É da torre mais alta | José Carlos Ary dos Santos

É da torre mais alta
Que eu canto este meu pranto
Que eu canto este meu sangue,
Este meu povo
Dessa torre maior
Em que apenas sou grande
Por me cantar de novo,
Por me cantar de novo.

Cantar como quem despe
A ganga da tristeza
Como quem bebe
A água da saudade,
Chama que nasce e cresce
E vive e morre acesa
Chama que nasce e cresce
Em plena liberdade.

Mas nunca se dói só
Quem a cantar magoa
Dói-me o Tejo vencido
Dói-me a secura
Dói-me o tempo perdido
Dói-me o mal da lonjura
Dói-me o povo esquecido
E morro de ternura
Dói-me o tempo perdido
E morro de ternura.

torre-da-liberdade

Trecho do livro | A Casa das Belas Adormecidas | Yasunari Kawabata

– Mamãe! – chamou a garota, como num grito contido. – Oh! Oh! A senhora vai embora? Por favor, perdoe-me, perdoe…

– Com o que está sonhando? É um sonho, é um sonho! – diante das palavras da garota que dormia, o velho Eguchi apertou-a ainda com mais força, tentando acordá-la. A tristeza contida na voz dela chamando pela mãe penetrou em seu coração. Seus seios estavam tão comprimidos contra o peito dele que estavam achatados. Ela estendeu os braços na direção dele. O teria confundido no sonho com sua mãe que desejava abraçar? Não. Embora adormecida, embora virgem, não havia a menor dúvida de que era uma coquete. Parecia que o velho Eguchi, em 67 anos de vida, nunca tivera a oportunidade de tocar com tamanha plenitude a pele de uma jovem. Se havia uma mitologia sensual, esta seria sua jovem heroína.

Começou a lhe parecer que não era apenas uma coquete, mas uma garota vítima de encantamento. Por isso, ela estava “viva mesmo adormecida”, ou seja, sua alma adormecia profundamente, mas seu corpo, ao contrário, mantinha-se acordado em toda a sua feminilidade. Não havia nela uma alma humana, apenas um corpo de mulher. Estaria tão bem treinada para servir de companhia aos velhos a ponto de a mulher da casa anunciá-la como “experiente”?

Eguchi afrouxou o braço que apertava a garota com força, abraçou-a com carinho e ajeitou seus braços nus de modo que ela o enlaçasse. E ela o abraçou docilmente. O velho manteve-se nessa posição e permaneceu quieto. Fechou os olhos. Aquecido, sentia-se num deleite. Era quase um êxtase inconsciente. Parecia compreender o bem-estar e a felicidade sentidos pelos velhotes que freqüentavam a casa. Ali eles não sentiriam apenas o pesar da velhice, sua fealdade e miséria, mas estariam se sentindo repletos de dádiva da vida jovem. Para um homem no extremo limite da sua velhice, não haveria um momento em que pudesse se esquecer por completo de si mesmo, a não ser quando envolvido por inteiro pelo corpo da jovem mulher. No entanto, estariam os velhotes pensando que compraram sem pecado as garotas adormecidas como oferenda para satisfazê-los? Ou, então, que por causa do sentimento secreto de pecado teriam um prazer ainda maior? Completamente fora de si, o velho Eguchi esquecera que a garota era a oferenda ao sacrifício, e procurou com o pé as pontas dos pés dela. Somente ali ele ainda não havia tocado. Os dedos eram longos e moviam-se gracio-sos. As articulações, de modo semelhante às dos dedos das mãos, ora se dobravam ora se desdobravam, o que já bastava para exer-cer em Eguchi a forte sedução de mulher misteriosa. Mesmo durante o sono, ela era capaz de trocar palavras de carinho com ele por meio dos pés. Entretanto, o velho contentou-se, interpretando os movimentos dos dedos dela como os de uma música hesitante e inocente, embora sensual. E continuou por algum tempo a acompanhá-la.

Parecia que a garota estava sonhando, mas teria o sonho acabado? Talvez tenha adquirido o hábito de falar e reclamar enquanto dormia em protesto aos toques insistentes dos velhotes. Eguchi pensou nessa possibilidade. Talvez fosse apenas isso. Mesmo sem falar nada e adormecida, a garota era plenamente sensual e apta a manter um diálogo com o velho apenas por meio do seu corpo. Porém, mesmo que fossem palavras desconexas em sonho, ele queria estabelecer um diálogo com ela em viva voz. Era provável que por não estar acostumado ainda com os segredos da casa, Eguchi não conseguisse desvencilhar-se dessa esperança. Perguntando a si mesmo, perplexo, o que dizer ou que parte do corpo pressionar para que a garota lhe respondesse, ele disse:

– Não está sonhando mais? Um sonho em que a sua mãe foi embora para algum lugar? – deslizou a mão ao longo da coluna, acariciando cada vértebra. Ela sacudiu os ombros e virou de bruços. Parecia ser a posição preferida dessa garota para dormir. Seu rosto continuava voltado para o lado do velho, com a mão direita abraçando de leve o travesseiro. Ela então pousou o braço esquerdo sobre o rosto dele. No entanto, não falava mais nada. O sopro suave da sua respiração chegava-lhe quente. Mas o braço sobre o rosto de Eguchi se mexia, procurando o equilíbrio. Então, com ambas as mãos, ele colocou-o sobre os seus olhos. As pontas das unhas compridas da garota arranharam de leve o lóbulo da orelha dele. A articulação do pulso dobrava-se sobre a pálpebra direita de Eguchi, de forma que a mesma ficou coberta com a parte mais fina do antebraço. Desejando conservar a posição, o velho apertou a mão da garota sobre seus olhos. O cheiro da pele dela penetrava-lhe os globos oculares e lhe proporcionava novas e fartas fantasias. Era bem nessa época do ano que duas ou três flores de peônia de inverno, banhadas pelo sol tépido como de um dia de primavera, floresciam ao pé do alto muro de pedras do velho templo da região de Yamato, e que sazanka* brancos cobriam amplamente o jardim até a beira do corredor externo do pavilhão Shisendo, onde homenageiam-se os poe-tas. Também, mais tarde, na primavera em Nara, as flores de ashibi* * e as glicínias, além das camélias despetaladas, estariam em pleno florescimento no Templo das Camélias.

* Arbusto nativo do Japão, da família das teáceas, a mesma das camélias. Enquanto estas florescem no início da primavera, os sazanka, o fazem no outono. (N.T.)
* *Arbusto da família da azálea, com flores brancas miúdas em cachos. (N.T.)

belas

Manuel Alegre | Poema

Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua…
Manuel Alegre

Manuel Alegre

Citando Eduardo Pitta in “Da Literatura”

ANTÓNIO COSTA E O FUTURO DO PS

O PS reúne hoje a Comissão Política e, no próximo 10 de Fevereiro, a Comissão Nacional que decidirá a data das directas e do congresso do partido. Tudo aponta para o fim de Março. Gostava de ver António Costa avançar nas directas. O PS precisa de alguém com fibra, e um passado de provas dadas, para surgir como alternativa à direita. Só não percebo a parte dos que defendem que eleições internas em Março constituem óbice às autárquicas de Setembro ou Outubro. Não sou militante do partido, mas a liderança do PS é um assunto demasiado sério para ficar entregue a uma clique. António José Seguro assegurou o período de nojo, mas chegou a altura de começar a construir o futuro.

http://daliteratura.blogspot.pt/2013/01/antonio-costa-e-o-futuro-do-ps.html … (FONTE)

António Costa

António Costa

O Economista Português julga que só um governo de união sagrada estará em condições de proceder às reformas de que Portugal necessita para sobreviver. | Luís Salgado de Matos in “O Economista Português”

O governo beneficia de condições políticas que lhe permitam aplicar uma eventual reforma e cortes na despesa da magnitude acima referida (4 mil milhões de Euros)?  O governador do Banco de Portugal, Dr. Carlos Costa, defendeu acordos sociais para pôr os parceiros sociais de acordo quanto a receitas e despesas estatais – o que é uma excelente ideia, mas o governo terá vontade e força para proceder a essa concertação social? O Economista Português julga que só um governo de união sagrada estará em condições de proceder às reformas de que Portugal necessita para sobreviver.

Do autor deste post (Vítor Coelho da Silva):  

Entregar a liderança do PS ao Dr. António Costa e a liderança do PSD ao Dr. Rui Rio, e ambos, com o acordo dos seus Partidos e do Sr. Presidente da República, formarem um Governo Estratégico de União para sair da crise, talvez seja a solução.  Será pedir muito?

Ler mais aqui:

http://oeconomistaport.wordpress.com/2013/01/29/nova-conferencia-dos-4-bilioes-de-euros/ … (FONTE)

Rui Rio

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António Costa

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