Sei tanto agora que tenho quase cem anos como quando tinha dois | Eduardo Lourenço in Jornal Público

O mundo apresenta-se como uma imensa tela em que cada indivíduo pode não passar de um espectador. O pensador alerta para o perigo de estarmos fixados na imagem sem interpelar a vida. Conversa que teve Portugal como partida. Aos 94 anos, Eduardo Lourenço persegue a reconciliação com o mundo.

A palavra mais presente nos títulos do PÚBLICO ao longo do último ano foi Portugal. Quando sabe disso, Eduardo Lourenço sorri. “Seria assim desde o Afonso Henriques, se nessa altura houvesse jornais”. Diz isto enquanto caminha, passos miúdos e olhos a brilhar de ironia face à fixação de um país consigo mesmo, a tudo o que isso lhe sugere no dia de uma celebração que ele mesmo lembra: “Todos os jornais hoje assinalam que faz um ano que Portugal foi campeão europeu. Coisa séria!” E aí já não há ironia no olhar. Em vez disso fixa os olhos de quem o ouve à procura de entendimento. “Estas coisas são importantes e podemos discuti-las, devemos.” E continua a caminhar em direcção ao terraço da Fundação Calouste Gulbenkian, num dia de muito sol e vento, à hora em que passam muitos aviões, imagem a remeter para a visão paradoxal que este pensador tem do seu país. Um país que foi vendo à distância, da aldeia onde nasceu há 94 anos, ou do Sul de França onde viveu muitas décadas. A literatura aproximou-o desta geografia e da tentativa de a entender. Isso e a sua invulgar tendência para não dizer “não” sempre que lhe pedem para conversar. É de Eduardo Lourenço a deixa para início de uma conversa que era para ser quase só sobre Portugal…

Não consigo dizer que não. É uma questão ontológica. Custa-me muito dizer não quando sou solicitado para uma conversa. Corresponde a um interesse dos outros por nós e a uma espécie de recusa tácita de ser objecto de um interesse que nunca me parece justificado.

Pensa que o interesse das pessoas por si não é justificado?
Cada vez mais.

Porquê?
Porque estou saindo. Eu nunca ocupei palco.

Mas foi sempre chamado.
Acontece. Neste país em que todos estamos próximos uns dos outros é fácil conhecer praticamente toda a gente. A minha mulher, que era francesa, dizia com certa ironia que era fácil perder aqui a cabeça. Felizmente eu tinha saído lá para fora.

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MARCELO, HOJE | Francisco Seixas da Costa

Marcelo Rebelo de Sousa é hoje entrevistado pelo DN.

Fazer uma exegese do texto é uma tentação natural: é sempre curioso interpretar Marcelo à luz do que vai dizendo, porque isso faz obviamente parte do auto-retrato que ele quer fixar de si próprio.

Com a sua experiência de constitucionalista, Marcelo está a desenhar, muito em função da conjuntura que lhe aconteceu, o esquiço daquilo que pretende vir a protagonizar, como modelo para o exercício do cargo presidencial. Porque também é professor, tende a teorizar bastante essa sua interpretação, procurando que ela componha um todo coerente que seja facilmente percetível pelo país. Ou, pelo menos, por quem faz a opinião no país.

Nota-se nesta entrevista uma específica preocupação (um tanto excessiva?) em fazer perceber o seu comportamento à família política de onde é originário, por forma a não deixar que a sua imagem no seu seio fique conquistada pelo rótulo de “traidor” que, de forma mais ou menos explícita, exsuda de algumas “opiniões” do “Observador” ou da bílis nas redes sociais. Isso é muito evidente no modo como aborda questões como os incêndios ou o roubo do material militar.

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A comunicação social desempenha um papel decisivo na banalização do mal | Carlos Matos Gomes

Esta classe de pessoas, os maiores especialistas em finanças, foram os que, antes da crise de 2008 afirmaram que as autoridades dos Estados nacionais e, desde logo as dos Estados Unidos, não teriam de tomar medidas em relação a bolhas de especulação, porque eles, os banqueiros, tinham tudo preparado para as eliminar de forma indolor! É de falsos especialistas que estamos a falar. De uma quadrilha a nível mundial.
Em quase todos os países estes falsos especialistas milionariamente pagos não só não foram levados a tribunal, não só não foram desacreditados como vendedores de banha da cobra, como se mantiveram nos governos ou em posições chave nas instituições financeiras. Casos de antigos e futuros quadros do Goldman Sachs. Na melhor das situações lamentaram com lágrimas de crocodilo as dores causados pela austeridade que os Estados impuseram aos cidadãos para pagarem os seus crimes de especulação. 

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How our lives will change dramatically in 20 years | Udo Gollub

I just went to the Singularity University summit and here are the key learnings.

In 1998, Kodak had 170,000 employees and sold 85% of all photo paper worldwide.
Within just a few years, their business model disappeared and they got bankrupt.
What happened to Kodak will happen in a lot of industries in the next 10 year – and most people don’t see it coming. Did you think in 1998 that 3 years later you would never take pictures on paper film again?
Yet digital cameras were invented in 1975. The first ones only had 10,000 pixels, but followed Moore’s law. So as with all exponential technologies, it was a disappointment for a long time, before it became way superiour and got mainstream in only a few short years. It will now happen with Artificial Intelligence, health, autonomous and electric cars, education, 3D printing, agriculture and jobs. Welcome to the 4th Industrial Revolution.
Welcome to the Exponential Age.

Software will disrupt most traditional industries in the next 5-10 years.
Uber is just a software tool, they don’t own any cars, and are now the biggest taxi company in the world. Airbnb is now the biggest hotel company in the world, although they don’t own any properties.

Artificial Intelligence: Computers become exponentially better in understanding the world. This year, a computer beat the best Go player in the world, 10 years earlier than expected. In the US, young lawyers already don’t get jobs. Because of IBM Watson, you can get legal advice (so far for more or less basic stuff) within seconds, with 90% accuracy compared with 70% accuracy when done by humans. So if you study law, stop immediately. There will be 90% less laywyers in the future, only specialists will remain.
Watson already helps nurses diagnosing cancer, 4 time more accurate than human nurses. Facebook now has a pattern recognition software that can recognize faces better than humans. In 2030, computers will become more intelligent than humans.

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Em defesa da Venezuela | Boaventura Sousa Santos in Jornal “Público”

Estou chocado com a parcialidade da comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela.

A Venezuela vive um dos momentos mais críticos da sua história. Acompanho crítica e solidariamente a revolução bolivariana desde o início. As conquistas sociais das últimas duas décadas são indiscutíveis. Para o provar basta consultar o relatório da ONU de 2016 sobre a evolução do índice de desenvolvimento humano. Diz o relatório: “O índice de desenvolvimento humano (IDH) da Venezuela em 2015 foi de 0.767 — o que colocou o país na categoria de elevado desenvolvimento humano —, posicionando-o em 71.º de entre 188 países e territórios. Tal classificação é partilhada com a Turquia.” De 1990 a 2015, o IDH da Venezuela aumentou de 0.634 para 0.767, um aumento de 20.9%. Entre 1990 e 2015, a esperança de vida ao nascer subiu 4,6 anos, o período médio de escolaridade aumentou 4,8 anos e os anos de escolaridade média geral aumentaram 3,8 anos. O rendimento nacional bruto (RNB) per capita aumentou cerca de 5,4% entre 1990 e 2015. De notar que estes progressos foram obtidos em democracia, apenas momentaneamente interrompida pela tentativa de golpe de Estado em 2002 protagonizada pela oposição com o apoio ativo dos EUA.

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“Portugal não foi colonizador brando. Há inúmeras situações de racismo” | Alexandra Lucas Coelho

Portugal gosta de acreditar que lidou bem com a sua história, que foi um colonizador brando e que não é racista

No ‘Deus-dará’ escreve que “Portugal foi o maior esclavagista do Oceano Atântico” e que “o Império Português tirou 5,8 milhões de pessoas de África para usar como escravas”. Portugal já fez a reconciliação com o passado?

Portugal foi objectivamente o maior esclavagista do Atlântico. Com o tamanho minúsculo que tem tirou quase metade (47 por cento) dos escravizados de África, enquanto as outras potências europeias (Espanha, França, Inglaterra, Holanda), todas juntas, são responsáveis pelo restante. E Portugal inaugurou o tráfico atlântico, a triangulação Europa-África-América, que não existia. Os números variam um pouco consoante as fontes, mas se pecam será por defeito, porque nos faltam registos, porque havia tráfico clandestino, etc. Seja como for, apenas com o que já se sabe, é inquestionável que a escala foi gigantesca. E é a percepção desta escala, para começar, que até hoje não existe, em geral, em Portugal.

Académicos e artistas têm trabalhado sobre isto, mas desde o ensino básico aos discursos políticos continua a perpetuar-se um discurso sobre os “Descobrimentos” que ignora a escala do que aconteceu. A escravatura é transformada numa espécie de borrão em que todos estavam metidos, e era assim, e já foi muito tempo, e pronto. Mas esta história, esta corda de mortos, está em grande parte por desenterrar no espaço público, fora da academia. Primeiro, o horror do que aconteceu, a quantidade de gente de que estamos a falar — o mesmo número de pessoas do Holocausto —, o que passaram, como eram tratadas, como morreram. Depois, quem eram, como lutaram, como resistiram, como viviam, todas as narrativas que lhes foram negadas enquanto seres humanos. E como tudo isso se liga à discriminação, à repressão, ao racismo ao longo da história até hoje.

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Citação | José Manuel Candeias

Não suporto a pesporrência de certa gente que se considera tão à esquerda da esquerda, tão imaculdamente à esquerda, tão devoto da melhor esquerda, que não nota que nenhuma esquerda dos homens é perfeita, que a auto-crítica da esquerda é indispensável e que a fé cega e exacerbada na sua esquerda, afasta da esquerda muito boa gente que lá poderia/deveria estar!

Retirado do Facebook | Mural de José Manuel Candeias

A arrogância intelectual do radicalismo pequeno burgês | Agostinho Lopes

A IGNORÂNCIA, A PREGUIÇA E O PRECONCEITO
A ignorância pode ser suprida pelo estudo, pela investigação. Mas tal exige algum esforço intectual. Quando se juntam as duas, o resultado para o jornalista e/ou comentador é mortal. Quando se mistura o preconceito, que estabelece a matriz da análise, temos o caldo entornado…
A que propósito vem todo este arrazoado moralista? Ao tratamento de muita Comunicação Social da posição do PCP sobre o dito pacote florestal do Governo PS, votado na quarta-feira, 19 de Julho, e em particular, o seu voto contra, o projecto do Banco de Terras do Governo.
Podiam-se sortear alguns exemplos. Por exemplo, Jorge Coelho, Francisco Louçã, este com o acinte da intriga, e outros. Escolha-se o último lido, Daniel Oliveira, no Expresso Diário de 24 de Julho (poder-se-ia falar do último Eixo do Mal), e o seu sermão ao PCP sob o bonito título “a-terra-ao-proprietário-mesmo-que-a-não-trabalhe”!
A ignorância. O Daniel, não tem que saber de tudo. E logo não tem de conhecer o longo e largo dossier da política florestal no País. E em particular, a relação incêndios florestais/estrutura da propriedade florestal e a sua diversidade. O Daniel não tinha de saber que o problema da pequena propriedade florestal, dita abandonada, é mais velha do que aquilo que nós sabemos…! O Daniel não tinha de saber as posições e propostas do PCP e do que debateu com o Governo e deputados do PS. O Daniel não sabe mesmo, mas a isso não era obrigado, o conjunto de projectos votados, e a história longa, política e parlamentar de algumas dessas questões e temas, como o do cadastro. O Daniel, não estudou, não investigou, não perguntou sequer. Mas isso tem um nome…

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Venezuela | Ouvir o “outro lado” – l’histoire du Venezuela | Comparar | Questionar

Tout comme nous, vous avez sûrement entendu dire qu’il se passe quelque chose au Venezuela ces derniers temps. Comme à chaque fois dans ces cas-là, nous sommes inondés d’informations provenant des médias privés qui ont leurs propres intérêts. Comme toujours, on entend le même refrain, avec des concepts fait pour nous faire peur et non pour nous informer.

On utilise directement les grands mots, Répression, Dictature, Censure. Mais nous sommes déjà habitués à lire en filigrane les intérêts de l’oligarchie, des Banques et de l’Empire nord-américain qui se cachent derrière ces informations.

Nous allons essayer d’avoir une lecture plus profonde et de comprendre ce qu’il se passe réellement au Venezuela.

Il est très important de faire une analyse géopolitique.
Tout d’abord il faut savoir que le Venezuela possède les plus grandes réserves de pétrole connues dans le monde.

Pour bien comprendre ce qu’il se passe au Venezuela, il faut aller voir ce qu’il se passe chez son voisin du Nord, les États-Unis. C’est une des sociétés les plus consommatrice de dérivés du pétrole dans le monde.

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PEÇO A PAZ | ILUSTRADO COM A “GUERNICA” DE PICASSO | Casimiro de Brito

Peço a paz
e o silêncio
a paz dos frutos
a música de suas sementes
abertas ao vento
Peço a paz
e traço na chuva
um rosto e um pão
Peço a paz
silenciosamente
a paz em cada ovo aberto
aos passos da morte
A paz peço
a paz apenas
o repouso das lutas
no barro das mãos
Uma língua sensível
ao sabor do vinho
a paz clara quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol
Peço a paz
e o silêncio

 Retirado do Facebook | Mural de Casimiro de Brito

Dia da Bandeira de Portugal | Frederico Duarte Carvalho

Hoje é o dia da bandeira. Olhem para as cinco quinas dentro dos cinco escudos. 5×5 dá 25. Hoje é o dia 25. Olhem depois, à volta das quinas e dos escudos os 7 castelos. Estamos em Julho, o mês 7. Hoje, dia 25 de Julho faz anos que, em 1109, nasceu o primeiro rei de Portugal. Dia de Santiago. A 25 de Julho de 1139, no dia em que D. Afonso Henriques fez 30 anos, venceu a Batalha de Ourique e sagrou-se rei de Portugal. Rei do País que tem hoje esta bandeira, com os mesmos cinco escudos das cinco quinas e dos sete castelos. 25 de Julho é a data inscrita na nossa bandeira, que mesmo verde e vermelha, tem o azul e branco da primeira bandeira, a de D. Afonso Henriques. Hoje, 25 de Julho, não podendo ser Dia de Portugal, ao menos que se diga que é o Dia da Bandeira.

Retirado do Facebook | Mural de Frederico Duarte Carvalho

Eu já tive namoradas de todas as cores | Francisco Louçã

Há um momento de viragem em qualquer debate sobre racismo, comunidades minoritárias ou culturas diferentes: é quando o último argumento de autoridade é que “eu até tenho amigos pretos”. É no que estamos na defesa do candidato racista do PSD em Loures. Mas já ouvimos essa escapatória muitas vezes, não é verdade?

Voltemos um pouco atrás. Este argumento dos “amigos pretos” não é o primeiro, ele tem de ser poupado para quando for desesperadamente necessário para restabelecer a normalidade do orador, sobretudo se se sentir suspeito de deriva envergonhante. Antes dessa evocação dos amigos fora de portas, veio a substância: os outros, os “pretos”, comportam-se de modo inaceitável ou têm hábitos ou atitudes que contrastam com as “nossas” e portanto devem ser disciplinados.

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Lisa Ekdahl | Give Me That Slow Knowing Smile

I’m on my hands and knees
searching every corner for my lost heart and soul
Hear me begging please
I’m searching every corner for my lost heart and soul

Now give me that Slow knowing smile
Like someone who may know their way
Give me that Slow knowing smile
That may make wanna say hey hey hey hey
Give me that Slow knowing smile
Give it to me
Slowly
Give me that Slow knowing smile
Give it to me
Slowly

I tell you what I do
I’m searching every corner for what I know is mine
I tell you what is true
My heart and my soul is what I need to find

Give me that Slow knowing smile
Like someone who knows where to go
Give me that Slow knowing smile
That may make me wanna say oh oh oh oh

Give me that Slow knowing smile
Give it to me
Slowly
Give me that Slow knowing smile
Give it to me
Slowly

Give it to me
Slowly
Give me that
Slow knowing smile

José Saramago e suas personagens | Adelto Gonçalves

I

Um levantamento de 354 protagonistas e figurantes – praticamente, todos – que perpassam os romances e peças teatrais do Prêmio Nobel de Literatura de 1998 é o que o leitor vai encontrar em Dicionário de Personagens da Obra de José Saramago (Blumenau-SC: Editora da Fundação Universidade Regional de Blumenau – EdiFurb, 2012), da professora Salma Ferraz, resultado de uma pesquisa que durou mais de 15 anos e contou com a colaboração de mais de oito dezenas de seus alunos.

Obra aberta, sem a pretensão de se tornar definitiva ou completa, o livro, além de homenagear Saramago, segundo a autora, tem o objetivo de não só catalogar a imensa galeria de personagens saramaguianos como abrir um debate e até mesmo aceitar novos verbetes para uma futura segunda edição. Mas, desde já, constitui, sem dúvida, leitura indispensável aos amantes da boa literatura de Saramago.

Da pesquisa, ficaram de fora os contos e crônicas da primeira fase de Saramago, ainda que o romance Terra do Pecado (1947), também da época inicial da trajetória do autor, tenha sido igualmente analisado. Exceção foi aberta para O Conto da Ilha desconhecida (1997), que faz parte da fase madura do escritor. Já o romance Claraboia, embora escrito em 1953, e, portanto, da primeira fase, mas publicado em 2011 pela editora Companhia das Letras, de São Paulo, não foi incluído na pesquisa por se tratar de publicação post mortem.

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Esqueça um livro e espalhe conhecimento | POÉTICA EDIÇÕES

Malta,

Precisamos de voluntários de várias zonas de Portugal para “esquecer” livros no dia 25/07/2017.

É o dia do:
“Esqueça um livro e espalhe conhecimento.”

Quem alinha?
Deixe no restaurante, no café, na paragem de autocarro, no metro, no banco, no táxi, enfim… A escolha é livre.
Pode acompanhar um bilhetinho, explicando o projeto e a prenda!
Modelo de Bilhetinho:
Olá, Tu que encontraste este livro!
Agora ele é TEU !
A iniciativa faz parte de um projeto de incentivo à leitura e compartilhamento de conhecimento.
Participe da primeira edição no dia
25 DE JULHO DE 2017.

VAMOS PARTILHAR TAMBÉM ESSA CAMPANHA, É SÓ COPIAR E COLAR.”

Manhãs | Maria Isabel Fidalgo

Eram manhãs e manhãs
de corpo à solta
no amplo areal da juventude.
O sol gozava de aquecer
e decaía alaranjado ao pôr do dia
como quem diz adeus ao trabalho
e recolhe a casa para repousar.
Eram manhãs e manhãs de fogo
toda uma fogueira em cada dedo
com laranjas redondas despontando
nos pomares bicados de pássaros.


Eram noites e noites
luas cheias de ardores
e um love me tender
morno e mole
na campânula do poço.
Eram dias buliçosos
na clareira dos sonhos
choros, ânsias, desesperos
umas janelas mais que verdes
sempre dispostas a trinar
em nuvens coloridas de quimera
e hoje, um corpo a esmaecer,
já sem espera
na casa que resta
à beira-ver.

Maria Isabel Fidalgo

Também já fui a cigana (ou a preta) dos outros | Ana Sousa Dias in Diário de Notícias

E lá consegue fazer isto, é espantoso. Esta era a reação do patrão que me tinha atribuído uma tarefa ridiculamente fácil, mas como eu era portuguesa ele não esperava que eu conseguisse. Estávamos em Bruxelas em 1973, talvez início de 1974, e naquela pequena empresa os únicos belgas eram o dono e a secretária. Nós, os outros, éramos uma espécie de equipa benetton: uma congolesa, uma espanhola, um vietnamita, uma polaca e eu. Recebíamos menos e tínhamos menos direitos do que os da Comunidade Económica Europeia, na altura constituída por França, República Federal da Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo. E mais o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca, que tinham acabado de entrar.

Nós éramos todos de fora e isso criou cumplicidades com significados diferentes. Anne-Marie, linda e sempre vestida de capulanas espetaculares, era casada com um opositor de Mobutu, um homem de Lumumba que tinha sido forçado a deixar o então chamado Zaire. Tínhamos uma cumplicidade política, uma coisa em meias-palavras. Blanca era exuberante e atrevida. Aproveitava as ausências do chefe e da secretária para falar ao telefone com o namorado em Espanha. Ríamo-nos, só eu percebia o que ela dizia. Barbara encantava-se com os sons do português e de vez em quando ia a minha casa. Gostava da palavra nuvem. O contabilista Trinh era discreto, não convivia connosco.

O patrão, bigodinho estreito e sotaque de Bruxelas, e a secretária eram os únicos monsieur e madame. Nós éramos Anne-Marie, Blanca, Barbara, Trinh e Ana.

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É preciso queimar os jornalistas? | António Guerreiro in Jornal Público

Por todo o lado, o poder dos media é visto como uma magia negra que transforma a esfera pública num palco histérico e estéril.

Numa das suas edições da semana passada, o jornal francês Libération ocupou a primeira página com uma questão provocatória, colocada a propósito de um debate sobre o jornalismo que decorreu na cidade de Autun: Faut-il brûler les journalistes?, “é necessário queimar os jornalistas?”. E fazia um diagnóstico da situação, enumerando algumas razões fundamentais que levaram ao descrédito em que caiu uma profissão outrora respeitada, bem patente numa série de neologismos insultuosos que os franceses inventaram para nomear os jornalistas: merdiasjournalopspresstiputes. E as figuras mediáticas que estão sempre na televisão, em debates e como comentadores, são chamados panélistes (porque integram “painéis”). Este ambiente onde se cultiva a suspeita e o desprezo pelo jornalismo e pelo sistema mediático, muito especialmente pela numerosa oligarquia que tem a seu cargo o comentário político e o editorialismo, está instalado em Portugal. A diferença em relação à França é que por cá os jornalistas não ousam colocar a questão publicamente e assimilaram com força de lei este mandamento: “Não farás auto-crítica: o jornalismo é ofício de auto-celebração”. É hoje bem visível que a insurreição contra o poder jornalístico, a que o Libération se referia, está bem activa em Portugal e não consiste apenas numa atitude arrogante das elites intelectuais. Mas a situação portuguesa tem as suas especificidade: sobre a ausência ou a rarefacção de alguns géneros jornalísticos tradicionais, ergueu-se a opinião e o comentário políticos, uma multidão de gente que transita da esfera política para o jornalismo e vice-versa, e começa o dia no jornal, passa à tarde pela rádio e está à noite na televisão. Este sistema conduz ao discurso histérico e à ausência de diversidade intelectual, muitas vezes confundido com a falta de pluralismo político, mas mais grave do que este porque está muito mais naturalizado e dissimulado. E é, além disso, responsável por uma esterilização da esfera pública mediática.

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Peter Hammill | The Birds

Spring came far too early this year:
May flowers blooming in February.
Should I be sad for the month,
or glad for the sky?
The birds don’t know which way to sing
and, my friend,
neither do I.

Two days ago, a girl I truly thought I loved
suddenly didn’t seem to matter at all.
Should I sing sad farewell to things
I’m really glad I’ve left behind?
The birds don’t know which way to sing
and, my friend,
neither do I.

In another day, heavy snow will lie upon the ground
and buds prematurely bloomed shall fail;
and every creature living now,
then will surely die…
The birds don’t know which way to sing
and, my friend,
neither do I.
The birds don’t know if it’s time yet to fly;
they don’t know which way to go
and, my friend,
neither do I.

Um virtuoso do racismo | Francisco Louçã in blog “Tudo Menos Economia”

propósito das declarações homofóbicas de Gentil Martins, médico, ou das declarações xenófobas de André Ventura, dirigente e candidato do PSD em Loures, houve quem ensaiasse uma fuga indiscreta com um protesto contra o “politicamente correcto”, uma espécie de censura que intimidaria a liberdade de expressão dos coitadinhos. Aceitar essa discussão admitiria que se trate de um simples problema de linguagem, quando é uma questão de atitude social e de discriminação que fere porque pretende ferir. Lastimo esse nevoeiro, tanto mais que se conhece bem como os termos mobilizam os significados: se hoje ninguém usa a sério uma expressão do tipo “fazer judiarias”, é simplesmente porque sabemos o que foi a perseguição a judeus ao longo de séculos e que culminou nos tempos da nossa perigosa civilização.

A linguagem deste caso só é interessante porque o dirigente do PSD, tendo provocado uma tempestade política, veio reafirmar a sua posição, amparado pelo apoio de Passos Coelho e da chefatura laranja. Ou seja, fez questão de manter as suas palavras e de as realçar com mais boçalidades (desejar que o primeiro-ministro vá de férias para sempre, o que é que isso quer dizer?). Ele, doutorado em Direito e professor universitário, quer fazer-se notar por ser boçal. É o estilo que faz a sua candidatura, é aí que joga o seu destino. Ele quer ser conhecido no país pelo modo Trump.

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Occupation: agrégée en développement infantile et relations humaines

J’ai trouvé cette histoire en prenant un peu de temps, très agréable, je trouve que c’est un grand hommage aux Mamans; un délice

Un jour, une femme nommée Samia, alla renouveler son permis de conduire. Lorsqu’on lui demanda quelle était sa profession, elle hésita un instant. Elle ne savait comment se qualifier.
Le fonctionnaire insista: “Ce que je vous demande est : si vous avez un travail, un emploi ?
” Bien sûr que j’ai un travail !”, répondit Samia. “Je suis mère.”
“Désolé, madame ! Mais nous ne considérons pas cela comme une occupation professionnelle. Je vais donc mettre femme au foyer”, dit froidement le fonctionnaire.
Une amie de Samia, Fahima, fut informée de l’événement et, pendant quelques temps médita sur le sujet. Un jour, elle se retrouva face aux mêmes circonstances. La personne qui se trouvait devant elle, était une femme fonctionnaire, sûre d’elle, efficiente et avec une large dose d’expérience. Le formulaire paraissait à Fahima énorme et interminable.
La première question était la suivante: “Quelle est votre occupation ?”

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To Love Is To Bury | Cowboy Junkies + Natalie Merchant

I buried him down by the river
cause thats where he liked to be
And every night when the moon is high
I go there and weep openly

He and I were married
By this river neath this willow tree
And with God and friends witnessing it
He pledged his life to me

To me he was earth
And I rooted in his soil
I to he was sky vast and free
Of the burdens from which he toiled

Then one night a terrible fight
Words spoken better left unsaid
With his wedding vows ringing in my ears
He gave his life to me

They say to love is to bury
Those demons from which we all hide
But tonight by this river neath this willow tree
Becoming one of earth and sky

Ambição | Lurdes Feio

O romance que lhe mostra o governo por dentro: nos gabinetes, nos negócios, na cama. Francisco Mortágua finalmente é ministro. Quer marcar a diferença e ser um político sério. Mas, entre o calor da cama e as luvas passadas debaixo da secretária, afinal nada é simples e limpo num país de impunidade e compadrio. O ministro Francisco Mortágua é confrontado com a verdadeira face da alta política e descobrir do que é capaz esse enorme monstro chamado corrupção.

Há 1 ano | Uma memória | Inês Salvador

Estava aqui a olhar para o terror das imagens que puseram nos maços de cigarros e a lembrar-me de uma vez que estive em Birmingham com uns amigos. Chegámos ao hotel e tratamos de fazer o habitual check in. Um a um, iam perguntando se éramos fumadores ou não fumadores. Isto já foi há uns anos, no tempo que ainda se fumava dentro dos aviões, e a questão de ser ou não fumador, colocada ali, no check in de um hotel, era para nós uma novidade. Aos que se davam à morte, dizendo que eram fumadores, propunham um quarto para fumadores, pelo que cobravam uma taxa extra. Os meus amigos deixaram imediatamente de fumar. Ter de pagar uma taxa extra foi remédio santo para que ali, e imediatamente, ainda que de forma temporária, abandonassem o vício do fumo. Fui eu a única que, por uns “couple of pounds”, não abdiquei temporariamente de ser quem era, e disse que sim, fumo e quero um quarto para pessoas como eu. Chaves distribuídas, dirigimo-nos aos quartos. Era um hotel de charme e todo o cenário parecia de filme, com as típicas remodelações inglesas, de alcatifa sobre alcatifa a afundar os sapatos e as paredes revestidas a papel de parede sobre papel de parede, criando espessura, em estonteantes e imensas e pirosas estampagens, as alcatifas e o papel de parede, nada batendo certo com nada, mas tudo batendo certo com tudo. E lá fomos, ao longo do alegórico corredor encontrando a porta do quarto que nos estava reservado. Chegada a minha vez, entrei e todo um mundo de deslumbramento não me deixava fechar a boca. O meu quarto era belíssimo. Imenso. Podia correr-se lá dentro. As janelas eram enormes e davam para um jardim. A casa de banho era outro imenso quarto, com mais janelas enormes a dar para o mesmo jardim. E sem bidé, tipicamente sem bidé. Essa maravilhosa erotizante peça que os ingleses desprezam. Essa peça de maravilhosa fonética onde se refrescam os pipis. O desprezo dos ingleses pelo bidé sempre me fez desconfiar da sexualidade dos ingleses, mas isso seria outra conversa. E continuava distraída pela decoração que acumulava história, tudo era contemplação. Havia águas, frutas, cafeteira para chás e chás, rebuçados de mentol e uma infinidade de mimos e detalhes que me faziam pensar que podia ficar ali para sempre. Saí porta fora à procura dos meus amigos. O hotel era extraordinário, tínhamos de partilhar aquilo. Desatei a bater-lhes à porta e a desolação foi chegando. Os quartos deles eram feios, pequenos, escuros, acanhados. Mostrei-lhes o meu. Fomos todos à recepção saber se havia engano. Não havia. Os fumadores precisam de espaço, de ar, de janelas. É importante prevenir que não causem incêndios. Os fumadores fumam e depois têm sede, que fumar faz sede. Fumam e depois querem livrar-se do cheiro do tabaco e, por isso, num quarto para fumador, de tudo havia para resolver as necessidades de um fumador. Fomos todos para o meu quarto fumar e beber chá com vistas para o jardim e, ali, concluímos que fumar, afinal, era uma coisa boa.

Retirado do Facebook | Mural de Inês Salvador

MOVIMENTO DOS CAPITÃES – O QUE É NECESSÁRIO PARA UM MOVIMENTO MILITAR TRIUNFAR? | Aniceto Afonso

Nos dias 27 de fevereiro a 1 de março de 2014, o Instituto de História Contemporânea organizou uma conferência internacional chamada “Resistir à Guerra no séc. XX”/”Resisting war in the 20th century”, para a qual me convidou a proferir uma conferência.

Escolhi falar sobre o Movimento dos Capitães e aquilo que ele representou de resistência à Guerra Colonial e de esperança para a sociedade portuguesa. A sessão decorreu na Torre do Tombo e o meu título foi este: “Do Movimento dos Capitães ao MFA – Uma Forma de Resistir à Guerra”.

Pareceu-me agora uma boa altura para divulgar este texto, num tempo em que aparecem uns pretensos arautos de uma intervenção dos militares na política, sem bem saberem o que isso representa e como as sociedades se exprimem e se reconhecem. Prefiro por isso outro título.

O Movimento dos Capitães constitui-se a partir de meados de 1973, com o fim último de levar a efeito uma intervenção política, que viria a ocorrer a 25 de Abril de 1974 através de um golpe de Estado, a que se seguiu um processo revolucionário.
Ora, uma intervenção política dos militares necessita de condições envolventes para poder ter êxito.

Em primeiro lugar, é necessário uma disposição interna suficientemente densa que garanta uma capacidade militar razoável. E como uma intervenção dos militares na política equaciona sempre o uso da violência, os militares que se movimentam devem ter a convicção dessa disposição do corpo militar, ou pelo menos de uma sua parte significativa. Eles sabem que, como detentores legítimos dos meios de violência, são o único corpo com capacidade para gerar uma acção de força para atingir fins políticos.

Ou seja, aqueles que preparam uma intervenção militar na política tendem a acreditar que têm boas hipóteses de vencer.

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Femme | auteur inconnu , texte qui traîne sur le net | Mur de Fadette Aiache

Femme, j’ai tant de choses à te dire,
Qu’il me faudrait un livre pour l’écrire.
Une vie ne suffit pas, et encore plus de temps,
Car tu portes en toi tout ce que je ressens.
Femme tendresse, femme douceur,
Femme tempête, femme douleur,
Il me faudrait tout le dictionnaire
Pour parler de toi, en rimes et en vers.
.
Tu es le commencement et la fin.
Tu es l’aboutissement, soir et matin.
Tu es l’émotion, la finesse, la vie.
Tu es tout ce que je ne suis pas, je t’envie.
Tu es l’avenir de l’humanité,
Car tu portes en toi l’éternité.
.
Femme d’amour, tu donnes la vie.
Femme de cœur, tu donnes l’amour.
Femme sensible, fragile, forte,
J’attends tout de toi, ouvres-moi ta porte.
Fais-moi une place dans ton cœur.
Offre-moi tout de toi et plus encore.
Femme battue, maltraitée,
.
Femme outragée, mal aimée,
J’aimerais tant te protéger,
Pour pouvoir tout te donner.
Femme courage, tu es admirable.
Femme aimable, tu es remarquable.
.
Tu es, parfois, imprévisible, charmante,
Tellement troublante, émouvante.
Femme au regard si doux, si profond,
Je me plonge dans tes yeux jusqu’au fond,
Recherchant l’insondable, l’innommable.
S’il t’arrive de pleurer, je me sens minable.
Femme, ces colères que je redoute
Lorsque tes yeux lancent des éclairs,
.
J’apprécie pourtant, lorsque tu doutes,
Ton émotion, quoi qu’il t’en coute.
Femme, du fond de ma solitude,
J’ai besoin de ta sollicitude,
.
De ta douceur, de tes caresses,
De ton affection et de ta tendresse.
Femme heureuse, complice de mes bonheurs,
Femme amoureuse, tu supportes mes humeurs.
Et lorsque surviennent orage et malheur,
Tu gémis, tu souffres… pire tu pleures.
.
Femme tu me désarmes,
Alors je rends les armes.
Sans toi je l’avoue, je ne suis rien.
Tu le sais, de toi j’ai tant besoin.
Dis-moi encore qui es-tu ?
( auteur inconnu , texte qui traîne sur le net)

Récupéré du Facebook | Mur de Fadette Aiache

O DiEM25 é incrível. Vamos torná-lo extraordinário!

Quando dizemos às pessoas que o nosso movimento chegou tão longe em apenas 16 meses, normalmente não acreditam em nós. Desde o início de 2016 que o DIEM25 funciona sem qualquer tipo de apoio financeiro. Foi incrível até onde chegámos em tão pouco tempo.

No final de 2016 começámos a apelar aos nossos membros para fazerem donativos. Até então, este movimento que pretende transformar a Europa num espaço comum de paz, prosperidade e humanismo era um produto do esforço, dedicação e paixão de um conjunto de membros do DIEM25 provenientes de toda a Europa- alguns a tempo inteiro e sem remuneração.

Agora graças às contribuições dos nossos membros conseguimos pagar algumas despesas e compensar alguns profissionais que contribuem para o nosso movimento. Agora precisamos de aumentar a nossa equipa, implementar mais soluções de carácter tecnológico e melhorar o nosso apoio à nossa rede de voluntários.

Consequentemente, a nossa luta para mudar a Europa e atingir os objetivos do DIEM25 depende em grande parte das doações dos nossos membros.

O conceito-chave do DiEM25 é colocar um movimento de bases à frente do sistema partidário e um projeto político à frente dos grupos de interesse.  Para tal, é necessário que continuemos independentes de qualquer tipo de patrocínio empresarial. Dizer “não” ao dinheiro traz consigo dificuldades e desafios mas estamos dispostos a nunca comprometer os nossos princípios, mantendo a nossa estrutura de movimento popular.

Portanto contamos contigo: como membro que, em connjunto com outros, damos força ao movimento. Até agora, 3000 membros do DIEM25 – de 60.000 – tornaram-se membros contribuintes. Imagina o potencial que o nosso movimento tem!

Vítor, queres  tornar-te um contribuinte mensal para transformar o DIEM25 numa força capaz de mudar a Europa?

A tua doação – independentemente da quantia – vai ajudar-nos a chegar aos milhões de Europeus que presisamos de galvanizar para atingir os nossos objectivos.

E Vítor,  desta forma o scucesso  dos objetivos do DIEM25 não é só possível, como inevitável.

Carpe DiEM25!

Luis Martín
Coordenador de Comunicações do >>DiEM25

Georges Corm | Le monde arabe est dans un chaos mental absolu | In jornal “el watan”

Dans la meilleure tradition de l’intellectuel total, Georges Corm questionne nos présupposés et nos postulats, souvent erronés ou dépassés pour saisir un monde en perpétuel changement.

De notre correspondante particulière du Liban.

Le chaos, fruit de la guerre et des multiples conflits, se reflète aussi dans la conscience des hommes, une fausse conscience qui alimente le désastre issu de la domination occidentale. Sans concession et avec rigueur, Georges Corm n’accuse pas seulement le camp occidental, mais dénonce l’appauvrissement culturel et intellectuel dans le monde arabe qui a conduit au triomphe de l’idéologie wahhabite imposant son monolithisme dans les esprits de la nouvelle génération.

« Là où croit le péril croit aussi ce qui sauve», peut illustrer la pensée stimulante et quelque part optimiste de l’historien et intellectuel libanais, qui invite à penser les conditions d’une nouvelle renaissance du monde arabe. Dans cet entretien pour El Watan, l’ancien ministre des Finances de la République Libanaise revient sur son dernier ouvrage « la Nouvelle question d’Orient » dans lequel il prolonge la réflexion de ses précédents écrits et démontre le danger de la thèse essentialiste de Samuel Huntington sur le choc des civilisations érigée aujourd’hui en dogme de la géopolitique mondiale.

Dans l’introduction de votre ouvrage, vous abordez en même temps la notion de «chaos mental», qui brouille la perception de la réalité de nos sociétés et la compréhension des dynamiques conflictuelles à l’œuvre, et l’idée d’une remise en ordre épistémologique. Pouvez-vous revenir sur les préalables nécessaires à la déconstruction du discours simplificateur et des thèses essentialistes souvent mobilisées dans l’analyse des sociétés arabes ?

Je pense qu’il y a eu une dérive extrêmement grave dans les perceptions du Moyen-Orient, du monde arabe et du monde musulman. Ces dérives ont donné à voir ces régions du monde comme étant celles du nouveau danger géopolitique, existentiel et civilisationnel, tel que l’a forgé et formulé l’ouvrage de Samuel Huntington sur le choc des civilisations. Il s’agit en fait d’un manifeste qui sert à donner de la légitimité aux guerres illégitimes que mènent l’empire américain et ses alliés européens.

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Colégio La Salle de Barcelinhos | Movimento Solidário

COLEGAS:

O Colégio La Salle de Barcelinhos precisa da ajuda da comunidade lassalista. Está lançado um movimento pró La Salle de Barcelinhos… tenta ajudar, okay? Nem todos os colégios privados são de capitalistas sem escrúpulos… a Ordem de La Salle tem muito mérito. Se tens conhecimentos no Governo, explica quem somos, o que queremos e tenta sensibilizar o Poder. O Colégio La Salle de Barcelinhos e a Ordem de La Salle têm de ser acarinhados e defendidos. Um abraço solidário de um ex-lassalista.

Vítor Coelho da Silva – 1962/1969 – Abrantes

cães que passeiam o dono pela trela | Inês Salvador

As noites quentes inundam o centro da cidade de cães que passeiam o dono pela trela. A felicidade quente pendura-lhes a língua para fora, a uns para a esquerda, a outros para a direita, como se viessem a avisar mudança do sentido de marcha. E sorridentes, sempre sorridentes, justificam a iluminação pública pelo brilho nos olhos. Cruzam-se e cheiram-se, rodopiam lentamente em busca das traseiras mútuas. Mais moderados, os donos, rodopiam menos e cheiram-se menos, mas igualmente sorridentes, mantêm-se presos pela trela do círculo social do seu cão. É uma beleza e um milagre de afectos a vida de cão. Ninguém teria parado, ninguém teria sorrido com tanto brilho terno, se não viesse pela trela do seu cão.

Retirado do Facebook | Mural de Inês Salvador

A RÚSSIA | por Miguel Sousa Tavares, Expresso 08/07/2017

A minha geração cresceu na convicção de que qualquer eventual loucura vinda dos lados da Rússia seria detida pelos Estados Unidos. Hoje, com a chegada de Donald Trump ao poder, põe-se a impensável possibilidade de fazer a pergunta oposta: no caso de uma eventual loucura americana, poderia a Europa contar com a protecção da Rússia? Esta hipótese absurda ocorreu-me durante um jantar oferecido por um russo no Pushkin, em Moscovo (talvez o mais bonito restaurante onde alguma vez estive). E.B. (as iniciais do anfitrião), tem 42 anos de idade, é natural do Turquemenistão, e trabalha para Putin — actualmente e numa aventurosa vida passada, onde terá desempenhado missões que poderemos classificar como de agente secreto, que lhe valeram inclusivamente duas prisões de dois anos cada, em outras tantas ex-repúblicas soviéticas. Surpreendentemente, é também um conhecedor razoável e entusiasmado de Portugal — sobretudo do fado, da literatura portuguesa e do Solar dos Presuntos. Fala como um russo: exuberantemente, empenhadamente, agitando os braços e olhando a direito, fumando muitos cigarros e bebendo muito whisky com Coca-Cola.
Quando lhe digo que nós, na Europa, temos medo da loucura de Trump e lhe pergunto se eles não têm também medo, sai uma resposta à russa:
— Não! Nós, os russos, não temos medo de nada! E vocês, na Europa, não tenham medo do Trump: ele não passa de um palhaço e nós cá estaremos para lhe fazer frente, se for preciso.

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E SE EM TANCOS NÃO TIVESSE HAVIDO, NEM ASSALTO, NEM ROUBO NEM FURTO | Rodrigo Sousa e Castro

(divagações de um cidadão, num domingo invernoso em pleno verão)

Deixemos o pequeno buraco na rede da cerca do quartel e o arrombamento sem violência da porta do paiol como peças para finalizarmos o puzzle que nos “atormenta”.
1 – Todo o material em falta é material perecível, isto é, não existe uma única espingarda, metralhadora, revólver canhão ou lança mísseis no rol das faltas. Nem sequer um cinturão ou qualquer outra peça do fardamento e equipamento.
Por outras palavras, e clarificando, perecível quer dizer que todo este material em falta, era e sempre foi usado em exercícios militares de rotina ou imprevistos e gasto ali mesmo devendo em bom rigor ser abatido à carga, do paiol ou armazém onde foi requisitado logo após cada exercício.
Era esta prática corrente e usual na tropa do meu tempo. Mas também havia graduados , oficiais, que muitas vezes passavam por cima das dotações estipuladas para cada exercício e descartavam os “ resmungos” dos subordinados responsáveis pelo municiamento abusivo extra, com dichotes e palavrões. O resultado era, quem tinha requisitado o material excedido no exercício não o abater e depois, raciocínio comum à época, “logo se veria”.
2 – Para esclarecer cabalmente a natureza “perecível” do material em falta é necessário desmitificar a forma ignorante com que muitos, e até alguns experts, quer em jornais quer nas TV´s, induziram na população, a ideia que o material em falta incluía armamento e mais grave mísseis. 

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A actriz e o medo | Carlos Vale Ferraz

A propósito da distinção de Lisboa enquanto Capital Ibero-Americana da Cultura em 2017, o Centro Cultural de Belém apresentou de 7 a 9 de Junho as peças A Atriz e O Medo, da dramaturga argentina Griselda Gambaro, encenadas por São José Lapa.
A Actriz é uma peça curta. Um monólogo que não o é, um diálogo com o vídeo. Um exercício de atriz expõe-nos àquilo por que tantos cidadãos no Portugal de hoje passaram. Uma dívida ao banco, um prazo ultrapassado, onde a emoção primária do medo implode.
Em O Medo três homens esperam ansiosamente ser chamados por alguém, algures nos anos 1970. O humor corrosivo de Griselda Gambaro, cruel e violento, por vezes obriga-nos a enfrentar a memória da mais sangrenta ditadura da história da Argentina e da América do Sul., visitamos o universo de realismo fantástico de Gambaro, onde a emoção do corpo e o sentimento da mente e do medo coexistem através do humor.
A São José Lapa pediu-me um texto sobre o medo para o programa do espetáculo. Nunca escrevi tão livre e tão condicionadamente. Não queria escrever sobre o que a autora escrevera, nem contra. Principalmente não queria escrever fora do tom das peças. Mas eu não as vira, nem conhecia a leitura da encenadora, nem o ambiente que os actores criariam! Senti-me um funambulista. Um escritor em cima da corda bamba, sem medo, mas a falar do medo.
A peça é uma teia de palavras e gestos com várias interpretações. O meu texto sobre o medo é este que aqui deixo, um mês após a apresentação:

Medo

É o medo que faz os ditadores. Dos ditadores direi, antes de tudo, que são cobardes. Têm medo de si antes do medo dos outros. É o medo de revelarem a sua fraqueza, a sua cobardia, a sua ignorância que faz os ditadores violentos e perigosos.

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Álvaro de Campos: “Ora porra!”

Ora porra!

Então a imprensa portuguesa é
que é a imprensa portuguesa?
Então é esta merda que temos
que beber com os olhos? 

Filhos da puta! Não, que nem
há puta que os parisse.

PESSOA, Fernando. Álvaro de Campos — Livro de Versos. Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1993, p. 22.

É ESTA A HORA | Sophia de Mello Breyner Andresen

É esta a hora perfeita em que se cala
O confuso murmurar das gentes
E dentro de nós finalmente fala
A voz grave do sonhos indolentes.

É esta a hora das vozes misteriosas
Que os meus desejos preferiram e chamaram
É esta a hora das longas conversas
Das folhas com as folhas – unicamente.
É esta a hora em que o tempo é abolido
E nem sequer conheço a minha face.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)
in, DIA DO MAR.

 

Tango with Lions ~ In a Bar

Tango with Lions are the project of singer/song-writer Kat, and were originally conceived in 2006 after the musical dressing of diaries, photos and book-reading influences. A band was officially formed during a summer-time jam in 2007, in a beach house with former members Johniethin and Dana. Johnniethin’s blues-folk guitar playing and harmonica style, met cellist Stavros’ confident melodies and Dana’s delicate clarinet sound to complete what the debut album “Verba Time” represents. Since the recording sessions during 2009-2010 with producer Ottomo at Fab Liquid Studios, the line up has changed, with Yannos now playing guitars and the appearance of drums. Tango with Lions is seen as a collective of day-dreamers, hard-workers and music-lovers. The album “Verba Time” got released by InnerEar Records on June 21st, 2010 and was warmly welcomed by critics and audience. Tango with Lions are currently giving concerts along with preparing new songs.”

Members:
Kat- voice, piano, guitars, harp, bass
Yannos- guitars, vocals
Stavros- cello, mandolin
Nikos V.- drums, percussion, vocals
Jimmy Star – trompone

Sur les femmes | Denis Diderot

Résumé :
«Quand on écrit des femmes, il faut tremper sa plume dans l’arc-en-ciel et jeter sur sa ligne la poussière des ailes du papillon ; comme le petit chien du pèlerin, à chaque fois qu’on secoue la patte, il faut qu’il en tombe des perles.» Un hommage vibrant aux femmes, un plaidoyer enlevé en faveur de leur émancipation, par l’un des plus grands philosophes des Lumières.

Denis Diderot

ISBN : 2070453308
Éditeur : GALLIMARD (12/09/2013)
 

Morangos Silvestres (legendado) | Ingmar Bergman

Um médico, prestigiado professor, aos 78 anos viaja de Estocolmo para Lund para receber um título honorífico da universidade onde se formou… apesar do prestígio social e profissional, o professor sonha que talvez esteja morto porque poderá ter falhado a parte propriamente humana da vida… a nora acusa-o de “egoísmo, frieza, indiferença”… e diz-lhe que o filho o respeita… mas também o odeia!… e ficamos a saber que o filho não quer ter filhos porque foi “um filho indesejado”, gerado num “casamento infernal”… no final, porém, o mestre Bergman diz-nos que pode haver esperança!… há mestres!… (André Freire)

Retirado do Facebook | Mural de André Freire

Omnisciencia e Confissão | José Filipe da Silva

Nunca percebi a necessidade de confissão a um deus omnisciente… (José Filipe da Silva)

La omnisciencia, es la capacidad de saberlo todo. Es un atributo propio de Dios en las religiones abrahámicas. En literatura, cuando el narrador conoce todos los pensamientos de los personajes y sucesos de la historia se le conoce como narrador omnisciente. 

… sendo a religião a base da ética / moral, pilares importantes da cultura que suporta uma sociedade, está obviamente sob o escrutínio permanente dos pensadores sociais, portanto em discussão aberta e continuada. Não podemos aceitar que cada um creia no que creia, sob risco de termos que aprovar fundamentalismos e suas consequências sociais (guerras santas, jihad’s, inquisições). Os Concílios provam que não há repouso à discussão.
Reconhecer os nossos pecados e verbalizá-los? A verbalização é uma das formas de comunicação menos usada pelos deuses de serviço. Quanto ao reconhecermos “pecados”, ou os fizemos de forma inconsciente e somos inimputáveis, ou os fizemos conscientemente e os reconhecemos no próprio acto de os cometer. Diz-se que pedir perdão ou desculpa é algo que não deve ser práxis, a práxis é evitar ter que o fazer. Aliás o perdão só dignifica o concessor e a má fé daquele a quem foi concedido perdão é patente na caminhada semanal para o confessionário… a reincidência tem que ter limites 😉  Enfim… confessar algo a um “ser omnisciente” é um atentado à lógica ou o reconhecimento prático de que a omnisciência inexiste…

Retirado do Facebook | Mural de José Filipe da Silva