Sem Rede – Casa de Teatro de Sintra

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Sem Rede, é uma peça levada a cena pela Companhia de Teatro de Sintra, baseado num texto de Ana Saragoça com encenação de João Mello Alvim. Três atores emprestam a sua interpretação a um quadro familiar. Um homem, uma mulher e uma jovem no fim da adolescência. Seriam uma família. Mas nos dias de hoje, são estranhos com disfuncionais laços de aproximação.

Os adultos reencontram-se ao fim de vinte anos de separação, através dessa fada mágica que é o Facebook. Mas a ilusão do face não sobrevive ao tempo, como também aquele quadro é vítima dos tempos atuais: divórcio, a crise, os filhos marcados pela partida de um dos progenitores e pela falta de futuro. A mesma falta de perspetiva que faz os jovens encararem os conselhos do mundo adulto como frases gastas e anacrónicas. O conflito de gerações marcado, não por uma visão diferente do futuro, mas pela diferente percepção da sua ausência. Um texto cru e duro que se presta a uma época onde as cerimónias já não fazem sentido. A toalha sobre a mesa será sempre marcada por uma nódoa.

Tudo isto servido com um refrescante sentido de humor que a interpretação dos atores, Susana Gaspar, Nuno Machado e Alexandra Diogo, emprestam uma eficaz convicção. Estreou ontem na Casa de Teatro de Sintra e foi uma grande noite de festa com casa cheia. Até ao dia 27 não percam. Depois a peça parte em digressão pelo país.

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Sem Rede, de Ana Saragoça em Sintra

Sem rede

A acção decorre em tempo real, numa noite de sexta-feira em casa de Alice e Isabel, mãe e filha. A mãe, há muito divorciada, resolve receber para jantar o namorado de há 25 anos, seu primeiro grande amor, mentor nas lutas estudantis, quem no fundo a moldou em termos intelectuais. A filha, totalmente desengajada em termos políticos, procura freneticamente uma saída no estrangeiro, de preferência sem ter de pensar muito. O jantar decorre num ambiente entre tenso e cómico, com a mãe a ajustar-se à nova imagem do velho amor e abandonando gradualmente todas as ideias de retomar o romance; a filha sentindo-se gradualmente mais atraída por aquele homem que pode quiçá salvá-la de ir limpar retretes para a Suíça; e Bruno jogando ambiguamente com ambas. Através das características das personagens e dos conflitos gerados, “sem rede” é uma reflexão sobre o Portugal actual, alimentado por um passado de sonhos frustrados e com as perspectivas de futuro ocultadas por um denso nevoeiro.