António Saragoça, O Homem que Emprestava Sorrisos

António SaragoçaAntónio Saragoça, um fotografo espontâneo.

É certo que cada pessoa é inigualável e cada artista tem o seu próprio universo, que nos pode deixar visitar, para nosso privilégio. Porém, o António Saragoça, mais do que qualquer outro que terá passado pelas paredes da Pickpocket, incorporou a sua vivência ao acto de fotografar e aceitou que a fotografia se imiscuísse na sua vida com uma humanidade e permeabilidade apenas comparável com a que a sua própria comunidade assimilou o Saragoça fotógrafo.

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Quando fores mãe, vais ver

Quando fores maeNo primeiro domingo de maio celebra-se o Dia da Mãe e, como nascemos sem o respetivo manual de instruções, aqui deixo uma sugestão para este dia. Uma leitura indispensável a todas as mães e a todos os filhos. Quando fores mãe, vais ver é um livro de Ana Saragoça, editado pela Planeta.

O Das Culturas falou com a autora.

– Como surgiu a ideia deste livro?
A ‘mãe’ da ideia foi a Ana Maria Pereirinha, editora da Planeta Manuscrito, que pretendia um livro bem humorado sobre as ‘mães à portuguesa’ e os ditos comuns a grande parte delas. Depois de ter visto A Mãe da Noiva, uma micropeça que escrevi para o Teatro Rápido, achou que eu era a pessoa certa para elaborar o conceito. Como alentejana e filha de alentejana, pareceu-me bem enriquecê-lo com um capítulo de ditos usados na minha família há gerações.

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Citando Ana Saragoça

Quando fores mae

Se engolires a pastilha, morres.

E de repente – glup! – engoli a porcaria da pastilha. Senti-a nitidamente descer-me o esófago e chegar-me ao estômago, cada vez mais comprida e rarefeita, colando-se-me às entranhas e paralisando-as. Nem tive força para gritar: ergui a cabeça de supetão e fiquei a olhá-las às duas, a minha mãe e a minha avó, de agulhas em movimento e a terem conversas insignificantes, sem fazerem a mínima ideia de que dentro de momentos EU IA MORRER! Tive tanta pena delas… Comecei a imaginar os seus choros e gritos, o meu funeral num caixãozinho branco (sim, com a minha idade as crianças iam a velórios e funerais e estavam familiarizadas com tudo aquilo), o cortejo infindável de vizinhos e amigos, os soluços, o meu enterro na campa onde já estava o meu avô…
Foi uma surpresa imensa encontrar-me viva e na minha cama na manhã seguinte. E passaram anos até voltar a atrever-me a comer uma pastilha.

Quando Fores Mãe, Vais Ver, de Ana Saragoça

Leia mais sobre este livro no Acrítico – Leituras dispersas.

Citando Ana Saragoça

Ana SaragozaA evolução darwiniana parece ter atingido o seu auge: nunca como hoje o polegar oponível foi tão importante, nunca até agora atingira a destreza que elas ostentam a enviar mensagens de texto. Em compensação, a linguagem parece ter regredido aos tempos pré-históricos. As conversas fazem-se com meia dúzia de vocábulos básicos, e a escrita eliminou as vogais, transformando-se numa amálgama quase checa de «X», «W» e «k».

“Todos os dias são Meus”, de Ana Saragoça – Editorial Estampa

Ana Saragoça nasceu em Viana do Alentejo em 1966. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa e formou-se como atriz pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Em paralelo com a carreira teatral, trabalhou sempre como tradutora, atividade que exerce a tempo inteiro desde 2002. Participou em várias antologias de contos, e, em 2012, Todos os Dias São Meus, o seu primeiro romance (Editorial Estampa), bem como A Mãe da Noiva, o seu primeiro texto para teatro, estreado em Outubro no Teatro Rápido. Em 2013, estreou as peças Não Sou Eu, És Tu, no Teatro Rápido e Sem Rede, pela Companhia de Teatro Chão de Oliva, tendo lançado ainda o livro Quando fores Mãe Vais Ver (Editorial Planeta Manuscrito).

 

Sem Rede – Casa de Teatro de Sintra

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Sem Rede, é uma peça levada a cena pela Companhia de Teatro de Sintra, baseado num texto de Ana Saragoça com encenação de João Mello Alvim. Três atores emprestam a sua interpretação a um quadro familiar. Um homem, uma mulher e uma jovem no fim da adolescência. Seriam uma família. Mas nos dias de hoje, são estranhos com disfuncionais laços de aproximação.