Conto da moral de Alfama | Carlos Vale Ferraz (pseudónimo de Carlos Matos Gomes)

Vivo entre evangélicos e Portugal é um país de cristãos desde a fundação.
Não percebo porque existem bancos em Portugal.
De vez em quando batiam-me à porta, aqui em Alfama, transparentes e de olhos revirados, aos pares, quase sempre, a darem-me indicações para alcançar o Céu, entre os fumos das sardinhas.
Sempre preferi oferecer-lhes um copo de vinho. O gato chegava-se à minhas pernas e miava enquanto eles me catequizavam.
Há dias que só me falam de usura. Retorqui, espantado – vivo por cima de uma casa de penhores, de prego, vá lá. Perguntei: A agiotagem não tem a aprovação do vosso Deus? Responderam – e eram americanos:
– Não há coisa mais desprezível para um ser humano (especialmente para um cristão), do que aproveitar do necessitado para ganhar um dinheirinho (jurinhos).
– É revoltante essa situação! – adiantou o coadjuvante do primeiro catequista. – E pensar que muitos cristãos vivem disto, aqueles que se esperam expressar o amor de Jesus Cristo! Antes era só judeus. Mas foram todos para Israel aviar palestinianos…
– Pois é, o engenheiro Jardim Gonçalves, com uma pensão de 2 milhões por ano é capaz de ser agiotagem e ele é cristão. E os Espirito Santo, que até tinham capela em casa?
– Um assunto de suma importância para a vida do cristão, é o controle financeiro. Eles são especialistas. Ou foram…
– Claro, afinal, a nossa vida deve ser de culto, louvor e adoração a Deus em todos os sentidos.
– Tudo o que fazemos deve refletir Cristo em nós.

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Europa marítima e Europa continental - novos papéis | Carlos Matos Gomes

Substituir a Inglaterra como a potência marítima da Europa

A Europa, pelo menos desde as cruzadas, dividiu-se e articulou-se segundo dois polos: um polo atlântico, que fez dela uma potência marítima, e que incluiu as Ilhas Britânicas, a Holanda e Portugal, e um polo continental constituído com base no império de Carlos Magno, com a França, a Alemanha e o Norte de Itália, ao qual se associou a Espanha, que construiu um império nas Américas e no Pacífico (Filipinas), absorvido pelos ingleses.

Estes dois eixos mantiveram-se até à II Guerra Mundial. Nós, portugueses, pertencemos desde sempre ao “círculo” marítimo — a Batalha de Aljubarrota e o casamento do novo rei com Felipa de Lencastre são um exemplo, o apoio à restauração da soberania através de um rei português e a expulsão da rei espanhol é outro, assim como o decisivo apoio inglês contra as invasões napoleónicas. Até o ultimato inglês a propósito da presença portuguesa numa área de África é, no fundo, uma imposição da pertença de Portugal no “círculo” da potência marítima contra a tentação de se aliar à potência continental, na altura a Alemanha de Bismark.

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Perigiali [George Seferis] | Mikis Theodorakis | “On the seashore” | Singer: Maria Farantouri

“On the seashore” is a song by Mikis Theodorakis made on a poem by the great Greek poet George Seferis. It is a poem about inevitable changes in our lives where we have to let go of things we love and cherish and move on. The song was written in 1962 . It is a song that carries many of the distinct colours, phrases and sesnsations that make up what is Greece and I tried to couple those with photos that carry these feelings as well. Here it is performed by Maria Farantouri.

Denial In a hidden seashore white as a dove we found ourselves in midday, thirsty, but the water undrinkable. On the golden sand we wrote her name, how beautifully the breeze came and erased the writing. We started our life with all our heart, all our breath, all our passion — a mistake! and we changed our life. George Seferis was the pen name of Georgios Seferiadis (1900 — 1971). He was one of the most important Greek poets of the 20th century, and a Nobel laureate. He was also a career diplomat in the Greek Foreign Service, culminating in his appointment as Ambassador to the UK, a post which he held from 1957 to 1962. Mikis Theodorakis , born July 29, 1925, is one of the most renowned Greek songwriters and composers. Internationally, he is probably best known for his songs and for his scores for the films Zorba the Greek), and Serpico. Politically, he identified with the left until the late 1980s and has consistently opposed oppressive regimes and was the key voice against the Greek Junta 1967-1974, which imprisoned him. Maria Farantouri ,born in 28 November 1947, is a Greek singer and also a political and cultural activist. She has collaborated with prominent Greek composers such as Mikis Theodorakis

“Poéticas Periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana” | Lançamento do livro em 04 de agosto de 2018

 Segue, em anexo, release como sugestão de pauta sobre o lançamento do livro “Poéticas Periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana”, que acontece dia 04 de agosto de 2018, das 14:30 às 16:30h, no estande da PerSe Editora, na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
O livro reúne 100 poetas de saraus e slams de poesia de várias quebradas de Salvador, apresentação de Tia Má (Maíra Azevedo) e prefácios de Day Borges (Coletivo de Entidades Negras) e Geilson dos Reis (Sarau Arte Livre – UNEB).

Galinha Pulando lança livro com cem poetas na Bienal de São Paulo

A antologia “Poéticas periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana”, reúne textos de poetas da periferia de Salvador-BA e será lançada no dia 04 de agosto de 2018 (sábado), das 14:30 às 16:30hs, no Estande N010 da PerSe Editora, na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

Contemplado pelo Calendário das Artes da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb/SecultBA), o livro reúne cerca de 100 autores e é resultado do trabalho coletivo de vários protagonistas de saraus, slams, grupos e coletivos de artistas da palavra, oriundos das periferias de Salvador. Textos de apresentação: Tia Má, Dhay Borges e Geilson dos Reis. Capa de Marcos Paulo Silva e Alisson Chaplin. A juventude da Bahia ocupa o centro e os bairros de Salvador como nunca antes na história, em luta, através da poesia, por espaço na cena literária e contra as opressões como racismo, genocídio dos jovens negros, intolerância religiosa etc. São centenas de grupos de saraus que recitam em ônibus, praças, esquinas. Este livro é uma compilação de parte dessa produção poética.

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Revista “Outros Ares” | Entrevista a Liudmila Petruchévskaia | por Ernane Catroli

A ideia de entrevistar Liudmila Petruchévskaia veio naturalmente, logo após terminar de ler “Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha”, primeiro livro da autora publicado no Brasil (pela editora Companhia das Letras e traduzido direto do russo por Cecília Rosas).

Como afirmo em uma das perguntas, os contos de “Era uma vez…” mais parecem misturar fantasia com realidade, em vez do contrário. Nesse caso, a ordem dos fatores altera, sim, o produto. Há uma grande diferença entre ler uma história cujo cenário é real, verossímil, e de repente deparar com um elemento fantástico, e ler um conto cuja atmosfera, desde seu início, é soturna, misteriosa, às vezes beirando o místico, e de repente a realidade vir à tona, puxando o nosso tapete. Assim são os contos de Liudmila.

São contos fantásticos, apesar de a realidade estar lá, muito presente, viva. E o estranhamento que essa mistura em ordem e dosagens diferentes causa no leitor é muito marcante. Os contos de Liudmila são encantadores, mas num sentido quase perverso. Mas faço questão de frisar: eu escrevi “quase”, porque os contos de Liudmila também são maravilhosos, de extrema qualidade literária. E, como diz a autora numa das respostas abaixo, são muito simples.

Na entrevista que você lerá a seguir, Liudmila fala sobre sua passagem por sanatórios quando criança, por causa de uma tuberculose; sobre a censura que sofreu, e ainda sofre, na Rússia; sobre de onde vêm suas histórias; dá uma alfinetada em Nabokov e outras coisas mais.

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António Barahona | “Acredito que não se morre, muda-se de estado” | Entrevista de Diogo Vaz Pinto in Jornal “i”

Os 80 anos não foram o suficiente para enxotar o seu ânimo mais desavergonhado mas, para Barahona, a beleza não sobrevive sem algum pudor

Foto de Hugo Alves

Beco dos Birbantes, velha cicatriz de quantos golpes, é um desses traços a que só se chega sendo muito íntimo de uma cidade. Já aparecia referido antes do terramoto de 1755, e aí, no que ficou de uma antiga vila operária, vive um grande poeta português. Na rua estreitíssima, sem saída, o sol só passa a língua, brevemente, a sombra pouco aquece e Lisboa sente-se encostada a uma escrupulosa saudade. À volta, há uns anos, as muralhas dissimuladas dos condomínios de luxo. E ele tem rejeitado propostas para abandonar a casa que explica em termos modestos a riqueza de viver na capital como numa aldeia. Vive ali há anos, com os filhos adolescentes e a mulher, bem perto do Jardim do Torel, que se debruça sobre uma vista agreste da selva de betão. Fizemos as fotografias e ele posou com toda a paciência, desinteressado de como pudesse ficar. Um homem que a morte há-de descobrir ainda muito belo, “contraditório, puro, sábio”, alguém que, a um ano dos 80, sente a vida envolta em beleza, ainda que avance sobre o caos e as trevas. Num trabalho que o vem ocupando nos últimos anos e que o terá até ao último fôlego, este colega de Camões, Cesário e Camilo Pessanha tem reescrito toda a obra e acaba de publicar o sexto tomo da sua suma poética – “Aos Pés do Mestre” (ed. Averno). Confessou-nos a tristeza de ficar sozinho cada verão, quando os filhos fazem férias na praia. Um homem que não se cansa de amar não chega a ver a velhice. António Barahona, o benjamim do grupo do Café Gelo, foi pai aos 26 – o mais novo dos nove filhos tem hoje 14 anos. Viajou muito, converteu-se ao islão quando tinha 30, entrou em inúmeras polémicas, perdeu alguns amigos, mas tem feito mais. É desses cujo talento começa na sua capacidade de admiração. Fala dos amigos como “jardins suspensos do meu repouso, árvores com folhas todo o ano”. Tem–se batido contra o acordo ortográfico, medida que o fez adoptar uma ortografia pessoal. Esta é hoje o mais eloquente libelo contra a “burrocracia” que, em nome de uma imbecil uniformização da língua, tem desfigurado a sua beleza. Continuar a ler

The Ignorant Do Not Have a Right to an Audience | By Bryan W. Van Norden, professor of philosophy | in New York Times

On June 17, the political commentator Ann Coulter, appearing as a guest on Fox News, asserted that crying migrant children separated from their parents are “child actors.” Does this groundless claim deserve as much airtime as, for example, a historically informed argument from Ta-Nehisi Coates that structural racism makes the American dream possible?

Jordan Peterson, a professor of psychology at the University of Toronto, has complained that men can’t “control crazy women” because men “have absolutely no respect” for someone they cannot physically fight. Does this adolescent opinion deserve as much of an audience as the nuanced thoughts of Kate Manne, a professor of philosophy at Cornell University, about the role of “himpathy” in supporting misogyny?

We may feel certain that Coulter and Peterson are wrong, but some people feel the same way about Coates and Manne. And everyone once felt certain that the Earth was the center of the solar system. Even if Coulter and Peterson are wrong, won’t we have a deeper understanding of why racism and sexism are mistaken if we have to think for ourselves about their claims? And “who’s to say” that there isn’t some small fragment of truth in what they say?

If this specious line of thought seems at all plausible to you, it is because of the influence of “On Liberty,” published in 1859 by the English philosopher John Stuart Mill. Mill’s argument for near-absolute freedom of speech is seductively simple. Any given opinion that someone expresses is either wholly true, partly true or false.

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Não, Portugal não foi a maior potência esclavagista | João Pedro Marques | in Jornal “Diário de Notícias”

O historiador Miguel Cardina afirmou, em recente entrevista ao DN, que Portugal foi “a maior potência esclavagista da modernidade” e que isso não tem sido devidamente considerado no país. Devo dizer ao meu colega que está enganado. Eu não sei em que fonte ou fontes Miguel Cardina se apoiou para afirmar o que afirmou. Admito que tenha recorrido ao site The Trans-Atlantic Slave Trade Database. Se foi esse o caso, não terá visto com suficiente rigor. As tabelas do referido site, referem-se exclusivamente ao tráfico transatlântico de escravos, e para além de deixarem de fora, claro está, a parte africana do negócio escravista, reportam os números de Portugal e Brasil, em conjunto. Já chamei a atenção para isso em artigo anterior, que terá passado despercebido a Miguel Cardina.

Mas há um segundo aspecto do seu engano que é muito mais importante. É que para além de não ter visto com suficiente rigor ao perto, Miguel Cardina também não terá visto bem ao longe. Deixou-se encadear, imagino eu, pelos números das tabelas e encadeou-nos inadvertidamente a nós. É que a história do tráfico de escravos e da escravidão não se resume ao tráfico transatlântico nem é ele que por si só cria uma “potência esclavagista”. Não estou a pôr em causa, de modo algum, as tabelas do Trans-Atlantic Slave Trade Database, que são muito úteis, e que conheço desde a década de 80, época em que David Eltis, o seu criador, mas enviava pelo correio, pois ainda não estavam online. Mas as tabelas estão longe de dizer tudo. Referem-se apenas ao tráfico transatlântico e não nos falam, por exemplo, do que se passava em terra. Na verdade, no Ocidente, a maior potência esclavagista, se essa expressão tem algum sentido ou algum interesse, não foi Portugal, mas sim os Estados Unidos. É verdade que os Estados Unidos proibiram o tráfico transatlântico de escravos em 1807 e que, nos estados do norte, começaram a abolir a escravidão ainda antes disso, logo em 1777. Os estados do sul, porém, mantiveram-na até à derrota na guerra civil, em 1865, e, se bem que já não importassem escravos por mar a não ser de forma residual e ilícita, produziam-nos e comerciavam-nos internamente, através daquilo a que se chama breeding, isto é, a reprodução biológica.

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Metamorfoses | Públio Ovídio Naso

Públio Ovídio Naso , conhecido como Ovídio nos países de língua portuguesa (Sulmona, 20 de março de 43 a.C. — Constança, Romênia, 17 ou 18 d.C.) foi um poeta romano que é mais conhecido como o autor de Heroides, Amores, e Ars Amatoria, três grandes coleções de poesia erótica, Metamorfoses, um poema hexâmetro mitológico, Fastos, sobre o calendário romano, e Tristia e Epistulae ex Ponto, duas coletâneas de poemas escritos no exílio, no mar Negro.

Ovídio foi também o autor de várias peças menores, Remedia Amoris, Medicamina Faciei Femineae, e Íbis, um longo poema sobre maldição. Também é autor de uma tragédia perdida,Medeia. É considerado um mestre do dístico elegíaco e é tradicionalmente colocado ao lado de Virgílio e Horácio como um dos três poetas canônicos da literatura latina. O estudioso Quintiliano considerava-o o último dos elegistas amorosos latinos canônicos.[1] Sua poesia, muito imitada durante a Antiguidade tardia e a Idade Média, influenciou decisivamente a arte e a literatura europeias, particularmente Dante, Shakespeare e Milton, e permanece como uma das fontes mais importantes de mitologia clássica.[2] Seu estilo tem caráter jocoso e inteiramente pessoal — às vezes o eu-lírico de seus poemas são o próprio Ovídio.

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https://dasculturas.com/about/livros-em-pdf/

Escreveu sobre amor, sedução, exílio e mitologia. Estudou retórica com grandes mestres de Roma e viajou para Atenas e Ásia exercendo funções públicas com o objetivo de tornar-se um Cícero, mas, para desgosto do pai, resolveu dedicar sua vida à poesia.

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Deuses Gregos e Romanos | in Historia do Mundo Uol

https://historiadomundo.uol.com.br

Na foto o deus HERMESDeus da eloquência, da hermenêutica, das comunicações e viagens, do comércio, da ginástica, da astronomia, da magia, da divinação, dos ladrões, dos diplomatas e de algumas formas de iniciação, guia das almas dos mortos para o reino de Hades.

Nome nativo: Hermes

Morada: Monte Olimpo

Símbolo: caduceu

Pais: Zeus e Maia

Irmão(s): Ártemis, Afrodite, Musa, Cárites, Ares, Apolo,

Dioniso, Hebe, Atena, Héracles, Helena, Hefesto, Minos, Poro

Romano equivalente: Mercúrio

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes

Durante o século IV e III a.C., os romanos encontram os gregos que estavam instalados na região sul do que hoje é a Itália desde o século VIII a.C. Além de alguns conflitos e trocas de mercadorias, esses dois povos trocaram, ou melhor, começaram a trocar algo igualmente importante: idéias.

Entre os séculos II e I a.C. os romanos conquistam a Península Balcânica, local em que a civilização grega se desenvolveu. Lá os romanos fizeram muitos escravos, entre eles diversos sábios gregos.

Ao chegarem em Roma, esses sábios escravizados realizaram diversas funções como, por exemplo, educar os filhos das famílias aristocráticas do Império. Ao educar essas crianças, os sábios passavam muitos do seus valores para elas. Ou seja, transmitiram valores da cultura grega às crianças romanas, fazendo com que estas assimilassem esse valores e misturassem aos seus próprios, como no caso dos deuses e da religião.

As crianças se tornam adultas, mas não perdem os valores passados pelos sábios gregos. Esse adultos acabam dando continuidade a esses valores. Existem vários exemplos dessa mescla de valores, mas o mais conhecido é a associação dos deuses gregos aos deuses romanos. Zeus, o principal deus grego foi associado a Júpiter; Ares, deus da guerra dos gregos foi associado a Marte, o deus romano da guerra. Portanto, através dessa associação, várias características dos deuses gregos foram incorporadas aos deuses romanos.

Deus Grego Deus Romano Função ou Característica
Zeus Júpiter Pai dos deuses e dos homens, principal deus do Olimpo.
Cronos Saturno Deus do tempo, pai de Zeus. Pertencia à raça dos titãs.
Hera Juno Rainha dos deuses, esposa de Zeus.
Hefesto Vulcano Artista do Olimpo, fazia os raios que Zeus lançava sobre os mortais. Filho de Zeus e Hera.
Poseidon Netuno Senhor do oceano, irmão de Zeus.
Hades/Dis Plutão Senhor do reino dos mortos, irmão de Zeus.
Ares Marte Deus da guerra, filho de Zeus e Hera.
Apolo Febo Deus do sol, da arte de atirar com o arco, da música e da profecia. Filho de Zeus e Latona.
Artemis Diana Deusa da caça e da lua, irmã de Apolo.
Afrodite Vênus Deus da beleza e do amor, nasceu das espumas do mar.
Eros Cupido Deus do amor, filho de Vênus.
Palas Atenas Minerva Deusa da sabedoria, nasceu da cabeça de Zeus.
Hermes Mercúrio Deus da destreza e da habilidade, cultuado pelos comerciantes. Filho e mensageiro de Zeus.
Deméter Ceres Deusa da agricultura, filha de Cronos e Ops.

https://historiadomundo.uol.com.br/artigos/deuses-gregos-romanos.htm

O capitalismo em estado de guerra civil | José Goulão in Blog “abrilabril.pt”

POR JOSÉ GOULÃO 

A guerra civil capitalista está lançada. Quanto aos resultados a proporcionar pela vitória de qualquer dos campos em confronto, por indefinidos que ainda sejam, que venha o diabo e escolha.

A ordem mundial – chamemos-lhe assim, por comodidade – monolítica e unipolar, nascida nos escombros do muro de Berlim, e consolidada através do cada vez mais misterioso atentado de 11 de Setembro de 2001, está à beira do fim.

Atribuir o funesto desenlace de um sistema que fica como espelho da ortodoxia neoliberal aos maus humores de Donald Trump, à sua embirração com a senhora Merkel, à falta de polimento congénita e à mais do que comprovada tendência autoritária é uma explicação apenas ao alcance de indigentes mentais. Só as cabeças que se deixaram formatar pela quadratura neoliberal, a arte de transformar a ausência de reflexão e de ideias em pensamento único, podem alinhar numa tese tão desfasada da realidade.

Observar o presidente dos Estados Unidos da América passar um atestado de óbito à União Europeia, vê-lo desqualificar a elite governante da NATO, sentar-se ao lado do presidente da Rússia com o desejo declarado de iniciar uma nova relação entre Washington e Moscovo não pode ser uma questão humoral; nem subjectiva; nem um delírio. Tem que haver causas objectivas.

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Eufrásia e Nabuco: uma história de amor | Neusa Fernandes | por Adelto Gonçalves

I

Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), nascida em Vassouras, no interior do Estado do Rio de Janeiro, foi mulher avançada para o seu tempo, que viveu sua infância e adolescência numa bela residência senhorial conhecida como a Casa da Hera e recebeu educação esmerada, pois apreciava literatura de alto nível, especialmente os textos do filósofo alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e os contos e poemas do norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849).

Ela viveu um romance clandestino de 14 anos com Joaquim Nabuco (1849-1910), advogado, diplomata e herdeiro de José Tomás Nabuco de Araújo Filho (1813-1878), presidente da província de São Paulo (1851-1852), ministro da Justiça (1853-1857) e senador do Império pela Bahia (1857-1878), a quem o filho dedicou o livro Um estadista do Império, obra seminal para se conhecer a história política brasileira daquela época.

Apesar de pertencer à elite brasileira, que sempre se caracterizou por sua ancestral maldade para com as classes menos favorecidas, Joaquim Nabuco destacou-se como defensor da liberdade para os escravos, além de ter sido grande tribuno e combativo jornalista, que despertava a ira dos conservadores que o consideravam um “arrogante mulato nordestino e perigoso abolicionista”. Foi também intransigente defensor das reformas sociais de base, que até hoje o Brasil ainda não conheceu.

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O Lado Oculto – Antídoto para a propaganda global | José Goulão

“O LADO OCULTO” COMEÇA A GANHAR VIDA

O semanário electrónico por assinaturas “O Lado Oculto – Antídoto para a propaganda global” começa a ganhar vida e espaço.
Hoje apresenta-se o logótipo da newsletter e do site e no dia 24 de Agosto enviaremos o Número Zero para todos os endereços de e-mail que temos continuado a receber em número apreciável. Nesse número experimental de apresentação serão fornecidas todas as informações para concretização das assinaturas. 

A partir de 7 de Setembro começarão as edições regulares, todas as sextas-feiras. Os assinantes receberão uma newsletter com links que os remeterão para os artigos a publicar no site – www.oladooculto.com

Recorda-se que as modalidades de assinaturas serão 16 euros/ano, 10,50 euros/semestre, 3,20 euros/6 números, valores incluindo IVA. Quem estiver interessado e ainda não formalizou o interesse em receber o Número Zero no seu e-mail pode fazê-lo agora para o endereço definitivo de assinaturas:  assinantes@oladooculto.com

Há um défice de reflexão crítica à Esquerda e à Direita sobre o passado | Miguel Cardina, historiador | in Jornal “Diário de Notícias”

O presidente do Conselho Científico do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra falava à agência Lusa, sobre a memória que a sociedade portuguesa tem do período colonial e dos 500 anos da presença portuguesa noutras latitudes, uma temática, advertiu, “complexa”, pois a “memória nunca é total nem pura” e há “memórias desencontradas”.

Para o investigador, “há uma leitura, em setores dominantes da sociedade e em alguns setores do Estado, que tende a ser amnésica, preferindo expressões que acentuam uma dimensão positiva daquilo que foi a experiência colonial, e tendem a esquecer o reverso, que foi justamente a dimensão profundamente desigual, violenta e hierárquica imposta pelo colonizador, aos povos colonizados”.

E, a este nível, afirma, “nem sempre a Esquerda e a Direita se distinguem”.

A questão colonial é “um dado que está ausente do espaço público em Portugal, apesar de haver trabalho académico”, realçou o investigador à Lusa, segundo o qual “há uma consciência crítica desse passado, quer através da academia, com a produção de vários trabalhos, quer da parte de movimentos e associações de afrodescendentes, e de movimentos sociais”.

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A estátua da rainha Njinga | uma nova frente na luta de memórias | João Pedro Marques | in Jornal “Público”

Estamos perante novos preconceitos de matriz ideológica e cultural que inverteram os preconceitos racistas dos séculos XIX e XX.

A investigadora Cláudia Silva escreveu um novo artigo sobre escravatura. O artigo diz várias coisas acertadas, não faz afirmações panfletárias e tem pelo menos três méritos. O primeiro é o de nos relembrar algo que raramente é dito, isto é, que os africanos já tinham escravos e que os árabes já os adquiriam, na África subsariana, muito antes da chegada dos portugueses. O segundo é o de procurar ser equilibrado, esclarecedor e justo, ainda que em três ou quatro pontos Cláudia Silva não o consiga inteiramente. De todo o modo, esforça-se por isso e recomenda, e muito bem, que não se olhe para a história da escravatura com olhos maniqueístas. Porém, e a pretexto de ir contra o maniqueísmo, a articulista sugere que se erga, em Lisboa, uma estátua à rainha Njinga, apesar de reconhecer que a dita rainha “possuiu escravos e também os vendeu, tendo assim participado no tráfico de escravos”. Esta sugestão é, ainda que involuntariamente, o terceiro mérito do seu artigo, não pela proposta em si mesma, que é inadequada para não dizer absurda, mas porque nos ajuda a perceber melhor os propósitos que movem, e as contradições de que enfermam, muitos dos intervenientes neste debate sobre escravatura.

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O legado da escravatura e as narrativas de Lisboa | Cláudia Silva | in Jornal “Público”

O comércio Atlântico criou uma demanda sem precedentes que extrapolou o tráfico interno africano.

É impossível alterar o passado. Mas podemos alterar o presente. Mas para alterar o presente precisamos compreender e reconhecer o passado. Deve-se reconhecer um legado histórico deixado pela escravatura atlântica, que é facilmente identifi cado nas coisas mais fundamentais, desde uma determinada linguagem quotidiana de cunho racista que usamos na língua portuguesa — talvez por herança — à toponímia de Lisboa. Há hipóteses, por exemplo, de que o nome da Rua do Poço dos Negros talvez faça referência a uma vala onde os cadáveres de escravos não batizados eram depositados. E a Rua da Preta Constança, na Ajuda? Diz-se que Preta Constança era uma “escrava trazida dos confi ns de África” e “viveu a fortuna, a desilusão e a desgraça neste bairro lisboeta”. Mas o que é que os nomes de ruas lisboetas têm a ver com esta discussão? Estas exemplifi cam um legado impregnado no espaço urbano que mal vemos, compreendemos ou sequer reconhecemos. No meio científico, há quem chame a isto de desenterrar histórias da arquitetura ou do espaço urbano “narrativa arqueológica”. Poderemos, portanto, reconhecer a história de certos espaços urbanos se escavarmos e trouxermos à tona estas narrativas. O mesmo se passa com a história em geral. Daí a relevância de um memorial de escravos ou de um museu que exponha o tema através de documentos históricos, narrativas e imagens. Mas, antes, é preciso uma compreensão do passado (e do que se quer), que passa também por reconhecer certos legados. A respeito dos legados, há quem levante o seguinte questionamento: os portugueses foram os primeiros a levarem pessoas escravizadas de África para as Américas? Isto é um facto histórico partilhado nas publicações de historiadores portugueses (Arlindo Manuel Caldeira, no livro Escravos e Traficantes no Império Português) bem como de não-portugueses (Linda Heywood, Anthony T. Browder, John Thornton, James A. Rawley e Stephen D. Behrendt).

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Isac Hernández | México

Isac Hernández, Tapatío orgulloso de su tierra y el llamado niño prodigio del ballet se podría decir que empezó su carrera a los 8 años y a los doce ya era digno ganador de diferentes competencias. Gracias a su padre también bailarín gano una beca de danza para en Filadelfia.

Se convirtió en el mexicano más joven en ganar el Premio Nacional de Juventud. Ha bailado en compañías como el Ballet de San Francisco, el Ballet Nacional de Holanda y ahora, el Ballet Nacional de Londres. Además, le ofrecieron becas para estudiar en la Ópera de París, el Stuttgart Ballet y el Royal Ballet de Londres.

Centenário do nascimento de Nelson Mandela | Carlos Esperança

Em 18 de julho de 1918 nasceu o maior vulto do continente africano dos últimos cem anos.

O prisioneiro 46 664, foi o símbolo dos que não desistem de transformar o Mundo e deixar um país livre e multirracial. O primeiro presidente da África do Sul, condenado a prisão perpétua, resistiu ao cativeiro 27 anos, e ao ódio e à vingança o resto da sua vida. 
Distinguido com o Prémio Nobel da Paz, foi maior o prestígio que conferiu ao Prémio do que este ao premiado. Paladino da liberdade e o grande obreiro da transição pacífica de um regime racista e colonialista para um país multicultural e multirracial – a África do Sul –, permanece a maior referência de África e uma das maiores figuras da Humanidade.

Faleceu aos 95 anos esse gigante da História cuja grandeza ética, inteligência e sensibilidade o distanciaram dos dirigentes políticos do seu tempo, deixando-nos a esperança de um mundo onde não seja possível a discriminação por razões de raça, religião, sexo ou convicções políticas.

A grandeza moral levou-o a perdoar aos países que, em 1987, votaram contra a sua libertação incondicional, proposta pela Assembleia Geral das Nações Unidas, – EUA, Inglaterra e Portugal –, onde governavam Reagan, Thatcher e Cavaco, anões morais que se tornaram ainda mais vis perante a grandeza do homem que pretendiam preso.

Nelson Mandela é um daqueles homens que será sempre maior do que a lenda.

Carlos Esperança

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Esperança

In vino veritas | Carlos Matos Gomes

In vino veritas. Isto é, o futebol destapa complexos. 

A alegria que vejo pela derrota da Inglaterra não resulta apenas de uma vulgar manifestação do velho complexo de inferioridade. É mais triste. É uma manifestação de masoquismo. Gostamos de ser pequeninos. Somos uns Calimeros.
Muitos portugueses exultaram com a derrota da Inglaterra e identificaram-se com a Croácia. Para esses, nós somos a Croácia, nação que, como se sabe, tal como nós e a Inglaterra, deu mundos ao mundo, navegou por todos os mares do planeta, levou a civilização europeia e a Europa a todos os continentes. Goste-se ou não do resultado, foi um feito histórico mundial, que nos devia fazer olhar os ingleses como iguais, e não os historicamente irrelevantes croatas (com o devido respeito, as coisas foram e são assim).
Os croatas têm, tal como nós temos uma língua falada nos 5 continentes? O inglês está ao nível do servo-croata, do catalão e do provençal! Não é? Parece que sim. 

Também foram os cruzados croatas que vieram auxiliar o rei Afonso Henriques a tomar Lisboa, e Silves, para constituir o território do que é hoje Portugal. E foram croatas que combateram ao lado das tropas daquele que seria o rei João I em Aljubarrota, claro. E a rainha Felipa de Lencastre, uma das mais importantes figuras da nossa história, mãe de Henrique o Navegador, e do que designamos por ínclita geração, por exemplo, era croata e não inglesa?

E também foram croatas os que vieram com Wellington, um general croata, lutar contra as tropas de Napoleão? Claro. E foram croatas que desembarcaram no Mindelo com os liberais do rei Pedro. E foi para a Croácia que se dirigiram os exilados portugueses anti-absolutistas no século XIX e, no século XX os antifascistas? E é aos engenheiros croatas que devemos a caldeira a vapor e o que se seguiu na revolução industrial. 

Deixemos a história. Cada um escolhe os seus referentes. Os croatas são o que são e desempenharam nela o papel que desempenharam. Merecem-me respeito, mas não identificação. Resta o prazer.
Que diabo, o barão de Forrester, tido como o inventor do vinho do Porto, não era croata, era inglês! E o uísque também não é croata. Há excelentes uísques ingleses! Nem os Beatles, nem os Monty Phyton! 

Quanto à final: sou adepto do champanhe, com ou sem ostras. De Cognac e Armagnac. E da trilogia da liberdade, igualdade e fraternidade. Também me merecem muito respeito os portugueses que morreram na França na Grande Guerra, os que lá se exilaram, os que para lá emigraram, lá vivem e trabalham.

Carlos Matos Gomes

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

Obra Completa | Arthur Rimbaud | Edição Bilingue

«A tradução da Obra Completa de Jean-Arthur Rimbaud, pela Relógio D’Água, constitui um acontecimento de enorme relevo no que respeita à história da tradução de poesia em Portugal. Pela monumentalidade desta edição, com prefácio de Francisco Vale e a tradução a duas mãos de Miguel Serras Pereira e João Moita, reler agora a poesia de Rimbaud, nesta edição bilingue, significa compreender melhor a originalidade do autor de Aprés le Deluge. O enigma do jovem que abandonou a poesia para poder, como diria Hölderlin, habitar poeticamente sobre a terra. Rimbaud: a própria encarnação de algo mais, talvez o furor e mistério de uma verdade, essa de “regressar ao estado primitivo de filho do sol”.
[…]
Esta Obra Completa não deixará de chamar para a poesia leitores ávidos daquilo que, segundo René Char, é o supremo fascínio dessa voz, nele reconhecendo essa dialética do homem que “não cessa de cessar”, como foi o caso de Rimbaud, ansioso de numa vida conter várias vidas. Nele, com efeito, a poesia deixou de ser um género literário e uma competição, para passar a ser a arte total. É, de certo modo, o poder da energia adolescente o que podemos, ao lê-lo, redescobrir. Não se fica o mesmo depois de visionarmos a sua fúria e solaridade, a sua ousadia poética.» António Carlos Cortez, JL, 4/7/18

Sailing to Byzantium | Versão Inglesa | BY WILLIAM BUTLER YEATS

I
That is no country for old men. The young
In one another’s arms, birds in the trees,
—Those dying generations—at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.
II
An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.
III
O sages standing in God’s holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.
IV
Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.

William Buttler Yeats

La “Correspondance (1944-1959)” entre Albert Camus et Maria Casarès

Excellent dimanche à tous ! Idée de lecture d’été

La “Correspondance (1944-1959)” entre  Albert Camus et Maria Casarès

Le 19 mars 1944, Albert Camus et Maria Casarès se croisent chez Michel Leiris. L’ancienne élève du Conservatoire, originaire de La Corogne et fille d’un républicain espagnol en exil, n’a que vingt et un ans. Elle a débuté sa carrière en 1942 au Théâtre des Mathurins, au moment où Albert Camus publiait “L’Étranger” chez Gallimard. L’écrivain vit alors seul à Paris, la guerre l’ayant tenu éloigné de son épouse Francine, enseignante à Oran. Sensible au talent de l’actrice, Albert Camus lui confie le rôle de Martha pour la création du “Malentendu” en juin 1944. Et durant la nuit du Débarquement, Albert Camus et Maria Casarès deviennent amants. Ce n’est encore que le prélude d’une grande histoire amoureuse, qui ne prendra son vrai départ qu’en 1948.

Jusqu’à la mort accidentelle de l’écrivain en janvier 1960, Albert et Maria n’ont jamais cessé de s’écrire, notamment lors des longues semaines de séparation dues à leur engagement artistique et intellectuel, aux séjours au grand air ou aux obligations familiales. Sur fond de vie publique et d’activité créatrice (les livres et les conférences, pour l’écrivain ; la Comédie-Française, les tournées et le TNP pour l’actrice), leur correspondance croisée révèle quelle fut l’intensité de leur relation intime, s’éprouvant dans le manque et l’absence autant que dans le consentement mutuel, la brûlure du désir, la jouissance des jours partagés, les travaux en commun et la quête du véritable amour, de sa parfaite formulation et de son accomplissement.

Nous savions que l’œuvre d’Albert Camus était traversée par la pensée et l’expérience de l’amour. La publication de cette immense correspondance révèle une pierre angulaire à cette constante préoccupation. «Quand on a aimé quelqu’un, on l’aime toujours», confiait Maria Casarès bien après la mort d’Albert Camus ; «lorsqu’une fois, on n’a plus été seule, on ne l’est plus jamais».

Édition de Béatrice Vaillant. Avant-propos de Catherine Camus
Ouvrage édité avec le soutien de la Fondation d’entreprise La Poste

Et écoutez la correspondance échangée par Albert Camus et Maria Casarès dans la collection Écoutez lire lue par Lambert Wilson et Isabelle Adjani, au Festival de la correspondance de Grignan et au Musée Calvet dans le cadre du Festival d’Avignon >> https://bit.ly/2JH74Bl

Antes de amar-te, amor, nada era meu… | Pablo Neruda

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.

E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,

Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Pablo Neruda

50 anos da Carta a Salazar | D. António Ferreira Gomes | in Agência Ecclesia

Luís Filipe Santos | 

A missiva de D. António Ferreira Gomes dá a conhecer as misérias da época e aponta soluções fundamentadas nos documentos pontifícios

Nunca um «pró-memória» foi objecto de tanta investigação como aquele que D. António Ferreira Gomes escreveu a António de Oliveira Salazar. Redigido a 13 de Julho de 1958, este documento está a celebrar o seu cinquentenário. À carta-denúncia das injustiças sociais, Salazar respondeu, um ano depois, com o exílio do bispo do Porto. Depois das eleições de 1958, cujo vencedor foi Américo Tomás, o célebre bispo do Porto remeteu a Salazar a missiva que referenciou como «pró-memória» para um seu eventual encontro com o presidente do Conselho. “Cumpre-me, antes do mais, agradecer a V. Exª o ter manifestado a boa disposição de me ouvir” – início do documento de D. António Ferreira Gomes ao Presidente do Conselho. Depois de explicar as razões da sua vinda a Portugal para votar – estava “legitimamente ausente em Barcelona” -, D. António Ferreira Gomes considera que o pedido que lhe foi feito, “por forma tão extraordinária e pública, não poderia deixar de considerar-se propaganda da Situação” – realça o «Pró-Memória». A «história» dessa carta começou, no exacto momento, em que o bispo do Porto se recusou a servir de bandeira do regime nas eleições para a Presidência da República no mês transacto. “Em tais condições e forçado a ser, diametralmente ao contrário do meu desejo, uma bandeira, eu não podia deixar de fazer uma declaração de voto. Como a não deveria fazer ao público, requeri fazê-la a V. Exª” – escreveu no documento. Após as explicações iniciais, o prelado natural de Milhundos mostrou-se preocupado pelo facto da Igreja em Portugal, como a “campanha eleitoral revelou de forma irrefragável e escandalosa”, estar “perdendo a confiança dos seus melhores” – sublinha. Com o intuito de esclarecer a sua afirmação, D. António Ferreira Gomes apresenta dois casos ao Presidente do Conselho. No Minho – “coração católico de Portugal” – “mal os padres começavam a falar de eleições, os homens, sem se importarem como sentido que seria dado ao ensino, retiravam-se afrontosamente da igreja”. Nas juventudes da Acção Católica, os dirigentes “mais responsáveis saltam fora dos quadros e da disciplina, para manifestarem a sua inconformidade e desespero, fugindo ao conhecimento dos assistentes (que, apesar de tudo, lhes aconselhariam paciência)”. Estes dois factos causam preocupação ao bispo do Porto. “Está-se perdendo a causa da Igreja na alma do povo, dos operários e da juventude; se esta se perde, que poderemos esperar da sorte da nação?” – lê-se no «Pró-Memória». (PDF no final do artigo)

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Toi … moi … Quand la nuit tombe … | Malika Mellal

Arrive le temps des regrets , la mise à nue
Implacable sentiment quand on a perdu
Mysterieux moments de doutes
Évaluer le chemin , les routes
Refaire le trajet à l’envers
Se rappeller où l’on s’est croisés
À l’ombre du cadran solaire
Noter où les aiguilles se sont inversées
Sentir quand la nuit est tombée
Hululer la chouette de la destinée
Oracle de la nuit raccroche tes étoiles
Ne les caches pas derrière ce voile
Trace moi les lignes d’une constellation
Enchante ma nuit de sa belle vision
Si juste un soir je pouvais le voir
Au clair de ta lune ivoire
Ne serait ce que pour me donner espoir
Sentir encore une fois sa passion
Ses ensorceleuses vibrations
Coucher ma tête sur son épaule
Retenir mon souffle quand il me frôle
Utiliser la magie des mots pour un sourire
Poser un baiser sur ses lèvres qui soupirent
User de mon esprit pour le faire rire
Le graver dans ma mémoire , le saisir
Emporter mon chef d’oeuvre d’amour
Suivre ses pas l’empêcher de quitter le jour.

Malika Mellal 10 juillet 2018
@tout court tout simplement

A Besta | Maria João Cantinho

De que tempo somos, agora
que a tempestade sopra de novo
e ao céu sobe este monte de ruínas
devastação anoitecendo o mundo

tenta lembrar-te de que lado
veio um dia o alerta, de que armário
saiu este cortejo de sombras
onde se gravou o que a história
deixou escapar, nas malhas do mito

para de novo retornar
a besta silenciosa, a que vigia
sem que as pálpebras lhe desçam
uma única vez. Silente

talvez estivéssemos nós, os do Sul,
embriagados pela torpeza do metal
e por isso ela moveu-se devagar
como se fosse cinza na minha memória

MJC, «Do Ínfimo», Editado pela editora Penalux, Brasil, 2018.

Poesias eróticas de Bocage: as falsas e as verdadeiras | por Adelto Gonçalves

I

Durante largos anos, a imagem de Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) que ficaria para a posteridade seria a de um poeta erótico, pornográfico e chocarreiro. Nos últimos anos, porém, graças ao trabalho de estudiosos – inclusive, deste articulista –, essa imagem tem sido substituída por um perfil menos caricaturesco. Essa revisão ganha agora ainda mais força com a publicação de Obras completas de Bocage: Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas (Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2017), com organização e notas do pesquisador setubalense Daniel Pires, que reúne as composições de caráter fescenino do poeta, as de autoria duvidosa e as indevidamente atribuídas a ele, acompanhadas por estudo introdutório fundamental para uma melhor compreensão da dimensão do homem, da obra e do seu contexto.

Aliás, as Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas podem ser consideradas como o sétimo volume da obra completa de Bocage, depois de terem sido publicadas inicialmente de maneira anônima em forma de folheto no início do século XIX. Mas só foram, pela primeira vez integradas na obra completa de Bocage em 2004, na edição preparada pelo mesmo Daniel Pires para as Edições Caixotim, do Porto.

Nesta nova edição, porém, os poemas foram divididos por Pires em três núcleos: o primeiro contempla aqueles que são de Bocage, enquanto o segundo reúne aqueles de autoria duvidosa e o terceiro é constituído por peças que não lhe pertencem, mas que lhe foram atribuídas por editores pouco responsáveis ou ainda forjadas por seus inimigos, entre eles Belchior Curvo Semedo (1766-1838) e José Agostinho de Macedo (1761-1831), inclusive a famosa Ribeirada: poema em um só canto, de autor anônimo.

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Portugal ainda resiste a olhar para o passado de forma crítica | Miguel Cardina e Bruno Sena Martins | Entrevista de Camilo Soldado in Jornal Público

09-07-2018 | Jornal “Público” | Entrevista Camilo Soldado

Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, os investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra organizaram o livro “As Voltas do Passado”. Um conjunto de textos sobre o último fôlego do passado colonial português.

O pretexto para a publicação do livro As Voltas do Passado é o CROME, o projecto do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, que procura compreender como se foram reconfigurando as memória das guerras, desde a independência dos vários países até à actualidade. O subtítulo da publicação, A Guerra Colonial e as Lutas de Libertação, traduz essa tentativa de tratar “diferentes processos de memorialização”, tanto provenientes de Portugal como das ex-colónias. O resultado acaba por ser um mosaico de vozes, de geografi as e de gerações, com o colonialismo português como pano de fundo. No livro, lançado recentemente pela Tinta da China, cabem os momentos cuja importância é mais frequentemente reconhecida na história, como o discurso de Salazar que marcou o início da guerra, em 1961, o 25 de Abril de 1974 ou as independências após a revolução. Mas cabem também episódios menos conhecidos: desde a vida a bordo Vera Cruz, o paquete que transportava tropas a partir da metrópole, às páginas mais negras do domínio português em África, ilustradas pelos massacres de Batepá (São Tomé e Príncipe), Pidjiguiti (Guiné), Mueda e Wiriamu (Moçambique).

O cruzamento de memórias, afirmam os coordenadores da obra que reúne textos de mais de 40 autores, Bruno Sena Martins, doutorado em sociologia, e Miguel Cardina, doutorado em história e coordenador do CROME, “dá-nos um outro olhar sobre esse passado”. Defendem também que essa polifonia ajuda a explicar parte da organização social do país actual.

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Quem é Quem | Daniel Jonas – poeta, dramaturgo e tradutor

Daniel Jonas é poeta, dramaturgo e tradutor. Enquanto poeta, publicou, entre outros, Sonótono (Cotovia, 2006), que lhe valeu o prémio PEN de Poesia e Nó (Assírio & Alvim, 2014), galardoado com o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes da APE. Foi ainda um dos sete poetas nomeados para o Prémio Europeu da Liberdade, pelo seu livro Passageiro Frequente (Língua Morta, 2013), traduzido em polaco por Michal Lipszyc. Antes tinha sido distinguido com o prémio Europa David Mourão-Ferreira, da Universidade de Bari/Aldo Moro, pelo conjunto da sua obra. Traduziu vários autores, entre os quais John Milton, Shakespeare, Waugh, Pirandello, Huysmans, Berryman, Dickens, Lowry, Henry James e William Wordsworth. Como dramaturgo, publicou Nenhures (Cotovia, 2008) e escreveu Estocolmo, Reféns e o libreto Still Frank, todos encenados pela companhia Teatro Bruto.

Daniel Jonas regressa ao soneto com Oblívio, que chegou às livrarias, e é um desconcertante e surpreendente livro que nos traz de novo «(…) tempos diversos: o clássico, o romântico, o moderno, numa apoteose de rastos e linhagens que comparecem subtilmente», como afirmou António Guerreiro no preâmbulo a uma entrevista feita ao autor (Público, 2014). Na Assírio & Alvim estão também publicados os livros Bisonte e Nó, vencedor do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes da APE. Como nos diz o poeta, «Assim no meu soneto aqui gravei / Quem não sou nem fui e menos serei.»

Jamais tive eu amor senão por ti | Daniel Jonas

Jamais tive eu amor senão por ti.
Paixões o vento as trouxe e as levou
Qual ave migratória que pousou
Em temporário ninho onde vivi.

Amor, porém, é ave que povoa
O coração da gente e nele exulta
E ocupa de outra ave mais estulta
O coração partido e o perdoa.

Mas que fazer, se amor o dei ao vento
E sinto o coração ninho vazio
E sinto um grão calor e grande frio.

E amo em oração no meu convento?
Eu amo quem amei e me deixou;
Não amo quem pousou – só quem voou.

Daniel Jonas, in Oblívio.

DiEM25 | Eleições para o Colectivo Coordenador 2018

O momento chegou. Estamos de novo a renovar o nosso Colectivo Coordenador (CC), e todos os membros do DiEM25 estão convidados a candidatarem-se.
O CC coordena eventos, assembleias e campanhas que foram propostas pelos conselheiros, membros, DSCs ou pelos VC, organiza questões de política e prepara as votações internas, atua em resposta a eventos e gere as relações públicas do DIEM25.

De acordo com os princípios de organização do DIEM25, seis das doze posições do Colectivo Coordenador (CC) estão abertas para preenchimento via eleições internas. Os seis membros deste CC a postos para reeleição:

  • Renata Avila
  • Rosemary Bechler
  • Noam Chomsky
  • Brian Eno
  • Elif Shafak
  • Agnieszka Wiśniewska

Se quiseres candidatar-te a estes lugares, podes ler os requisitos e submeter a tua candidatura aqui

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Portugal e a escravatura: dois mal-entendidos | João Pedro Marques | in Jornal “Observador”

6/7/2018

Se o fito de Fernanda Câncio for esclarecer a opinião pública, então deve parar um pouco para se informar melhor. Mas se a sua intenção for flagelar Portugal, então não precisa de se informar.

A jornalista Fernanda Câncio, que, em Abril de 2017, na sequência da ida de Marcelo Rebelo de Sousa à ilha de Gorée, no Senegal, foi uma das iniciadoras do debate em torno da questão da antiga escravatura, esteve longos meses alheada desse tema, mas regressou agora a ele num artigo publicado no DN, no qual fez duas afirmações enganadoras. Disse, nomeadamente,“que Portugal sozinho (…) foi responsável por quase metade dos 12,5 milhões de negros escravizados e traficados de África para as Américas entre 1501 e 1875”; e acrescentou que “o grosso desse recorde mundial decorreu entre 1826 e 1850, ou seja, já após a mítica abolição da escravatura por Pombal (1761)”.

Comecemos pelo fim. Há, da parte de Fernanda Câncio, um mal-entendido quanto ao alvará abolicionista de Pombal. O dito alvará nada tinha a ver com tráfico transatlântico, aplicava-se apenas a Portugal metropolitano. Mas não é mítico. Existiu e produziu efeito. Deixaram de se importar escravos para o território metropolitano e um alvará posterior (1773) extinguiu gradualmente o estado de escravidão em Portugal continental. Foram os primeiros passos no sentido da abolição que, no âmbito do império português, só décadas depois seriam continuados. Mas esses passos deram-se e não foram revertidos. Fernanda Câncio parece ignorar que as leis abolicionistas foram muitas vezes graduais e sucessivas, abolindo parcela a parcela. A própria Inglaterra, a incontestável campeã do abolicionismo, aboliu o seu tráfico de escravos em anos sucessivos e não de uma só vez. Fernanda Câncio parece ignorar, também, que na terminologia do século XVIII, a palavra escravatura significava geralmente tráfico de escravos (e não escravidão, como significa para nós). Daí, talvez, alguma da sua confusão.

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Revista Outros Ares | Carlos Eduardo Pereira

Apesar de a prioridade da Outros Ares ser o conto, a revista sempre esteve aberta à submissão de crônicas e de trechos de romances. Sim, a Outros Ares nasceu com a ideia de ser mais um canal de divulgação e incentivo a esse gênero muitas vezes menosprezado por leitores e, consequentemente, pelas editoras, mas, num país de tão poucos leitores, infelizmente podemos dizer que todo gênero literário é menosprezado pelos leitores – à exceção dos best-sellers, é claro.

Mas se, por um lado, a Outros Ares sempre esteve aberta a outros gêneros, por outro nunca havia entrevistado um autor cujo gancho para a conversa não fosse o conto – ou a crônica. E é por isso que esta edição da revista tem uma “aura” especial: é a primeira vez que um autor é entrevistado não por seus contos ou crônicas, mas pelo seu romance.

Carlos Eduardo Pereira, carioca da safra de 1973, estreou na literatura em 2017 com o romance “Enquanto os dentes”, publicado pela então recém-criada editora Todavia, que em pouco tempo de existência vem colocando nas livrarias obras que vêm dando o que falar – assim como “Enquanto os dentes” deu. O livro foi exaltado tanto pela crítica especializada quanto por leitores que comentam suas leituras em blogs e sites literários.

Ler mais aqui: https://outrosares.wordpress.com

O realismo mágico nos contos de Lourenço Cazarré | por Adelto Gonçalves

                                                           I

Após uma espera de mais de três décadas, estão de volta os contos de Enfeitiçados todos nós (Florianópolis, Editora Insular, 2018), livro do jornalista, contista e romancista Lourenço Cazarré (1953), lançado em 1984 pela Editora Melhoramentos, de São Paulo, depois que seu autor havia conquistado pela segunda vez o Prêmio Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, o mais importante concurso literário daquela época. Mais: esta segunda edição traz outros três contos, publicados pela primeira vez em 1986 em jornais e revistas, que, encorpados aos seis da edição original, constituem uma bela mostra do trabalho de Cazarré, um dos mais talentososeoriginais contistas de sua geração.

Como observa o experiente jornalista e escritor Geraldo Hasse no prólogo que escreveu para este livro, Cazarré não “inventa” personagens nem enredos – no máximo, glamouriza-os, ao humanizá-los, acrescente-se –, mas “apenas reprocessa histórias reais”. É o que se pode constatar no conto “O expedicionário” em que o autor coloca a personagem a falar na linguagem coloquial dos gaúchos para contar a sua própria história de soldado brasileiro na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), agora transformado num homem próximo aos 60 anos de idade, precocemente envelhecido, abandonado por todos e pela chamada pátria:

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Se Tu Viesses Ver-me… | Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

Florbela Espanca, in “Charneca em Flor”

Solidão | Rainer Maria Rilke

A solidão é como uma chuva.
Ergue-se do mar ao encontro das noites;
de planícies distantes e remotas
sobe ao céu, que sempre a guarda.
E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,
quando todas as vielas se voltam para a manhã
e quando os corpos, que nada encontraram,
desiludidos e tristes se separam;
e quando aqueles que se odeiam
têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios…

Rainer Maria Rilke, in “O Livro das Imagens”
Tradução de Maria João Costa Pereira

De volta à Universidade | 9 a 13 de Julho | José Gabriel Pereira Bastos

De volta à Universidade, vou, pela primeira vez, poder testar em público, com quem quiser vir, a minha concepção pós-freudiana da psicanálise, como (única) Teoria Geral da Acção Humana (disponível), equivalente epistemológico, pela sua abrangência, da Teoria do Tudo cósmico, de Hawking e da Teoria Evolucionista de Darwin – uma Grande Teoria do Tudo Humano, preocupada com a Análise das Produções Culturais, com a análise dos Processos Narcísicos e com o Mal-Estar na Civilização – uma Ciência de tipo novo, transversal e integrativa, totalmente irredutível às disciplinas gestionárias e à ‘clínica das neuroses’ em que os ‘profissionais’ gostam de a encerrar, longe das vistas do ‘público’.

A PROPÓSITO DA MADONNA | Hélder Bértolo

(…)  não há nada de ilegal, nem nenhum favorecimento, por parte do  (…)  Presidente da Câmara de Lisboa.


Escrevo este texto porque penso que aquilo que se verifica a propósito desta situação se observa igualmente em muitas outras situações nas redes sociais e, até, nos meios de comunicação social.

Como ponto prévio, eu pecador me confesso: não sou fã de Madonna.
Gosto de algumas músicas, penso que teve comportamentos relevantes na defesa dos direitos de minorias, que quebrou estereótipos, etc… mas nunca fiz uma viagem ao estrangeiro para ver um concerto, nem conheçoa discografia de cor, nem tenho uma colecção de CDs e DVDs.

As pessoas são TODAS livres de ter a sua opinião e, inclusivamente, porque vivemos em democracia, de dizer os maiores disparates. Mas não gosto de «achismos» (como agora se costuma dizer).
Seja por preguiça, por falta de tempo, por incapacidade de análise, a maior parte das vezes essas opiniões não são minimamente fundamentadas. Nem há argumentos sólidos que as defendam.

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Entre mulheres – Diário de um lisboeta (romance) | em breve nas Livrarias | Vera de Vilhena

Pré-venda de promoção, no site da poética  edições. Só até 15 de Julho.
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«Uma história de vida, narrada com um humor subtil, uma desenvoltura surpreendente e uma simplicidade desarmante, quase subversiva.» 
Rita Ferro, escritora
 
«A literatura é porventura a única máquina do tempo eficaz e romanticamente fiável. Neste livro, a memória é crucial para se entender a paletta difícil de sentimentos que cruzam a vida das pessoas. A história transporta-nos para o que há de melhor em nós, em todos nós, numa escrita irrepreensível, capaz de nos tocar e de nos tomar de assalto.»
Patrícia Reis, escritora, editora.
 
SINOPSE
Percorrendo um espelho de memórias, que parte das ruas de Lisboa e se ramifica na infância, nas conjecturas e dilemas, numa sofrível determinação, na incerteza e nostalgia de um homem a sós, o leitor vai descobrindo o seu próprio reflexo. A reinvenção dos laços familiares quebrados, a sua justiça ou merecimento, dificilmente serão previsíveis ou consentidos. O projecto da escrita, devorado com absurdo idealismo, vai simbolizando a metamorfose a que assistimos página a página, impulsionada pela descoberta da leitura e o erotismo de alguns encontros. Neste romance, as mulheres que flutuam na esfera de emoções do protagonista – filho, marido, irmão, pai e amante –, constituem o pilar da sua salvação. Apesar de tudo. Ou não fosse a vida. 
 
Nas livrarias a partir de 25 de Julho
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UM EQUÍVOCO QUE TARDA EM DESFAZER-SE | Rodrigo Sousa e Castro

Após a queda do muro de Berlim e a pulverização da URSS o pacto de Varsóvia colapsou e a ameaça para a qual a NATO foi instituída desapareceu.
Quer do ponto de vista ideológico, – a Rússia e todas as ex repúblicas soviéticas são hoje países capitalistas – , alguns no pior sentido, quer do ponto de vista militar com os exércitos desses países em confrangedor estado, juntamente com os inevitáveis ajustes de contas que ainda correm entre eles, deixaram de ser uma ameaça credível para as potências regionais europeias.
O que restou então ?
Apenas e só os interesses inconfessados de uma camarilha de privilegiados que mantêm a ficção que o inimigo está no Leste.
No auge da guerra fria , o grande De Gaulle, manteve as forças armadas francesas fora do comando NATO, porque sabia, tal como os britânicos que a sua força de dissuasão nuclear era mais que suficiente para manter em respeito qualquer veleidade soviética.
Hoje é mais que evidente que a NATO, mercê da ambígua politica alemã, mantem a ficção do inimigo a Leste estando em vias de cair definitivamente no ridículo.
Esta situação , ausência de inimigo credível, coloca a NATO num vazio estratégico e permite que Trump e a sua administração diga:
– querem brinquedos caros , paguem-nos.
O próximo encontro Putin Trump, dirá muito sobre a sorte dos apaniguados da nova guerra fria artificialmente criada e mantida para sustento de escassas elites e orgasmo intelectual de comentadores e jornalistas da treta.

Rodrigo Sousa e Castro

Retirado do Facebook | Mural de Rodrigo Sousa e Castro

Pourquoi les femmes kabyles portent elle Amendil ?(foulard kabyle) | Fadette Aiache

Selon la légende, l’histoire débute dans les montagnes de Tiggoura au nord de la ville de Bejaïa , des cavaliers faisaient le tour de la région à cheval , malheureusement ils se sont piégés dans un torrent terrible celui de Bousallem ou une avalanche d’eau surpuissante s’abattait sur eux . Pour essayer de s’en sortir ils decidèrent de s’accrocher les uns aux autres. Pris de panique ils crièrent “À l’aide ! À l’aide”. Par chance un groupe de femmes aux longues tresses étaient en train de ceuillir des olives non loins de là. En kabylie durant cette période avoir de long cheveux étaient un signe de beauté . Elles accoururent et les vies ensanglantés , écorchés , elles décidèrent donc de couper leur grandes et magnifique tresses et d’en faire une longue corde afin que les cavaliers puissent s’échapper du torrent. En kabylie les cheveux de la Femme sont sublimés , on leur donne encore aujourdhui beaucoup d’admiration. Depuis cette histoire les femmes kabyles se couvrent La tête ( ce n’est donc pas un signes religieux ) pour protéger du froid , des cassures ou de la chaleur du soleil en été. Le foulard est admirablement porté avec un noeud sur le côté , un pan derrière qui laisse apparaître la longue tresse de la femme.

Fadette Aiache

Retirado do Facebook | Mural de Fadette Aiache

Germano Almeida: “Não me peçam desculpa pelos meus antepassados, tratem-me a mim como gente” | por Joana Emídio Marques in Jornal “Observador”

Germano de Almeida, 73 anos, escritor cabo-verdiano, recebeu este ano o prémio Camões. É publicado em Portugal há 30 anos mas os seus livros vendem pouco mais de 100 exemplares. Este ano o prémio Camões veio dizer que há África para lá de Agualusa e Mia Couto.

Chama a si mesmo “contador de histórias”, herdeiro daqueles homens que nas noites infinitas da ilha da Boavista, Cabo Verde, sem luz elétrica, sem televisão, sem telefones, sem Internet, se sentavam à porta das casas para contar histórias. Eram noites de lua cheia, as crianças pagavam-lhes em cigarros e eles tiravam da memória essas histórias onde se fundia a ancestralidade de Europa e África, de colonos e escravos, de romances de cavalaria e mitos, de gente que na sua passagem pelas Ilhas deixava para trás peripécias, tragicomédias ou tragédias, morte e vida. Mas sobretudo onde o crioulo e o português se misturavam para que todos, contador e ouvintes, se transmudassem em heróis de mundos por achar. É este tempo mágico onde a palavra tinha a força da magia e da honra que Germano Almeida, prémio Camões 2018, reclama para si.

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José Manuel Tengarrinha (1932-2018), uma vida à procura da geringonça | por Nuno Ribeiro in Jornal “Público”

“Ou saímos todos ou nenhum”. Esta frase foi mais uma dificuldade, inesperada, para o Movimento dos Capitães, nas horas imediatas ao 25 de Abril de 1974. As vozes vinham do Forte de Caxias e, entre esse coro de solidariedade reivindicativa que punha em causa a libertação por fases dos presos políticos defendida pelo General António de Spínola, estava José Manuel Tengarrinha (1932-2018), a cumprir a sua sexta pena de prisão de uma luta incessante contra a ditadura. O corpo de Tengarrinha, que morreu sexta-feira na sua residência do Estoril, está a partir das 18 horas deste domingo na Basílica da Estrela, de onde sairá na segunda-feira para cremação, numa cerimónia reservada à família.

“Hoje, os partidos de esquerda não são suficientemente credíveis para mobilizarem, limitam-se aos rituais das campanhas eleitorais”, dizia Tengarrinha, em Abril de 2012 ao PÚBLICO, na véspera de uma homenagem pelos seus 80 anos: “[os partidos] não têm capacidade de flexibilizar posições, de encontrarem pontos de encontro, quem está na linha dura pensa que será mal compreendida uma aliança com o outro sector.”

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A Grande Inteligência é Sobreviver | Gonçalo M. Tavares

A grande Inteligência é sobreviver.
As tartarugas portanto não são teimosas nem lentas, dominam;
SIM, a ciência.
Toda a tecnologia é quase inútil e estúpida,
porque a artesanal tartaruga,
a espontânea TARTARUGA,
permanece sobre a terra mais anos que o homem.
Portanto,
como a grande inteligência é sobreviver,
a tartaruga é Filósofa e Laboratório,
e o Homem que já foi Rei da criação
não passa, afinal, de um crustáceo FALSO,
um lavagante pedante;
um animal de cabeça dura. Ponto.

Gonçalo M. Tavares, in “Investigações”

Lai.com.br | Marcia Lailin Mesquita

Na minha imaginação
de desde sempre
sempre pensei
encucou-se em mim
que deveria ser gênio
ou muito louca
para seguir aquilo que esta em mim
Na metade do fim de uma vida
descobri que posso
pintar assim como Deus, que em uma mesma árvore
colocou todas as cores
e todos passam e dizem: que belo
Ou são muito loucos
ou muito tolos


Descobri que posso escrever
com meus erros e acertos
mais erros do que acertos
e não precisar
sonhar nem fazer das tripas coração
pois sei que jamais chegarei a ser uma Florbela
e assim como aquele garoto ontem sentado em uma cadeira de rodas
eu posso falar alto e em bom tom
o que escuto todos dias por meio de uma voz metálica
“Estação Santa Cecilia, desembarque pelo lado esquerdo”

Lai

A Minha Religião é o Novo | Gonçalo M. Tavares

A minha Religião é o Novo. 
Este dia, por exemplo; o pôr do Sol,
estas invenções habituais: o Mar.
Ainda:
os cisnes a Ralhar com a água. A Rapariga mais bonita que
ontem.
Deus como habitante único.
Todos somos estrangeiros a esta Região, cujo único habitante
verdadeiro é Deus (este bem podia ser o Rótulo do nosso
Frasco).
Dele também se podia dizer, como homenagem:
Hóspede discreto.
Ou mais pomposamente:
O Enorme Hóspede discreto.
Ou dizer ainda, para demorar Deus mais tempo nos lábios ou
neste caso no papel, na escrita, dizer ainda, no seu epitáfio que
nunca chega, que nunca será útil, dizer dele:
em todo o lado é hóspede,
e em todo o lado é Discreto.

Gonçalo M. Tavares, in “Investigações.

Gonçalo M. Tavares, in “Investigações”

Migrações e refugiados | Carlos Matos Gomes

No futuro todos nós, europeus e americanos vamos vaguear em busca de uma terra prometida

Quanto a fechar fronteiras e erguer muros para impedir migrantes, em especial africanos, de entrar nos nossos espaços com casas climatizadas, água, eletricidade, hospitais, escolas, horários, salários, mercados, imagens de felicidade e abundância em cartazes de publicidade, quer a Europa quer os Estados Unidos têm razão: eles não são bem vindos. Nãos os queremos a pedir às nossas portas, a estragar a nossa paisagem, a ameaçar a nossa ideia de tranquilidade!

A partir da segunda metade do século XX, a Europa e a América construíram o mais parecido com uma Terra Prometida que existiu na História da humanidade. É certo que alcançaram esse feito universal em boa parte à custa das riquezas das terras que colonizaram e ocuparam no planeta desde o século XVI, mas esse foi — assumem — já um mérito seu, da sua capacidade de inovação e de determinação, da sua superioridade. Trataram de si.

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Ne tombe pas amoureux | Martha Rivera-Garrido

Ne tombe pas amoureux d’une femme qui lit, d’une femme qui ressent trop, d’une femme qui écrit…
Ne tombe pas amoureux d’une femme cultivée, magicienne, délirante, folle.
Ne tombe pas amoureux d’une femme qui pense, qui sait ce qu’elle sait et qui, en plus, sait voler ; une femme sûre d’elle-même.

Ne tombe pas amoureux d’une femme qui rit ou qui pleure en faisant l’amour, qui sait convertir sa chair en esprit ; et encore moins d’une qui aime la poésie (celles-là sont les plus dangereuses), ou qui s’attarde une demie heure en fixant un tableau, ou qui ne sait pas comment vivre sans musique.

Ne tombe pas amoureux d’une femme qui s’intéresse à la politique, qui soit rebelle et qui a le vertige devant l’immense horreur des injustices. Une qui aime les jeux de foot et de baseball et qui n’aime absolument pas regarder la télévision. Ni d’une femme qui est belle peu importe les traits de son visage ou les caractéristiques de son corps.

Ne tombe pas amoureux d’une femme ardente, ludique, lucide et irrévérencieuse.

Ne t’imagine pas tomber amoureux de ce genre de femme.

Car, si d’aventure tu tombes amoureux d’une femme pareille, qu’elle reste ou pas avec toi, qu’elle t’aime ou pas, d’elle, d’une telle femme, JAMAIS on ne revient.

Martha Rivera-Garrido

Retirado do Facebook | Mural de Malika Mellal