Germano Almeida: “Não me peçam desculpa pelos meus antepassados, tratem-me a mim como gente” | por Joana Emídio Marques in Jornal “Observador”

Germano de Almeida, 73 anos, escritor cabo-verdiano, recebeu este ano o prémio Camões. É publicado em Portugal há 30 anos mas os seus livros vendem pouco mais de 100 exemplares. Este ano o prémio Camões veio dizer que há África para lá de Agualusa e Mia Couto.

Chama a si mesmo “contador de histórias”, herdeiro daqueles homens que nas noites infinitas da ilha da Boavista, Cabo Verde, sem luz elétrica, sem televisão, sem telefones, sem Internet, se sentavam à porta das casas para contar histórias. Eram noites de lua cheia, as crianças pagavam-lhes em cigarros e eles tiravam da memória essas histórias onde se fundia a ancestralidade de Europa e África, de colonos e escravos, de romances de cavalaria e mitos, de gente que na sua passagem pelas Ilhas deixava para trás peripécias, tragicomédias ou tragédias, morte e vida. Mas sobretudo onde o crioulo e o português se misturavam para que todos, contador e ouvintes, se transmudassem em heróis de mundos por achar. É este tempo mágico onde a palavra tinha a força da magia e da honra que Germano Almeida, prémio Camões 2018, reclama para si.

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José Manuel Tengarrinha (1932-2018), uma vida à procura da geringonça | por Nuno Ribeiro in Jornal “Público”

“Ou saímos todos ou nenhum”. Esta frase foi mais uma dificuldade, inesperada, para o Movimento dos Capitães, nas horas imediatas ao 25 de Abril de 1974. As vozes vinham do Forte de Caxias e, entre esse coro de solidariedade reivindicativa que punha em causa a libertação por fases dos presos políticos defendida pelo General António de Spínola, estava José Manuel Tengarrinha (1932-2018), a cumprir a sua sexta pena de prisão de uma luta incessante contra a ditadura. O corpo de Tengarrinha, que morreu sexta-feira na sua residência do Estoril, está a partir das 18 horas deste domingo na Basílica da Estrela, de onde sairá na segunda-feira para cremação, numa cerimónia reservada à família.

“Hoje, os partidos de esquerda não são suficientemente credíveis para mobilizarem, limitam-se aos rituais das campanhas eleitorais”, dizia Tengarrinha, em Abril de 2012 ao PÚBLICO, na véspera de uma homenagem pelos seus 80 anos: “[os partidos] não têm capacidade de flexibilizar posições, de encontrarem pontos de encontro, quem está na linha dura pensa que será mal compreendida uma aliança com o outro sector.”

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