PROFUNDIDADE | Maria Helena Ventura | QUANDO O SILÊNCIO FALAR

PROFUNDIDADE

Os teus olhos

cerzidos em ponto

de desassossego

foram-me atraindo para

as profundezas da terra.

Podiam ser a noite

– conhecia-lhes abismos-

mas continuava a escrever

palavras poalhadas de luz

quando a saudade batia.

Precisava delas

para acender a palidez

da rotina

as vielas onde esperava

ecos de riso ébrios

pela madrugada.

Escuta o meu corpo:

nada se agita sob as dunas

arenosas da pele

deixei o coração voar

até ser um pássaro escondido

nos ramos da saudade.

Livre?

Não diria tanto…

De vez em quando simula

um tímido bater de asas

e desfalece.

Nem sei como chegámos

a tecer a narrativa

um arco-íris

em camadas de cor

com aviso de terra molhada.

A chuva anunciada

foi caindo mansa

depois secou nos trilhos

percorridos pelos dedos

pela boca.

Dela ficaram os passos

no asfalto da memória

e as árvores em floração

renegaram os frutos prometidos

sedentas de repouso

em nichos temporais

inacessíveis.

Mas eu sei

eu sei

que da profundidade da terra

os teus olhos se agigantam

na ponta das raízes

meu Amor efémero.

Maria Helena Ventura – QUANDO O SILÊNCIO FALAR

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