António Barahona | “Acredito que não se morre, muda-se de estado” | Entrevista de Diogo Vaz Pinto in Jornal “i”

Os 80 anos não foram o suficiente para enxotar o seu ânimo mais desavergonhado mas, para Barahona, a beleza não sobrevive sem algum pudor

Foto de Hugo Alves

Beco dos Birbantes, velha cicatriz de quantos golpes, é um desses traços a que só se chega sendo muito íntimo de uma cidade. Já aparecia referido antes do terramoto de 1755, e aí, no que ficou de uma antiga vila operária, vive um grande poeta português. Na rua estreitíssima, sem saída, o sol só passa a língua, brevemente, a sombra pouco aquece e Lisboa sente-se encostada a uma escrupulosa saudade. À volta, há uns anos, as muralhas dissimuladas dos condomínios de luxo. E ele tem rejeitado propostas para abandonar a casa que explica em termos modestos a riqueza de viver na capital como numa aldeia. Vive ali há anos, com os filhos adolescentes e a mulher, bem perto do Jardim do Torel, que se debruça sobre uma vista agreste da selva de betão. Fizemos as fotografias e ele posou com toda a paciência, desinteressado de como pudesse ficar. Um homem que a morte há-de descobrir ainda muito belo, “contraditório, puro, sábio”, alguém que, a um ano dos 80, sente a vida envolta em beleza, ainda que avance sobre o caos e as trevas. Num trabalho que o vem ocupando nos últimos anos e que o terá até ao último fôlego, este colega de Camões, Cesário e Camilo Pessanha tem reescrito toda a obra e acaba de publicar o sexto tomo da sua suma poética – “Aos Pés do Mestre” (ed. Averno). Confessou-nos a tristeza de ficar sozinho cada verão, quando os filhos fazem férias na praia. Um homem que não se cansa de amar não chega a ver a velhice. António Barahona, o benjamim do grupo do Café Gelo, foi pai aos 26 – o mais novo dos nove filhos tem hoje 14 anos. Viajou muito, converteu-se ao islão quando tinha 30, entrou em inúmeras polémicas, perdeu alguns amigos, mas tem feito mais. É desses cujo talento começa na sua capacidade de admiração. Fala dos amigos como “jardins suspensos do meu repouso, árvores com folhas todo o ano”. Tem–se batido contra o acordo ortográfico, medida que o fez adoptar uma ortografia pessoal. Esta é hoje o mais eloquente libelo contra a “burrocracia” que, em nome de uma imbecil uniformização da língua, tem desfigurado a sua beleza. Continuar a ler

The Ignorant Do Not Have a Right to an Audience | By Bryan W. Van Norden, professor of philosophy | in New York Times

On June 17, the political commentator Ann Coulter, appearing as a guest on Fox News, asserted that crying migrant children separated from their parents are “child actors.” Does this groundless claim deserve as much airtime as, for example, a historically informed argument from Ta-Nehisi Coates that structural racism makes the American dream possible?

Jordan Peterson, a professor of psychology at the University of Toronto, has complained that men can’t “control crazy women” because men “have absolutely no respect” for someone they cannot physically fight. Does this adolescent opinion deserve as much of an audience as the nuanced thoughts of Kate Manne, a professor of philosophy at Cornell University, about the role of “himpathy” in supporting misogyny?

We may feel certain that Coulter and Peterson are wrong, but some people feel the same way about Coates and Manne. And everyone once felt certain that the Earth was the center of the solar system. Even if Coulter and Peterson are wrong, won’t we have a deeper understanding of why racism and sexism are mistaken if we have to think for ourselves about their claims? And “who’s to say” that there isn’t some small fragment of truth in what they say?

If this specious line of thought seems at all plausible to you, it is because of the influence of “On Liberty,” published in 1859 by the English philosopher John Stuart Mill. Mill’s argument for near-absolute freedom of speech is seductively simple. Any given opinion that someone expresses is either wholly true, partly true or false.

Continuar a ler