NÃO ESQUECEMOS | Eduardo Pitta

Na campanha em curso, um dos méritos da forte exposição mediática dos candidatos do PSD, CDS, IL e CH tem sido a revelação das suas verdadeiras intenções: acabar o ajuste de contas com o 25 de Abril iniciado pelo Governo PSD/CDS em 2011.

Eu não me esqueço do que foram esses quatro anos:

— A subida brutal do IRS / a ominosa Contribuição Extraordinária de Solidariedade aplicada a todas as pensões de valor igual ou superior a mil euros / a retenção de 50% do subsídio de Natal de 2011 / os subsídios de férias pagos em duodécimos a partir de 2012 / a sobretaxa extraordinária de 3,5% / a tentativa, chumbada pelo Tribunal Constitucional, de impor um tecto à acumulação das pensões com pensões de sobrevivência / a demonização ideológica dos encargos com idosos / a privatização da TAP, EDP, REN, GALP, CTT / o encerramento de todas as escolas do primeiro ciclo com menos de 20 alunos / a redução das indemnizações por despedimento / o aumento dos passes sociais em 15% / a subida do IVA do gás e da electricidade / o congelamento das carreiras dos funcionários públicos / a eliminação de quatro feriados nacionais / a redução das férias / o aumento da carga horária de trabalho / a tentativa de aumentar a Taxa Social Única dos trabalhadores e baixar a dos patrões / a tentativa de privatizar a RTP e a Caixa Geral de Depósitos / a tentativa de rever a Constituição da República / etc.

Não podemos esquecer.

Retirado do Facebook | Mural de Eduardo Pitta

Caso Angoche, mistério por decifrar | Carlos Vale Ferraz | por Eduardo Pitta

Cinquenta anos passados sobre o Caso Angoche, mistério por decifrar, Carlos Vale Ferraz (n. 1946) deu à estampa «Angoche — Os Fantasmas do Império». Vale Ferraz, pseudónimo literário do coronel Carlos Matos Gomes, na dupla qualidade de oficial do Exército e de investigador de História contemporânea, sabe do que fala.

Oficialmente, os factos são estes: no dia 24 de Abril de 1971, entre as cidades de Quelimane e da Beira, na costa de Moçambique, foi avistado à deriva, com fogo na ponte de comando e na casa das máquinas, o navio de cabotagem Angoche, que transportava material de guerra, treze tripulantes negros, dez tripulantes brancos, um passageiro e um cão. O alerta foi dado no dia 27 pelo petroleiro Esso Port Dickson, com pavilhão do Panamá, continuando por esclarecer o hiato de três dias. Nunca foram encontrados corpos, desconhecendo-se o destino de quem ia a bordo. O Angoche foi rebocado para a baía de Lourenço Marques, onde chegou a 6 de Maio. Mais vírgula menos vírgula, dependendo do jornal ou das fontes “autorizadas”, é aquilo a que a opinião pública tem direito desde 1971.

Há especulações e perguntas para todos os gostos. O Angoche foi atacado? Por quem? Foi vítima de golpe da ARA ou da FRELIMO? Submarino russo ou chinês? Que papel tiveram os serviços secretos sul-africanos? O que aconteceu aos 24 homens? Foram para a Tanzânia? Por que razão o radiotelegrafista se “esqueceu” de embarcar, ficando em Nacala? Que papel tinha na história a mulher de alterne “suicidada” na Beira?

Sobre o assunto existe bibliografia documental, mas «Angoche — Os Fantasmas do Império» é um romance. A fórmula permite a Carlos Vale Ferraz inserir a intriga ficcional nos interstícios dos factos. E faz isso muito bem.

«Angoche — Os Fantasmas do Império» é dedicado «a quem morreu por saber de mais sobre o caso. Mortos por uma causa que ninguém teve a coragem de assumir.»

Para desenvolver o plot, o narrador apoia-se nos conhecimentos do “tio Dionísio”, oficial da Marinha portuguesa com ligações aos serviços secretos sul-africanos. Narrativa aliciante, faz o retrato dos últimos anos da colonização, vistos a partir de Moçambique. Por exemplo, é muito curiosa a caricatura a traço grosso de alguma burguesia de Lourenço Marques (Eduardo de Arantes e Oliveira, governador-geral de Moçambique à data do caso Angoche, surge mais de uma vez), os atritos entre a PIDE e os militares, etc. A sombra da operação Alcora — aliança militar secreta entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia — perpassa no relato. Em suma, 170 páginas de boa ficção sobre factos obscuros da guerra colonial.

Lembrar que da obra ficcional de Carlos Vale Ferraz faz parte «Nó Cego» (1982, reeditado em 2018), título incontornável da bibliografia sobre a guerra em Moçambique.

Retirado do facebook | Mural de Eduardo Pitta

O MELODRAMA | Eduardo Pitta, in Facebook

Toda a gente se lembra da noite do primeiro domingo de Agosto de 2014, quando Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, anunciou em directo a «Resolução» do BES. O Grupo Espírito Santo implodia em horário nobre e das cinzas do BES nascia o Novo Banco.

Nunca tal se tinha visto na Europa. Embora previsto pelo BCE, foi uma estreia absoluta. No dia seguinte ficou a saber-se que mais de metade dos ministros (era o Governo Passos & Portas) tinham assinado na praia.

Passaram seis anos. O Fundo de Resolução, constituído pelos Bancos a operar no país, enterrou 3,9 mil milhões de euros no Novo Banco. Mas a venda ao Lone Star, em 2017, não exonerou os compromissos contratuais. Dito de outro modo, os Governos de António Costa não podem assobiar para o lado. Há poucos dias foram mais 850 milhões, devidamente inscritos no OE 2020. Mas ainda faltam mais mil milhões.

Encenar uma ópera-bufa a pretexto de uma verba inscrita no Orçamento de Estado (ou seja, um diploma escrutinado por todos os deputados, aprovado por uma maioria deles, promulgado pelo Presidente da República, referendado pelo primeiro-ministro e publicado em «Diário da República»), não lembra ao Diabo. Abstenho-me de comentar a polémica em torno de gaps de comunicação.

A Direita, no seu conjunto, e uma parte significativa da Esquerda, julgou ter chegado o momento de abater Centeno, que ainda esta tarde, ouvido no Parlamento, foi claro: «Os senhores fizeram na praia a mais desastrosa Resolução da história da Europa…»

Rui Rio pediu a demissão do ministro das Finanças. Deputadas do BE e do CDS deram pinotes de corça. Pivôs de telejornal salivaram com o desfecho da reunião que à mesma hora juntava Centeno e o primeiro-ministro.

Tudo acabou em anticlímax: os dois abandonaram juntos a residência oficial e uma nota esclarece: «O primeiro-ministro reafirma publicamente a sua confiança pessoal e política no Ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno.»

Eduardo Pitta

Retirado do Facebook | Mural de Eduardo Pitta

25 DE NOVEMBRO 1975 | Eduardo Pitta

Faz hoje 43 anos Portugal esteve à beira da guerra civil. Eu tinha chegado há exactamente dezassete dias, ou seja, naquele 8 de Novembro em que o VI Governo Provisório mandou dinamitar os emissores da Rádio Renascença, controlada pela extrema-esquerda.

Sobre o 25 de Novembro, transcrevo do meu livro de memórias:

«Dias depois desse reencontro aconteceu o 25 de Novembro. Passei o dia no Estoril, a tal ponto alheado dos acontecimentos que fui com o Jorge jantar a Lisboa e a seguir ao cinema. O Galeto teria talvez uma dúzia de clientes, mas no primeiro balcão do Império éramos os únicos espectadores. Só no comboio de regresso a casa soubemos do recolher obrigatório. O passeio impediu que tivéssemos visto Duran Clemente a ser substituído por Danny Kaye — ‘The Man from the Diner’s Club’ foi o sinal inequívoco de que o PREC tinha acabado.

Com a imprensa nacionalizada desde a intentona de 11 de Março de 1975, o Governo impôs um período de nojo. Não se publicaram jornais durante mais de quinze dias. Quem quisesse saber o que se passava em Portugal, ouvia a BBC ou comprava o Monde. A excepção era o Expresso, que durante dois meses (entre 5 de Novembro de 1975 e 7 de Janeiro de 1976) foi bissemanário, saindo às quartas e sábados. A edição extra era feita por Vicente Jorge Silva e Helena Vaz da Silva.

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A vida e obra de Philip Roth por Eduardo Pitta in Revista “Sábado”

“Ao contrário de tantos dos seus pares, Roth nunca se preocupou em escrever para agradar. “A literatura não é um concurso de beleza moral”, disse em 1984 à Paris Review. Portanto, tinha por princípio desenvolver assuntos que inquietassem o senso comum.”

A morte de Philip Roth faz descer o pano sobre uma época prodigiosa da literatura de língua inglesa e, particular, da cultura americana. Os leitores que durante 50 anos fizeram dos seus livros motivo de júbilo, controvérsia ou mero prazer do texto, sabem que agora acabou. Para sermos exactos, tinha acabado em 2010, ano em que Némesis chegou às livrarias.
Para um homem que tanto escreveu sobre doença e morte, chegou a sua vez. Internado num hospital de Manhattan, Roth morreu a noite passada, vítima de insuficiência cardíaca congestiva. A notícia veio pela boca de Judith Thurman, amiga íntima. Conseguiu ser o último e mais prolífico sobrevivente dos escritores que formataram o século XX americano, sendo os outros Saul Bellow e John Updike.

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Rebeldia, o romance mais recente de Cristina Carvalho | por Eduardo Pitta

Hoje na Sábado escrevo sobre Rebeldia, o romance mais recente de Cristina Carvalho (n. 1949), no qual a autora recria o universo de um certo Portugal, nos anos 1950. O detonador da intriga é o desejo de emancipação da protagonista e narradora, alguém que tem um olhar muito crítico sobre o atavismo da sociedade à sua volta. Da modesta pensão de Coimbra, gerida pelos pais, à casa da madrinha, em Lisboa, persiste o desdém por gentes e costumes: «Cavalheiros e mastronças que a única coisa que desejavam era casar as filhas de véu e grinalda, tudo branco e, claro, verdadeiramente virgens.» Ao contrário da vontade da narradora, adepta confessa de «uma valente foda». Em obras anteriores, a autora tem dissecado todo o tipo de comportamentos, dos mais convencionais aos de índole esotérica, mas tem-no feito quase sempre sem recurso ao jargão rude da coloquialidade. Nesse aspecto, Rebeldia marca um ponto de viragem. São recorrentes frases como, «O miúdo masturbava-se e nós fodíamos à noite…» A violência verbal manifesta-se mesmo nas mais prosaicas reflexões sobre a vida portuguesa durante os anos ominosos do Estado Novo. O fio da história é linear. A narradora descreve um casamento frustrado com a tinta forte do realismo sem filtro. O desprendimento familiar é de rigueur. Em compensação, sobreleva um peculiar ‘apego’ aos porcos chafurdando nas pocilgas. Os odores do chiqueiro, tão apreciados pela narradora, arrastam consigo uma forte carga sexual. Leninha tem 24 anos quando desembarca em Santa Apolónia. «Vou ser médica. Está resolvido!», dissera aos pais atónitos. Em Lisboa vai morar para a Ajuda, zona da cidade que não seria o nirvana, mas uma ida à Baixa não altera o estado de espírito: «Umas ruas atrás das outras, prédios escuros, lojas de panos, alfaiates e pastelarias.» A heterodoxia não conhecia limites. Chegou a pensar que invejava «a sorte e o destino das putas da Calçada da Memória.» Mal por mal… Os anos passam, Leninha casa com um homem que desaparece de vez em quando, a vida conjugal roça a abjecção, o filho é um estorvo. A linguagem crua é um dos traços distintivos do romance. Veja-se, logo no primeiro capítulo, o relato da urinação de pé, colada aos arbustos de um muro. Quatro estrelas. Publicou a Planeta.
Eduardo Pitta

Retirado do Facebook | Mural de Cristina Carvalho

http://daliteratura.blogspot.pt/2017/08/cristina-carvalho.html

Pompas Fúnebres, de Eduardo Pitta

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«Este volume colige uma parte significativa das crónicas que publiquei entre 2008 e 2013, na revista LER, a convite de Francisco José Viegas e João Pombeiro. Seleccionei as que me parecem poder resistir ao crivo do tempo. Eventuais rasuras ou alterações de pormenor não beliscam o espírito original. A que dá o título ao conjunto, Pompas Fúnebres, pode ser lida como um conto (nessa ambiguidade reside a sedução do género). O espectro de temas versados é muito amplo.» Eduardo Pitta

 

ARRUMAR AS BOTAS | Eduardo Pitta in Blog Da Literatura

Holy War

Quando, no lapso de oito meses, o maior partido da oposição perde 800 mil votos, isso significa que a sua liderança não convence um caracol. Argumentar com a fuga de votos para Marinho Pinto, que representou o MPT, e para Rui Tavares, que fundou o LIVRE, diz muito de quem manda no Rato. Então se foi assim, significa que 306 mil votantes PS  —  os 235 mil que elegeram dois deputados do MPT, mais os 71 mil do LIVRE  —  não se revêm na política da actual direcção do partido. E ainda sobra meio milhão de votos. Não estamos a falar de um deslizeconjuntural, mas de uma derrocada fragorosa. Não perceber isto é não perceber nada.

Imagem: Holy War de Deimantas Narkevicius.

http://daliteratura.com … (FONTE)

 

 

10 anos de Naifa

A Naifa celebrou os seus 10 anos de existência com um concerto no Tivoli. Eduardo Pitta esteve presente, estas são as suas palavras:

A Naifa fez 10 anos. Como o tempo passa. Ontem, no concerto do Tivoli que celebrou a data, uma sala cheia vibrou com dezoito canções, uma delas «Rapaz a Arder», a partir do meu poema. Mas foi com duas canções míticas de Ary dos Santos, «Tourada» e «Desfolhada», que a sala (cheia de caras conhecidas) veio abaixo. Parabéns à Mitó Mendes, ao Luís Varatojo, à Sandra Baptista e ao Samuel Palitos.
(Eduardo Pitta, no facebook)

CIDADE PROIBIDA – Lançamento no Teatro da Politécnica

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Sete anos depois da primeira publicação, regressa finalmente às livrarias Cidade Proibida, um romance desassombrado que retrata com intensidade e mestria o universo gay, o prazer erótico e a transgressão.

«É difícil ler um bom livro em que se fala livre e fulgurantemente de sexo, do prazer erótico e da transgressão. Eduardo Pitta fá-lo com a mestria de um grande narrador.» Helena Vasconcelos

 

A não perder!

 

Remembering the artist Robert De Niro, Sr.

Pai De Niro

Robert De Niro, Sr. fez parte da afamada New York School of artists. Teve sucesso no início de sua carreira durante os anos de 1940 e 50, em Nova Iorque. A sua pintura misturava estilos abstratos e expressionistas e chegou a fazer parte da amostra “Art of this Century” de Peggy Guggenheim Gallery e a sua obra foi objeto de crítica na imprensa especializada em arte.
Mas seu sucesso foi de curta duração, com o seu trabalho a ser eclipsado primeiro pelos pintores expressionistas abstratos e mais tarde com o surgimento da Pop Art . O artista é recordado neste filme pelo seu filho Robert De Niro, não tendo a sua condição homossexual sido iludida.

Segundo Eduardo Pitta, no Da Literatura: “Se A Bronx Tale (1993) foi uma homenagem discreta ao progenitor, Remembering the artist… não esconde nada. A HBO comprou os direitos, e o filme, com a duração de 40 minutos, vai ser distribuído para todo o mundo a partir de Junho. Robert De Niro Sr. (1922-1993) esteve casado pouco mais de um ano, e o filho vem agora explicar porquê.”

sobre o filme

Cidade Proibida – nas livrarias.

CidadeProib

No ginásio que frequentava havia quem conhecesse Lisboa, uma cidade, diziam, «cheia de sol e de moscas», onde os bares fecham «praticamente de manhã» e as pessoas «vão de carro
à mercearia da esquina». Num bar de Old Compton Road também lhe disseram que os rapazes portugueses eram bonitos e, por norma, cooperantes.
– Cooperantes como? Como em Marrocos?
– Não é a mesma coisa. Os magrebinos são insistentes. Os portugueses empatam, raramente sorriem, preferem ser seduzidos… Quando estão no ponto, vale tudo.
– E são mesmo bons…?
– Gorgeous!

Eduardo Pitta revela-nos, numa linguagem áspera, sem nunca perder a elegância, uma realidade que muitas das vezes nos passa ao lado, ou não, mas que insistimos em não reparar, como se nos fosse proibido ver. Quando acreditávamos que certos tabus haviam caído em desuso, eis que, em pleno retrocesso civilizacional, assistimos ao regresso de todas as fobias. O jogo institucional dos capados impõe a sua visão de uma sociedade homofóbica.

O mais que fez (o gato Teddy) foi esperar três dias. Assim que intuiu o carácter definitivo da mudança, urinou sem complacência na porta do quarto do dono. Passava a ser o macho da casa.

Todos temos os nossos rituais de afirmação, mais ou menos exuberantes.

Cidade Proibida de Eduardo Pitta chega hoje, quarta-feira, às livrarias. Leitura obrigatória.

Cidade Proibida – Eduardo Pitta

CidadeProib

Sete anos depois da primeira publicação, regressa finalmente às livrarias Cidade Proibida, um romance desassombrado que retrata com intensidade e mestria o universo gay, o prazer erótico e a transgressão.

Uma história de amor e sexo passada em Lisboa, entre um filho de muito boas famílias, da melhor sociedade lisboeta, e um inglês que aqui trabalha como professor.
Com a homossexualidade como pano de fundo, Eduardo Pitta retrata neste romance singular uma Lisboa de privilegiados, onde o amor ocupa um lugar sempre periclitante.

Esta edição da Planeta chega às livrarias no próximo dia 23 de Janeiro.

Eduardo Pitta Nasceu em 1949. É poeta, escritor, ensaísta e crítico. Tem poemas, contos e ensaios publicados em revistas de Portugal, Brasil, Espanha, França, Itália, Colômbia, Inglaterra e Estados Unidos.
É colunista da revista LER, crítico literário da revista Sábado e autor do blogue Da Literatura.
Tudo sobre o autor em www.eduardopitta.com

Da Literatura – 9 anos

Da-Literatura

Da Literatura, o blogue de Eduardo Pitta faz hoje nove anos. Cidadania e cultura, porque uma não sobrevive sem a outra.

Um olhar atento, disposto a correr riscos e a grande literatura, enchem as páginas deste blogue. Em tempos de retrocesso civilizacional, eis um dos grandes resistentes. Há que não ceder à indigência dos tempos e lutar pela cultura e pelos valores humanos. Uma leitura obrigatória. Crescemos nestas páginas.

daliteratura.blogspot.pt

 

Prémios Time Out Lisboa 2013

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Ainda não é uma tradição milenar, mas havemos de lá chegar. Este ano, pela segunda vez, a Time Out Lisboa distinguiu os melhores da cidade nas diversas áreas. Saiba quem levou para casa um corvo dourado, bem como todos os nomeados nas respectivas secções.

O vencedor do prémio o Livro do Ano: As Primeiras Coisas de Bruno Vieira Amaral.

«Com As Primeiras Coisas, Bruno Vieira Amaral faz a história do Bairro Amélia, na margem esquerda. O livro abre com um prólogo de 47 páginas e dezenas de notas de rodapé. O texto é brilhante. O autor tem voz própria e não se confunde com nenhum dos seus pares: «Quando, em finais dos anos noventa, voltei costas ao Bairro Amélia, com os seus estendais de gente mórbida, a banda sonora incessante das suas misérias, nunca pensei que a vida me devolveria ao ponto de partida.» A estrutura narrativa assenta numa sucessão de 86 “fichas” temáticas de dimensão variável, ordenadas alfabeticamente, de Aborto a Zeca. Para já, uma certeza: temos escritor.»
Eduardo Pitta, Da Literatura.

Síria | Trapalhada | Eduardo Pitta

Em Moscovo, Putin, o imperador, espera para ver.

Há, nisto tudo, um cinismo obsceno. A opinião pública ocidental borrifa-se para que populações inteiras, sobretudo em África, sejam dizimadas pela fome, tortura, execuções sumárias e êxodo forçado. O fantasma das armas químicas acorda as boas consciências porque a sua volatilidade é uma ameaça real. O destino dos sírios não entra nestes cálculos.

Ler mais:

http://www.daliteratura.blogspot.pt/2013/09/trapalhada.html

Um Rapaz a Arder – Casa da Cultura de Setúbal

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Está um rapaz a arder
em cima de um muro,
as mãos apaziguadas.
Arde indiferente à neve que o encharca.

Outros foram capazes
de lhe sabotar o corpo,
archote glaciar.
Nunca ninguém lhe apagou esse lume.

(Archote Glaciar, EP 1998)

Ontem, na Casa de Cultura de Setúbal, as conversas muito cá de casa, receberam Eduardo Pitta e o seu livro mais recente Um Rapaz a Arder. O ator José Nobre interpretou poemas do autor com tal força que se convenceu, a dada altura, ter repetido dois versos. Atentos, a sala e o autor, tranquilizaram-no. Não, estava perfeito.

Eduardo Pitta falou-nos de Moçambique e das razões da sua saída, do seu livro, da sua poesia, dos escritores que foi conhecendo, de alguns livros que vieram a propósito, do Meio, do nosso retrocesso social. Sempre com uma impecável elegância, sem saudosismos serôdios e com um saudável sentido de humor. Não se furtou às questões identitárias que abordou com a naturalidade de quem fala de si e das memórias de um percurso de vida.

Da audiência vieram perguntas, que o Cidade Proibida se encontra esgotado – o único romance do autor, escrito numa linguagem desabrida e crua. Fátima Medeiros da livraria Culsete quis saber da escrita do “eu” e das suas concessões à ficção. Abordou ainda a clareza da obra ensaísta do autor.

Não houve fogo, mas ninguém apagou este rapaz a arder.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.

Um rapaz a arder na Casa da Cultura de Setúbal

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“Um rapaz a arder” de Eduardo Pitta, vai ser o tema das conversas Muito Cá de Casa a decorrerem esta sexta, dia 28, pelas 22:00 na Casa da Cultura de Setúbal.

Eduardo Pitta, poeta, romancista, crítico literário e ensaísta vai apresentar o seu último livro. As memórias de um percurso de vida de 1975 a 2001 que acompanham os principais eventos do nosso tempo, balizados entre a independência de Moçambique e o 11 de Setembro de 2001. Tudo sem saudosismo e com a elegância de um relato depurado, o essencial de um olhar estranho ao Meio.

O ator José Nobre participa com a leitura de excertos de “Um rapaz a arder” e de alguns poemas do autor. António Ganhão, do site PNet Literatura, colocará algumas perguntas e tentará moderar a conversa entre os presentes.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.

Cadernos Italianos, de Eduardo Pitta, Tinta da China, 2013

Cadernos_ItaNum registo tão elitista quanto a elegância o permite, Eduardo Pitta, deixa-nos um relato das suas viagens a Itália na forma de um quase diário. Não são viagens de turismo no seu sentido convencional. O autor recusa entregar-se à multidão, a essa horda de turistas basbaques e ao seu frenesi compulsório, ou à espontaneidade de uma opção de última hora. Este é o percurso estudado de um homem culto. Um percurso destinado a satisfazer o seu gosto pelo requinte, seja por uma paisagem, um apontamento arquitectónico ou uma refeição num restaurante de excelência (onde o preço, obviamente, não é impedimento).

O percurso divide-se por duas cidades, Veneza e Roma.

Da primeira, Eduardo Pitta, afirma: “Veneza é música e é luz”. E descobrimos ser também a sua gastronomia e os locais onde os seus ícones marcaram presença. Os restaurantes merecem um olhar demorado. “O ambiente é glamoroso, distendido, bem-humurado, sentimos que estamos envoltos numa aura de privilégio”. Ou, “caras bonitas, vozear controlado”.

Existe um percurso que é o olhar de Eduardo Pitta e é fácil deixarmo-nos enamorar por ele. Talvez, porque “a intimidade alheia sempre espicaçou os homens”, como refere a propósito da multidão de turistas que visitam o palácio dos Doges. A elegância dos ambientes é depurada como a prova de um grande vinho. Os aromas, a cor, a extensão dos saberes, o registo prolongado da memória, tudo avaliado com a mestria de um entendido, sem o deslumbramento do turista em excursão organizada.

Apontamentos breves são-nos servidos com um impecável sentido de humor. “…um bando de rapazes improvisara uma desastrada versão de Great Bird de Keith Jarrett. A temeridade é um atributo dos inocentes. Eles são jovens e pareciam dispostos a comer os dentes do piano. O poeta teria gostado”.

Quando se trata das suas desilusões é impiedoso, “o Babington’s Tea Room, tornou-se uma decepção: criadas mal resolvidas, pretensioso e caro. As freiras que vi no Vaticano têm melhor astral”.

Este livro é uma “abstracção da realidade”, mas não na sua forma de divertimento simples para consumo imediato, é antes um desafio ao bom gosto, ao grande relato das coisas simples da vida, mas belas. O relato sóbrio de uma certa forma de se estar. Depois de o ler nunca mais a Fontana de Trevi terá o mesmo encanto.

“Quem conhece, sabe do que falo. Quem não conhece, deve ir conferir”. Ou, neste caso, ler.

Portugal – Eduardo Pitta

EDUARDO PITTA nasceu em 1949. É poeta, escritor e ensaísta, crítico do jornal Público e colunista da revista LER. Desde 1968 tem colaboração dispersa por jornais e revistas literárias, de Moçambique, Portugal, Espanha, França, Brasil e Estados Unidos. Colaborou na revista Colóquio-Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1980 e 2005. Entre 1974 e 2007 publicou oito livros de poesia, cinco volumes de ensaio, uma trilogia de contos, um romance e um diário. Os títulos mais recentes são Poesia Escolhida, 2004, Os Dias de Veneza, 2005, Intriga em Família, 2007, Cidade Proibida, 2007, e Aula de Poesia (2010). Em 2008 adaptou para crianças o clássico de Eça de Queirós O Crime do Padre Amaro. Poemas seus encontram-se traduzidos em inglês, francês, castelhano e italiano. O contoKalahari está publicado na revista inglesa Chroma. A partir de 1976 participou em congressos, seminários e festivais de poesia, em Portugal e no estrangeiro (Espanha, França, Itália e Colômbia). Tem efectuado conferências sobre escritores e, em 1998, a convite da Unesco, participou em Atenas num colóquio sobre Fernando Pessoa e Konstandinos Kavafis. Organizou para a revista francesa Arsenal um dossiê sobre literatura portuguesa, Du Portugal, Babel de Contraires, com lançamento, seguido de debate, no Salão do Livro de Paris, em 2002. Dirige actualmente a edição das obras completas de António Botto. É autor do blogue Da Literatura. Tudo sobre o autor em www.eduardopitta.com.

FONTE:  http://pnetliteratura.pt

Eduardo Pitta

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