O mundo dos homens sob o olhar feminino | Adelto Gonçalves

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A história da rivalidade entre dois irmãos é tão velha quanto a Humanidade. A Bíblia nos conta a história de Caim e Abel, os dois filhos de Adão, criados e educados da mesma maneira, mas com caráter e personalidades diferentes. E a de Esaú e Jacó, história dos filhos de Isaque e Rebeca, que inspirou Machado de Assis (1839-1908) a escrever um romance sobre a rivalidade entre irmãos gêmeos, tendo a mãe no centro da disputa. Recentemente, ainda na literatura brasileira, Milton Hatoum (1952) publicou Dois irmãos (2000), excepcional romance que relata um drama familiar em cujo centro estão dois filhos de imigrantes libaneses, os gêmeos Yaqub e Omar.

O tema serve agora para a escritora Eltânia André lançar o seu primeiro romance, Para fugir dos vivos (São Paulo, Editora Patuá, 2015). Mas, ao contrário dos romances citados, aqui se trata de um mundo exclusivamente masculino que é visto detidamente por um olhar feminino. E essa é a grande diferença.

Como se sabe, nos dias de hoje, é difícil encontrar um escritor que, por mais genial que seja, construa imagens insólitas, que não sejam conhecidas. Já as escritoras costumam escrever de maneira distinta, têm imagens completamente novas, constituem janelas para outro mundo, outra sensibilidade e outra forma de ver as coisas. E isso se constata exatamente quando uma autora compõe personagens masculinos. É exatamente o caso de Para fugir dos vivos.

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Uma visão polifônica do primeiro Saramago | Adelto Gonçalves

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No prólogo que escreveu para O jardim dos caminhos que se bifurcam (1941), Jorge Luis Borges (1899-1986) refere-se à “escrita de notas sobre livros imaginários”, a uma época em que já havia publicado o conto “A aproximação a Almotásim” (1935), que constitui um pseudo-ensaio ou uma resenha ou recensão de um suposto livro publicado em Bombaim três anos antes. Para “enganar” seus leitores e futuros estudiosos de sua obra, dotara o livro imaginário de um editor real e um prefácio que teria sido escrito por um escritor real, mas tanto o autor como o livro, seu enredo e detalhes de alguns capítulos eram de sua inteira invenção.

Mais de 70 anos depois, o professor Francisco Maciel Silveira, se não foi tão longe, lançou um livro, Exercícios de caligrafia literária: Saramago Quase (Curitiba, Editora CRV, 2012), que segue nessas pegadas, pelo menos em parte, ao reunir ensaios que parecem ficções e que seriam de diferentes autores, todos preocupados em desvendar a obra ficcional e o teatro da primeira fase de José Saramago (1922-2010) como autor. Em outras palavras: o ensaísta recorre ao conceito de polifonia utilizado por Mikhail Bakhtin (1895-1975) no estudo da obra de Fiodor Dostoievski (1821-1881) para reunir vozes e pontos de vistas conflitantes a respeito da obra saramaguiana.

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Pedro Almeida Maia | Comunicado de Imprensa

PressRelease_006 RGB_Small - 200O escritor açoriano Almeida Maia anuncia uma tripla reedição dos seus primeiros trabalhos para o mercado internacional, além de um uno novo romance em 2016. Atualmente a residir entre Coimbra e Barcelona, e após um revés editorial que levou as obras “Bom Tempo no Canal”, “Capítulo 41” e “Nove Estações” a esgotarem na origem, o autor aposta nos mercados de expressão portuguesa além-fronteiras, sobretudo o Brasil, além das comunidades luso-descendentes dos Estados Unidos, Canadá, França e Reino Unido. As versões em papel, com capas renovadas pelo designer Miguel Maia, já estão disponíveis na Alemanha, Itália, Espanha, México, Índia, Japão, e brevemente na China, Holanda e Austrália.

Licenciado em Psicologia e mestrando em Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos, Pedro Almeida Maia foi vencedor dos prémios literários Letras em Movimento 2010 e Discover Azores 2014, além de selecionado para a Mostra LABJOVEM 2014, considerado o Escritor do Ano 2014 pelo Correio dos Açores e de integrar o Plano Regional de Leitura dos Açores nos últimos anos.

O autor e cronista anuncia também um novo romance. O título, as datas e outros detalhes serão anunciados em breve.

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Racismo é crime e devemos combatê-lo todo dia… | Valdeck Almeida de Jesus

Racismo_eh_Crime_valdeck (1)“Um dia um homem branco me falou, que no Brasil não tem branco… mas quando olho em todo canto, eu vejo o branco dominando…”

Giovane Sobrevivente
Poeta e Ativista Cultural

Posso começar este texto com as afirmações “sou racista, sexista, machista, homofóbico, gordofóbico, xenófobo, intolerante religioso…”, pois vivo em um país de desigualdades e de discriminações e aprendi na infância, na adolescência e juventude, através do discurso dominante, inconscientemente, a negar a existência dessas desigualdades e discriminações. Também posso começar o mesmo texto dizendo que estou em processo de educação ao participar de debates, mesmo quando fico somente ouvindo, calado; quando vou a eventos onde se discute a desconstrução de toda e qualquer forma de discriminação e dou, apenas, pequenas contribuições.
Nesse sentido convido a todos os brancos e brancas, meus conhecidos ou não, a se irmanarem num grande debate sobre a humanidade negra, pra fazer um exame de consciência sobre o assunto, expor suas ideias e pensamentos, participar da luta contra os privilégios. É hora de cada um dos privilegiados começar a abrir corações e espaços de poder para que o debate seja posto, incluindo, certamente, recortes de raça, gênero e expressão sexual. Cito aqui grupos que poderão se sentir incluídos nesse chamado: juízes, advogados, delegados, deputados, senadores, vereadores, gestores públicos, governantes, prefeitos, presidentes, comando das polícias, jornalistas, escritores, artistas, empresários etc.
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