Álvaro Cunhal por Pedro de Pezarat Correia

alvaro_1998_200pcNo passado sábado, 23 de Março, numa Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa completamente lotada, teve lugar uma sessão cultural evocativa da figura de Álvaro Cunhal, que inicia um ano dedicado às comemorações do centenário do seu nascimento. Não pertencendo nem nunca tendo pertencido ao Partido Comunista Português (PCP) situo-me, porém, no grupo daqueles que consideram que o PCP se inscreve na área política que gostariam de ver o povo português escolher para liderar os destinos do país. Aqui fica o meu registo de interesses para que não haja equívocos com esta nota no GDH.

Com muito gosto aceitei o convite que me dirigiram para integrar a Comissão Promotora e estive presente na Aula Magna onde, entre muitas vantagens, beneficiei da oportunidade de ouvir mais um magnífico discurso do reitor da Universidade, professor Sampaio da Nóvoa. Guardo de Álvaro Cunhal, do cidadão, do resistente e precursor do 25 de Abril, do político, do estadista, do intelectual multifacetado, um profundo respeito. Particularmente agora, quando as figuras menores que têm passado pelo poder sem honra e sem dignidade vêm aviltando a imagem dos políticos e da democracia – e este é dos pecados maiores que lhes devem ser cobrados –, é justo e é pedagógico, evocar alguém que se empenhou profundamente na política sem mácula, sem cedências susceptíveis de violarem os princípios, os valores, os compromissos. Álvaro Cunhal era uma referência para quantos, independentemente dos sectores ideológicos e partidários em que se situassem, cultivavam o rigor na gestão da polis, na política, porque era de uma enorme exigência. Mas começava por ser exigente consigo próprio. Concordasse-se ou discordasse-se dele, confiava-se nele.

Recordo que, quando partilhei algumas responsabilidades no país e, com os meus camaradas, discutíamos ou analisávamos a situação política, o sentimento generalizado em relação a Álvaro Cunhal era o de que se tratava de um homem de carácter, credível no que dizia, fiável naquilo com que se comprometia. Aí pela década de 90, quando eu já estava reformado da vida militar e Álvaro Cunhal já deixara a liderança do PCP, encontrávamo-nos, não com muita frequência mas com alguma regularidade, por vezes com mais dois ou três amigos. Eram conversas privadas, interessantíssimas, trocas de impressões passando em revista as conjunturas nacional e internacional. E Álvaro Cunhal gostava de frisar o que mais o marcara quando teve de lidar com os militares na política no período revolucionário e nos anos em que perdurou o Conselho da Revolução e um militar na presidência da República: eram homens de palavra. E isso fora decisivo na manutenção de relações de respeito mútuo.

Há um aspecto que não posso deixar de registar. Hoje, quando a União Europeia navega em águas agitadas sem rumo perceptível e em que os chamados países periféricos sofrem as consequências de decisões que parecem tudo menos inocentes, é oportuno recordara voz lúcida de Álvaro Cunhal que na altura muitos acusaram de “velho do Restelo”. Quando os responsáveis políticos embandeiravam em arco com a adesão à Comunidade Económica Europeia e a entrada no “clube dos ricos”, quando a maioria do povo português embarcava na euforia da festa das remessas dos fundos estruturais e se empanturrava em betão a troco do abandono da agricultura, da extinção da frota pesqueira, do esvaziamento da marinha mercante, do encerramento de indústrias de base, Álvaro Cunhal alertava e repetia: os portugueses irão pagar isto. Era ouvido com cepticismo. Não me excluo, a palavra de Álvaro Cunhal levava-me a reflectir, mas deixava-me dúvidas.

Álvaro Cunhal tinha razão. Os portugueses estão a pagar isso.

25 de Março de 2013

http://resistir.info/portugal/pezarat_cunhal_25mar13.html (FONTE)

AÇÃO SOBRE POESIA, POR JOÃO MANUEL RIBEIRO

No dia 5 de abril, sexta-feira, entre as 14h30 e as 16h00, a Biblioteca Municipal irá acolher uma ação sobre poesia intitulada “Amo-te – Poemas para gritar ao coração”, a cargo de João Manuel Ribeiro.

Organizada pela Equipa da Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas Campo Aberto – Beiriz, a iniciativa destina-se aos alunos do 8º ano de todas as escolas do concelho.

Promover o gosto pela poesia; desmistificar a dificuldade da escrita poética; participar de forma ativa na construção do texto poético; fomentar o gosto pela partilha; estimular o gosto/ consciencialização na divulgação de conhecimentos adquiridos são os objetivos desta atividade que pretende assinalar o Dia Mundial da Poesia (21 de março), sendo que este decorreu no período de interrupção letiva da Páscoa.

 

jmribeiroJoão Manuel Ribeiro nasceu em 1968, em Oliveira de Azeméis. A concluir Doutoramento em Ciências da Educação, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com dissertação sobre A Poesia na Escola – Resposta ao texto poético e organização do ensino.

Mestre em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com dissertação sobre  “A Poesia no 1.º Ciclo do Ensino Básico – Das Orientações Curriculares às Decisões Docentes”.

Tem-se dedicado à escrita para crianças, acompanhando tal processo com um trabalho de dinamização da literatura em Escolas Básicas do 1º Ciclo e colégios, quer através de oficinas de escrita criativa, quer através de encontros onde diz poesia. Dinamizou alguns projetos de escrita colaborativa com alunos, resultando desse processo alguns livros.

Formador de professores. Formador de formadores. Formador da Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas.

Sócio da Associação Portuguesa de Escritores. Sócio da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Membro da Children´s Literature Association (CHLA – USA).

Citando Paulo Querido | a propósito de José Sócrates

Há uma constante na televisão desde que José Sócrates começou a aparecer nela com regularidade, já lá vai uma década. Sempre que é entrevistado, nas horas seguintes recolhemos os cacos dos entrevistadores.

Sempre.

Quer-me por isso parecer que talvez devamos procurar a explicação não nos comentadores, mas na capacidade mediática dele. A capacidade de desarmar um discurso. De contrapor. A combatividade. De desrespeitar, respeitando o jogo democrático.

Sócrates escapa à docilidade da esmagadora maioria dos políticos, que preferem uma relação macia com os jornalistas. Se aceitarmos os argumentos sobre a sua ferocidade vindos precisamente dos mais experimentados desses entrevistadores ficará mais fácil analisar o trabalho deles.

Não acho que Paulo Ferreira e Vítor Gonçalves se tenham distinguido pela negativa. Não estiveram brilhantes, é certo, e tiveram os seus próprios momentos de se atropelarem mutuamente.

Mas o problema deles não foi a “má preparação”: foi Sócrates. E, se quisermos fazer mesmo justiça, a súbita existência de um discurso de contraponto aos números e guidelines com que a insistência ultraliberal acabou por adormecer o coletivo através da visão única e da voz monocórdica a repetir a mesma ladainha há 4 anos. Acaba por se entranhar e depois qualquer beliscadura faz estremecer.

O contraponto, para mais expresso por uma pessoa veemente, segura de si e com domínio perfeito — visceral — da narrativa televisiva e do timing, desarmou os entrevistadores, habituados a entrevistados concordantes ou no mínimo macios e oblíquos.

Uma notinha final: da próxima vez que quiserem entrevistar José Sócrates em televisão, para evitar o atropelamento pelo camião TIR televisivo que o homem é, não facilitem metendo 2 (ou mais) entrevistadores. Isso só o ajuda a desarmar — basta-lhe mudar o olhar de um para o outro para destruir uma pergunta.

https://www.facebook.com/PauloQuerido (FONTE)

O homem está em grande forma | por BAPTISTA-BASTOS in “Diário de Notícias”

Notoriamente, os dois jornalistas destacados para entrevistar José Sócrates estavam impreparados, ou não tomaram em consideração a aptidão dialéctica do ex-primeiro-ministro, ou, pior, não estavam ali para esclarecer, sim, acaso, para baralhar e entrar em chicana, colocando-se como protagonistas, quando deviam ser mediadores. Chegou a ser pungente a evidência com que o entrevistado repôs a natureza dos factos, perante a turva propriedade das enunciações. O esclarecimento das manobras e das conspiratas com origem em Belém, e as inclinações ideológicas do dr. Cavaco, que põem em causa a sua tão apregoada “independência”, foram pontos fulcrais da entrevista. Ficou-se a saber o que se suspeitava: o manobrismo unilateral de quem começa a ser cúmplice consciente do desastre para que nos encaminham. Um a um, ponto a ponto, Sócrates rebateu as alegações de “desincorporação” que ambos os jornalistas se aplicavam em expor, recorrendo às instâncias que estabeleciam as relações marcantes na época. Aí, a sua intervenção foi arrasadora. Claro que Sócrates e o seu governo não podem ser responsáveis de todas as malfeitorias, apesar das estruturas de contra-informação utilizadas, da negligência propositada de alguma comunicação social, e que ele denunciou com denodo. A entrevista foi extremamente interessante porque o reconhecido talento de José Sócrates voltou a impor-se em grande estilo. Ficámos esclarecidos? Não; porque os entrevistadores, além das deficiências apontadas, foram intimidados pelo “animal feroz”. O homem está em grande forma.

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3134586 (FONTE)