É preciso queimar os jornalistas? | António Guerreiro in Jornal Público

Por todo o lado, o poder dos media é visto como uma magia negra que transforma a esfera pública num palco histérico e estéril.

Numa das suas edições da semana passada, o jornal francês Libération ocupou a primeira página com uma questão provocatória, colocada a propósito de um debate sobre o jornalismo que decorreu na cidade de Autun: Faut-il brûler les journalistes?, “é necessário queimar os jornalistas?”. E fazia um diagnóstico da situação, enumerando algumas razões fundamentais que levaram ao descrédito em que caiu uma profissão outrora respeitada, bem patente numa série de neologismos insultuosos que os franceses inventaram para nomear os jornalistas: merdiasjournalopspresstiputes. E as figuras mediáticas que estão sempre na televisão, em debates e como comentadores, são chamados panélistes (porque integram “painéis”). Este ambiente onde se cultiva a suspeita e o desprezo pelo jornalismo e pelo sistema mediático, muito especialmente pela numerosa oligarquia que tem a seu cargo o comentário político e o editorialismo, está instalado em Portugal. A diferença em relação à França é que por cá os jornalistas não ousam colocar a questão publicamente e assimilaram com força de lei este mandamento: “Não farás auto-crítica: o jornalismo é ofício de auto-celebração”. É hoje bem visível que a insurreição contra o poder jornalístico, a que o Libération se referia, está bem activa em Portugal e não consiste apenas numa atitude arrogante das elites intelectuais. Mas a situação portuguesa tem as suas especificidade: sobre a ausência ou a rarefacção de alguns géneros jornalísticos tradicionais, ergueu-se a opinião e o comentário políticos, uma multidão de gente que transita da esfera política para o jornalismo e vice-versa, e começa o dia no jornal, passa à tarde pela rádio e está à noite na televisão. Este sistema conduz ao discurso histérico e à ausência de diversidade intelectual, muitas vezes confundido com a falta de pluralismo político, mas mais grave do que este porque está muito mais naturalizado e dissimulado. E é, além disso, responsável por uma esterilização da esfera pública mediática.

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Peter Hammill | The Birds

Spring came far too early this year:
May flowers blooming in February.
Should I be sad for the month,
or glad for the sky?
The birds don’t know which way to sing
and, my friend,
neither do I.

Two days ago, a girl I truly thought I loved
suddenly didn’t seem to matter at all.
Should I sing sad farewell to things
I’m really glad I’ve left behind?
The birds don’t know which way to sing
and, my friend,
neither do I.

In another day, heavy snow will lie upon the ground
and buds prematurely bloomed shall fail;
and every creature living now,
then will surely die…
The birds don’t know which way to sing
and, my friend,
neither do I.
The birds don’t know if it’s time yet to fly;
they don’t know which way to go
and, my friend,
neither do I.

Um virtuoso do racismo | Francisco Louçã in blog “Tudo Menos Economia”

propósito das declarações homofóbicas de Gentil Martins, médico, ou das declarações xenófobas de André Ventura, dirigente e candidato do PSD em Loures, houve quem ensaiasse uma fuga indiscreta com um protesto contra o “politicamente correcto”, uma espécie de censura que intimidaria a liberdade de expressão dos coitadinhos. Aceitar essa discussão admitiria que se trate de um simples problema de linguagem, quando é uma questão de atitude social e de discriminação que fere porque pretende ferir. Lastimo esse nevoeiro, tanto mais que se conhece bem como os termos mobilizam os significados: se hoje ninguém usa a sério uma expressão do tipo “fazer judiarias”, é simplesmente porque sabemos o que foi a perseguição a judeus ao longo de séculos e que culminou nos tempos da nossa perigosa civilização.

A linguagem deste caso só é interessante porque o dirigente do PSD, tendo provocado uma tempestade política, veio reafirmar a sua posição, amparado pelo apoio de Passos Coelho e da chefatura laranja. Ou seja, fez questão de manter as suas palavras e de as realçar com mais boçalidades (desejar que o primeiro-ministro vá de férias para sempre, o que é que isso quer dizer?). Ele, doutorado em Direito e professor universitário, quer fazer-se notar por ser boçal. É o estilo que faz a sua candidatura, é aí que joga o seu destino. Ele quer ser conhecido no país pelo modo Trump.

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Occupation: agrégée en développement infantile et relations humaines

J’ai trouvé cette histoire en prenant un peu de temps, très agréable, je trouve que c’est un grand hommage aux Mamans; un délice

Un jour, une femme nommée Samia, alla renouveler son permis de conduire. Lorsqu’on lui demanda quelle était sa profession, elle hésita un instant. Elle ne savait comment se qualifier.
Le fonctionnaire insista: “Ce que je vous demande est : si vous avez un travail, un emploi ?
” Bien sûr que j’ai un travail !”, répondit Samia. “Je suis mère.”
“Désolé, madame ! Mais nous ne considérons pas cela comme une occupation professionnelle. Je vais donc mettre femme au foyer”, dit froidement le fonctionnaire.
Une amie de Samia, Fahima, fut informée de l’événement et, pendant quelques temps médita sur le sujet. Un jour, elle se retrouva face aux mêmes circonstances. La personne qui se trouvait devant elle, était une femme fonctionnaire, sûre d’elle, efficiente et avec une large dose d’expérience. Le formulaire paraissait à Fahima énorme et interminable.
La première question était la suivante: “Quelle est votre occupation ?”

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