O PS é herdeiro de Leon Blum e Olof Palme e não de Trótski e Lenine | Manuel Alegre | 28.01.2022 | O que é a Social-Democracia

Swedish Prime Minister Olof Palme was fatally shot at point-blank range on one of the busiest streets in downtown Stockholm as he and his wife, Lisbet, were leaving a movie theater on Feb. 28, 1986.

BLUM LÉON

(1872-1950)

Haï et injurié de son vivant par ses adversaires politiques comme rare ment ce fut le cas dans la vie politique française, Léon Blum apparaît aujourd’hui, avec le recul du temps, comme un des acteurs principaux de l’évolution de la France vers la modernité et la justice sociale ; il est aussi à placer parmi les penseurs du socialisme français au XXe siècle.

Venu au socialisme au début du siècle, cet intellectuel marqué par l’affaire Dreyfus, « disciple » de Jaurès, eut la redoutable charge d’incarner le socialisme démocratique alors que les guerres mondiales et les totalitarismes semblaient entraîner l’Europe vers la barbarie. Souvent, les penseurs socialistes ont eu la chance de rester à l’écart des difficultés du pouvoir ; Blum fut contraint d’affronter les responsabilités suprêmes de chef de gouvernement en un moment dramatique, alors que la France était au bord de la guerre civile. Plus tard, prisonnier politique, déporté, il devint « le sage » de la résistance socialiste pendant la Seconde Guerre mondiale. À la fin de sa vie, il dut encore monter au créneau au temps de la guerre froide.

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Portugal em Paris | Manuel Alegre

Solitário
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava. E era Portugal
que passava por entre a gente e solitário
nas ruas de Paris.

Vi minha pátria derramada
na Gare de Austerlitz. Eram cestos
e cestos pelo chão. Pedaços
do meu país.
Restos.
Braços.
Minha pátria sem nada
sem nada
despejada nas ruas de Paris.

E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que não te quis
ou alguém que roubou as flores de abril?
Solitário por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos. Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.

Manuel Alegre

Manuel Alegre | por Rodrigo Sousa e Castro

Durante anos a fio Manuel Alegre foi insultado e vilipendiado na praça pública com base numa falsidade que todos os saudosistas da ditadura propalaram.
O nosso Tribunal Supremo só agora repõe o seu bom nome e o desagrava.
É da mais elementar justiça divulgar este comunicado. [Rodrigo Sousa e Castro]

COMUNICADO

Negando o recurso interposto pelo Tenente Coronel Brandão Ferreira, o Tribunal Constitucional confirmou ontem, 12 de Abril, o Acórdão da Relação de Lisboa, que condenou aquele militar pela prática de crime de difamação e ao pagamento de indemnização a Manuel Alegre por ter imputado a este a prática de traição à Pátria.
O caso é paradigmático pois, de forma clara, fixa os limites da liberdade de expressão perante o direito à honra e ao bom nome, à luz da jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, no sentido de que é ilícita toda a imputação de factos falsos ainda que o visado seja uma figura pública.
Ao contrário do que foi afirmado por este saudosista militante do regime ditatorial do Estado Novo, Manuel Alegre cumpriu as suas obrigações militares, nomeadamente em Angola, como combatente, em zona de guerra.
Utilizou-se a mentira e a difamação para prejudicar a imagem de Manuel Alegre por altura da sua candidatura à Presidência da República.
Este tipo de calúnia lembra as práticas de perseguição e assassinato do carácter utilizadas pelo regime deposto em 25 de Abril de 1974 e demonstra uma total falta de respeito pelas regras da Democracia.
13 de abril de 2018

Manuel Alegre de Melo Duarte

Retirado do Facebook | Mural de Rodrigo Sousa e Castro

Viva a Inglaterra | Manuel Alegre in jornal Diário de Notícias

Eu era muito pequeno, não devia ter sequer 4 anos. Passeávamos na avenida, em Espinho, e, de repente, meu avô materno, republicano, e meu pai, monárquico, tiraram os chapéus e começaram a gritar Viva a Inglaterra! Nunca mais esqueci. Voltei a lembrar-me ao ver o filme Dunkirk. Também a mim me apeteceu dar um viva à Inglaterra. A evacuação das tropas cercadas pelos nazis é um feito histórico incomparável e decisivo para o futuro da guerra. Milhares de civis foram a Dunquerque em barcos de recreio ou de pesca buscar os seus soldados. Governantes, diplomatas e funcionários da União Europeia deviam ver esse filme para recordarem e não caírem na mesquinha tentação de aproveitar as dificuldades provocadas pelo brexit para castigarem a Inglaterra e conseguirem benefícios perversos.

As democracias europeias tinham caído uma a uma. Estaline celebrara com Hitler o pacto germano-soviético. Os americanos, apesar dos esforços de Roosevelt, viviam um período de isolacionismo e pensavam em si próprios. Durante anos, a Inglaterra resistiu sozinha. Lutou no ar, no mar, em terra, pronta a defender a sua ilha, cidade a cidade, rua a rua, como disse Churchill no célebre discurso em que proclamou: “Jamais nos renderemos.” Bateram-se pela sua e pela nossa liberdade. Podem ter muitos defeitos, mas esse é um valor que os ingleses sabem preservar. Não creio que alguma vez permitissem que outra instituição que não o seu Parlamento discutisse e condicionasse o seu orçamento. Por isso jamais aprovariam o tratado orçamental. Qualquer que seja a opinião que se tenha sobre o brexit, os países europeus têm todo o interesse em manter com o Reino Unido uma relação estável e amistosa. Espero, pelo menos, que Portugal se lembre do papel da Inglaterra em momentos decisivos da nossa luta pela independência. E quando alguém tiver a tentação de cálculos mesquinhos, haja quem não se esqueça dos quase quinhentos mil emigrantes portugueses. Se há matéria de política externa em que Portugal deve ter uma posição própria e autónoma, é a das relações com a Inglaterra, que devem ser ditadas pelos laços históricos entre as nossas nações com uma aliança multissecular. Por mim, não esqueço esses anos terríveis em que a Inglaterra se bateu sozinha por uma Europa livre. Por isso, quando alguns pretendem fazer agora o papel de duros, eu tenho vontade de repetir o grito de meu avô e de meu pai: Viva a Inglaterra!

Manuel Alegre

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/viva-a-inglaterra-8709813.html

Bairro Ocidental, de Manuel Alegre

Bairro Ocidental50 anos depois de Praça da Canção, a Dom Quixote edita Bairro Ocidental, de Manuel Alegre, um livro em que, tal como no primeiro, o poeta afirma a sua confiança na força da palavra poética.

Tal como há 50 anos, a poesia de Manuel Alegre seduz o leitor não só pela qualidade e o inesperado da linguagem mas também pela força que recebe de raízes que mergulham no presente histórico.

Tal como em Praça da Canção, também em Bairro Ocidental o poeta vem dizer-nos que é necessária e urgente a nossa Libertação, título do poema com que termina o primeiro segmento do livro.

50 anos da Praça da Canção – Itália

Tavola_Rotonda_MAManuel Alegre viaja amanhã para Itália onde, primeiro em Vicenza e depois em Pádua, participará em duas sessões comemorativas dos 50 anos da Praça da Canção.

No domingo, dia 12, em Vicenza, na Galeria Palazzo Leoni Montannari, Manuel Alegre estará presente numa sessão integrada no Festival Mundial de Poesia, mas nesse dia inteiramente dedicada aos 50 anos da Praça da Canção, durante a qual actores e cantores italianos declamarão e interpretarão, musicalmente, alguns dos poemas que constam no livro.

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Praça da Canção, de Manuel Alegre

Praça da CançãoPublicado pela primeira vez em Janeiro de 1965, Praça da Canção, o primeiro livro de Manuel Alegre, escrito no exílio, marcou várias gerações de leitores e, para além disso, contribuiu de forma decisiva para o derrube da ditadura, sendo considerado, portanto, um símbolo da luta pela liberdade.

50 anos depois, a Dom Quixote assinala esta efeméride com a publicação de um livro emblemático, prefaciado por José Carlos de Vasconcelos, que o descreve assim: “Praça da Canção, de Manuel Alegre, há muito ultrapassou as fronteiras da literatura para assumir uma dimensão simbólica ou mesmo mítica (…) Os versos de Praça da Canção andaram, desde sempre, de boca em boca, de mão em mão, de coração em coração, em simultâneo singular expressão individual de um poeta e vigorosa voz coletiva de um povo.”

Trova do vento que passa | Manuel Alegre

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio – é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi meu poema na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(Portugal à flor das águas)
vi minha trova florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Versão integral do poema escrito em 1963 e incluído no livro Praça da Canção (1965). A versão musicada por António Portugal e cantada por Adriano Correia de Oliveira é um excerto, com a primeira e as duas últimas quadras.

País de Abril, de Manuel Alegre

País de AbrilNeste livro, País de Abril – Uma Antologia, estão reunidos os poemas de Manuel Alegre que previram e anunciaram a Revolução de Abril. Poemas que falam de Abril antes de Abril e de Maio antes de Maio.

Em O Canto e as Armas, escrito em 1967, há aqueles quatro versos de «Poemarma» que, decerto, anunciam o primeiro comunicado da Revolução:

Que o poema seja microfone e fale 
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.

Nas livrarias a 25 de Março.

Manuel Alegre, in Sete Sonetos e Um Quarto

nú
Nos teus olhos alguém anda no mar
alguém se afoga e grita por socorro
e és tu que vais ao fundo devagar
enquanto sobre ti eu quase morro.

E de repente voltas do abismo
e nos teus olhos há um choro riso
teu corpo agora é lava e fogo e sismo
de certo modo já não sou preciso.

Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua.

Manuel Alegre, in Sete Sonetos e Um Quarto

Manuel Alegre | Poema

Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua…
Manuel Alegre

Manuel Alegre