Esquerda ou Direita unidas | José Gabriel Pereira Bastos | Senhora cá de Casa Okupada

PREFÁCIO (José Gabriel Pereira Bastos)

para que a esquerda (ou a direita) se unissem era preciso maturidade e atenção ao mundo histórico e não apenas os activistas servirem-se dos ‘debates’ para se auto-promoverem ou se engatarem, como o texto mostra. O que não é provável quando N > M e E > I (narcisismo maior do que maturidade e exibicionismo maior do que inteligência).

OPINIÃO (Senhora cá de Casa Okupada)

O ano é 2035, ou melhor, 15 d.R.: depois da Revelação. Toda a superfície do antigo território português foi reconquistada aos fluxos necrófagos do capital numa insurreição fulminante e invencível. Com a implosão do Estado, vive-se a anarquia e a greve perpétua: a população divide-se entre comunas mais ou menos estáveis e grupos flutuantes de afinidades, quase todos dedicados à organização de orgias cada vez mais imaginativas. A ciência, livre dos ditames do complexo industrial-farmacêutico-militar, desenvolve-se de um modo avassalador e em benefício da humanidade: prevê-se que no ano seguinte um grupo de investigadores consiga finalmente ressuscitar a consciência de Arnaldo Matos, que será implantada em milhões de máquinas de combate feitas de cortiça e incumbidas da missão de libertar o planeta da Forma-Putedo. A FUA ainda existe: ocupa-se a fazer manifestações com uma dimensão puramente ritual, o referente esquecido no passado de opressão e miséria. O maior desafio de toda a comunidade do antigo território português já não é político, é logístico: ninguém sabe como tratar e escoar adequadamente as quantidades industriais de canábis que as hortas comunitárias produzem. Continua a escrever-se péssima poesia por todo o lado.

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