem que o espectador se sinta perdido. Ao relacionar-se com uma aluna, decide corrigir uma injustiça, numa atitude que mude definitivamente o mundo.

Continuar a ler

Motel 29 com Pedro Almeida Vieira

Motel29_PAM

PEDRO ALMEIDA VIEIRA convida ANA PEREIRINHA; VÍTOR QUELHAS e JORGE SILVA.

Participação especial de PAULA CANDEIAS e ISAC MINERVAS (um de cada vez e a seu tempo, no devido contexto).

Pedro Almeida Vieira nasceu em Coimbra em 1969 e já fez muito e eventualmente há-de fazer mais. Tendo feito muito significa então que já tem no seu currículo alguns «ex»: ex-investigador universitário (ISA e ICS), ex-ambientalista (LPN e Quercus), ex-jornalista (Grande Reportagem e Expresso, entre outros) e só não é ex-engenheiro porque o título é vitalício por concessão de universidade pública (Évora), pese embora o dito curso (Engenharia Biofísica) já nem seja ministrado. É ainda ex-fumador (desde Agosto do ano passado). Não é, porém, aficionado de ex-votos.

Continuar a ler

Gnaisse – o novo romance de Luís Carmelo

Gnaisse_convite_LCVem aí o meu próximo romance. Vai ser lançado hoje, na Barraca (Cinearte / a Santos). Intitula-se ‘Gnaisse‘ e será lançado pelo Valério Romão e pelo Raul Henriques. É o meu 12º publicado. O tempo foge (e reencontra-se). Espero que toda/o(s) apareçam por lá. (Luís Carmelo)

Continuar a ler

Joaquim Pessoa – a página oficial

JoaquimPessoa-pianoUma oportunidade de acompanhar a obra de Joaquim Pessoa, poeta, letrista e artista plástico.

«… julgo que a poesia tem, também, a obrigação de palpar o mundo, de estar atenta aos sintomas e ajudar ao diagnóstico.»

Joaquim Maria Pessoa (Barreiro, 22 de fevereiro de 1948), conhecido por Joaquim Pessoa, é um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica português.

Continuar a ler

Mapa Mudo – labirinto poético

Mapa_Mudo_LC

Um devaneio alimentado durante trinta anos. O intricado credível de cidades imaginadas num planeta possível. Sem legendas ou sinalética, não existem vetores que conduzam o visitante recém-chegado. Todas as direções lhe estão abertas: a descoberta transforma-se uma experiência pessoalíssima. O tricotado destas cidades, onde podemos reconhecer ruas, bairros, zonas agrícolas, marinas, aeroportos, estádios de futebol e até uma base militar, não seguiu um plano premeditado. Como todas as cidades, o seu traçado foi crescendo, evoluindo de acordo com o gosto dos tempos. Zonas históricas foram arrasadas para dar lugar a novas e largas avenidas. Em exposição na galeria Abysmo. O autor considera a possibilidade de organizar visitas guiadas. A não perder.

Continuar a ler

Herberto Helder ( 1930 – 2015 ) – por Cristina Carvalho

HerbeHerberto Heder AlfredoCunharto Helder foi, é considerado um dos poetas maiores da segunda metade do século XX em Portugal. Personalidade misteriosa, aparentemente misantropo, seguramente avesso a prémios, aplausos e encontros, viveu e trabalhou por essa Europa fora, sempre desenhando a sua literatura poderosa em numerosas obras, livros de poesia e prosa.

Nos verdes anos frequentou o Café Gelo, onde paravam os poetas surrealistas e artistas de variados contornos. Que se saiba, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e na Faculdade de Letras, o curso de Filologia Românica, sem ter terminado nenhum destes propósitos.

Continuar a ler

Filipe Morato Gomes – Cronista de Viagens

fmgomes_bolg

Filipe Morato Gomes define-se como uma espécie de viajante profissional.

Tenho, atualmente, 43 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, estive em quase 100 países e estou certo de que essa experiência pode ser útil para os que, como tu, querem também descobrir o mundo. Estejas a dar os primeiros passos ou a desbravar novas e mais desafiantes geografias.
Quero, especialmente, inspirar-te.

Continuar a ler

O grande manipulador.

FD_Set_02Fernando Dacosta esteve no Muito Cá de Casa, em Setúbal, para nos falar do Estado Novo e das suas manhas, dos seus personagens e das suas máscaras.

Salazar, que se confundia com o Estado Novo que ajudou a formatar, foi um grande conhecedor da natureza humana e manipulador de vontades, sonhos e aspirações. Percebeu como ninguém a forma de se perpetuar no poder, para o que contou com o parelho repressivo do Estado e não só.

O país vivia entregue a dois ditadores: fora de S. Bento mandava Salazar, portas adentro mandava a D. Maria. Impiedosa, impunha o seu poder com igual terror sobre os que a rodeavam. Fernando Dacosta, jornalista da imprensa internacional, cai-lhe nas boas graças. Torna-se assíduo de S. Bento e através das suas conversas com a D. Maria, lá vai escutando algumas reações a Salazar.

Homem austero e rural, Salazar não tinha fé alguma na natureza humana. Confidencia: a diferença entre um rico e um pobre, é que o pobre não tem posses para exercer a sua maldade.

O Estado Novo, os seus momentos mais tensos e o homem que se “perpetuou” no poder (a própria queda da cadeira), estiveram a debate. Como manda a tradição: entre a verdade e a lenda publique-se a lenda.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, livraria Culsete, Ler de Carreirinha e BlogOperatório.

Citando Maria Teresa Horta

Azul Claro, é a cor mote que coube a Maria Teresa Horta nesta coletânea Do Branco ao Negro.

Quando se deita pela primeira vez com um homem, Raquel usa uma liga azul-clara, cor de um céu esvaído…

1977327_10201842620851645_5609680712669485005_nCompõe o corpo, sente prazer nisso, enquanto, centrada em si própria, tudo imagina. É ela a teia que atrapa. O seu corpo é um caminho, o trajeto mais curto, por onde eles descerão os lábios, a quererem ir matar a sede no poço sombrio do seu corpo candente e febril… Assume então a condição da arte do voo e a teia é a sua constelação.

Comia aranhas quando era menina, macilenta e dúctil, olhos azul do céu sumido no extravio da salvação, criança de suspeição e agrura sem alimentos de quase nada. Raquel, esculpindo a si mesma, enquanto personagem. Sabe que a loucura das mulheres sempre assustou os homens, não lhe é estranha a velocidade da aranha. O percurso mais curto de regresso a casa, a teia que nunca foi liberdade.

Continuar a ler

Cristina Carvalho na Alemanha

Numa iniciativa promovida pelo Instituto Camões e a exemplo de algumas06_6 visitas que já efetuou noutras Universidades da Europa, a escritora Cristina Carvalho estará em Berlim, Hamburgo e Leipzig, na Alemanha, entre os dias 5 e 9 de Maio, para um encontro com alunos de escolas e universidades.

Ao Das Culturas afirmou:

“O meu contacto com alunos estrangeiros é tão reconfortante como as conversas que tenho com alunos portugueses. Todos querem saber, todos interrogam. E fazem o mesmo tipo de perguntas que me são feitas aqui em Portugal, “como é ser escritora”, “como aparecem as ideias para escrever um livro”, “o que gosta mais de escrever”, “descreva-nos o seu dia a dia enquanto escritora a tempo inteiro”, etc, etc, ou seja, a curiosidade é universal. Da minha parte, enquanto surgirem os convites e sempre que eu possa, lá estarei, aqui, ali, mais longe, mais perto, mas sempre com orgulho e esperança de poder ser útil a todos os que me procuram.”

Cristina Carvalho, Abril 2014

KingsKings College, Londres, Março de 2013

Conheça alguns dos títulos da autora no Acrítico – leituras dispersas.

A Mulher e a Literatura – Encontro

ccs_08

Três escritoras e uma editora. Esta é a proposta doMuito cá de casa para este sábado, dia 8, dia Internacional da Mulher.

Em As Mulheres da Fonte NovaAlice Brito, oferece-nos o retrato de uma cidade conserveira a trabalhar para encher a despensa de uma europa à beira da guerra. Os homens no mar e as mulheres nas fábricas de conservas. Uma indústria de mulheres cheia de artes e segredos, cheia de lógicas próprias, perícias únicas e muita pulhice patronal. A riqueza fica nos bolsos dos patrões, a cidade e o país desperdiçam a oportunidade de melhorar o nível de vida das populações. As mulheres são operárias, donas de casa e mães. Pede-se-lhes ainda que sejam honradas. Os homens, sem direitos de cidadania, têm a autoridade definitiva sobre as mulheres e sobre elas impõem o que a sua educação machista lhes ensinou.
Ao longo do livro, ocasionalmente, uma voz desponta, uma voz contemporânea ao ato da escrita, ao nosso momento de leitura, que interroga a autora. Uma voz crítica, que vigia e chama a atenção: “Já disseste isso lá atrás…” Uma voz de mulher. Existe na escrita no feminino uma maior acutilância? Uma apurada consciência de combate?

Continuar a ler

Cristina Carvalho na Culsete

O universo da escrita de Cristina Carvalho move-se entre o fantástico e o romance de narrativa mais clássica. O conto marca também uma presença assídua, quer para adultos como na sua participação na coletânea Contos Capitais, quer para um público infanto-juvenil como em Tarde FantásticaAna de Londres, antes de ser romance, foi publicado como conto.

Dentro do fantástico, Lusco-Fusco é um breviário dos elementais e O Gato de Upsala a descoberta da idade adulta. Agneta e Elvis partem com a ilusão ver o Vasa, o maior navio de guerra até então construído e, quem sabe, subir bordo e conhecer terras distantes. O Vasa afundar-se-á diante dos seus olhos sem lhes levar o sonho de uma vida a dois que então começava. Homem e mulher completando-se como nas histórias mais antigas.

Continuar a ler

RTP – canal de cultura

Ensina_RTP

Ontem muita gente protestou: “A televisão não dá nada de jeito.” E, no entanto, a RTP Memória passou, em horário nobre, um excelente documentário sobre Rómulo de Carvalho/António Gedeão. Seria fácil complementar esta opção com uma ida ao RTP Play para ver uma entrevista da escritora Cristina Carvalho a respeito da biografia que escreveu sobre Rómulo de Carvalho, seu pai. Ou, ainda, escutar uma entrevista sua à Ana Daniela Silva, no À Volta dos Livros. Claro que um televisor com Internet e uma ligação WiFi, torna a experiência muito mais fácil.

Ou não. Na pesquisa “Ler Mais Ler Melhor Rómulo de Carvalho Cristina Carvalho” não se obtém a RTP Play como resposta, apenas nos surge o Youtube e o GoodReads. Podemos então ver o programa, mas fora da plataforma da RTP.

A RTP é o maior canal cultural de Portugal. A empresa tem a consciência disso e, por isso, criou o portal Ensina promovendo os seus conteúdos numa perspetiva didática. Por que não criar um portal RTP Cultura que ofereça informação sobre os programas culturais do dia, que a sua programação linear oferece, e complementar com o arquivo disponível no RTP Play?

Citando Bruno Vieira Amaral

As primeiras coi

“Da mãe, os filhos só vêem o que é mãe. Só conhecem a mãe. A mãe é sopa e o cheiro dos refogados. A mãe é a mão que esfrega as costas no banho, que escova o cabelo enriçado, que seca o cabelo molhado, a mão que afaga, que estraga. A boca que sopra a sopa, que sopra a ferida. Os filhos são os parasitas da mãe. Comem-lhe o coração que cresce da noite para o dia para que nunca lhes falte o pão-coração. O que é que a mãe quer? A mãe não quer nada. Quem tem mãe, tem tudo, diz a quadra, e quem é tudo não precisa de nada.”

Excerto de uma nota de rodapé do livro As Primeiras Coisas, de Bruno Vieira Amaral, Quetzal.

 

Cidade Proibida – nas livrarias.

CidadeProib

No ginásio que frequentava havia quem conhecesse Lisboa, uma cidade, diziam, «cheia de sol e de moscas», onde os bares fecham «praticamente de manhã» e as pessoas «vão de carro
à mercearia da esquina». Num bar de Old Compton Road também lhe disseram que os rapazes portugueses eram bonitos e, por norma, cooperantes.
– Cooperantes como? Como em Marrocos?
– Não é a mesma coisa. Os magrebinos são insistentes. Os portugueses empatam, raramente sorriem, preferem ser seduzidos… Quando estão no ponto, vale tudo.
– E são mesmo bons…?
– Gorgeous!

Eduardo Pitta revela-nos, numa linguagem áspera, sem nunca perder a elegância, uma realidade que muitas das vezes nos passa ao lado, ou não, mas que insistimos em não reparar, como se nos fosse proibido ver. Quando acreditávamos que certos tabus haviam caído em desuso, eis que, em pleno retrocesso civilizacional, assistimos ao regresso de todas as fobias. O jogo institucional dos capados impõe a sua visão de uma sociedade homofóbica.

O mais que fez (o gato Teddy) foi esperar três dias. Assim que intuiu o carácter definitivo da mudança, urinou sem complacência na porta do quarto do dono. Passava a ser o macho da casa.

Todos temos os nossos rituais de afirmação, mais ou menos exuberantes.

Cidade Proibida de Eduardo Pitta chega hoje, quarta-feira, às livrarias. Leitura obrigatória.

Citando John Wolf

Um porta-chaves que não é uma coisa nem outra. Porque a ranhura é um perigo. Parece insignificante, mas já vi muitos e bons homens desaparecerem por esse buraco que anunciam como fenda, a passagem estreita de um gargalo mentiroso. Daqui a umas horas, quando regressarem a casa, dirão algo que soa a absurdo: que nunca tinham ouvido falar. Que nunca tinham estado na presença de um homem que se revisita sem despudor. Que nunca poderiam imaginar uma língua cumprida à risca, instruída por problemas de consciência.

Contagem Descrente é o mais recente livro de John Wolf, um pungente testemunho de quem não se conforma. Numa lucidez verbalizada, estamos perante um ato de rebelião, um acordar de consciências mas só para não descrentes.

leia mais no Acrítico – Leituras dispersas.

Muito Cá de Casa com Agualusa

Agualusa2Quando a água cobre todo o planeta e a temperatura sobe, o homem é expulso da terra. E para onde vai o homem quando perde o chão? VAI PARA O CÉU.
Esta sexta-feira, na Casa da Cultura de Setúbal, foi noite de Agualusa. Quando lhe foi dada a palavra, usou-a como uma balsa salva-vidas, dessas que entram no seu mais recente romance, A Vida no Céu. Elevou-se, então, aos céus e convidou-nos a acompanhá-lo. Tranquilo, dotado de um sentido de equilíbrio, típico dos nefelibatas, Agualusa falou com desassombro, não evitando as perguntas do “politicamente incorreto”, ciente que o poder, em qualquer parte do mundo, não lê. Apenas se incomoda com as entrevistas.

O seu discurso tem o tom aveludado da escrita que imprimiu a este romance. Escritor do mundo, Agualusa, lança sobre a vida um olhar rico de experiência, temperado pela multiculturalidade de quem vive entre três países e o resto do mundo. O escritor, nas suas palavras, transformou-se em caixeiro-viajante dos livros, com todo o seu lado enriquecedor.
Foi uma sessão com a sala a transbordar, pessoas a assistir de pé, algumas à porta. Embarcámos nesta aventura e estendemos o nosso olhar sobre as lonjuras apenas possíveis de alcançar nas grandes planícies africanas. Fomos todos nefelibatas por uma noite.

Citando Cristina Carvalho

cc_anadelondres

(…) Por esta altura do dia em que já era noite, os teus pais dormiam, todos dormiam em todo o lado excepto tu que pé ante pé e com dedos de veludo abrias a porta da rua e deixavas entrar esse rapaz. Ele tinha subido a escada quase invisível e no maior silêncio. Entrava. Não havia o menor ruído, nem beijos, nem afagos, nada! Deslizavam, então, para a cozinha e fechavas a porta. Um risco! A vida era arriscada! Uma aventura de ovos mexidos com rodelas de chouriço e os restos do pão do jantar. Esfomeados! Vocês andavam esfomeados! Havia o risco do cheiro das rodelas do chouriço a fritar na pequena frigideira, havia o risco do ruído produzido pelos maxilares a triturar o pão já ressequido, o risco dos ovos a ser partidos, o risco do garfo a bater os ovos, o risco da vontade de comer, o risco da vontade de beijar, o risco da vontade de tu mexeres no corpo dele, o risco da vontade dele mexer no teu corpo, o risco dos dois corpos, o risco do desejo, o risco de o conter, o risco de o não conter, o risco do risco. A tua vida era um risco.

Cristina Carvalho em “ANA DE LONDRES” – publicado por Parsifal. No PNL (Plano Nacional de Leitura) para o ensino secundário (10º, 11º e 12º anos)

Leia a recensão no Acrítico- leituras dispersas.

 

Citando Ana Saragoça

Quando fores mae

Se engolires a pastilha, morres.

E de repente – glup! – engoli a porcaria da pastilha. Senti-a nitidamente descer-me o esófago e chegar-me ao estômago, cada vez mais comprida e rarefeita, colando-se-me às entranhas e paralisando-as. Nem tive força para gritar: ergui a cabeça de supetão e fiquei a olhá-las às duas, a minha mãe e a minha avó, de agulhas em movimento e a terem conversas insignificantes, sem fazerem a mínima ideia de que dentro de momentos EU IA MORRER! Tive tanta pena delas… Comecei a imaginar os seus choros e gritos, o meu funeral num caixãozinho branco (sim, com a minha idade as crianças iam a velórios e funerais e estavam familiarizadas com tudo aquilo), o cortejo infindável de vizinhos e amigos, os soluços, o meu enterro na campa onde já estava o meu avô…
Foi uma surpresa imensa encontrar-me viva e na minha cama na manhã seguinte. E passaram anos até voltar a atrever-me a comer uma pastilha.

Quando Fores Mãe, Vais Ver, de Ana Saragoça

Leia mais sobre este livro no Acrítico – Leituras dispersas.

Citando Sónia Cravo

images

Os olhos dela espelham um misto de nervos e humilhação e desordem. É um derrame infinito, é um desejo quase constante de estar noutro lugar qualquer, sinta embora que, nesta vida, há muito a suportar.
É uma vontade imensa de beber, beber também por isto. A governanta, sentada ao seu lado, está em silêncio; arruma a caixa de costura.
– Estou a … – balbucia Lia.
– Vou para o escritório, chama-me quando o jantar estiver pronto – interrompe Custódio, cortando pela raiz o que quer que ela fosse dizer.

Deste Lado do Mar Vermelho, de Sónia Cravo

Este é um livro sobre o medo. O medo da loucura, da normalidade, do segredo, o medo do medo. Neste livro existe um cão que se chama Pide e que é espancado. Este livro não é sobre o medo, é sobre a possibilidade de renascermos. (Acrítico – Leituras dispersas)

 

 

A Misteriosa Mulher da Ópera

A Misteriosa Mulher da ÓperaA Misteriosa Mulher da Ópera by Afonso Cruz

Quantas mortes pode sofrer uma mulher? Uma mulher que regressa, ainda que num estranho jogo de espelhos ou de memória, é uma mulher que se torna múltipla de si. Este livro, um quase policial, abre com o Roda que mantém a mãe, já cadáver, deitada na cama. Roda também se esqueceu do rosto da mulher por quem se apaixonou. Desesperadamente procura encontrá-la, já não consegue ser feliz, pois não reconhece a cara da felicidade mesmo que passe por ela na rua.

A misteriosa mulher da Ópera, mais do que um rosto esquecido por Roda, é uma má tradução de uma história que alguém já não está disposto a viver: a segunda oportunidade que, acontecendo, é repudiada. Tudo, afinal, se resume a viver uma vida boa.

Ler mais em Acrítico – leituras dispersas

Da Literatura – 9 anos

Da-Literatura

Da Literatura, o blogue de Eduardo Pitta faz hoje nove anos. Cidadania e cultura, porque uma não sobrevive sem a outra.

Um olhar atento, disposto a correr riscos e a grande literatura, enchem as páginas deste blogue. Em tempos de retrocesso civilizacional, eis um dos grandes resistentes. Há que não ceder à indigência dos tempos e lutar pela cultura e pelos valores humanos. Uma leitura obrigatória. Crescemos nestas páginas.

daliteratura.blogspot.pt

 

O Botequim da Liberdade

botequimEra uma mulher inigualável. Nos caprichos, nos excessos, nas iras, nas premonições, nos exibicionismos, na sedução, na coragem, na esperança. Cantava, dançava, declamava; improvisava, discursava, polemizava como poucos entre nós alguma vez o fizeram, o somaram.
(Botequim da Liberdade, de Fernando Dacosta)

Natália Correia surge aqui num retrato de corpo inteiro, com seu lado inquieto a vincar estas páginas. O Botequim foi local de gente assídua e, provavelmente, com o Procópio das últimas tertúlias de Lisboa. Local de comunhão com pessoas de espírito e ousadia porque se deve evitar a cultura desvivenciada, pois só quando se está muito na vida se pode transmiti-la aos outros.

Ler mais no Acrítico – leituras dispersas.

Adote um livreiro.

941510_10201236636060441_2046209000_n

Digo sempre, “vou à Bertrand”. Já ninguém usa a palavra “livraria”. A minha Bertrand fica ali, no centro comercial, mesmo ao lado do Pingo Doce, o que dá muito jeito.

Hoje, o conceito de livraria é esse: um espaço aberto para uma rua interior onde as pessoas desfilam em passo lento: o “passo de compras”. Quando entro não espero ser reconhecido por quem me atende, não espero uma sugestão ou uma troca de ideias. Isso não faz parte do modelo de negócio. Aliás, é suposto que, quem atende, interfira o menos possível na compra. A fidelização do cliente faz-se de forma asséptica, pela via do cartão de pontos. O contacto com o cliente e a divulgação são assegurados por correio eletrónico.

Continuar a ler

Muito cá de casa – Poesia de Miguel de Castro

De silencios

A poesia de Miguel de Castro (1925-2009) tem uma sonoridade e uma métrica como se tivesse sido escrita para ser escutada enquanto se lê. Frequentemente, os poemas deslizam a partir de uma imagem inicial, num processo quase narrativo, evoluindo ao longo da sua escrita, para nos brindar com um desfecho surpreendente.

Miguel de Castro assumia-se como o poeta do corpo, num magoado elegíaco erotismo ferido de “lembranças” (como referiu Fernando J.B. Martinho na Colóquio Letras). É sempre com elegância e paixão que trata o corpo da mulher.

No Muito cá de casa estivemos em convívio poético. Dois atores emprestaram um registo diferente à leitura destes poemas. António Galrinho privilegiou a métrica, mantendo intacta a estrutura do poema, enquanto o António Nobre seguiu a linha dos afetos, interpretando o poema e deixando o timbre da sua voz entregue às emoções. Grandes momentos.

Ontem, na Casa da Cultura de Setúbal, sentiu-se, profundamente, a poesia.

Ler a recensão a este livro no Acrítico – leituras dispersas.

De Silêncios e de Sombras – Miguel de Castro

A DOCE MADRUGADA

Os teus seios respiram sobre a cama
Adormecidos, nus…Que maravilha!
Teu corpo adolescente é uma ilha,
E tem no meio um bosque que me chama…

É seda a tua pele… E como brilha
Na luz do abajur que se derrama
No deserto tão branco dessa cama
Onde dormes e que ninguém partilha

Olho as pombas rosadas e quietas
De bicos agressivos como setas…
Eu mando embora os últimos receios
E poiso a boca em lume nos teus seios.

Toda nua, sorrias, acordada.
Tropeçava, sem luz a madrugada…

Miguel de Castro (19/11/1997)

Esta sexta, 29 de Novembro, no muito cá de casa, é apresentado o livro De Silêncios e de Sombras do poeta Miguel de Castro. Os atores José Nobre e António Galrinho vão ler poemas deste livro e a moderação é do António Ganhão.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete, Ler de Carreirinha e BlogOperatório.

O Príncipe Perfeito – Rómulo de Carvalho / António Gedeão

Hoje, dia 24 de Novembro, faz anos que nasceu Rómulo de Carvalho. Pela sua contribuição como pedagogo e divulgador da ciência comemora-se  o Dia Nacional da Cultura Científica.

Existem homens que são maiores do que o seu tempo e por isso lhes foi reservado a eternidade. Permanecem, lá onde os podemos rever: na sua obra, na sua integridade e no seu exemplo de vida. …não existe a ausência nem a distância. Nem saudade. Existe vida. Estão vivos na nossa memória e na forma como entendemos o mundo, a história, a ciência e a arte. Na humanidade acontecem homens assim, mas são raros.

A Rómulo de Carvalho aconteceu-lhe ser um desses homens, …foi um eclético da ciência. Foi, realmente, um Homem do Renascimento e bem ficou demonstrado através de todas as inúmeras e diversificadas atividades e que, para mim, constituem uma interrogação, uma grande interrogação: como é que uma pessoa desenvolve, ainda que num longo percurso de vida, tanta, tanta produção com tão diferentes interesses que vão desde a sua paixão – o dedicado ensino – à divulgação da ciência, à investigação da História de Portugal, à fotografia, à construção de móveis de madeira, à poesia, à escrita de dezenas e dezenas de obras.

Estas citações pertencem à biografia escrita por Cristina Carvalho, Rómulo de Carvalho / António Gedeão – Príncipe Perfeito.

Uma leitura que recomendo vivamente. Este livro faz parte do Plano Nacional de Leitura para a leitura acompanhada no Secundário.

Leia mais no Acrítico – leituras dispersas.

Bartoon II – Estreia no Teatro de Bolso de Setúbal

Bartoon TAS

O TAS, Teatro de Animação de Setúbal estreou ontem “Bartoon II”, inspirado nas tiras de Luís Afonso para o jornal Público e encenado por Carlos Curto.
“Após uma recolha e seleção de dez anos de publicações, foi estabelecida uma “trama” dramática, procurando respeitar em absoluto a essência e o espírito do autor.”

Os atores, caraterizados de forma particularmente feliz, contagiam a plateia com o humor típico do universo de Bartoon. Conversas dispersas, cheias de sarcasmo e com o particular sentido crítico português, onde uma ideia incompleta se pode sempre rematar com um definitivo: “Ah, pois!”.
A dinâmica em palco está bem conseguida e as representações colocam-nos, de forma convincente, perante os personagens das tiras criadas por Luís Afonso. Ficou-me apenas um reparo: a passagem entre quadros podia acompanhar melhor o ritmo do espetáculo.
Gostei particularmente da solução cénica encontrada para a abertura e fecho do espetáculo: brilhante.

Em cena no Teatro de Bolso de Setúbal.
Atores: Carlos Rodrigues, Duarte Vítor, José Nobre e Sónia Martins.

Saiba mais aqui.

Citando Richard Zimler

Sentinela“Ernie fazia-me festas no cabelo. A minha gratidão por esse simples carinho era tão grande que abarcava quarenta anos do nosso passado comum e tinha ainda espaço para o momento presente. Endireitei-me na cadeira e deixei que os braços delgados e fortes de Ernie me enlaçassem, pois agora estava certo de que eu era feito de coisas que nunca tinha desejado – coisas partidas a que não continuaria agarrado.”

A Sentinela, de Richard Zimler, é um policial surpreendente, lúcido e corajoso. Mais do que abordar a realidade portuguesa atual, Zimler deixa-nos um retrato profundo do ser humano, das suas fragilidades e do seu lado indizível. O caminho iniciático para a idade adulta, esse precipitar em poços profundos, donde somos resgatados pela luz de se ser único na vida de alguém.

Prémio PEN Clube de Ensaio 2012

Salazar e o Poder – A Arte de Saber Durar foi vencedor do prémio PEN Clube de Ensaio 2012.

Fernando Rosas deixa-nos uma visão lúcida e desprendida de atavismos morais. Bem documentado, este livro, espelha o trabalho de quem dedicou uma vida académica a este período da história de Portugal e sempre procurou saber como Salazar sobrevivera durante tanto tempo. Não o teria conseguido por recurso a um exercício excessivamente autoritário ou repressivo, mas por uma sábia conduta de quem conhece a verdadeira natureza dos portugueses e, tirando partido disso, se lhes impôs como líder desejado e providencial. Uma obra indispensável ao conhecimento deste período da história de Portugal que, nos dias de hoje, muitos gostariam de ver repetida.

leia mais no Acrítico – leituras dispersas

Palavras a Preto e Branco – Fundação José Saramago


1380019_656807491006415_1062777194_n

“Sobre o negro, uma escrita a luz.
Liberta-se em poesia o que se fixou no olhar.”

Com fotografias de José Luís Outono e o discorrer poético dos pensamentos de José Gabriel Duarte é lançado este sábado, na Fundação José Saramago, este “Palavras a Preto e Branco”.

É às 16:00 horas, sintam-se convidados.

A frase em citação é da minha autoria e encontra-se nas badanas deste livro.

 

O Carteiro de Fernando Pessoa

carteiro«Concordou em fazer-se passar por Fernando Pessoa, apreciando-se depois em frente do espelho no quarto: o bigode postiço, contido e severo, os óculos que lhe davam um ar digno e harmonizado com a sofisticação própria dos intelectuais; e, por fim, enfiado na cabeça, o estimável chapéu preto, que lhe acrescentava respeito e culta superioridade. Semelhante na compostura e privilegiado na aparência, assim estava o carteiro Bernardo com a sua boa inspiração, a projectar ilusões e a permitir excitações libidinosas à senhora Ofélia.»

«O Carteiro de Fernando Pessoa», de Fernando Esteves Pinto.

À venda nas livrarias.

Sem Rede – Casa de Teatro de Sintra

image002
Sem Rede, é uma peça levada a cena pela Companhia de Teatro de Sintra, baseado num texto de Ana Saragoça com encenação de João Mello Alvim. Três atores emprestam a sua interpretação a um quadro familiar. Um homem, uma mulher e uma jovem no fim da adolescência. Seriam uma família. Mas nos dias de hoje, são estranhos com disfuncionais laços de aproximação.

Uma Outra Voz, de Gabriela Ruivo Trindade – Prémio LeYa 2013

Foto Gabriela Ruivo Trindade

Reuniu ontem e hoje o júri do Prémio Leya, a que concorreram este ano quatrocentos e noventa e um originais, oriundos da Alemanha, Angola, Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França, Guiné-Bissau, Itália, Luxemburgo, Macau, Moçambique, Portugal, Reino Unido e Suécia.

O júri deliberou atribuir o Prémio ao romance «Uma Outra Voz», de Gabriela Ruivo Trindade.

O júri destaca a consistência do projecto narrativo que procura, através de várias gerações, e com o foco em personagens de grande força, sobretudo femininas, retratar a transformação da sociedade e dos modelos de vida numa cidade de província, no Alentejo. Merece destaque a originalidade com que o autor combina o individual e o colectivo, bem como a inclusão da perspectiva do(s) narrador(es) no desenho cuidado de um universo de vastas implicações mas circunscrito à esfera do mundo familiar ao longo de um século de História. Também a exploração ficcional de registo diarístico e a inclusão da fotografia dão um sinal de modernidade formal a esta obra premiada por maioria do júri.

Continuar a ler

Sem Rede – Casa de Teatro de Sintra

1376412_3562758603767_965410266_n

Sem Rede, é uma peça levada a cena pela Companhia de Teatro de Sintra, baseado num texto de Ana Saragoça com encenação de João Mello Alvim. Três atores emprestam a sua interpretação a um quadro familiar. Um homem, uma mulher e uma jovem no fim da adolescência. Seriam uma família. Mas nos dias de hoje, são estranhos com disfuncionais laços de aproximação.

Os adultos reencontram-se ao fim de vinte anos de separação, através dessa fada mágica que é o Facebook. Mas a ilusão do face não sobrevive ao tempo, como também aquele quadro é vítima dos tempos atuais: divórcio, a crise, os filhos marcados pela partida de um dos progenitores e pela falta de futuro. A mesma falta de perspetiva que faz os jovens encararem os conselhos do mundo adulto como frases gastas e anacrónicas. O conflito de gerações marcado, não por uma visão diferente do futuro, mas pela diferente percepção da sua ausência. Um texto cru e duro que se presta a uma época onde as cerimónias já não fazem sentido. A toalha sobre a mesa será sempre marcada por uma nódoa.

Tudo isto servido com um refrescante sentido de humor que a interpretação dos atores, Susana Gaspar, Nuno Machado e Alexandra Diogo, emprestam uma eficaz convicção. Estreou ontem na Casa de Teatro de Sintra e foi uma grande noite de festa com casa cheia. Até ao dia 27 não percam. Depois a peça parte em digressão pelo país.

(saiba mais aqui)

Prémio Urbano Tavares Rodrigues 2013

16003705O Rei do Monte Brasil, de Ana Cristina Silva é o vencedor do Prémio Literário de Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues, iniciativa conjunta da FENPROF e SECRE, e que se refere a obras publicadas por docentes em 2012.
 Este é um livro sobre dois homens caídos em desgraça. Dois homens que sofreram uma derrota pela posse de uma mesma terra, embora um deles tenha saído vencedor sobre o outro.
A escrita da Ana Cristina Silva precisa dessa imensidão do olhar, dos grandes espaços e do desassombro de mentes poderosas.
Neste livro, Gungunhana encontrou o seu lugar entre os grandes reis da nossa história.

Sem Rede, de Ana Saragoça em Sintra

Sem rede

A acção decorre em tempo real, numa noite de sexta-feira em casa de Alice e Isabel, mãe e filha. A mãe, há muito divorciada, resolve receber para jantar o namorado de há 25 anos, seu primeiro grande amor, mentor nas lutas estudantis, quem no fundo a moldou em termos intelectuais. A filha, totalmente desengajada em termos políticos, procura freneticamente uma saída no estrangeiro, de preferência sem ter de pensar muito. O jantar decorre num ambiente entre tenso e cómico, com a mãe a ajustar-se à nova imagem do velho amor e abandonando gradualmente todas as ideias de retomar o romance; a filha sentindo-se gradualmente mais atraída por aquele homem que pode quiçá salvá-la de ir limpar retretes para a Suíça; e Bruno jogando ambiguamente com ambas. Através das características das personagens e dos conflitos gerados, “sem rede” é uma reflexão sobre o Portugal actual, alimentado por um passado de sonhos frustrados e com as perspectivas de futuro ocultadas por um denso nevoeiro.

O bom e o mau ladrão

publico_fotoO Evangelho segundo Jesus Cristo, de 1991, abre com a descrição da cena do Calvário. O autor observa um quadro.

O primeiro personagem é o bom ladrão, de caracóis louros (como os anjos), semblante arrependido e sofrido. Saramago reconhece-lhe “uma dor que não remite”. Mais “retíssimo” será o mau ladrão, esse a quem o autor reconhece um “sofrimento agónico” e, portanto, mais puro, isento da trapaça de “fingir acreditar, a coberto de leis divinas e humanas, que um minuto de arrependimento basta para resgatar uma vida inteira de maldade”. A escrita de Saramago reveste-se deste olhar lúcido, um olhar que percorre, que perscruta o interior da alma humana e por vezes se detém num pensamento, para de seguida retomar o seu caminho. Parágrafos extensos que se demoram, presos à ideia que vão expondo, como se fossem adivinhando o fascínio que despertam no leitor.

Como narrador, Saramago aproxima-se da postura deste mau ladrão, sendo que, entre o bom e mau, “não há nenhuma diferença… pois o Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um deles é somente a ausência do outro.”

“Deus na obra de Saramago” é o primeiro tema para as Tertúlias de Lisboa.

A Mensagem, de Fernando Pessoa – edição comentada

84015c_c3d8058068d5f9252a4aa80bbb5ca683.jpg_srz_348_548_75_22_0.50_1.20_0.00_jpg_srzA Mensagem, obra maior da poesia contemporânea, é um dos textos essenciais da cultura portuguesa.
Esta edição de uma das mais famosas criações de Fernando Pessoa analisa detalhadamente cada poema, desvenda as palavras do poeta e clarifica a informação histórica que lhe está subjacente.
Elaborada de forma a possibilitar uma leitura acessível, quer ao aluno do ensino secundário, quer ao leitor mais íntimo da obra pessoana, Mensagem comentada por Miguel Real é uma obra obrigatória para se conhecer de forma mais profunda e rigorosa o maior poeta do século XX e um dos textos fundamentais da cultura portuguesa.

Edições Parsifal, 2013

Miguel Real oferece-nos uma leitura lúcida e inteligente deste belíssimo poema, respeitando-lhe a alma, permitindo ao leitor apreender, em toda a sua extensão, a simbologia e misticismo de que está impregnado. As ilustrações de João Pedro Lam dão ao livro um aspecto menos pesado, fazendo-nos abstrair do lado académico e mais formal desta obra.

Acrítico – leituras dispersas.

Ana de Londres – Transmission Bar

fr_160_size880

Ontem foi noite de festa no Transmission Bar e o palco encheu-se. Manuel San-Payo falou do seu trabalho de ilustrador, das suas cumplicidades com a autora Cristina Carvalho e de como este “Ana de Londres” lhe diz muito; ele que foi educado numa escola estrangeira para se preparar para o salto. Esse ato de partir, não só em busca de um futuro melhor, mas de deixar um país que o condenaria à guerra nas picadas de África. Salvou-o o 25 de Abril.

A arte do ilustrador trabalha imagens sobre as imagens naturais da escrita, aquelas que o leitor cria à medida que vai lendo. Trata-se de um trabalho de risco; o conflito pode surgir a todo o momento, perder-se o efeito de contribuir para a narrativa, dando-lhe uma outra dimensão.

O André Gago leu de improviso um trecho do livro, com a segurança dos mestres. A autora falou-nos da Ana de Londres e dos tempos da Ana de Londres. Aproveitou para deixar claro que não se trata de um livro autobiográfico.

O editor Marcelo Teixeira, da editora Parsifal, está de parabéns.

(Na foto, das esquerda para a direita, André Gago, Manuel San-Payo, Cristina Carvalho e Marcelo Teixeira)
Sobre este livro, a minha crónica no PNet Literatura

A dimensão literária de Deus em Saramago

Anes_Munir

As Tertúlias de Lisboa têm a honra e o privilégio de receber, no dia 12 de Outubro na Ler Devagar, o Sheikh David Munir e o professor José Manuel Anes para a sua sessão inaugural.

Os nossos dois convidados são crentes, ambos acreditam no Deus de Abraão, aquele que se deu a revelar nos primeiros cinco livros, fundadores das grandes religiões do Livro Sagrado. Saramago era ateu.

No entanto, a presença de Deus na obra de Saramago é inegável. Um Deus pessoal, dotado de características físicas e humores humanos. Um Deus a quem Saramago retirou a mão esquerda (no Memorial do Convento), ou emergiu numa crise existencial, como em Caím. Não sendo possível olharmos Deus no seu esplendor e glória, Saramago deu-lhe um rosto, criou-lhe uma dimensão literária e humana, segundo a tradição iconográfica católica. Podemos então dizer que Saramago era ateu de um Deus católico?

Esta dimensão literária de Deus é perfeitamente alheia ao Islão, cuja representação do sagrado ou do Profeta estão proibidas. A obra de Saramago gerou polémica entre a comunidade católica e passou incólume na comunidade islâmica.

Deus na obra de Saramago é o ponto de partida para a nossa primeira tertúlia. Seguramente, o cálice transbordará.

Acompanhe tudo aqui

 

Encontro de Blogues – Setúbal

encontro_blogsA Casa da Cultura de Setúbal vai receber os eminentes opinadores na próxima sexta-feira, dia 27. Um debate espreitando o desfecho da campanha eleitoral para as autárquicas.

“Os blogues são assim como jornais com grande possibilidade de expansão. Toda a gente pode ter o seu próprio meio de comunicação sem grandes investimentos financeiros. A importância destes meios de comunicação existe conforme a influência dos seus autores.
Mais recentemente, as opiniões postadas nos blogues, passaram a ter eco no facebook e twiter. Muitos políticos, actores ou gente do desporto, comunicam por estes canais a sua existência e enleios existenciais.
Esta edição muito cá de casa traz a Setúbal três autores de blogues que marcam o panorama deste meio de expressão. Tomás Vasques, do Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, é também comentador em canais televisivos e cronista no i. António Cabrita, do Raposas a sul, foi crítico de cinema no Expresso, é escritor e argumentista. José Simões é autor do muito concorrido Der Terrorist, sendo um atento analista da realidade que nos cerca.
Convidados. Apareçam.”

José Teófilo Duarte – BlogOperatório

 

A dimensão de Deus

Diálogo entre Deus e Caim. Deus interpela Caim:

“Que sabes tu do coração de job, Nada, mas sei tudo do meu e alguma coisa do teu, respondeu caim, Não creio, os deuses são como poços sem fundo, se te debruçares neles nem mesmo a tua imagem conseguirás ver, Com o tempo todos os poços acabam por secar, a tua hora também há-de chegar. O senhor não respondeu, mas olhou fixamente caim e disse, O teu sinal na testa está maior, parece um sol negro a levantar-se do horizonte dos olhos, Bravo, exclamou caim batendo as palmas, não sabia que fosses dado à poesia, É o que eu digo, não sabes nada de mim. Com esta magoada declaração deus afastou-se e, mais discretamente que à chegada, sumiu-se noutra dimensão.”

Caim, de José Saramago

As diversas dimensões onde Deus se some são um mistério para os homens.

Mais aqui, em breve.

A Segunda Morte de Anna Karenina

acsHOJE NAS LIVRARIAS

O mais recente romance da Ana Cristina Silva já disponível nas livrarias.

Cada livro que se escreve é uma tentativa de aproximar a voz individual das personagens e do autor à voz comum e desta maneira criar uma espécie de intimidade com o leitor. Hoje sai para as livrarias a Segunda Morte de Anna Karenina e estou um pouco nervosa porque não sei se a intimidade desejada será conseguida.

Ana Cristina Silva no Facebook

 

Debaixo de Algum Céu – Nuno Camarneiro

Num prédio as vidas arrumam-se como livros numa estante. São histórias fechadas em si mesmas, ou nem tanto, porque as histórias têm tendência de ir por onde não devem.

São as personagens incertas que habitam aquele prédio à beira do mar. Delas não conhecemos o seu passado, também não iremos conhecer o seu futuro. Afinal, “uma história são pessoas num lugar por algum tempo.”

A escrita de Camarneiro é de uma grande coerência literária, desdobra-se em imagens de grande beleza poética, arranca estes personagens ao seu quotidiano, aos seus pensamentos, à intimidade da sua casa. São gente com paredes à volta. Têm todos um pouco uns dos outros, sem contudo o saberem ou se darem a conhecer. São como o padre que resgata o Menino Santo e o apresenta à sua Igreja. “O farol aceso cumpre a luz aos barcos que dela carecem.”

(ler mais em Acrítico – Leituras dispersas)

O Chalet das Cotovias, de Carlos Ademar

Tudo o que tem de ser feito. Eis a moral indispensável ao bem da nação, a que ditou os comportamentos privados, públicos e policiais. Em plena sedimentação do Estado Novo, nos anos 30, acontece um crime perpetrado na figura de um advogado da praça Lisboeta. Fosse um mendigo, um marçano ou um empregado do comércio e os alicerces do regime não estariam ameaçados.

Os vícios privados das figuras regradas do regime não estariam em causa.

Os estratos sociais, os vícios privados e o que tinha de ser feito, surgem aqui numa narrativa que nos prende à sua leitura. Um registo sóbrio sem ideias pré-concebidas, sem endeusamentos dos que não alinhavam com o regime e uma versão torpe dos que o serviam. Quem servia, também se servia.

Quando vivemos tempos em que as classes ociosas se reúnem para brincar aos pobrezinhos, a leitura deste livro torna-se indispensável. Tudo isto aconteceu. Não estamos muito longe de que volte a acontecer.

(ler mais no Acrítico – leituras dispersas)

A Instalação do Medo, de Rui Zink

Houve tempos, ainda recentes, em que a humanidade parecia ter-se libertado do medo. Foi preciso então intervir. Os Estados começaram a instalar o medo de forma profissional e ao domicílio.

São os medos infantis e os medos adultos. O medo do desemprego, das convulsões dos mercados, da doença, das epidemias virais, da violência, da taxas de juro, do terrorismo e, finalmente, o medo que guardamos em nossas casas. O medo de cada um, não formatado, não homologado. O medo de contrafação.

A instalação do medo é um processo e já o estamos a viver. Ele precisa da nossa adesão e “é uma categoria”. Para o nosso bem e pelo futuro dos que já não têm futuro. Afinal, fomos nós que pedimos tempos neomedievais. A bem da nação.

(ler mais em Acrítico – leituras dispersas)

Agosto, de Rubem Fonseca

Existe na escrita de Rubem Fonseca um lado negro, uma crítica social que se torna intemporal. O Brasil de todos os tempos retratado num ritmo forte, em histórias de miséria humana que atravessam todas as classes sociais. Uma lista interminável de personagens sem que o leitor se perca. Vidas que se entrecruzam, como se o Brasil fosse um espaço exíguo, como aquelas celas da delegacia que Mattos insiste em ir esvaziando. Talvez o seu erro tenha sido o de julgar encontrar na lei os limites para uma sociedade em degradação.

«Um policial não pode gostar de poesia. Ele tem outros cadáveres com que se preocupar.»

(ler mais no Acrítico – leituras dispersas)

Ana de Londres, de Cristina Carvalho

Ana de LondresNos anos 60, Portugal vive a angústia de ver partir a sua juventude para a guerra. Fechado sobre si mesmo, é um país triste e retrógrado que contrasta com a explosão de vida na Europa.

Neste ambiente, Ana, com dezoito anos, não consegue realizar os seus sonhos. Contra a vontade dos pais que a empurravam para um futuro que não desejava, confiante no amor, parte para Londres. Na capital inglesa, planeia uma nova vida, independente e livre junto de quem mais ama, João Filipe, que fugira da Guerra Colonial. Mas estará Ana preparada para enfrentar tantas e tão intensas transformações?

Cristina Carvalho, escritora que a cada novo livro confirma uma originalidade admirável, surpreende com Ana de Londres, memória de uma juventude que escolheu a emancipação e ousou libertar-se das amarras de uma sociedade redutora. Uma obra intensa, ilustrada com a visão talentosa do pintor Manuel San-Payo e com um esclarecedor prefácio de Miguel Real, este livro apresenta não só um retrato impressionista de um tempo histórico que deixou profundas marcas individuais e colectivas na sociedade portuguesa, como constitui o retrato de uma geração que não teve medo de viver.

Nas livrarias a 5 de Setembro. Um livro das Edições Parsifal.

José e Pilar, um filme de Miguel Gonçalves Mendes

 Este filme acompanha o dia-a-dia do casal José Saramago e Pilar del Rio, mostrando-nos o processo criativo do livro a “A Viagem do Elefante”. Momentos do cotidiano, ponteados pelas reflexões de José Saramago, enquanto Pilar, como uma abelhinha, vai cuidando do dia-a-dia do casal, da agenda de Saramago e do próprio Saramago.

Existe uma forte união entre os dois, sem que um apague o outro. Disso mesmo nos dá conta o filme, mostrando Pilar nas suas próprias iniciativas, em diversas conferências e presenças na comunicação social.

Continuar a ler

Atração pelo lixo cultural

Cecilia Giménez, a octogenária que em Agosto de 2012 restaurou o quadro de Elías García Martínez, Ecce Homo, também conhecido como Cristo de Borja – que decora o Santuário da Misericórdia em Saragoça – tem agora, nessa mesma localidade, uma exposição de pintura aberta ao público.

O fatídico restauro, que destruiu por completo o quadro original, já atraiu 70 mil turistas e rendeu 50 mil euros em entradas. Esta atração cultural, baseada na redução ao absurdo e no gosto pelo muito mau, move milhares de pessoas.

Com tão pouco se contentam as pessoas. O puro lixo rivaliza com a melhor oferta cultural. Provavelmente teremos esta simpática anciã a representar Espanha na próxima bienal em Veneza.

(leia aqui o artigo do Público)

A Alegria da Criação – José Afonso

Alegria

Na Associação José Afonso, na Casa da Cultura de Setúbal, houve a “Alegria da Criação”. Uma iniciativa do José Teófilo Duarte em forma de dinamização cultural de um espaço, em jeito de uma instalação de pintura, uma palestra, um debate, um convívio… uma intervenção visual e o inesperado do “working in progress”. A verdadeira alegria da criação. Uma iniciativa que visa comemorar o 84º aniversário do nascimento de José Afonso.

Foi bom escutar o José Teófilo falar com paixão sobre José Afonso, de forma definitiva e sem apelo ao contraditório. Vamos ter a evolução deste trabalho e o Livro do Artista, com Luísa Tiago de Oliveira, Alice Brito e outros autores serão acrescentados ao rol. Até ao final do mês a edição estará concluída. Depois serão impressos 84 exemplares – referência aos 84 anos de José Afonso -, assinados por todos os autores, e colocados à vossa disposição por dez euros. A receita vai para a casa, ou seja, para a AJA.

Em breve, será criado um mural no Face para nos manter a par de tudo. E da próxima, traz outro amigo também.

À espera do Barracuda

Depois de 40 anos ao serviço da Marinha, o antigo submarino “Barracuda” vai entrar em missão civil a partir de 2013, constituindo um núcleo museológico aberto ao público, a instalar na zona ribeirinha do Farol de Cacilhas, em Almada.

O projecto conjunto da Marinha Portuguesa e da Câmara Municipal de Almada, com abertura ao público prevista para o início de 2013, foi firmado hoje em protocolo assinado em Lisboa entre o Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante Saldanha Lopes, e a presiden5te da autarquia, Maria Emília Neto de Sousa.

O “Barracuda”, que foi desactivado em 2009, vai ficar instalado em Cacilhas junto à Fragata D. Fernando II e Glória, constituindo um “pólo museológico” do Museu da Marinha que as duas partes acreditam “contribuirá para a dinamização histórica, cultural e turística desse importante património e, ao mesmo tempo, para a projecção de Cacilhas e Almada”.

Notícia do Público de 19  de Dezembro de 2011, por cá continuamos à espera que o projecto de concretize. O reportagem em vídeo é da RTP.

O Rei do Monte Brasil

“Hoje foi um dia excepcionalmente positivo porque soube que estás morto”. (Gungunhana quando soube da morte de Mouzinho de Albuquerque).

Este é um livro sobre dois homens caídos em desgraça. Dois homens que sofreram uma derrota pela posse de uma mesma terra, embora um deles tenha saído vencedor sobre o outro.

A escrita da Ana Cristina Silva precisa dessa imensidão do olhar, dos grandes espaços e do desassombro de mentes poderosas. Nunca nos sentimos tão próximos de Mouzinho como de Gungunhana. Se do primeiro nos despedimos numa frase “Depois, como se arma fizesse parte do meu braço, entramos juntos na morte.” Do segundo, debruçamo-nos sobre o seu leito de morte e recebemos com reverencial silêncio o seu último suspiro, deixando espaço aos velhos de África para que comecem a “trocar por palavras a minha (sua) vida, contando longas histórias em redor das fogueiras.”

Neste livro, Gungunhana encontrou o seu lugar entre os grandes reis da nossa história.

(ler mais no Acrítico)

A última fronteira – Lisboa em tempo de guerra

IMG_0572

De tempos a tempos, acontece sermos chamados a desempenhar esse papel de última fronteira entre a barbárie e a paz, entre a morte e a esperança. São ventos que sopram de uma europa empedernida, mergulhada nas trevas. Uma europa que se esquece do sentido de solidariedade e castiga.

Como se vivia em Lisboa por altura da Segunda Guerra Mundial, como foi receber essa vaga de refugiados (os que tiveram essa sorte) e como esses refugiados viram e retrataram a cidade que os acolhia.

O livro Lisboa, uma Cidade em Tempos de Guerra, da autoria de Margarida Magalhães Ramalho, serviu de ponto de partida para esta exposição que a autora organizou em conjunto com António Mega Ferreira.

Nesta exposição, patente no torreão poente da Praça do Comércio, recomendo vivamente que não percam a projeção de uma série de pequenos filmes; preparem-se para autênticas preciosidades.

Saiba mais aqui

Viagem Medieval Santa Maria da Feira


Em 1211, D. Afonso II herda um reino devastado por uma grave crise interna, intensificada pela oposição à sua sucessão. Ao contrário dos seus antecessores, talvez pelos seus graves problemas de saúde, não se envolve diretamente em grandes campanhas militares nem mesmo na conquista de Alcácer do Sal, deixando para outros o domínio da guerra. El-rei escolhe outras alternativas para impor a sua autoridade, revelando-se um estadista fora do comum, com uma grande visão política e estratégica, tomando decisões fundamentais e inovadoras na boa governação e consolidação administrativa do reino.

A realização das primeiras Cortes em Portugal, no primeiro ano de reinado, marca de imediato o rumo da política nacional, promulgando várias medidas destinadas a garantir o direito de propriedade. A promoção das inquirições por todo o reino, a criação do notariado e a sistematização de registos de chancelaria são ações que fomentam a supremacia da justiça régia e a autonomia do poder do monarca.

Continuar a ler

“Call me a liar” é banda sonora de uma série

The Norton´s Project com o seu single “Call me a liar” irá figurar na banda sonora de uma série de televisão que vai dar que falar.

A série vai-se chamar “Palavras para quê” e “Call me a liar” será a canção da personagem João Paulo Cabrita que será interpretada pelo actor Pedro Oliveira que é um dos protagonistas do Clip “Call me a liar”.

No vídeo, a entrevista conduzida por Germano Campos, na RDP Internacional, com os autores da nova série “Palavras para quê”.

Apresentaç​ão das obras História da Ciência na Univ. de Coimbra

UC

No próximo dia 26 de julho, pelas 17 horas, serão apresentadas, no Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho, as obras História da Ciência na Universidade de Coimbra (1772-1933) e História da Ciência Luso-Brasileira: Coimbra entre Portugal e o Brasil, editadas por Carlos Fiolhais, Carlota Simões e Décio Martins.

A apresentação estará a cargo de Fernando Seabra Santos.

Ler mais aqui

Teolinda Gersão na Casa da Cultura de Setúbal

Teolinda“Tocar na vida através da escrita, sabendo que vou queimar-me. Como se chegasse perto do sol e desaparecesse, sugada por um poço de luz negra.”

O mais recente livro de Teolinda Gersão, Cadernos II – Águas Livres, esteve em debate nas conversas do Muito Cá de Casa. Um livro que toca a vida em momentos dispersos do nosso dia-a-dia, com os seus inevitáveis personagens do quotidiano. São histórias que nos dizem muito, que nos atiram para o papel de testemunhas

Um livro assim presta-se ao debate. Da assistência desprenderam-se as preocupações dos dias de hoje e o debate foi inevitável. São assim as conversas do Muito cá por casa.

A Teolinda Gersão foi grande como a sua escrita. São trinta anos de cadernos e advinha-se um Cadernos III. Quando nada é definitivo – até aquela professora primária que odiámos anos a fio e que somos, mais tarde, capazes de recordar com carinho – que sentido faz escrever uma biografia? Resta-nos sermos inquietos, para sempre.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.

Teolinda Gersão na Casa da Cultura de Setúbal

1012204_10200330228120809_459363711_n“São Cadernos espelhados uns nos outros, de algum modo autónomos, embora estejam interligados. Vêm de vários tempos, circunstâncias e lugares, podem encaixar-se como matrioscas ou fugir em todas as direções como fagulhas. Formarão, eventualmente, no fim, uma constelação? Não tenho nenhuma certeza.”

São registos de geometria variável, sem a rigidez cronológica das memórias ou a objectividade do “eu” biográfico. “A liberdade de uma escrita solta, ao sabor do acaso”.

Esta sexta, Teolinda Gersão apresenta o seu mais recente livro nas conversas Muito cá de casa, na Casa da Cultura de Setúbal. António Ganhão, do PNet Literatura, vai moderar.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.

A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov

Este é o primeiro romance escrito em inglês por Vladimir Nabokov, também ele de origem russa. Provavelmente, tal como Sebastian Knight, lhe aconteceu ficar “escarlate quando, por algum defeito de elocução, um ouvinte mais obtuso não compreendia bem uma frase sua.”

Advinha-se um lado autobiográfico nesta obra. Nabokov não entrega o papel de narrador a Sebastian Knight, mas a uma terceira pessoa; não um completo estranho, mas um seu meio-irmão. Estabelecendo assim um triângulo de cumplicidades. Talvez Nabokov se tenha desdobrado nos dois personagens: Sebastian e o seu meio-irmão, o narrador do livro.

Ler mais em Acrítico – leituras dispersas

Um Rapaz a Arder – Casa da Cultura de Setúbal

Pitta_02

Está um rapaz a arder
em cima de um muro,
as mãos apaziguadas.
Arde indiferente à neve que o encharca.

Outros foram capazes
de lhe sabotar o corpo,
archote glaciar.
Nunca ninguém lhe apagou esse lume.

(Archote Glaciar, EP 1998)

Ontem, na Casa de Cultura de Setúbal, as conversas muito cá de casa, receberam Eduardo Pitta e o seu livro mais recente Um Rapaz a Arder. O ator José Nobre interpretou poemas do autor com tal força que se convenceu, a dada altura, ter repetido dois versos. Atentos, a sala e o autor, tranquilizaram-no. Não, estava perfeito.

Eduardo Pitta falou-nos de Moçambique e das razões da sua saída, do seu livro, da sua poesia, dos escritores que foi conhecendo, de alguns livros que vieram a propósito, do Meio, do nosso retrocesso social. Sempre com uma impecável elegância, sem saudosismos serôdios e com um saudável sentido de humor. Não se furtou às questões identitárias que abordou com a naturalidade de quem fala de si e das memórias de um percurso de vida.

Da audiência vieram perguntas, que o Cidade Proibida se encontra esgotado – o único romance do autor, escrito numa linguagem desabrida e crua. Fátima Medeiros da livraria Culsete quis saber da escrita do “eu” e das suas concessões à ficção. Abordou ainda a clareza da obra ensaísta do autor.

Não houve fogo, mas ninguém apagou este rapaz a arder.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.

O Suplente – dia 3 de Julho na FNAC

995672_563230987054095_986964861_n

Este livro fala-nos da dor da perda. Da dor para a qual não existe um suplente no banco, pronto a entrar para repor o equilíbrio. Este livro não é sobre futebol.

Com um impecável sentido de humor e não menos brilhante sentido de observação, Rui Zink mostra-nos como os portugueses discorrem dobre os fatos fundamentais da sua vida com o recurso a frases feitas. Como se estas frases fossem um arremedo para a nossa falta de cultura. Uma incultura que nos impede de refletir ou de nos expressarmos pelas nossas próprias palavras.

O autor confidencia-nos ser uma pessoa dividida entre a pulsão artística e a intervenção cívica. Este livro é uma proposta assertiva que se mantém pertinente treze anos após a primeira edição.

 

Rómulo de Carvalho/António Gedeão – Príncipe Perfeito

Existem homens que são maiores do que o seu tempo e por isso lhes foi reservado a eternidade. Permanecem, lá onde os podemos rever: na sua obra, na sua integridade e no seu exemplo de vida. “…não existe a ausência nem a distância. Nem saudade. Existe vida.” Estão vivos na nossa memória e na forma como entendemos o mundo, a história, a ciência e a arte. Na humanidade acontecem homens assim, mas são raros.

Esta não é uma biografia escrita de uma forma convencional, um conjunto de eventos enumerados por ordem cronológica ou alinhados pela sua relevância. Um objecto de estudo. Esta é uma biografia escrita por quem arrisca, quem arrisca tudo e muito, sem perder a noção do lado simples da vida: “Eu percebo-o. Não porque tenha o mesmo pensamento, mas porque o percebo. Apenas.”

Não existem obras definitivas. Esta biografía escrita por Cristina Carvalho, como é característico da autora, vai para além do cânon imposto a este género literário. Funde, numa dimensão única, a ficção com a memória, o sonho com a vida e celebra a profunda admiração e o amor por esse homem ímpar que também aconteceu ser seu pai.

(ler mais no Acrítico)

Um rapaz a arder na Casa da Cultura de Setúbal

conversa-Pitta

“Um rapaz a arder” de Eduardo Pitta, vai ser o tema das conversas Muito Cá de Casa a decorrerem esta sexta, dia 28, pelas 22:00 na Casa da Cultura de Setúbal.

Eduardo Pitta, poeta, romancista, crítico literário e ensaísta vai apresentar o seu último livro. As memórias de um percurso de vida de 1975 a 2001 que acompanham os principais eventos do nosso tempo, balizados entre a independência de Moçambique e o 11 de Setembro de 2001. Tudo sem saudosismo e com a elegância de um relato depurado, o essencial de um olhar estranho ao Meio.

O ator José Nobre participa com a leitura de excertos de “Um rapaz a arder” e de alguns poemas do autor. António Ganhão, do site PNet Literatura, colocará algumas perguntas e tentará moderar a conversa entre os presentes.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.

Showcase dos Norton’s Project – Semana da Música ECI

NP

Na abertura da Semana da Música do El Corte Inglés, Os Norton’s Project brindaram-nos com a maturidade musical dos seus temas. A actuação percorreu os principais temas da banda, tendo o saxofone, na ausência da guitarra eléctrica, chamado a si o papel de segunda voz.

Canções com letras escritas em inglês que nos falam da vida, sem nunca esquecer o seu lado romântico. Aqui o atalho para um excerto do vídeo da actuação da banda no ECI, a balada My Kind of Woman.

Aqui o atalho para escutar mais temas desta banda.

Ousar cultura…

O diretor artístico da Casa da Criatividade de São João da Madeira, Fernando Pinho, está preparado para mostrar que a cultura é sustentável através de um modelo de gestão em que partilhará lucros e assumirá prejuízos.

Para trás deixou uma vida de programador cultural em Londres, onde estudou no Guildhall School of Music and Drama e onde colabora com a Royal Opera House, o Royal Albert Hall e o London Transport Museum.

A câmara de São João da Madeira estipulou um teto para o valor a suportar em caso de prejuízo. Este gestor/programador cultural tem parte do seu salário indexado aos lucros da Casa da Criatividade.

Para se inovar é preciso ousar e para se ousar é preciso cultura.

(ler mais Público)

Norton’s Project na semana da música do Corte Inglés

Norton'sPorject

The Norton´s Project abre a semana da música no El Corte Inglês. Estão todos convidados para vir ouvir e ver The Norton´s Project ao vivo!!

Um Piano, um Saxofone, um Contrabaixo, uma bateria, um Violoncelo, uma guitarra eléctrica e uma voz! Assim são os The Norton´s Project.

Mais informação sobre este evento aqui

Ricardo Crista na Casa da Cultura de Setúbal

No ateliê - Crista 2

NO ATELIÊ DO ARTISTA | António Jorge Gonçalves vai ter os seus desenhos expostos – Bem dita crise -, na Casa da Cultura, até à próxima quinta-feira. Sexta-feira abre nova exposição. Ricardo Crista mostra pinturas recentes. Assunto sério. Voltaremos a falar de Ricardo e do seu trabalho. Mas ficam para já avisados: estas pinturas são para ser vistas.

(in www.blogoperatorio.blogspot.com)

Crime e Castigo na Casa da Cultura de Setúbal

Muito cá de casa, do José Teófilo Duarte, recebeu o Pedro Almeida Vieira, para a apresentação do seu livro Crime e Castigo, o povo não é sereno, seguido de um debate sobre a pena de morte.

O moderador António Ganhão (colaborador literário do PNet Literatura), realçou a importância do romance histórico num país cuja história (sobretudo durante o Estado Novo) foi responsável por gerar toda uma série de mitos. O romance histórico ao contextualizar os factos na sua época e, dentro de uma lógica temporal, não os submetendo à moral dos dias de hoje, transforma-se num grande desfazedor de mitos.

A jurista e escritora Alice Brito falou-nos da violência do estado que deve ser sempre balizada, sendo a Constituição o mais forte instrumento da limitação desse poder. Falou-nos de justiça e de como a pena de morte, sendo irreversível, não é solução para o combate ao crime.

Pedro Almeida Vieira deixou-nos a sua reflexão sobre a maldade humana e como, cedendo nós a um Estado que nos garante mais segurança à custa dos nossos direitos, estamos a caminhar para um retrocesso civilizacional.

Foi uma sessão participada não tendo havido lugar a castigos finais. Para os que faltaram, o maior castigo foi mesmo o de terem perdido o debate.

Setúbal, 31 de Maio de 2013
Na foto, da esquerda para a direita, Pedro Almeida Vieira, António Ganhão e Alice Brito.

Revolução Paraíso

Revolução Paraíso é o primeiro livro de Paulo M. Morais. Um relato bem documentado dos dias que se seguiram à Revolução do 25 de Abril. Estamos perante um fresco desse período num olhar feito a partir dos jornais, a começar pela Revista de Portugal que pretende ser a voz do povo e dos seus afetos, recusando-se ser o eco das politiquices que invadem o resto da imprensa. Dar voz ao povo era a sua missão; mas, pelo caminho, deixa cair a questão colonial por imposição do seu proprietário.

O clima revolucionário lança a agitação no seio do jornal. No seu pequeno corpo técnico e redatorial instala-se a mudança imposta pelos ventos da revolução. Um operário, Adão, operador da grande máquina de linótipo, transforma-se no mais inesperado de todos os personagens.

(mais no Acrítico)

Pedro Almeida Vieira na Casa da Cultura de Setúbal

Nós Cá por Casa PAV

A história de Portugal, na versão do Estado Novo, estava reduzida a uma versão muito simplificada, ao nível da ladainha popular, apropriada à sua divulgação por um povo analfabeto.

Dos reis, já muito se sabia se conhecêssemos os seus cognomes: D. Afonso Henriques, o conquistador; D. Dinis, o lavrador; D. João II, o príncipe perfeito.

Uma história de fácil apreensão e que contribuía de forma eficaz para a construção da identidade do homem novo português.

Salazar, em entrevista a António Ferro, defende como prioridade sobre o ensinar toda a gente a ler, a formação das elites que enquadradas pelas massas atacariam os verdadeiros problemas do país.

Para o povo, o ensino da história numa versão infantilizada era mais do que suficiente. As elites formavam-se nas universidades, aí se cuidaria da nossa história.

Continuar a ler

Apresentação do “Crime e Castigo”

Hoje, no Âmbito Cultural do El Corte Inglés foi dia de Crime e Castigo. O último livro de Pedro Almeida Vieira foi apresentado por Francisco Teixeira da Mota.
O jurista alertou-nos para o facto de no século XVIII, no Ancien Régime, não existir na justiça uma ideia de socialização, de ação preventiva ou punição proporcional ao crime praticado.

O castigo refletia o estatuto de quem era atingido, sendo assumido como uma celebração do poder instituído, arbitrário, com confissões arrancadas à base da tortura e sendo aplicado de forma quase ritual. A ideia da reparação do mal causado ou da reintegração do condenado eram inexistentes à época.

Pedro Almeida Vieira reconheceu que o seu livro aborda a maldade humana e de como, pontualmente, podemos incorrer em retrocessos civilizacionais. Apesar da brutalidade de alguns castigos, o autor confessa o imenso prazer que lhe deu escrever este livro. Um livro sobre crimes e castigos num país onde o povo não é tão sereno como parece.

A Cidade de Ulisses, de Teolinda Gersão

Um convite para uma exposição sobre a Cidade de Lisboa, abre o caminho para um diálogo interior, pretexto para o personagem se revelar através das suas memórias que se fundem com a história dos locais dessa vivência. Lisboa, cidade criada por Ulisses, oferece essa dimensão onírica e intemporal.

Podia ser outra cidade qualquer, mas só esta foi criada por Ulisses.

(in Acrítico)

Crime e Castigo – O povo não é sereno

Crime e castigoA Sala de Âmbito Cultural do El Corte Inglés (7º piso), em Lisboa, acolhe dia 14 (terça-feira) às 18:30, o lançamento do mais recente livro do Pedro Almeida Vieira. A apresentação desta obra estará a cargo do advogado Francisco Teixeira da Mota.
O livro, editado pela Planeta Manuscrito, constitui a continuação de narrativas sobre crimes históricos (depois de «Crime e Castigo no País dos Brandos Costumes», publicado em 2011), desta feita abordando crimes económicos, rebeliões, motim e assassinatos (ou tentativas) de figuras de Estado. Ou seja, o povo português afinal nunca foi sereno…

Apareça, o convite está feito..

O repórter do Kiribati

O tema do Repórter do Kiribati é a verdade, o que tratando-se de uma obra sobre um jornalista (John Slide) deixa logo antever um fino sentido de humor.

Desde o início que o autor considera ser este um “excepcional romance!”, uma “obra-prima”, crença que a meio do livro já vai em “tendencial obra-prima” ou mesmo “romance de grande fôlego”, para, na página 189, já ser referido apenas como um “romance”. Este tipo de considerações, em que o livro é muito rico, oferece-nos a possibilidade de uma leitura alternativa.

Com efeito, vivemos tempos em que todos os escritores dão cursos de escrita criativa. Este Repórter de Kiribati é um fabuloso manancial de técnicas para a escrita de um romance que seja uma obra-prima ou, no mínimo, um romance de grande fôlego ou até, apenas, um romance. O livro está dividido em capítulos temáticos: As personagens, Os locais, Namoro casamento e uniões de fato, etc…

O leitor encontrará neste Repórter do Kiribati a feliz coincidência de ler um romance muito bem conseguido, repleto de sentido de humor e, simultaneamente, dispor de um manual de escrita criativa. Depois de o ler qualquer um estará preparado para escrever um bom romance ou, em alternativa, assassinar uma boa história que poderia dar um bom romance, quiçá uma obra-prima. Atreva-se.

(in Acrítico)

Fernando Rosas no Muito cá de casa

O professor Fernando Rosas apresentou o seu último livro “Salazar e o Poder – A arte de saber durar”, na Casa da Cultura de Setúbal.

Segundo o autor, o livro divide-se em três partes: o que pensava Salazar sobre a política (caindo o mito que Salazar vivia acima das questões políticas), como chegou ao poder e finalmente como conseguiu manter-se no poder durante tantos anos.

O paralelismo com a situação actual era inevitável. Fernando Rosas citou o “Eu não fui eleito para coisíssima nenhuma” de Vítor Gaspar para ilustrar o primeiro degrau de entendimento da política por parte do Estado Novo. Para Salazar o primeiro nível político era o da governança que era técnico e devia ser confiado aos técnicos, dispensando-se a participação dos cidadãos (que não tinham de ser ouvidos) ou dos seus representantes (o parlamento não se devia preocupar com este tipo de assuntos).

Também Vítor Gaspar se considera um “técnico em exercício” fazendo o que é preciso para o bem da nação, mesmo que esta nação não o entenda e, até mesmo, rejeite em uníssono essas políticas – esquecendo-se que, em democracia, o governo é uma emanação da vontade popular expressa nas urnas.

Foi uma lição de história, estruturada, bem fundamentada e com sentido de humor que assistimos ontem na Casa da Cultura de Setúbal.

O amante da China do Norte, de Marguerite Duras

Ele diz:
-Vou magoar-te.
Ela diz que sabe.
Ele diz também que às vezes as mulheres gritam. Que as Chinesas gritam. Mas que só magoa uma vez na vida, e para sempre.

Neste livro existe uma palavra a partir da qual se ergue toda a história. Essa palavra é «criança», a criança. A paixão de um adulto por uma menina. A palavra criança enche este relato de inocência.

Um chinês adulto apaixona-se por uma menina. É rico e ocioso. Dedica-se às mulheres, ao jogo e a fumar ópio. “Não fazer nada é uma profissão. Muito difícil.” Um ambiente dócil e intencionalmente indolente, sem julgamentos. Era comum os chineses gostarem “das meninas pequenas”.

(in Acrítico)

Contos Capitais

Neste livro, como uma página em branco, confiou-se uma cidade a cada escritor. Trinta escritores para trinta contos, para trinta capitais, um mundo de Contos Capitais.

São histórias que crescem dentro de nós, espreitando o momento em que se soltam e ganham vida própria.

Tantos e tantos outros contos a reinventar outras tantas capitais, a atrever-se na sua escrita e na forma de ilustrar essas narrativas. A experiência capital de cada escritor. Com este livro a Parsifal estreou-se como editora. Está de parabéns.

(mais in Acrítico)

 

As palavras do corpo

O lado interdito e incómodo do nosso corpo liberta-se pela palavra. Maria Teresa Horta resgata-o num banquete de partilha onde o amor assume o seu lado carnal. As palavras são esse corpo desvendado sem falsos pudores. Onde o poema se despe e se deita ao nosso lado. Poesia maior e de maioridade que resgata para todo o sempre a mulher (poeta) de qualquer laivo de menoridade; morreram as poetizas, nasceu a poesia completa, com o seu lado homem e o seu lado mulher.

(in acrítico)

Revolução Paraíso

Revolução Paraíso foi oficialmente apresentado na FNAC Chiado.

Mário de Carvalho referiu-se aos três planos em que esta obra se desenvolve, o histórico, o da acção dos personagens e o onírico (que está para além do sonho de um Portugal melhor, aportado pelo 25 de Abril). Encontrou características picaras nos personagens e lançou perguntas em jeito de desafio ao autor.
O autor respondeu com humor, embora não tenha corrido o risco de se afastar do que tinha preparado como sua apresentação, e deixou-nos uma visão, não da sua obra, mas de como esta nasceu e cresceu com ele. Paulo M. Morais tinha dois anos no 25 de Abril e, claro está, não soube responder à pergunta vinda da assistência: “Onde estavas tu no 25 de Abril?”.
Como se constrói um livro sobre um período histórico tão recente e do qual não se têm uma memória? O autor teve a sorte de receber um álbum de recortes das mãos da sua avó. Construiu assim, sobre o relato dos outros, as suas próprias memórias. Será esse o plano onírico de que falava o Mário de Carvalho? Não sei, mas talvez seja bom ler o livro primeiro antes de me sentir tentado a chegar a alguma conclusão.

Casanova em Setúbal.

Casanova

No Muito cá de casa, na Casa da Cultura de Setúbal, foi noite de Casanova.

António Mega Ferreira encontrou seis cartas que Casanova escreveu – em francês – a partir de Lisboa, no ano de 1757 (dois anos após o terramoto) e acrescentou-lhes umas brevíssimas notas de rodapé, dando-lhes corpo de livro.
Foi disso e muito mais o que se falou ontem; ou o convidado não fosse o AMF.

A sessão abriu com um interlúdio musical a que se seguiu a leitura parcial de uma dessas cartas, num momento de extrema elegância – digno dos mais nobres salões da corte – abrilhantado pelo ator José Nobre.

Em 1998, afogueado com a insistente pergunta sobre os seus projetos a seguir à Expo 98 (que liderou), AMF respondeu ter como propósito traduzir a “Histoire de ma vie” de Giacomo Casanova. Não o chegou a fazer, mas acrescentou-lhe estas seis cartas.
O romance “Cartas de Casanova, Lisboa 1757”, a que o AMF deu uma forma epistolar (tão ao gosto do séc. XVIII), preenche um hiato de três meses, em que nada é referido na “Histoire de ma vie”.

Casanova só podia ter estado em Lisboa e ter escrito aquelas seis cartas (em francês) que, agora, com brio e desenvoltura de homem de filosofia, AMF, deu ao prelo.

Como sempre, no Muito cá de casa, o José Teófilo brindou-nos com uma noite animada, digna de um renascimento português, onde se falou de literatura e do seu processo criativo, se evocou Bocage…

E mais não digo. Tivessem aparecido.

O Assobiador, de Ondjaki

Numa aldeia de velhos, no interior de Angola, onde se observa um estranho ritual de adoração dos burros, chegam dois personagens vindos de fora. O caixeiro-viajante e o assobiador.

O primeiro espreita a aldeia com a consciência de alguém “treinado nos campos da vida”,  “vendedor de bugigangas, de objectos para distrair ou encantar”, e o segundo assobia um choro como se tivesse por missão exultar a aldeia a um ritual pagão, catalisador de todas as forças, ele, o assobiador, “ o distribuidor enganoso e exclusivo que a tristeza arranjara para mostrar à Humanidade apenas a sua face bela”.

ler mais na PNet

Ana María Matute, por Cristina Carvalho

A literatura é algo que, usando palavras, não se pode definir nem soletrar. É uma expressão artística ambiciosa, que usa sangue e corpo, que tem de ser livre – como todas as expressões de arte ou como a própria vida –

Deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de água, como um estremecer de folhas de árvore.

Quanto a mim, o papel da literatura não é explicar o mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais, histórias experimentadas, visitas, efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e desespero. As palavras escritas devem formar um todo compreensível, – um romance, um conto, um poema. As palavras que servem as ideias, têm de ser dádiva. As palavras não podem viver subterraneamente de modo incompreensível ou navegar ao sabor da moda; as letras não devem agrupar-se em palavras que não tenham significado. Isso não é bom. Não é essa a interrogação que a literatura precisa. Não é isso que perdura. Não é isso que prende. E está à vista de todos.

Ana María Matute enche-me de orgulho como mulher, como escritora, como exemplo de conhecimento, de experiência, de sabedoria, de humanidade e celebro-a em todas as suas vertentes e capacidades. Exalto-a e elevo-a. Desejo-lhe, com toda a admiração e a par desta complexa e temporária passagem pelo planeta Terra, muita saúde e as maiores felicidades em tudo, na sua condição humana e na sua literatura.

ler mais no PNetLiteratura (texto de Cristina Carvalho)

Rómulo de Carvalho / António Gedeão, de Cristina Carvalho

Esta não é uma biografia escrita de uma forma convencional, um conjunto de eventos enumerados por ordem cronológica ou alinhados pela sua relevância. Um objecto de estudo. Esta é uma biografia escrita por quem arrisca, quem arrisca tudo e muito, sem perder a noção do lado simples da vida: “Eu percebo-o. Não porque tenha o mesmo pensamento, mas porque o percebo. Apenas.”

É esse entendimento que Cristina Carvalho nos transmite neste livro sobre Rómulo de Carvalho, também seu pai. Usando todos os seus recursos de ficcionista ousa, de forma destemida, construir a imagem do homem que muito admirou e muito amou. Fá-lo, por vezes, em registo de miniconto, como se um ritmo próprio (e misterioso) lhe ditasse a ordem pela qual esses eventos lhe surgem na memória.

texto integral no PNet

Do outro lado do espelho, de Maria João Martins

Poesia de Maria João Martins

O meu primeiro livro de poesia. Não o primeiro que li, mas o primeiro que comento neste espaço.

Habituei-me à poesia da blogosfera, que é diferente da poesia em papel. Todos os poemas deviam ser lidos em papel, e de preferência em livro. Não é possível ler-se poesia sobre um vidro que nos pode reflectir. A poesia precisa de papel, de uma página que se vira, do cheiro a tinta impressa, do peso de um livro que nos ocupa as mãos.

Hoje, a poesia da bloga saltou para o papel. Ganhou força. Num livro em que a capa se reflecte na contracapa, sendo espelho de si mesmo, fechado sobre si mesmo. Não espreitamos o que está do outro lado do espelho, simplesmente o folheamos e lemos o seu interior. E descobrimos silêncios, partilhas e a imensidão que sendo humana nos estranha. Interroga-nos com a força do verbo e encanta-nos com a sua melodia.

sabendo-me…
simples poça de água
berço das gotas de chuva.

Seja eu esse silêncio em partilha que encontro na poesia da Maria João. odagirbO.

15 de Maio de 2011

O Homem do Turbante Verde, de Mário de Carvalho

“Quanto ao professor, estava manifestamente a mais nesta fase da expedição e todos pareciam concordes com isso.”

A trama parece, desde o início, revelar o seu desfecho final, como se no plot traçado não tivesse implícito um volt face. Uma mestria que faz destes contos uma verdadeira aventura para o leitor. São vários os ambientes percorridos por estas narrativas, desde os mais exóticos, ao conturbado período de sobrevivência à ditadura portuguesa. Em todos, um tema comum, uma certa crueldade que parece contida na mente e atitudes dos homens, que se liberta ao sabor do acaso ou do destino. Um mal sem objectivo aparente ou moral assertiva.

A escrita destas narrativas curtas é cuidada e clara, dotada de apontamentos fora do léxico comum que reforçam o ritmo da acção. “Num instante, a multidão oscilou, dividiu-se, sombras correram, a vaia modelou-se em vozeios diferenciados, crepitaram ruídos corridos de passos, desaustinaram tropeios de botas.” E tudo ficou dito sobre a multidão em fuga sujeita a uma carga policial. Toda a emoção e toda a tensão num ritmo desaustinado, num relato perfeito. Dispensam-se mais palavras.

Continuar a ler

Marginal, de Cristina Carvalho

marginalUma miúda desce à rua para se dirigir à estação de metro. É a rua onde mora. Desce os dez degraus de pedra entre a porta do seu prédio e o empedrado do passeio. “Não ia com pressa.” Tal como este relato.

Numa paisagem urbana que lhe é familiar, a de todos os dias, a que conhece daquele percurso, demora-se a menina atenta a todos os pormenores, as ervas entre o empedrado, ali uma bolinha, umas folhas, é o seu olhar introduzindo mistérios na monotonia do seu dia.

No percurso do seu olhar uma mancha negra, uma mancha negra que se estende, que se prende à sua atenção. É então que, como num flashback, a menina inicia o processo inverso, o caminho de regresso a casa. Sobe os dez degraus de pedra entre o empedrado do passeio e a porta do seu prédio. Apanha um saco de plástico. Faz o percurso até à sua descoberta, apanha algo e volta novamente a casa. O ritmo acelera, sobe a escada, entra em casa, vai ao quarto. Momentos soletrados, sendo cada um deles uma fotografia, uma rápida sucessão de fotografias.

As nossas memórias são assim. Momentos de emoção, momentos guardados em fotografias. Podemos passá-las mais depressa ou mais lentamente. O seu mistério dita-nos o ritmo.

Uma miúda desce à rua para se dirigir à estação de metro. Não ia com pressa. Tal como eu, ainda nas primeiras páginas deste Marginal da Cristina Carvalho; desço sobre as suas páginas, leio-as sem pressa, prendo-me aos pormenores, uma erva aqui, uma bola ali, encho de mistério a minha vida.

Ler este livro tornou-se uma necessidade.

Nova Teoria do Mal

Este livro, segundo o seu autor, tem origem numa revolta: “a revolta moral contra o estado de vida degradado, autenticamente terceiro-mundista, de mais de 2 milhões de habitantes de Portugal; Não podia encarar grande parte da classe política que nos governa desde meados da década de 1980 sem encontrar nos seus olhos, na sobranceria das suas atitudes, na prepotência das suas leis (extorquindo dinheiro à população, favorecendo os que mais o têm), no ar enfastiado e enfatuado com que no estrangeiro se referem ao povo português, culpando-o de um atraso cuja responsabilidade só às elites pertence, sem detectar neste conjunto de atitudes uma visível tendência para o mal, um genuíno prazer no mal que iam cometendo lei a lei.” (pág. 13)

Tal como a vida “não nasceu contra o caos, mas sobre o caos” (pág. 109), é natural que esta revolta também nasça sobre a desagregação da nossa sociedade, sobre este amortecimento português sem um aparente desígnio de maldade.

Homens normais, sem aleijões psíquicos, entorses sociais de infância ou traumas psicanalíticos, subscrevem políticas que lançam populações inteiras na miséria ou limitam o tratamento a doentes que se podiam salvar e dessa forma vão morrer porque o país está em dificuldades económicas. Como entender esta “banalidade do mal”?

Continuar a ler

Sítios, de Licínia Quitério

“Terra e mar são sítios que dizemos.

Outros há sem nome e sem morada – desertos”

Começa assim o livro de Licínia Quitério, um livro de sítios, de todo os sítios, dos que se alcançam pelo trabalho da palavra. Em cada poema existe uma “paisagem absurda” e nessa paisagem se inscrevem palavras; não nomeiam, não descrevem, são palavras obreiras de outras realidades. E a realidade de hoje corresponde aos “dias do cerco”, à “pele atormentada do pântano”, onde a voz do poeta se destaca como construtor da nova metrópole, a que se avizinha, procurando ir sempre “Mais alto, que a terra é pouca e o céu é vasto”.

Os poemas nascem, “Pedra a pedra, homem a homem, dor a dor, chicote a chicote…”, porque os sítios permanecem para além da memória do nome que lhe demos.

versão integral no PNet

As Mulheres do Fonte Nova

“Ia agora à missa, ao domingo. Não que tivesse um chamamento místico. Nada de apelos eucarísticos. Percebia que a ida à igreja, missa do meio-dia em São Julião, era fundamental para se mostrar em novos espaços, entre outra gente, e bem vestida, com a melhor roupa que ia arranjando, lá estava ela, sozinha e arrebicada, a picar o ponto da subida social.

Na rua começou-se logo a murmurar a conversão. Porque não vai ela à missa da Anunciada, perguntavam retoricamente, grande cabra, o marido é que tinha razão quando a zurzia.”

As Mulheres do Fonte Nova, Alice Brito

Neste livro existe um personagem que é da dimensão de uma cidade, sendo ele próprio essa cidade. Uma cidade montada na garupa da miséria, alcoviteira e má mãe. Não se lhe conhece a culpa, está só contaminada de gente. A mão segura da PIDE sabe dos que não são da situação, já lhes sentiu a pele. Espanta-se de gente esta cidade.

biblio-História um projeto a manter.

A biblioHistória constitui uma base de dados, iniciada em meados de 2010 pelo escritor Pedro Almeida Vieira, que integra obras de literatura do género histórico – ou com incursões históricas – publicadas por escritores portugueses desde o século XIX até à actualidade. Foi na pesquisa de informação que foi (re)descoberta a obra do primeiro escritor do romance moderno português, Guilherme Centazzi, que publicou «O Estudante de Coimbra», em 1840 e 1841, entretanto reeditada no ano passado pela Planeta.

Actualmente, a biblioHistória tem já inventariados 645 autores (incluindo pseudónimos) e 1.770 títulos, entre romances, novelas, contos e narrativas ficcionadas. Estão também incluídas 59 obras de autores anónimos, grande parte das quais em periódicos. No entanto, ainda se continua a realizar pesquisas para a inclusão de mais obras e obtenção de mais informação.

Veja como pode apoiar este projeto e receber um dos livros do autor.

A Desilusão de Judas

Não conhecemos outro romance publicado nos anos mais recentes que descreva ficcionalmente de um modo tão perfeito a radicalidade e banalidade do mal como A Desilusão de Judas, primeiro livro de António Ganhão.”
Miguel Real, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Janeiro de 2012

A noite das mulheres cantoras, de Lídia Jorge

Este livro começa com uma noite mágica, um reencontro de mulheres que atuaram num grupo musical dos anos 80, as mulheres cantoras. Nessa noite mágica, surge o momento perfeit
o com o voo de João Lucena em direção a Solange, “lembras-te de mim?”. O livro nasce aqui. Toda a narrativa serve este único propósito, o de explicar a magia desse encontro, todas as emoções, o segredo que começa por se insinuar e termina em traição, a descoberta do amor. O império minuto.

Em cada um de nós existe uma noite especial que não faz parte do dia, que nasce da evocação da nossa vida. É aí que vamos buscar todo o seu sentido, tal como sair dos sonhos significa encontrar tudo no seu lugar.

Continuar a ler

Design: a poética em estado bruto

Neste livro Luís Carmelo fala-nos do design e da sua relação profunda e perene com a ilusão humana, com o sonho, mas com um sonho em que se pode tocar.

O design começou por ser a pele dos objectos a forma exterior visível e texturada para passar a ser ergonómico, uma pele que é o prolongamento da nossa pele. Tornando-se presente em todos os objectos, evidenciando-se para além da sua forma ou da sua função, acabou por integrar o nosso olhar sobre todas as coisas, como “uma hipnose com os pés na terra.”

“No tempo das narrativas orgânicas e axiais, tudo apontava para âncoras particularmente fixas (heróis mitológicos, o nome de Deus, os valores ideológicos, tanto faz). Agora, os signos apontam para os signos, os sinais para os sinais e os avisos para os avisos.”
Neste livro existe um percurso pela história do design, pelas suas propostas, por alguns objectos que marcaram o autor e até pelas redes sociais, por “esses instrumentos de inscrição expressiva como o Facebook e o Twitter que passaram a traduzir, como nenhuns outros, este renovado design baseado na fórmula vintage “Think small”.

No entanto alerta-nos para o facto de “apeado da eficácia, o design morre, mumifica…”
“Nem sempre o design se dirige para o casamento entre a estética e a eficácia. Muitas vezes reentra num jogo que apenas visa o próprio jogo.” Um ardil de sedução, uma astúcia que propõe a quem o use uma descoberta, um empenho, um entrar nesse jogo, “aspira sobretudo ao logro de quem o use.”

Este livro leva-nos a descobrir o design sobre uma perspectiva apaixonada, numa narrativa poética. “Um novo Deus em cena a escrever direito por linhas muito subtis.”

António Ganhão

António Ganhão nasceu no Macuse, Moçambique em 1963 onde viveu até 1975, altura em que veio para Portugal. Licenciou-se em engenharia electrotécnica e tem trabalhado na área de investigação, projecto e consultoria. Publicou artigos científicos nas conferências do IEEE, Fraunhofer Institute e foi co-autor com o professor Carvalho Rodrigues de um artigo para uma conferência internacional de física.
Desempenhou funções de consultor junto da missão UNTAET em Timor e da UNESCO em Moçambique.

Concebeu e deu arranque às redes de FM da RDP África nos PALP.
Actualmente é o responsável pelas redes de emissão nacional e internacional da RTP.
Foi administrador da fundação A Casa do Ardina.

Desde sempre que desenvolveu uma paixão pela escrita que deu corpo no seu blog Em Livro e participou em acções de escrita criativa com os escritores José Couto Nogueira e Luís Carmelo.

É casado e tem duas filhas. Vive actualmente no Barreiro.

A Desilusão de Judas (Lua de Marfim) é o seu primeiro romance.

FONTE: http://pnetliteratura.pt

antonio_ganhao_foto.jpg.223x290