Sem Regresso

 Quando penso na areia que se lava na água salgada de uma praia qualquer, recordo de imediato o meu metro de gente, que cheio de uma vontade, com sabor de vida, se encontrava preso num olhar perdido, mas feliz, de constante procura. A inquietude de um mundo ainda sonhado reflectia-se no sorriso de complacente alegria da minha avó. Ao longe os sons confundiam-se e ecoavam como amigas que me procuravam para brincar. O mundo era imenso, dentro e fora de mim.

Deslumbrado pela simplicidade dos mais insignificantes pormenores tudo em mim era luz. Procurava perceber o incompreensível, e, de certa forma encontrava o sentido para ele. Tudo era novo, mesmo o que se repetia continuadamente. Mas naquela praia perdida algures a areia não tinha textura e o mar… era apenas e só o mar.
O tempo passou. Os anos atropelaram-se num receio infundado de que não chegasse a sua vez. O meu pai deixou de ser Deus e a minha mãe perdeu a imortalidade. As ilusões desvaneceram-se, ou melhor, transformaram-se em realidades capazes de me assustam tanto quanto sombras de corpos que não estão lá para a justificarem.

Tornei-me melancólico e distante como a ilha que o homem não é. As lágrimas, passei a trata-las por tu, dei-lhes nomes para as distinguir. No entanto, nunca as deixo sair e lavrar as montanhas do meu rosto de expressão triste. No percurso que deixei o destino doar-me ceguei-me nos sentires, guardo-os no peito, para se quedar perfeito na espera de razões mais válidas que o deixem ver e olhar.
Sinto-me só. Sinto falta do que acredito ter sido. Sinto-me vazio de mim.

 

Whitman

 Há muito,

cruzei-me com Whitman.

 Olhou-me,

sorriu e seguiu caminho,

sem sequer me “ler” por alto.

 Do cheiro das suas barbas

senti-lhe o aroma a poesia.  

 Parado,

senti nos poros a revolta   

do sangrar da seiva branca,

por onde árvores feridas,

gritam molhadas de dor.

Desfraldo as velas do meu sonho,

agarrado às palavras por escrever.  Image

Solidões Sagradas

 

Há textos doridos,

esmagadores na mensagem.

 

Nascidos em pensamentos

lancinante de tristeza,

gritados em aroma perdido

de sofrimento sem mágoa.

 

Há letras esmagadas

por ingratas ilusões

e mãos que escrevem

incapazes de o negar.

 

As palavras

toldadas de verdade    

sangram do seu próprio acreditar.