O PESO DA TRISTEZA DA ÉPOCA MAIS FELIZ DO ANO | Inês Salvador

Ines - 200Há muitos anos fui passar o ano ao Porto. Amigos vestidos a rigor e um reveillon muito animado, animadíssimo. Quanto mais as horas passavam mais animada ficava a festa. Comida, bebida, música, baile! Uma festa de reveillon! Às tantas, partiram-se uns copos e um pedaço de vidro entrou-me na sandália e cravou-se no calcanhar. As dores eram lancinantes e toda a tentativa de perceber exactamente o que passava com o meu pé tornava a coisa ainda pior. O vidro teimava em entrar na carne, tornando-se insuportável e invisível no sangue que espalhava. Levaram-me para o hospital. Ir para ao hospital não é bem o que se deseja numa noite de reveillon, mas estávamos tão animados, tão quentes da festa, que tudo nos parecia muito simples. Íamos num instante tratar do meu pé e voltávamos para a festa. E lá fomos, em estilo aventura, para as urgências, a ver se vendiam pés, se tinham pés para a troca, que fosse rápido, porque tínhamos uma festa para continuar. A urgência estava deserta, parecíamos só nós a estar ali. Claro, ficámos a achar, também era reveillon na urgência. Rapidamente fomos atendidos. Como não conseguia andar, deitaram-me numa maca e levaram-me para dentro.

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Festival DDD | Dias da Dança

DDD

FESTIVAL DDD – DIAS DA DANÇA
— 27 ABR — 7 MAI 2016 —

Programação — Line-up

DDD IN [Espetáculos / Performances] Né Barros • Bruno Senune • Quintas de Leitura • Dinis Machado • Balleteatro • Miguel Pereira • Aimar Pérez Galí (ES) • Ambra Senatore – CCNN (IT/FR) • Vera Mantero • Cristina Planas Leitão • Curtas de Dança • Mara Andrade • Joana Castro & Flávio Rodrigues • João Fiadeiro • Marlene Monteiro Freitas • Gonçalo C. Ferreira • Eldad Ben-Sasson (ISR) / Kale Companhia de Dança • André Mendes • Raimund Hoghe (DE)

DDD OUT [Espaço Público / Public Space Corpo + Cidade] Miguel Costa e Gabriela Vaz Pinheiro • Né Barros • Catarina Félix (Útero) • Ana Rita Teodoro • Charlotte Spencer (UK) • Gilles Verièpe (FR)

DDD EXTRA [Outras Atividades / Other Activities] Masterclasses • Encontros / Meetings • Conversa Pós-Espetáculo / Talks after performances • Cinema • Aquecimento Paralelo / Parallel Warm Up • Meeting Point – Festas / Parties

O programa completo será anunciado brevemente
The full line-up will be announced shortly

© “Songs for Takashi”, Raimund Hoghe (DE)

Programação e Direcção: Tiago Guedes

Brevemente aqui: FESTIVAL DDD

Antigos Alunos do Colégio La Salle de Abrantes | Carlos Borrego | Encontro a 30 Abril, Abrantes

Carlos Borrego - 200Caros Antigos Alunos do Colégio La Salle de Abrantes
Será uma festa reencontrarmo-nos e celebrar a festa da amizade e a pertença ao Património La Salle
de humanismo, tolerância, solidariedade, educação e serviço.
Dia 30 de Abril – Sábado- Colégio La Salle – Abrantes

No encontro dos antigos alunos do Norte com os antigos alunos do Sul, realizado em Fátima no dia 10 de Outubro do ano passado, ficou agendada a realização de um encontro de ex-alunos do Colégio La Salle de Abrantes, a levar a cabo nas próprias instalações desse Colégio ( hoje escola secundária Dr Manuel Fernandes). O Vitor Coelho da Silva, o Eugénio Marques e o Miguez Garcia ofereceram-se para preparar a logística.
A Comissão organizadora é constituída por eles e por mim. Se mais alguém puder participar, sobretudo para os arranjos audio-visuais do material fotográfico, seria óptimo.

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Marilyn Monroe | Um je-ne-sais-quoi! | 25 fotografias

É uma das melhores fotografias de Marilyn Monroe. Tem na sua essência um pormenor que a distingue de todas as outras: a luz está no cabelo e na roupa como se a vida fosse um círculo perfeito entre o Outro e nós, uma elipse em que a beleza não é tida nem achada. É fotografar aquilo que nos lê no regresso da luz. (José Tavares)

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O HOMEM A ARDER | txt/ img ptn | 28/03/2016 | Pedro Teixeira Neves

Telefonam-me e dizem-me: vem depressa, está um homem prestes a arder. Pedi calma, acabara de começar a escrita de um texto. Havia muito que a simpática inspiração não me visitava. Calma, por favor, não será fumo sem fogo? – ainda perguntei antes de terminar uma frase com a qual ia chegando a acordo. Que não, asseguravam-me num estado de agitação que por um triz não me passava para as palavras. Pensei então num homem a arder. E depois na rua onde esse homem se encontrava a arder. E depois no bairro onde esse homem se encontrava a arder. E depois na cidade onde esse homem se encontrava a arder. E depois pensei que daria uma bela fotografia. Olho a parede branca da minha sala e vejo o homem a arder. Levantei-me então, peguei na máquina fotográfica e fui a correr. Cheguei mesmo antes dos bombeiros. As chamas acariciavam o homem e ainda olharam para mim, vermelhas, rubras. Mal tive tempo para uma fotografia. Hoje, a fotografia do homem na parede da minha sala aquece-me no rigor do inverno. O homem, dizem que deu cinza. Mas se eu fechar os olhos, na parede de minha casa o homem também desaparece. Não há fogo sem fumo.

PTN

Alexandre Herculano | Aniversário do seu Nascimento | 28-03-2016

aelxandre herculanoNo dia em que passa mais um aniversário sobre o nascimento de Alexandre Herculano, saúdo-vos com o magnífico busto do historiador, romancista e poeta, que me acompanha na livraria alfarrabista.
O seu olhar sábio, segreda-me dia a dia, uma vida plena de dedicação pelo estudo e pela investigação, pelas causas que abraçou, por tanto que nos legou.
Herculano não foi só o introdutor da elaboração científica da história ou um dos fundadores do romantismo em Portugal. Não foi apenas um lutador da causa liberal contra o regime miguelista, nem se limitou a ser Bibliotecário-Mor das Bibliotecas da Ajuda e das Necessidades, ou um notável historiador e romancista do seu tempo.
Alexandre Herculano foi, acima de tudo, um homem probo e honrado, que soube retirar-se a tempo e no tempo certo, recolhendo-se na sua Quinta de Vale de Lobos, aqui, em pleno Ribatejo, longe das intrigas palacianas e dos políticos de pacotilha.

Como ele, aprendi a ser “mais monge que missionário”.
Sem necessidade de mosteiro ou de convento. Bastando-me o mundo dos livros.

Um abraço do,
Adelino Correia-Pires 

ORIGINAL AQUI:  BLOG DOUTRO TEMPO

Portables : raccrochez, c’est une horreur !

portateis - 250Et si nous étions à l’aube d’un scandale sanitaire majeur ? Electrosensibilité, cancers, plusieurs travaux scientifiques démontrent la nocivité des radiofréquences sur la santé. Une étude de l’Inserm confirme  le lien entre l’utilisation intensive du téléphone ­portable et apparition  de tumeurs cérébrales. 

Inquiétant.

LER AQUI: TV5 MONDE

O que Portugal tem a ver com o Brasil | Alexandra Lucas Coelho in Jornal “Público” 2016-03-27

alexandra lucas coelho(…) o espanhol Bartolomé de las Casas não partilhava a visão concentracionária dos jesuítas portugueses em relação aos ameríndios, tal como várias vozes se foram levantando contra a escravatura africana: mas o Brasil escravocrata, herdeiro dos privilégios, foi o último país americano a aboli-la, em 1888. (…)

1. Os portugueses não parecem ter uma boa relação com os brasileiros, disse-me uma alemã, conhecedora profissional de Portugal e Brasil. Estávamos na Alemanha, o Brasil temia uma guerra civil, foi há dez dias. A minha interlocutora não se referia à relação de portugueses com brasileiros nesta crise, e sim em geral. A minha resposta instintiva foi contrapôr, contar por exemplo como muitos portugueses cresceram com música brasileira, e isso é parte da nossa vida. Agora, de volta a casa, continuo a pensar na observação desta veterana, que nada tinha de provocadora, era só vontade de entender. Muitos portugueses, creio, teriam respondido da mesma forma instintiva, a que podemos chamar amorosa. Mas é impossível ignorar o que se tem manifestado em Portugal de equívoco face ao Brasil ao longo destes dias. Não sendo novidade, acho que nunca o tinha visto propagado assim, talvez porque nunca houve tantos meios para isso, e porque este tempo apocalíptico favorece uma excitação de circo romano. Em 2016, facilmente o clamor se torna viral, entre media e redes sociais. Justiceiros instântaneos brotam de um clique, prolongando 516 anos de equívocos. Segundo um desses equívocos, provável pai dos outros, o tema da colonização encerrou-se, chega de falar dele, é passado. Penso o contrário, que mal começámos, que é presente, e a actual crise brasileira acentua isso. Não só pelo que expõe das estruturas brasileiras, como pelo que revelou do olhar de Portugal sobre o Brasil, e sobre si mesmo.

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O Deputado da Nação, de Manuel da Silva Ramos e Miguel Real | 30 de Março – 18h30

miguel real - silva ramos

Umbelino Damião nasceu pobre. Ainda jovem, emigrou para Paris, onde viveu o Maio de 1968, andou pelo Brasil fugido de Faustina, uma compatriota por ele tomada de amores, e combateu em Moçambique, na Guerra Colonial. De regresso a Lisboa, sem trabalho, decide abrir um bordel, frequentado pela alta sociedade, onde conhece o futuro presidente do Partido. Por essa razão, decide entrar na política, sendo deputado durante várias legislaturas. Fora do Hemiciclo, faz negócios pouco transparentes com autarcas e chineses e inventa um creme de leite de burra que faz rejuvenescer as mulheres.

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FUNDEC/I.S.T. | Curso de dimensionamento de estruturas de betão pré-esforçado

dimensionamento-estruturas-betao-pre-esforcado-2016

Nos próximos dias 30 e 31 de Março, a Associação para a Formação e o Desenvolvimento emEngenharia Civil e Arquitetura (FUNDEC) organiza, no Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos do Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, a segunda edição do “Curso Avançado Sobre Betão Pré-esforçado“.

Coordenada pelos Professores Eduardo Júlio e João Almeida, do IST, esta ação de formação, dirigida a Engenheiros Civis da área de estruturas, centrar-se-á no projeto de edifícios e pontes com elementos de betão pré-esforçado.

O conjunto de temas do curso incluirá a conceção, critérios de dimensionamento e verificação da segurança de estruturas pré-esforçadas, aços e sistemas de pré-esforço, sistemas de pré-esforço e FRP pré-esforçados.

Serão igualmente abordados a conceção e aplicações pré-esforço em edifícios, conceção e aplicações de pré-esforço em pontes, conceção e aplicações de pré-fabricação em pontes, conceção e aplicações de reforço com pré-esforço exterior e reparação e reforço com pré-esforço exterior

O curso incluirá a apresentação de casos de estudo relativos a um edifício da Avenida Elísio de Moura em Coimbra e à investigação de uma viga pré-esforçada em BED reforçada com laminados de CFRP pré-esforçados. Será também analisado em detalhe um projeto de aplicação de pré-esforço.

Informações
Fernanda Correia / Vanessa Silva
Tel.: 21 841 80 42
Fax: 21 841 81 93
e-mail: fundec@tecnico.ulisboa.pt

Fonte: FUNDEC | Imagem (adaptada/ilustrativa): via SDOT

Alhan Wa Chabab | Celia | Musique de Takfarinas

Je ne suis pas Algérienne mais moi aussi j’adore l’Algérie. Un pays magnifique : sa musique langoureuse souvent mais aussi magique car elle vous envoûte. On en a l’exemple avec cette superbe chanson et la chanteuse met tellement bien en valeur les vêtements et les bijoux de là-bas. Quant aux paysages, ils sont multiples et tellement variés. J’ai eu la chance de le parcourir de la côte (Tlemcen, Cherchell, Timgad et ses ruines romaines,) jusqu’à Hassi Messaoud, par Oran, Mascara, Laghouat et en remontant par Blida, Sidi, Biskra, Blida, Alger, Sidi, Tizi Ouzou, sans oublier la merveille des merveilles au milieu des Sables : GHARDAIA. Vraiment sublime. (Andrée Angibaud)

Páscoa | Maria Isabel Fidalgo

maria isabel fidalgo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um caudal de água fria
numa margem do olhar
uma friagem vítrea na carne
um farricoco quaresmal
em procissão de enterro.
Gorjeia uma ave no ar esquivo
e medito um rio azul de azul
um verde numa aguarela
perto da lonjura. Ou perto de Ti
porto para a distância.
De todos os barcos onde naveguei sobram-me remos
mas nenhum atravessa de sol a varanda fria
onde penduro o que ainda recende a flor por abrir.
Na Páscoa árida do ser um Cristo ressuscitado
vem redondo de morte. Branco na cruz
o seu corpo de arcanjo agoniza espalmado
no círculo do poema onde o sepultaram
por toda a eternidade.

maria isabel fidalgo

 

Tempo da Descoberta | Joaquim António Ramos

tempo da descoberta - quitó

Joaquim António Ramos tem 65 anos e vive em Azambuja, onde nasceu, e a cuja Câmara presidiu durante 12 anos.

Licenciado em Economia, foi professor universitário, responsável, durante mais de duas décadas, pelo sector de Ambiente do Município de Lisboa, consultor de diversas empresas de estudos ambientais e desenvolveu vários projectos, nacionais e internacionais, nessa mesma área.

Foi durante dois mandatos coordenador do Comité de Ambiente das Eurocities, sediado em Bruxelas.

Em 2005 publicou a sua primeira obra literária, “ Contos Semibreves”.

La scientifique algérienne Hakima Amri honorée à New York

Pic2Mme Hakima Amri, professeur émérite de l’université américaine Georges Town vient d’être récompensée par la Société des consuls généraux à New York (SOFC) pour ses contributions importantes dans le domaine de la recherche scientifique.

Professeur agrégé en biochimie et en physiologie, Mme Amri s’est vue décernée le certificat de reconnaissance de la SOFC, plus grand corps consulaire du monde comprenant 115 consulats généraux, pour son illustration dans son domaine d’activité et sa contribution au dynamisme et à la diversité de la société américaine.

Au cours d’une cérémonie organisée à cet effet à New York et à laquelle ont pris part les Etats membres du corps consulaire ainsi que les représentants des autorités locales de l’Etat de New York, la SOFC a salué également l’engagement de cette scientifique en faveur de sa communauté et de son pays.

Spécialisée dans la biochimie et la biologie cellulaire et moléculaire, Mme Amri est directrice des études supérieures en médecine intégrative à Georgetown University, et vice-présidente de Phylomics LLC, société spécialisée dans le traitement des données dans le domaine de la santé et de la recherche scientifique.

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Animation: The Early Flash of an Exploding Star, Caught by Kepler

Publicado em 21 de mar de 2016

The brilliant flash of an exploding star’s shockwave—what astronomers call the “shock breakout” — is illustrated in this cartoon animation. The animation begins with a view of a red supergiant star that is 500 times bigger and 20,000 brighter than our sun. When the star’s internal furnace can no longer sustain nuclear fusion its core to collapses under gravity. A shockwave from the implosion rushes upward through the star’s layers. The shockwave initially breaks through the star’s visible surface as a series of finger-like plasma jets. Only 20 minute later the full fury of the shockwave reaches the surface and the doomed star blasts apart as a supernova explosion. This animation is based on photometric observations made by NASA’s Kepler space telescope. By closely monitoring the star KSN 2011d, located 1.2 billion light-years away, Kepler caught the onset of the early flash and subsequent explosion.
Read more: http://www.nasa.gov/feature/ames/Kepl…
Credit: NASA Ames, STScI/G. Bacon

O Grande Chef Caseiro Na Mão de Deus | Miguel Calado Lopes

O grande chefe caseiro

«A história de um pobre desgraçado levado a tribunal pelas suas “ex” que o acusam de ser um engordador em série e exigem que ele lhes pague as curas de emagrecimento. Eis o “lead”: Sebastião dos Santos percebeu que estava em maus lençóis quando o seu psiquiatra se riu no momento em que lhe confessou sofrer de uma crise de masculinidade. “Não se preocupe, tenho o consultório cheio”. A sua vida a complicou-se ainda mais quando três antigas namoradas entraram na sala do tribunal a rebentarem pelas costuras e o acusaram de ser um serial fattner, um engordador em série. No entanto, o advogado de Defesa do réu puxou de uma arma secreta em pleno julgamento e acusou as três mulheres de conluio para uma muito bem orquestrada vingança de carácter sexual. Antes de proferir a sentença, a juíza Lourença, dotada de uma estranha beleza macilenta, toma conhecimento da infidelidade do seu marido, fica a saber que o réu é fortemente atraído por uniformes e recebe uma carta anónima que revela as desventuras amorosas do Sebastião. A atribulada e divertida história de um pobre desgraçado perdido num mundo cada vez mais feminino.»

a tolerância alavanca-se na intolerância de intolerâncias | José Filipe da Silva

jose filipeA Europa do pós-guerra cultivou a tolerância, em todos os azimutes comportamentais, como timbre da sua elevação civilizacional. Por estranho e cacofónico que possa soar, a tolerância alavanca-se na intolerância de intolerâncias e, se assim não for, é mera submissão, abdicação de liberdade. Não podemos compactuar com fundamentalismos bárbaros e assassinos, temos que ser actuantes. Por uma questão de premência, anular numa primeira fase os efeitos e, numa segunda fase, por mais complexo e moroso, tratar das causas. O islamismo radical (eventualmente um pretenso islamismo), põe em causa o islamismo moderado que partilha uma paz ecuménica. No fervor das soluções possíveis, arrisca-se fazer pagar o justo pelo pecador. Para combater o radicalismo islâmico é preciso estar-lhe próximo, sendo que é o islamismo moderado que usufrui dessa proximidade. As ovelhas negras não podem viver camufladas pelas ovelhas brancas, gostaríamos de ver o verdadeiro islamismo na primeira linha desta luta.

José Filipe da Silva

2016-03-24

Um imbróglio em Lisboa | Francisco Louçã in “Público”

francisco louca02 - 200Quem se lembrou de uma coisa destas? Admitamos que o seminário “luso-brasileiro” que vai decorrer na Faculdade de Direito de Lisboa já estava programado antes da crise desencadeada pela golpaça político-judicial em curso no Brasil. Se assim for, há uma questão a que falta responder: como é que se lembraram de marcar um seminário sobre o futuro constitucional do Brasil (e de Portugal, olha só) para o 52º aniversário do golpe que derrubou um presidente eleito e instaurou uma ditadura militar? Como não há coincidências na vida, ou fugiu o pé para o chinelo ou é uma declaração de guerra com um atlântico pelo meio. Presumo que seja o chinelo.

Também não lembraria a ninguém que o vice-presidente brasileiro, e primeiro potencial beneficiário da eventual deposição de Dilma Roussef, escolha sair do país por uns dias precisamente quando o seu partido, o PMDB, tomará a decisão de sair do governo e se juntar aos parlamentares derrubistas. Mas é isso que anuncia o programa do evento. Pior, acrescenta outros pesos-pesados da direita, estes do PSDB, José Serra e Aécio Neves, sendo que o primeiro não estava previsto no programa original. O que os levaria a levantar voo do Brasil para se limitarem a conspirar por telefone?

CONTINUAÇÃO AQUI: TUDO MENOS ECONOMIA – PÚBLICO

The talk is over | It’s time to act | DiEM25

Diem25Dear Member,

Last night something special happened. Something big. Our movement truly started to  take form with our first assembly in Rome. There, we shared our first action plans – plans that you, as one of the first to join DiEM25, are part of.
Europe is now at a crucial point: the EU either embraces democracy or it disintegrates. Without transparency, democracy fails. When there’s too much secrecy, governments can make dodgy deals, never held to account because their citizens don’t know what’s happening before it’s too late.
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VertiGo – o carro que trepa paredes

Mesmo com toda a inteligência artificial, os carros robot apresentam uma clara desvantagem em relação aos drones: param quando encontram uma parede (não conseguem voar). Disney Research e ETH Zurich encontraram uma solução. O protótipo VertiGo tem duas hélices de inclinação variável que lhe dão o impulso necessário para aderir a qualquer superfície.

Gala Prémio Autores 2016

Gala SPA 16Com apresentação de Pedro Lamares e Mafalda Arnauth, Prémio Autores 2016, vai distinguir o que de mais relevante se fez no panorama cultural português no ano de 2015

À semelhança das edições anteriores, a SPA, em parceria com a RTP, irá premiar as melhores obras e autores de 2015, nas categorias de: Artes Visuais, Dança, Música, Literatura, Teatro, Televisão e Cinema.
A entrega dos prémios decorre a 22 de março, às 21.45h, no Teatro Nacional D. Maria II, com transmissão em direto na RTP2.

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Fronteira regressa a Castelo Branco entre os dias 7 e 9 de abril.

fronteira

A quarta edição do Fronteira — Festival Literário de Castelo Branco acaba de ser anunciada. Numa edição em que irão debater-se antagonismos e cumplicidades entre a ficção e a poesia, nas letras como na música, cabe a autores como Manuel Alegre, Matilde Campilho, José Eduardo Agualusa,Inês Pedrosa, Nuno Júdice ou Luís Represas o papel de paladinos de uma ou outra facção. Ou até de ambas.

Da programação do Fronteira 2016 fazem parte mesas de debate, lançamentos de livros, apresentações e homenagens, ficção e poesia maldita, histórias contadas em verso, visitas às escolas e uma feira do livro, com os limites entre prosa e poesia a marcarem o tom do Festival.

Entre os dias 7 e 9 de abril, o Festival Literário de Castelo Branco regressa para discutir as fronteiras entre prosa e poesia, mantendo um pé de cada lado. Será o prosador um poeta sem capacidade de síntese? Será o poeta um prosador com tiques de preguiça? Uma embaixada de autores munidos de passaporte literário estão preparados para ensaiar as respostas a estas perguntas.

Acompanhe as novidades na página de facebook do Fronteira.
Pode consultar a programação completa no press kit disponível aqui.

Para mais informações:
comunicacao@booktailors.com

O Fronteira — Festival Literário de Castelo Branco é uma iniciativa da Câmara Municipal de Castelo Branco, com produção executiva da Booktailors — Consultores Editoriais.

Pequeno ensaio sobre a coisificação | Domingos da Mota

maria42

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E tu que és mulher de corpo Inteiro,

quiçá fisicamente apelativa,

como pede e cobiça, sobranceiro,

quem pretende explorar-te, em carne viva

(condição do anúncio que sugere,

para quem se quiser candidatar,

que seja bem mais coisa que mulher,

um objecto pronto a funcionar),

tu que sendo quem és, ao fim e ao cabo,

se queres que tratem com decoro,

pois não vendes a alma ao diabo

nem toleras abuso ou desaforo,

contesta, replica, repudia

quem assim te abocanha e avalia.

 

Domingos da Mota

 

Direito e Justiça | Adelto Gonçalves | por Anderson Braga Horta

adeltoO estudo da história pátria é válido, entre outras razões, pelas implícitas no imperativo do oráculo, que o vai buscar nas palavras do sábio: Nosce te ipsum. Encarar nossas mazelas, mergulhar em suas origens, traçar o seu perfil diacrônico – eis o caminho ideal para compreendê-las, lutar contra elas, transcendê-las.

Na trilha de investigações como as de Stuart B.Schwartz relativas à Bahia dos séculos XVII e XVIII, António Manuel Hespanha (Portugal dos seiscentos), Arno e Maria José Wehling (Rio de Janeiro, de 1751 a 1808), entre outras, Adelto Gonçalves lança uma obra de importância no campo dos estudos histórico-jurídicos entre nós: Direito e Justiça em Terras d’El-Rei na São Paulo Colonial – 1709-1822 (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), que enfoca especialmente “as atribuições e funções dos juízes ordinários, vereadores, juízes de fora, provedores, corregedores e ouvidores no período …. por meio da descrição dos casos mais significativos ocorridos à época, contribuindo assim para um diagnóstico (ainda que incompleto) da estrutura judiciária”.

O livro é fruto de pesquisas nos manuscritos da capitania de São Paulo, do Arquivo Histórico Ultramarino, de Lisboa, via microfilmes depositados no Arquivo do Estado, a par de outros documentos, como as Atas da Câmara Municipal de São Paulo. Mas o tema já pertencia ao âmbito de interesse do autor, que também o é do premiado Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (lembremos que o cantor de Marília era ouvidor em Vila Rica), bem como de Bocage: o Perfil Perdido (o pai do poeta foi juiz de fora e depois ouvidor na Metrópole).

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Dois portugueses recebem 4,15 milhões de euros em bolsas europeias

ist - 150Um dos projectos financiados pelo Conselho Europeu de Investigação é na área da física e o outro na das ciências sociais e humanas.

Luís Oliveira e Silva, professor catedrático do Departamento de Física e presidente do conselho científico do Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, acaba de obter uma bolsa de 1,950 milhões de euros pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês). A outra bolsa atribuída pelo ERC foi para a área das ciências sociais e humanas. A antropóloga Cristiana Bastos, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, recebeu 2,2 milhões de euros pelo projecto “A Cor do trabalho: as vidas racializadas dos migrantes”.

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Instituto Superior Técnico | Teseu Quântico encontra Minotauro mais rapidamente

mediumImagine que está perdido num labirinto à procura da saída. Ou que é o antigo herói grego Teseu à procura do Minotauro. Será que a utilização de um computador quântico, que pode explorar todos os caminhos em paralelo graças ao princípio da sobreposição quântica, torna mais rápida a forma de encontrar a solução?

A resposta positiva era conhecida apenas para um punhado de labirintos, muito regulares e simétricos. No seu trabalho publicado na prestigiada revista americana Physical Review Letters e destacado como uma sugestão dos editores, Shantanav Chakraborty e Leonardo Novo, dois estudantes do Doctoral Programme in the Physics and Mathematics of Information do Instituto Superior Técnico (Universidade de Lisboa), juntamente com o seu orientador Yasser Omar, descobriram que um passeio quântico por labirintos aleatórios permite encontrar a saída da forma mais rápida possível, mesmo que a estrutura do labirinto seja extremamente desordenada.

Esta descoberta, feita em conjunto com Andris Ambainis, da Universidade de Letónia, é muito surpreendente e que mostra a vantagem quântica em computação é robusta à desordem espacial.

Adicionalmente, os autores estenderam os seus resultados para mostrar que é possível estabelecer comunicação quântica de elevada fidelidade entre dois pontos arbitrários de uma rede aleatória (nomeadamente para realizar a transferência de bit quântico), assim como a geração de entrelaçamento. Este trabalho abre caminho para o desenvolvimento de tarefas de informação quântica que mantêm um desempenho optimal em sistemas altamente desordenados.

Para mais detalhes, consulte o artigo AQUI

Instruções para Voar – Lídia Jorge

Instruções para Voar” é um texto inédito de Lídia Jorge, para Teatro, cuja estreia está marcada para a próxima sexta-feira, dia 18, no Teatro da Trindade, em Lisboa.
Escrito a convite da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve – e concebida no âmbito do Programa Pegada Cultural – Artes e Educação/Cultural Footprint Program, a peça conta com encenação de Juni Dahr, actriz e encenadora da companhia norueguesa Visjoner Teater, e cenografia de Jean-Guy Lecat, e, também, com a colaboração do coro dos alunos do Curso de Artes e Espectáculos da Escola Secundária Tomás Caldeira.

Instruções para Voar” conta-nos a história de Emil e Laura, representados por Luís Vicente e Elisabete Martins, dois desconhecidos que se cruzam num espaço de ninguém, defendendo cada um em face do outro a razão limite que os conduziu àquele lugar. Duas vidas distintas, dois nómadas contemporâneos que se confrontam face ao mesmo destino, tendo permanentemente presente a figura maternal – elemento central no desenvolvimento da narrativa dramática.

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A Sociedade do Custo Marginal Zero – Jeremy Rifkin

978-989-25_A Sociedade de Custo Marginal ZeroA Internet das Coisas, a comunidade de bens comuns e o eclipse do capitalismo.

Em A Sociedade do Custo Marginal Zero, Jeremy Rifkin anuncia que um novo sistema económico está a entrar na cena mundial. A emergente Internet das Coisas está a dar origem a uma economia colaborativa, baseada numa comunidade dos bens comuns. Este é o primeiro paradigma económico a enraizar-se desde o advento do capitalismo e do socialismo do início do século XIX. A economia colaborativa está a transformar o modo como organizamos a vida económica, permitindo reduzir drasticamente clivagens salariais, democratizar a economia global e criar uma sociedade mais sustentável em termos ecológicos.

Neste novo e provocador livro, Rifkin explica de que forma a Internet está a fortalecer a produtividade a ponto de o custo marginal (o custo de produção de uma unidade se os custos fixos não forem considerados) de bens e serviços ser quase zero, tornando-os praticamente gratuitos, abundantes e independentes das forças de mercado.

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O “quando” do “colapso” europeu | Francisco Louçã in “Público”

francisco loucaHá dias discuti aqui o “se” do que Assis chamou, também no PÚBLICO, de “colapso” europeu (ele referia-se ao “colapso moral” se for aprovado esta semana o acordo com a Turquia). Agora refiro-me ao “quando” de um outro colapso, o do sistema financeiro, onde se acumulam riscos vários importantes. O risco é tão evidente que o governador do BCE não fala de outra coisa.

Esse perigo tem duas facetas: deflação e estagnação. O risco de queda sucessiva da procura, em particular do investimento (esse é o primeiro efeito da deflação), mas também dos salários e pensões e portanto do consumo, conduz à redução das perspectivas de recuperação económica. É o que se está a passar nas principais locomotivas europeias que aterraram na estagnação, depois de um longuíssimo período de recessão (ou de duas recessões seguidas) em que se manteve sempre um nível elevado de desemprego. O desespero de Draghi é por isso compreensível: ele sabe que reduzir as taxas de juro tem resultados insignificantes, que a política de dinheiro barato já não tem impacto, e pede aos governos que façam o que ele não pode fazer, que aumentem a despesa … mas os governos não podem usar políticas expansivas por causa das regras orçamentais, que entre outros são drasticamente impostas pelo próprio BCE. É o círculo vicioso perfeito.

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O Amor está no virtual | Inês Salvador

Ines - 200A gosta da foto de perfil de B
A gosta de mais uma foto de perfil de B
A gosta de várias fotos de perfil de B
A gosta de posts B
A gosta da página da empresa onde trabalha B
A comenta fotos e posts de B com elogios superlativos e graçolas e (im)pertinências dispensáveis
A gosta da foto de perfil de C
A gosta de mais uma foto de perfil de C
A gosta de várias fotos de perfil de C
A gosta de posts C
A comenta fotos e posts de C com elogios superlativos e graçolas e (im)pertinências dispensáveis
A tornou-se amigo D, E, F, H…
A gosta da foto de perfil de D
A gosta de mais uma foto de perfil de D
A gosta de várias fotos de perfil de D
A gosta de posts D
A comenta fotos e posts de D com elogios superlativos e graçolas e (im)pertinências dispensáveis
A foi bloqueado por B
B é agora amigo de C
A repete a receita com E, F, G, H…
A falou no chat com B, C, D, E, F, G, H…
I, J L, M, N sabem quem é A
A arrasta-se no alfabeto virtual da sua não existência.
A morreu de amor virtual.

Retirado sem autorização do Facebook | Mural de Inês Salvador

PORTUGAL NA GRANDE GUERRA | Entrar na Guerra | por Carlos de Matos Gomes

gm - 200Portugal entrou na Grande Guerra para manter uma utopia – a de que tinha um império colonial a defender – e para salvar outra – a da que implantara uma jovem República progressista, democrática e igualitária.

A questão primeira não é a da entrada de Portugal na Grande Guerra. É a Grande Guerra. Ao ver as fotografias das “grandes figuras” que lançaram a Europa na Grande Guerra, ocorre-me sempre uma pergunta: que queriam estas macabras figuras de bigodes, botas altas, capacetes e bonés? Que figurões são estes? As fotografias dos “grandes” da Europa, engalanados como porteiros de hotel, sentados, de perna cruzada, tanto podiam ser a de quem mandou para fogueira para aí uns dez milhões de europeus, como a de banqueiros reunidos para mais uma golpada financeira, como a de um gangue antes do assalto. Até, na melhor das hipóteses, podia ser a de um grupo de velhos depravados num bordel. Faltam as raparigas, é claro.

A Grande Guerra foi precedida por um bacanal de kaiseres e Kzares, de reis e de presidentes, de generais e industriais. Essas negras figuras tinham uma palavra na cabeça e babavam-se: Império. Mandaram matar pelos impérios em áfrica e na Europa como quem come tremoços com imperiais.

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No desfile do Filipe Faísca | Inês Salvador

Ines - 200Scroll no feed e são fotos e mais da Manuela Moura Guedes no desfile do Filipe Faísca. Ninguém pediu, mas vou dar a minha opinião, que é para isso que me serve esta página neste órgão de comunicação social. Mais precisamente, para dizer o que me apetece, mesmo quando ninguém perguntou e, também, quando podia ficar calada.
Gosto das meias e dos sapatos. Não gosto do vestido. Não desgosto exatamente do modelo, mas a confeção não parece boa, cai mal, assenta mal, as mangas não são mangas, são mangoilas. O tecido não parece adequar-se ao modelo. É demasiado espesso e “armado”, o resultado parece um “abat-jour”. Sendo que o Faísca faz coisas giras, muitas giras, às vezes, mas desta vez não parece ter corrido tudo bem.
A Manuela Moura Guedes é o que é, nem me dou ao trabalho de mais considerações, mas as pernas estão boas. Bem boas, é o que parece nas fotos. Já os comentários à idade da Manuela Moura Guedes para andar a passar modelos não me parecem nada bons. Moralistas, bacocos, imbecis, provincianos, de pequeno mundo e da completa falta dele, fora do prazo na capacidade de progredir em valores e ideias. Do preconceito, da mediocridade, da mesquinhez, enfim, da raiz de todos os males que é a estupidez.
Muito se pode apontar à Manuela Moura Guedes, mas nunca o andar a passar modelos aos 60 anos. Nem a ela nem a mulher nenhuma, nem a homem nenhum. Pela idade nunca. Pela idade não há nada a apontar às pessoas. Cada um tem a que tem, não é uma escolha que se faz. Queremos uma longa vida, desejamos aos outros uma longa vida, se não é para viver, é para quê, afinal?
Façam o favor de não antecipar a morte às pessoas. Façam o favor de não antecipar a vossa própria morte. Vivam e deixem viver.

Inês Salvador in Facebook (copiado sem autorização, mas com a devida vénia)

O Rio Com Regresso – Ensaios Camilianos | Maria Alzira Seixo

maria alzira seixo - 200
Este conjunto de estudos é constituído por dez ensaios que analisam individualmente aspectos bastante diversos, mas todos eles importantes, da obra de um dos maiores prosadores da literatura portuguesa, Camilo Castelo Branco. Nele se encontram de igual modo tratados temas mais amplos, como o lugar da novela camiliana no panorama histórico-literário português ou a problemática do feminino na obra do escritor, e tópicos mais aprofundados que dizem respeito a um determinado texto, como a análise da personagem Maria Moisés da novela homónima do segundo volume das Novelas do Minho. Este é, pois, um livro que tanto pode interessar aos apreciadores da obra do escritor, como também a todos aqueles que se dedicam ao estudo da ficção no geral e de aspectos da teoria da narrativa e do romance em particular.

A Noite não é eterna | Ana Cristina Silva

acsilva - 200A Roménia, sob o jugo do ditador Nicolae Ceausescu, atravessa um dos piores períodos da sua história, com a sua população a enfrentar a fome e dominada pelo terror. Seguindo as orientações do Presidente para a criação de um exército do povo no qual os soldados seriam treinados desde crianças, Paul, um ambicioso funcionário do partido, decide levar de casa o filho de três anos e entregá-lo aos cuidados do Estado. Quando a mãe se apercebe do desaparecimento do pequeno Drago, o desespero já não a abandonará, bem como o firme desejo de acabar com a vida do marido.
Correndo riscos tremendos, Nadia não desistirá, porém, de procurar o menino, ainda que para isso tenha de forjar uma nova identidade, de fazer falsas denúncias, de correr os orfanatos cujas imagens terríveis chocaram o mundo e até de integrar uma rede que transporta clandestinamente crianças romenas seropositivas para o Ocidente. Mas será que o seu sofrimento pode ser apaziguado enquanto Paul for vivo? Enquanto o ditador for vivo?

A pele de Cavaco e os milagres de Marcelo | ALEXANDRA LUCAS COELHO in Público 13-03-2016

alexandra lucas coelhoPortugal, que não é um fado, continua a viver com a ilusão dos eleitos.

1. Portugal largou Cavaco como se mudasse de pele. Nenhuma transição desde o fim da ditadura gerou este alívio, quase uma libertação nacional. Marcelo tomou posse do momento, impaciente de optimismo e ecumenismo: apaziguar, unir, sorrir, curar. Descendo a minha rua, vi lágrimas no meio do povo, aos pés da Assembleia. No item empatia, foi a passagem do zero para a maioria absoluta. E aí vai Portugal para a Primavera de 2016, cheio de fé renovada.

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“CONTOS IMPERFEITOS” | Cristina Carvalho

contos imperfeitos(…)
Os guilros são os donos deste mundo. Os guilros elevam-se até às gárgulas do Mosteiro, lá no alto, nos pináculos. As gárgulas riem-se às gargalhadas, assobiam, cantarolam e velam, velam sempre por detrás das suas carantonhas malévolas lembrando que o diabo existe, lembrando as pessoas que o diabo toma muitas formas. Gárgulas e guilros conhecem o mundo.
As gárgulas aparam a água que escorre dos céus; os guilros dessedentam-se nessas águas para poderem esvoaçar, sôfregos, à volta de outras raparigas que, por sua vez, dançam na praça e enlouquecem os homens, seja isto ontem ou hoje ou amanhã.
Depois, de repente, inesperadamente, começam a debandada na direcção da serra que existe por detrás das casas, por detrás das árvores, na direcção da serra presente ao longe. Abandonam o Mosteiro. A terra treme.
Sempre aos gritos desvairados, esvoaçando pelos céus agora escurecidos, os guilros desaparecem. Deixam um rasto de incompreensão, de susto, de trevas.
Cheira ao pó da eternidade. Depois, a porta pesadíssima, enorme do Mosteiro fecha-se sobre mim que ainda continuo sentada ali nas lajes em frente. Permaneço na mesma posição há centenas e centenas de anos. Tal como as vozes e os gestos dos pedreiros indiferentes ao desenrolar dos tempos.
Para eles é que vão os meus murmúrios. Para os construtores das gárgulas de todos os templos.

Cristina Carvalho – excerto de “OS GUILROS E AS GÁRGULAS DO MOSTEIRO”, conto incluído no livro “CONTOS IMPERFEITOS”, uma publicação de Arquivo – Bens Culturais em Fevereiro de 2016

O mundo dos homens sob o olhar feminino | Adelto Gonçalves

Eltania-capa - 200                                                           I

A história da rivalidade entre dois irmãos é tão velha quanto a Humanidade. A Bíblia nos conta a história de Caim e Abel, os dois filhos de Adão, criados e educados da mesma maneira, mas com caráter e personalidades diferentes. E a de Esaú e Jacó, história dos filhos de Isaque e Rebeca, que inspirou Machado de Assis (1839-1908) a escrever um romance sobre a rivalidade entre irmãos gêmeos, tendo a mãe no centro da disputa. Recentemente, ainda na literatura brasileira, Milton Hatoum (1952) publicou Dois irmãos (2000), excepcional romance que relata um drama familiar em cujo centro estão dois filhos de imigrantes libaneses, os gêmeos Yaqub e Omar.

O tema serve agora para a escritora Eltânia André lançar o seu primeiro romance, Para fugir dos vivos (São Paulo, Editora Patuá, 2015). Mas, ao contrário dos romances citados, aqui se trata de um mundo exclusivamente masculino que é visto detidamente por um olhar feminino. E essa é a grande diferença.

Como se sabe, nos dias de hoje, é difícil encontrar um escritor que, por mais genial que seja, construa imagens insólitas, que não sejam conhecidas. Já as escritoras costumam escrever de maneira distinta, têm imagens completamente novas, constituem janelas para outro mundo, outra sensibilidade e outra forma de ver as coisas. E isso se constata exatamente quando uma autora compõe personagens masculinos. É exatamente o caso de Para fugir dos vivos.

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Uma visão polifônica do primeiro Saramago | Adelto Gonçalves

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No prólogo que escreveu para O jardim dos caminhos que se bifurcam (1941), Jorge Luis Borges (1899-1986) refere-se à “escrita de notas sobre livros imaginários”, a uma época em que já havia publicado o conto “A aproximação a Almotásim” (1935), que constitui um pseudo-ensaio ou uma resenha ou recensão de um suposto livro publicado em Bombaim três anos antes. Para “enganar” seus leitores e futuros estudiosos de sua obra, dotara o livro imaginário de um editor real e um prefácio que teria sido escrito por um escritor real, mas tanto o autor como o livro, seu enredo e detalhes de alguns capítulos eram de sua inteira invenção.

Mais de 70 anos depois, o professor Francisco Maciel Silveira, se não foi tão longe, lançou um livro, Exercícios de caligrafia literária: Saramago Quase (Curitiba, Editora CRV, 2012), que segue nessas pegadas, pelo menos em parte, ao reunir ensaios que parecem ficções e que seriam de diferentes autores, todos preocupados em desvendar a obra ficcional e o teatro da primeira fase de José Saramago (1922-2010) como autor. Em outras palavras: o ensaísta recorre ao conceito de polifonia utilizado por Mikhail Bakhtin (1895-1975) no estudo da obra de Fiodor Dostoievski (1821-1881) para reunir vozes e pontos de vistas conflitantes a respeito da obra saramaguiana.

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Pedro Almeida Maia | Comunicado de Imprensa

PressRelease_006 RGB_Small - 200O escritor açoriano Almeida Maia anuncia uma tripla reedição dos seus primeiros trabalhos para o mercado internacional, além de um uno novo romance em 2016. Atualmente a residir entre Coimbra e Barcelona, e após um revés editorial que levou as obras “Bom Tempo no Canal”, “Capítulo 41” e “Nove Estações” a esgotarem na origem, o autor aposta nos mercados de expressão portuguesa além-fronteiras, sobretudo o Brasil, além das comunidades luso-descendentes dos Estados Unidos, Canadá, França e Reino Unido. As versões em papel, com capas renovadas pelo designer Miguel Maia, já estão disponíveis na Alemanha, Itália, Espanha, México, Índia, Japão, e brevemente na China, Holanda e Austrália.

Licenciado em Psicologia e mestrando em Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos, Pedro Almeida Maia foi vencedor dos prémios literários Letras em Movimento 2010 e Discover Azores 2014, além de selecionado para a Mostra LABJOVEM 2014, considerado o Escritor do Ano 2014 pelo Correio dos Açores e de integrar o Plano Regional de Leitura dos Açores nos últimos anos.

O autor e cronista anuncia também um novo romance. O título, as datas e outros detalhes serão anunciados em breve.

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Racismo é crime e devemos combatê-lo todo dia… | Valdeck Almeida de Jesus

Racismo_eh_Crime_valdeck (1)“Um dia um homem branco me falou, que no Brasil não tem branco… mas quando olho em todo canto, eu vejo o branco dominando…”

Giovane Sobrevivente
Poeta e Ativista Cultural

Posso começar este texto com as afirmações “sou racista, sexista, machista, homofóbico, gordofóbico, xenófobo, intolerante religioso…”, pois vivo em um país de desigualdades e de discriminações e aprendi na infância, na adolescência e juventude, através do discurso dominante, inconscientemente, a negar a existência dessas desigualdades e discriminações. Também posso começar o mesmo texto dizendo que estou em processo de educação ao participar de debates, mesmo quando fico somente ouvindo, calado; quando vou a eventos onde se discute a desconstrução de toda e qualquer forma de discriminação e dou, apenas, pequenas contribuições.
Nesse sentido convido a todos os brancos e brancas, meus conhecidos ou não, a se irmanarem num grande debate sobre a humanidade negra, pra fazer um exame de consciência sobre o assunto, expor suas ideias e pensamentos, participar da luta contra os privilégios. É hora de cada um dos privilegiados começar a abrir corações e espaços de poder para que o debate seja posto, incluindo, certamente, recortes de raça, gênero e expressão sexual. Cito aqui grupos que poderão se sentir incluídos nesse chamado: juízes, advogados, delegados, deputados, senadores, vereadores, gestores públicos, governantes, prefeitos, presidentes, comando das polícias, jornalistas, escritores, artistas, empresários etc.
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Inéditos de Mário Laginha em homenagem a José Saramago e Fernando Pessoa

No dia 18 de Novembro de 2015, na companhia de Alexandre Frazão e Bernardo Moreira, o pianista Mário Laginha subiu ao palco do Pequeno Auditório do CCB para um concerto que tinha como título “A Biblioteca dos Músicos” e que integrava a programação dos Dias do Desassossego’15.

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Um Ano com Peter Drucker, de Joseph A. Maciariello

capa_PeterDruckerA GestãoPlus, selo editorial do Grupo BertrandCírculo dedicado à arte de conduzir negócios, lança dia 11 de março o livro Um Ano com Peter Drucker, de Joseph A. Maciariello.

O autor, que foi aluno e colega durante 26 anos daquele que é considerado o guru da gestão e pai da administração moderna, pretende com este livro partilhar as técnicas de gestão de Drucker. Ao longo de um ano de leituras, aulas e perguntas é dada a oportunidade de experimentar a mentoria de Drucker, cuja obra teve um tremendo impacto na gestão de empresas em grande escala.

São 52 as lições que fazem parte de Um Ano com Peter Drucker, uma para cada semana do ano, e que estão subdivididas em treze grandes tópicos. Cada uma das lições dá um importante contributo para o que deverá ser uma liderança eficaz. O livro está repleto de exemplos e sugestões práticas, explorando os temas que Drucker considerava serem incontornáveis no tema da liderança. Um guia indispensável.

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“O acto sexual é para ter filhos – diz ele” | Natália Correia

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Já que o coito — diz Morgado —
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou — parca ração! —

uma vez. E se a função
faz o órgão — diz o ditado —
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

Natália Correia
(resposta a João Morgado, deputado da bancada parlamentar do CDS,
no debate sobre a legalização do aborto, no dia 3 de Abril de 1982)

Histoire du 8 mars | SANTÉ SIDI EL HOUARI (SDH) | Orã | Argélia

sdhLe 8 mars n’est pas « la journée de la femme », mais plutôt « la journée internationale des droits des femmes ». Pour les militant(e)s, il s’agit précisément de « la journée de lutte pour les droits des femmes ».
Le 8 mars n’est donc pas l’occasion de rappeler à votre femme ou compagne qu’elle compte beaucoup pour vous en lui offrant un bouquet de fleurs. Ce serait confondre cette journée de luttes avec la Saint-Valentin des amoureux.
Cette date sonne plutôt comme un rappel du fait que de nombreuses femmes dans le monde sont opprimées, violentées et / ou mal traitées et voient leurs droits bafoués, comme le droit à la santé, à l’éducation, à l’enseignement ou tout simplement leurs libertés.
D’après la légende, il s’agirait du 8 mars 1857, jour d’une manifestation des ouvrières américaines du textile. Petit hic : historiquement, cette manifestation n’a jamais eu lieu ! L’origine de cette journée remonte par contre aux luttes ouvrières et aux manifestations des femmes pour l’octroi du droit de vote, de meilleures conditions de travail et pour l’égalité des genres dans l’Europe du début du 20e siècle.
Ce n’est qu’en 1917 que la date du 8 est retenue, date à laquelle, cette année-là, des ouvrières de Saint-Pétersbourg ont fait la grève pour réclamer du pain et le retour de leurs maris partis à la guerre. Après 1945, cette journée devint une tradition dans de nombreux pays du monde.
Faisons de cette journée, le point de départ d’un long combat qui ne cessera que le jour ou toutes les femmes du monde aient leurs droits.

A Reforma do Parlamento Português, de António José Seguro

PrintO livro de António José Seguro aborda, de forma pioneira e com minúcia de dados, um tema fundamental no funcionamento das democracias de hoje, e da portuguesa especialmente – o do controlo do Governo perante o Parlamento e, consequentemente, o do poder relativo de que as maiorias e minorias (ou da maioria e da oposição) dispõem no hemiciclo.

No presente quadro parlamentar saído das últimas eleições legislativas e, ao mesmo tempo, assinalando os 40 anos da Assembleia da República, este livro de António José Seguro é mais atual do que nunca.

Lançamento no dia 10 de março, às 18h30, no Auditório 2 da Universidade Autónoma de Lisboa. O livro será apresentado por Viriato Soromenho-Marques. A sessão conta com intervenções de André Freire e Manuel Meirinho Martins.

«Muito bem ancorado teoricamente, o trabalho de António José Seguro permite demonstrar que a tese sobre o declínio dos parlamentos […] é no mínimo parcial.»
André Freire, Professor Associado com Agregação em Ciência Política do ISCTE-IUL

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Inês Salvador | Mercado Biológico, Vegans e Paleolíticos

ines - 150Fui ao Mercado Biológico e ai que maravilha, por coincidência era tudo biológico! Carnes, peixes, mariscos, pão, bolos, fruta, vinhos, água, chás, cafés, detergentes, produtos para a higiene íntima, maquilhagem, etcetera, etcetera. Havia leitões que tinham largado os campos e feito maratonas para chegar à loja e desmaiar nas vitrinas ainda com as bolotas na boca, mexilhões que tinham vindo a cavalo em polvos, que percorreram a ciclovia na ponta dos tentáculos para caírem de cansaço dentro da arca frigorífica, perdizes que voaram para dentro da loja e foram sentar-se nas prateleiras dos congelados já depenadas, pães com os grãos de trigo e centeio ainda descascarem-se dentro da embalagens, água a correr da nascente mascarada de garrafa de plástico, óleos de todas as espécies e origens do que é oleoso, sacos de algas, sacos de lodo, sacos de tanta e tanta coisa, e sacos de papel reciclado para levar tudo.

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O Bicho-de-Sete-Cabeças | História de uma eleição democrática | de Carmen Zita Ferreira com Ilustração de Sandra Serra

o bicho de sete cabecas - 150Livro com uma pedagogia recomendável a todos os adultos….
Um livro fantástico e de uma pedagogia incrivel. De facto o livro é recomendável para alunos que tenham formação civica mas sinceramente, este livro deve ser lido por todos os patrões, directores, executivos, politicos.. quem tem um cargo de chefia devia ler e interiorizar a mensagem deixada pela autora, de forma a que consiga fazer a diferença.