O bom e o mau ladrão

publico_fotoO Evangelho segundo Jesus Cristo, de 1991, abre com a descrição da cena do Calvário. O autor observa um quadro.

O primeiro personagem é o bom ladrão, de caracóis louros (como os anjos), semblante arrependido e sofrido. Saramago reconhece-lhe “uma dor que não remite”. Mais “retíssimo” será o mau ladrão, esse a quem o autor reconhece um “sofrimento agónico” e, portanto, mais puro, isento da trapaça de “fingir acreditar, a coberto de leis divinas e humanas, que um minuto de arrependimento basta para resgatar uma vida inteira de maldade”. A escrita de Saramago reveste-se deste olhar lúcido, um olhar que percorre, que perscruta o interior da alma humana e por vezes se detém num pensamento, para de seguida retomar o seu caminho. Parágrafos extensos que se demoram, presos à ideia que vão expondo, como se fossem adivinhando o fascínio que despertam no leitor.

Como narrador, Saramago aproxima-se da postura deste mau ladrão, sendo que, entre o bom e mau, “não há nenhuma diferença… pois o Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um deles é somente a ausência do outro.”

“Deus na obra de Saramago” é o primeiro tema para as Tertúlias de Lisboa.

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