Teatro Rápido | Comunicado

Por decisão do projeto, totalmente alheia ao Teatro Rápido, Sofia Sá da Bandeira será substituída por Cristina Areia no espetáculo “GOODBYE” de João Ricardo que estará em cena no TR durante todo o mês de Fevereiro.

SALA 3 – Goodbye
Horário das sessões: 18h15 | 18h45 | 19h15 | 19h45 | 20h15
quinta a segunda | M/16 | 3€

Texto: José Pinto Carneiro
Dramaturgia e Encenação: João Ricardo
Interpretação: Cristina Areia
Instalação Cenográfica: João Ricardo / SP Televisão
Design Gráfico: Inês Gois
Execução de Figurinos: José Graça

Uma mulher, mãe de dois filhos, que na sua última noite de férias no Algarve se deixa levar por um perspicaz jogo de sedução de um jovem rapaz, que a leva a reviver emoções adormecidas.

Sítios, de Licínia Quitério

“Terra e mar são sítios que dizemos.

Outros há sem nome e sem morada – desertos”

Começa assim o livro de Licínia Quitério, um livro de sítios, de todo os sítios, dos que se alcançam pelo trabalho da palavra. Em cada poema existe uma “paisagem absurda” e nessa paisagem se inscrevem palavras; não nomeiam, não descrevem, são palavras obreiras de outras realidades. E a realidade de hoje corresponde aos “dias do cerco”, à “pele atormentada do pântano”, onde a voz do poeta se destaca como construtor da nova metrópole, a que se avizinha, procurando ir sempre “Mais alto, que a terra é pouca e o céu é vasto”.

Os poemas nascem, “Pedra a pedra, homem a homem, dor a dor, chicote a chicote…”, porque os sítios permanecem para além da memória do nome que lhe demos.

versão integral no PNet

FILOSOFIA POLÍTICA | Divirtam-se enquanto podem | Jorge Nascimento Rodrigues in “Facebook”

Recapitulando o “regresso aos mercados” — continua a haver mais marketing politico e espuma dos opinadores do que factos

1- Na realidade, o processo de regresso ao mercado obrigacionista começou em outubro de 2012 com uma troca parcial de dívida da OT que vence em setembro deste ano; o termo “processo” foi usado pela secretária do Tesouro e é adequado, secretárua que, aliás, teve uma intervenção pública sóbria;

2- O que ocorreu esta semana não foi um “leilão” de dívida de médio e longo prazo típico, mas uma emissão sindicada (por 4 entidades), ou seja havia uma rede por baixo do fio de arame; O IGCP ainda não realizou nenhum leilão típico de dívida obrigacionista; só tem realizado leilões de bilhetes do Tesouro (ainda que neste caso tenha estendido o prazo até 18 meses numa linha de fronteira com as obrigações); para muitos analistas, o verdadeiro “teste” é uma linha de leilões de obrigações (Irlanda, por exemplo, já falou em emitir a 9 anos, o máximo que o NTMA costumava fazer antes do resgate);

3- A ideia de spin que estas operações têm um efeito imediato no mercado secundário não é suportável na evidência empírica. Não por acaso a agência Fitch realizou o balanço sobre a operação e apontou os “desafios”. Além disso, o mercado secundário da dívida (tal como o primário) está sujeito à influência de diversos factores exógenos ao país (andamento da zona euro, factos políticos relevantes na zona, atuação do BCE), endógenos de ordem política (Fitch volta a sublinhar o risco político, por exemplo) e de avaliação de sustentabilidade do ajustamento em curso ou da dívida, etc. Nenhuma agência de rating manifestou intenção de alterar a avaliação de dívida especulativa, regraduando o país. É um complexo de variáveis que tanto podem surpreender o Governo como a Oposição. A International Finance Review levantou o problema do papel dos hedge funds (24% nesta operação; 4% apenas na operação sindicada espanhola a 10 anos);

4- A “convicção” de que as reformas estruturais (o que Paul Krugman chama de novo “estruturalismo” mais arreigado na Europa) na sua maioria viradas à desvalorização do factor trabalho conduzem à retoma económica, ao reequilíbrio das contas públicas e ao regresso do IDE nem mesmo nos mais convictos austeristas é inabalável. Os factos da vida já levam a chanceler Merkel a explicar que isso “leva tempo”, e que o “tempo” é crítico. Pelo que o austerismo e a “condicionalidade” (reformista estruturalista) que impera nas mentes europeias de Bruxelas e Frankfurt começa a mostrar o seu prazo de validade. O que os obriga a golpes de rins, mesmo continuando o discurso inicial para consumo do eleitorado indefectível;

5- É esse “tempo” que conduziu a troika a aguentar a Grécia desse o que desse; um tempo onde a geopolítica começa a surgir como factor (o posicionamento estratégico da Grécia é mais do que evidente; só o não é para néscios ou integristas do austerismo). Na Grécia, a “troika” já experimentou de tudo o que à partida era tabu e caluniado como “imoral”. Os europeus deveriam beijar o chão que pisam Venizelos (que negociou a reestruturação de dívida) e Samaras (que segurou o regime depois de duas eleições). Em vez de continuarem a política de achincalhamento da Grécia — o que só revela como o estilhaçar da UE é cada vez mais evidente (se não for travado por novos líderes políticos ou se os atuais não derem um golpe de rins);

6- É esse “tempo” que leva a troika a cada vez mais querer definir com urgência um plano para o day after, ou seja de continuação dos programas de resgate por outros meios. Os planos de resgate, apesar da evolução que tiveram, falharam no essencial — na ideia de matar no ovo a crise da dívida, eliminar os tail risks, e colocar as economias em austeridade expansionista. Na Grécia, a troika traçou uma primeira empreitada até 2016 (e mesmo assim há um buraco que pode ir até 9,5 mil milhões de euros que está por resolver), na espera que Samaras aguente a situação e que o Syriza não consiga dar a volta. Na Irlanda e em Portugal quer estender o tapete para uma intervenção “preventiva” do MEE (precautionary financial assistance) e paralela do BCE (que inventou o OMT) e para um envolvimento do sector oficial europeu (FEEF e MEEF) amaciando o perfil da dívida “oficial” dos dois países. Para que estes dois países não sejam vencidos pela “fadiga” política e social. Ainda que Irlanda e Portugal sejam filmes completamente diferentes;

7- “Colar” à Irlanda em matéria de tática no seio do Eurogrupo é um bom passo, ainda que tardio; mas mais vale tarde do que nunca. Mas em matéria de estratégia estamos muito longe. O governo irlandês e a sua agência de dívida (NTMA) têm uma estratégia clara nos seus pontos de conflito/negociação com o BCE e Bruxelas, e não arredam um milímetro mobilizando publicamente a vontade nacional de ter coluna vertebral dos irlandeses, e uma linha transparente em matéria de “regresso aos mercados”. A ideia de que estamos “intervencionados” e que nada podemos fazer a não ser que a troika nos abra a porta para ir fazer chichi, no momento em que entende abrir (“we appreciate”), é o contrário da estratégia. É contrária ao pouco que temos no nosso ADN de 900 anos. A ideia de que se dobra a espinha publicamente, sendo grandes estrategos nos bastidores, é novela. Só acredita quem quer. Só tendo uma grand strategy, como dizem os especialistas, se pode manobrar, discretamente, nos bastidores, mantendo o apoio popular do seu próprio povo.

Divirtam-se enquanto podem.