30 de Junho de 1934: “Noite das facas longas” na Alemanha nazi.

30 de Junho de 1934: “Noite das facas longas”, na Alemanha nazi. Adolf Hitler, Goering e Himmler ordenam a morte dos dirigentes da tropa de choque SA.

A partir de 24 de março de 1933, o “Reichstag” (Parlamento alemão) aprova a chamada “lei dos plenos poderes”, dando a Adolph Hitler uma autoridade ditatorial. Estes primeiros anos no poder serão cruciais para o ditador estabelecer a sua autoridade e rodear-se de colaboradores leais. Em todas as províncias são instalados governadores do Reich e são drasticamente limitadas as liberdades democráticas. A nível social, a influência nazi começa igualmente a estender-se; não há, a partir de então, associação, profissão, emprego oficial, jornal ou empresa que não estejam integrados na linha omnipotente do partido. Ocorrem, também, os célebres pogroms contra os judeus.

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Notas Soltas – junho/2021 | Carlos Esperança

Covid-19 – O êxito do plano de vacinação deve muito à competência, dedicação e zelo do almirante Gouveia e Melo cuja capacidade de organização mostrou o que o país tem perdido, nas últimas décadas, por desprezar as competências das suas Forças Armadas.

EUA – A extrema-direita americana, que hoje domina o Partido Republicano, ainda não digeriu a derrota de Trump, e insiste numa lei que dificulte o voto e impeça as minorias, já discriminadas, de se exprimirem nas urnas.

Israel – A insólita aliança de oito partidos para afastar o PM, Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção e de destruir do Estado de direito, foi a única forma de o derrubar, mas é improvável a longevidade da coligação que inclui a esquerda pacifista e a direita ultranacionalista.

China – A repressão às manifestações no 32.º aniversário do massacre de Tiananmen é a face visível da ditadura, que ignora os compromissos assinados para a transição da soberania de Hong Kong e de Macau, respetivamente, com o Reino Unido e Portugal.

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A VELHICE | por António Lobo Antunes

Devo estar a ficar velho: as Paulas Cristinas têm mais de 20 anos, os Brunos Miguéis já vão nos 15, as Kátias e as Sónias deram lugar a Martas, Catarinas, Marianas. A maior parte dos polícias são mais velhos do que eu. Comecei a gostar de sopa de Nabiças. A apetecer-me voltar mais cedo para casa. A observar, no espelho matinal, desabamentos, rugas imprevistas, a boca entre parêntesis cada vez mais fundos. A ver os meus retratos de criança como se fosse um estranho. A deixar de me preocupar com o futebol, eu que sabia de cor os nomes de todos os jogadores do Benfica (…). A desinteressar-me dos gelados do Santini que o Dinis Machado, de cigarrilha nas gengivas achava peitorais.

Se calhar, daqui a pouco, uso um sapato num pé e uma pantufa de xadrez no outro e vou, de bengala, contar os pombos do Príncipe Real que circulam, de mãos atrás das costas como os chefes de repartição, em torno do cedro. Ou jogar sueca, com colegas de boina, na Alameda Afonso Henriques de manilha suspensa no ar, numa atitude de Estátua de Liberdade. Quando der por mim, encontro o meu sorriso na mesinha de cabeceira, a troçar-me, num copo de água, com 32 dentes de plástico. Reconhecerei o meu lugar à mesa pelos frasquinhos dos medicamentos sobre a toalha, que me farão lembrar as bandeiras que os exploradores antigos, vestidos de urso como os automobilistas dos tempos heróicos, cravavam nos gelos polares.

Devo estar a ficar velho. E no entanto, sem que me dê conta, ainda me acontece apalpar a algibeira à procura da fisga. Ainda gostava de ter um canivete de madrepérola com sete lâminas, saca-rolhas, tesoura, abre-latas e chave de parafusos. Ainda queria que o meu pai me comprasse na feira de Nelas, um espelhinho com a fotografia da Yvonne de Carlo, em fato de banho, do outro lado. Ainda tenho vontade de escrever o meu nome depois de embaciar o vidro com o hálito.

Pensando bem (e digo isto ao espelho), não sou um senhor de idade que conservou o coração de menino. Sou um menino cujo envelope se gastou.

António Lobo Antunes

A DÉCADA DECISIVA | José Ribeiro e Castro

Opinião

Quanto a fundos europeus, a questão, 35 anos após a adesão, é esta: 120 mil milhões de euros depois, como está Portugal? Comparando com os outros, estamos melhor? Ou pior?

Há 22 anos discutia-se o QCA III, o quarto pacote de fundos de que beneficiámos desde 1986. Cada pacote era grande festim: ocupava todo o palco, gerava manchetes qual montra de guloseimas. A imprensa titulava quantos milhões Portugal recebia por dia. O banquete soava como a razão real da adesão. Foi o que me levou a concluir que Portugal cultivava uma visão mamífera da Europa. Coisa poucochinha.

O governo advertia que seria o último. Nunca percebi a abordagem: pelas regras fixadas, Portugal faria jus aos fundos enquanto precisasse. E assim foi. O QCA III seria o último, mas mudou de nome: entrou-se na geração dos QREN, de que estamos no terceiro. O que pensava – e mantenho – é que devíamos libertar-nos da dependência, assumirmos o propósito de passarmos a contribuintes líquidos, isto é, ser parte dos países mais ricos da UE. Sempre pensei assim.

Como é que isso se faz? Crescimento económico! Nós temos de crescer sempre mais que a média europeia, para avançarmos, ano após ano, para os lugares da frente.

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Eltânia André e a literatura vista pelo olhar feminino | por Adelto Gonçalves (*)

I
            Quem chamou a atenção deste resenhista para o modo diferente como as mulheres escritoras olham o mundo foi o escritor catalão Eduardo Mendoza (1943), em entrevista que concedeu, em janeiro de 1990, em Barcelona. E que seria publicada à época na revista Linden Lane Magazine, de Princeton, Nova Jersey/EUA, no Jornal de Letras, de Lisboa, em O Estado de S. Paulo, no Suplemento Literário Minas Gerais e em A Tribuna, de Santos, e ainda pode ser lida no site http://www.filologia.org.br.
            Eis o que disse Mendoza: “Interesso-me, entre os contemporâneos, pelas mulheres. Elas interessam-me porque escrevem de uma maneira distinta. É difícil que um homem, nestes momentos, faça uma imagem que não seja conhecida. Já as mulheres têm imagens próprias, completamente novas. São uma janela para outro mundo, outra sensibilidade e outra forma de ver as coisas”.
            Pois bem, o novo livro de Eltânia André (1966), Terra dividida (São Paulo, Laranja Original Editora, 2020), é uma confirmação das palavras de Mendoza. E uma prova de como o olhar feminino na literatura é diferente daquele feito por homens, como sabe quem tem intimidade com as obras de Clarice Lispector (1920-1977), Cecília Meirelles (1901-1964), Nélida Piñon (1937), Cora Coralina (1889-1985), Carolina de Jesus (1914-1977), Lygia Fagundes Telles (1923) e Hilda Hilst (1930-2004), só para ficarmos com algumas autoras brasileiras. É um outro olhar.

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RELAXAMENTO | jornal expresso “curto”

João Pedro Barros
Coordenador Online
O dia mais longo, a variante mais perigosa, a vacinação que acelera
21 JUNHO 2021

Bom dia,

Vários epidemiologistas já tinham avançado com a teoria, mas ontem passou a ser oficial: a variante Delta (também conhecida como indiana) já é dominante em Lisboa e Vale do Tejo, onde tem uma prevalência superior a 60%. Como qualquer variante mais transmissível, dizem os especialistas, será uma questão de tempo até alastrar a todo o país e engolir a variante Alfa (dita também inglesa ou de Kent).

Os dados são do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e ainda preliminares, mas tornam claro que há um problema a resolver, para já centrado na capital – no Norte a prevalência da variante ainda é inferior a 15%. Esta estirpe é até 60% mais transmissível do que a inglesa, que por sua vez já era mais transmissível do que o SARS-CoV-2 original. Pode encontrar aqui respostas às principais dúvidas sobre a variante Delta.

Esta será apenas parte da explicação para a região de Lisboa apresentar um crescimento exponencial de infeções: há oito dias consecutivos que representa, mais coisa menos coisa, dois terços dos novos casos em Portugal. Será difícil saber exatamente qual o grau de importância de outros fatores, mas presumo que eles possam ser resumidos numa palavra: relaxamento.

É certo que temos de ler agora os números com outros olhos: em janeiro o país teve uma média de 179,9 mortes diárias devido à covid-19, nos últimos 30 dias a média foi de 1,6. Porém, já há especialistas sem medo de usar o termo “quarta vaga” e que avisam que há outro fator crítico a preservar: a operacionalidade do Serviço Nacional de Saúde, que pode estar novamente em causa, ainda para mais num momento em que há um esforço para recuperar os atos médicos em atraso após dois confinamentos. A lotação covid-19 já aperta na região de Lisboa.

Se há um fator de consenso entre os epidemiologistas é que há sérios riscos quando se deixa a situação pandémica fugir de controlo – e há países que já são casos de estudo, como o Chile, em que se registaram fortes surtos mesmo com elevadas taxas de vacinação. Face a isto esperam-se respostas políticas, com a população já claramente cansada de confinamentos e seus sucedâneos – como bem ajudou Marcelo Rebelo de Sousa a frisar.

Há algumas medidas possíveis, sendo a mais benigna acelerar ainda mais uma vacinação que já vai de prego a fundo: este sábado foi um dos dias com mais inoculações da campanha (138.477), cumprindo-se a promessa do vice-almirante Gouveia e Melo de ultrapassar as 100.000 doses por dia em junho. Se olharmos para a média móvel a sete dias verificamos uma curva bastante ascendente, que se quer agora prolongar: no seu espaço de comentário na SIC, Marques Mendes revelou que vai abrir um novo centro de vacinação no Estádio Universitário de Lisboa, assim como confirmou que o processo será alargado à faixa etária dos 20 aos 29 anos a meio de julho.

Hoje é precisamente o dia mais longo do ano, que marca o início do verão no hemisfério norte: o solstício de verão ocorreu há poucas horas, precisamente às 3h32, e como era bom que pudéssemos ter um dia soalheiro em que, como por magia, pelo menos dez milhões e tal de pessoas ficassem protegidas num ápice.

Isto não vai acontecer e até o verão, fresco e chuvoso, parece deprimido. A resposta da vacinação não se afigura suficiente para resolver o problema, pelo que se exigem pelo menos duas medidas quase tão velhas como a pandemia em si: testagem em massa e rastreamento rápido e rigoroso. A testagem, após um pico em abril, nunca disparou como chegou a ser prometido, revela o último relatório de monitorização das linhas vermelhas da DGS; o mesmo documento aponta ainda para uma diminuição da eficácia no isolamento e rastreamento. O “Público” noticia esta manhã que as Forças Armadas têm 252 militares prontos para apoiar o combate à pandemia, especialmente em Lisboa e Vale do Tejo e em grande parte para ajudar na realização de inquéritos epidemiológicos. No terreno já estão 444 militares.

Esperam-se novidades do próximo Conselho de Ministros, esta quinta-feira, e, de acordo com Marques Mendes, uma delas será o alargamento da utilização do certificado digital covid para o acesso a eventos desportivos, culturais e casamentos. Por outro lado, terminou há pouco a proibição de circulação de fora para dentro da Área Metropolitana de Lisboa, que esteve em vigor durante o fim de semana e que foi criticada em vários quadrantes. Irá manter-se esta semana?

O número de novas infeções desceu ontem ligeiramente abaixo de 1000, mas o pior foi ver o número de internados voltar a passar a fasquia dos 400, algo que já não acontecia há dois meses. Como costuma dizer António Costa: “esperemos o melhor e preparemo-nos para o pior”. Ou como também disse o primeiro-ministro, estamos todos de acordo com Marcelo e “ninguém deseja que não haja desconfinamento”. Que tudo isto não passe de uma nuvem fugaz, antes do dia inteiro e limpo que todos queremos ver.

Natalia Osipova e Andrey Bolotin

Noite de Gala do 26º Festival de Dança de Joinville, apresentação de solistas do Teatro Bolshoi de Moscou com a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Em duas horas de espetáculo os solistas russos levaram o público à loucura, com seus saltos e giros.

Solistas: Natalia Osipova e Andrey Bolotin | Música: Cirque Du Soleil – Jeux D’Eau | Editado por: Eduardo Wodzinsky

DE COMO SARAMAGO NÃO PRECISOU DE UM PSEUDÓNIMO | in Vida Breve

“Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago não era um apelido do lado paterno, mas sim a alcunha por que a família era conhecida na aldeia. Que indo o meu pai a declarar no Registo Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. E que, desta maneira, finalmente, graças a uma intervenção por todas as mostras divina, refiro-me, claro está, a Baco, deus do vinho e daqueles que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro havendo, assinar os meus livros. Sorte, grande sorte minha, foi não ter nascido em qualquer das famílias da Azinhaga que, naquele tempo e por muitos anos mais, tiveram de arrastar as obscenas alcunhas de Pichatada, Curroto e Caralhana.

Entrei na vida marcado com este apelido de Saramago sem que a família o suspeitasse, e foi só aos sete anos, quando, para me matricular na instrução primária, foi necessário apresentar certidão de nascimento, que a verdade saiu nua do poço burocrático, com grande indignação de meu pai, a quem, desde que se tinha mudado para Lisboa, a alcunha desgostava. Mas o pior de tudo foi quando, chamando-se ele unicamente José de Sousa, como ver se podia nos seus papéis, a Lei, severa, desconfiada, quis saber por que bulas tinha ele então um filho cujo nome completo era José de Sousa Saramago. Assim intimado, e para que tudo ficasse no próprio, no são e no honesto, meu pai não teve outro remédio que proceder a uma nova inscrição do seu nome, passando a chamar-se, ele também, José de Sousa Saramago. Suponho que deverá ter sido este o único caso, na história da humanidade, em que foi o filho a dar o nome ao pai. Não nos serviu de muito, nem a nós nem a ela, porque meu pai, firme nas suas antipatias, sempre quis e conseguiu que o tratassem unicamente por Sousa.”

JOSÉ (de Sousa) SARAMAGO (Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922

— Tías, Lanzarote, 18 de Junho de 2010), escritor português, Prémio Nobel da Literatura em 1998, in “As Pequenas Memórias”, Editorial Caminho, 2006, p. 48-49.

Foto: O menino José

L’Éthique de Spinoza (1/4) : De Dieu | L’Éthique de Spinoza (2/4) : De l’esprit | L’Éthique de Spinoza (3/4) : Affects et servitude | L’Éthique de Spinoza (4/4) : De la liberté humaine

Les Nouveaux chemins de la connaissance Émission diffusée sur France Culture le 11.04.2016. Par Géraldine Mosna-Savoye et Clément Baudet.

Intervenant : – Ariel Suhamy : philosophe, maître de conférences au Collège de France, éditeur du site “La Vie des idées”.

“Le vulgaire entend par puissance de Dieu la libre volonté de Dieu et la juridiction sur toutes les réalités qui existent”, sur le modèle de la liberté d’un roi. C’est un autre concept de Dieu que Spinoza propose dès les premières lignes de l’ ‘Éthique’. Pour nous en parler aujourd’hui, Ariel Suhamy.

É chegada a hora de mostrardes ao mundo o quanto sabeis | Fernando Gomes

Pronto, a criança apareceu sã e salva, já podeis parar de ostentar tantos conhecimentos de pedopsicologia, puericultura e educação parento-filial.

É chegada a hora de mostrardes ao mundo o quanto sabeis de inconstitucionalidades, estados de emergência inexistentes, quase-cercas que parecem sanitárias e presidentes que não recuam.

Mas, atenção, tendes apenas até às 17 horas de amanhã, o exacto momento para começardes a fazer alarde de um perfeito domínio das melhores técnicas e tácticas futebolísticas quando se joga com a selecção que tem fama de ganhar no fim.

Só então podeis voltar à vida regular de epidemiologistas e virologistas dos últimos meses. Bem sei que são actividades que já vos enfadonham, mas talvez a sorte traga em breve uma sentença judicial controversa que vos obrigue a expor os vossos brilhantes conhecimentos penais.

Retirado do Facebook | Mural de Fernando Gomes

Como se constrói um inquestionável | Carlos Matos Gomes

(ou como os manhosos se oferecem para pastor, ou salvador sem parecer invejosos)

A propósito da nomeação do presidente da comissão para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, ponto assente: Se lá chegar, serei o presidente da minha comemoração! Não procuro lugar.

As campanhas a propósito da nomeação da nomeação do presidente das comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril são idênticas a tantas outras a propósito da nomeação de tantos outros quadros, homens e mulheres para funções de relevo. Nunca o nomeado é o adequado. Nunca é inquestionável!

Este ruído tem como autores os que em várias partes do mundo e ao longo dos tempos, frequentemente em circunstâncias de ataque às liberdades e de redistribuição de riqueza convocam multidões para bater panelas contra os regimes de direitos fundamentais, mesmo com defeitos. Estas operações têm como finalidade sub-reptícia corroer o regime democrático com propostas de luta pela utopia da Sociedade Perfeita, do homem ou da mulher sem mácula e argumentos de fácil aquisição: transparência, privilégios, corrupção, compadrio, entre outros, mas sempre os mesmos.

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Humor | O barman é um robot

Um sujeito entra num bar novo, hi-tech, e pede uma bebida. O barman é um robot que pergunta:

– Qual o seu QI?

O homem responde:

– 150.

Então o robot serve um cocktail perfeito e inicia uma conversa sobre aquecimento global, espiritualidade, física quântica, interdependência ambiental, teoria das cordas, nanotecnologia e por aí.

O tipo ficou impressionado, e resolveu testar o robot. Saiu, deu uma volta e retornou ao balcão. Novamente o robot pergunta:

– Qual o seu QI?

O homem responde:

– Deve ser uns 100.

Imediatamente o robot serve-lhe um whisky e começa a falar, agora

sobre futebol, Fórmula 1, super-modelos, comidas favoritas, armas,

corpo da mulher e outros assuntos semelhantes.

O sujeito ficou abismado. Sai do bar, pára, pensa e resolve voltar e fazer mais um teste.

Novamente o robot lhe pergunta:

– Qual o seu QI?

O homem disfarça e responde:

– Uns 20, eu acho!

Então o robot serve-lhe uma pinga de tinto, inclina-se no balcão, mete um palito na boca e

diz, bem pausadamente:

– Então e o nosso Benfica?

Ana Catarina Mendes | Flashback | por Paulo Querido

Hoje foi um domingo tranquilo, calmo, pacífico. As polémicas que por aí andam são indignas, coisa de tablóides e folhas panfletárias, e estamos no Mês da Grande Alienação. De modos que escrevo sobre o lançamento de Ana Catarina Mendes no Flashback (ou lá como aquilo se chama atualmente).

Seja qual for o nome que tem atualmente — não vou gastar neurónios a atualizar o nome cada vez que se lembram de o mudar, o que sucede com inusitada frequência e mau gosto —, o Flashback está numa boa fase. A entrada de Ana Catarina Mendes, a primeira mulher no programa em cerca de 40 anos, trouxe uma novidade refrescante: levou José Pacheco Pereira e António Lobo Xavier a um mais elevado nível de aprumo discursivo.

Por outro lado, JPP tem vindo a melhorar num aspeto que considero fundamental: abandonou o tudologismo em que caiu durante anos. E parece que prepara melhor a generalidade dos temas (nem todos, mas a grande maioria). E ALB tem feito maravilhas para se distanciar do CDS e da IL, ao mesmo tempo que mantém bem fechada a fronteira com o selvagem da extrema-direita, ganhando assertividade no processo.

Mas esta menção tem outro fundamento. Repara nos dois fotogramas seguintes, que são do programa de há duas semanas:

No primeiro, Pacheco Pereira aplaude Ana Catarina Mendes. Discretamente, mas notoriamente. No segundo, Lobo Xavier tira o chapéu a Ana Catarina Mendes e não é um mero salamaleque de queque. Há um intervalo de menos de um minuto entre os dois fotogramas.

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‘Bocage, o perfil perdido’ ganha edição brasileira | por Adelto Gonçalves

SÃO PAULO – O poeta português Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805), ícone da poesia em Língua Portuguesa, não nasceu na rua de São Domingos, atual rua de Edmond Bartissol, em Setúbal, como mostra uma placa ali instalada há mais de um século, mas ao Largo de Santa Maria com a rua de Antônio Joaquim Granjo, antiga rua das Canas Verdes, na mesma cidade. Esse e outros pormenores desconhecidos do poeta, como o tempo real de sua prisão e detalhes de sua obra e de seus últimos dias, constam do livro Bocage, o perfil perdido, do pesquisador brasileiro Adelto Gonçalves, que acaba de ser publicad o pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp), 18 anos depois da edição portuguesa que saiu pela Editorial Caminho, de Lisboa.
            Como a editora observa na contracapa, Bocage, o perfil perdido é biografia exaustiva e rigorosamente documentada. Já em si controversa, a história de vida do poeta é contextualizada pelos tempos tormentosos nos quais viveu, em que ocorreram a queda do marquês de Pombal, a ação do intendente de Polícia Pina Manique e a campanha do Rossilhão, entre outros fatos importantes. A biografia recua ao avô do poeta, apresenta sua árvore genealógica desde os bisavôs, abrangendo toda a sua vida, a passagem pelo Rio de Janeiro, Ilha de Moçambique e Índia, e sua participação e expulsão da Nova Arcádia.

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Anda a sentir falhas acentuadas de memória? António Damásio explica porquê.

O neurobiologista esteve na Fundação José Neves para explicar a importância dos sentimentos na nossa vida e na saúde mental. E dizer-nos como a consciência é o princípio para a regulação e equilíbrio do nosso corpo

Se depois deste confinamento pandémico começou a ter falta de memória, não é de admirar. Este pode ser um quadro generalizado ao ser humano depois da crise pandémica. Esquecemo-nos dos nomes (até dos colegas), dos sítios, do que deveríamos fazer… A que se deve? Ao “retiro do treino individual”, na opinião do neurobiologista António Damásio, que esteve à conversa com José Neves no evento anual da Fundação.

“A falta de treino acarreta falta de memória”, porque o nosso cérebro “precisa de uma reativação constante para que se mantenha no nosso mundo”, explica o neurobiologista atualmente a viver em Los Angeles, Estados Unidos. “Há coisas que as pessoas só agora se vão aperceber”, avisa, alegando ainda que “há toda uma série de fenómenos que terão de ser estudados” decorrentes desta disrupção causada no mundo pela pandemia. “E que podem abrir novos caminhos no campo da Ciência”, projetou o cientista, mostrando-se esperançoso e otimista.

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Cathédrale du Sacré-Cœur d’Alger

La cathédrale du Sacré-Cœur d’Alger, construite à partir de 1956, est devenue la nouvelle cathédrale d’Alger après que la cathédrale Saint-Philippe d’Alger eut été réhabilitée à sa vocation d’origine comme mosquée après l’indépendance puisqu’une mosquée se fut effondrée sur une petite partie de la parcelle sur laquelle la cathédrale avait été édifiée. Elle eLa cathédrale du Sacré-Cœur d’Alger, construite à partir de 1956, est devenue la nouvelle cathédrale d’Alger après que la cathédrale Saint-Philippe d’Alger eut été réhabilitée à sa vocation d’origine comme mosquée après l’indépendance puisqu’une mosquée se fut effondrée sur une petite partie de la parcelle sur laquelle la cathédrale avait été édifiée. Elle est l’église cathédrale de l’archidiocèse d’Alger.

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Caso Angoche, mistério por decifrar | Carlos Vale Ferraz | por Eduardo Pitta

Cinquenta anos passados sobre o Caso Angoche, mistério por decifrar, Carlos Vale Ferraz (n. 1946) deu à estampa «Angoche — Os Fantasmas do Império». Vale Ferraz, pseudónimo literário do coronel Carlos Matos Gomes, na dupla qualidade de oficial do Exército e de investigador de História contemporânea, sabe do que fala.

Oficialmente, os factos são estes: no dia 24 de Abril de 1971, entre as cidades de Quelimane e da Beira, na costa de Moçambique, foi avistado à deriva, com fogo na ponte de comando e na casa das máquinas, o navio de cabotagem Angoche, que transportava material de guerra, treze tripulantes negros, dez tripulantes brancos, um passageiro e um cão. O alerta foi dado no dia 27 pelo petroleiro Esso Port Dickson, com pavilhão do Panamá, continuando por esclarecer o hiato de três dias. Nunca foram encontrados corpos, desconhecendo-se o destino de quem ia a bordo. O Angoche foi rebocado para a baía de Lourenço Marques, onde chegou a 6 de Maio. Mais vírgula menos vírgula, dependendo do jornal ou das fontes “autorizadas”, é aquilo a que a opinião pública tem direito desde 1971.

Há especulações e perguntas para todos os gostos. O Angoche foi atacado? Por quem? Foi vítima de golpe da ARA ou da FRELIMO? Submarino russo ou chinês? Que papel tiveram os serviços secretos sul-africanos? O que aconteceu aos 24 homens? Foram para a Tanzânia? Por que razão o radiotelegrafista se “esqueceu” de embarcar, ficando em Nacala? Que papel tinha na história a mulher de alterne “suicidada” na Beira?

Sobre o assunto existe bibliografia documental, mas «Angoche — Os Fantasmas do Império» é um romance. A fórmula permite a Carlos Vale Ferraz inserir a intriga ficcional nos interstícios dos factos. E faz isso muito bem.

«Angoche — Os Fantasmas do Império» é dedicado «a quem morreu por saber de mais sobre o caso. Mortos por uma causa que ninguém teve a coragem de assumir.»

Para desenvolver o plot, o narrador apoia-se nos conhecimentos do “tio Dionísio”, oficial da Marinha portuguesa com ligações aos serviços secretos sul-africanos. Narrativa aliciante, faz o retrato dos últimos anos da colonização, vistos a partir de Moçambique. Por exemplo, é muito curiosa a caricatura a traço grosso de alguma burguesia de Lourenço Marques (Eduardo de Arantes e Oliveira, governador-geral de Moçambique à data do caso Angoche, surge mais de uma vez), os atritos entre a PIDE e os militares, etc. A sombra da operação Alcora — aliança militar secreta entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia — perpassa no relato. Em suma, 170 páginas de boa ficção sobre factos obscuros da guerra colonial.

Lembrar que da obra ficcional de Carlos Vale Ferraz faz parte «Nó Cego» (1982, reeditado em 2018), título incontornável da bibliografia sobre a guerra em Moçambique.

Retirado do facebook | Mural de Eduardo Pitta

CAMÕES TEM DE SER LIDO – NÃO INVENTADO | Helder Macedo

Poeta, ensaísta, romancista, Helder Macedo é professor catedrático emérito da Universidade de Londres King’s College, onde foi titular da Cátedra Camões até 2004. Iam já longe os tempos do Café Gelo, grupo de que foi um dos poetas fundadores. Nasceu – na África do Sul, em 1935 – não para secretariar a musa pomposa, pedante. O autor de “Tão Longo Amor Tão Curta a Vida” (2013) passa ao largo do convencionalismo, do estereótipo e das “mitificações rectrospectivas”. Tem provado que o discurso académico pode ser claro sem perder a densidade nem tropeçar no comum lugar tradicional.

Com Camões, que tem sabido desalojar do pedestal mítico, tem mantido um trato próximo, íntimo. Se no campo do ensaio essa presença é manifesta, quase avassaladora, já na sua ficção o vate surge de modo mais discreto, ora em títulos e epígrafes onde marca o seu lugar tutelar, ora em fugazes aparições textuais sempre significativas.

As contas nem sempre são redondas como seixos e há as que nem se deixam fazer: incontáveis anos de leituras continuadas; mais de três dezenas de estudos sobre Camões, de fôlego variável e a mesma fluência, publicados em várias línguas; 23 anos a dirigir a Cátedra Camões no King’s College; mais de 50 anos de vida literária; viagens infindas à roda da literatura portuguesa, com paragens meditadas em D. Dinis, Camões, Bernardim Ribeiro, Camilo, Cesário, Pessoa. Para Helder Macedo todos os dias são dias de Camões. Sabe, no entanto, que o 10 de junho é o dia mais propenso à canibalização de Camões pelos discursos.

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O feriado do 10 de junho faz hoje 110 anos. Esta é a sua história | Maria Isabel João, historiadora | in Jornal Expresso 2017

As celebrações do 10 de Junho sobreviveram a três regimes políticos. Quase que poderemos dizer quatro, já que esta data — muito acarinhada pelos republicanos — foi evocada pela primeira vez em 1880, no reinado de D.Luís. Se quiser saber a história até aos nossos dias leia a entrevista com a investigadora Maria Isabel João

Um ano antes do golpe que instituiu a ditadura militar em 1926, a I República declarou que a “Festa de Portugal se celebrará no dia 10 de Junho de cada ano”. O Estado Novo manteve a data como Festa de Portugal, elevando-a à condição de feriado nacional em 1929.

O título de Dia de Portugal só surgiria décadas depois. E, apesar de ninguém saber se o poeta Luís Vaz de Camões morreu mesmo neste dia, a democracia continuou a celebrar o 10 de Junho como data da identidade nacional. Uma originalidade portuguesa que é praticamente “caso único” no mundo, segundo a professora Maria Isabel João, autora do livro “Memória e Império — Comemorações em Portugal (1880–1960)”. A historiadora lembra que a “maioria esmagadora dos países do mundo escolhe uma data que se relaciona com a fundação do Estado ou do regime político vigente”.

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10 DE JUNHO – DIA DE CAMÕES | Deixem ir o amador à coisa amada | Manuel S. Fonseca

Este texto foi uma encomenda. Escrevi-o com muito gosto e com um descaramento que se baseia numa ideia simples: os poetas, os pintores, os romancistas devem ser falados, interpretados e comentados pelos seus leitores, mesmo por aqueles que, como eu, só como amadores os comentem. Recupero-o neste 10 de Junho de 2021.

Os amadores, na sua exaltada e infantil incompetência, nunca dispensarão os especialistas. Os amadores são como as criancinhas que um tolerante Cristo deixa vir a si. Mas mal do especialista que não deixe, magnânimo, sentarem-se os amadores aos pés da coisa amada.

saiba o mundo de Amor o desconcerto,

que já coa Razão se fez amigo,

só por não deixar culpa sem castigo.

O Século de Camões | Manuel S. Fonseca

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Dia 10 de Junho de 2021 | Dia de Portugal | Le verdict que le juge a rendu au voleur

Un garçon de 15 ans a été surpris en train de voler dans un magasin en Amérique.

Pour tenter de s’échapper, le garçon a également détruit une étagère.

Après que le juge ait entendu l’affaire, il a demandé au garçon :

“- Tu as vraiment volé quelque chose ? Tu as volé du pain et du fromage et détruit l’étagère ?”

Le garçon, honteux, la tête baissée, répondit :

“- Oui “.

Juge : « Pourquoi tu as volé ? ′

Enfant : « c’était nécessaire ».

Juge : « Tu ne pouvait pas les acheter au lieu de les voler ?

Garçon : “Je n’avais pas d’argent”

Juge : “Tu aurais pu demander de l’argent à tes parents”

Garçon : ′ ′ Je n’ai que ma mère qui est alitée et malade et qui n’a pas de travail. Pour elle j’ai volé du pain et du fromage ′ ′

Juge : « Tu ne fais rien, tu n’as pas de travail ? ′

Enfant : ′ ′ j’ai travaillé dans un lavage d’auto. J’ai pris un jour de congé pour aider ma mère et c’est pourquoi j’ai été licencié. ′

Juge : « Tu n’as pas cherché autre chose pour travailler ailleurs ?

Après la fin de la conversation avec le garçon, le juge a annoncé le verdict :

Voler, surtout voler du pain, est un crime très honteux. Et nous voilà tous responsables de ce crime . Toutes les personnes présentes dans cette salle d’audience aujourd’hui, y compris moi, sommes responsables de ce crime . De cette façon, toutes les personnes présentes seront condamnées à une amende de 10 dollars, personne ne sortira d’ici sans qu’il ne donne 10 dollars

Le juge a sorti un billet de 10 $ de sa poche, a pris un stylo et a commencé à écrire :

De plus, j’ai imposé une amende de 10000 dollars au propriétaire du magasin pour avoir remis l’enfant affamé à la police. Si l’amende n’est pas payée dans l’heure, le magasin restera fermé.”

Toutes les personnes présentes se sont excusées auprès du garçon et lui ont remis tous 10$ . Le juge a quitté la salle d’audience en cachant ses larmes.

Après avoir entendu le verdict, les personnes présentes dans la salle d’audience avaient les larmes aux yeux.

Je me demande si notre société, notre système, nos tribunaux auraient pu rendre un tel verdict ?

Le juge a ajouté : « Si une personne est surprise en train de voler du pain, tous les membres de cette communauté, de la société et du pays devraient avoir honte !

Retirado do facebook | Mural de Chekini Kamel

Moderados, uma espécie em extinção? Paulo Sande

1 Os partidos políticos em Portugal vivem sob o signo da inquietude, com dúvidas existenciais sobre o que fazer para assegurar aquilo para que existem, isto é, para conquistar o poder e, depois, mantê-lo. A todo o custo. Custe o que custar, mesmo que isso implique coligarem-se com partidos cuja ideologia execram ou renegarem os eleitores que os elegeram, para satisfazer os mecenas ou sublimar a mais recente, embora efémera, agenda da moda. Temem, se falharem, pela razão de ser da sua existência enquanto partidos políticos. A qual é, como escrevi, conquistar o poder e mantê-lo, a todo o custo.

2 Só que não é. Não que o não seja vezes demais, mas porque não deve ser assim. Não pode ser. Os partidos e os políticos que abandonam os seus eleitores – prometem, sabendo que não cumprirão, traem, escolhendo o poder em detrimento do bem público – não cabem na democracia do século XXI. Que não pode ser igual à do século XX.

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Guardador de Rebanhos | Poesia Portuguesa II

Mário Viegas ironiza sobre a “popularidade” de Fernando Pessoa, escritor e poeta da primeira metade do século XX; Mário Viegas conversa com “Fernando Pessoa” (personagem interpretada por Mário Viegas) sobre a sua personalidade e obra; 41m50: Mário Viegas declama 10 poemas do livro “Guardador de Rebanhos ” de Alberto Caeiro, acompanhado por António Marques à flauta e a interpretação de Rui Miguel, ator; reconstituição do quadro “Retrato de Fernando Pessoa” de José Almada Negreiros.

A Base de Toda Metafísica | Walt Whitman

E agora, senhores,
Uma palavra eu lhes dou para permanecer em suas memórias e mentes,
Como base, e fim também, de toda metafísica.
(Também, para os alunos, o velho professor,
No final de seu curso apinhado.)

Tendo estudado o novo e o antigo, os sistemas grego e alemão,
Kant tendo estudado e exposto – Fichte e Schelling e Hegel,
Exposto o saber de Platão – e Sócrates, maior que Platão,
E maior que Sócrates buscado e exposto – Cristo divino tenho muito estudado,
Eu vejo reminiscentes hoje aqueles sistemas grego e alemão,
Vejo as filosofias todas – igrejas cristãs e princípios, vejo,
Sob Sócrates claramente vejo – e sob Cristo o divino eu vejo,
O caro amor do homem pelo seu camarada – a atração de amigo por amigo,
Do marido bem-casado e a esposa mãe de crianças e os pais,
De cidade por cidade, e terra por terra.

Golfinhos | Enzo Maiorca, mergulhador italiano

O famoso mergulhador italiano, Enzo Maiorca,  nadava nas águas quentes do mar de Siracusa e conversava com sua filha Rossana que ficara no barco.

Pronto para submergir, sentiu algo bater ligeiramente nas costas. Virou-se e viu um golfinho. Percebeu então que ele não queria brincar, mas expressar alguma coisa.

O animal mergulhou e Enzo o seguiu.

A cerca de 12 metros de profundidade, preso em uma rede abandonada, havia outro golfinho.

Maiorca rapidamente pediu à filha que apanhasse suas facas de mergulho. Em poucos minutos os dois conseguiram libertar o golfinho que, no limite das forças conseguiu emergir, emitindo um “grito quase humano” (assim descreveu Maiorca).

Um golfinho pode resistir debaixo d’água até 10 minutos, depois afoga-se.

O golfinho liberto, ainda atordoado, foi controlado por Enzo, Rossana e o outro golfinho. Depois veio a surpresa: Era uma delfina, que logo deu à luz um filhote.

O macho circulou-os e, parando à frente de Enzo, lhe tocou na bochecha (como se fosse um beijo), num gesto de gratidão… e se afastaram.

Enzo Maiorca terminou sua intervenção dizendo: “até que o homem aprenda a respeitar e a dialogar com o mundo animal, nunca poderá conhecer o seu verdadeiro papel nesta Terra.”

Retirado do Facebook | Mural de José Silva Pinto

Quando os senhores são genocidas | Francisco Louçã | in Jornal Expresso

O que aqui havia de novo não era a destruição, a escravatura ou sequer a desumanização das vítimas, era simplesmente a aceleração da ganância.

Há um triângulo entre o filme Apocalypse Now (1979), de Francis Coppola, o livro em que se inspira, O Coração das Trevas (1902), de Joseph Conrad, e outro que volta ao mesmo cenário de barbárie, O Sonho do Celta (2010), de Vargas Llosa, que conta a história da história. Coppola filmou a expedição que sobe o rio vietnamita para matar Kurz, um oficial escondido na selva; Conrad, a partir da sua própria experiência como capitão de navio de transporte de marfim no Rio Congo, tinha contado a busca por Kurz, um dos responsáveis pela empresa exploradora e que se perdera algures a montante. Ao entrar “na boca do grande rio”, o capitão Charles Marlow abandona a comodidade das aparências, em que se vive sem remorso a riqueza colonial. “Antes do Congo eu era só um animal”, diz o escritor, que depois descobriu a imensidão do território do horror (o seu livro foi décadas depois criticado por despersonalizar a população africana, a vítima que fica silenciosa). Não há guerra, não há deus, não há humanidade nessa selva, só há crueldade sem limite. A industrialização da morte foi um êxito da modernidade, quando os cavalheiros enriqueceram sobre pilhas de escravos.

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Rique Ferrári e a palavra metamorfoseada em tempo | Adelto Gonçalves

Poucos poetas brasileiros talvez tenham sido tão incensados já na segunda idade quanto o gaúcho Rique Ferrári (1985), elogiado que foi por nomes representativos da literatura contemporânea, como Fabrício Carpinejar, Ronaldo Cagiano, Waldemar José Solha, Martha Medeiros e Alexandra Vieira de Almeida, que o apontam como um novo ícone da poesia brasileira. Isso tudo é confirmado pelos versos que constam de Roda-gigante (Guaratinguetá-SP; Editora Penalux, 2020), seu quinto livro, obra que se mostra renovadora na linguagem.             

            Para o autor, seus poemas procuram apresentar “uma normalização das pequenas mortes de nossas vidas”, desmistificando a ideia de que há apenas um ciclo: “em que se nasce, cresce, reproduz e morre; como nos ensinaram quando crianças”. É um tipo de frases filosóficas que lembra a literatura de Clarice Lispector (1920-1977) ou mesmo a de José Saramago (1922-2010). Segundo Ferrári, seu livro “não tenta nem quer impressionar. Quer apenas ser o que é, trazendo seu próprio leque de percepções, despreocupado de que seja bom ou ruim”.

            Para Ronaldo Cagiano, autor do posfácio, o autor “utiliza seus artefatos para alcançar aquilo que de mais dinâmico e comunicador pode e deve deflagar numa obra literária, imbuída em seu compromisso estético e em sua dimensão ética”. Segundo o romancista e crítico literário, Roda-gigante mostra o poeta “em pleno domínio de sua arte”.

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