Nova Teoria do Mal

Este livro, segundo o seu autor, tem origem numa revolta: “a revolta moral contra o estado de vida degradado, autenticamente terceiro-mundista, de mais de 2 milhões de habitantes de Portugal; Não podia encarar grande parte da classe política que nos governa desde meados da década de 1980 sem encontrar nos seus olhos, na sobranceria das suas atitudes, na prepotência das suas leis (extorquindo dinheiro à população, favorecendo os que mais o têm), no ar enfastiado e enfatuado com que no estrangeiro se referem ao povo português, culpando-o de um atraso cuja responsabilidade só às elites pertence, sem detectar neste conjunto de atitudes uma visível tendência para o mal, um genuíno prazer no mal que iam cometendo lei a lei.” (pág. 13)

Tal como a vida “não nasceu contra o caos, mas sobre o caos” (pág. 109), é natural que esta revolta também nasça sobre a desagregação da nossa sociedade, sobre este amortecimento português sem um aparente desígnio de maldade.

Homens normais, sem aleijões psíquicos, entorses sociais de infância ou traumas psicanalíticos, subscrevem políticas que lançam populações inteiras na miséria ou limitam o tratamento a doentes que se podiam salvar e dessa forma vão morrer porque o país está em dificuldades económicas. Como entender esta “banalidade do mal”?

Numa escrita lúcida e esclarecida somos convidados a acompanhar a evolução da humanidade desde os seus primórdios, do Australopitecos até ao homem de hoje, desde a mera percepção do perigo e sua antecipação, até homem religioso (segundo o autor ainda no seu estado primitivo de barbárie). Falta ao homem do século XXI o estado de maturidade para o qual, “a revolução a ser feita reside na separação radical entre mal e deus e na união radical entre homem e ser” (pág. 182).

Pelo caminho, Miguel Real, rouba-nos a alma: “A embriologia comparada dos vertebrados não permite alternativa: o homem proveio dos animais, possui espírito, mas não alma”. (pág. 40).

A revolução final a que se refere, lançaria a humanidade na sua idade adulta e baseia-se no conhecimento: “O mal não é um mistério, ele é o que por toda a parte existe e substância mais universal não existe. O mistério reside na existência do bem, na existência de equilíbrios estáveis conquistados ao caos primitivo e às forças da destruição, perseverando sobre e a despeito do mal. Que haja equilíbrios realizados e duradouros vencendo a instabilidade permanente, a destruição, o caos, que estes equilíbrios se reproduzam biologicamente, que haja acções morais exemplares na vida de cada homem -isso, sim, é um mistério. O mal, não, sim o bem – eis o segundo mistério da existência humana.” (pág. 182)

Estamos no universo da banalidade do mal. (segundo o conceito defendido por Hannah Arendt)

Se me for permitida uma nota de humor, diria que, talvez por isso, Miguel Real, cumpra o preceito Bíblico (Gn 6,5) e se deixe contaminar pelo mal. Ao roubar aos Cristãos a sua alma, impede-os da ressureição no dia do Juízo Final, condenando à morte eterna biliões de crentes, passados e futuros, todos agora sem resgate possível ao pecado original. O maior genocídio de todos os tempos, feito por uma mente lúcida, em nome de uma humanidade adulta.

Este é um livro para todos os tempos, mas sobretudo para os tempos que correm, em que o mal não mais pode ser “a sombra negra de Deus” e “a política seja a ciência, não de fazer o bem, mas de evitar, prevenir ou minimizar o mal”(pág. 181).

Nota: (Génesis 6, 5) O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos de seu coração estavam continuamente voltados para o mal.

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