Nova Teoria do Mal

Este livro, segundo o seu autor, tem origem numa revolta: “a revolta moral contra o estado de vida degradado, autenticamente terceiro-mundista, de mais de 2 milhões de habitantes de Portugal; Não podia encarar grande parte da classe política que nos governa desde meados da década de 1980 sem encontrar nos seus olhos, na sobranceria das suas atitudes, na prepotência das suas leis (extorquindo dinheiro à população, favorecendo os que mais o têm), no ar enfastiado e enfatuado com que no estrangeiro se referem ao povo português, culpando-o de um atraso cuja responsabilidade só às elites pertence, sem detectar neste conjunto de atitudes uma visível tendência para o mal, um genuíno prazer no mal que iam cometendo lei a lei.” (pág. 13)

Tal como a vida “não nasceu contra o caos, mas sobre o caos” (pág. 109), é natural que esta revolta também nasça sobre a desagregação da nossa sociedade, sobre este amortecimento português sem um aparente desígnio de maldade.

Homens normais, sem aleijões psíquicos, entorses sociais de infância ou traumas psicanalíticos, subscrevem políticas que lançam populações inteiras na miséria ou limitam o tratamento a doentes que se podiam salvar e dessa forma vão morrer porque o país está em dificuldades económicas. Como entender esta “banalidade do mal”?

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Carlos Matos Gomes comenta in “Facebook” | Ulrich: “Se os sem-abrigo aguentam porque é que nós não aguentamos?”

Mussolini and Pavelic |1941

Mussolini and Pavelic |1941

O aguenta-aguenta anda a brincar com o fogo! Mesmo os grandes criminosos da História tinham consciência de que as suas falhas de caráter, de sentido de pertença à humanidade, as suas filhas da putice, em suma, deviam ser embaladas ou disfarçadas. Umas vezes justificavam os seus crimes com a religião, de outras com a pátria. Raramente ousavam afirmar que era a cupidez que os fazia matar, que se deleitavam com a miséria do seu povo. O sadismo foi sempre considerado uma aberração. Este aguenta-aguenta é um doente mental. Começa por ter a pesporrência dos ignorantes: o sofrimento individual é, por natureza, diferente do sofrimento de uma sociedade. O facto de, numa dada sociedade, existirem seres com capacidade para suportar elevados níveis de provação, de dor, não faz dessa sociedade uma sociedade de estóicos, como o aguenta aguenta julga. Faz, quase sempre, dessa sociedade, uma sociedade de revoltados. Os neo-liberais, que deixaram de considerar as sociedade constituídas por seres humanos, para os incluirem na categoria de clientes, de consumidores, de “targets”, dão aberrações como este aguenta aguenta quando, fiados na impunidade de meninos da mamã, decidem dizer em voz alta o que ouvem em casa. A maezinha do aguenta-aguenta devia dizer às criadas que também deviam aguentar o trabalho sem regras nem horários, que deviam aguentar-se com os restos das refeições dos patrões, com a vida no tugúrio da cave ou do sótao. É disto que este aguenta-aguenta está a falar: de desprezo!

Carlos Matos Gomes in “Facebook” 

Federico Patellani

(b Monza, 1911; d Milan, 1977). Italian photographer and painter. He studied law before becoming a painter, and he was associated with various artistic movements in Lombardy, in particular the Chiaristi group, which was close to the avant-garde critic Edoardo Persico. Patellani took up photography in 1935, the same year in which he served in the war in East Africa. His first photographs were published in the Milanese newspaper L’Ambrosiano. In 1939 he became part of the team of photographers on the weekly magazine Tempo, which was inspired by the first great international illustrated magazines, in particular Life. Here, he devised the fototesta, an innovative way of presenting news stories using a large number of photographs with a few brief captions, the story thus being told mainly through images, with the photographer as narrator. This was the first time in Italy that the photographer was considered as an intellectual in his own right and not simply a subordinate craftsman.

http://www.answers.com/topic/federico-patellani-2#ixzz2JZxVcFG9 … (FONTE)

silvana mangano

silvana mangano

É da torre mais alta | José Carlos Ary dos Santos

É da torre mais alta
Que eu canto este meu pranto
Que eu canto este meu sangue,
Este meu povo
Dessa torre maior
Em que apenas sou grande
Por me cantar de novo,
Por me cantar de novo.

Cantar como quem despe
A ganga da tristeza
Como quem bebe
A água da saudade,
Chama que nasce e cresce
E vive e morre acesa
Chama que nasce e cresce
Em plena liberdade.

Mas nunca se dói só
Quem a cantar magoa
Dói-me o Tejo vencido
Dói-me a secura
Dói-me o tempo perdido
Dói-me o mal da lonjura
Dói-me o povo esquecido
E morro de ternura
Dói-me o tempo perdido
E morro de ternura.

torre-da-liberdade

Trecho do livro | A Casa das Belas Adormecidas | Yasunari Kawabata

– Mamãe! – chamou a garota, como num grito contido. – Oh! Oh! A senhora vai embora? Por favor, perdoe-me, perdoe…

– Com o que está sonhando? É um sonho, é um sonho! – diante das palavras da garota que dormia, o velho Eguchi apertou-a ainda com mais força, tentando acordá-la. A tristeza contida na voz dela chamando pela mãe penetrou em seu coração. Seus seios estavam tão comprimidos contra o peito dele que estavam achatados. Ela estendeu os braços na direção dele. O teria confundido no sonho com sua mãe que desejava abraçar? Não. Embora adormecida, embora virgem, não havia a menor dúvida de que era uma coquete. Parecia que o velho Eguchi, em 67 anos de vida, nunca tivera a oportunidade de tocar com tamanha plenitude a pele de uma jovem. Se havia uma mitologia sensual, esta seria sua jovem heroína.

Começou a lhe parecer que não era apenas uma coquete, mas uma garota vítima de encantamento. Por isso, ela estava “viva mesmo adormecida”, ou seja, sua alma adormecia profundamente, mas seu corpo, ao contrário, mantinha-se acordado em toda a sua feminilidade. Não havia nela uma alma humana, apenas um corpo de mulher. Estaria tão bem treinada para servir de companhia aos velhos a ponto de a mulher da casa anunciá-la como “experiente”?

Eguchi afrouxou o braço que apertava a garota com força, abraçou-a com carinho e ajeitou seus braços nus de modo que ela o enlaçasse. E ela o abraçou docilmente. O velho manteve-se nessa posição e permaneceu quieto. Fechou os olhos. Aquecido, sentia-se num deleite. Era quase um êxtase inconsciente. Parecia compreender o bem-estar e a felicidade sentidos pelos velhotes que freqüentavam a casa. Ali eles não sentiriam apenas o pesar da velhice, sua fealdade e miséria, mas estariam se sentindo repletos de dádiva da vida jovem. Para um homem no extremo limite da sua velhice, não haveria um momento em que pudesse se esquecer por completo de si mesmo, a não ser quando envolvido por inteiro pelo corpo da jovem mulher. No entanto, estariam os velhotes pensando que compraram sem pecado as garotas adormecidas como oferenda para satisfazê-los? Ou, então, que por causa do sentimento secreto de pecado teriam um prazer ainda maior? Completamente fora de si, o velho Eguchi esquecera que a garota era a oferenda ao sacrifício, e procurou com o pé as pontas dos pés dela. Somente ali ele ainda não havia tocado. Os dedos eram longos e moviam-se gracio-sos. As articulações, de modo semelhante às dos dedos das mãos, ora se dobravam ora se desdobravam, o que já bastava para exer-cer em Eguchi a forte sedução de mulher misteriosa. Mesmo durante o sono, ela era capaz de trocar palavras de carinho com ele por meio dos pés. Entretanto, o velho contentou-se, interpretando os movimentos dos dedos dela como os de uma música hesitante e inocente, embora sensual. E continuou por algum tempo a acompanhá-la.

Parecia que a garota estava sonhando, mas teria o sonho acabado? Talvez tenha adquirido o hábito de falar e reclamar enquanto dormia em protesto aos toques insistentes dos velhotes. Eguchi pensou nessa possibilidade. Talvez fosse apenas isso. Mesmo sem falar nada e adormecida, a garota era plenamente sensual e apta a manter um diálogo com o velho apenas por meio do seu corpo. Porém, mesmo que fossem palavras desconexas em sonho, ele queria estabelecer um diálogo com ela em viva voz. Era provável que por não estar acostumado ainda com os segredos da casa, Eguchi não conseguisse desvencilhar-se dessa esperança. Perguntando a si mesmo, perplexo, o que dizer ou que parte do corpo pressionar para que a garota lhe respondesse, ele disse:

– Não está sonhando mais? Um sonho em que a sua mãe foi embora para algum lugar? – deslizou a mão ao longo da coluna, acariciando cada vértebra. Ela sacudiu os ombros e virou de bruços. Parecia ser a posição preferida dessa garota para dormir. Seu rosto continuava voltado para o lado do velho, com a mão direita abraçando de leve o travesseiro. Ela então pousou o braço esquerdo sobre o rosto dele. No entanto, não falava mais nada. O sopro suave da sua respiração chegava-lhe quente. Mas o braço sobre o rosto de Eguchi se mexia, procurando o equilíbrio. Então, com ambas as mãos, ele colocou-o sobre os seus olhos. As pontas das unhas compridas da garota arranharam de leve o lóbulo da orelha dele. A articulação do pulso dobrava-se sobre a pálpebra direita de Eguchi, de forma que a mesma ficou coberta com a parte mais fina do antebraço. Desejando conservar a posição, o velho apertou a mão da garota sobre seus olhos. O cheiro da pele dela penetrava-lhe os globos oculares e lhe proporcionava novas e fartas fantasias. Era bem nessa época do ano que duas ou três flores de peônia de inverno, banhadas pelo sol tépido como de um dia de primavera, floresciam ao pé do alto muro de pedras do velho templo da região de Yamato, e que sazanka* brancos cobriam amplamente o jardim até a beira do corredor externo do pavilhão Shisendo, onde homenageiam-se os poe-tas. Também, mais tarde, na primavera em Nara, as flores de ashibi* * e as glicínias, além das camélias despetaladas, estariam em pleno florescimento no Templo das Camélias.

* Arbusto nativo do Japão, da família das teáceas, a mesma das camélias. Enquanto estas florescem no início da primavera, os sazanka, o fazem no outono. (N.T.)
* *Arbusto da família da azálea, com flores brancas miúdas em cachos. (N.T.)

belas

Citando Eduardo Pitta in “Da Literatura”

ANTÓNIO COSTA E O FUTURO DO PS

O PS reúne hoje a Comissão Política e, no próximo 10 de Fevereiro, a Comissão Nacional que decidirá a data das directas e do congresso do partido. Tudo aponta para o fim de Março. Gostava de ver António Costa avançar nas directas. O PS precisa de alguém com fibra, e um passado de provas dadas, para surgir como alternativa à direita. Só não percebo a parte dos que defendem que eleições internas em Março constituem óbice às autárquicas de Setembro ou Outubro. Não sou militante do partido, mas a liderança do PS é um assunto demasiado sério para ficar entregue a uma clique. António José Seguro assegurou o período de nojo, mas chegou a altura de começar a construir o futuro.

http://daliteratura.blogspot.pt/2013/01/antonio-costa-e-o-futuro-do-ps.html … (FONTE)

António Costa

António Costa

O Economista Português julga que só um governo de união sagrada estará em condições de proceder às reformas de que Portugal necessita para sobreviver. | Luís Salgado de Matos in “O Economista Português”

O governo beneficia de condições políticas que lhe permitam aplicar uma eventual reforma e cortes na despesa da magnitude acima referida (4 mil milhões de Euros)?  O governador do Banco de Portugal, Dr. Carlos Costa, defendeu acordos sociais para pôr os parceiros sociais de acordo quanto a receitas e despesas estatais – o que é uma excelente ideia, mas o governo terá vontade e força para proceder a essa concertação social? O Economista Português julga que só um governo de união sagrada estará em condições de proceder às reformas de que Portugal necessita para sobreviver.

Do autor deste post (Vítor Coelho da Silva):  

Entregar a liderança do PS ao Dr. António Costa e a liderança do PSD ao Dr. Rui Rio, e ambos, com o acordo dos seus Partidos e do Sr. Presidente da República, formarem um Governo Estratégico de União para sair da crise, talvez seja a solução.  Será pedir muito?

Ler mais aqui:

http://oeconomistaport.wordpress.com/2013/01/29/nova-conferencia-dos-4-bilioes-de-euros/ … (FONTE)

Rui Rio

Rui Rio

António Costa

António Costa

Teatro Rápido | Comunicado

Por decisão do projeto, totalmente alheia ao Teatro Rápido, Sofia Sá da Bandeira será substituída por Cristina Areia no espetáculo “GOODBYE” de João Ricardo que estará em cena no TR durante todo o mês de Fevereiro.

SALA 3 – Goodbye
Horário das sessões: 18h15 | 18h45 | 19h15 | 19h45 | 20h15
quinta a segunda | M/16 | 3€

Texto: José Pinto Carneiro
Dramaturgia e Encenação: João Ricardo
Interpretação: Cristina Areia
Instalação Cenográfica: João Ricardo / SP Televisão
Design Gráfico: Inês Gois
Execução de Figurinos: José Graça

Uma mulher, mãe de dois filhos, que na sua última noite de férias no Algarve se deixa levar por um perspicaz jogo de sedução de um jovem rapaz, que a leva a reviver emoções adormecidas.

Sítios, de Licínia Quitério

“Terra e mar são sítios que dizemos.

Outros há sem nome e sem morada – desertos”

Começa assim o livro de Licínia Quitério, um livro de sítios, de todo os sítios, dos que se alcançam pelo trabalho da palavra. Em cada poema existe uma “paisagem absurda” e nessa paisagem se inscrevem palavras; não nomeiam, não descrevem, são palavras obreiras de outras realidades. E a realidade de hoje corresponde aos “dias do cerco”, à “pele atormentada do pântano”, onde a voz do poeta se destaca como construtor da nova metrópole, a que se avizinha, procurando ir sempre “Mais alto, que a terra é pouca e o céu é vasto”.

Os poemas nascem, “Pedra a pedra, homem a homem, dor a dor, chicote a chicote…”, porque os sítios permanecem para além da memória do nome que lhe demos.

versão integral no PNet

FILOSOFIA POLÍTICA | Divirtam-se enquanto podem | Jorge Nascimento Rodrigues in “Facebook”

Recapitulando o “regresso aos mercados” — continua a haver mais marketing politico e espuma dos opinadores do que factos

1- Na realidade, o processo de regresso ao mercado obrigacionista começou em outubro de 2012 com uma troca parcial de dívida da OT que vence em setembro deste ano; o termo “processo” foi usado pela secretária do Tesouro e é adequado, secretárua que, aliás, teve uma intervenção pública sóbria;

2- O que ocorreu esta semana não foi um “leilão” de dívida de médio e longo prazo típico, mas uma emissão sindicada (por 4 entidades), ou seja havia uma rede por baixo do fio de arame; O IGCP ainda não realizou nenhum leilão típico de dívida obrigacionista; só tem realizado leilões de bilhetes do Tesouro (ainda que neste caso tenha estendido o prazo até 18 meses numa linha de fronteira com as obrigações); para muitos analistas, o verdadeiro “teste” é uma linha de leilões de obrigações (Irlanda, por exemplo, já falou em emitir a 9 anos, o máximo que o NTMA costumava fazer antes do resgate);

3- A ideia de spin que estas operações têm um efeito imediato no mercado secundário não é suportável na evidência empírica. Não por acaso a agência Fitch realizou o balanço sobre a operação e apontou os “desafios”. Além disso, o mercado secundário da dívida (tal como o primário) está sujeito à influência de diversos factores exógenos ao país (andamento da zona euro, factos políticos relevantes na zona, atuação do BCE), endógenos de ordem política (Fitch volta a sublinhar o risco político, por exemplo) e de avaliação de sustentabilidade do ajustamento em curso ou da dívida, etc. Nenhuma agência de rating manifestou intenção de alterar a avaliação de dívida especulativa, regraduando o país. É um complexo de variáveis que tanto podem surpreender o Governo como a Oposição. A International Finance Review levantou o problema do papel dos hedge funds (24% nesta operação; 4% apenas na operação sindicada espanhola a 10 anos);

4- A “convicção” de que as reformas estruturais (o que Paul Krugman chama de novo “estruturalismo” mais arreigado na Europa) na sua maioria viradas à desvalorização do factor trabalho conduzem à retoma económica, ao reequilíbrio das contas públicas e ao regresso do IDE nem mesmo nos mais convictos austeristas é inabalável. Os factos da vida já levam a chanceler Merkel a explicar que isso “leva tempo”, e que o “tempo” é crítico. Pelo que o austerismo e a “condicionalidade” (reformista estruturalista) que impera nas mentes europeias de Bruxelas e Frankfurt começa a mostrar o seu prazo de validade. O que os obriga a golpes de rins, mesmo continuando o discurso inicial para consumo do eleitorado indefectível;

5- É esse “tempo” que conduziu a troika a aguentar a Grécia desse o que desse; um tempo onde a geopolítica começa a surgir como factor (o posicionamento estratégico da Grécia é mais do que evidente; só o não é para néscios ou integristas do austerismo). Na Grécia, a “troika” já experimentou de tudo o que à partida era tabu e caluniado como “imoral”. Os europeus deveriam beijar o chão que pisam Venizelos (que negociou a reestruturação de dívida) e Samaras (que segurou o regime depois de duas eleições). Em vez de continuarem a política de achincalhamento da Grécia — o que só revela como o estilhaçar da UE é cada vez mais evidente (se não for travado por novos líderes políticos ou se os atuais não derem um golpe de rins);

6- É esse “tempo” que leva a troika a cada vez mais querer definir com urgência um plano para o day after, ou seja de continuação dos programas de resgate por outros meios. Os planos de resgate, apesar da evolução que tiveram, falharam no essencial — na ideia de matar no ovo a crise da dívida, eliminar os tail risks, e colocar as economias em austeridade expansionista. Na Grécia, a troika traçou uma primeira empreitada até 2016 (e mesmo assim há um buraco que pode ir até 9,5 mil milhões de euros que está por resolver), na espera que Samaras aguente a situação e que o Syriza não consiga dar a volta. Na Irlanda e em Portugal quer estender o tapete para uma intervenção “preventiva” do MEE (precautionary financial assistance) e paralela do BCE (que inventou o OMT) e para um envolvimento do sector oficial europeu (FEEF e MEEF) amaciando o perfil da dívida “oficial” dos dois países. Para que estes dois países não sejam vencidos pela “fadiga” política e social. Ainda que Irlanda e Portugal sejam filmes completamente diferentes;

7- “Colar” à Irlanda em matéria de tática no seio do Eurogrupo é um bom passo, ainda que tardio; mas mais vale tarde do que nunca. Mas em matéria de estratégia estamos muito longe. O governo irlandês e a sua agência de dívida (NTMA) têm uma estratégia clara nos seus pontos de conflito/negociação com o BCE e Bruxelas, e não arredam um milímetro mobilizando publicamente a vontade nacional de ter coluna vertebral dos irlandeses, e uma linha transparente em matéria de “regresso aos mercados”. A ideia de que estamos “intervencionados” e que nada podemos fazer a não ser que a troika nos abra a porta para ir fazer chichi, no momento em que entende abrir (“we appreciate”), é o contrário da estratégia. É contrária ao pouco que temos no nosso ADN de 900 anos. A ideia de que se dobra a espinha publicamente, sendo grandes estrategos nos bastidores, é novela. Só acredita quem quer. Só tendo uma grand strategy, como dizem os especialistas, se pode manobrar, discretamente, nos bastidores, mantendo o apoio popular do seu próprio povo.

Divirtam-se enquanto podem.

FILOSOFIA POLÍTICA | “Critiquemos os “mercados” e as suas nefastas consequências para as populações do mundo” | António Pinho Vargas in “Facebook”

Este governo consegue realizar golpes de propaganda que nem o ilustre antecessor nessa matéria, Joseph Goebbels, conseguiria imaginar com tamanha facilidade. De facto, como escreve hoje Miguel Sousa Tavares, e cito de memória: “o país inteiro celebra o facto de poder continuar a endividar-se”.
Com a preciosa ajuda dos seus aliados nos poderes e nos media – tvs, apoiantes oficiais, não-oficiais e de jornais vencidos pelas ditaduras da actualidade e da publicidade – nem precisa de fazer grande esforço. Todos alinham na manobra de propaganda com alegria patriótica e uns poucos tentam dizer, lá pelo meio, que “não mudou nada”, que “a austeridade, os cortes nos salários e nas pensões, que a recessão continua”, que “o ataque ao ensino e às universidades prossegue”, etc.
Tudo isso deixou de interessar, aparentemente. “O país inteiro celebra”. Sendo assim, podemos acrescentar: o país inteiro merece o que lhe cai em cima, porque não prima pela menor lucidez. Só que sabemos que não é o país inteiro, de modo nenhum. Será, talvez, o pequeno grupo que lê jornais, os propagandistas ao serviço do governo e a aquela clic de “intelligentsia” auto-nomeada que julga ter o destino do mundo na ponta da sua caneta todas as semanas.
Recusemos o golpe demagógico e prenhe de mentira. Critiquemos os “mercados” e as suas nefastas consequências para as populações do mundo e tentemos não ser estúpidos ao ponto de acreditar em tudo o que nos dizem.
António Pinho Vargas

apv

Lanzarote homenageia José Saramago com uma oliveira de aço numa rotunda

saramago rotonda 1

Lanzarote vai homenagear o filho adotivo José Saramago com uma escultura de quase cinco metros em aço, a colocar na rotunda que dá acesso ao complexo da Casa e da Biblioteca do escritor, em Tías, no dia 18 de março, segundo aniversário da abertura deste espaço ao público.

A escultura, da autoria de José Perdomo a partir de um desenho de Esther Viña, ambos de Lanzarote, representa uma oliveira feita com as letras iniciais de José Saramago – o tronco é um jota, os ramos são esses. Foi apresentada publicamente no dia 25, numa sessão em que estiveram presentes a conselheira de Cultura doHoverno das Canárias, Inés Rojas, o presidente do Cabildo de Lanzarote, Pedro san Ginés, o presidente da câmara municipal de Tías, Francisco Hernández, e a presidenta da Fundação José Saramago, Pilar del Río.

A conselheira da Cultura sublinhou que a iniciativa tem o objetivo de deixar um testemunho da permanência de José Saramago em Lanzarote, onde se instalou em 1993, repartindo a presença na ilha com as sucessivas estadas em Lisboa. Foi em Lanzarote que escreveu o Ensaio sobre a Cegueira (1995) e todas as obras que se seguiram.

O presidente do Cabildo reconheceu que Lanzarote “nunca poderá pagar” a Saramago o facto de se ter apaixonado pela ilha e de ter decidido ali viver. “Mas podemos agradecer-lhe e esta é uma maneira de fazê-lo”.

Os representantes das instituições que se juntaram nesta homenagem a Saramago pertencem a diferentes partidos, como sublinhou na ocasião Pilar del Río que destacou que o facto de se terem sentado à mesma mesa pela cultura “integra-se no espírito de Saramago”.

Pilar del Río recordou a influência que Lanzarote e a sua paisagem tiveram na obra do escritor português, como é possível verificar no texto A estátua e a pedra – que a Fundação José Saramago publicará nos próximos meses. Nesse texto, Saramago explica que o contacto com a ilha o levou a alterar o seu estilo e a forma de ver as coisas – passou a interessar-lhe mais a pedra e a sua matéria do que a estátua.

Sandro William Junqueira

Sandro William Junqueira

Sandro William Junqueira

Nasceu na Rodésia em 1974.
Escreve ao computador de forma lenta: usa apenas quatro dedos dos dez possíveis.
Designer gráfico de formação.
Trabalha regularmente no teatro como encenador e actor.
Publicou em 2009, o romance O Caderno do Algoz, na Editorial Caminho.
E em 2011, a novela policial O Caso do Cadáver Esquisito, em colaboração com outros dez escritores, Edição Prado.

http://pnetliteratura.pt/membro.asp?id=1072 … (FONTE)

Fado das vidas imperfeitas | Manuela Degerine

bookMarta é atropelada por um homem que a conduz ao hospital, lhe prodiga prendas e proteção; um self made man, como ele se apresenta. Quando, desfeitos os mal-entendidos, Marta pretende afastar-se, compreende que, embora nunca se interessasse pelos negócios de Albertino Barreira, não pode fazer a mala e ir-se embora. Uma herança inesperada permite-lhe fugir para Tomar. Projeta esconder-se, não ser vista: desaparecer. E começar uma vida nova. Esta personagem confronta-se com o medo, a violência, os imprevistos, os segredos de família, interroga-se sobre o trabalho, o consumo, a liberdade, a responsabilidade… os limites. Deseja esculpir a vida como uma obra de arte. Qual será o resultado?

http://www.tertuliadeebooks.com/book/I03DY5 … (FONTE)

Sonia Coutinho | Brasil

Sónia Coutinho

Sónia Coutinho

Sonia Coutinho nasceu em Itabuna, Bahia, mas mudou-se muito jovem para o Rio de Janeiro, onde atualmente reside. Participou do International Writing Program, em Iowa e foi escritora residente em Austin, Texas.
Foi jornalista em alguns dos principais jornais do Rio. Tornou-se tradutora de livros, já tendo traduzido quase cem títulos, entre eles obras de Gertrude Stein, Carson McCullers, E.M. Forster, Joyce Carol Oates, Doris Lessing.
Entre romances e contos, tem dez volumes publicados. Alguns deles: “Os venenos de Lucrécia,” “O último verão de Copacabana”, “Atire em Sofia” e “Ovelha negra e amiga loura”.
Seus contos figuram em inúmeras antologias, no Brasil e no exterior. Ganhou dois prêmios Jabuti e um Prêmio Clarice Lispector de Conto.

http://pnetliteratura.pt/membro.asp?id=1061 … (FONTE)

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais

Situado no centro histórico de Bragança, com vista privilegiada para a centenária praça da Sé, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais resulta da requalificação e ampliação de um edifício solarengo do século XVII pela mão do arquiteto Eduardo Souto Moura. Inaugurado em 2008, o projeto recebeu em 2009 o prémio internacional de arquitetura, atribuído pelo Chicago Athenaeum Museum of Architecture and Design, dos EUA e pelo European Centre for Architecture and Urban Studies. Para além da obra da pintora transmontana Graça Morais, coleção renovada duas vezes por ano, a dinâmica deste Centro de Arte Contemporânea assenta num programa de exposições temporárias, representativas de movimentos e de artistas nacionais e internacionais, entre os quais Paula Rego, Júlio Pomar, Santiago Ydáñez, João Cutileiro, João Louro, Pedro Calapez, Alberto Carneiro ou, entre outros, Julião Sarmento.
Site
http://centroartegracamorais.cm-braganca.pt www.cm-braganca.pt 
Email
centro.arte@cm-braganca.pt  
Telefone
 + 351 273 302 410  
Horário
terça a domingo: 10h00 – 12h30 /14h00 – 18h30. Encerrado: segundas, domingo de Páscoa, 1 de maio, 22 de agosto e 25 de dezembro.  
Morada
Rua Abílio Beça
5300 – 011 Bragança  
GPS
41º 48´ 22´´ N 6º 45´ 21´´W   
gm

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra comemora 500 anos de atividade in “Diário Digital”

A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), considerada «a mais rica biblioteca universitária» do mundo lusófono, vai assinalar 500 anos de existência com um programa a divulgar na segunda-feira, anunciou hoje a instituição.

«Apesar de não se conhecer nenhum documento oficial atestando a fundação da biblioteca, a existência da Casa da Livraria é expressamente referida numa ata de 12 de fevereiro de 1513», refere uma nota da assessoria da Universidade de Coimbra.

Essa ata inclui «uma determinação do reitor para que se fizessem obras no respetivo edifício», adianta, concluindo que, «nesse sentido, pode afirmar-se que a BGUC se situa numa linha de continuidade que tem, pelo menos, cinco séculos».

Diário Digital / Lusa

Joanina Library, Coimbra

Urbano Bettencourt

Urbano Bettencourt

Urbano Bettencourt

(Piedade, ilha do Pico, Açores, 1949).

Licenciado em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa. Desde 1990, tem leccionado na Universidade dos Açores as disciplinas de Literatura Portuguesa, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa e Literatura Açoriana, entre outras. Têm-lhe merecido particular atenção as literaturas insulares, sobre as quais já proferiu conferências em Cabo Verde, Madeira, Canárias e Açores.
Colaborador da imprensa desde muito jovem, ficou ligado ao suplemento «Glacial», de A União, jornal terceirense em que viria a alargar a sua participação através dos suplementos «Juvenil» e «Cartaz», nos anos de 1972-1974, altura em que cumpria serviço militar obrigatório na Guiné.
No final dos anos 70 dirigiu em Lisboa, juntamente com o poeta J. H. Santos Barros, A Memória da Água-Viva (revista de cultura açoriana).
Colaborou na rádio e na televisão – para esta última colaborou com José Medeiros na adaptação do romance Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, e no documentário «Djutta Ben-David, Voz & Alma».
Tem colaboração frequente em revistas da especialidade, no país e no estrangeiro e participou na edição das seguintes antologias de poesia açoriana:
Caminhos do Mar. Antologia Poética Açoriano-Catarinense (com Lauro Junkes e Osmar Pisani); Florianópolis, Santa Catarina, 2005.
Pontos Luminosos. Açores e Madeira, Antologia Poética do Século XX (com Maria Aurora Homem e Diana Pimentel). Campo das Letras, 2006.
Azoru. Dzejas antologija (com Leons Briedis). Riga Letónia, 2009.

Obra
Poesia e narrativa: Raiz de mágoa (1972); Ilhas (1976, de parceria com J. H. Santos Barros);Marinheiro com residência fixa (1980); Naufrágios Inscrições (1987); Algumas das Cidades(1995); Lugares sombras e afectos (2005 com desenhos de Seixas Peixoto); Santo Amaro Sobre o Mar (2005, com desenhos de Alberto Péssimo; 2.ª ed. 2009); Antero (2006, com desenhos de Alberto Péssimo); Que paisagem apagarás (2010).
Ensaio: O Gosto das Palavras, 3 vols. (1983, 1995, 1999); Emigração e Literatura (1989); De Cabo Verde aos Açores – à luz da «Claridade (1998); Ilhas conforme as circunstâncias (2003).

http://pnetliteratura.pt/membro.asp?id=1002 … (FONTE)

GUILHERME CENTAZZI: O PRIMEIRO ROMANCE MODERNO PORTUGUÊS | por Miguel Real in “inComunidade”

1. – Introdução
Uma recente descoberta de Pedro Almeida Vieira, conhecido autor de romances históricos, teorizada por Maria de Fátima Marinho, professora da Faculdade de Letras do Porto, veio revolucionar a historiografia da literatura portuguesa. Referimo-nos à publicação de O Estudante de Coimbra. Relâmpago da História Portuguesa desde 1826 até 1838, de Guilherme Centazzi, apresentado como “o primeiro romance moderno português”, editado em 1840 – 41 (3 volumes), anterior, portanto, à publicação dos dois textos considerados até hoje como os pais do romance português moderno, Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano, publicado em 1845, e Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, publicado em 1846 (cf. “Nota Prévia” de Pedro Almeida Vieira” e “Posfácio” de Maria de Fátima Marinho). Chama-se, assim, a atenção dos professores de Português e dos diretores de bibliotecas municipais para a necessidade de um novo enquadramento cronológico das origens do romance moderno português, com evidente futura alteração dos manuais e das histórias de literatura.

2. – Morrer na praia
Lido o romance ora ressuscitado de Guilherme Centazzi, um médico de origem italiana nascido em Faro, político tão entusiasmadamente liberal quando estudante quanto cético na maturidade, à imagem de Herculano e Garrett, de prática literária polivalente, inventor dos rebuçados medicinais “Centazzi”, emerge o sentimento paradoxal de incompletude, tanto no sentido de anunciação ou de precursão de correntes literárias posteriormente dominantes, quanto no sentido da ausência de um trabalho estético mais apurado por parte do autor. De facto, O Estudante de Coimbra estatui-se como um texto em bruto, redigido intuitivamente, sob o ardor político e literário da juventude, necessitado, porém, de ser laminado, sintetizado e, sobretudo, de sofrer o efeito de uma profunda revisão estética. Porém, o seu alto valor para a história da literatura portuguesa reside, independentemente das qualidades específicas da obra em si, no modo “amalgamado” como cruza três correntes estéticas que se tornarão, posteriormente, dominantes em Portugal até ao advento do naturalismo-realismo, no último quartel do século XIX. Referimo-nos ao romantismo, como é evidente, mas também à inspiração do romance de “capa e espada” (o folhetim jornalístico e o livro) e ao romance gótico. Com efeito, Centazzi possui o poder intuitivo de cruzar estas três correntes europeias, ainda virgens em Portugal no campo da narrativa, escrevendo um romance que, de certo modo, se singulariza por as evidenciar a todas e a nenhuma em particular.

De facto, o sentimento literário de Centazzi é idêntico ao da escrita de Garrett em Viagens na Minha Terra, que, desprezando o convencionalismo retórico clássico (os protocolos da escrita arcádica) declara, “isto tinha na alma, isto vai no papel”, abrindo caminho a uma escrita revelada pelo sentimento individual do autor (o “eu) e a um léxico burguês de caráter jornalístico, duas das premissas do romantismo presentes em O Estudante de Coimbra. Por outro lado, como Fátima Marinho salienta, Centazzi une, ao modo de Walpone, do romance gótico do século XVIII, aspetos aterrorizantes da realidade humana (guerra, grutas, fome, “fantasmas”, posteriormente desmascarados, criaturas grotescas e perversas como frei Barnabé) com a expressão de sentimentos de inocência e ternura (Maria) e de honestidade enganada (Rodolfo). Nesta vertente estética se enquadrará, porventura, a dedicatória de Centazzi a António Feliciano de Castilho, que acabara de publicar A Noite do Castelo (1836). Detetam-se igualmente em O Estudante de Coimbra traços pertinentes ao romance de capa e espada, do século XVII, que tão grande ventura popular terá ao longo do século XIX com Ponson du Terrail (Rocambole) e Alexandre Dumas (Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo, O Homem da Máscara de Ferro), praticado em Portugal por Carlos Pinto de Almeida (O Corsário Português, 1875) e Pinheiro Chagas (As Duas Flores de Sangue, 1875). O romance de Centazzi pratica com abundância algumas das características deste género narrativo, sobretudo a transformação involuntária de uma vida normal (o estudante) numa vida aventurosa, repleta de mil e uma peripécias (prisões, raptos, duelos, viagens por mar, por carruagem, assaltos, até uma tentativa de suicídio…), auxiliada por criados ou companheiros (Careo, criados de Rodolfo, amigas de Maria), desenvolvendo um enredo complicadíssimo, sempre com um final inesperado, como justamente acontece neste romance.

Existe, assim, uma tripla inspiração em O Estudante de Coimbra, o primeiro romance moderno, no dizer de Pedro Almeida Vieira. Em primeiro lugar, a inspiração na vida própria, o que confere um fortíssimo grau de romantismo ao romance, e, neste sentido, é correto designar-se como um texto integrado no movimento romântico português; em segundo lugar, porventura efeito das leituras do autor em Coimbra, existe uma nítida inspiração do romance gótico, aliando o jogo sentimental a cenas e situações macabras e aterrorizantes e/ou a personagens grotescas; em terceiro lugar, a inspiração no romance de capa e espada, repleto de peripécias e aventuras, de obstáculos à realização do amor, de ajudas e impedimentos por parte de criados ou de inferiores.

Dito de outro modo, Centazzi, como autor, possuiu o instinto estético dos precursores, compondo um romance prenunciador da quase totalidade da literatura portuguesa do século XIX. Porem, como todos os pioneiros, venceu o mar mas acabou por morrer na praia, à vista da terra salvadora, desenhadora do futuro.

Parabéns ao trabalho incansável de Pedro Almeida Vieira, que ressuscitou o romance de Centazzi, o introduziu e lhe fixou o texto.

Romance de leitura absolutamente indispensável a professores de Português, diretores de bibliotecas e estudiosos de literatura portuguesa contemporânea.

O Estudante de Coimbra,
Fixação do texto e notas de Pedro Almeida Vieira,
Posfácio de Maria de Fátima Marinho
Editora Planeta, 317 pp.

“REGRESSAR AOS MERCADOS EM 2013” | José Pacheco Pereira in “Sábado”

mercados

(Escrito em 14 de Janeiro de 2013, publicado a 17. E estava já no discurso para 2013, escrito ainda em 2012:  “Vamos fazer duas ou três emissões com sucesso em 2013, pequenas, a vários prazos, prudentes, e depois os alemães vão colocar-nos a mão por baixo e defender-nos dos mercados, porque com esse sucesso, já podemos ser apoiados pelo BCE. Foi o que nos prometeram, para podermos apresentar a saída da troika como um grande trunfo político.” Há alturas em que não custa nada prever.)
“REGRESSAR AOS MERCADOS EM 2013”
 Vamos admitir que Portugal “regressa aos mercados” em 2013, cumprindo aquilo que já é o único objectivo da política governamental que os seus responsáveis pensam que é realisticamente atingível antes de eleições. O défice, a dívida, a recessão ou um crescimento larvar resultado apenas de que não se pode estar sempre a descer, o desemprego, a crise social em todo o seu esplendor, as falências, o aumento da pobreza, tudo isto parece estar para continuar e durar muito para além do actual ciclo eleitoral. Mas, com o abaixamento dos juros nos mercados, que favorecem Portugal, a Irlanda e mesmo a Grécia, pode ser possível fazer algumas pequenas emissões com sucesso para dar pretexto a que a mão protectora do BCE se estenda sobre Portugal. O que conta é a mão do BCE e não o sucesso das emissões, mas será sempre dito o contrário. É mau? Não é, é bom, mais vale isso do que nada. Mas vale muito menos do que o governo quer dar a entender. É verdadeiramente “voltar aos mercados”? Não é, porque sem o aval do BCE seria impossível. É sustentável? Não é de todo, mas o governo pensa apenas até 2015, porque o “que se lixem as eleições” foi dito em ingsoc e doublespeak, a linguagem orwelliana em que uma coisa significa exactamente o seu contrário

Vamberto Freitas

Vamberto Freitas

Vamberto Freitas

Vamberto Freitas nasceu nas Fontinhas, Ilha Terceira, em 1951. Emigrou com a família para os EUA em 1964, onde se formou em Estudos Latino-Americanos pela California State University, Fullerton, em 1974. Foi correspondente e colaborador do suplemento literário do Diário de Notícias (Lisboa) durante largos anos. Desde 1991 é Leitor de Língua Inglesa na Universidade dos Açores, tendo entretanto publicado inúmeros estudos críticos e ensaios sobre as literaturas norte-americana e açoriana. Para além da sua já considerável obra sobre estes temas e áreas de estudo, tem ainda publicado algumas traduções, principalmente da poesia de Frank X. Gaspar, e continua a colaborar em vários periódicos do arquipélago e da Diáspora com textos de crítica literária e cultural. No Brasil, tem colaboração no suplemento Cultura do Diário Catarinense e na revista Cartaz: Cultura e Arte, ambos de Florianópolis, Santa Catarina, assim como no Jornal de Letras, Rio de Janeiro. Ao longo dos anos, participou em congressos e colóquios em Portugal, nos Estados Unidos, Canadá e Brasil. De 1995 a 2000, coordenou o Suplemento Açoriano de Cultura (SAC) do Correio dos Açores, e de 2003 a 2006, dirigiu o Suplemento Atlântico de Artes e Letras (SAAL) da revista Saber Açores. Faz parte desde há alguns anos do Conselho Consultivo da Gávea-Brown: A Bilingual Journal Of Portuguese-American Letters And Studies e da Comissão Editorial do Boletim Do Núcleo Cultural Da Horta.

Lançou recentemente o seu décimo livro de ensaios, Imaginários Luso-Americanos e Açorianos: do outro lado do espelho.

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Obras completas de Florbela Espanca | Manuel Brito

A Editorial Estampa Lança em breve o segundo volume das obras completas de Florbela Espanca, numa edição que acredito virá a ser conhecida como a grande referência no domínio dos estudos florbelianos.

Trata-se de uma colecção que reproduz, título a título, as diversas obras de Florbela, tal como elas foram publicadas no tempo da autora. Acresce a que há neste volumes uma enorme preocupação com a fixação do texto e a sua revisão muito minuciosa.

Para além disso, cada um dos volumes é acompanhado por estudos desenvolvidos por um certo número de especialistas portugueses e brasileiros que o contextualizam devidamente e que lhe dão uma dimensão didáctica muito particular.

Os organizadores e responsáveis por esta edição das obras de Florbela são os professores e investigadores Cláudia Pazos Alonso e Fabio Mário da Silva.

Manuel Brito

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Sigue con nosotros a Herta Müller, Vargas Llosa, Julian Barnes… en el Hay de Cartagena

Cartagenapor ANA MARCOS
(Cartagena de Indias)

Con permiso de Ian McEwan, el Hay Festival de Cartagena de Indias, Colombia, le da la vuelta al micrófono. El escritor británico encontró en la audiencia de este encuentro literario, itinerante en su recorrido por la cartografía mundial, la inspiración para algunas de sus obras. O por lo menos, eso confesó en una de sus visitas. Para celebrar el 25 aniversario de la cita, el interrogante está del lado de los que ocupan el atril.

¿Qué harías si supieras que nunca van a pillarte?, ¿por qué leemos novelas?, ¿cuál es el olor que mejor te hace sentir? Y así hasta 25 cuestiones formuladas por el batallón de intelectuales (superan el centenar), que del 24 al 27 de enero se traslada a esta ciudad que se asoma al mar Caribe desde sus coloniales casas de colores.

Durante el Hay Festival convertiremos este blog en una bitácora para descubrir las soluciones a los interrogantes con la ayuda de Mario Vargas Llosa y Herta Müller, los premios Nobel encargados de coronar estas bodas de plata. El escritor peruano aterriza en Cartagena para celebrar los 50 años de la publicación de La ciudad de los perros. El viernes 25, charlará con el ensayista Carlos Granés sobre el aniversario de ese mundo de atajos hasta la madurez que ocurría tras los muros del Colegio Leoncio Prado. Un día después, Vargas Llosa se sentará junto al escritor británico Julian Barnes para compartir su admiración por Gustave Flaubert.“En mis tesoros pone: NO SALGO DE ALLÍ”, dice el protagonista de Todo lo que tengo lo llevo conmigo, a su regreso del lager ruso. La última novela de Müller refleja con dolorosa insistencia “el paisaje de los desposeídos”. La autora rumana compartirá conversación con su traductor al inglés Philip Boehm, el viernes 25. Ápatrida en su lengua por la terquedad genocida en la Rumania de Ceausescu, Müller entrega un nuevo trabajo lejos de casa, donde asegura que no volverá, por mucho que sus carceleros se empeñen en atribuirse una vida literaria sustentada en la libertad de las palabras ante el encierro del cuerpo.

Javier Cercas, David Grossman, Fernando Savater, Erri De Luca, Patrick Deville, Elsa Osorio, Leonardo Padura, Antonio Colinas, Lila Azam Zanganeh, Dinaw Mengestu, Gioconda Belli y muchos otros escritores completan la agenda, a la que la cantante peruana pondrá voz en un concierto en la plaza de la Aduana el 24 de enero. Con ellos, Alex de la Iglesia, Gastón Acurio, María Teresa Ronderos, Fonseca, Andrés Cepeda, Narda Lepes, Jon Lee Anderson y Daniel Bermúdez, colarán entre tanta literatura, el arte de la música, el cine y el periodismo.

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O Abade de Moreira (Ficção histórica) | Daniel de Sá

Muito tristes viviam ainda as gentes de São Miguel, e mais que todas a de Vila Franca do Campo, por causa da tragédia que subvertera a capital da ilha na noite de 22 de Outubro de 1522. O capitão Rui Gonçalves da Câmara, que escapara ao cataclismo por se encontrar numa quinta do Cabouco mais a mulher e seu filho Manuel, também tivera muito que chorar, pois morreram todos os restantes da sua casa: as filhas Jerónima e Guiomar, o filho mais velho e um bastardo, sua irmã Melícia e todos os serviçais que haviam ficado em Vila Franca.

Assim que por sua própria experiência tão terrível sabia quão grande era a dor que enlutava os sobreviventes e compreendia o terror que em toda a ilha escurecia os corações. Por isso pensou fazer alguma coisa que distraísse os espíritos e alegrasse as almas aflitas. E o melhor que lhe ocorreu foi convocar os cavaleiros de São Miguel para um jogo de canas, de modo a que a luta simulada e o entusiasmo que nela punham todos os que participavam mais os que a ela assistiam os alegrasse ao menos por umas horas.

O jogo foi marcado para o Domingo de Páscoa do ano seguinte ao da catástrofe, num campo junto ao mar na Lagoa, onde o capitão residia por causa da fatalidade que lhe sepultara a casa e a maior parte da família.

Foi esplendoroso o desfile dos cavaleiros, que saudaram na tribuna o capitão Rui Gonçalves da Câmara, sua mulher, D. Filipa Coutinha, e os outros homens importantes que tomaram assento junto dele. Vestiam os desafiantes ricas librés, pelotes ou gibões de seda e de veludo, quase todos de cores garridas e alguns de branco, com abundância de botões de oiro, levando muitos deles dois cavalos ajaezados de tal maneira que se diria que tanto era o cuidado de luzirem luxo os homens nas cavalgaduras como em si mesmos. Só os poucos que foram de Vila Franca, mais doídos que os restantes por mais de perto lhes ter tocado a desgraça, estavam modestamente de preto e roxo. A própria mula que transportava as canas ia muito bem ataviada e com luzentes chocalhos de prata. Pertencia a alimária a André Gonçalves Sampaio, de Ponta Delgada, que por ser muito rico era chamado o Congro, que se tinha nesse tempo como o maior peixe do mar, e dele ficou nome num pico e numa formosíssima lagoa.

Os combates estavam ordenados de maneira a que os cavaleiros de Ponta Delgada e da Lagoa lutassem contra os de Água de Pau, da Ribeira Grande e de Vila Franca.

O Abade de Moreira, que durante alguns anos viveu na Ribeira Grande, era um dos mais destemidos e temidos cavaleiros que foram ao combate. E isso certamente se devia a mais tempo dedicado à arte de bem cavalgar toda a sela do que bem servir a Deus no Seu altar. Coube-lhe a honra de desafiar D. Manuel da Câmara, o jovem filho do Capitão. Mas, se era uma honra ter como adversário aquele que a subversão de Vila Franca tornara herdeiro de Rui Gonçalves da Câmara, não menor honra seria para o moço defrontar o façanhoso Abade daquela vila das Terras da Maia.

Os dois cavaleiros correram um para o outro parecendo querer que as montadas se chocassem. Mas, como que obedecendo a um sinal combinado, e mal se lhes notando um leve puxão nas rédeas, estacaram a uns trinta passos de distância de focinho a focinho. Pretendia avaliar cada qual a determinação do rival, mas de imediato o Abade de Moreira deu um toque com o joelho esquerdo nas costelas do cavalo, e este arrancou logo em galope, descrevendo círculos, da direita para esquerda, à volta de D. Manuel da Câmara, que mantinha o seu cavalo a rodar sobre as patas de modo a ter os olhos sempre fixos no contendor.

O Abade foi observando o modo ágil como cavalo e cavaleiro não lhe davam nunca o flanco, e, numa manobra imprevista inverteu o sentido da corrida, o que fez a multidão gritar de espanto em uníssono, pelo risco de tal manobra e pelo perigo em que se punha o Abade, porque assim dava o lado direito ao adversário, sem a protecção, portanto, da adarga, que levava na mão esquerda. O animal quase bateu com o quadril direito no chão, mas num ápice saiu de uma nuvem de poeira, de narinas muito abertas a latejarem no esforço da corrida. D. Manuel da Câmara, momentaneamente julgando o adversário vulnerável, atirou-lhe a cana quase por instinto. O Abade previra que tal acontecesse, e por isso arriscara a manobra temerária. Mas, em vez de se defender com a adarga, inclinou-se para a direita, ficando com todo o corpo abaixo da garupa, movimento que ajudou o cavalo a equilibrar a projecção do movimento para fora que a meia volta e o galope provocaram.

Cavalheiresco, o Abade permitiu que D. Manuel da Câmara fosse buscar outra cana, não mostrando querer atacá-lo sem que ele pudesse atacar também. O moço cavaleiro voltou à luta, e, correndo sempre a direito, passou pelo Abade protegendo o corpo com o corpo do cavalo, como aquele fizera antes. E, sem mudar essa posição, levou o animal a voltear da direita para a esquerda, envolvendo o Abade como este o envolvera antes. Irado por se sentir ameaçado de modo semelhante àquele com que ameaçara, o Abade não obrigou o cavalo a rodar com a rapidez necessária para enfrentar sempre o rival. D. Manuel da Câmara, percebendo-o em desvantagem, mal protegido, atirou-lhe a cana num movimento tão brusco do braço que se desequilibrou ligeiramente. A cana fora mal dirigida, e o Abade, como que tendo-lhe adivinhado a intenção e o desequilíbrio, atirou a sua de imediato, mas o jovem cavaleiro, num prodígio de reflexos, agarrou-se às crinas com a mão direita e protegeu o flanco com o pequeno escudo de coiro, recebendo assim o golpe na adarga.

Enquanto a multidão, que viera de todas as partes da ilha, aplaudia o lance certeiro do abade e a ágil defesa de D. Manuel da Câmara, D. Filipa Coutinha enfureceu-se, gritando da tribuna que ao filho a cana deveria ser sempre atirada por cima da cabeça, como se fazia ao rei em circunstâncias iguais. E mais gritou ainda que fossem contra o afrontoso cavaleiro e o matassem.

O Abade correu até onde estava o seu moço de esporas, que fora dando pequenos trotes com o segundo cavalo para o ter pronto logo que o amo precisasse dele, e, sem descer daquele que montava saltou para cima do outro, pedindo ao moço “dá-me o arremessão”. Por momentos, terá havido quem julgasse que o abade fugia, mas ele logo voltou ao meio do terreiro, bradando: “Venham matar-me, que aqui estou. Mas antes deixarei cinco ou seis mortos e não sacramentados.”

Rui Gonçalves da Câmara, mais sensato e mais sabedor da honra de ser homem do que a mulher decerto saberia, disse em alta voz para o Abade que atirasse ao filho outra cana. Os ânimos de uns serenaram, os que temiam ter de obedecer a D. Filipa animaram-se, e a capitoa sentou-se de novo, contrafeita mas obediente como convinha ao seu estado.

O Abade voltou ao moço de esporas, devolveu-lhe o dardo, entregou a adarga, e mandou que ele lhe desse duas canas. O rapaz nem se atreveu a perguntar por que razão o fazia, porque sabia que nada nem ninguém poderia demovê-lo fosse do que fosse, para o bem ou para o mal. Aos que estavam perto o Abade falou, dizendo: “Pediu uma cana, dar-lhe-ei duas.” E, empunhando uma em cada mão, correu de peito aberto, de pé sobre os estribos, na direcção de D. Manuel da Câmara, que temeu precipitar-se em atirar a sua cana, porque, se falhasse, ficaria duplamente à mercê do adversário. Confiou em poder defender-se com a adarga, e só atirar quando tivesse o alvo perto de si. Mas, de modo inesperado, o Abade atirou a cana que levava na mão esquerda à altura da cabeça de D. Manuel, que levantou a adarga para se defender. Quase no mesmo instante, apontou à barriga a outra cana. Sem tempo pare se proteger, o jovem cavaleiro foi atingido no ventre. A cana, muito seca e leve, não poderia fazer ferida grave, mas o rapaz não conseguiu conter um “ah”, mais de espanto que de dor.

A multidão aplaudiu em delírio, excepto uns quantos que queriam estar nas boas graças de D. Filipa. O Abade desceu do cavalo, tirou o barrete com a mão direita e passou-o para a esquerda, e, dirigindo-se a Rui Gonçalves da Câmara, de modo a que o filho ouvisse também, disse: “Sois pai de um homem. Servir-vos-ei a ambos em tudo, com a minha bênção, a minha palavra e a minha lança. Basta que preciseis de alguma delas. “

Nota – Exceptuando a descrição do combate e o final do conto, o mais está de acordo com o relato de Gaspar Frutuoso.

Daniel de Sá

http://pnetliteratura.pt/cronica.asp?id=5484 … (FONTE)

Festival Correntes d’Escritas

Correntes d’Escritas, ou simplesmente Correntes, é um encontro anual de escritores de expressão ibérica que decorre durante o mês de Fevereiro na Póvoa de Varzim. Os escritores são provenientes de países e continentes onde se falam as línguas portuguesa e espanhola, desde a Península Ibérica, passando pela América Central e do Sul à África Lusófona.
Este ano, o Prémio Literário Correntes D’Escritas vai ser atribuído à modalidade – POESIA

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FILOSOFIA POLÍTICA | Militares responsabilizam Governo por “destruição das Forças Armadas”

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As carreiras nas Forças Armadas estão “manifestamente desajustadas” e impõe-se uma “redução dos custos com remunerações nos postos de topo” – é o que sugere o relatório de revisão do Estatuto dos Militares, cujo teor foi avançado à Lusa por fonte militar. O documento, que já estará na posse da tutela, é fortemente contestado.Em entrevista publicada na última edição do semanário Sol, o ministro da Defesa afirmava estar a avaliar o estatuto dos militares na reserva, adiantando que “até algures em fevereiro”, o mês em que decorre a sétima avaliação do Programa de Assistência Económica e Financeira, seriam divulgados “caminhos de reformas com expressão financeira a partir de 2014”.


“Não aceitamos ser parte da comissão liquidatária das Forças Armadas, nem assistir a isto de braços caídos”, advertiu o presidente da Associação Nacional dos Sargentos (ANS), ouvido nas últimas horas pela agência de notícias.

Para António Lima Coelho, fica patente uma “falta de sensibilidade” por parte da tutela” e, “mais grave, falta de respeito por aqueles que são o pilar da soberania nacional”.

“Isto mostra falta de respeito por aqueles que, em última instância, dão a vida para que a Constituição seja respeitada e para que os cidadãos que estão a tomar estas medidas tenham os seus cargos e a sua liberdade de agir como agem”, reforçou o presidente da ANS, para quem estão em causa “matérias demasiado sensíveis e perigosas”.

Lima Coelho deixa desde já um aviso: “Este tipo de coisas não se pode passar sem que haja contestação. Os portugueses merecem mais respeito. Nós, militares, que estamos ao serviço do povo, não podemos ser tratados com esta menorização”.
“A defesa militar da República” em causa
Elaborado por oito juristas, nomeados no verão do ano passado, o relatório para a revisão do Estatuto dos Militares sugere, segundo indicou a fonte citada pela Lusa, mudanças como a criação do posto de brigadeiro-general e a respetiva associação a cargos ocupados por majores-generais, ou uma carreira de 40 anos, em lugar dos atuais 36. Com a criação do novo posto, pretende-se obter uma “redução dos custos com remunerações nos postos de topo das carreiras” e um subsequente corte no número de efetivos nos postos de major-general, tenente-general e general e, na Armada, de contra-almirante, vice-almirante e almirante.

Ainda nos termos do documento, as promoções deverão passar a ocorrer por um critério de mérito – com regras de avaliação partilhadas por Exército, Marinha e Força Aérea -, ao invés da longevidade em funções militares. E é também recomendada uma “reformulação total do regime retributivo aplicável aos militares em formação para ingresso nos quadros permanentes, atribuindo-lhes maior flexibilidade”.

O presidente da ANS, que já criticara em comunicado a ausência de militares na equipa de relatores nomeada pelo Ministério da Defesa, recua a uma recente reunião com a tutela, para recordar que “o secretário de Estado disse desconhecer” quaisquer alterações em marcha no Estatuto dos Militares das Forças Armadas. “Isto é faltar à verdade por omissão, o que é muito grave”, reprova António Lima Coelho.

Por seu turno, o presidente da Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA), Pereira Carcel, vê na iniciativa de Aguiar-Branco mais uma demonstração de “uma prática que vai sendo habitual: afrontar a realidade militar e concretamente a condição militar”.

“Paulatinamente, gradualmente, os nossos governantes vão retirando às Forças Armadas a competência e a capacidade que podem ter, aquilo que constitucionalmente lhes está cometido: a defesa militar da República”, denuncia o responsável pela AOFA, acrescentando que o ministro da Defesa “devia ter um compromisso com a lei, porque sabe que deve ouvir as associações”.

Pereira Carcel teme que as propostas sejam “pouco adequadas à realidade” das Forças Armadas. “Quando se propõe que uma carreira seja de 40 anos, o que se pretende é ter umas Forças Armadas de anciãos”, ironiza o presidente da AOFA, igualmente ouvido pela Lusa.

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=621752&tm=9&layout=121&visual=49 … (FONTE)

FILOSOFIA POLÍTICA | CORTINAS DE FUMO por Tomás Vasques, em 21.01.13

A semana passada foi marcada pela encenação do “debate” sobre a “refundação” do Estado proposta por Vítor Gaspar e Passos Coelho, tendo como pano de fundo um duvidoso “relatório” do governo, assinado por “técnicos” do FMI. Começou com uma conferência, encomendada e montada pelo primeiro-ministro, no Palácio Foz, e acabou no “debate quinzenal”, na sexta-feira, na Assembleia da República. Em ambos os casos, apenas a registar a irrelevância do que foi dito e a frouxidão política dos intervenientes, à medida dos interesses e objectivos do governo. Estamos à beira de um terramoto na vida da maioria dos portugueses, a juntar às suas difíceis condições de sobrevivência, e tudo parece estranhamente calmo, uma espécie de bonança que antecede as grandes tempestades.

Casimiro de Brito, “A Boca na Fonte”, editora Lua de Marfim, Lisboa, 2012 by Maria João Cantinho

Casimiro de Brito

Casimiro de Brito

O mundo não posso mudar –
Deixa-me sacudir a areia
Das tuas sandálias

Casimiro de Brito, “Através do Ar”, ed. Schichigatsudo, 23, Tóquio, 2008, p. 28.

Muito jovem, Casimiro de Brito parte para Londres, onde acabou por viver até 1968. Tendo ficado alojado no apartamento de um professor de estudos orientais, tomou contacto com a poesia japonesa pela primeira vez. E essa presença iria marcar, em definitivo, a sua própria poética. A extrema condensação do haiku e o choque que esta poética teve sobre si marcar-lhe-iam decisivamente o rumo poético. Numa entrevista que Casimiro deu a Andreia Brito, em 2005, “O essencial ainda está por vir”, explica assim o poeta à entrevistadora:
Conheci uma poética que hoje considero ser a mais bela de todos os tempos (comparável só às nossas cantigas de amigo); entrei num campo de trabalho como eu gosto, a longo prazo, para sempre; entrei na vida (física, mental, sensível) de um ser celestial, a minha amiga japonesa, enfim, coisas bonitas que mudaram o meu caminho. Nunca mais deixei de respirar essa poesia e, sobretudo, nunca mais deixei de pensar (e de fazer) que é preciso conhecer mais do que a nossa tradição poética.

Essa presença da poesia japonesa e das suas musas poéticas prolongou-se no tempo (e ainda continua viva pelos contactos de Casimiro de Brito com a poesia japonesa) e lembro duas obras fundamentais: “À Sombra de Bashô: Renga com Matsuo Bashô” (2001) e o livro “Através do Ar”, escrito em colaboração com Ban’ya Natsuishi, composto de haikai que são traduzidos, simultaneamente em inglês, francês e português.
O haiku, que no plural se designa por haikai (um termo que significa “versos de diversão”), constitui a forma lírica japonesa por excelência. Tradicionalmente o haiku consta de dezassete sílabas, divididas em 3 versos, seguindo o esquema 5/7/5, para descrever qualquer cena natural ou objecto, concentrando um sentimento, uma ideia ou um aforismo, tal como nos ensina Martin Gray, in “Haiku”, na página 132 da sua obra. Ainda de acordo com o tema dominante, multiplica-se em quatro subgéneros: wabi (frugalidade), sabi (isolamento), aware (impertinência) e yugen (mistério) . Continua, ainda, Jorge Sousa Braga, na mesma página, a explicar-nos a estrutura do haiku, dizendo que “do ponto de vista puramente retórico, o haiku divide-se em duas partes, separadas por uma palavra-chave: Kireji.” A primeira parte, segundo o autor, “dá a condição geral e a ubiquação temporal ou espacial do poema (o outono ou a primavera, uma árvore ou uma rocha…); a outra, explosiva, deve conter um elemento activo. Uma é descritiva e quase enunciativa; a outra, inesperada. A percepção poética surge da colisão entre ambas.”
A estética do haiku tem, ainda, vários pontos de afinidade com o aforismo, pela mesma retórica, pelo mesmo sentido de economia e de rigor poético, daí que ela tenha entrado na literatura ocidental pela estética do fragmento, tão cara aos poetas alemães românticos, tendo como cultor máximo do género o poeta Novalis. E o poeta Casimiro de Brito foi, também, ao longo da sua obra, um exemplo maior da escrita aforística. Cito aqui, a título de exemplo, “A Arte da Respiração”, editado pela D. Quixote (1988), “Da Frágil Sabedoria”, das edições Quasi (2001), “Fragmentos de Babel” (2007) e “Arte de Bem Morrer”, pela Roma Editora (2007). A peculiaridade e o próprio sentido desta estética do fragmento nasce do próprio instante e da concentração temporal nele existente, do Aqui e do Agora que se abrem na sua leitura. Isto é, o poema conquista a sua plenitude à luz da organicidade e da estruturação que dele irradia, da sua própria concentração temporal e espacial. Por isso e, como me disse um dia o poeta, cada poema deve ser lido ao centro, para que, da concentração do olhar, surja também a contemplação da origem e do fim do poema, da palavra e da coisa. Cada aforismo, cada haiku, cito Casimiro de Brito, é “simultaneamente um ovo e uma pedra”. Na entrevista que deu a Andreia de Brito, Casimiro diz, sobre o haiku:
(…)Tem a forma de um ovo, de onde pode nascer um pássaro. É um texto mínimo que, começando por surpreender, vai transformar-se em coisa do outro, do leitor, uma vez que a sua estrutura enigmática se presta à interpretação. Deve ser perfeito como um ovo ou uma pedra: não há nele uma sílaba a mais, mas tudo o que lá está é muito mais. A única comparação possível é com a forma mais bela de poema que existiu: o haiku.

Esta compreensão do haiku só pode nascer da articulação do tempo a-histórico com aquele tempo em que vivemos, o tempo quotidiano, onde a outra dimensão temporal se revela e manifesta, em cada uma das partes, reclamando uma pertença antiga. Relembro aqui a bela definição de Edmond de Jabès:
C’est pourquoi j’ai rêvé d’une oeuvre qui n’entrerait dans aucune catégorie, qui n’appartiendrait à aucun genre, mais qui les contiendrait tous; une oeuvre que l’on aurait du mal à définir, mais qui se définirait précisément par cette absence de définition (…) un livre enfin qui ne se livrerait que par fragments dont chacun serait le commencement d’un livre.

A estética do haiku ou do fragmento recusa a ideia de um acabamento ou de uma definição da obra e esta vai-se fazendo à medida que se escreve cada poema, definindo-se precisamente pela ausência da sua definição, avançando contra as evidências e o fechamento imposto pelo formal, recusando o acabamento e a imperfeição, colhendo, em cada verso a imperfeição e o segredo, o inesperado. E, como Casimiro de Brito gosta de nos recordar, “o poeta é aquele que trabalha com o segredo”, habitando o umbral do querer dizer das línguas e do mundo, numa luta perdida contra o emudecimento da matéria.
Esta tensão interna, este “segredo” da matéria e do mundo e que constitui a sua opacidade é o que confere à poesia de Casimiro de Brito esta poderosa imagética, evidente, desde logo, no título “A Boca na Fonte”, que nos remete para essa busca do primordial, do acto de beber directamente da fonte, aqui dupla, pois é no sentido da natureza e simultaneamente da linguagem.
Uma poética que se faz irmã da terra e da água, da escuta e da visão directa. Cito dois haikai, para dar ideia desta proximidade: por exemplo, o número 43, na página 16: “Silêncio. Ouçam/a vida – água correndo/cada vez mais triste” ou o 48, da página 17: “Diante do mar/o meu coração derrama-se/e vai com as ondas.” Cosmos, palavra, coração são rostos de uma mesma realidade, metamorfose incandescente que se fixa no haiku, em que o poema se coagula na forma de imagem, breve e luminosa. Se os elementos e a força da terra e da natureza perpassam a sua poética, sob as mais variadas formas, desde a ínfima gota de chuva ou grão de areia até ao enigmático silêncio das constelações, também o onírico deflagra, a todo o instante, para nos recordar a brevidade da vida e do instante: “Viagem nocturna –/ regresso à origem do sonho/donde nunca saí.”
Morte e vida, sonho, natureza e linguagem são os diversos rostos que constituem a poesia de Casimiro, sempre. Seja na sua forma lírica ou de fragmento, em particular. Desses nomes essenciais dá conta a sua linguagem poética, revelando uma profunda sabedoria que se entrelaça com a simplicidade e o rigor da sua poética. Se, por um lado, Casimiro é dos mais inspirados poetas portugueses e disso nos dá conta a sua “paleta lírica”, por outro, é senhor de uma contenção e de um rigor irrepreensíveis, que nunca o deixam resvalar para o sentimentalismo. Esse é um segredo que poucos detêm na sua poesia, feita de demora e de paciência, o tempo em que o poeta sonha o mundo e o transforma em linguagem e em luz.
Cito um haiku deslumbrante e que resume esse rumo poético: o haiku 6 da página 8: “Na prosa do dia/a rosa alumia. Que prosa/se tudo é rosa?”. É por esta razão que o poeta René Char dizia que a poesia era superior à filosofia e a qualquer metafísica. Na poesia de Casimiro, a filosofia e a sagesse lavram esse sulco, em que a poesia deita a sua semente, onde a concentração da imagem atinge o seu esplendor e um ponto de intensidade raros. Como raros o foram os poetas-pensadores da Antiguidade Grega, guiados pelo rigor e pela claridade enigmática do pensamento. É desta sabedoria e desta humildade que se constrói o poema, desta pobreza essencial da finitude humana, esse magma secreto e indizível do poema, que recusa a beleza e a perfeição. Por isso, diz Casimiro, no haiku 12: “Homem caminhando./Árvore nómada em busca/da mãe obscura.”

Mãe obscura da vida ou da linguagem? Essa é a questão que coloco ao poeta.

Maria João Cantinho

http://pnetliteratura.pt/cronica.asp?id=5432 … (FONTE)

Fundação José Saramago | Comunicado de imprensa

amigos

A Fundação José Saramago criou um Grupo de Amigos através do qual quem estiver interessado pode oferecer donativos para a instituição. O valor das contribuições determina as diferentes contrapartidas de que os Amigos poderão usufruir.

Quem quiser contribuir pode fazê-lo através de transferência bancária, para a conta cujos dados estão explicitados no nosso site da Internet.

Os benefícios previstos começam pela simples menção do nome do doador na lista de Amigos (de cinco a dez euros), entradas gratuitas na Fundação (a partir dos 10 euros), descontos de 20 por cento na livraria/loja (a partir dos 20 euros), oferta do livro A Estátua e a Pedra. O autor explica-se, a publicar pela Fundação nos próximos meses (a partir dos 50 euros). Quem contribuir com 500 euros ou mais será considerado parceiro da Fundação e mencionado como tal em todos os nossos materiais.

A Fundação José Saramago tem como fontes de financiamento os direitos de autor da obra do escritor e as receitas de entrada e da livraria/loja da Casa dos Bicos, e não recebe qualquer financiamento público.

As contribuições dão direito, em Portugal, a benefícios fiscais.

Mais informações em:

http://www.josesaramago.org/373151.html 

Novo romance de Federico Moccia – Amor 14

image012O novo romance de Federico Moccia – Amor 14 – é uma viagem fantásticas através dos sentimentos. Carolina tem quase 14 anos. Está a viver um momento cheio de magia, que partilha com as amigas: os sonhos; os primeiros beijos roubados; as músicas que falam da sua experiência; as festas; a escola, os exames e os colegas; a sua querida avó, que a entende como ninguém; e o seu irmão, tão excecional, que leva o coração de Carolina a sonhar. E o amor? Como será o verdadeiro amor? Serão os olhos de Maximiliano, que encontrou por acaso? Quem sabe…

O livro foi adaptado ao cinema em 2009.

«Moccia possui uma técnica narrativa impecável. Além disso, consegue fotografar de uma maneira nítida a sociedade atual.» Secolo d’Italia.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ddTlUybIRRM

BIBLIOHISTÓRIA – BASE DE DADOS LITERÁRIA | Pedro Almeida Vieira

patrocinio2biblioHistória constitui uma base de dados, iniciada em meados de 2010 pelo escritor Pedro Almeida Vieira, que integra  obras de literatura do género histórico – ou com incursões históricas – publicadas por escritores portugueses desde o século XIX até à actualidade. Foi na pesquisa de informação que foi (re)descoberta a obra do primeiro escritor do romance moderno português, Guilherme Centazzi, que publicou «O Estudante de Coimbra», em 1840 e 1841, entretanto reeditada no ano passado pela Planeta (ver vídeo).

Actualmente, a biblioHistória tem já inventariados 645 autores (incluindo pseudónimos) e 1.770 títulos, entre romances, novelas, contos e narrativas ficcionadas. Estão também incluídas 59 obras de autores anónimos, grande parte das quais em periódicos. No entanto, ainda se continua a realizar pesquisas para a inclusão de mais obras e obtenção de mais informação.

Esta base de dados teve o apoio da Porto Editora até 2012, da ordem dos 600 euros por ano, mas por razões desconhecidas este grupo editorial decidiu suspender esta colaboração, pelo que o projecto se encontra sem sustentabilidade financeira e ameaça encerrar.

Antes da decisão unilateral da Porto Editora, a biblioHistória tinha previsto, e concretizará se houver apoios, um upgrade que permitirá tornar ainda mais interactiva a base de dados (como pesquisa temática e por palavras-chave), completar a inserção de mais informação e incluir outros dados, nomeadamente recensões, artigos académicos e ligações a edições digitalizadas actualmente existentes.

Caso o apoio agora pedido atinja ou ultrapasse o montante mínimo, o promotor compromete-se a elaborar um relatório detalhado das despesas e informar dos avanços da base de dados com regularidade, bem como passar a disponibilizar uma newsletter sobre as novidades literárias do género histórico em Portugal.

Sobre Pedro Almeida Vieira

Escritor e jornalista, Pedro Almeida Vieira licenciou-se em Engenharia Biofísica na Universidade de Évora em 1993. Dois anos mais tarde tornar-se-ia jornalista, colaborando nos jornais «Expresso» e «Diário de Notícias», bem como nas revistas «Forum Ambiente» e «Grande Reportagem». Em 2003 foi-lhe atribuído o Prémio Nacional de Ambiente «Fernando Pereira», pela Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente, pela sua contribuição, como jornalista, para as causas ambientais.

Em 2003 publicou um ensaio ambiental intitulado «O Estrago da Nação», repetindo esta temática em 2006, com a publicação do livro «Portugal: O Vermelho e o Negro», sobre os incêndios florestais.

A sua estreia literária na ficção surgiu com o romance «Nove Mil Passos» (2004), sobre a construção do Aqueduto das Águas Livres, seguindo-se «O Profeta do Castigo Divino» (2005) – que aborda a vida do jesuíta Gabriel Malagrida e a ascensão política do Marquês de Pombal, com enfoque no período anterior ao terramoto de Lisboa de 1755 -, «A Mão Esquerda de Deus» (2009, finalista do Prémio Literário Casino da Póvoa) – que constitui uma reconstrução da heterodoxa vida de Alonso Perez de Saavedra, o suposto falso núncio que criou a Inquisição lusitana, durante o reinado de D. João III de Portugal -, e «Corja Maldita» (2010), um romance que, subvertendo o género histórico, incide sobre o processo de extinção da Companhia de Jesus na segunda metade do século XVIII.

Em 2011 publicou o primeiro volume de narrativas históricas «Crime e Castigo no País dos Brandos Costumes», sobre procesos judiciais em Portugal entre os séculos XVI e XIX, bem como um ensaio sobre resíduos sólidos urbanos intitulado «Resíduos: Uma Oportunidade». Em 2012 preparou a edição, com fixação de texto e notas, do romance «O Estudante de Coimbra», de Guilherme Centazzi, considerada a primeira obra de ficção moderna portuguesa.

http://ppl.com.pt/pt/prj/bibliohistoria

FILOSOFIA POLÍTICA | A dívida! A eficiência! Os cortes! O desastre! | Carlos Matos Gomes in “Facebook”

A dívida! A eficiência! Os cortes! O desastre! A notícia do reescalonamento da dívida e o relatório encomendado ao FMI estão ligados pelo mesmo pensamento da moda: o extremismo mercantil – o endeusamento dos mercados – com o messianismo evangélico dos que agem segundo a crença de que um Deus nos deu a posse do mundo e dos seus bens até à eternidade. Esta mistura foi a mesma que levou os povos da Ilha da Páscoa a derrubarem até à última palmeira para construirem e transportarem a ultima grande estátua dos seus Deuses. Fazendo estátuas maiores dos deuses a quem pediam boas colheitas à medida que iam esgotando as árvores e com elas a possibilidade de regeneração da natureza. A questão das dívidas dos estados devida à competição pelos bens disponíveis (caso das dividas soberanas) e da necessidade da “eficiência” a palavra mágica do relatório dito do FMI que apontam para uma mais acelerada e frenética utilização de recursos são o sintoma da esquizofrenia em que caimos. Alguém chamou a este estado “o rodopio do suicida “. A ideia do crescimento eterno e da eficiencia (fazer mais, mais depressa, com menos gente e pagando o menos possível) a todo o custo vai levar-nos à destruição. Na verdade vivemos sempre a crédito e talvez seja mais sensato falar em desenvolvimento do que em crescimento.

Páscoa

Percentagem de crianças que já leu um ebook duplicou nos últimos 2 anos [EUA]

Este é um dos dados mais relevantes do relatório Kids & Family Reading Report, que a norte-americana Scholastic realiza de dois em dois anos e que estuda os hábitos de leitura de crianças e jovens (6-17 anos) e respetivos pais.De acordo com estudo divulgado ontem, 46% das crianças norte-americanas já leu um ebook (em 2010 eram apenas 25%)  e 72% dos pais têm interesse em que o seu filho leia ebooks.

O dispositivo mais usado na leitura de ebooks por crianças foi o iPad (há dois anos o computador portátil era o dispositivo mais usado).

Entre as crianças que já leram um ebook, uma em cada cinco afirma que agora lê mais (tendência mais acentuada entre os rapazes). Cerca de metade das crianças e jovens entre os 6 e os 17 anos afirma que leria mais se tivesse mais acesso a ebooks. Apenas 47% dos rapazes e 56% das raparigas consideram a leitura recreativa importante)

FONTE: http://lerebooks.wordpress.com/2013/01/15/percentagem-de-criancas-que-ja-leu-um-ebook-duplicou-nos-ultimos-2-anos-eua/

As Mulheres do Fonte Nova

“Ia agora à missa, ao domingo. Não que tivesse um chamamento místico. Nada de apelos eucarísticos. Percebia que a ida à igreja, missa do meio-dia em São Julião, era fundamental para se mostrar em novos espaços, entre outra gente, e bem vestida, com a melhor roupa que ia arranjando, lá estava ela, sozinha e arrebicada, a picar o ponto da subida social.

Na rua começou-se logo a murmurar a conversão. Porque não vai ela à missa da Anunciada, perguntavam retoricamente, grande cabra, o marido é que tinha razão quando a zurzia.”

As Mulheres do Fonte Nova, Alice Brito

Neste livro existe um personagem que é da dimensão de uma cidade, sendo ele próprio essa cidade. Uma cidade montada na garupa da miséria, alcoviteira e má mãe. Não se lhe conhece a culpa, está só contaminada de gente. A mão segura da PIDE sabe dos que não são da situação, já lhes sentiu a pele. Espanta-se de gente esta cidade.

Poesia by Joana Emídio Marques

De repente tudo era feito de silêncio.
A fome, as multidões, os acidentes, as chegadas e as partidas.
Quantas ausências há numa multidão?
Quantas mortes no bulicio das tardes idênticas?
Quanto silêncio há naquilo que é feito de Nós?
No acontecer ignorado das coisas ínfimas.
Soltou-se um fio de cabelo, levantei e desci os olhos em frente de tudo o que Não
O teu rosto é belo e eu digo:não sei a palavra.
Em ti a seda é a sabedoria dos bichos acuados.
A carne viva não contém um único sobressalto.
E sim. Eu grito. Eu grito para que nada se mova fora do meu existir.
Eu grito para interromper esse silêncio letal dos instantes que parecem Nós.
Para não adormecer no labirinto milenar que se levanta como um Começo.
De repente tudo era interior Nosso.
A casa, o corpo, as palavras que os vêem antes dos olhos e lhes roubarem o mistério e a graça.
Antes ( ou depois?) o ruído.
Frases acumuladas. Metal entrechocando. Motores, travagens.
Quantas multidões há numa ausência?
Quantas tardes idênticas no bulicio das mortes?
Quanto de Nós há naquilo que é feito de silêncio?
Nas coisas infimas de acontecer ignorado?
Há fios de cabelo por todo o lado,
cheiro a herança e cigarros.
E paredes que o comem lentamente.
Abro a janela como se houvesse passagem
Levanto e baixo os olhos ao compasso do que atravesso
Não danço, não grito.
Movo-me junto à quietude de uma memória sem Nós
e esforço-me para pensar um primeiro pensamento
que a empurre para longe.

Mercedes Pessoa de Moraes | Designer

Mercedes Pessoa de Moraes was born in Oporto,Portugal, in 1982. In 2003, completes the Bachelor of Fine Arts, Painting variant in ESAD, School of Arts and Design in Caldas da Rainha. At the professional level, she worked 3 years as a Graphic Designer in Parfois, a fashion accessories brand, designing some of their campaigns, flyers, posters,newsletters.Another highlight is the collaboration with publishers in making book pagination and creating some of their illustrations. Currently she lives in Barcelona and studies at IDEP,Escuela Superior Universitaria de imagen y diseño.

FONTE:  http://mercedesmoraes.blogspot.com.es

mercedes moraes

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PRIMEIRO A TUA MÃO SOBRE O MEU SEIO | ROSA LOBATO FARIA

Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé – o meu – sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.

É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.

O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.

Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama

Por fim o sono calmo, que não é
Senão ternura, intimidade, enleio:
O meu pé descansando no teu pé,
A tua mão dormindo no meu seio.

ROSA LOBATO FARIA

seio

Diana Damrau | Diva Divina

Damrau bounds from one phenomenal success to the next, appearing on the world’s leading stages.

Yet in spite of her busy private and professional life, the soprano agreed to let filmmaker Beatrix Conrad accompany her over the course of nine months. We are there, at performances and rehearsals in Geneva, New York, Paris and Munich, at recitals and the recording studio. The film portrays a high-intensity, jet-set life tempered by the harmony of a rewarding family life with her husband, her parents and, at the end of the film, with her newborn baby!

http://www.medici.tv/#!/diana-damrau-diva-divina

FILOSOFIA POLÍTICA | Soares e os cobardes by Daniel Oliveira in “Arrastão”

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Nunca votei em Mário Soares. Muitas vezes discordei dele, outras concordei. Muitas vezes o considerei um adversário, outras um aliado. Muitas vezes me surpreendeu positivamente, outras desiludiu-me. Sei dos ódios e das paixões que provoca. O que apenas quer dizer que não se limitou a passar pela vida e fez diferença. Para o mal e para o bem. Discordando e concordando com ele, respeito a sua história e a sua coragem.

Mário Soares foi hospitalizado. Esperemos, espero pelo menos eu, que não seja nada de grave.

Ao ler os comentários que pululam na Net perante à notícia da sua hospitalização tentei não me chocar em demasia. A Net não se limita a revelar o melhor e o pior da condição humana. A revelar coisas que nos parecem ser impensáveis. Ela amplifica, pela possibilidade do anonimato da opinião, os mais abjectos dos sentimentos. Na realidade, como sempre soubemos – dos bufos aos linchadores -, o anonimato sempre permitiu que os constrangimentos sociais e morais desaparecessem e a escória humana se exibisse sem pudor.

Um dos comentários mais habituais foi a crítica ao facto de Mário Soares ter sido hospitalizado no Hospital da Luz. Um hospital privado. Seria, escreveram vários, sinal de incoerência. Mas nem todos os que escreveram eram anónimos.José Manuel Fernandes, antigo diretor do “Público”, escreveu no seu twitter: “O dr. Mário Soares não deveria ter ido para um hospital do SNS para dar o exemplo? É só para saber, nada mais.”

Não vou aqui elaborar sobre o direito de qualquer cidadão se bater pelos serviços públicos e usar, se assim entender, serviços privados. Não é o momento. O que me choca, o que me deixa mesmo próximo do vómito, é alguém aproveitar um momento destes para fazer combate político. Quem aproveita a hospitalização de um homem para o combate político, quem aproveita a fragilidade física de um adversário para o atacar, tem apenas um nome: é um cobarde. E com cobardes não se debate. Desprezam-se apenas.

Daniel Oliveira | Publicado no Expresso Online

FONTE: http://arrastao.org/2727389.html